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segunda-feira, 8 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24297: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua do que os 500 anos anteriores


Casa Comum | Fundacão Mário Soares | Pasta: 11124.001.010 | Título: Mensagem | Assunto: Mensagem. Publicação não periódica da Casa dos Estudantes do Império. | Número: 1 |Ano: XVI | Data: Julho de 1964 | Directores: Alberto Rui Pereira | Fundo: Associação Casa dos Estudantes do Império | Tipo Documental: Imprensa | Língua do Documento: Português

Citação:
(1964), "Mensagem", nº 1, Ano XVI, Julho de 1964, Lisboa, Fundação Mário Soares / Associação Casa dos Estudantes do Império, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=11124.001.010 (2023-5-7)



Antº Rosinha, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,Pombal, 2007.
Foto: LG
1. Comentário ao poste P24290 (*), do Antº Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, e onde fez a tropa e a guerra, em 1961/62), "retornado" em 1975, emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), um dos últimos dos nossos "africanistas",  membro da Tabanca Grande desde 29/11/2006 (enfim, "um senhor senador"):

Tanto a língua portuguesa como Portugal foram talvez definitivamente desenquadrados aos olhos de muitas partes do mundo como sendo vizinhos da Espanha sim, mas não espanhol, isto devido muito aquela guerra do Ultramar.

A ignorância sobre Portugal e suas colónias era tal que no próprio Brasil no 25 de Abril ouvia-se perguntar: "Mas Portugal ainda tem colónias?"

Foi muito graças à sagacidade dos dirigentes dos Movimentos independentistas que se divulgou o que era Portugal e os portugueses, que eram algo que não tinha a haver com a Espanha.

Sabemos que havia os "estudantes do império", mas também "estudantes no império" e essa malta sabia melhor que nós "da metrópole" vender o "peixe".

Foram eles que conseguiram que imensas emissoras de rádio em todos os fusos horários, principalmente nos paises de leste e Ásia, tivessem emissões diárias e bi-diárias em português de Portugal e português do Brasil. Claro que era para falar mal da gente, mas falavam em português, já não era tão mau.

Ouvi a cooperantes estrangeiros na Guiné passados anos da independência, que só naquela altura de irem para lá, é que tinham ouvido a história que aquilo tinha sido uma colónia portuguesa. E explicavam-me isso em português.

Tive que aturar entre outros uns italianos na Guiné (engenheiros fiscais de obras) em que um me perguntava (em português)se era verdade que os portugueses estivemos ali 500 anos, e a fazer o quê?

E eu na brincadeira (nunca levei coisas muito a sério) respondi-lhe que não sabia mas que fosse perguntar ao Camões. Também não sabia quem era Camões.

Ou seja, para mim não tenho a mínima dúvida que nós não contávamos, e ainda pouco contamos, mas que aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua, do que os 500 anos anteriores.

Isto muito com a ajuda dos "estudantes do império" e "estudantes no império".

Ainda andam por aqui muitos estudantes vindos do império ou filhos deles, que ficaram por cá e dão bem nas vistas, pois têm uma perspicácia especial para se imporem em todos os campos, até na política.

Mas a propósito de Camões, e da nossa língua, o único Prémio Camões que foi rejeitado foi pelo nosso e angolano escritor Luandino Vieira. Ele em principio explicou que rejeitou por razões pessoais. Para mim não é explicação suficiente, que também tenho direito a opinião.
Depois tentou dar outra explicação, também não me convenceu.

Viva o Lula que só fala na ONU em português, embora em nordestino meio caipira.

Cumprimentos. Antº Rosinha (**)
7 de maio de 2023 às 11:03
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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23830: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): A nossa geração que foi "a salto" para a França, nas aldeias da raia d' Espanha


Antº Rosinha, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,Pombal, 2007.
Foto: LG
 1. Mensagem de António Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, e onde fez a tropa e a guerra, em 1961/62), "retornado" em 1975, emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), um dos últimos dos nossos "africanistas",  membro da Tabanca Grande desde 29/11/2006 (ou seja, "um senhor senador"):

Data - 28 nov 2022 17:32  

Assunto - A nossa geração que foi "a salto" para a França, nas aldeias da raia d'Espanha


Desde os anos 50 até 1961 já havia "passadores" para a França, em todas as fronteiras da Beira Alta, Trás-os-Montes e Alto Douro.

Em alguns concelhos mais que noutros, logo a seguir à I Grande Guerra, já se ia para a França pelo processo do "a salto"..

Só que, a partir de 1961  acelerou essa actividade, e talvez, mesmo sem estatísticas, se possa dizer sem exagero que 50% de jovens entre os 18 e os 20 anos foi para a França, nas inúmeras aldeias, hoje desertificadas em maioria, dessas regiões do interior Beirão e Transmontano.

Será que a Guerra do Ultramar não podia mesmo dispensar aquela quantidade de soldados?

Era já um hábito muito enraizado, semi-clandestino, bem junto às fronteiras espanholas, a ida para a França..

Já era a alternativa ao Brasil e outras Américas a ida "a salto"  para a França ou nos porões da CNN (Compamhia Nacional de Navegação)  e CCN (Companhia Colonial de Navegaçãpo) para Angola e Moçambique e mesmo para África do Sul e Congo Belga..

As nossas velhas aldeias do interior, onde podia haver muita "carne para canhão", para a Guerra do Ultramar, 3, 4, e mais, filhos varões por família, na inspecção anual,  que podiam ser 20 ou 30 por aldeia, por ano,.uma grande parte ia para a França, por meio de "passadores", muitíssimo pouco clandestinos, pois eram figuras bem públicas nas regiões fronteiriças.

Como a partir de 61 tudo era apto para a guerra, ao fim de 13 anos, exceptuando amparos de família, e não sobrepondo dois ou mais irmãos, qualquer aldeia do interior poderia ter fornecido média de 20 por ano vezes 13 anos eram 260.

Só em fardamento, G3 e viagens, reduzindo para metade (praças havia muitas), era uma boa poupança..
Havia escassez era de capitães, não de praças.

Se de 260, 130 fossem para a França, farda, viagens sem custos para o Estado, e envio de remessas mensais, continhas à Salazar...será que os "passadores" não mereciam uma condecoração ou um prémio? Aliás, eles pagavam-se bem sem correr riscos cá em Portugal, e na fronteira francesa os riscos eram apenas para os emigrantes.

São muitos milhares das fronteiras beirãs e transmontanas que hoje, já reformados da França, a maioria com reformas completas, eles e as esposas também, são eles que dinamizam um pouco as velhas aldeias, pelo verão, pelos finados, Natal e Páscoa, aquelas aldeias desertificadas.

E ainda fazem um esforço enorme para entusiasmar os filhos e netos, alguns já franceses, a virem a terrinha dos pais, adquirindo apartamentos e casas junto às praias, que é mais convidativo para os jovens.

Vêm mais assiduamente os emigrantes reformados da França às suas aldeias,do que aqueles que foram à guerra e fizeram a vida em Lisboa ou Porto, como que são emigrantes também.

Foi com muito esforço que estes "franceses" fizeram a sua vida na França, não só pela língua, a maioria sem estudos, máximo a velha 4ª classe, e sujeitos, como qualquer emigrante, a trabalhos que o cidadão natural rejeita.

Salário, evidentemente o mínimo, a não ser quando adquiria alguma especialização.

Era à base de privações que conseguiram grande parte das economias para construir casa nova na aldeia, aldrabados muitas vezes por empreiteiros sem escrúpulos, fazer alguns depósitos bancários, aldrabados muitas vezes também por banqueiros e gerentes sem escrúpulos. e vivendo em condições degradadas em França para evitar pagar renda de casa.

Provavelmente todos os concelhos ao longo das fronteiras beirãs e transmontanas têm o seu monumento, pequeno ou mais vistoso com a lista por aldeias, dos seus filhos que morreram na Guerra do Ultramar.

Dalgumas aldeias talvez não tenha morrido ninguém em África, pois foi mais provável um ou outro terem morrido nas estradas de Espanha, pelas vacances, lançados em grandes carros, para matar saudades.

Estes jovens refratários, ou desertores ou que simplesmente já estavam para lá antes das inspecções, e não regressaram, fariam mesmo falta naquela guerra? Será que se notou a falta de soldados rasos?

Sim,  rasos, atendendo que a maioria dos jovens de que falo, "a salto", andaram apenas na escola primária, os que os pais dispensavam da vida do campo, nem todos souberam o que era a reguada do professor.

Lembro que, embora o pessoal saísse à socapa para a França, não iam avisar no Edital à porta da igreja ao Domingo, evidentemente, a sua partida, mas aquela clandestinidade era muito mal disfarçada, daí, até desde o regedor, o presidente da freguesia e algum da União Nacional desde o "passador",  indivíduo grandemente bem relacionado, até a algum bufo da PIDE, era tudo mais ou menos conivente.

Com mais todos esses mancebos em África, o resultado final da guerra era o mesmo que foi.

Embora este êxodo tenha ajudado à desertificação,  esta era tão inevitável que, mesmo com o fim da guerra, continuou, em quase todas as velhas aldeias daquelas regiões. São raríssimas as excepções em que a desertificação não acontece.

Mas,  se muitos os sexagenários e septuagenários reformados, não regressam definitivamente ás suas aldeias, deve-se a algumas explicações que eles dão:

  • Uma, são os filhos e netos já radicados definitivamente na França;
  • Outra explicação deles, é que em Portugal é tudo muito complicado.

Eu compreendo-os na perfeição nestas duas explicações.

E é uma pena que existam estas duas razões para eles não regressarem, principalmente a segunda. que é "estupidamente" verdadeira e real para esta gente, eu próprio senti ao fim de 5 anos no Brasil e um ou outro na Guiné.

Para tratar qualquer coisa (Registos, procurações, Câmaras, passaportes, saúde, etc.) em curto espaço das férias, só à base de "cunha", a velha corrupçãozinha. (Parece que actualmente alguma coisa terá melhorado, a anti-cunha.)

Quando se põe a questão da imigração/emigração actual no mundo, principalmente a clandestina como foi o caso desta que falo para a França, a única clandestina, costuma-se fazer comparações, e até semelhanças. Mas as semelhanças são muito ténues.

Era bom que o português não precisasse mais de emigrar, embora muitas vezes já seja por "tradição".

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 - P23703: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): A Sebastiana Valadas (1º episódio da série da SIC, "Despojos de Guerra") e os "cantineiros do mato" em Angola

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23703: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): A Sebastiana Valadas (1º episódio da série da SIC, "Despojos de Guerra") e os "cantineiros do mato" em Angola


Angola > Grupos étnicos > Distribuição geográfica (1970). Actualizados os nomes das cidades.Todos estes povos são bantos, com exceção dos Khoisan (Boximanes e Hotentotes)

Fonte: Angola_Ethnic_map_1970-de.svg / Wikimedia Commons (adaptado, com a devida vénia).


1. Mensagem de António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62, topógrafo na vida civil, retornado, tendo mais tarde vivido e trabalhado na Guiné-Bissau, na TECNIL, no período de 1987/93; tem mais de 130 referências no blogue, é autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho":

Data - 12 out 2022 15:19 
Assunto - Sebastiana Valadas (SIC) e um pouco da guerra no Leste de Angola.

Sebastiana Valadas contou um episódio da sua vida em Angola, na SIC (*), empolado, ou não, mas esta mulher sabe mais mas muitíssimo mais sobre o assunto e sobre aquilo que passou, mas quem quis como estas pessoas retornadas, que ficaram" para ver o fundo ao tacho", com certeza que terão dificuldades para abordar muitos pormenores que inevitavelmente viveram.

Conclusão, Sebastiana não disse "nem da missa metade"..

Pelo que se depreende daquele pedaço de entrevista fica a ideia que a vida dela teria sido sempre comerciante naquele fim de mundo.

Ora se assim foi, aquela mulher fala no mínimo uma língua indígena, e ali talvez falasse duas, pois aquela estação está situada numa região onde predominavam ganguelas  (**) e quiocos ou chócues. 

Atenção, para quem não é nem foi comerciante, "quem não é competente, não se estabelece", quero eu dizer que, aqui especialmente, se alguém quisesse ter sucesso, tinha que ter muitas competências, uma delas era ser poliglota.

Eu nunca consegui aprender nem crioulo, mas também problema do meu ouvido, ao contrário de colegas que tive que chegavam a falar 2 e 3 dialetos, a quem chegávamos a fazer exames, tínhamos muitos juris, os contratados, se era verdade ou falso.

Esses poliglotas não precisavam de intérpretes para nada, era uma vantagem enorme para poder entrar facilmente em ambientes tribais.

Como é que se fazia um "comerciante do mato"? Ou já herdava o negócio que pode ter sido aqui o caso, muita família em volta, ou praticando de jovem como empregado de uma casa deste género.

E, chegando a adulto, se sentisse as tais competências necessárias, era fácil estabelecer-se, mesmo sem capital, entrava em contacto com um grande armazenista/fornecedor... um historial que só conheço de ouvir, enfim, vi fazerem-se grandes endinheirados, e outros dar com os burrinhos na água.

Quando num jornal em anúncio se pedia empregado de balcão, para Luanda, se fosse para trabalhar no muceque, até sotaque de Luanda tinha que demonstrar para se considerar apto.

Voltando a Cassai-Gare, Cassai é um lindo rio, de águas límpidas e com diamantes, e que será o rio que dá o nome àquele lugar.

Andei na tropa em 1962, naquela zona numa companhia indígena, ainda aparece o nome no Google Earth a aldeola onde ficava a Companhia, era Nova Chaves, bem perto de Cassai-Gare, mas há ainda a sanzala Cassai onde tivemos um pelotão, de vez em quando vou ao Google, está ainda tudo no mesmo lugar.

Vim de Luanda para este fim de mundo, voluntário, para escapar a um capitão que me garantiu que ainda me havia de arranjar 9 dias de prisão, já me tinha dado 3 dias de detenção.

Já outra vez me tinha oferecido em 1961 para o Norte, como voluntário para fugir a outro capitão, que levou uma rabecada do Comandante do RIL, de Luanda, por minha culpa porque como sargento de dia não obriguei os faxinas a fazer a higiene da companhia, exemplarmente, numa revista semanal de sábado.

Talvez passasse o meu tempo de guerra todo em Luanda na santa paz das praias de Luanda, pois não me convocavam porque não havia arma para mim, armas pesadas de infantaria.

Mas voltando a estes comerciantes, em geral começavam como jovens, solteiros, e origem de quase todos eles, com raríssimas excepções vinham por esta ordem, Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e um ou outro beirão, poucos, e mais antigos também havia açorianos e madeirenses.

Para mim, aquilo em Angola, se não fossem estes comerciantes, e se em 1961 Salazar tivesse "dialogado" com Agostinho ou Holden Roberto, milhões de angolanos tinham ficado sem brancos, sem saberem o que foi haver branco em Angola, nem Angola dizia qualquer coisa àquela gente.

No caso daquele fim de mundo onde já havia uma linha de caminho de ferro com estação e tudo, vem tudo na Internet, sabemos que foi iniciativa do tal inglês que Norton de Matos queria copiar, Cecil Rodes, e que era para transportar os minérios ingleses e belgas, para o porto do Lobito.

E tinha estação naquele fim de mundo para quê? Aqui entram também os tais comerciantes como Sebastiana.

Sabemos que o negócio era de permuta, e ali era uma região de muita mandioca, muitíssima cera, peles de caça, muitas onças em armadilhas, e toda essa mercadoria ia para os fornecedores (em conta corrente), que ou eram de Nova Lisboa ou Lobito.

Pormenores que muita gente mesmo em Angola nem sabia para que era esta linha, mas no tempo da safra da mandioca, o caminho de ferro deixava em cada estação entre Silva Porto e Teixeira de Souza, um vagão de mercadorias, onde os comerciantes depositavam a mandioca da permuta, e no dia combinado vinha uma locomotiva e rebocava todos os vagons para o porto do Lobito, era uma composição enorme digna de se ver, como eu cheguei a ver, ao longe, com a mandioca branca devido a um tratamento próprio que se chamava crueira,

Mas havia,  além dos comerciantes, outras figuras que entravam nesta guerra do Leste (ZIL). Eram os madeireiros que se dizia que estariam feitos com o duvidoso Savimbi.

E naquelas regiões havia ainda outras figuras muito variadas, uns a fazer negócios de diamantes, outros a enfiar barretes com diamantes, aquilo era uma guerra muito interessante.

Mas uma coisa era que naqueles distritos os Governadores de distrito (militares) tinham um trabalho muito especial directamente com as populações e todas as autoridades, PIDE, Chefes de Posto, judiciária, milícias, e ligados sempre com a tropa.

Conheci em 1970, na Lunda o trabalho de Major Soares Carneiro, mais tarde candidato a Presidente da República..

E, no Cuando Cubango até 1974, conheci o Major Branco Ló, ali os movimentos "andavam na linha", mas não vamos trazer aquela guerra para aqui, pormenorizando, que traria muitas discussões. Mesmo lá em Angola, Cabinda era uma coisa, e o Norte era outra coisa e o Leste outra. Só não trabalhei nem lutei em Cabinda.

Eu defendo sempre os comerciantes do mato, porque sei que muitos militares que passaram os 24 meses em Angola, saíam com a convicção que eram uns "gatunos dos negros", que tratavam mal os negros, enganavam os negros, na balança, no livro, etc.

Tal como se dizia do merceeiro da aldeia e o rol do merceeiro.

Penso que é tudo o que me ocorre sobre sobre os comerciantes, colonialistas e imperialistas.

Um abraço, Antº Rosinha (***)

PS - O soldado nunca teve tempo de compreender que a guerra durava e o comerciante continuava no seu posto, no meio daquela gente, sempre com a mesma tranquilidade


"Despojos de guerra": é uma série de 4 episódios sobre a guerra colonail, que está a passar na SIC Notícias, durante o mês de outubro. No passado dia 6, 5ª feira, foi a estreia da série, com a exibição do 1.º episódio ("A informadora", 51' ). Próximos episódios: dias 13, 20 e 27.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

Vd. também postes de:

9 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite

10 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23689: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte II - Luís Graça: Percebe-se agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave", a seguir ao 25 de Abril de 1974

(**) Vd, poste de 21 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12319: Manuscrito(s) (Luís Graça) (13): Três histórias ganguelas, três pérolas da sabedoria angolana... E onde se fala da atualidade dos Baratas, dos Cavetos e dos Heróis

(***) Último poste da série > 15 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19065: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (57): Charles Aznavour (1924-2018), em Luanda

Antº Rosinha, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,Pombal, 2007.
Foto: LG
1. Mensagem do nosso "mais velho" Antº Rosinha, 

Date: terça, 2/10/2018 à(s) 19:15
Subject: Charles Aznavour em Luanda

Em plena guerra fria e em plena "guerra do Ultramar", este enorme artista francês, quando em sua plenitude como cantor, esgotou dois cine-Restauração, na cidade de Luanda.

Esta visita a Luanda não teve nada de "inocente", de parte a parte. Levantou o moral da gente,  embora nós, o povão, não tivéssemos "chegado a tempo", às bilheteiras do Restauração.



Luanda > 1956 > O  cinema Restauração > "Construído no tempo colonial português, na cidade alta de Luanda, foi projectado pelos irmãos arquitectos João Garcia de Castilho e Luís Garcia de Castilho e passou a funcionar como Palácio dos Congressos e sede do parlamento angolano com a proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975 [até 2015]"... .Cortesia de Diário Imobiliário.


Penso que também actuou em Nova Lisboa no Ruacaná, como já tinha feito  a Amália Rodrigues.

Tentou-se o mesmo sucesso "colonial" com outro enorme francês, Gilbert Becaud. Mas foi surpreendido pelo 25 de Abril, e imagine-se este grande artista, em junho de 1974 a actuar com o seu piano em Malange com uma sala vazia, apenas vinte  ou trinta espectadores, porque o público já não queria ouvir mais "cantigas" .

Eu fui a esse espectáculo, o homem interpretou 2 canções, quase a chorar...mas apresentou-se.

Aconteceu o mesmo com o Tony de Matos em Serpa Pinto, ele que esgotava salas, mas após o 25 de Abril, estes artistas já não contavam.

Também o vi desesperado, com 20 ou 30 espectadores, cantou dois ou três números.

Esta também foi a minha guerra.

Cumprimentos
Antº Rosinha


(i) beirão, tem mais de 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18834: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18834: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 3 de Março de 2008 > A estátua de Diogo Gomes, agora "em depósito" na antiga fortaleza portuguesa do Cacheu... Seis séculos de história para um "canto", que nem sequer é museu...

Já vai em mais de cem o número de académicos que são contra a possibilidade de Lisboa vir a ter um "Museu das Descobertas". Numa carta, que o Expresso publica abaixo, historiadores, especializados na história do império português , e cientistas sociais explicam porque é que um museu dedicado à expansão portuguesa nunca deverá ter esta designação. A ideia de criar na capital uma instituição como esta foi defendida no programa eleitoral de Fernando Medina, eleito presidente da câmara de Lisboa. Os signatários da carta consideram o nome "Museu das Descobertas" um erro de perspectiva. A lista de signatários não tem parado de aumentar desde que a carta foi tornada pública,na última quinta-feira. Aos portugueses juntaram-se desde então investigadores vinculados às universidades de Harvard, Yale, e UCLA, nos Estados Unidos, ao Collège de France, Sorbonne, EHESS, Paris e a EPHE, Paris, às principais universidades brasileiras, São Paulo, Universidade de Campinas, Universidade Federal da Baía, Universidade Federal Fluminense, o University College London, UK, ou a Universidad Complutense de Madrid- 
[Expresso, 12 de abril de 2018 >  A controvérsia sobre um Museu que ainda não existe. Descobertas ou Expansão?]


Foto: © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Rosinha

Data: 9 de julho de 2018 às 23:04

Assunto: Entre 1394 e 1974 da História de Portugal deve ser re-escrita e ir para o Museu?

Luís, como está na ordem do dia, e se não for excessivo, aproveita.
Abraço, António,


2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


[ António Rosinha, foto acima, à direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]

(i) beirão, tem mais de 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como  autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


Mas não no Museu das Descobertas, porque estas só podem ser consideradas até Magalhães com a volta ao mundo, 1521, 127 anos a viajar e a ligar terras e continentes desconhecidas entre si e localizá-los no mapa.

Segundo alguns portugueses, desde o nascimento do Infante Dom Henrique até ao General Spínola, 580 anos, todos os heróis nacionais desse período, com estátuas, bustos ou referências em ruas e praças, deviam ser "recolhidos", senão apagados da história como heróis, porque acham que a história está a ser mal contada.

 E, sendo assim, tal como fizeram os guineenses que levaram as estátuas dos heróis portugueses para a fortaleza de Cacheu, era de sugerir, digo eu, que cá, na ex-Metrópole, se fizesse um Museu na fortaleza de Sagres, onde tudo começou.

Talvez não coubessem todos, desde o próprio  Dom Henrique um sem vergonha, sonhador, mas talvez  a culpa foi da mãe que até era inglesa,  até ao Camões um gabarola, e um Cabral que até se enganou no caminho porque se fiou no GPS que estava desactualizado.

E o Marquês onde o Benfica festeja à volta do leão, que mandou os jesuítas para lá do Atlântico, pregar para outra freguesia, esse ia também para Sagres.

Nem os santos escapavm, até São Francisco Xavier que foi convencer gente que vacas não são sagradas e que toucinho faz uma rica banha, esse também não escapava.

Quem vai para Sagres é tambem o Gama que viciou os europeus na canela e no açafrão e outras drogas.

Mouzinho que embarcou Gungunhana e a família para a Metrópole, e não naufragou, será uma das figuras principais no museu.

Enfim, se misturarmos numa mesma casa desde o Henrique, o navegador, e o Gama e Bartolomeu Dias e Cabral, junto com Salvador Correia de Sá e outros brasileiros mais uns tantos cabo-verdianos e angolanos que  atravessaram o Atlântico com escravos para o Brasil e juntarmos ainda  outros como o próprio Eusébio e todos os Magriços do Estado Novo, que inovaram com futebol luso-tropical na Europa, moda que pegou (França e Inglaterra), então ficamos sem saber como havemos de chamar a esse museu.

Mas Museu das Descobertas é que não pode ser chamado como tal.

 Passámos mais anos a caminho e a viver nos trópicos do que quietinhos no nosso cantinho.

Seriam 580 anos da nossa história que  foram uma mentira, porque  nos primeiros127 anos já estava tudo descoberto, reconhecido e identificado e mapeado, o resto 353 anos,  foi conquista e colonização.

E só teríamos 274 anos em que fomos verdadeiramente Portugueses ou Lusitanos, e não Luso-Tropicais.  

Temos que perder complexos e não somar complexos a mais complexos. Descobertas foi uma coisa, conquistas foi outra. E escravatura foi ainda outra, e todas estas coisas devem ser tratadas no seu devido lugar (museu).

Como os portugueses mais recentes,  africanos, que à maneira americana se dizem afro-descendentes, e não sei se indianos e chineses descendentes também se queixam que os herois portugueses das Descobertas e das conquistas não são os seus heróis, talvez a maioria dos portugueses se interrogue se não será também descendente dos milhares de escravos e escravas e voluntários e voluntárias que se fixaram durante 580 anos neste cantinho de heróis, e aí ficamos na dúvida sem saber o que fazer a tanto herói.

E mais uma coisa, toda a Europa está numa transição tal, que há países europeus a temer que a maioria dos seus cidadãos  venham um dia a ser "afro-descendentes" e aí também os heróis "mudam de figura".

Já há muitos anos os romanos lutaram contra cartagineses que chegavam de elefante, agora lutam contra quem chega de bote.

A história universal pode ter muitas leituras, mas ninguém culpe os navegadores, porque "navegar é preciso".

Um abraço
António Rosinha
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18559: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): 25 de Abril: somos ingratos?

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18559: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): 25 de Abril: somos ingratos?


1. Mensagem do António Rosinha:


Data: 25 de abril de 2018 às 10:36
Assunto: 25 de Abril, Somos ingratos?


[ António Rosinha, foto à  direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]

(i) beirão, tem 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55) > 25 de Abril: somos ingratos ?


Os guineenses  entusiastas do PAIGC, doutrinavam os jovens da JAC, Juventude Amílcar Cabral, que o nosso, (do tuga) 25 de Abril se devia aos Combatentes da Liberdade da Pátria, o PAIGC.

Daí a minha surpresa de boca aberta, que tive dificuldade em a fechar, quando um colega meu guineense, topógrafo, que tinha vindo de Kiev com o seu curso, me atira à cara:

"Vocês os portugueses fazem uma festa tão grande com o 25 de Abril, e não têm vergonha de nem nos agradecerem aos guineenses, pois que fomos nós os responsáveis por essa vossa revolução."

Isto  nos anos 80, em que a história ainda estava muito a quente, fiquei sem reacção, e ainda hoje não tenho qualquer reacção muito lógica a uma tal questão posta por um balanta, topógrafo formado em Kiev.

Com toda a sinceridade e sem cinismo e sem nacionalismos, aprendi muitas coisas com os filósofos africanos, guineenses e angolanos, com quem nós, portugueses,  convivemos 500 anos.

E continuamos a conviver com imensos africanos, nós e toda a Europa.

Também os africanos tiveram muita influência na vida de Portugal durante mais de metade da nossa existência como Portugal.

Dá que pensar, naquilo que fazem de nós, aqueles com quem nos metemos. Isto para o bem e para o mal.

Quando se fala que foi a "luta" dos trabalhadores e progressistas...etc., (o nosso discurso oficial, anual), que fez o 25 de Abril, temos de facto que distribuir a responsabilidade por todos, do «Minho a Timor».

Porque, penso eu, a luta deve continuar e não parar no tempo.

Uma reacção minha a isto tudo, é que se o 25 de Abril se tem dado em 1961, não tinhamos feito a Guerra do Ultramar (13 anos), e não tínhamos 5 PALOP.
Isto eu não disse ao meu amigo topógrafo, e não sei se lhe dissesse tal coisa, se ele me agradeceria de todo o coração, ou se não acreditava nessa tão grande responsabilidade do português.

__________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18536: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): no tempo em que havia uma irmandade 'intercolonial' e um cabo-verdiano, um são-tomense ou um goês se sentia em casa num país como Angola

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18536: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): no tempo em que havia uma irmandade 'intercolonial' e um cabo-verdiano, um são-tomense ou um goês se sentia em casa num país como Angola

1. Comentário do nosso amigo e camarada  António Rosinha, a propósito da Amédia Araújo hoje uma senhora de oitenta e tal anos, que vive em Cabo Verde, que foi caaada com o dirigente do PAIGC, José Araújo, e que era conhecida, no TO da Guiné, pelas NT, como a "Maria Turra",  ou seja, era a locutora de serviço da "Rádio Libertação", que emitia a partir de Conacri (*)

[António Rosinha, foto à esquerda, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande:

(i) beirão, tem mais de 100 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo  fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário';

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao  Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


2. Caderno de notas de uma mais velho > A irmandade 'inter-colonial' (**)


Como esta senhora do PAIGC, havia muitos cabo-verdianos em Angola em que, tal como na Guiné, em todas as repartições e em todas as capitais de distrito, sobressaía a sua presença.

Vou dizer uma coisa que muita gente pode não acreditar e considerar tolice minha:

Quando Amílcar Cabral na fundação do PAIGC, se torna simultaneamente co-fundador do MPLA, havia um sentimento de irmandade entre todos os que foram estudantes da "Casa do Império" de todas as colónias portuguesas, que hoje já não existe mais, e hoje já não existe mais essa irmandade.

Embora apoiem todos a CPLP, e os dirigentes todos falem português, nota-se que há indiferença entre eles.

No tempo colonial, um cabo-verdiano, um  são-tomense ou um goês, que eram os que mais emigravam, iam para Angola ou Moçambique ou Guiné, co-habitavam e conviviam naturalmente como se nunca tivessem ido para terra estranha.

Daí, Amilcar Cabral ou os irmãos Pinto de Andrade por exemplo, relacionarem-se com todos os dirigentes angolanos ou guineenses como se fossem patrícios uns dos outros.

Acabou esse relacionamento, e até se nota em alguns casos, como no caso da Guiné, desentendimentos com angolanos e cabo-verdianos.

E com Moçambique há um maior  distanciamento, o que se nota perfeitamente.

Esse relacionamento "inter-colonial» era muito interessante, mas só essa gente tropical é que a poderia explicar melhor, mas não explicam.

Uns morreram, outros "matarm-se" [uns aos outros], e a maioria foi inibida de poder falar.

Cumprimentos

Antº Roxinha

2 de dezembro de 2015 às 15:42  (*)


3.  Sobre a "Maria Turra", alcunha de Amélia Sanches Araújo, dada pelos "tugas", no TO da Guiné à locutora da Rádio Libetarção , e que muitos pensavam ser a própria companheira de Amílcar Cabral, a Ana Cabral:

Amélia Sanches Araújo [tem uma dezena de referências no nosso blogue como "Maria Turra"]

(i) nasceu em Luanda, sendo de origem cabo-verdiana;

(ii) era casada com José Araújo (1933-1992), antigo dirigente do PAIGC e antigo ministro da Educação de Cabo Verde; 

(iii) fugiu, em Lisboa, em 1961,  com um grupo de cerca de 6 dezenas de "estudantes do Império", onde estavam os futuros  presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, e de Moçambique, Joaquim Chissano, e futuros -primeiros-ministros de Angola e Moçambique Fernando Van Dunen e Pascoal Mocumbi;

(iv) na  Guiné esteve com o marido, na "luta de libertação" daquele país e de Cabo Verde;

(v) o seu m papel de `heroína` só agora começa ser  reconhecido em Cabo Verde, onde vive com 84 anos de idade;

 (vi) em Conacri e ao serviço do PAIGC,  era locutora e a voz mais conhecida das emissões em português da Rádio Libertação, do PAICG, partido do qual o marido era dirigente e responsável pela área de informação.

(vii) em declarações à agência Lusa, em 2017,  mais de 40 anos após as independências, Amélia Araújo disse que «valeu a pena» a luta armada, apesar do seu inicial cepticismo em relação a Cabo Verde;

(vii) o casal regressari a Cabo Verde em 1980, após o golpe de Estado liderado por 'Nino' Vieira.

Fonte: Adapt de Observatório de África > 19 de janeiro de 2017 > Mulheres cabo-verdianas na luta pela independência
___________

Notas do editor

(...) Um dos episódios recentes deste programa da Antena Um foi justamente sobre a Rádio Libertação, o seu papel, na propaganda e contrapropaganda do PAICG. Não se pode fazer a história desta rádio sem falar da "Maria Turra", a angolana, de origem cabo-verdiana, Amélia Sanches Araújo, que lhe deu voz e alma de 1967 a 1974... Aderiu ao PAIGC em janeiro de 1964. Com mais quatro guineenses, a Amélia Arújo foi enviada por Amílcar Cabral para uma formação de nove meses na União Soviética. Em maio de 1967 a União Soviética entrega ao PAIGC, através do seu embaixador em Conacri, uma estação de rádio. (...)

(**) Último poste da série > 4 de novembro de 2017  > Guiné 61/74 - P17935: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): Os "comerciantes" e os "outros"... Lá, em Angola, Guiné e Moçambique, muitas vezes mais valia um ano de tarimba do que dez de Coimbra...

sábado, 4 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17935: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): Os "comerciantes" e os "outros"... Lá, em Angola, Guiné e Moçambique, muitas vezes mais valia um ano de tarimba do que dez de Coimbra...



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 A > Pormenor; quatro funcionários dos correios (à esquerda), seguidos de quatro comerciantes, o libanês José Saad (e filha), o Mota, o Dantas (e filha) e o Barros.


 Foto (e legenda) do nosso saudoso Victor Condeço (1943/2010) / Edição e legendagem complementar:  © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados.



I. Três comentários do nosso amigo e camarada António Rosinha, ao poste P17920 (*):


1. No início da Guerra do Ultramar houve sempre uma enorme falta de diálogo entre quem chegava ("tropa") e quem residia ("brancos").

Nunca houve diálogo entre os "brancos" e "tropa", antes pelo contrário. A mentalidade de quem chegava para combater os "turras", diziam os oficiais milicianos, e não só, que estavam ali por culpa dos "brancos" que trataram mal os "pretos" e estes revoltaram-se.

Testemunhei isto em Angola, ao vivo e a cores.

E insistia-se,  e ainda hoje se ilude muita gente, que os comerciantes ("brancos") roubavam os "pretos", quando na realidade, para quem viu por dentro,os comerciantes eram os únicos brancos que se entendiam em várias línguas com o povo.

O comerciante que não tivesse uma afinidade e confiança total com o povo, (várias etnias) podia fazer as malas e mudar de vida,  pois falia muito rapidamente

Nem os missionários nem chefes de posto, (metropolitanos, indianos ou cabo-verdianos) tinham o conhecimento e o relacionamento com os povos, igual ao dos comerciantes.

Foi esta gente o grosso dos "brancos", colonialistas, exploradores e futuros retornados,  que nem Spínola, nem Lobo Antunes, nem os alferes-de-coimbra, chegaram a compreender.

E gente como os estudantes do império, Pedro Pires, Amílcar Cabral, Lúcio Lara,  etc. souberam explorar maravilhosamente esse desentendimento, "tropa"  versus "brancos".

Se em Angola, não na Guiné, a "vitória era certa" contra os "turras", u ma das razões que ninguém menciona, era um entendimento mútuo dos comerciantes,  e mesmo capatazes de fazendas, poliglotas, e sua prole, com os povos, que formavam uma barreira onde o adversário era naturalmente repelido.

Claro que muitos comerciantes ficaram reféns, como este Rendeiro, pois tinham família para cuidar.
Só falo do que vi.

2. A maioria dos comerciantes oriundos de Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e gradualmente por aí abaixo, com dezenas de anos de trópicos, com famílias constituidas lá, brancas ou mestiças, tinham opinião bem mais formada do que qualquer Governador, com comissões de 4 anos, ou Generais e Intendentes de passagem como cão por vinha vindimada ?

E que «antiguidade" devia ser um posto?

É que aquela gente sabia bem mais que qualquer PIDE, que mais que evidente, tiveram pouco sucesso, deviam ser aproveitados inteligentemente, como em muitos casos aconteceu em Angola, para na língua materna dos povos se fazer em directo, a tal luta da psico-social.

Falar os idiomas nativos era sucesso garantido para aquela guerra, comprovadíssimo em Angola.

Só eles mesmo é que tinham esse trunfo nas colónias africanas, a tropa nunca entendeu completamente esse pormenor, e em Angola, só a partir de certa altura (1966 mais ou menos)é que aproveitou os imensos poliglotas que eram esses comerciantes e sua prole.

Atenção que, se olharmos para o PAIGC, MPLA e FRELIMO, tinham na sua direcção, filhos ou netos dessa estirpe de gente, (brancos ou mestiços)e vejam quem ficou no "poleiro" em todas as colónias.

No entanto, havia muitos movimentos que ficaram todos a ver navios, eram os tribais.

O  "pau de dois bicos" dos comerciantes não era propriamente dar informações militares aos "turras", até porque a maioria pouco saberiam do que se passava nos quarteis mais do que qualquer garoto que vivia à volta dos quarteis.

O pau de dois bicos constava em simplesmente em fazer aviados de mantimentos aos "turras" sem os denunciar, caso não pudessem evitar. Eram casos conhecidos publicamente, caso de madeireiros em Angola.

E pelo que se deduzia na Guiné em conversas entre velhos comerciantes, após a luta, com Luís Cabral a mandar, aconteceria esse "fenómeno", era o desenrascanço.

Os únicos que já não eram periquitos, eram esses velhos comerciantes do mato, porque até os da cidade nunca chegaram a saber bem o que se passava no cabeça dos indígenas e dos brancos.

Ao fim de 30 anos nos trópicos, sou um periquito, porque nunca falei com um indígena na sua língua.

3. É natural que da maioria dos militares que passaram pelas colónias, mesmo aqueles que tinham papéis de comando, a nível quer de pelotão ou companhia  ou quer a nível de  batalhão, só poucos se teriam debruçado sobre o que era o "comércio de permuta", que se praticava no interior, não nas cidades, no caso da Guiné, Bissau apenas.

Mesmo em Gabu e Bafatá, quer comerciantes fulas ou caboverdeanos que ficaram com as lojas dos europeus, retornados, alugadas ou usurpadas a estes, ainda praticavam em alguns casos , o comércio de permuta.

Isto em 1987, residi um ano em Gabu onde fui inquilino numa casa de um desses antigos portugueses.

Por exemplo uma simples bola de cera de mel de Canjadude, para ser negociada entre a família vendedora e o comerciante, requeria um diálogo em que se discutia o que podia valer de coisas das prateleiras que podiam interessar aos elementos da família.

Desde óleo, sal, panos, chinelos chineses, arroz...e isto tudo usando argumentos em que na colheita anterior bola de cera idêntica ainda estava na memória de todos, o que tinha rendido.

Quem diz uma bola de cera, diz um carneiro, uma vaca, ou o  mesmo saco ou bacia ou balaio de arroz ou mancarra após cada safra.

Quando se diz que o comerciante "roubava na balança", ou no rol, isso era conversa de merceeiro das nossas velhas aldeias, ali essa da balança podia contar para o controle do próprio comerciante, mas não contava nada para o cliente, aliás, na permuta, eram clientes quem estava do lado de dentro ou de fora do balcão.

Quero com isto dizer que para ganhar dinheiro naquele tipo de negócio, era preciso uma especialização para quem saía das nossas terrinhas, algumas destas que arderam agora, nem com coimbra-e-tarimba se chegava lá.

Nem com comissões de dois ou quatro anos de função pública, e canudo universitário se chegava a entender o que era aquele trabalho.

Quando se fala em «periquitos», esta gente seriam aqueles que na realidade não eram periquitos.

E alguns desses comerciantes tinham uma particularidade. é  que chegavam a dominar dois e mais idiomas tribais, porque era-lhes necessário, o que lhe granjeava o respeito muito particular entre os populares.

No caso da Guiné, todos os comerciantes que quiseram ficar, continuavam, após o 25 de Abril, e até com protecção mais ou menos garantida, embora fossem sapos que alguns dirigentes tiveram que engolir.

Só que com o regime comunista/cabralista instalado, já nada compensava insistir em tanta incongruência e desordem económica e a maioria foi saindo de vez.

Além de Spínola, eram os comerciantes aquilo que os guinenses tinham mais lembranças nos primórdios da libertação.

A independência tinha que ser, e o que tem que ser...!

Mas tenhamos mais respeito pela inteligência daqueles povos, já que os vencedores, alguns "Estudantes do Império", se esqueceram tanto desse mesmo povo.  (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de outubro de 017 > Guiné 61/74 - P17920: (D)o outro lado do combate (14): a odisseia do português, da Murtosa, Rodrigo Rendeiro: uma viagem atribulada, de cerca de mil km, de 3 a 26 de setembro de 1963, de Porto Gole, onde tínha um estabelecimento comercial e era casado com uma senhora mandinga, de linhagem nobre, Auá Seidi, e tinha cinco filhos,até ao Senegal (Samine, Ziguinchor e Dacar), unindo ocasionalmente o seu detino ao do PAIGC... Relatório, assinado por ele, mas de autenticidade duvidosa...

(**) Último poste da série > 15 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium

domingo, 15 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium, constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". A foto é do Eduardo Campos que por lá passou em Abril de 2010.

Na altura (em novembro de 2010), escrevemos  o seguinte:

 "É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos. Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma".

Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário de Antº Rosinha (*), a propósito do memorial aos mortos da CART 1525 (Bissorá, 1966/67), entretanto "canibalizado" em data recente (enter 2011 e 2017):

[António Rosinha, foto à esquerda, Angola, 1961

(i) beirão, tem acaba mais de 100 referência no nosso blogue, 

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário';;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 0chamar os bois pelos cornos';

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ] (**)


Tenho que emitir a opinião daquilo que vi e senti e pressenti sobre o assunto.

Ou seja, porque ficou mais ou menos tudo intocado e abandonado, ou aproveitado para qualquer utilidade das poucas coisas que restaram da presença das tropas que foram da metrópole para as ex-colónias?

Não sei se sabem que todos os quarteis de Bissau foram aproveitados na integra, e com os mesmos nomes:Artilharia, Força Aérea, Engenharia, etc,

Em Gabu, Catió, Cufar e noutros lugares ou para quarteis ou para armazens ou para moranças, fez-s algum aproveitamento, deixando tudo intocado até o pau da bandeira foi aproveitado.

Apenas as estátuas foram derrubadas, e porque foi Luís Cabral a ordenar, caso contrário ainda hoje estariam lá com capim à volta e criar musgo e verdete.

Para mim, reacionário, quase tanto como muitos velhos régulos que foram fuzilados, a apatia e o negativismo e a decepção que aquela "vitória" do PAIGC trouxe à Guiné foi tão grande, que toda a gente ficou anos e anos de braços caídos sem energia para fazer qualquer coisa daquelas lembranças coloniais, ou ao menos faze-las desaparecer de vez.

Até porque para fazer qualquer coisa monumental ou não, era preciso "patacon" e para isso os suecos, os soviéticos e cubanos, ou mesmo alguns kamaradas lusos, para essas coisas não havia peditório.

A muito custo lá foram as estátuas para o forte de Cacheu, talvez alguem da velha metrópole terá aguentado os custos.

Em Luanda porque havia dinheiro, foi destruir e fazer à maneira do MPLA, não à vontade dos angolanos ou de outros partidos.

Das pequenas recordações dos vários quarteis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium, que já mis que uma vez apareceu em foto neste blog. (***=
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (98): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)

(**) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17056: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (51): Pelo mundo, ninguém aprecia os nossos Generais, só os nossos Santos... (A propósito do bisavô materno do escritor e nosso camarada Antónioo Lobo Antunes, o gen José Joaquim Machado, 1847-1925)

(***) Vd. poste de  1 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (108): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)

Vd. também  postes de:

3 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9438: Memória dos lugares (173): Ponte Caium e o seu monumento, em ruínas (Pepito / Magalhães Ribeiro)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16868: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (50): Mandela não mentiu

1. Comentário de Antº Rosinha ao poste P16851 (*)

Foto à esquerda Antº Rosinha

(i) é beirão;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos';

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".



Cada um tem o seu ponto de vista, mas se toda a gente for fazer o seu comentário, sem ideologias nem facciosismos, dificilmente apareceriam dois comentários iguais, quer a contradizer quer a concordar.

Mas, como eu tenho aqui colocado sempre os meus comentários requentados alguns, novidades outros, venho aqui apresentar um requentadíssimo e que não me canso de repetir:

Toda a guerra do PAIGC, ou seja, quando Amílcar resolve a sério entrar na guerra contra a colonização portuguesa, foi feito um ensaio em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961.

Amilcar, todos já estamos carecas de saber que, foi co-fundador do MPLA e Luanda era a verdadeira "capital", ou "símbolo" do império Português.

E a ideia original e lógica dos "civilizadíssimos" estudantes do império era fazer a guerra urbana, tal como Mandela e o ANC e o Doutor Kenniata e outros faziam, e seria em Luanda que dava o verdadeiro escândalo.

Andar no mato como o tarzan, como diz o Arafan, descalços e de panos, não condizia com Amílcar, Agostinho Neto, Lúcio Lara, irmãos Pinto de Andrade etc.

Mas como em Março de 1961 apareceu em Angola um inimigo mais perigoso do que o "Colon" "tuga", os turras da UPA, que matavam tudo o que não fosse bacongo, e na Guiné já havia escaramuças e movimentos muito estranhos (MLGC, UPG, RDAG, UNGP, MLG, FLING), resolveram o MPLA e o PAIGC usar as mesmas armas, ir para o mato e ocupar o espaço desse "estranho inimigo".

Esse tal ataque a Tite, usado como data de início da guerra do PAIGC, não seria apenas um pequeno episódio e já teria havido outros mais marcantes, cuja data não interessava a Amílcar e ao historial do PAIGC?

Hoje já podemos analisar sem complexos o que estava por traz das motivações dos dirigentes caboverdeanos, e angolanos e guineenses que conscientemente e com espírito nacionalista dirigiam a luta anti-colonial.

Faltou muita sinceridade na luta "anti-colonial" dos dirigentes africanos, e nunca falavam a verdade ao povo, apenas o básico, o "branco vai embora" e ficavam felizes, não precisavam de trabalhar mais para o branco nem ser explorados pelo "branco", e como diz o Arafan, agora temos engenheiros e já não andamos de tanga...simples e tudo explicadinho!

Por causa das mentiras aos povos, hoje a fuga de milhões de africanos novamente para "o colinho" do ex-colon europeu neste conflito actual no mediterraâneo em Lampedusa e em Calais.

Vamos perder o complexo e denunciar o logro que provocou o actual conflito euro-africano em que uns de cá e outros de lá tiveram culpa, e nós aqui andámos a lutar e dar murros em ponta de faca, enquanto fomos capazes.

Mandela não mentiu (**)
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...

(**) Último poste da série > 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamentos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...


Guiné > Bissau > s/d [meados dos anos 60] > Aspecto parcial do centro histórico, Câmara Municipal à direita, Palácio do Governador ao fundo à esquerda... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")...

O António Rosinha pede-nos para "enriquecer o poste com esta  lindíssima foto  onde se vê a casa que o Luís Cabral queria que a Tecnil lhe adaptasse, antes de ser deposto em 1980 (...). Essa foto (tirada de helicóptero, penso eu) é das mais bonitas sobre Bissau (...): uma lindíssima residência, r/c  e 1º andar com um Jeep Villis da nossa tropa junto à entrada de casa (...).  Foi essa casa que o Luís Cabral queria adaptar para sua residência, e que o Ramiro Sobral, o patrão da Tecnil, lhe agoirou o destino.

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações e edição: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)


Foto à direita,  Antº Rosinha (Pombal, 2007):

(i) é beirão; 

(ii) é um dos nossos 'mais velhos';

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974;

(vi)  'retornado', andou por aí (com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; 

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL,  era o velho africanista Ramiro Sobral; 

(viii) é colunista do nosso blogue com a série "Caderno de notas de um mais velho'';

(ix)  pelo  seu bom senso, sensibilidade, perspicácia,  inteligência emocional, históri de vida, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e  elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;

(x) ao Antº Rosinha  poderá aplicar-se  o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".    


1. Então era assim: no tempo feliz africano, em que até parecia que era fácil governar Angola, independente, havia umas famílias angolanas antigas que,  sem exagero, representavam uma verdadeira aristocracia.

O povo, desde o indígena ao colono, ao comerciante e ao fazendeiro, olhava para essas famílias de baixo para cima com o maior respeito (merecido).

Eram, por alto, os Van Dunem, os Páduas, os Laras, os Cochat, os Ribas, os Mascarenhas, os Cardona, os Peyroteo, os Van der Kellen, os Almeida (Demóstenes) Boavida e muitas outras boas e lindas e numerosas famílias e a maioria grandes portugueses.

Havia médicos, poetas, agrónomos, geógrafos, geólogos, advogados, notários, desportistas.

Contam-se pelos dedos aqueles que tiveram o comportamento de Mário Pádua, Lúcio Lara ou Pepetela ou Pinto de Andrade, por exemplo.

No entanto,  eram a maioria por uma independência de Angola, no caso destas famílias, mas não por uma selvajaria, e a maioria ficou do lado certo, do nosso lado, porque não era aquela guerra internacional que eles queriam na sua terra.

Eu vi, conheci, assisti, e como essas famílias e mesmo Mário Pádua, estamos a maioria em Portugal,  outros no Brasil.

Curioso que no caso dos guineenses, os indígenas,  e o próprio PAIGC, não se mostram muito agradecidos a esses «heróis». Talvez porque de alguma maneira esses personagens (estudantes do Império) roubam protagonismo ao povo.

Salazar,  como não tinha filhos, criou a «Casa dos Estudantes do Império: berço de líderes africanos em Lisboa», foi uma espécie de João VI que tinha o filho Pedro IV nosso.

Também os brasileiros sentem falta de heróis próprios.

Não quero ser fracturante, mas temos que contar a História, tal qual, bem esmiuçada.

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(*) Vd. poste de 8 de novembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16699: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (21): Mário Moutinho Pádua, o primeiro oficial português a desertar, em Angola, em outubro de 1961... Será, mais tarde, médico do PAIGC, no hospital de Ziguinchor, entre fevereiro de 1967 e setembro de 1969... Regressou a Portugal em novembro de 1974, e cumpriu o resto do serviço militar... Aposentou-se em 2003 como médico do Hospital Pulido Valente (Juvenal Amado)



2.  É preferível este encontro [Marcelo Rebelo de Sousa-Fidel Castro] agora, pois mais tarde algum dos dois podia já ter "desencarnado". Se Castro ainda estiver bem lúcido, como parece, e se informar bem, vai como muita outra gente deglutir sozinho, com os seus botões, uns sapitos.

Palmas para a coragem de Manuel Luís Lomba, mas também para a oportunidade aproveitada do nosso Presidente. Devagarinho a História está a ser contada, e muitas vezes já é gritada.

Lembro-me de ver,  durante a Guerra do Ultramar, numa reportagem numa sala de cinema em Luanda, o pai do nosso Presidente actual [Baltazar Rebelo de Sousa, governador-geral de Moçambique, em 1968-1970]  inaugurar um baile de cerimónia, com a primeira dama do Malawi, e vice-versa, Hasting Banda, presidente do Malawi, com a primeira dama de Moçambique.

(Essas coisas não aparecem em guerras do género Joaquim Furtado).

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Vd. poste de 7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16693: Carta aberta a... (14): ...ao Comandante Supremo das Forças Armadas Portuguesas, Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)


3. Pessoalmente conheci um desertor guineense, ou que ficou para a história da Guiné como desertor, e que levou com ele uma avioneta de Bissau para Conacry.

Tinha o seguinte currículo popularmente conhecido na sociedade de Bissau:

(i) era furriel da Força Aérea, guineense, da minha idade, portanto foi para a Força aérea antes da Guerra do Ultramar;

(ii) era guineense de uma família antiga,  «colonialista», que se foi amestiçando;

(iii) como era menino bonito e inteligente, era um desperdício ir lutar para o mato como os indígenas. (Isto o povo pensava em crioulo, mas eu traduzo.)

Foi de armas e bagagens estudar com bolsa para a Jugoslávia e regressou com bagagem pesada, canudo de engenheiro/arquitecto, após a independência.

O PAIGC, reconhecido, atribui-lhe mais que uma pasta governamental, e também agradecido o governo português também lhe concedeu bolsas de estudo para os filhos nos Pupilos do Exército em Lisboa.

Já faleceu. em acidente com arma de caça.

Chamava-se Tino, Tino Lima Gomes. Era um português como milhares de transmontanos, açorianos, angolanos, etc., nunca foi indígena, nasceu «assimilado».
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Vd. poste de Guiné 63/74 - P16686: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (18): Mais um caso "atípico", o de David [Ferreira de Jesus] Costa, ex-sold at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68 (Virgínio Briote)


4. Luís Cabral pretendia reformular uma residência bastante moderna que foi propriedade de um antigo 'colón' que eu não conheci, para sua residência, penso eu. Essa residência ficava atrás do gabinete do primeiro ministro, e tinha uma portaria que era preciso adaptar, na cabeça de Luís Cabral, para receber o Volvo presidencial, bem junto à porta da residência.

Só que havia um pedaço de jardim e duas colunas à entrada da residência que era preciso derrubar, construir noutra disposição, e isso Luís Cabral não queria.

E, agora,  vou falar em nomes de gente muito simpática e não quero de maneira nenhuma fazer «politiquice» nem com as pessoas nem com a atitude das mesmas nem do momento. O ministro das Obras Públicas era Tino Lima Gomes que era arquitecto e ainda chegou a dar uma vista de olhos na portaria mas sem qualquer solução.

Mas a esposa dele, a camarada Milanka, de nacionalidade jugoslava, arquitecta nas Obras Públicas,  é que foi encarregue de descalçar a bota, e eu no campo executar o impossível. 

Só que a camarada Milanka não tinha coragem de dizer ao presidente que era impossível executar como ele queria, e eu descarreguei o meu fardo para o meu patrão Ramiro Sobral que se encontrava em Bissau. Onde ia,  mês sim, mês não.

E o velho,  de 75 anos, e muitos anos de África, habituado a resolver casos bicudos, analisou e solucionou:
– Senhora Dona Millanka (toda a gente dizia "camarada Milanka"), sabe porque ando nesta vida com esta saúde aos 75 anos? Porque a porta da minha casa em Viseu tem 3 degraus. E subir e descer esses 3 degraus dão-me imensa saúde. Convença o senhor presidente que com 3 degraus resolve o problema e dá-lhe imensa saúde para daqui a muitos anos continuar com o meu dinamismo.

Passados uns instantes,  já só comigo no automóvel, Ramiro Sobral, como que a falar para os próprios botões, previa:

– Com degraus ou sem degraus,  não vais envelhecer aqui, não.

Talvez uns 15 dias depois, dá-se o golpe a 14 de Novembro de 80 que derruba Luís Cabral.

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