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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25885: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte VI: Depoimento: Osvaldo Freitas de Sousa, de Fafe, atira-se ao rio para salvar o seu camarada da Lourinhã, José Henriques Mateus

 

José Henriques Mateus (Lourinhã, Areia Branca, 1944 - Guiné, Rio Tompar, região de Tombali, 1966)


 SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.


1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada a testemunhpos e depoimentos recolhos pelo autor (pp. 67/72).






Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.



Brasão da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)



Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] 

Parte VII:   Depoimento 2. Osvaldo de Fafe atira-se ao rio para salvar camarada da Lourinhã. (pp. 72/74)

No dia 10 de setembro de 1966, já no final da operação Pirilampo”, o primeiro-cabo radiotelegrafista Osvaldo Freitas de Sousa atirou-se ao rio Tombar, na Guiné, para tentar salvar o seu camarada de pelotão, soldado José Henriques Mateus, natural do lugar da Areia Branca, pertencente à freguesia e concelho da Lourinhã, e meu colega da escola primária do Seixal.

Tal como o Osvaldo, o José Henriques Mateus, soldado n.º 6951665, pertencia à CCAV 1484 / BCAÇ 1858, mobilizada pelo RC 7, e sediada em Catió. 

O Mateus desapareceu no decorrer de uma operação de combate, a Op Pirilampo, quando no final da operação o seu pelotão atravessava o rio Tompar, agarrados a uma corda, previamente estendida de uma a outra margem do rio. 

Quando chegou a vez do Mateus, e já em pleno caudal do rio, a corda partiu-se, sendo este arrastado pela corrente, nunca mais aparecendo o seu corpo, apesar dos esforços dos camaradas para o resgatar. Uma semana depois, no decorrer de uma outra operação no mesmo local, apareceu parte da camisa. Pensa-se que foi arrastado e comido por um crocodilo.

Ao consultar o processo individual do meu colega de escola Mateus (Zé Valente, era a sua alcunha) no Arquivo Geral do Exército, em Lisboa, no passado dia 14 de janeiro de 2014, deparo-me com o nome do Osvaldo, natural de Fafe, como uma das testemunhas ouvidas no Processo de Averiguações do acidente (o mundo é mesmo pequeno!)

O processo de averiguações foi mandado instaurar pelo Chefe de Estado Maior, ten cor Fernando Rebelo de Andrade em 14. 9. 66 e mandado organizar no Quartel em Catió em 22.9.66 ao alf mil José Rosa de Oliveira Calvário,  do Serviço de Material por despacho do cmdt do BCAÇ 1858,  ten cor  Silva Ramos.

O comandante de CCAV 1484, Virgílio Fernando Pinto, capitão de infantaria e comandante interino da companhia, indicou como testemunhas o 1º cabo radiotelegrafista Osvaldo Freitas de Sousa,  o alf mil cav Fernando Pereira Silva Miguel, que participaram na Op Pirilampo, e um terceiro que tinha participado nas buscas do corpo do sinistrado, alf mil cav José Moutinho Soares Franco Avillez.

Declarou o Osvaldo (transcrição do relatório):

(...) E vindo à minha presença a segunda testemunha e perguntado sobre a sua identidade, disse, chamar-se Osvaldo Freitas de Sousa, filho de Manuel de Sousa (falecido) e de Maria da Conceição de Freitas, de vinte e um anos, solteiro, natural da freguesia e Vila de Fafe, e ser primeiro-cabo radiotelegrafista número n.º 1055/65 da Companhia de Cavalaria número 1484, jurou pela sua honra e sua consciência que haveria de dizer a verdade e só a verdade sobre o que lhe fosse perguntado e aos costumes disse nada. 

E tendo-lhe sido perguntado sobre o que consta notícia da alínea dois, da nota treze mil novecentos e dezanove, traço, A, Processo cento e trinta e um, ponto três, disse: - “que se encontrava, quando do acidente, na extremidade da corda que atravessava o rio para apoio da sua passagem, a ajudar seus camaradas a saltarem para a margem. E que quando o sinistrado se encontrava a meio da travessia, agarrado à corda, esta se rebentou. Ao ver que o seu camarada se afundava jogou-se à água para tentar agarrá-lo. Mais disse que conseguiu chegar junto do mesmo, e que agarrou-o ainda por um ombro, embora ele já se encontrasse submerso. 

Mais disse que começou a gritar pelo que foi ouvido pelos seus camaradas, os quais se lançaram à água tentando auxiliá-lo. Que um deles (talvez um milícia – não o reconheceu devido à pouca visibilidade) o segurou quando ele já se encontrava também prestes a ser arrastado para o fundo, devido ao peso do corpo do sinistrado. E que em virtude de se encontrar agarrado não conseguiu sustê-lo por mais tempo. 

Mais disse que depois em companhia de outros camaradas, tentou detetar o corpo que nunca mais foi visto. Que levaram cerca de trinta minutos em buscas, mergulhando e inspecionando a zona, pelo que eram impossibilitados pela escuridão, pela forte corrente das águas e também por estas se encontrarem turvas. 

E mais disse que após todo este tempo de buscas regressaram a quartéis. E mais não disse. E sendo-lhe lidas as suas declarações as achou conforme, ratificou e as vai assinar.

O Oficial - José Rosa de Oliveira Calvário (Alf mil do SM)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13129: In Memoriam (189): José Henriques Mateus (1944-1966): uma singela e tocante homenagem das gentes da sua terra, Areia Branca, Lourinhã, na manhã de domingo, 11 de maio... Um exemplo a ser seguido por outras terras deste país.


Foto nº 1 > Painel de azulejos, pintado à mão, e que faz parte do monumento, inaugurado hoje, 11 de maio, no centro da povoação da Areia Branca,  materializando a homenagem do povo da  Areia Branca ao José Henriques Mateus (1944-1966).  Na parte superior do painel, ao centro está desenhado e pintado o guião da CCAV 1484 a que pertencia o Mateus.


Foto nº 2 > Da esquerda para a direita, presidente da Câmara Municipal da Lourinhã, engº João Duarte, e os familiares mais próximos do homenageado, José Henriques  Mateus (1944-1966), o irmão (mais novo e o único vivo) Abel Mateus (n. 1954), e a sobrinha Rute Rodrigues, com a sua filha. Falando com o Abel Mateus, confidenciou-me quão dolorosa ainda era para ele a perda do irmão. Nunca fizeram o luto, porque o corpo nunca apareceu. Em 1974, ofereceu-se para os comandos, mas não o aceitaram ao descobrirem que tinha um irmão dado comno morto na Guiné. O José Henriques Mateus era o homem que sustentava a família, já que perderam o pai cedo.


Foto nº 3 > Narciso Cruz, o presidente da comissão local que organizou a homenagem ao filho da terra, José Henriques Mateus. O Narcislo, que andou comigo (e com o Salgueiro Maia) a estudar no ISCPS, em 1975/76, também teve um irmão, mais novo, desaparecido no mar, quando ia a caminho da Mauritânia... Com ele foram cinco pescadores da terra, ao todo 9 náufragos do concelho da Lourinhã, cujos corpos nunca apareceram.

Recorde.-se que o concelho da Lourinhã também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. De 1968 a 2010, contabilizam-se pelo menos sete naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas e meia de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece). Um desses naufrágios foi o do  Altar de Deus, em 6 de Novembro de 1982,  barco que pertencia ao irmão do Narciso Cruz. Infelizmente também são mortos esquecidos... Outros naufrágios, no último meio século,  em que desapareceram pescadores lourinhanenses, quase todos eles não resgatados:  Certa (15 de maio de 1968); Deus é Pai (26 de março de 1971);  Arca de Deus (17 de fevereiro de 1993);  Amor de Filhos (25 de julho de 1994); Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de julho de 2000); e Fábio & João (19 de fevereiro de 2010).



Foto nº 4 > Da esquerda para a direita: (i) Ten cor inf ref José Pereira, presidente do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes; (ii) engº João Duarte, presidente da Câmara Municipal da Lourinhã; (iii) Pedro Margarido, presidente da Junta de Freguesia da Lourinhã;   seguidos de (iv) dois ex-combatentes da Guiné (os mais velhos da Areia Branca);  e por fim (v) o Narciso Cruz, presidente da comissão local que organizou o evento. (Um dos veteranos da guerra da Guiné, à direita do Narciso Cruz, é o Manuel Inácio Patrício,  sold da CART 1126, Bula e Có, 1966/67, que foi gravemente por duas vezes, na estrada Biambi-Bissorã, em 21/4/66, com um tiro ao lado esquerdo do coração, e na estrada de Jolmete, numa mina A/C,  em 26/8/66;  é Deficiente das Forças Armadas).


Foto nº 5 > O nosso grã-tabanqueiro e colega de escola do Mateus, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal, a povoação vizinha da Areia Branca... Fez o historial militar do Mateus e foi o autor de 5 cartazes expostos no clube local. 


Foto nº 6 > A sobrinha do Mateus, Rute Rodriguess, agradecendo a presença das autoridades, civis, religiosas e militares, bem como dos conterrâneos, amigos e camaradas do seu tio (que ela não chegou a conhecer)


Foro nº 7 > O ex-fur mil Benito Neves, ni uso da palavra;  veio de Abrantes para prestar a sua homenagem ao seu camarada Mateus. e trouxe consigo mais dois camaradas da CCAV 1484, todos eles tendo participado na fatídica Op Pirilampo.


Foto nº 8 > Um aspeto da assistência


Foto nº  9 > Em primeiro plano, umn terno de clarins da banda do exército, que veio  da Serra da Carregueira, para abrilhantar a cerimónia... Do lado esquerdo dois veteranos da Guiné,. e ambos deficientes das Forças Armadas, o Manuel Inácio Patrício e o José Rufino, dois dos membros da comissão local que organizou o evento. Por detrás dos militares, à direita, o Carolo, de boina da Cruz Vermelha, e também membro da comissão organizadora local.


Foto nº 10 > A cerimónia foi conduzida pelo António Bastos, vice-presidente da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhã, e que também, esteve representada pelo seu presidente Fernando Castro.


Lourinhã > Areia Branca > 11 de maio de 2014 > Cerimónia do sold at cav, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no rio Tompar, setor de Catió, região de Tombali, sul daq Guiné... As primeiras fotos.

Há mais 142 terras deste país que deviam seguir o exemplo da Areia Branca, unma pequena terra que snme sequer é sede de freguesia... São terras onde houve filhos desaparecidos no Teatro de Operações da Guiné, durante a guerra colonial, por afogamento (em combate ou acidente de lazer).

143 afogamentos representam 6,9% do total de mortos na Guiné...  Agora acrescente-se os desaparecidos por afogamento noutros TO: Angola, Moçambique... As associações de veteranos e os núcleos locais/regionais da Liga dos Combatentes deveriam dinamizar ou liderar esses processos, apoiando louváveis iniciativas da comunidade como esta!... Parabéns ao povo da Areia Branca que sabe honrar os seus bravos! (LG).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
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sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13123: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VII: Dois importantes depoimentos de camaradas e amigos do Mateus, o sold at cav, José Francisco Couto (Bombarral e Canadá e o ex-fur mil radiomontador Estêvão Alexandre Henriques (Lourinhã) (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Detalhe do cabeçalho do cartaz nº 5, de uma série de cinco, elaborados por Jaime Bonifácio Marques da Silva, e que vão ser exibidos, no próximo dia 11 de maio, no clube local da Areia Branca Lourinhã, na sessão de homenagem á memória do José Henriques Mateus (1944-1966). Aproveitámos alguns elementos de desses cartazes, na impossibilidade técnica de os reproduzir na íntegra, de forma legível, e procurando não repetir informação já aqui divulgada.  Neste poste, reproduzimos dois importantes depoimentos, de camaradas e amigos do malogrado José Henriques Mateus, que estavam com ele em Catió, em 1965/66: o José Francisco Couto e o Estêvão Alexandre Henriques... Vd. também, em poste anterior, os testemunhos dos seus camaradas da CCAV 1484, ouvidos no âmbito do processo sumário organizado na companhia  pelo Alf Mil José Rosa de Oliveira Calvário,  em 22/9/1966. (LG)

(i) Depoimento de José Francisco Couto 
[, natural do Bombarral, vive no Canadá, ex-sold at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67]:

O soldado n.º 699/65 – S.P.M. 3008, José Francisco Couto, natural da freguesia da Roliça (Baracais), concelho do Bombarral,  foi camarada de pelotão do Mateus e seu amigo. Participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar e escreveu dois Aerogramas à mãe do Mateus.

Durante a consulta do espólio do Mateus encontrei entre a sua correspondência dois aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto. Neles, lamentava as circunstâncias da morte do filho e afirmava que a iria visitar logo que regressasse da Guiné, uma vez que eram naturais de concelhos vizinhos.

Transcrevo o segundo aerograma que enviou à mãe do Mateus em novembro de 1966:

José Henriques Mateus (1944-1966)
Catió – 8-Nov-966

Prezada Senhora

É com os olhos rasos de lágrimas que novamente me encontro a escrever-lhe sendo ao mesmo tempo a desejar-lhe uma feliz saúde a si e aos seus filhos que eu cá vou indo na graça de Deus.

Sei senhora Rosa que ao receber esta minhas notícias mais se recorda da tragédia que lhe roubou o seu querido filho, pois é com mágoas no coração que lhe respondo a tudo quanto me pergunta e peço a Deus que não a vá magoar mais com tudo o que lhe possa dizer. Pois compreendo que além da minha dor ser enorme a sua não tem palavras, pois o destino foi traiçoeiro. Sim, a Senhora pede-me que lhe explique como tudo se passou. Pois sou a dizer-lhe tudo o que sei.

Foi uma das saídas que nós tivemos, durante o dia tudo se passou da melhor maneira na graça de Deus e nós nos sentíamos satisfeitos, mas no regresso tivemos que atravessar um Rio e a corrente era enorme, como enorme era o peso que trazíamos, o que ele ao passar a corda se partiu e foi quando ele foi parar ao fundo sem mais ninguém o ver. Pois quatro camaradas nossos, mal pressentiram o que se estava a passar, atiram-se à água e mergulharam ao fundo para ver se o encontravam correndo o Rio de cima para baixo e vice versa mas o resultado foi o que Senhora já sabe. Não o conseguiram encontrar pois a corrente o arrastaria logo, foi como um balde de água fria que caiu sobre nós e todos os esforços que juntos fizemos foram negativos. Esta é apenas a verdade que podem contar à Senhora aos seus filhos. Sim, também me diz que apareceu alguma coisa dele e é certo, mas não o que a Senhora me diz. Apareceu sim o que lhe vou contar. 


Passados alguns dias nós voltámos a passar por lá, e foi nessa altura um dos Alferes encontrou uma parte da camisa e a carteira no bolso, pois a parte da camisa era só da frente e tinha o bolso onde estava a carteira, que o alferes tem para lhe enviar tudo junto que resta do seu querido filho. E a Senhora não precisa de tratar nada pois a companhia já tratou de tudo, pois também tratou dos papéis para a Senhora ficar a receber algum dinheiro que bastante falta lhe fará e assim, minha Senhora, não quero alongar mais as minhas notícias pois elas só lhe levam mágoas. No entanto, mais uma vez lhe digo, a companhia está a tratar de todos os assuntos e lhe enviará todas as suas coisas. Sem mais me despeço com muitas saudades para os seus filhos um aperto de mão para todos para a Senhora também deste que chora também a sua dor.

José Couto



(ii) Depoimemto do ex-fur mil mecânico radiomontador Estevão Alexandre Henriques ( recolhido em 23. 4.2014)

[Imagem à esquerda, guião do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67, cortesia de Carlos Coutinho]


O Estevão foi amigo do Mateus. É natural de Fonte Lima, Stª Bárbara, cocnelho da Lourinhã,  e vive no Seixal.

Com a especialidade de Radio Montador, embarcou para a Guiné a 18 de Agosto de 1965 a bordo do navio Niassa, chegando a Bissau a 24. Fazia parte da CCS/BCAÇ 1858. [Tem página no Facebook, clicar aqui].

A sua proximidade ao Mateus advém do facto de ambos serem naturais de terras vizinhas,  o que levou o Furriel Estevão a conseguir o destacamento do Mateus para a Messa de Sargentos, uma vez que este pertencia a uma companhia, a CCAV 1484, adida ao BCAÇ 1858 e era muito amigo do cozinheiro Santos.

Na altura do acidente, o Estêvão não estava em Catió e só soube do acidente três dias depois, quando regressou de Empada onde tinha ido fazer reparações nos rádios. Pensa que,  se estivesse em Catió na altura da operação, seguramente o Mateus não teria sido nomeado para a mesma, uma vez que, no seu entender, ele já não era operacional.

O que soube em pormenor do acidente foi-lhe contado pelo cozinheiro António José dos Santos, natural das Matas (Lourinhã), amigo do Mateus e que faleceu há cerca de dois anos.


O Santos e o Mateus estão os dois na foto acima,  a preparar uma vitela para a festa de anos do Furriel Estevão a 2.9.66. Esta vitela tinha sido oferecida ao Furriel pelos responsáveis da Casa Gouveia (CUF) pelo facto de este ter feito a instalação do armazém de arroz desta empresa. Quem está de catana na mão é o Santos e ao lado o Mateus.

O Estêvão disse que as Nossas Tropas só voltaram ao local do acidente uma semana despois, altura em que encontraram, então, a camisa ou um pedaço (farrapo) da camisa pendurada (presa) numa árvore. Não sabe quem a encontrou e nunca viu a camisa. O que é certo é que na camisa, farrapo ou pedaço,  se encontrava intacto o bolso da mesma e dentro dela uma carteira em forma de ferradura contendo uma medalha da Nossa Senhora, uma moeda portuguesa furada e um amuleto de cabedal.

Foi o Estevão que entregou a carteira à mãe do Mateus. No final da Comissão o Comandante do Batalhão 1858, cujo nome não se lembra, chamou-o e pediu-lhe expressamente que entregasse a carteira à mãe e lhe apresentasse as suas condolências e do pessoal do Batalhão pela morte do filho. O Comandante nunca lhe falou das circunstâncias do desaparecimento do Mateus. Diz que foi sempre tudo um segredo bem guardado e nunca conseguiu que algum dos camaradas que participaram na operação lhe dissesse o quer que fosse sobre o acidente. Afirma, ainda, que o Mateus nunca lhe falou em fugir [, como sugere um depoimento do Couto].

O Furriel Estevão regressou da Guiné em 9 de Maio de 1967 e só em junho teve a coragem de entregar a carteira à mãe do Mateus. Lembra-se que nesse momento estava presente a irmã do Mateus

Texto: Jaime Bonifácio Marques da Silva


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Foi aqui que viveu, durante 3 meses, entre 8/6/1966 (data da chegada da CCAV 1484 ao setor de Catió) a 10/9/1966 (data do seu desaparecimento) o José Henriques Mateus... 

Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto 03 > "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Julho de 1967]. Vista parcial da zona antiga do quartel, o primeiro edifício eram quartos, o do meio era o dos quartos do 7,5 e ao fundo a Central Eléctrica Geradora Civil do lado de lá da rua das Palmeiras que ligava à estrada de Priame. Era também a zona da capela/escola, posto de socorros/enfermaria, arrecadação de material de guerra, arrecadação de material de sapadores, oficina de rádio, etc". 


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >

"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".  



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Porto Interior. O José Henriques Mateus deve-se ter banhado nestas águas, matando saudades da sua Praia da Areia Branca... Mas é bom que se recorde que o seu acidente (desaparecimento nas águas do Rio Tompar, afluente do Rio Cumbijã) não foi acidente de lazer, mas em combate, com as NT de regresso a Cufar, e com o IN à perna...

"Foto nº 9 > Porto interior de Catió no rio Cadime, depois do trabalho a merecida banhoca".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13016: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte II: Esclarecimentos sobre as circunstâncias da tragéda: excerto do relatório de operações e testemunhos presenciais (Jaime Bonifácio Marques da Silva)



Guiné A> região de Tombali > Mapa de Bedanda (1956) > Escala 1/50 mil > Pormenores: Op Pirilampo, com saída de Catió, [. vd. mapa de Catíó,] passando, a sul,  pela mata de Cabolol e com cambança do Rio Tompar, afluente do Rio Cimbijã, e chegada a Cufar... O sold at cav Mateus ficaria pelo meio, desaparecido nas as águas do Rio Tompar. Foi a 10 de setembro de 1966.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Mensagem, com data de 18 do corrente, do nosso camarada e amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã,  e residente em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande]

Estou a tentar coordenar a cerimónia do Mateus na Areia Branca  [, no próximo dia 11 de maio,] e, por isso , envio-te um conjunto de elementos importantes e precisava da tua colaboração e da do pessoal que esteve na Guiné com ele, [em Catió]. Tenho alguma urgência por causa da tipografia e porque preciso de sair daqui.

 (....) Por favor, diz se chegou tudo em ordem

Desculpa o trabalho. É pela causa.

Boa Páscoa para ti, Alice e teus filhos cá do pessoal do Norte.

Abraço, Jaime


2. Ficha biográfica militar do José Henriques Mateus (continuação) (*)

2.ª Parte (em construção) [Elementos recolhidos por Jaime Bonifácio Marques da Silva]

 Luís Graça, esta segunda parte é para fazerem o favor de rever e para complementar com novos dados, caso seja oportuno.


José Henriques Mateus (1944-1966)
AS CIRCUNSTÂNCIAS DO SEU DESAPARECIMENTO E MORTE

1.1 - OPERAÇÃO “PIRILAMPO” - RELATÓRIO DE OPERAÇÕES

No dia 10 de setembro de 1966 o José Henriques Mateus é destacado para participar na Operação de Combate, denominada “Operação Pirilampo”.

NOTAS:

No final de cada Operação de Combate o oficial comandante do grupo de combate tinha, obrigatoriamente, que entregar ao seu Comandante de Companhia um relatório circunstanciado do desenrolar da mesma. Nesse relatório, para além da identificação dos elementos das NT participantes na ação, teria que descrever com pormenor todos os acontecimentos ocorridos durante a sua execução, nomeadamente: horários, itinerários de progressão, locais das ações, contacto com inimigo ou população, resultados das ações com IN (armas capturadas, mortos ou feridos do IN ou das NT), ou, inda, outros incidentes como foi o caso concreto do Soldado Mateus.

Transcrevo (i) o Relatório de Operações, de acordo com a versão já publicada da autoria de Benito Neves; (ii) um documento com a parte do relatório referente ao acidente com o Mateus, (iii) as declarações do Alf Mil Fernando Miguel e (iv) as declarações de um camarada de pelotão que o viu desaparecer

3.1. Transcrição do texto de Benito Neves (#)

“Relatório da operação OPERAÇÃO PIRILAMPO - 10 de Setembro de 1966

Com a finalidade de bater a mata de CABOLOL [vd. carta de Bedanda], de modo a detectar e a destruir o acampamento IN localizado em (1510.1120.A2) - Esta operação foi realizada pelas CCAV 1484, reforçada com 1 Gr Comb Mil 13 e CCAÇ 763 (-), reforçada com 2 Sec Mil 13.
Foi efectuada uma minuciosa batida à mata de CABOLOL no sentido E-W.

Pelas 14H30, não obstante as dificuldades que surgiram pela densidade da vegetação, foi detectado o acampamento IN em (1510.1120A3.15), composto por 16 casas, que foi destruído com fraca resistência do IN. Foram capturados documentos diversos e munições para espingarda Mauser.

O IN, que deveria ter detectado as NT, havia evacuado grande parte do seu material para fora do acampamento.

Em continuação da acção, as NT seguiram em direcção a CABOLOL BALANTA.

Quando queimavam o seu primeiro núcleo de casas mais a sul, o IN, instalado na orla da mata, reagiu em força com fogo de morteiro, lança granadas-foguete, metralhadora pesada, pistolas metralhadora e espingardas, causando 6 feridos ligeiros às NT. Após reacção destas, o IN furtou-se ao contacto, sendo ainda queimados mais 3 núcleos de casas.

Pelas 17H00 as NT iniciaram o regresso, tendo sido flageladas com fogo de morteiro.

Quando as NT atravessavam o rio TOMPAR [, afluente do Rio Cumbijã, a sudoeste de Bedanda], afogou-se o soldado nº 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1484, não tendo sido possível recuperar o seu corpo, apesar de todas as buscas efetuadas.

Pelas 22h30 as NT chegaram ao aquartelamento de Cufar, depois de uma marcha fatigante em terreno pantanoso.


O que acima se transcreve é o que consta do relatório da operação, extraído da história da Companhia, de que fui encarregado de escrever.

(#)  In: Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, quinta-feira, 19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1676: Vivo ou morto, procura-se o Soldado Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)


O José Henriques Mateus em Catió (c. 1966).
Álbum da família. Cortesia de Abel Matteus
3.2 TRANSCRIÇÃO DO DOCUMENTO OFICIAL

Transcrição integral de documento incerto no processo individual do José Henriques Mateus consultado por mim no Arquivo Geral do Exército em agosto de 2013.

“COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DA GUINÉ

BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 1858

COMPANHIA DE CAVALARIA N.º 1484

CÓPIA DA PARTE QUE INTERESSA AO RELATÓRIO DA OPERAÇÃO “PIRILAMPO”

REALIZADA POR ESTA COMPANHIA EM 10 E 11 SET66
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AO CENTRO:COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DA GUINÉ – BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 1858. – COMPANHIA DE CAVALARIA N.º 1884. – RELATÓRIO DA OPERAÇÃO “PIRILAMPO”.

DO ÂNGULO SUPERIOR DIREITO: Exemplar n.º 1. – Ccav.1484. – Catió – 131000Set66---
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“5. – DESENROLAR DA ACÇÃO. - ……………………………………………………………………….

“Cerca das 10.17.00 evacuámos os feridos e iniciámos o regresso (conforme croquis). Na passagem do RIO Tompar a qual se efetuava nadando agarrados a uma corda,  afogou-se o soldado n.º 711/65, José Henriques Mateus, por bruscamente ter largado as mãos da corda a que se agarrava. Foi imediatamente socorrido por equipas de nadadores que se encontravam despidos e a postos para tais casos mas não foi possível recuperar o militar vivo ou morto. São testemunhas: alferes Mil. Fernando Pereira da Silva Miguel e 1.º Cabo Radiotelegrafista n.º 1055/65 Osvaldo Freitas de Sousa. O regresso com travessia de 3 rios, com lodo e água, sendo frequente ter se arrancar do tarrafo pessoal enterrado e exausto, e ainda com 4 homens transportados a dorso, foi uma epopeia de sofrimento. ………………………………………………………….
…………………………………………ESTÁ CONFORME ……………………………………………………..

Quartel em Catió, 19 de Setembro de 1966

O Comandante de Companhia

(assinatura elegível)

Virgílio Fernando Pinto

Capitão de Inf.ª “

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Guiné > Região de Timbali > Catíó > c. 1966 > CCAV 1484 > Foto de grupo tirada frente às instalações do comando do batalhão de Catió. Esta parece ser a secção a que pertencia o sold at cav Mateus. A que pelotão pertencia? Quem era o furriel, comandante da secção,  e os demais elementos? Pede-se ao Benito Neves para completar a legenda e identificar, se possível, todos estes militares. Sabemos, pelo Benito Neves, ex-fur mil, que vive em Abrantes, que o comandante de secção era o ex-fur mil, madeirense, Teles.


Foto do álbum de família, gentilmente cedida por Abel Mateus ao Jaime Silva.


3.3 - EXTRATOS DO PROCESSO INSTAURADO NA COMPANHIA

Do processo sumário organizado na Companhia pelo Alf Mil José Rosa de Oliveira Calvário em 22.9.66, extraio as declarações (síntese) das três testemunhas ouvidas:

3.3.1 – Alf Mil Fernando Pereira da Silva:

“Quando o acidente se deu eram cerca de 17.45 minutos (…) não dava passagem a vau por se encontrar em maré cheia. (…) Quando o Soldado José Henriques Mateus se encontrava a atravessar o rio agarrado a uma corda, que fora colocada, para apoiar a travessia de uma à outra margem, quando esta se partiu. Em consequência disto o sinistrado desapareceu imediatamente não dando mais sinais de si. Mais disse que ouviu o Primeiro Cabo Osvaldo gritar: “Está um homem debaixo de água. (…)
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3.3.2 – Primeiro Cabo [Radiotelegrafista] Osvaldo Freitas de Sousa

O Primeiro Cabo Osvaldo Freitas de Sousa (natural de Fafe) declarou:

“Que se encontrava, quando do acidente, na extremidade da corda que travessava o rio para apoio da sua passagem, a ajudar seus camaradas a saltarem para a margem. E que quando o sinistrado se encontrava ameio da travessia, agarrado à corda, esta se rebentou. (…) Atirou-se à água para tentar agarrá-lo (…) agarrou-o ainda por um ombro, embora ele já se encontrasse submerso. Mais disse que começou a gritar pelo que foi ouvido pelos seus camaradas, os quais se lançaram à água. (…). Que um deles (talvez um milícia) o segurou quando ele já se encontrava prestes a ser arrastado para o fundo, devido ao peso do corpo do sinistrado. E que em virtude de se encontrar agarrado não consegui mais sustê-lo por mais tempo. (…) o corpo nunca mais foi visto. (…)”

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3.3.3 - Alf Mil José Martinho Soares Franco Avillez

A terceira e última testemunha foi o Alf Mil José Martinho Soares Franco Avillez que declarou:

“Após ter sido dado o alarme sobre o desaparecimento do sinistrado, correu até junto da margem e lançou-se à água, para participar nas buscas do corpo do desaparecido. Mais declarou que houve impossibilidade nas buscas feitas na zona onde desapareceu o sinistrado em virtude da escuridão que se acentuava, da forte corrente das águas do rio e além disso por estas se encontrarem bastante turvas. (…) levou cerca de quarenta e cinco minutos dentro de água (…) e dado que a coluna estava a ser flagelada na cauda e que havia possibilidades de sofrer emboscadas no regresso e dado também o adiantado da hora, foi dado ordem para regressar a quartéis. (…)”



Após a conclusão do processo sumário organizado na Companhia em 22.9.66 e da responsabilidade do Alf. Mil. José Rosa de Oliveira Calvário, o Comando Territorial Independente da Guiné manda encerrar o processo com a seguinte informação:

“ Sou de parecer que deve ser considerado em serviço” o desastre de que teria resultado a morte do Sold. 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1484 a que se refere o presente processo.”

Quartel General em Bissau, 2 de novembro de 1966

O Comandante Militar

António N.M. Reymão Nogueira, Brigadeiro”



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3.4. - Depoimento de José Francisco Couto em 3 de fevereiro de 2014

O José Francisco Couto, natural do concelho do Bombarral, foi camarada de pelotão e participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar.

Consultei o espólio do Mateus, por deferência do irmão Abel, e encontrei na sua correspondência dois Aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto nos quais lamentava o desaparecimento do filho. (irei transcrevê-los).

Entretanto consegui, através de um amigo, saber a morada do José Francisco. Emigrou para o Canadá, onde vive atualmente e na troca de correspondência que trocou comigo escreveu sobre o momento do acidente:

“ (…). O Batalhão ia fazer uma emboscada na qual o José Henriques estava incluído. Éramos bastante amigos. O Alferes ia com uma corda atada à cintura para atar a uma árvore para nós podermos passar um a um. A corda atravessa o rio de um lado a outro. Ele agarrou-se à corda a seguir ao Alferes. Quando o Alferes já tinha passado para o outro lado, ele agarrou-se e a seguir ia eu e eu ouvi ele gritar e não o vi. Eu recuei para trás. Começaram as emboscadas por terra e por rio e nunca ninguém o viu mais. Ao fim de 15 dias passámos ao rio e vimos a camisa dele pendurada numa árvore toda rota . Ele umas semanas antes tinha-me desafiado para nós fugirmos para os turras. Por isso, nunca pensei que ele tivesse morrido no rio e que ele se tivesse passado para algum lado porque ele sabia muito bem nadar e pronto é tudo o que sei para contar. De resto não sei mais nada. Não sei se foi comido por algum bicho do rio ou o que se passou mais. (…)
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Final do texto em construção,
Jaime Silva
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domingo, 20 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13012: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tombar, no decurso da op Pirilampo. Parte I: Preparativos e pedido de ajuda aos seus antigos camaradas (Jaime Bonifácio Marques da Silva)



Jaime Silva, Atalaia, Lourinhã, 2013
1. Mensagem, com data de 18 do corrente, do nosso camarada e amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva [, natural da Lourinhã e residente em Fafe,   onde foi autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande]

Caro Luís

Aqui vai o ponto da situação da cerimónia de homenagem ao José Henriques Mateus da Areia Branca e, para a qual pedia o teu empenhamento.

(i) A cerimónia realiza-se, efetivamente no dia 11 de maio de2014, no lugar da Areia Branca, Lourinhã.

Acabo de telefonar a um dos membros da Comissão, José Rufino [, ex-combatente que esteve na Guiné,], que mo confirmou. A hora da cerimónia depende do final da missa em sua memória. A Missa começará às 10 ou 10 e 30 horas. Talvez a cerimónia seja por volta das 11.30 /12.00 horas.

(ii) Se entenderes como oportuno, poderias fazer o favor de mobilizar já o pessoal da Guiné através do Blogue, dando como certa a data e local e, se quiseres, poderás usar os dados da sua biografia que te envio em texto anexo bem como a sua fotografia de passe.

(iii) Envio-te, também, alguns excertos de relatórios e um depoimento, bem como um conjunto de fotografias no sentido do pessoal do tempo do Mateus fazer o favor de analisar, dar a sua opinião ou acrescentar algo de novo, se houver. Por isso, agradecia que enviasses as fotos e texto aos teus contactos, sobretudo ao Benito. E provavelmente podes publicar já algumas das fotos de grupo.

(iv) Estou a reconstituir a sua história militar e irei mandar imprimir 3 ou 4 cartazes grandes para fazer uma exposição no Clube da Areia Branca (talvez se organize um colóquio na véspera com a abertura da exposição dos cartazes, ainda não sei...) .

(v) Estou a trabalhar, nesse sentido, com um amigo que tem uma empresa de publicidade aqui em Fafe e que me dará, também em suporte informático, os elementos finais e, a partir desse momento enviar-te-ei para os tratares como bem entenderes no blogue.

Quanto às fotos e relatórios precisava que o pessoal [do blogue] tentasse, concretamente:

(vi) Identificar o nome e local de alguns camaradas que estão com o Mateus nas fotografias;

(vii) Analisar os textos que envio e vejam se conseguem acrescentar mais elementos esclarecedores da situação / acidente / Operação Pirilampo, etc. [, a publicar em poste a seguir];

(viii) Precisava desses elementos o mais tardar até à próxima 4.ª Feira, dia 23 de abril, em virtude de ter que os entregar na Tipografia.

(ix) Vê se haverá alguém do seu tempo (Pelotão ou companhia) que possa intervir na cerimónia (irei propor isso à Comissão, ainda não é seguro);

(x) Não tens nenhum amigo que domine as questões da Cartografia e que me possa enviar até 4.ª feira um Mapa da Guiné [, vd. mapa de Bedanda,] com boa resolução, assinalando com um círculo ou seta os locais por onde o Mateus passou e que estão referenciados nos documentos anexos ao texto 2

Abraço,

Jaime



Foto nº 1... 



Foto nº 2


Foto nº 3 > Na piscina, em Nhacra, onde CCAV 1484 esteve sediada na primeira parte da sua comissão


Foto nº 4...  Nhacra ou Catió...



Foto nº 5... Em Catió, desmanchando um vaca, oferta da Casa Gouveia do fur radiomontador da CCS, o Estêvão Alexandre Henriques...  O Mateus, à esquerda, com outro lourinhanense, das Matas, o Manuel Santos, que era cozinheiro da CCS


Foto nº 6... Catió (?)


Foto nº 7... Fotografia de grupo frente às instalações de comando de Catió... Secção do Mateus, que pertencia ao 3º pelotão. Ao centro, na 2ª fila, de pé, o fur mil, Egídio Teles, que vive hoje no Funchal,


Foto nº 7 - A... Catió.. À esquerda, na 2ª fila, com um macaco-cão, o Egídio Teles


Foto nº 7- B... Catió... Mais cmaradas da secção do Mateus

Fotos, sem legenda, do álbum do José Henriques Mateus, gentilmente cedidas pelo irmão Abel Mateus ao Jaime Bonifácio Marques da Silva. Agradece-se a indicação de quaisquer elementos identificações (nomes, topónimos, datas...), nomeadamente por parte dos seus antigos camaradas da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)...

Brasão da CCAC 1484, cortesia de Benito Neves [, ex-fur mil at cav, camarada do Mateus, bancário reformado, vivendo em Abrantes

2. Ficha biográfica militar do José Henriques Mateus

1.ª Parte (em construção) [Elementos recolhidos por Jaime Bonifácio Marques da Silva]

EXÉRCITO PORTUGUÊS > RI 7 (Regimento de Infantaria N.º 7)

Classe – 1965

Nome – José Henriques Mateus

Nascido em – 17.10.1944

Posto – Soldado

Filho de – Joaquim Mateus Júnior e Maria Rosa Mateus

Nascido na freguesia de – Lourinhã (Lugar da Areia Branca)

Concelho de – Lourinhã

Distrito de – Lisboa

Profissão – Trabalhador agrícola

Recenseado no ano de – 1964: alistado em 3 de junho

Apresentou-se na unidade em – 4.5.1965

COLOCAÇÃO DURANTE O SERVIÇO MILITAR

Ano de 1965

§ 4 de maio – Incorporado como recruta na 1.ª Companhia de Instrução com o n.º 1820/65

§ 21 a 26 de junho – tomou parte nos exercícios de campo

§ 1 de julho – Ratificou o Juramento de Bandeira

§ 3 de julho – Terminou a Instrução Básica Militar

§ 4 de julho – é transferido para o RC 7, destinando-se à Especialidade de Atirador de Cavalaria. Fica adstrito à CCAV nº º 1485 com o nº 711/65

§ 22 de agosto – Pronto da Escola de Recrutas - Concluiu a Especialidade de Atirador.

§ Outubro – Nomeado nos termos da Alínea c) do Art.º 3 do Dec. n.º 42937 de 22.4.60 para servir no CTI da Guiné, fazendo parte da CCAV 1484 / R.C. 7

§ 20 de outubro – embarcou em Lisboa a bordo do Navio Niassa

§ 27 de outubro – Desembarca em Bissau (desde quando conta 100% de aumento do tempo de serviço.

ANO DE 1966

10 de setembro – Baixa de serviço: Data em que desaparece ao atravessar o rio Tompar  [, afluente do Rio Cumbijã, na região de Cabolol, vd. carta de Bedanda] (O.S. 268 do RC 7 de 22.11.66) [,

Novembro - Abatido ao efetivo do Regimento e da Companhia de Cavalaria n.º 1484

ANO DE 1967

Novembro – por despacho de 24.10.67 foi confirmado como ocorrido em e por motivos de serviço o acidente referido, e de que lhe resultou a morte. (O.S. 265).

(Continua)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2821: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves / Hugo Moura Ferreira)




Cópia do Ofício do Arquivo Geral do Exército, nº 112/STAG, Proc. 6.2, de 23 de Maio de 2007, em resposta a um requerimento do nosso camarada Hugo Moura Ferreira, de 16 de Abril de 2007, pedindo informações do Soldado José Henriques Mateus. Cópia facultada pelo Benito Neves. Por razões de protecção da privacidade do requerente, eliminámos, da imagem, o seu nome completo e a sua morada.

Em traços largos, o teor do ofício é o seguinte:

(i) O José Henriques Mateus foi dado como morto em combate, "conforme a História da sua unidade (CCav 1484)";

(ii) Segundo o Arquivo Histórico Militar, há uma relação de militares falecidos e desaparecidos, do CTIG/QG/1ª Repartição, datada de 21 de Maio de 1974, donde consta o nome do José Henriques Mateus, "dado como desaparecido em combate na região de Catió, em 10Set66 e que mais tarde foi considerado morto, juntamente com outros militares, nos termos do nº 3 do art 1º do Decrteo 350/71, de 12AGO71";

(iii) Não faz parte dos militares resgastados através da Op Mar Verde [, em que foram libertados 26 prisioneiros portugueses, em Conacri];

(iv) Também não consta da base de dados referente à lei dos ex-combatentes (Lei nº 9/2002).


Foto: © Hugo Moura Ferreira (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Benito Neves, bancário reformado, de Abrantes, com data de 8 de Maio:


Luís, o meu abraço

Tenho estado atento ao blogue e, relativamente "àqueles que nem no caixão regressaram", constato que o nosso amigo Mateus não consta entre os mortos, embora os documentos oficiais digam que sim.

Pergunto-me quantos Mateus haverá, não contabilizados...

Já enviei ao Marques Lopes a mensagem que se segue e que agora reencaminho para teu conhecimento.

Cumprimentos

B Neves

2.Mensagem do Benito Neves, enviada ao A. Marques Lopes:

Os meus melhores cumprimentos

Tenho acompanhado com muito interesse tudo o que, proveniente dessa fonte inesgotável, tem sido escrito e publicado no blogue, pelo que não posso deixar de expressar as minhas felicitações.

Relativamente ao

Post nº. 2811 - Lista de militares portugueses mortos e enterrados em cemitérios locais (3) 1966-1967, constato que entre os militares mortos em 1966, não consta o soldado nº. 711/65, José Henriques Mateus, da CCav 1484, que terá falecido por afogamento na travessia do rio Tompar, afluente do rio Cumbijã, no decurso da operação Pirilampo, no dia 10/Set/66. O corpo não foi recuperado. Era natural da Areia Branca, concelho da Lourinhã.

A este assunto reporta o Post 1676 do nosso blogue (1), relativamente a reservas que ainda hoje hoje tenho sobre esta morte, na medida em que se levantou a hipótese de ter sido capturado e libertado mais tarde no decurso da operação Mar Verde [ Conacri, 22 de Novembro de 1970]. Porém, oficialmente, conforme documento anexo, foi considerado morto em combate.

Não sei se este meu pequeno contributo terá alguma valia, mas pergunto-me quantos Mateus faltarão nas listas oficiais.

Um abraço e bom trabalho

B Neves
CCav 1484
Nhacra - Catió
1965/67

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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1676: Vivo ou morto, procura-se o Soldado Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1676: Vivo ou morto, procura-se o Soldado Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)





Através do Benito Neves, fiquei hoje a saber as circunstâncias, misteriosas, em que desapareceu num dos rios da Guiné, em 1966, o Soldado Mateus, da CCAV 1484, meu conterrâneo... É mais um dos nossos camaradas que não constam da lista oficiosa dos mortos da guerra do ultramar. A sua terra, Lourinhã, fez-lhe, porém, uma justa homenagem: é dos vinte que não regressaram... Mas será que ele não chegou a morrer, afogado, tendo sido feito prisioneiro pelo PAIGC?

Nascido à beira-mar, na Areia Branca, entre moinhos e dunas de areia, era muito provável que o Mateus soubesse nadar... É estranho o seu desaparecimento no Rio Tombar, no sul da Guiné (actual região de Tombali) e sobretudo, uns dias depois, a localização da sua camisa com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, uma nota de 50 pesos e a sua identificação... (LG).

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.



Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942). Legenda em húngaro: "Bara István: Portugál foglyok a PAIGC börtönében, Guinea Bissau, 1970".


1. São raras as fotos dos nossos camaradas em cativeiro, até à sua liberção em 22 de Novembro de 1970, na sequência da Operação Mar Verde. Estamos gratos a este conhecido grande fotógrafo magiar pelas imagens sobre a guerra colonial na Guiné-Bissau que disponibilizou na sua página.

Há tempos perguntei aos amigos e camaradas, se alguém era capaz de reconhecer estes rostos ? Boa parte deles faziam parte da CART 1690 (Geba, 1967/69), a que pertenceu o nosso camarada A. Marques Lopes, ex-alf mil e hoje coronel, DFA, na reforma. O Benito Neves, da CCAV 1484, admite a hipótese de o segundo prisioneiro, da fila de trás, a contar da esquerda - devidamente assinalado com um círculo a amarelo - poder ser o seu camarada José Henriques Mateus, dado como desaparecido no Rio Tombar, afluente do Rio Cumbijã, na sequência da Operação Pirilampo, e que por sinal era natural da Lourinhã, logo meu conterrâneo (LG).

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)


2. Texto do Benito Neves, com data de 14 de Março de 2006

Luís, solicito e agradeço desde já a melhor colaboração, até porque se trata de um conterrâneo teu.

Benito Neves
Abrantes
Ex-Fur Mil At
CCAV 1484
(NNhacra e Catió, 1965/67).


OPERAÇÃO PIRILAMPO - 10 de Setembro de 1966


Com a finalidade de bater a mata de CABOLOL [vd. carta de Bedanda], de modo a detectar e a destruir o acampamento IN localizado em (1510.1120.A2) esta operação foi realizada pelas CCAV 1484,  reforçada com 1 Gr Comb Mil 13 e CCAÇ 763 (-), reforçada com 2 Sec Mil 13.

Foi efectuada uma minuciosa batida à mata de CABOLOL no sentido E-W. Pelas 14H30, não obstante as dificuldades que surgiram pela densidade da vegetação, foi detectado o acampamento IN em (1510.1120A3.15), composto por 16 casas, que foi destruído com fraca resistência do IN. Foram capturados documentos diversos e munições para espingarda Mauser.

O IN, que deveria ter detectado as NT, havia evacuado grande parte do seu material para fora do acampamento.

Em continuação da acção, as NT seguiram em direcção a CABOLOL BALANTA.

Quando queimavam o seu primeiro núcleo de casas mais a sul, o IN, instalado na orla da mata, reagiu em força com fogo de morteiro, lança granadas-foguete, metralhadora pesada, pistolas metralhadora e espingardas, causando 6 feridos ligeiros às NT. Após reacção destas, o IN furtou-se ao contacto, sendo ainda queimados mais 3 núcleos de casas.

Pelas 17H00 as NT iniciaram o regresso, tendo sido flageladas com fogo de morteiro.

Quando as NT atravessavam o rio TOMPAR [, afluente do Rio Cumbijã, a sudoeste de Bedanda], afogou-se o soldado nº 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1484, não tendo sido possível recuperar o seu corpo, apesar de todas as buscas efectuadas.

Pelas 22h30 as NT chegaram ao aquartelamento de Cufar, depois de uma marcha fatigante em terreno pantanoso.

O que acima se transcreve é o que consta do relatório da operação, extraído da história da Companhia, de que fui encarregado de escrever.


Um camisa com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima

A travessia do Rio Tompar foi extremamente difícil. A maré estaria a encher ou a vasar, com forte corrente e foi decidida a colocação de uma corda de margem a margem, que serviu de suporte. O soldado Mateus, que transportava ou umas fitas para metralhadora ou umas granadas para morteiro ou para LGF, no meio da travessia, largou a corda e submergiu. Foram batidas as margens do rio sem que tivesse sido possível a recuperação do corpo.

Dias depois deste acidente, voltou a ser feita nova batida na zona, à procura do corpo ou outros indícios. Foi encontrada na margem a camisa que o Mateus envergava, tendo no bolso (i) a sua identificação, (ii) uma imagem da Virgem de Fátima e (iii) uma nota de 50 pesos. Mais nada.

Anteriormente havia quem alvitrasse a possibilidade do desaparecimanto ter sido causado por crocodilo mas, agora, seria fácil concluir que o ataque de qualquer animal, fosse ele qual fosse, não implicava o prévio despir da camisa.

A Companhia regressou [a Portugal] em 1967 e só em 2006 tivemos o primeiro reencontro, o primeiro almoço de confraternização. Foram muitos os anos que passaram, cerca de 40, porém, o Mateus nunca foi esquecido.


O Mateus era natural da Areia Branca, concelho de Lourinhã


Em Fevereiro de 2007 recebi um telefonema de um ex-cabo enfermeiro da CCAV 1484 que me transmitiu ter estado em Cadaval [, concelho do oeste, também do distrito de Lisboa], com um outro elemento da CCAV1484, que lhe disse que o Mateus estava vivo, que teria estado preso na Guiné Conakry, que inclusivamente alguns anos após o regresso da CCav  1484, terá estado na Lourinhã, em casa da mãe do Mateus e que a senhora lhe confirmou que o filho estava vivo.

O Mateus era oriundo do concelho da Lourinhã [, Estremadura, Oeste].

Por coincidência, no dia seguinte ao do telefonema do meu ex-cabo enfermeiro, foram publicadas no blogue algumas fotos tiradas a prisioneiros portugueses na prisão de Conakry (2). Decidi enviar a foto ao ex-Furriel Teles, residente na Madeira, que era o comandante de Secção do Mateus, pedindo-lhe para ver se, entre os presos, estaria o Mateus. Em resposta disse-me que sim e que era o 2º da fila de trás, a contar da esquerda.

Porém, conheci em Alter do Chão um ex-combatente - Jacinto Madeira Barradas - que esteve preso em Conakry e que foi um dos libertados pela operação Mar Verde. Diz-me que o prisioneiro que lhe indiquei não tinha o nome de Mateus, que não conheceu lá nenhum Mateus. Poderá haver aqui alguma mudança de identidade?

Na lista, organizada pelo José Martins, dos militares que tombaram em campanha na Guiné (1961/74), não consta o nome do José Henriques Mateus (3).

Posso afirmar que a notícia de que o Mateus está vivo (e Deus queira que esteja!) se espalhou entre os elementos da Companhia e não há quem não queira ter o Mateus connosco no nosso 2º. convívio, em Maio próximo.

Luís, és natural da Lourinhã, conterrâneo do José Mateus (ou pelo menos do mesmo concelho), saberás alguma coisa sobre este caso? O Mateus, a estar vivo, terá agora 62/63 anos. Valerá uma consulta às várias Juntas de Freguesia do concelho da Lourinhã?

Luís, desde já grato por toda a ajuda possível.

Um abraço.

Benito Neves.





Lourinhã > Aspecto parcial do Monumento aos Mortos do Ultramar. 2005. Arquitecto: Augusto Silva. Escultora: Andreia Couto... O meu primo, José António Canoa Nogueira, foi o primeiro soldado da Lourinhã a morrer, em terras da Guiné, em 1965, em Ganjolá, Catió... Lembro-me do seu impressionane funeral e quanto a palavra Guiné me marcou... Tinha eu 18 anos, já feitos... O Soldado Mateus terá sido o segundo, natural da Lourinhã, a tombar em terras da Guiné, também no sul... nas proximidades da mata de Cabolol Balanta, na margem direitra do Rio Cumbijã... (LG).


Lourinhã > Monumento aos mortos da Guerra do Ultramar > Guiné > 2005 > Quando o monumento foi inaugurado, em 2005, na placa relativa aos mortos na Guiné constava o nome de José Henriques Martins... As placas foram depois substituídas, já em 2007, segundo creio, e corrigido o erro... O nome correcto era José Henriques Mateus, natural de Areia Branca, morto em 9 de Setembro de 1966... Haverá também aqui um erro de data... O Benito Neves diz que a Operação Pirilampo foi a 10 de Setembro... (LG)

Fotos: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.



3. Benito: O teu telefonema de ontem e o teu email (já de há um mês e que reli, com outra atenção) emocionaram-me. Este caso é espantoso e, no mínimo, intrigante. Fui vizinho do Mateus (ele é natural do lugar da Areia Branca, povoação que deu o nome à conhecida Praia da Areia Branca, concelho da Lourinhã). Eu saí da Lourinhã, há trinta e tal anos, e já não me lembro deste caso. Mas tenho lá casa e vou lá com regularidade. Tenho seguramente amigos e conhecidos da família Mateus, mas já não seria capaz de reconhecer, a não ser eventualmente por fotografia, o teu camarada José Henriques Mateus. E, no entanto, o seu nome consta da lista dos naturais da Lourinhã que tombaram na Guiné, o primeiros dos quais foi o meu primo - em 3º grau - José António Nogueira Canoa (4), morto em Ganjola, um ano antes (1965).

Já aqui dei notícia da homenagem que a minha terra, através da autarquia local, prestou aos seus filhos que tombaram na guerra do ultramar (5), com a inauguração, em 26 de Junho de 2005, de um monumento, obra do arquitecto Augusto Silva e da escultora Andreia Couto. Ao todo, foram vinte os mortos do concelho, incluindo seis na Guiné. A placa em bronze com os nomes dos nossos camaradas mortos em combate, em cada um das províncias, foi recentemente substituída. No caso da Guiné, havia um erro: O José Hemriques Mateus constava com um apelido trocado: José Henriques Martins. Por outro lado, faltava a data do falecimento e a localidade onde haviam nascido. Junto fotos das duas placas.

Benito: vou sentar saber mais pormenores sobre o Mateus, através da comissão organizadora desta iniciativa, onde tenho pelo menos amigos e conterrâneos, o João Delgado, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e o José Picão de Oliveira: este último, foi furriel miliciano na zona leste da Guiné, mesmo na ponta nordeste, em Canquelifá, tendo regressado já em Setembro de 1974, enquanto o Jaime foi alferes miliciano paraquedista em Angola, sensivelmente na mesma época em que eu fui mobilizado para a Guiné (1969/71). O João Delgado, por sua vez, esteve em Angola, segundo creio.

De qualquer modo, obrigado pelas tuas diligências. Quem nos dera que o Mateus estivesse vivo algures, e nos pudesse contar a sua odisseia, e rever as dunas da sua praia. Em todo o caso, se ele efectivamente morreu ou desapareceu, é muito importante para os seus amigos, conterrâneos e familiares saber as circunstâncias em que ocorreu a sua morte ou o seu misterioso desaparecimento. Pagaste-lhe uma dívida de amizade, ao publicares parte do rekatório da Operação Pirilampo e o episódio do seu acidente... Estamos-te gratos por isso. Luís

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Notas de L.G.:

(1) Vd. pots de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

(2) Vd. post de 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

(3) Vd. Lista disponível, em formato pdf, no sítio do António Pires > Moçambique - Guerra Colonial, orgnaizada pelo nosso camarada e membro da nossa tertúlia José da Silva Marcelino Martins > Militares que Tombaram em Campanha (1961-1974) > Guiné

(4) Vd. posts de:

8 de Setembro 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXI: Antologia (18): Um domingo no mato, em Ganjolá (Luís Graça / José António Canoa Nogueira)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 -P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)

(5) Vd. post de 24 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXV: Homenagem aos mortos da minha terra (Lourinhã, 2005)