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quinta-feira, 6 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25611: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (46): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: População recuperada ao PAIGC



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


POPULAÇÃO RECUPERADA AO PAIGC

Em Janeiro de 1971, no programa de rádio da Emissora Oficial da Guiné, deram a informação que as nossas Forças Armadas tinham capturado/recuperado mais ou menos 1200 pessoas que estavam debaixo do controle do PAIGC.

Como a minha CCAV 2721 trouxe muita população nos golpes de mão e emboscadas que fez, tive a curiosidade de fazer a contabilidade.
Verificada a história da CCAV 2721 contei 143 (cento e quarenta e três) elementos da população, entre homens, mulheres, jovens e crianças.
Além destes também recuperamos 3 guerrilheiros.
Todos juntos perfazem 146 elementos, ou seja, 12 por cento do total.

Para uma companhia de "periquitos", recuperar 146 elementos em apenas 8 meses é "MANGA DE RONCO".

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Nota do editor

Último post da série de 30 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25585: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (45): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Há indivíduos com sorte, mesmo na guerra

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25470: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (41): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: População recuperada ao PAIGC



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


POPULAÇÃO RECUPERADA AO PAIGC


1970/ABRIL/23
- Emboscada a sul da antiga tabanca do Maqué.
RECUPERAMOS:
8 mulheres
2 crianças

1970/ABRIL/29
- Emboscada a sul da antiga tabanca do Maqué.
RECUPERAMOS:
2 mulheres
1 criança

1970/MAIO/14
- Emboscada em BINTA4B3 (2.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
1 guerrilheiro ferido

1970/MAIO/26
- OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO" - Bissancage (4.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
1 guerrilheiro ferido

1970/JUNHO/28
- Emboscada no bico da bolanha Maqué/Bissajarindim
RECUPERAMOS:
1 homem
10 mulheres
3 crianças

1970/JUNHO/29
- Emboscada no bico da bolanha Maqué/Bissajarindim (noutro local)
RECUPERAMOS:
2 homens
1 mulher

1970/JULHO/08
- Patrulhamento a 2 GCOMB, a Iracunda e Manaca (1.º e 2.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
2 homens
11 mulheres
4 crianças

1970/JULHO/13
- GOLPE DE MÃO A AMINA DALA = "OPERAÇÃO BACARÁ" (4.º e 1.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
15 homens
5 mulheres
17 jovens e crianças

1970/AGOSTO/07
- OPERAÇÃO "ALMA MINHA"
RECUPERAMOS:
1 mulher

1970/NOVEMBRO/13
- RECUPERAMOS:
1 homem vindo do Senegal

1970/NOVEMBRO/14
- GOLPE DE MÃO A AMINA DALA = "OPERAÇÃO BRAIMA"
RECUPERAMOS:
1 homem
6 mulheres
8 crianças

1970/NOVEMBRO/19
- Apresentou-se 1 homem balanta com 1 PPSH

1970/DEZEMBRO/30
- GOLPE DE MÃO A CANJAJA UNHADA (2 GCOMB/CCAV 27212 + 2 GCOMB/CCP121 RECUPERAMOS:
1 homem
7 mulheres
6 crianças

1971/JANEIRO/31
- ACÇÃO "UMBELUZI", em Bissancage.
RECUPERAMOS:
1 homem

1971/FEVEREIRO/05
- OPERAÇÃO "URSO NEGRO", em Lubacunda e Bantasso.
RECUPERAMOS:
1 homem
2 - mulheres

1971/MARÇO/05
- GOLPE DE MÃO A CANTACÓ E BANTASSO.
RECUPERAMOS:
1 homem
9 mulheres
5 crianças

1971/ABRIL/01
- EMBOSCADA NA BOLANHA DO MAQUÉ
RECUPERAMOS:
1 mulher

1971/ABRIL/24
- PATRULHAMENTO A CANICÓ E SANSABATO
RECUPERAMOS:
2 homens

1971/MAIO/??
- PATRULHAMENTO OFENSIVO A MARECUNDA (1 GCOMB/CCAV 2721 + 2 GCOMB/CCAV 3378)
RECUPERAMOS:
4 mulheres
2 crianças

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 25 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25444: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (40): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Minas levantadas ou accionadas

sábado, 6 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25344: Reordenamentos Populacionais (4): Uma perspetiva mais "securitária", no final do mandato de Arnaldo Schulz: em março e abril de 1968, foram deslocadas e reagrupadas cerca de 3 mil pessoas do "chão balanta"

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, s/d. Imagem da coleção do Alfredo Reis, ex-alf mil, hoje  veterinário, reformado, vivendo em Santarém.  Nesta imagem, retrata-se o com-chefe e governador-geral gen Arnaldo Schulz (o militar em primeiro plano, do lado esquerdo, ladeado pelo comandante militar, que era brigadeiro). A "nova tabanca" , reordenada, ainda tem casas com cobertura de colmo...

Foto: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Zona Oeste > Região do Óio > Sector 03(A) (Mansoa) > Porto Gole > Fevereiro de 1967 >  À despedida: em segundo plano, o  gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54,  com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Já aqui dissemos que nos 3 livros da CECA (Comissão para o  Estudo da Campanhas de África), sobre a atividade operacional no CTIG (de 1963 a 1974), não há qualquer referência a reordenamentos no primeiro (que vai até ao final de 1966, ou seja até meados do mandato do gen Arnaldo Schulz, como Com-Chefe e Governador do território) (*). 

É já só no final do mandato (1.º semestre de 1968), que aparecem as primeiras referências a reordenanentos, mas sempre associados a deslocamentos de populações, realojamentos, controlo, segurança, autodefesa... Ainda não é suficientemente explícito o binómio reordenamento populacional/desenvolvimento socioeconómico (que é uma marca spinolista). 

 Já no  livro 2 (1967-1970) há  cerca de 70 referências ao descritor "reordenamentos". No 3º (último) livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências.

O brig Spínola assumirá funções, como Com-Chefe e Governador da Guinél, em 24 de maio de 1968, e logo em 3 de junho, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n.° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".

Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva,   Directiva n.º 43/68 ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...). E em 16 de outubro, a Directiva n.° 49/68 (Relações da Divisão de Organização e Defesa das Populações  com o CTIG e Autoridades Administrativas).

 No essencial, a doutrina do novo Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).

Nesse 2.º semestre de 1968 saem dezenas de diretivas Directivas do Comandante-Chefe. Eis algumas das mais relevantes, por tema e número:

- Dispositivo (zona sul): números 1 a 6, 9, 10, 14, 15 e 40

- Defesa de Bissau - números 8, 16 e 21

- Operações - números 24, 25 e 35

- Contrapenetração: números 7, 22, 26 a 29, 32, 37, 52 e 54

- Remodelação do dispositivo: números 17, 20, 36, 42, 51 e 56

- Defesa das populações e autodefesa: números 39, 41, 43, 47 e 53

- Assuntos diversos: números 30, 45, 48, 57 a 59

- Reordenamento e defesa das populações: números 43 e 49

- Operações Psicológicas: "Alfa" e número 60


II. Nos últimos meses do mandato de Schulz, ainda em época seca (março e abril de 1968),  parece ter havido um incremento das deslocações e realojamentos de populações sobre controlo do IN ou sob duplo controlo, nomeadamente no "chão balanta", no Sector Oeste 3(A), Mansoa, e Sector Oeste 01, Bula.

Terão sido da ordem das 3 mil as pessoas deslocadas e regrupadas nos primeiros reordenamentos em construção na Zona Oeste (Enxalé, Bissá, Infandre, Braia, Rossum, Bindoro, Biambe).

Aqui fica um excerto do livro 2 da CECA (pág. 160): 

(...) "Para controlo e segurança das populações, estas foram reordenadas, segundo missões atribuídas aos Comandos de Sector.

Especialmente nos meses de março e abril de 1968, foram efectuadas operações para instalar as populações em reordenamentos. Em NEP, foram dadas instruções para que se organizassem as tabancas em autodefesa.

Com a finalidade de garantir a segurança das populações nos deslocamentos para núcleos reordenados, as NT executaram as operações:

  • "Fruta de Outono" (10 e 11Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), 247 elementos da população para Enxalé.
  • "Fruta de Outono II" (13 a 19Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), população das tabancas da área para Porto Gole e de Seé e Funcor (60 elementos) para Bissá.
  • "Baloiço Nocturno" (26Mar), recolhida a população (224) de Ponta de S. Vicente, Sector 01.
  •  "Espenda" (29Mar), recolhidos 14 elementos da população de Cã Cumba, Sector 03.
  •  "Uvas Douradas" (10 a 12Abr), das tabancas de Uanquelim, Claqueiala, Inquida e Nhaé, Secto 03(A) foram deslocadas para local de reordenamento 510 elementos da população.
  • "Mudança Volumosa" (15 a 18Abr), das tabancas de Nimane, Enchanque, Encorne, Contubó e Nhenque, Sector 03(A), foram evacuados 150 elementos da população para Infandre e Braia.
  •  "Romã Amarga" (22 a 24Abr), 500 elementos da população de Ansonhe, Sector 03(A), foram deslocados para o núcleo reordenado de Bissá.
  • "Mudança a Varrer" (22 a 24Abr), da região entre Polibaque e Bindoro, Sector 03(A), foram evacuados 330 elementos da população para Bindoro.
  •  "Ananás ao Jantar" (26 a 29Abr), das regiões de Enchugal e Bissorã para Rossum, Sector 03(A), foram evacuados 600 elementos da população.
  •  "Grande Pera" (29 e 30Abr), a população de Gambia e Birribaque, Sector 03(A), recolhida para Rossum.
  •  "Barrar" (24Abr), retirados da região de Claque, Sector 01, 190 elementos da população para Biambe. "(...)

III. A preocupação era então predominantemente "securirária", a avaliar pelo teor da Nota n° 2310,  de 29 de abril de 1968,  da 3ª Rep/QG/CTIG), que se reproduz  a seguir (Anexo nº 2,  Capítulo II - Ano de 1968)

Cap II - Ano de 1968 / Anexo n° 2 - Autodefesa das Populações

"Sobre o assunto acima referido encarrega-me Sua Ex", o Brigadeiro Comandante Militar de transmitir a V. Ex". o seguinte:

1. Ao lN é indispensável o apoio da população na obtenção de alimentos e informações e no recrutamento de novos combatentes.

Torna-se assim necessário e urgente isolar o lN das populações, continuando activa e persistentemente os trabalhos de reordenamento das populações da Guiné, já encetados por algumas unidades.

Antecipemo-nos em relação às populações que não colaboram com o lN. Disputemos-lhe as populações sob duplo controlo. Retiremos-lhe as que vivem sob o seu controlo.

2. O reordenamento pode fazer-se por agrupamento ou por dispersão. O agrupamento facilita o controle das populações duvidosas ou anteriormente afectas ao ln, mas tem como limite a capacidade de protecção das guarnições militares e as possibilidades de exploração local dos meios de vida.

A dispersão das populações fiéis facilita a cobertura do território com uma malha de tabancas capazes de detectarem a presença e os movimentos do ln, mas tem como limite a capacidade deautodefesa dessas tabancas.

Os Srs. Comandantes ajuizarão para cada caso a solução local mais conveniente, considerando aqueles limites, o grau de confiança das populações e a conveniência de reduzir as suas transferências.

3. O reordenamento das populações tem como finalidade o controlo e a segurança das mesmas.

O controlo obtém-se pelo enquadramento das populações pelas autoridades locais, militares, administrativas e policiais. Estas autoridades coordenam a sua acção nos problemas de influência recíproca através do CADMIL (Conselho Administrativo Militar).

Aquele enquadramento é reforçado e completado até aos maisn pequenos núcleos populacionais pelas autoridades gentílicas (régulos, chefes de povo, de tabanca e de morança).

As autoridades gentílicas devem ser escolhidas respeitando embora as tradições indígenas mas atendendo sobretudo ao seu prestígio, capacidade de chefia e lealdade à causa nacional.

Além do recenseamento, o controlo exerce-se sobre as actividades da população, os abastecimentos, os meios de transmissão e de informação, o armamento, etc.

Os Srs Comandantes promoverão que sejam adoptadas, em colaboração directa com as AA ou através do CADMIL, todas as medidas necessárias ao cerrado controle das populações.

4. O reordenamento tem de completar-se com a segurança das populações. Só a população defendida pode resistir às acções de intimidação e de força do lN. Não é possível, porém, destacar tropas para a protecção de todas as tabancas, nem concentrar todas as populações junto das guarnições existentes. Daí a necessidade de organizar em autodefesa as tabancas afastadas das guarnições militares.

5. Para sobreviverem, as tabancas têm de possuir a capacidade de resistência suficiente até ao seu socorro pelas NT ou por grupos móveis de tabancas vizinhas.

Para tanto, convém que estejam localizadas em zonas com condições de defesa, junto de um itinerário de socorro, picado e vigiado pela própria população, e que a sua organização do terreno e o seu armamento sejam tanto mais fortes quanto mais demorada for a chegada das forças do socorro.

Apesar disso, para uma resistência eficaz, não é indispensável que a autodefesa tenha armas idênticas às do lN (mort, mp, lgfog, etc.). A defesa usa-se para economizar meios e, por mais armas que tenhamos, o lN pode sempre reunir mais porque escolhe a tabanca e o momento de a atacar.

Contra os fogos lN, incluindo os de mort e lgfog, basta construir um espaldão à volta da tabanca e abrigos protegidos para o pessoal da defesa e população não válida.

Contra o assalto lN, é necessária uma cintura de rede de arame farpado com avisadores sonoros (garrafas e latas com pedras), batida eficazmente de posições de tiro de espingarda bem distribuida a toda à volta, granadas de mão e alguns dilagramas.

Contra a surpresa, uma vigilância permanente, noite e dia, com as sentinelas suficientes e a população laborando protegida pelos nhomens válidos com as armas à mão.

Contra a reunião de meios lN, há que responder com o socorro oportuno pelas NT ou por grupos móveis das tabancas vizinhas. Com efeito, quando o número de elementos válidos o permitir, poderá constituir-se, com o excedente da autodefesa, grupos móveis, de reacção ou de socorro, que procurarão envolver e cortar a retirada ao ln.

6. Tal como para o reordenamento, as populações têm de ser micialmente compelidas e depois insistentemente mentalizadas para a organização em autodefesa, até à sua adesão voluntária e colaborante pelo reconhecimento da eficácia do sistema, aliviando-se então progressiva e gradualmente a protecção directa pelas NT. Compelir, fazer e demonstrar depois.

7. Uma acção social bem orientada pode facilitar extraordinariamente o trabalho de mentalização das populações para a autodefesa, ganhando a sua confiança e tomando-as receptivas e colaborantes.

Assim, as tabancas em organização ou já organizadas em autodefesa devem ter a prioridade na assistência sanitária, educativa e económica a prestar pelas NT.

8. A autodefesa tem de acompanhar o reordenamento e começar desde já pelas populações mais colaborantes.

Para o efeito, cada Companhia poderá destacar uma força para junto de uma das tabancas fiéis e já reordenadas a fim de:

  • seleccionar o pessoal válido para a defesa;
  • distribuir armas e instruí-lo no tiro e na conduta da defesa;
  • de entre os mais aptos e de maior confiança, seleccionar os chefes de grupo e o responsável geral da defesa;
  • definir claramente as responsabilidades de cada um;
  • estimular a colaboração de todos e o prestígio dos elementos activos da defesa, em particular dos chefes com atribuição de poderes especiais, de armas melhores, etc.
  • instituir um sistema eficaz e, se possível secreto, de aviso e socorro;
  • mentalizar a população para a autodefesa e prestar-lhe toda a assistência sanitária, educativa e económica possível;
  • obrigar toda a população, com aptidões para tal, a participar nos trabalhos de organização do terreno, repartindo contudo as tarefas por forma a não afectar sensivelmente as suas condições de vida;
  • treinar com toda a população, até completa eficiência e automatismo, as medidas de vigilância, de alarme e de defesa.

A operação será depois repetida até à organização em autodefesa de todas as tabancas reordenadas.

9. Só às populações de confiança ou psicologicamente recuperadas se pode distribuir armas e munições sem o risco das mesmas serem entregues ao ln.

A protecção das populações duvidosas tem de ser feita pela guarnição militar mais próxima.

Em caso algum, as populações serão incluídas no perímetro defensivo das unidades. Poderão quanto muito, ser incluídas no seu perímetro exterior de vigilância, garantidos os campos de tiro do reduto da defesa e a saída fácil das forças de reacção.

10. Os Srs. Comandantes informarão o QG das tabancas em trabalhos de autodefesa, com a organização concluída e dos resultados obtidos.

11. A presente Circular adita as NEP-OP/CAP IV-l da 3a Rep/QG.

(Nota n° 2310 de 29 de Abril de 1968 da 3a Rep/QG/CTIG) (CECA; 2015, pp 260/263)

Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 2 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 604 pp.)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de abril de  2024 > Guiné 61/74 - P25341: Reordenamentos Populacionais (3): Na construção de casas usa-se, como vigas, as rachas de palmeira (de cibe, mas também de dendém) (Cherno Baldé, Bissau)

terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25238: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VII: Um adeus a Fulacunda (texto e fotos de Jorge Pinto, alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Foto nº 2A


Fot0 nº 2


Foto nº 1A


Foto nº 1


Foto nº 3A


Foto nº 3

Guiné > Região de Quínara > Sector de Tite > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Visita do governador e com-chefe gen Bettencourt Rodrigues, c. jan / fev 1974

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto  (2014) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



1. Fotos relacionadas com uma visita do general Bettencourt Rodrigues a Fulacunda, sector de Tite, em janeiro/fevereiro de 1974, enviadas em 28/1/2014 pelo nosso camarada e amigo Jorge Pinto (*):

[natural de Turquel, Alcobaça. é professor de história no ensino secundário, reformado, vive em Sintra; é membro da Tabanca Grande, desde 2012; tem 55 referências no blogue; foi alf mil, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; iremos falar mais vezes dele, proximamente, reeditando algumas das suas melhores fotos]


O adeus do general a Fulacunda,

por Jorge Pinto


(...) Lembro-me que esta visita foi curta e marcada por três pequenos discursos com conteúdo e tom adquados às características do grupo social a que o general se dirigia.

Num primeiro momento (Foto nº 1), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.

Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multirracial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "autodefesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.

Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "autodefesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.

No segundo discurso, em frente à casa do chefe de posto (foto nº 2 ), dirigiu-se exclusivamente à juventude masculina. Dirigiu-lhes, apenas algumas palavras em tom militarizado e paternal. Incentivou-os a unirem-se àqueles que combatem o "inimigo" e lutam por uma Guiné com um futuro melhor para todos.

Por fim o terceiro discurso (foto nº 3), teve lugar na parada do quartel e foi exclusivamente dirigido à 3ª Cart/Bart 6520/72. 

Neste discurso começou por referir o longo tempo de comissão que a companhia já tinha. Enalteceu o espirito de missão e sacrificio vivido durante esse tempo. Alertou para a necessidade de estarmos preparados para mais sacrificios.

Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a sua pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.

Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita." (...)


(Revisão / fixação de texto, título, parênteses retos, negritos e itálicos,  reediçã
o das fotos: LG)


2. Nota do editor LG:

O gen Bettencourt Rodrigues deve ter feito escassas visitas a quartéis e destacamentos no mato (eram cerca de 225 as guarniçóes então). Até por falta de tempo. Mas o assunto não está devidamente documentado no nosso blogue. Daí a oportumidade da republicação destas fotos que, de facto, são raras. (**)

O BART 6520/72 cumpriu 26 meses de comissão (jun 72/ago74), o seu pessoal devia estar farto da Guiné até à ponta dos cabelos. Mas era preciso acalmar os ânimos e manter a um nível razoável o moral da tropa. 

Na longa entrevista que deu à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, o Marechal Costa Gomes fala sempre com  rasgados elogios deste general, de quem era amigo pessoal. Diz dele: 

(...) "Foi o general que melhor serviu sob as minhas ordens ". (...) 

"Era meu amigo pessoal e também de Marcelo Caetano, aceitou o lugar de comandante e de governador da Guiné, mas sempre com a corda no pescoço. 

"Não concordava nada com Spínola e, como mo disse pessoalmente, considerava que a sua ação na Guiné, não tinha sido muito positiva".  

Além disso, era de lamentar  "o facto de Spínola ter montado uma impressionante máquina de propaganda. que dava uma ideia distorcida da nossa ação na Guiné,  do que lá se passava  realmente" (Fonte: "Costa Gomes, o último marechal entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias,  1998, pág. 151).
____________

Notas do editor:


(**)  Último poste da série > 7 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25220: 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VI: Dois generais de escolas, perfis e personalidades muito diferentes

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24923: Excertos dos melhores escritos de António Eduardo Ferreira (1950-2023), ex-1º cabo cond auto, CART 3493 / BART 3873 (Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) - Parte VIII: do que a população sob controlo do PAIGC tinha mais medo era do "passarinho grande", o avião


Guiné > Região de Tombali > Sector S4 (Cadique) > Cobumba > CART 3493 (1972/74) > O António Eduardo Ferreira à porta do abrigo.

Foto (e legenda): © António Eduardo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Série com pequenos excertos dos melhores postes do António Eduardo Jerónimo Ferreira (1950-2023) (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) (*).

O nosso camarada era natural de Moleanos, Alcobaça. Na tropa e na guerra era mais conhecido por Jerónimo. Lutou quase 20 anos, desde 2004, contra um cancro. Criou o blogue Molianos, viajando no tempo, por volta de 2013 ou 2014.


Parte VIII -  Coitada da população de Cobumba que tinha de parecer estar bem com os dois lados, as NT e o PAIGC


(..) Foi difícil, a vida dos homens da CART 3493 em Cobumba, mas a daquela gente que por lá morava não foi melhor, deixaram de ser bombardeados pelos "tugas", passaram a ser por alguns dos seus que integravam as forças do PAIGC (uma mulher da população morreu,  vitima de uma flagelação).

Não deve de ter sido nada fácil de encaixar a mudança, o que eles de facto desejavam era a paz e não a continuação da guerra. (Muito tempo já passou e a esperança de muita daquela gente numa vida melhor parece continuar a ser uma miragem.)

Havia certos dias em que as poucas pessoas que por lá estavam a maior parte do dia passavam-no junto ao seu abrigo, que seria certamente mais seguro que os nossos, dado o sítio onde se localizavam (debaixo de um grande mangueiro) e a forma como eram construídos(apenas com cerca de um metro de largura). 

Era nossa convicção que eles estavam por ali porque tinham informações que nós não tínhamos… Algumas vezes o “arraial” acontecia mesmo e nesses momentos estar perto de um abrigo podia fazer toda a diferença (...).

Apesar das poucas conversas que tínhamos com a população, por vezes lá íamos fazendo algumas perguntas a que eles normalmente respondiam (aqueles que nos entendiam)... Certo dia perguntei ao filho do chefe de tabanca de que é que eles tinham medo quando ainda não estava lá a tropa branca, ele respondeu que era do "passarinho grande" (o avião)... 

Quando o "passarinho" aparecia, se estavam na bolanha e esta tinha água, velhos e novos deitavam-se, ficando apenas com parte da cabeça de fora. Ele dizia: " só com um olho fora da água". 

Era um menino de doze ou treze anos (o Zé) que certos dias saía com uma pequena saca onde dizia levar os livros e que ia para a escola em Pericuto que ficava do lado de lá da bolanha mas onde nós não íamos, porque apesar de ser perto era arriscado… A haver escola ou coisa parecida, teria que ser da responsabilidade do PAIGC…

Um outro com quem falei dizia que tinha sido carregador do PAIGC, transportava material de guerra à cabeça (chamava-se Miranda) o sítio mais longe onde tinha chegado foi ao Xitole:  era um homem já de certa idade,  normalmente não saía lá da tabanca. 

Já perto do fim da nossa estadia naquele sítio as minas continuavam a causar-nos grandes preocupações, pois eram colocadas mesmo do lado de dentro do arame que nessa altura já circundava todos os abrigos e parte da picada.

Devido a essa situação foi exigido ao chefe da tabanca que nomeasse alguém que teria de andar todo o dia no carro ao lado do condutor, era uma forma de pressionar possíveis familiares que estavam do lado do PAIGC para não colocarem as minas, se é que isso poderia ter alguma influência nas ordens dimanadas do Partido.

Recordo-me do primeiro (e não sei se o único) que andou comigo,  foi o filho do chefe, o Zé, entre eles era quem falava melhor português. Também para os condutores era uma situação estranha, andarmos todo o dia com alguém a nosso lado,  coisa a que não estávamos habituados. Não sei se psicologicamente isso nos terá ajudado.

Não me recordo se foi detectada mais alguma mina depois dessa exigência (nem faço ideia com que vontade foi cumprida pelo chefe de tabanca). 

Também nunca soube se essa ordem foi pensada no Comando da Companhia ou veio de outro sítio, o certo é que aconteceu e chegou ao conhecimento do PAIGC, pois na rádio que transmitia em seu nome,  através da voz daquela a quem chamávamos a “Maria Turra”,  esse assunto foi muito falado.

 A esta distância no tempo dá para entender melhor como era difícil a vida daquela gente, que tinha de parecer estar bem com os dois lados (PAIGC e a Tropa Portuguesa), mas na verdade isso não era possível. (...) 

Cobumba era um local onde os homens novos durante dias não se viam e, quando estavam, com o aproximar da noite abalavam…

As pessoas mais velhas estavam sempre por ali, algumas delas tinham estado ao serviço do PAIGC como carregadores de material de guerra (caso do  Miranda). 

Havia várias crianças (caso do filho do chefe da tabanca) que  andavam na escola do PAIGC em Pericuto, povoação próxima de nós, não sei qual seria a frequência de alunos.

Pessoal novo, por lá, só estavam crianças, algumas que diziam ser oriundas de Bedanda. (...) Chegava a acontecer, em alguns dias, aparecerem por ali vários homens mais novos, não sabíamos de onde vinham, que passavam o tempo que lá estavam, a beber numa espécie de taberna que tinha sido feita depois de nós lá termos chegado, cujo dono servia de tradutor quando era necessário falar com alguma população que não conhecia a nossa língua. 

Quando chegava o fim da tarde iam todos embora, na maioria bêbados. Às vezes acontecia cenas de pancadaria entre eles em que nós agíamos como se nada estivesse a acontecer… era problema deles. (....) (**)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos: LG)
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sexta-feira, 28 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24513: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XI: Cutia, imagens diversas do quotidiano da tabanca e destacamento


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (2)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (3)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem (4)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > A caminho do poço

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Crianças no poço (1)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Crianças no poço (2)

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Discussão de mulheres no poço (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Discussão de mulheres no poço (2)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >   Messe e... posto escolar e militar (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >   Messe e... posto escolar militar (1)


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Estrada... e eira.

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia > Imagens diversas do quotidiano da tabanca

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). Desta vez tendo por tema o destacamento e a tabanca de Cutia, que ficava a meio caminho entre Mansoa e Mansabá. (*)

Estas são as fotos  de um quarto lote sobre Cutia. Temos mais de 35 referências a Cutia. O Jorge Picado tem aqui, no poste P2881, uma excelente descrição do destacamento e tabanca de Cutia do seu tempo (1970/72) (**).

Na altura, havia em Cutia um Pelotão da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2855 (Mansoa, 1969/71) e ainda o Pel Caç Nat 61 (ou Pel Caç Nat 57) e ainda um Esquadrão de um Pelotão de Morteiros.

A oganização e a seleção das fotos são feitas pelo seu amigo e nosso camarada, o médico Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa), tendo passado depois pela Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Vai fazer, em 2023, os 87 anos. Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Estamos-lhe muito gratos pela sua generosa partilha.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.
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(**) Vd. poste de 24 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2881: Estórias de Jorge Picado (2): Cutia, I Parte (Jorge Picado)

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24457: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXI: Na ocupação da península de Gampará, com a farda do PAIGC, a G3 e um maço de cigarros "Português Suave"... (pp. 207-211)


Guiné > Brá >  c. 1965/66 > Mulheres a trabalho na bolanha. (Foto do álbum de Virgínio Briote, 2005) (Foto reproduzida na pág. 208, do livro do Amadu Dajló)


Guiné > Brá > c. 1973 > Batalhão de Comando dos da Guiné > Tenente graduado 'cmd' Zacarias Saiegh, à direita do Major 'cmd' Raul Folques Foto reproduzida na pág. 210, do livro)



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28).


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.


Guiné > Região de Quínara > Carta de Fulacunda (1955) (Escala: 1/50 mil) : Posição relativa de Gampará, rios Geba e Corubal, tabancas de Braia e Cubajal, bem como Uaná Porto.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano:

Parte XXXI:  Na ocupação da península de Gampará, com a farda do PAIGC, a G3 e um maço de cigarros "Portuguès Suave"... 
(pp. 207-211)

Na segunda quinzena de novembro[1] fomos para Quinara, na altura em que estava a decorrer a ocupação da península de Gampará. Armados com o nosso material, G-3 e respectivos equipamentos e fardados com roupa idêntica à do PAIGC, tomámos um barco em Bissau e navegámos na direcção de Quinara. 

Quando chegámos a um local adequado, o barco encostou à margem e começámos a desembarcar, amarrados aos ramos das árvores. Depois de reagrupados começámos a progressão rumo ao objectivo.

O sol estava a pôr-se e passámos a noite ali perto. De manhã, logo que o dia começou a clarear, retomámos a progressão até atingirmos uma bolanha, onde vimos mulheres[2] a fazerem as últimas colheitas.

Dirigimo-nos a elas, que ficaram muito surpreendidas com a nossa chegada. Dissemos-lhes que éramos do PAIGC e que tínhamos recebido G-3, para confundir os tugas. E que nos estávamos a deslocar para as proximidades de Tite, para atacarmos o aquartelamento nessa noite ou na próxima. Pareceu-me que ficaram convencidas, não sei se todas, e por volta das 16h00 despedimo-nos delas.

Quando estávamos a abandonar o local recebemos uma mensagem para arranjarmos um local para pernoitarmos, mas numa zona onde pudéssemos ser retirados por helicópteros.

Escolhemos uma grande bolanha de lavra de arroz onde os helis podiam aterrar à vontade. Nessa madrugada adormeci por uns momentos e estava a sonhar que um avião, um Dakota, cheio de passageiros, se estava a dirigir na nossa direcção, a baixar, a baixar, até que acabou por cair com um grande estrondo. Gritei bem alto e acordei sobressaltado, com os companheiros a perguntarem o que estava a acontecer.

De manhã voltámos a encontrar as mulheres, que ficaram surpreendidas quando nos viram. Uma começou a falar muito à vontade connosco e, a certa altura perguntou-nos:

– Vocês não disseram ontem que iam atacar Tite?

O tenente Saiegh respondeu que tínhamos recebido ordem para esperarmos aqui nesta zona, que os aviões nos vinham buscar.

A mulher perguntou se os aviões podiam aterrar neste local. Que sim, que podiam, respondeu. No meio desta conversa, ouvimos o ruído de uma avioneta que pediu a nossa localização.

Localizados facilmente, pouco tempo depois chegaram os helis que pousaram na bolanha e não demorou muito estávamos todos no ar. Entregaram-nos novas cartas topográficas, a missão tinha sido alterada.

Fomos largados junto a uma tabanca, na roda do rio Geba. Andámos um pouco, cortámos à direita e entrámos num carreiro com muitas marcas de pegadas. Ia direito a Cubajal. No trajecto encontrámos um velhote que nos disse que ia para a tabanca, onde tínhamos acabado de ser largados, e que vinha de Cubajal.

Perguntámos-lhe se nos podia acompanhar. Respondeu que tinha medo de estar na tabanca, que um avião andava lá em cima desde manhã. Saiegh garantiu-lhe que não ia acontecer nada e ele foi connosco. Enquanto caminhávamos ia conversando com o velhote e a certa altura disse que era o chefe da tabanca de Cubajara, informação que transmiti ao Saiegh.

Quando chegámos reunimos a população da tabanca. Era muita gente. Dissemos-lhes que éramos do PAIGC, que já tínhamos G-3 para confundirmos os tugas. E que tínhamos a informação que Gampará tinha sido ocupada pela tropa. Responderam que sim, que tinha sido ocupada. Estava ali o chefe da tabanca de Gampará que se levantou para se apresentar.

Continuámos a reunião dizendo-lhes que tínhamos vindo com uma missão, falar sobre mantimentos.

 Vocês sabem perfeitamente que nada nos falta na República da Guiné-Conakry. Mas não podíamos trazer connosco tudo o que precisávamos, por isso, têm que ter paciência, tem que nos reabastecer durante o cumprimento da nossa missão.

Foi assim que nos dirigimos à população da tabanca de Cubajal.

Foram rápidos a responder. Que podíamos contar com eles, que tinham arroz em quantidade suficiente para sustentar todos os combatentes pela Liberdade da Pátria que passassem em Cubajal.

O tenente Saiegh voltou a tomar a palavra para dizer que brevemente o quartel de Gampará iria cair nas nossas mãos, do PAICG, claro. Quando acabou de falar começaram a ouvir-se palmas e de um momento para o outro toda a gente aplaudia. Foi uma salva de palmas da população para o comandante da 1ª companhia de Comandos. O almoço ficou pronto e convidaram-nos a comer à vontade.

Perguntei a um rapaz que estava próximo se todos os chefes das famílias estavam ali connosco. Não, havia, ali em frente, uma família, respondeu-me.

Peguei na minha arma, chamei um soldado para me acompanhar e fui ao encontro de um homem que estava a comer com os filhos ao lado. Depois dos cumprimentos e do convite para almoçarmos com eles, perguntou-me de onde tínhamos vindo.

– De Conakry  respondi.

– De Conakry, com G-3?

   É por isso mesmo – comecei a responder    que estamos a convocar reuniões para toda a população saber que nós também temos G-3 para confundir os tugas.

Ele levantou-se e disse aos filhos para continuarem a comer.

 
– Também podes continuar a comer à vontade    disse eu. 

Que não estava bem, via-se na cara e na expressão,  que estava desconfiado.

Eu estava a fumar um cigarro, um Português Suave, e ele pediu-me um. Meti-lhe um cigarro na boca para o acender mas ele disse que primeiro gostava de lavar a boca. Pegou no cigarro, virou-o até à marca e depois meteu-o na boca, abanando a cabeça. Peguei-lhe num braço, levei-o até ao local da reunião, mandei-o sentar-se ao pé de mim e disse-lhe que não fizesse qualquer sinal às outras pessoas da tabanca.

Um dizia que desde o começo da guerra nunca a tropa lá tinha posto os pés, que tinha havido um ataque da aviação que tinha causado apenas um ferido ligeiro. Outro dizia que Cubajal era um local sagrado. Estava toda a gente a falar quando vimos uma avioneta aproximar-se. Quando estava quase em cima de nós, com todos a olhar para o ar, alguns disseram que era melhor afastarmo-nos e escondermo-nos.

Então dissemos quem éramos. Que os aviões não lhes iam fazer mal. Uma pessoa perguntou se aquele, o Saiegh, que estava ali com um aparelho estava a falar com o avião.

   Está – respondeu alguém. – Nós somos dos Comandos da Guiné, que alguns de vocês chamam criminosos. Estivemos convosco de manhã até agora, não matámos nem batemos em ninguém. Se formos atacados respondemos, isso é verdade. Quando há guerra é assim e tem que ser encarada com seriedade, não é brincadeira.

Toda a gente da tabanca estava surpreendida, menos um, o que eu tinha ido buscar. Ele sabia perfeitamente que não éramos do PAIGC.
Não falou nem uma vez, manteve-se sempre calado. Quando uma pessoa se levantou para falar, reparei que o homem fixava o olhar no orador, como se quisesse fazer um sinal, mas eu também nunca tirei os olhos dele. O erro do Português Suave não me saía da cabeça.



Português Suave" é uma marca de cigarros portuguesa, produzida e comercializada pela Tabaqueira a partir de 1929,, tendo passado a pertencente ao grupo Philip Morris International, desde 1997.  A imagem que se reproduz deve ser de 1975 ou data posterior, quando a Tabaqueria era E.P. (Cortesia da página, de Iana Peiu (Paris) >  "Peiuana", 23 de dezembro de 2013)

A reunião terminou com a avioneta em cima de nós. Foi-nos dada ordem de abandonarmos o local e levar connosco os chefes das tabancas de Cubajal e Gampará para a tabanca de Braia, que ficava junto ao rio, a cerca de uma hora de marcha. Ficámos com eles em nosso poder até de manhã. Depois demos a cada um cerca de 50 folhas de tabaco e um quilo de noz de cola e mandámo-los embora, de regresso a Cubajal.

Cerca de uma hora mais tarde recebemos ordem para nos dirigirmos para o porto de Uanazinho. Uma marcha de um dia inteiro, sem nada para comer. Tínhamos começado a andar às 08h00 da manhã e chegámos por volta das 18h30. Depois de ter comunicado a nossa chegada, o tenente Saiegh recebeu ordem para seguirmos para Gampará.

Dormimos um pouco, iniciámos a caminhada às 06h00 até que, por volta das 10h00, encontrámos uma tabanca com muitas cabras amarradas. Saiegh deu instruções para reunir a população da tabanca e para um grupo ficar de vigilância. Deu também ordem para se matarem três cabras, para as assarmos, porque já não víamos comida há muitas horas.

Na caminhada de regresso vimos manchas de sangue no caminho. Era sangue de páras que por ali tinham passado, viemos a saber depois. Nessa mesma operação tinham acabado de passar por ali, mesmo antes de nós. Já traziam um ferido e um deles pisou uma mina, que atingiu mais dois companheiros. (**)

Em Gampará soube que em vez de três tinham sido mortas quatro cabras, embora só nos tivessem apresentado três. A outra, pelo que vim a saber, era para levarem para Bissau. Mandei chamar o soldado e dei-lhe ordem para me trazer a cabra. Nem disse uma palavra, foi buscá-la e trouxe-a inteira.

Perguntei aos soldados o que é que pretendiam que se fizesse à cabra. Cozinhá-la, responderam. Que um tinha arroz e outro óleo de palma, acrescentou outro.

Dirigi-me em seguida para o aquartelamento e fui procurar o Saiegh para saber o que íamos fazer a seguir. Regressar a casa, missão terminada. Amanhã vem um barco que nos vai levar de regresso.

Avisei os meus soldados e aproveitei para lhes dizer que podemos roubar para matar a fome, não para levar para casa. Roubar e levar para casa é um crime e um mau vício.

Antes de embarcarmos, chegou um heli com o General Spínola. À frente da nossa companhia e da dos páras fez um pequeno discurso.
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Notas do autor e/ou editor literário:

[1] Nota do editor: as CCmds participaram nas operações da instalação do COP7 na península de Gampará, designadamente a “Satélite Dourado”, entre 11/15Nov71, e a “Pérola Amarela”, entre 24 e 28 Novembro 1971. 

A criação do Comando Operacional nº 7, em 24/11/1971, tinha como finalidade concretização a execução de um reordenamento da população de Ganjauará / península de Gampará, e limitar a atividade IN na região de Quínara. (Nota do editor LG)

[2] Biafadas.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Subtítulo / Negritos: LG]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24414: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano; Parte XXX: A guerra pela população (pp. 204-206)

(**) O Amadu Djaló não terá feito confusão com outra data ?

Vd. poste de 21 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os pára-quedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gampará, em 4 de Março de 1972 (Victor Tavares, CCP 121)

(...) Desta tragédia para a família pára-quedista, que jamais esquecerá este dia , resultaram:

(i) seis mortes, Alf Mil Paraquedista Abreu, Furriel Pára-quedista Cardiga Pinto, PCB/Pára-quedista 47/68 Santos , PCB/Pára-quedista 129/69 Almeida , Sol/Pára-quedista 318/69 Jesus , PCB/Pára-quedista 412/69 Sousa;

(ii) 2 feridos graves e nove com menos gravidade , Furriel Pára-quedista Casalta (Comandante da 1ª secção do 2º Pelotão) , Sol Pára-quedista Inês (evacuado para a metrópole ), Ferreira , Tavares, Ventura, e 1º Cabo Pára-quedista Figueiredo, todos do 2º Pelotão, e o Sold Pára-quedista Salgado - Estilhaço de alcunha - do 1º Pelotão, faltando três por identificar pois, passado todos estes anos, já não me recordo, e ficará para sempre uma saudade enorme D’AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE. (...)