segunda-feira, 8 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24297: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua do que os 500 anos anteriores


Casa Comum | Fundacão Mário Soares | Pasta: 11124.001.010 | Título: Mensagem | Assunto: Mensagem. Publicação não periódica da Casa dos Estudantes do Império. | Número: 1 |Ano: XVI | Data: Julho de 1964 | Directores: Alberto Rui Pereira | Fundo: Associação Casa dos Estudantes do Império | Tipo Documental: Imprensa | Língua do Documento: Português

Citação:
(1964), "Mensagem", nº 1, Ano XVI, Julho de 1964, Lisboa, Fundação Mário Soares / Associação Casa dos Estudantes do Império, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=11124.001.010 (2023-5-7)



Antº Rosinha, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,Pombal, 2007.
Foto: LG
1. Comentário ao poste P24290 (*), do Antº Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, e onde fez a tropa e a guerra, em 1961/62), "retornado" em 1975, emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), um dos últimos dos nossos "africanistas",  membro da Tabanca Grande desde 29/11/2006 (enfim, "um senhor senador"):

Tanto a língua portuguesa como Portugal foram talvez definitivamente desenquadrados aos olhos de muitas partes do mundo como sendo vizinhos da Espanha sim, mas não espanhol, isto devido muito aquela guerra do Ultramar.

A ignorância sobre Portugal e suas colónias era tal que no próprio Brasil no 25 de Abril ouvia-se perguntar: "Mas Portugal ainda tem colónias?"

Foi muito graças à sagacidade dos dirigentes dos Movimentos independentistas que se divulgou o que era Portugal e os portugueses, que eram algo que não tinha a haver com a Espanha.

Sabemos que havia os "estudantes do império", mas também "estudantes no império" e essa malta sabia melhor que nós "da metrópole" vender o "peixe".

Foram eles que conseguiram que imensas emissoras de rádio em todos os fusos horários, principalmente nos paises de leste e Ásia, tivessem emissões diárias e bi-diárias em português de Portugal e português do Brasil. Claro que era para falar mal da gente, mas falavam em português, já não era tão mau.

Ouvi a cooperantes estrangeiros na Guiné passados anos da independência, que só naquela altura de irem para lá, é que tinham ouvido a história que aquilo tinha sido uma colónia portuguesa. E explicavam-me isso em português.

Tive que aturar entre outros uns italianos na Guiné (engenheiros fiscais de obras) em que um me perguntava (em português)se era verdade que os portugueses estivemos ali 500 anos, e a fazer o quê?

E eu na brincadeira (nunca levei coisas muito a sério) respondi-lhe que não sabia mas que fosse perguntar ao Camões. Também não sabia quem era Camões.

Ou seja, para mim não tenho a mínima dúvida que nós não contávamos, e ainda pouco contamos, mas que aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua, do que os 500 anos anteriores.

Isto muito com a ajuda dos "estudantes do império" e "estudantes no império".

Ainda andam por aqui muitos estudantes vindos do império ou filhos deles, que ficaram por cá e dão bem nas vistas, pois têm uma perspicácia especial para se imporem em todos os campos, até na política.

Mas a propósito de Camões, e da nossa língua, o único Prémio Camões que foi rejeitado foi pelo nosso e angolano escritor Luandino Vieira. Ele em principio explicou que rejeitou por razões pessoais. Para mim não é explicação suficiente, que também tenho direito a opinião.
Depois tentou dar outra explicação, também não me convenceu.

Viva o Lula que só fala na ONU em português, embora em nordestino meio caipira.

Cumprimentos. Antº Rosinha (**)
7 de maio de 2023 às 11:03
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2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, gostas de cultivar o paradoxo e descrever a realidade com o traco grosso da caricatura. Enriqueces o pluralismo do blogue, que não tem um pensamento único. Em todo o caso, é tirando a "bola", Portugal em todo o mundo nunca foi tão falado (e fotografado) como no 25 de Abril de 1974.

Antº Rosinha disse...

Luis, e o 25 de Abril/74 (nem mais um soldado para África) não foi o corolário dos 13 anos que começaram com o 15/3/61 (para Angola e em força)?

Está tudo ligado, o exército era o mesmíssimo, o que fez a guerra e o que fez a paz, fomos nós.

Nós os que somos bons e nós os que somos maus.

E dentro da minha teoria sobre os "ultramarinos", até o mais célebre dos capitães de Abril, Otelo, era luso-indo-moçambicano.

Não é caricatura.

Entendido que eu não levo a políticagem muito a sério, para não "dar em doido".

Por isso só acredito no que passa em frente aos meus olhos.