sexta-feira, 12 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24309: Notas de leitura (1581): A economia guineense em 2017: oportunidades de import-export do lado português (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Encontrei na Feira da Ladra este dossier da Câmara Agrícola Lusófona que aporta um conjunto de elementos sobre os mercados guineenses até 2017. Graças aos dados mencionados, verifica-se que a alimentação guineense, sobretudo em meio rural, cobre uma boa parte das necessidades nutricionais, a despeito de um conjunto relevante de carências. É preocupante a tendência para a monocultura do caju, havendo quebras acentuadas em arroz e leguminosas, por exemplo. A inexistência de infraestruturas capazes não permite a exportação de frutas ou a sua industrialização, é um setor cheio de potencialidade. O dossier faz uma serena caraterização tanto da agricultura como do funcionamento dos mercados guineenses, desenvolve o setor produtivo e o consumo alimentar e deixa a sugestão para importantes oportunidades de exportação do lado português. Mais não seja, este dossier dá-nos informação de como estão os mercados em tempos de incerteza política.

Um abraço do
Mário



A economia guineense em 2017: oportunidades de import-export do lado português

Mário Beja Santos

Este dossier de mercado da Guiné-Bissau é da responsabilidade da Câmara Agrícola Lusófona, os dados apresentados, embora não seja clara a data desta publicação, vão até 2017, é importante este elemento cronológico, algumas das informações dadas estão seguramente desatualizadas. Logo no enquadramento se diz que a Guiné-Bissau estava a viver um período de crescimento económico, sendo as previsões de 4,8% para 2017 e de 5% para 2018, por exemplo. Houvera dois bons anos agrícolas mesmo num período de governação incerta. A fileira do caju é a principal fonte de receitas do país. Em 2015, o caju representou 82% com 210 milhões de euros num valor total exportado de 257 milhões. O dossier tem uma ficha-resumo do país, carateriza a população (o estrato etário dos 14-65 anos representa cerca de 56% da população total); metade da população encontra-se em áreas rurais. Segue-se a caraterização geral do país e dá-se conta de que os hábitos alimentares da população foram influenciados pela cultura gastronómica lusa, o que se reflete nas importações da cerveja, vinho, águas, alimentos processados, entre outros. As bebidas constituem assim a maior parte do valor das exportações portuguesas para a Guiné-Bissau.

O dossier não esquece a caraterização geográfica, é minucioso na observação dos solos, dá-nos depois uma caraterização económica e financeira. Assim chegamos ao setor produtivo e ao consumo alimentar, abre-se a porta para o que se consideram as oportunidades para o agro-negócio na Guiné-Bissau. A maior parte da população da Guiné-Bissau (58%) vive nas zonas rurais, temos os pequenos produtores camponeses e os “ponteiros”, os primeiros são responsáveis por cerca de 90% da população agrícola do país e os segundos resultam das 2200 concessões de terras, estando cerca de 1200 em atividade; as concessões correspondem a cerca de 9% da superfície total do país e às melhores terras. O caju veio absorver muito do tempo de trabalho anteriormente devotado às culturas alimentares, nomeadamente o arroz e o amendoim. Em termos de segurança alimentar, as consequências desta mudança foram evidenciadas em anos de menor sucesso na comercialização do caju, ficando as famílias desprovidas da sua principal fonte de alimento.

Embora as condições agro-climáticas da Guiné-Bissau favoreçam a existência de uma grande quantidade de frutas, a exportação de tais produções não tem sido possível, tudo por falta de instalações de conservação ou transformação, ou de circuitos de comercialização eficazes e também devido ao facto de as perdas de produção serem grandes no processo pós-colheita. A produção de arroz tem vindo a reduzir; a produção de cereais nos agregados cobre as necessidades alimentares de apenas oito meses do ano. O resto do consumo provém essencialmente do mercado, onde são comprados graças aos rendimentos monetários ou graças à troca principalmente por caju. O arroz cobre em média cinco meses das necessidades, enquanto os outros cereais cobrem em média dois meses. O amendoim e a mandioca são, a seguir ao arroz, as duas culturas anuais mais importantes. A produção média do amendoim em casca é estimada em 250 quilos por família.

A pecuária tem potencialidades para o desenvolvimento dos seus efetivos. Nos últimos dez anos o aumento mais significativo tem sido no gado caprino e ovino. A Guiné dispõe de recursos florestais consideráveis, com cerca de 2 milhões de hectares de superfície florestal e reservas em madeira estimadas em 48,3 milhões de metros cúbicos. Infelizmente, esta riqueza natural enfrenta um conjunto de problemas como a exploração económica abusiva ou as queimadas.

Cerca de 5% dos agregados familiares rurais têm um consumo alimentar pobre, 15% têm um consumo alimentar moderado e 81% têm um consumo alimentar aceitável.

A balança comercial da Guiné apresenta um saldo negativo, no domínio dos produtos agro-alimentares o saldo tem sido positivo nos últimos anos graças às boas campanhas de produção e comercialização do caju. A Índia é o principal cliente da Guiné-Bissau, adquiriu em 2016 a totalidade do valor exportado em caju com casca. As principais importações da Guiné devem-se a combustíveis minerais, cereais, preparados à base de cereais, equipamentos elétricos, bebidas, veículos automóveis, preparações alimentícias diversas e ferro e aço. A balança comercial agro-alimentar da Guiné-Bissau em relação a Portugal é inequivocamente favorável a Portugal. Em 2016, enquanto Portugal exportou para a Guiné-Bissau 21 milhões de euros em produtos agro-alimentares, esta apenas exportou para Portugal 6 mil euros em sucos e extratos vegetais. As exportações agro-alimentares portuguesas com destino à Guiné-Bissau são bebidas, laticínios e ovos, carne e miudezas, preparação de cereais, gorduras, preparações vegetais e frutas, enchidos e conservas, admite-se uma maior potencialidade exportadora, será o caso do agro-alimentar em preparações caldos e sopas, trincas de arroz, preparações para molhos, massas alimentícias, laticínios, entre outros. Já se referiu o peso que têm a cerveja, o vinho e as águas minerais nas exportações portuguesas. O dossier põe ênfase nas carnes frescas e refrigeradas, nas preparações à base de cereais, mas não deixa de referir que as taxas aduaneiras são altamente punitivas tanto para as gorduras vegetais como animais.

O documento da Câmara Agrícola Lusófona foca-se no agro-negócio e as pescas como motores de crescimento, mas está tudo dependente de um ambiente político e de orientações estratégicas que sejam favoráveis a infraestruturas, ao ambiente de negócios, ao desenvolvimento humano e à biodiversidade. Sendo o porto de Bissau a grande porta de entrada e de saída das trocas comerciais procede-se à sua minuciosa caraterização a que se segue a da rede rodoviária.

A última fase do dossier prende-se com o regime de investimento e os respetivos incentivos fiscais e dá-se uma relação de contatos úteis. Para saber mais sobre a Câmara Agrícola Lusófona e as suas atividades, sugere-se que se consulte o site https://www.calusofona.org/.

Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, na atualidade
Leguminosas da Guiné-Bissau
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24298: Notas de leitura (1580): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (3) (Mário Beja Santos)

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