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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23610: Notas de leitura (1494): "Diário Pueril de Guerra", por Sérgio de Sousa; Editoral Escritor, 1999 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Confesso que nada de semelhante me fora dado ler em diarística de guerra. Está longe de ser um jovem convencido, nas suas notas introspetivas não se leva muito a sério, não esconde os confortos da sua condição burguesa, pensa à esquerda mas não se escusa à crítica. Nunca nos dirá as razões de fundo que o trouxeram à guerra onde, sem jactância, não se coíbe de dar o corpo ao manifesto. O acidente brutal afasta-o de tudo. Procurei no Google saber mais sobre a sua carreira de escritor, nada encontrei a não ser a capa deste livro. E se acaso li muitíssimo para alimentar o espírito e manter de pé os sonhos de recomeçar sem trauma após o regresso, não deixo de me surpreender com as maratonas de leitura de alguém que estava no centro do furacão lá para o Planalto dos Macondes, o mínimo que se pode dizer é que é totalmente surpreendente a vida deste oficial miliciano que mantém o orgulho da sua cepa burguesa e da sua liberdade de espírito.

Um abraço do
Mário



Um caso ímpar na literatura diarística da guerra colonial (2)

Mário Beja Santos

É um caso incomum, este "Diário Pueril da Guerra", de Sérgio de Sousa, Editorial Escritor, 1999, não terá a duração de um ano, um acidente brutal põe termo à comissão, quando este alferes está em Sagal, Moçambique. Viajara muito, como ele escreve em 31 de julho de 1970: “Fiz ontem 23 anos. Quando fiz 18, encontrava-me em Londres com o meu pai. Nesse dia vimos os Beatles entrando num cinema onde ia estrear o seu Help!, o que nos valeu um belo aperto na Piccadilly Circus”. Nas notas do seu diário desse dia fala em "Os Thibault", de Roger Martin du Gard, e "Os Subterrâneos da Liberdade", de Jorge Amado. Não esconde que gosta do conforto burguês, se bem que, inequivocamente, pensa à Esquerda. Os meses passam mas a compulsividade a ler e a escrever ainda não diminuíram. Está sempre preocupado com o estado de espírito do pai. E sente-se a envelhecer. Endereça uma carta aberta aos seus amigos, enaltece a felicidade de viver. A 16 de agosto: “Morreu ontem o capitão miliciano do meu batalhão. Gravemente ferido numa emboscada, aguardou pela evacuação cerca de três horas. A companhia que ele comandava já tinha um alferes ferido”. Escreve no dia seguinte: “Saí hoje para uma operação de levantamento de minas antipessoais, implantadas pelas nossas tropas em trilhos usuais do inimigo. A dada altura foi encontrado um guerrilheiro morto. Pisara uma mina que lhe levara um pé. Arrastou-se uns metros e acabou por morrer, esvaído em sangue. Era um moço de uns 17 anos. Tudo isto me foi contado pelo alferes que comandava o segundo grupo de combate; apareceu-me feliz, com uma orelha do morto na mão”.

Vai fazendo amizade com o alferes Sapador, falam imenso sobre Paris, e as crises académicas de 1962/65 e 1968. Já estamos em setembro, fala de emboscadas e nomadizações, lê Roger Vailland, o comando do seu batalhão deixou Sagal e seguiu para Nangade. Continua a escrever uma peça de teatro num só ato. E consta do seu diário, a 7 de setembro: “Chegou hoje um homem dos seus 40 anos, maconde, machambeiro, foi capturado durante a Operação “Nó Górdio”. Está disposto a guiar-me a uma base de guerrilheiros por onde passou há um ano”. E partem para uma operação de três dias, a missão é um golpe de mão a uma base da FRELIMO, nada de especial, destruiu-se um acampamento abandonado. Passará os dias seguintes a ler a fio os quatro romances do Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell. Deixara Lisboa há quatro meses. Regista rebentamentos de minas. O pai e os amigos enviam-lhe enormes quantidades de revistas, está bem informado da vida cultural lisboeta. Continuam as operações em que se destroem aldeamentos inimigos, por vezes há alguma resistência. Tem que ir tratar assuntos da companhia a Mueda, que ele apresenta deste modo: “Mueda, com a sua base aérea, seus vários quartéis, enfermaria, edifícios da administração, do banco, dos correios, dos apartamentos de oficiais e sargentos, dos dois estabelecimentos civis onde há de tudo, da prisão da DGS, seu tráfego de viaturas militares, sua extensão, evoca-me o que eu imagino seriam as bases norte-americanas na Coreia”. Passa por Nampula e não gosta. Num patrulhamento, acerca de dois quilómetros e meio de Sagal, apresentam-se dois guerrilheiros, de mãos no ar: “Um dos guerrilheiros diz ser bacharel em Ciências Económicas e Financeiras e Sociologia pela Universidade de Harvard. Trabalhou como revisor de provas num jornal moçambicano e foi locutor de rádio. Viajou pela Europa Ocidental e pelo Norte de África como membro encarregue das relações externas da FRELIMO. Na Tanzânia pertenceu ao comité central e executivo da FRELIMO. Deixou a FRELIMO porque o impediram de continuar os seus estudos, não lhe interessa lutar. Chama-se Miguel Marupa”.

E depois de um silêncio de mais de dois meses, chegamos a 16 de janeiro, houvera um terrível acidente no dia 8 de novembro:
“Quando ia a sair do aquartelamento para fazer o reabastecimento de lenha, num Unimog, sentado ao lado do condutor, ergui-me no banco para me virar para trás, a fim de verificar como o pessoal ia instalado; no preciso momento em que o condutor guinou a viatura para evitar uma cova, fui projetado para fora do Unimog, rodei sobre mim próprio no ar, toquei o solo, primeiro com todo o meu peso unicamente sobre o pé direito, de lado, e depois fiquei sentado.
Imediatamente agarrei a perna direita; os ossos haviam-se partido e rasgado a carne; estavam de fora, o pé baloiçava preso por uns pedaços de carne. Pensei: ‘Também se vive sem um pé’. Vários soldados pegaram em mim e levaram-me para o posto de socorros. Pensava sobretudo que não podia ir já de férias em dezembro, como planeara. A viagem até Mueda não me pareceu longa. Tiraram-me uma radiografia à perna. A intervenção não durará mais do que quatro horas; uma artéria está perdida; tenta-se suturar a outra, para que não tenham de me cortar o pé; por fim vencem, remendam a perna por fora com uns pontos enormes”
.

Passa quase dois meses no hospital de Nampula, até ser operado e evacuado para Lourenço Marques. A operação decorreu bem: “Tinha perdido grande quantidade de substância óssea e os tecidos moles vizinhos também me tinham sido bastante ofendidos. O perónio ficou solto; a tíbia ligada por uma placa presa por quatro parafusos”. São longas páginas desse dia, e observa também: “Os homens choram quando têm dores insuportáveis, quando se vêm mutilados, quando a seu lado um camarada morre e não lhe podem acudir. Os homens choram e se não chorassem não eram homens, eram monstros. Mas há um desespero no homem que chora. O desespero da tentativa vã de evitar o choro. Porque está assente que o homem não deve chorar”.

E recorda uma patrulha de Sagal para o Chindorilho, um estrondo, alguém perdera as duas pernas, está enegrecido pela terra, pronuncia frases patéticas, é amparado, pede-se a evacuação. Veio-se a descobrir que no fornilho se tinha posto uma bomba de avião de 50 kg que não rebentara e que felizmente também não explodiu por simpatia quando a mina levou as pernas daquele homem. O que são os acasos do destino? Os próximos tempos serão dominados por leituras avassaladoras. A 1 de fevereiro, dará os primeiros passos pelo quarto. Manda um artigo para uma revista, a Nova Geração. Interroga-se sobre o seu futuro. A junta médica decidiu evacuá-lo e a 24 de abril de 1971 chega a Lisboa. Décadas depois, com pequenos cortes, diz ele, publica o seu diário, não esconde o desesperado egocentrismo, o não ter sabido enquadrar a guerra e o seu ambiente, publica o seu diário como testemunho da violência que acometia homens jovens do nosso país que se pretendiam conscientes.
E termina: “Para que se não repita”.

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Notas do editor

Poste anterior de 9 de Setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23601: Notas de leitura (1492): "Diário Pueril de Guerra", por Sérgio de Sousa; Editoral Escritor, 1999 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23603: Notas de leitura (1493): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VIII: A visita de uma delegação do Movimento Nacional Feminino, em fevereiro de 1966: "O senhor capitão hoje está cheio de sorte, há meses que não via uma mulher branca, hoje vê duas"

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23601: Notas de leitura (1492): "Diário Pueril de Guerra", por Sérgio de Sousa; Editoral Escritor, 1999 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
O diário de Sérgio de Sousa centra-se em Sagal, Moçambique, há emboscadas, muitas minas anticarro e muito sofrimento com as minas antipessoal. É um diário que dura menos de um ano, irá culminar com um acidente brutal que deixará este alferes-miliciano com incapacidade. O autor chamou-lhe inicialmente Diário de Guerra. O semanário O Jornal publicará em 1981 dois excertos. Assume o documento como um diário íntimo, não encontrei, em tudo quanto li até hoje, ninguém a ler tanto, a comentar tanto, a desnudar-se, tinha medo, como ele escreverá, da desintegração da personalidade, falará sempre mais de si, descurando gentes e ambientes. Quando, décadas depois, publica o que escrevera meticulosamente, e numa caligrafia arredondada e bem legível, dirá que já não é a mesma pessoa, como se fosse possível fazermos cisões de tal modo brutais em que os tempos de juventude deixassem de fazer parte do que prossegue na maturidade e na velhice. Mas reconheça-se que Sérgio de Sousa não tem rival nos diários de guerra.

Um abraço do
Mário



Um caso ímpar na literatura diarística da guerra colonial (1)

Mário Beja Santos

Intitula-se "Diário Pueril de Guerra", seu autor é Sérgio de Sousa, Editoral Escritor, 1999. Sérgio de Sousa pertencia à CART 2718, que partiu para Moçambique em 20 de maio de 1970, seguiu para Sagal, a sua unidade militar dependerá do BART 2918. O que cativa neste documento de um jovem de 23 anos, assumidamente snob, ledor compulsivo, que viajou por Franças e Araganças, é o olhar que lança, em permanência, para o que deixou do seu círculo de afetos, como este mesmo círculo de afetos o ajuda a urdir o grau de resignação como ele vive a guerra. Irá penitenciar-se no posfácio, escrito décadas depois, que perpassa o seu documento um desesperado egocentrismo, sobretudo pelo que ali é omitido, pouco ou nada saberemos de Sagal, é parcimonioso nas referências às operações, no entanto não deixa de empolar os múltiplos incidentes e acidentes. “E não há nenhuma referência à paisagem do planalto onde vivi durante meses e que, como se presumirá, era avassaladora. Nem a um espetáculo único que então presenciei, quando atravessei uma parte da floresta que tinha ardido, enterrando os pés nas cinzas quentes, e a nossa movimentação fazia mexer o ar parado, provocando a queda das árvores que se mantinham eretas, carbonizadas, até que a nossa passagem as fez cair, desfeitas. Não me detive quase a falar das pessoas com quem convivi. Em contrapartida, anotei uma série de temas que na altura pensava interessarem-me, e que não me parece hoje que tivesse o valor que lhe atribuía”.

Temos o embarque no Niassa, observa o que os outros leem, nota que os soldados dormem em beliches apinhados nas cobertas. Doze dias depois, chegam a Luanda, para ele é uma cidade ocupada pela tropa, entra nas casas de espetáculos, a viagem prossegue, lê Roger Vailland; os Dez Dias Que Abalaram o Mundo, do John Reed, a 13 de junho saem à noite de Lourenço Marques, seguramente que o impressionou pois fala dela com alguma abundância:
“Nascida sobre uma prancheta de desenho, Lourenço Marques parte dos caraterísticos edifícios coloniais, de dois pisos, de madeira, sendo o inferior recuado, de modo ao passeio ficar coberto pelo outro piso, varanda ou telhado, assente em finas e espaçadas colunas de ferro, implantadas na borda do passeio. Assim nas três ou quatro ruas estreitas, junto ao porto.
Depois vêm, nas longas avenidas do centro, os bons edifícios não muito altos, onde se aloja o melhor comércio e os bancos. E já os prédios com mais de uma dezena de andares conquistam espaços na baixa e se difundem, ao longo das rasgadas avenidas que ganham uma periferia, de vivendas antiquadas para o interior, modernas e luxuosas ao longo da costa.
No caminho para o aeroporto, os bairros indígenas, imensos, no meio de um deles uma lixeira municipal. Situam-se à porta da cidade branca, para o interior, sendo as habitações mais próximas as mais decentes, segue-se a favela; algumas fábricas erguem-se por ali.
O urbanismo de Lourenço Marques vinca a sua realidade racista. Na cidade racionalizada, elegante, luxuosa, só penetram os negros dos serviços que se apresentam limpos e decentemente vestidos. Além dos serviços, nada mais há na vida da cidade branca que lhes seja acessível. Os brancos nada têm que fazer nos bairros indígenas, por isso não entram lá”
.

Também não perdeu a oportunidade de entrar nos cabarés laurentinos. A viagem prossegue pela beira até chegar a Nacala, depois Porto Amélia, finalmente Mocímboa da Praia. Já ouviu várias vezes falar na Operação Nó Górdio, ele irá participar nela. A sua unidade parte de Mocímboa da Praia para Diaca, e chega-se a Sagal, considera que as instalações são bastante razoáveis, pertenciam a uma antiga exploração algodoeira. A casa senhorial é ocupada pela messe de oficiais.

Já se respira a Operação “Nó Górdio”, como ele escreve no seu diário:
“Consiste num cerco a uma região onde o inimigo se encontra, e intervenções de limpeza no interior desse cerco. A picada fica a constituir parte do limite da área cercada; ao longo dela as nossas tropas hão de emboscar-se e executar patrulhamentos (…) Levámos grande parte da manhã e toda a tarde para percorrer os seis quilómetros de picada nova aberta três dias antes; nela foram detetadas e rebentadas dez minas anticarro e removidos bastantes abatises. Numa das vezes em que, ao ser detetada uma mina fizemos reconhecimento pelo fogo para, prevendo a hipótese dela ser comandada, afugentar o acionador, o inimigo respondeu com fogo de presença”.

No início de julho, Sérgio de Sousa sai com o seu grupo de combate para montar uma emboscada em Chindorilho. A “Nó Górdio” já está a decorrer. A Berliet que seguia à frente estrondeia, segue-se uma emboscada, caíram na zona de morte o Unimog, uma Fox e um Granadeiro. Finda a emboscada retiram da Fox o condutor, tinha uma perna perdida, fora uma bazucada que lhe acertara. “Juntei os meus homens e fomos fazer uma batida ao local de onde partira a emboscada. Encontrei a uns trinta metros da picada, o capim pisado e um cadáver cuja cabeça terminava no maxilar inferior, daí para cima não restava nada. Devia tratar-se de um rapaz. Vestia calções curtos verdes e uma camisola às riscas brancas e azuis, calçava alpercatas e tinha ao lado uma Simonov e sob o corpo, presa à cinta, uma granada de bazuca”. A emboscada dura vários dias, regressam a Sagal. Deixa no diário a ideia de que o inimigo se está a escapar ao cerco, são largas as malhas por onde pode passar. Dias depois parte para nova operação, também relacionada com a “Nó Górdio”, nada de especial acontece. Durante os dias em que se manteve emboscado leu a Guerra Revolucionária, de Mao Tsé Tung. ´

A operação dura já quinze dias, começa-se a falar dela, há poucas ilusões do seu sucesso:
“Segundo as imprecisas notícias que chegam até aqui, comando do cerco norte, as bases foram tomadas, mas nelas apenas se capturou material, os ocupantes fugiram; quanto à pretendida desorganização, não foi atingida. Os guerrilheiros continuam a contornar a população. Perspetivas: a operação termina, os guerrilheiros reabastecem-se de armamento em pouco tempo e caem-nos em cima com toda a forma da organização que não lográmos destruir”. Lê, chegam-lhe jornais, cartas do pai e dos amigos, dá nota dos filmes estreados, da vida musical, de uma exposição de Vieira da Silva, da morte de Elsa Triolet. E confidencia: “O autor deste diário é um indivíduo tímido. Por isso faz gala em ser pedante, antipático, descortês. Ostenta um certo luxo e finge que não conhece alguns conhecidos, socialmente desfavorecidos. Para os colegas arvora um ar superior, polido, frio; para os mais íntimos e familiares mostra-se indelicado. Amigos, tem muito poucos e é-lhes extremamente sincero, deixa-os partilhar de toda a sua verdade; gosta de abrir-se. De si mesmo procura esconder o bluff que é; na realidade, opina sobre livros, teorias, ideologias, conceitos, acontecimentos de que apenas sabe o nome; tem muito medo de ser desmascarado”.

A Operação “Nó Górdio” chega ao fim, Sagal deixou de ser a pior zona, agora é Nangololo, escreve. E a 30 de julho regista uma nova perda, o Furriel Rocha pisa uma mina antipessoal. Deixa um comentário no seu diário: “Pertence a uma família remediada, é eletricista, os seus horizontes são uma vida pacata, no emprego, ao lado da moça de quem gosta e em contacto com a família. Para realizar este futuro foi-lhe imposto como condição realizar a presente guerra. Ele jogou a sua sorte e perdeu. Se a mim me acontecesse a desgraça que o vitimou, eu merecia-o. Porque sei o crime que cometo empenhando-me numa guerra colonial. Tal como as cadências aceleradas e os acidentes de trabalho são exemplos da violência da classe exploradora sobre a trabalhadora, também os estropiados e mortos desta guerra colonial são casos da violência da classe que a quer, sobre aquela que é obrigada a fazê-la”.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23599: Notas de leitura (1491): Monumenta Missionaria Africana – coligida e anotada por António Brásio; Agência – Geral do Ultramar - Lisboa / MCMLXV (1) (Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais)