sábado, 1 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10314: Convívios (467): Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972, Setúbal - 5 de Outubro de 2012 (Manuel Freitas)



1. O nosso Camarada Manuel Freitas, que foi 1º Cabo Escriturário no HM 241 - Bissau - 1968/70, solicita-nos a divulgação do próximo convívio do Almoço/Convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972 


Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972

5 de Outubro de 2012 - Setúbal 

Caro amigo Luís Graça, 

Pedia-te o favor de anunciares no nosso blogue o almoço/convívio que organizo há 11 anos. 

Este ano vai decorrer em Setúbal, no dia 5 de Outubro de 2012. 

A concentração vai efectuar-se junto ao Estádio do Bonfim, a partir das 10h30 e o almoço será em Palmela no restaurante Dª Isilda. 

 Este convívio destina-se aos ex-militares que estiveram no HM241 entre os anos 1967 e 1972. 


Contactos: 
manuel.freitas@equicontas.com 
ou 964498832 - telemóvel. 

Agradeço-te e envio-te um grande abraço, 

Manuel Freitas 
1º Cabo Escriturário do HM 241 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P10313 Efemérides (108): No dia em que o primeiro homem pisou a lua... Neil Armstrong (1930-2012), um herói do nosso tempo, visto de Samba Cumbera, tabanca fula a sudoeste de Galomaro, longe do Vietname, a 400 mil km de distância do nosso satélite (Rui Felício / Luís Graça)



Neil Armstrong (1930-2012), antigo combatente da guerra da Coreia, astronauta da NASA, o primeiro homem a pisar a lua... Foto da NASA, tirada a 1 de julho de 1969. (Fonte: Wikipédia).


1. Ontem foi um dia especial, 6ª sexta-feira, 31 de agosto de 2012... Dia de lua cheia, a "lua azul" (nome da lua quando ocorre duas luas cheias no mesmo mês: tinha ocorrido uma primeira lua cheia a 2 de agosto e a agora ocorreu a segunda: é um fenónemo com alguma raridade, acontece em cada  dois anos e picos...  A lua azul anterior ocorreu em dezembro de 2009, e a próxima será em julho de 2015).

Por estranha coincidência ou não, o primeiro homem que pisou a lua, Neil Armstrong, foi ontem a enterrar, numa cerimónia privada. Tinha morrido dias antes, a 25 de agosto de 2012. Com 82 anos. Na Grécia antiga, seria um herói, um semideus. Para os norte-americanos, e para todos os habitantes do planeta, o dia 20 de julho de 1969 foi uma datas mais memoráveis do séc. XX, e o comandante da missão Apolo 11 tornou-se um "ícone global", A família definiu-o como um "herói americano relutante"...Milhões de pessoas viram-no, pela televisão, em direto, descer na superfície lunar. Ele e Edwin Aldrin foram os primeiros humanos a descer no satélite da terra e explorar, durante 2 horas e meia, a sua superfície.

Nascido em 1930, Neil Armstrong começou por servir o seu país, na marinha de guerra, foi piloto e combateu na guerra da Coreia. Entrou para a NASA em 1962 e em 1965 comandou a missão Gemini VIII, indo pela primeira vez para o espaço.

Em 20 de julho o nosso camarada Rui Felício estava com o seu grupo de combate reforçando o sistema de autodefesa de uma tabanca, Samba Cumbera,  a sudoeste de Galomaro. Ele era um dos "baixinhos de Dulombi", alf mil da CCAÇ 2405, adido ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Eu. por minha vez,  tinha chegado Bambadinca, sede do setor L1, em 18 de julho, vindo de Contuboel. A minha companhia, CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), passava a estar às ordens do comando daquele batalhão.

Em 20 de julho de 1969, domingo, não soube lamentavelmente desse grande acontecimento, de imediato reconhecido como um marco na história da humanidade. Ou se soube, não me lembro. Alguns dias depois, a 24 de julho, 3 grupos de combate da minha companhia tiveram o seu batismo de fogo, em farda nº 3, ainda nem sequer tinham chegado os camuflados para os nossos  soldados africanos. Em Madina Xaquili, a sudeste de Galomaro... na Guiné, longe do Vietname, a menos de 400 mil km da lua... 

Sobre esta efeméride o Rui Felício, um, homem sábio, escreveu um poste de antologia, na I Série do nosso blogue (nº 640, de 19 de março 2006).  Muitos leitores não o conhecem, nem ao poste nem ao autor. É da mais elementar justiça reeditá-lo. É ao mesmo tempo quádrupla homenagem, (i) ao Rui Felício, português, ecuménico, tolerante, sábio;  (ii) ao seu companheiro daquela noite, o Samba, chefe da tabanca de Samba Cumbera, um outro homem sábio, fula, guineense, muçulmano;   (iii)  ao primeiro homem que pisou a lua e que acaba de nos deixar, um herói do nosso tempo; e  ainda, e porque não, (iv) à lua, ora azul, ora vermelha, ora prateada, o satélite do nosso planeta que nos fascina, emociona, inspira, intriga, interpela, provoca, desafia...e a quem os cães ladram...LG


A lua, nosso satélite... Foto da NASA


Aldrin, da missão Apolo 11, na superfície lunar, em 20 de julho de 1969. Foto da NASA.



31 de agosto de 2012 > A minha "lua azul", tirada de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, Portugal... (Foto de Luís Graça)




2. O dia em que o homem foi à lua
por Rui Felício


Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta [, Neil Armstrong] afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo.

Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.

Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas. Por mim, preferia meditar sobre o assunto, silenciosamente... Afinal os nossos avós jamais imaginariam que alguma vez o homem pudesse chegar à Lua, apesar de Júlio Verne, o visionário do século anterior, já o ter previsto…

E, longe das mais modernas evoluções da ciência e da tecnologia, os naturais da Guiné que nasciam e morriam na sua aldeia da selva sem nunca sairem do pequeno perímetro onde viviam, muito menos sonhariam com essa utópica possibilidade de o homem chegar à Lua.

Como muitas vezes fazia, depois de jantar, sentei-me numa cadeira de fula, onde descansava semi deitado, olhando o céu, nessa noite muito limpo e estrelado…Bem alto, a luz branca da lua, em quarto crescente, derramava-se pela orla da floresta e pelos cones de capim dos telhados das tabancas, desenhando sombras fantasmagóricas pelo terreno limpo do centro da aldeia.

E mantive-me assim deitado, o olhar fixo na lua, tentando perscrutar o mais pequeno sinal da presença do homem que eu sabia estar ali vagueando, em qualquer lugar do Mar das Tempestades…

Não sei quanto tempo assim me mantive, absorto, atento e quieto… Despertei e voltei à realidade com a voz do meu simpático amigo Samba, Chefe da Tabanca de Samba Cumbera, que me perguntava se podia sentar-se a meu lado, para o qual arrastara uma cadeira semelhante à minha…

Era um homem de grande cultura árabe, que conhecia muito da história do islamismo, que sabia com um estranho rigor a exacta direcção de Meca, que lia e escrevia árabe, que conhecia em pormenor toda a história dos Fulas e da razão de ser da sua permanência na terra da Guiné… Para onde, dizia, foram empurrados em sucessivas lutas tribais com os seus rivais Mandingas…

As nossas conversas eram normalmente muito agradáveis e, posso dizer, sempre aprendi mais com ele do que ele comigo…Temos a tendência e o preconceito de avaliar os outros pelos nossos parâmetros e pela nossa cultura, catalogando-os de bárbaros e analfabetos só porque não têm o conhecimento e a instrução, medidos pelos nossos padrões.

Aprendi que no meio daquela gente existiam homens com conhecimento mais vasto e aprofundado que muitos dos nossos soldados… O Samba era um deles…Perguntou-me porque estava tão pensativo e quieto… Respondi-lhe que aquela noite era muito especial para o mundo, porque estava se passando algo que nunca antes tinha acontecido…

Franziu o rosto, comentando que, pelo meu ar, não devia ser coisa boa… Sorri, dizendo-lhe que era exactamente o contrário…E, embora sabendo de antemão a resposta, perguntei-lhe apenas como forma de iniciar a revelação do que estava acontecendo:
- Sabes que neste preciso momento um homem como nós caminha na lua que está ali em cima diante dos nossos olhos?

A reacção foi inesperada e contrária a tudo o que eu teria imaginado:
- Alfero! Não é um homem como nós, não! É o profeta Maomé que, juntamente com Alá, dali nos vigia a todos, para nos proteger, nos ensinar o caminho justo e para nos castigar quando dele nos desviamos…

E prosseguiu:
- Como é possível que homem grande e instruído como o Alfero, só hoje soubesse isso? Não entendo mesmo!...

Pensei durante uns segundos se devia argumentar, puxar dos meus galões de homem civilizado, e demonstrar-lhe a minha superioridade, provando-lhe que não era nada daquilo que ele dizia. Desisti de o fazer…

Afinal, ambos nos estávamos alimentando de sonhos… e, cada um à sua maneira, sentíamo-nos felizes pela beleza insubstituível de um luar africano em noite calma e limpída…Independentemente de quem lá estava caminhando naquele momento…

Rui Felício,
Ex-Alf Mil Inf,
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
(Dulombi, 1968/70)

P.S. - Passados dias, com a chegada de um jornal de Lisboa, mostrei-lhe as fotografias do astronauta pisando a Lua. E, então expliquei-lhe o que realmente se tinha passado naquela noite… Pelo seu ar meio trocista, ainda hoje não sei se o convenci… Mas como ele também não me convenceu que por lá andavam Alá e o Maomé, ficamos quites, cada um na sua... em paz!

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Notas do editor:


Último poste da série > 10 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10246: Efemérides (107): Dia 10 de Agosto de 1972 - Naufrágio no Rio Geba de um sintex com pessoal da CART 3494 (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P10312: Parabéns a você (467): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

Para aceder aos postes do nosso camarada Manuel Joaquim, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10304: Parabéns a você (463): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Corceiro, ex-1º cabo trms. CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10311: (Ex)citações (193): Telefono regulamente ao Armor Pires Mota e a outros camaradas do BCAV 490 (1963/65)... mas somos cada vez menos (Jaime Segura)

1. Mensagem do Jaime Segura, nosso leitor (e camarada da CCAV 488/BCAV 490, 1963/65), com data de 27 do corrente, a propósito do poste P10302:

Viva, boa tarde.

O Armor Mota continua a ser um velho amigo, que vive na Oiã, e com quem eu troco mails e telefonemas assíduos, e vemo-nos de vez em quando. Também convivo regularmente com o ex-alferes Fernando Correia, da minha companhia, e que vive em V.N.Gaia.

Convivo telefonicamente e por mail, com diversos elementos do BCAV 490, a maioria do Alentejo. Também falo por telefone regularmente com o ex-alferes Rui Ferreira, que vive no Algarve. Enfim, não há mês nenhum que eu não telefone para uma série de ex-combatentes do BCAV 490. Se calhar a idade avança e... a saudade aumenta! E cada vez somos menos!...

Também convivo regularmente com ex~furriel Manuel Coelho, que embora não pertencendo ao BCAV, esteve na Guiné na mesma altura que eu, e pertencia ao Batalhão do ten-cor. Hélio Felgas.

Vou digitalizar as fotos pedidas e enviá-las, muito em breve.

Entretanto, aqui fica um abraço,

Jaime Segura

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10259: (Ex)citações (192): Ainda as afirmações do senhor René Pélissier àcerca do nosso blogue (António Melo)

Guiné 63/74 - P10310: Memória dos lugares (191): O quartel de Guileje, visto dos céus, ao tempo da CCAÇ 2617, "Magriços de Guileje" (Março de 1970 / fevereiro de 1971) (José Crisóstomo Lucas)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2617, Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971  > Vistas aéreas do quartel e da tabanca.

Fotos © José Crisóstomo Lucas (2012).Todos os direitos reservados 


1. Mensagem, com data de 30 de agosto, envaiada pelo nosso camarada José Crisóstomo Lucas,
que foi Alf Mil na CCAÇ 2617 (Magriços de Guileje) que esteve em PiradaPauncaGuileje:


Vi em algures no blogue alguns sketches / rascunhos do quartel de Guileje. Para quê ter esquemas se pudermos  ter algumas imagens aéreas ?

Aproveito ainda para enviar o orgulhoso galo de Barcelos ou como ouso dizer " Galo dos Magriços de Guileje "

Ao dispor

J.C.Lucas,
ex alferes miliciano ranger
 CCac 2617

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10199: Memória dos lugares (190): Quinhamel e a sua piscina (Manuel Carvalho)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10309: Décima terceira (e última) carta: O pior estava para vir: parte II: A morte do meu neto Tomás (J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

A. Fim da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria de J.L. Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66.

As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem três dos seus netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)  


B. Décima terceira carta > O pior estava para vir > Parte II > Meu Neto Tomás

No dia 25 de Novembro de 2011, esmagado em dor, escrevi no meu diário:

Já sabia o que era perder os pais e a única irmã. O que era perder avós e os tios todos. O que eu não sabia nem nunca imaginara era a dor tamanha de perder, dum dia para o outro, um netinho de dois anos e quatro meses! Fulminado por um tumor benigno sobre o cérebro!…Não deve haver dor maior…

Mafra, 2 de Dezembro de 2011:

Meu coração sangra de dor pelo meu Tomás….Apenas dois anos e quatro meses…Um volumoso tumor esmagou-lhe o cérebro, fatalmente, dum dia para o outro. Meus ouvidos rebentam de saudade das ricas gargalhadas sempre acesas do Tomás e do constante desafio para a brincadeira. Começou a falar, apenas há pouco mais de um ano. Com uma precisão, clareza e oportunidade espantosas. Nasceu para falar português, dizia eu.

Uns olhinhos pintados dum azul tão celestial…Uma cabeleira cor de mel caia-lhe em brandos caracóis até aos ombros e um sorriso perene e doce lhe iluminava um rosto angélico, de linhas tão suaves…

Sua voz era firme e harmoniosa.

- Avô!?…Avô!?…Avô Luís!?…- exclamava-me ele, vezes sem conta, para a brincadeira. No baloiço…no escorrega…

-Mais!… Mais!…É bom!…É bom!…Mais carne!…Chocolate!…Tomás não gosta de peixe!…

Meus olhos não param de sangrar, dia e noite, tão ácidas, dolorosas, estas lágrimas, não as quero a ninguém…

Foi dele que disse, no dia em que nasceu:

Armei meus braços
Em jeito terno de regaço.
Fitei teu rosto,
De linhas doces,
Tão perfeitas.
Dormias sereno.
Boquinha em arco,
Sob um narizinho
comedido.

Cabeleira farta,

Longas pestanas negras
E finas sobrancelhas.

Último raminho tenro,
Carregadinho de esperança,
Nascido do meu tronco.

Apertei-te ao peito.

Cerrei meus olhos.
Olhei o Céu.

Para a viagem,
Oxalá lhe seja longa...


Agradeci a Sua bênção
E pedi-Lhe a protecção...

Matosinhos, 14 de Julho de 2009
O Avô Luís.


Todo mundo à sua volta ficou atónito…com a perda do Tomás. Sobretudo, seus pais e seus avós, dum e doutro lado. Como entender uma fatalidade destas…as tais que não acontecem só aos outros…!?

Por momentos, chegamos a pensar que poderia ter sido o preço tão elevado, para travar um processo, desconhecido ainda, de divórcio dos seus pais, que estava em marcha, também doloroso e inesperado…

E parece, tudo em vão: mês e meio depois, o divórcio dos pais…deflagrou.

Porquê, meu Deus?... Que seja feita sempre a Sua vontade!...


Berlim, 5 de Abril de 2012, 01h e 04m- 5ª feira

FIM

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de agostod e 2012 > Guiné 63/74 - P10265: Cartas do meu avô (17): Décima terceira: O pior estava para vir: parte I: o cancro da próstata!... (J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

Guiné 63/74 - P10308: Tabanca Grande (357): Francisco Gomes, 1.º Cabo Escriturário Francisco Gomes da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael 1968/69)

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro Francisco Gomes (*):

De: Francisco Gomes [fragom@outlook.com ]

Data: 29 de Agosto de 2012 17:14

Assunto: 1º. Cabo Esferográfica/G3, presente!

Olá, camaradas!

Por um acaso, dei com o vosso Blogue e já estou em correspondência activa com o camarada Traquina. Também estou, ao fim de tantos anos, a construir um Blogue com algumas recordações (as menos penosas) que passámos na Guiné desde Jan/68 a Nov/69, para deixar às minhas netas como uma recordação. Pertenci à CCS/BCaç 2834 e estive em Buba, Aldeia Formosa, Cacine, Guileje, Gadamael Porto, voltei a Buba de regresso a Bissau à espera do Uíge que já estava ao largo...

Perdi centenas de fotos que tinha desta comissão, inclusive slides... uma desgraça,  pois era fotógrafo da Companhia e no Natal de 68 fiz centenas de postais de Boas Festas com a imagem de cada um de nós (encostados a uma parede branca como cenário de estúdio) para enviarmos às famílias!

Gostaria de pertencer à Tabanca Grande, eu, um jubi que adorava mancarra, Stolichnaya, Martell's, Buchannan's ou White Horse, além da Coca Cola americana que arranjávamos...

Gostava de poder encontrar mais camaradas da CCS/BCaç 2834, de recolher histórias e fotos desse tempo para poder inseri-las no meu Blogue, por isso, se souberem de alguém... chutem por favor! O endereço é: http://inforgom.pt/guine6869/

Um abraço
F. Gomes

PS - Junto envio uma foto actual e uma desses tempos de (in)glória...  


Blogue criado recentemente pelo Francisco Gomes, disponível aqui.

2. Comentário do editor:

Camarada Francisco, foste célere em responder ao nosso convite para ingressares na Tabanca Grande (*). Ficas bem entre tantos camaradas (e amigos) da Guiné.  Como já te disse, aprecio o teu bom humor e valorizo o teu empenho em reencontrar e reunir o pessoal do teu batalhão (que, além da CCS, integrava as CCAÇ 2312, 2313 e 2314). Vamos juntar esforços. Parabéns pela criação do teu blogue, do qual cito os seguintes excertos com a tua autoapresentação para um melhor conhecimento da pessoa que foste e és, por parte dos restantes membros da nossa Tabanca Grande:

(...) "A minha história, como ex-combatente da guerra colonial, arrumei-a na zona cerebral destinada ao esquecimento. Primeiro, porque fui obrigado a ir para uma guerra que não me dizia nada, absolutamente nada; segundo, porque quando fui mobilizado, estava casado e já tinha uma filha com dois anos de idade; terceiro, porque nunca gostei de tropa, fardas, etc..

"Feita a recruta na Serra da Carregueira, em Abril de 1967, segui para o RAL 4, em Leiria para tirar a especialidade de escriturário, profissão que já exercia na vida civil desde 1960. Aí, tive como companheiros de caserna o fadista João Braga e o guitarrista José Pracana. (...) Naquele tempo, as cantorias do João Braga e do Zé Pracana na caserna, davam para ir passando os tempos livres depois das aulas… Nunca mais os vi ou tive qualquer tipo de contacto com eles, finda a especialidade.

(...) "Fui [depois] colocado em Lisboa na Administração Militar, no Lumiar  (...) e logo de seguida, colocado na Secretaria da Escola Militar de Electromecânica em Paço Arcos (parte Exército, parte Força Aérea), onde estive menos de dois meses e onde recebi a ordem de mobilização para o Ultramar. 

"A Unidade mobilizadora foi o R.I. 15 em Tomar para onde fui fazer o I.A.O. em Nov/Dez/67 e a 10 de Janeiro de 1968 embarquei no Uíge rumo à Guiné-Bissau tendo chegado cinco dias depois. A minha Companhia ficou 5 dias em Bissau para receber a logística, armamento e ordens de operacionalidade e seguimos por LDG até Buba onde, meia hora depois, ainda estávamos a arrumar a tralha e a instalar-nos, sofremos o primeiro ataque (banho de fogo aos piriquitos) com roquetes, canhão sem recuo e morteiro 120. A primeira reacção foi mergulho para as valas escavadas ao longo do perímetro e depois agarrar na G3 e distribuir-nos pela área do arame farpado e pelos 4 abrigos, um em cada canto do aquartelamento que era uma espécie de quadrado rodeado de arame farpado e projectores de 150W alimentados por um gerador.

(...) [O] brasão do BCaç 2834 (...) foi da autoria do então Tenente Esteves, Chefe da Secretaria da CCS do Batalhão, mas foi integralmente acabado e pintado por mim, primeiro em papel vegetal e depois em papel normal para enviar à empresa que fabricava esse tipo de galhardetes. Um trabalho de dias e dias seguidos" (...).

Camarada Francisco Gomes, sê bem vindo. Uma vez lidos e aceites por ti os "nossos 10 mandamentos"   (constantes da coluna do lado esquerdo do nosso blogue), passas a ser o grã-tabanqueiro nº 574 (**). 

Um Alfa Bravo para ti. 
Luís Graça, editor, em férias.

(**) Último poste da série > 23 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10293: Tabanca Grande (356): Adelino Barrusso Capinha, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso alfero Cabral, através do seu representante na terra, o nosso camarigo Jorge Cabral:

Amigos!

Após achaques vários e um grande susto. o Alfero estoriador está de volta.

Abraços.

J. Cabral

PS - Não liguem ao Que Fazer!


2. Estórias cabralianas > O conde de Bobadela

Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me  interpela:
-É o Senhor Conde, não é?

Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
 -Sou sim. Como vai a senhora?
 -Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa.
 -Pois ia. Claro que já morreram, o senhor D.Ilídio e a esposa, a Dona  Florípedes. E a menina Francisca ainda lá habita?
 -Oh não.A casa ficou ao abandono.A Menina vive no estrangeiro.

Chamam-me para a Sala de Audiências. Despeço-me.
  
No regresso a Lisboa, qual arqueólogo, colo os cacos da memória.Foi  há quarenta e quatro anos, no início de Junho, que o meu  velho vizinho Alvarenga, coronel reformado, me procurou. Sabendo que eu ia para Mafra, pediu-me que levasse uma encomenda ao seu amigo, Coronel Ilídio Montez, que morava na Achada, perto da Ericeira.
-Nem precisas de ir à casa. Vais ao CMEFD., mesmo ao lado do Convento. Ele passa lá os dias a montar a cavalo.

E assim,poucos dias depois de apresentado na EPI., fui procurar o Coronel. Logo no portão recebi uma reprimenda do 1º  Cabo de serviço:
- Dobre a língua, nosso Cadete! O  Coronel Montez é Dom! Dom Ilídio, está bem !?

Conduziu-me ao picadeiro e conheci D. Ilídio. Um velho pequenino, sem dúvida já octogenário, de bigode branco, pose altiva, mas simpático. Abriu à minha frente a encomenda e rejubilou: umas bonitas esporas prateadas.
 -Hoje vais jantar a minha casa - ordenou.  - A minha mulher deve estar a chegar.

Pouco tempo depois, eis-me metido no carro conduzido por Dona Florípedes, a mulher.Uma senhora muito branca, talvez triste, com ar de tédio e algo de snobe.Jantei nessa noite e em muitas outras.

Bebia os conhaques do Coronel. Declamava para a Dona Florípedes. Comentava o Maio francês com a filha Francisca, mas à noite no quartel, era com a empregada Aurora, que sonhava.

Dona Florípedes sentia-se exilada em terra de saloios.Trocar o Estoril pela Achada. E tudo por culpa dos cavalos…E logo ela.  neta do Marquês de  Pintéus, sobrinha do Barão da Marateca. Para não destoar, confessei-lhe que também eu era Conde. Mas não usava o título, nem aliás o nome completo - D. Almeida Cabral y Athouguia De Vasconcelos, Conde da Bobadela.

Às vezes discutia-se o meu futuro militar. D. Ilídio tinha esperança que eu fosse parar a Santarém, à Cavalaria. Possuia perfil e estatura de grande combatente dizia, contra a opinião de Dona Florípedes:
-Um rapaz tão sensível. Até faz versos..-
- E daí? - retorquia o Coronel- - Camões também andou na Guerra!

D. Ilídio tinha uma teoria, segundo a qual os mais valentes são  sempre  os Homens mais pequenos:_
- Olha o Napoleão, para não falar no nosso Marechal Carmona!

Ele nunca fora  a África, mas falava das savanas de Angola, com tal propriedade, que era fácil imaginá-lo à frente do Esquadrão a galope, perseguindo o inimigo.

Conhaque e cavalos.Cavalos e conhaque constituíam os interesses do Coronel. Nos conhaques ainda o ia acompanhando:
- Prova-me este Courvoisier!  Que achas do Remy Martin?  Gostas do Henri IV ? 

Mas nos cavalos….Bem, convidou-me muitas vezes a ficar em Mafra, um fim de semana, para montar e escusei-me sempre. A apendicite da mana….. A úlcera do Avô…A apoplexia do tio Gilberto…O certo é que nunca cheguei a demonstrar os meus dotes equestres.

Acabou a recruta. Deixei Mafra e rumei a Vendas Novas. Estou, ainda nem passaram quinze dias, sou chamado ao Comandante da Bateria.
 -Qual é o seu nome completo,n osso Cadete?
- Jorge Pedro de  Almeida Cabral, meu Capitão.
 -Então esta carta é ou não é para si? - E entrega-ma.

Está endereçada a Jorge D. Almeida Cabral y Athouguia de Vasconcelos, Conde da
Bobadela.
 -Alguma brincadeira, meu Capitão.
 - Brincadeiras estúpidas, nosso Cadete!

 A carta era de Dona Florípedes. Trazia um poema, com muitas açucenas, tardes amenas e até metia o pão de ló da avó.. Bem, rimar, rimava... Não respondi.

Embora tivesse ficado como Aspirante em Vendas Novas, nunca o Capitão, depois Major, me voltou a tocar no assunto. Escrevi-lhe da Guiné. E assinei:  Jorge Alfa  Mamadú Cabral de Embalo Balde, Conde de Missirá e Barão da Bolanha de Finete.

Jorge Cabral

3. Comentário do editor: Falei ontem ao telefone com o Jorge, de quem não tinha notícias há uns bons tempos. Andou por aí um mês e tal na "mão dos médicos", a "checar" a anatomia e a fisiologia. Felizmente, está bem. E "manda estória", sinal de que está vivo da costa, como a sardinha, e vai-nos continuando a fazer sorrir "com meia cara"... Gostei do seu "post scriptum": Não liguem ao Que Fazer!... Eu descodifico: Vivam a vida, rapazes!
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de maio de 2012 >  Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)

(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia.  Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites.  (...)

Guiné 63/74 - P10306: In Memoriam (125): Cor inf cmd ref Jaime Abreu Cardoso (1936-2012)

1. Mensagem,  de 19 do corrente, do nosso leitor (e camarada, pára,  Guiné, 1969) Salvador Nogueira:

Morreu [ontem]  o Cor [inf cmd  ref] Abreu Cardoso, num estúpido acidente, quando voava um histórico Paulistinha do Aero Clube de Braga.
O Cardoso [, de 75 anos,] era um entusiasta da aviação e tinha uma vasta experiência de actividade de voo, em DO27, em autogiros (uma inexistência para os iluminados do INAC) e em ultraleves. Também saltava em páraquedas.
Que me lembre, impulsionou a formação de tropas 'Comando' na Guiné, comandou a 7ª CComandos, em Moçambique e, acrescente-se que não é demais 

"Alvará OFICIAL DA TORRE E ESPADA  TEN-COR CMD JAIME ABREU CARDOSO  [1969]

"Considerando que o Tenente de Infantaria, graduado em capitão, Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, após oito anos de campanha contra a subversão no Ultramar, pela coragem constante em presença do inimigo, pelas suas virtudes militares, alto espírito de sacrifício, decisão, alheamento consciente do perigo, prestígio pessoal sobre as tropas comandadas ou entre os seus camaradas e superiores, impôs-se como um alto valor moral da Nação; 

"Considerando que em acções militares heróicas em Angola e feitos praticados em combate em Moçambique – que lhe deram jus a uma Medalha de Prata de Valor Militar e proposta para a Cruz de Guerra de 1ª Classe – revelou personalidade, em cujo carácter estão bem vincados o valor, a lealdade e o mérito; Américo Deus Rodrigues Thomáz, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, faz saber que, nos termos do Decreto - Lei n.º 44 721 de 24 de Novembro de 1962, confere ao Tenente de Infantaria, graduado em Capitão, Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, sob proposta do Presidente do Conselho, o Grau de Oficial da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito".

 
2. Comentário do editor:

Obrigado, Salvador, por nos teres feito chegar a triste notícia da morte de mais um camarada nosso. Pelo que pude entretanto apurar, o cor inf  cmd ref Jaime Abreu Cardoso, natural de Vieira do Minho, pai de 3 filhos, era "um dos 20 em Portugal inteiro distinguidos com o Grau Oficial da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito", segundo notícia do Correio do Minho ("Comandos despediram-se do seu Herói Nacional", 22/8/2012).  Sobre o seu currículo militar, ver também notícia publicada no Portal Ultramar Terraweb. Temos, seguramente, entre nós, camaradas que o conheceram e que com ele conviveram  na altura da formação dos comandos da Guiné (Brá, 1964).  As nossas condolências à família e aos camaradas comandos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10263: In Memoriam (124): Dia 24 de Agosto de 2012, em Valbom - Pinhel, homenagem póstuma a José António Mata da CART 6250, falecido em Bolama no dia 10 de Julho de 1972 (José Manuel Lopes)


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10305: Estórias do Juvenal Amado (43): Olha o Silva!!!




Guiné > Zona leste > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872, 1971/74) > Malta do Pel Rec Info



Vila Nova de Gaia > Carvalhos  > s/d > O casamento do Silva e da Ester

Fotos: © Juvenal Amado (2012). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado, com data de 21 do corrente

 Caro Luís, Carlos, Magalhães e restante Tabanca Grande

Esta pequena estória serve para recordar o meu amigo Silva e faz parte da parede que tento construir. Cada nome, cada caso, cada recordação são tijolos para essa parede.

Seguem algumas fotos com a particularidade de que numa delas aparece um africano que eu não tenho a certeza de ser o Jamba. Tentei confirmar junto de alguns camaradas, mas penso que só o dr Pereira Coelho o conhecer hoje. Fiz alguns apelos mas até agora nada.

Mas mesmo assim vou falar sobre o Jamba. O Jamba era um civil contratado pelo quartel que fazia vários trabalhos. De forte compleição, de bom trato ia connosco à lenha, por vezes há água, estava por todo o lado à vontade pois gosava de total liberdade de entrar e sair do quartel. Também fazia os recados do comandante nas relações comerciais com as lavadeiras, levando-lhe a roupa suja e trazendo a lavada.

Enfim era uma pessoa de toda a confiança... Só mais tarde se veio a descobrir que ele era militante do PAIGC na clandestinidade. Quando reunir informação suficiente contarei o resto da estória se ouver material para isso.

Até lá um abraço
Juvenal Amado


2. Estórias do Juvenal Amado > Olha o Silva!!!
por Juvenal Amado
(ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)



O Silva foi 1º cabo do Pel Rec e era um amigo de todas as horas. Fazia parte de um grupo que se tinha formado ainda em Abrantes após a mobilização, todos do mesmo pelotão excluindo eu que fui praticamente adoptado.

Viemos todos do RI6,  na Sra da Hora,  no Porto,  para Abrantes no mesmo dia e no mesmo comboio, eu com os condutores e com pouca ligação ou nenhuma a essa malta, que depois viria a ser e ainda são como meus irmãos.

O Silva a nível dos soldados só tinha amigos, o mesmo já não digo aos graduados, pois não se coibia de criticar e mesmo tomar posições de certa maneira complicadas de ordem disciplinar. A título de exemplo conto uma pequena estória.

Os camaradas que saíam para as patrulhas nocturnas, quando chegavam ao quartel e depois de tomar banho, dirigiam-se para o refeitório por volta da meia-noite para assim jantarem.

Mas o jantar era difícil de comer àquela hora,  frio e normalmente em papas, pois estava feito desde a 18 horas. De queixa em queixa, de crítica em crítica, as situações iam-se repetindo. Uma bela noite o pelotão recusou-se a comer, fazendo um levantamento de rancho ainda que restrito.

Veio o oficial de dia, que tentou convencê-los a comer e não conseguindo, passou às inevitáveis ameaças, das inevitáveis porradas disciplinares. Tudo foi em vão, pois os camaradas do Pel Rec estavam irredutíveis com o Silva à cabeça.

O oficial passou das ameaças e pensando que vergando o Silva os outros se renderiam, agrediu-o para o obrigar a comer. O Silva manteve-se firme e não comeu. Não me lembro como se resolveu o problema gerado pela agressão, mas as partes envolvidas acabaram por chegar a um acordo e a coisa ficou por ali, com a promessa que o problema das refeições seria resolvido, o que veio a acontecer a partir daquela data e nos meses posteriores até ao fim da comissão.

O Silva subiu na nossa consideração e todos lhe gabamos a coragem de fazer frente ao graduado, embora, se o não segurassem, teria ele respondido à agressão e a coisa tinha ido a mais.

Mas o Silva tinha uma particularidade que nós estranhávamos. Nunca se embebedava. Bebia uns copos mas não passava dali. Coisa estranha, pois até os mais controlados acabavam por se “encharcar” e  tanto mais que a comissão já ia bem adiantada.

Um belo dia, com o pré fresco no bolso fomos a Bafatá,  já com os nossos periquitos e foi de arrasar. Iam os do costume, o Silva, o Ivo, o Caramba, o Ferreira etc. Não será necessário aqui mencionar todos, embora tenha que aqui fazer uma ressalva para o Estofador e o Aljustrel que,  não tendo recebido autorização para seguir na coluna, nos foram esperar ao fundo da bolanha e assim passarem a perna ao tenente Raposo que tinha negado a licença aos dois.

Bom, em Bafatá,  o circuito do costume, começou na Transmontana e entre este mata- bicho e o almoço já encomendado no Libanês, a cerveja corria a rodos.
- É hoje que pregamos uma bebedeira no Silva. - combinamos nós.

E assim foi quando chegamos ao restaurante do Libanês, já todos íamos bem bebidos. Lá como de costume, corria a rodos o vinho branco bem fresco a acompanhar o bife. Depois vinham os charutos e o whisky, normalmente oferecido pelo dono da casa. Inconsolável estava o meu periquito, porque o não deixamos beber nada a não ser Fanta e Coca-Cola.

Não será preciso ter grande imaginação, para ver em que estado estávamos e em que estado chegamos ao quartel. Ao Silva, esse estava que ninguém o podia aturar. Uns usavam o termo “atravessado”, que é um estádio entre a bebedeira e a negação do facto, outros diziam que ele estava com uma “cabra” de todo o tamanho. Uma coisa era certa, ninguém o segurava, não dava um minuto de descanso pois queria apresentar-se ao comandante, ou ir chatear o tenente Raposo, beber um copo à messe, ir para a tabanca e sabe-se lá o que ele faria se o largássemos.

Já noite ia adiantada quando finalmente o deixei no abrigo do Pel Rec e fui para o meu, que era no extremo oposto do quartel. Estava a pegar no sono, pensando que não contassem mais comigo para o embebedar, e que finalmente o gajo tinha sossegado, levo uma palmada fortíssima na coxa, acompanhada de um exclamação do Silva com aquela pronúncia dos Carvalhos:
- Olha o Amado!!!!! estás aqui,  filho da puta!!!! - E tive que o aturar o resto da noite.

Este grupo onde está também o Passos [, foto acima,] tem-se mantido sempre em ligação excluindo o Ferreira que nunca mais deu sinal de si e a ultima vez que o vi, foi numa foto numa revista, quando ele ganhou uma viagem à Disneylândia.

Eu fui ao casamento do Silva com a Ester  [, foto acima,] e eles posteriormente vieram ao meu. O Silva, depois de muito ter trabalhado num negócio que montou, acabou por ter que emigrar para França há meia dúzia de anos. Nunca mais o vi. Esteve cá agora de férias na sua terra, mandei-lhe um abraço virtual e pensei que gostava de estar com ele, mas desta vez bebia cerveja sem álcool.

Um abraço

Juvenal Amado
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Nota do editor:


Último poste da série > 12 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9890: Estórias do Juvenal Amado (42): O arroz do nosso descontentamento

Guiné 63/74 - P10304: Parabéns a você (466): António Marques Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS, CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)

Para aceder aos postes dos nossos camaradas António Barbosa (Gondomar) e José Corceiro, clicar nos respectivos nomes
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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10303: Passatempo de verão (10): As árvores também choram... (Luís Graça)


Quinta de Candoz > 24 de setembro de 2011 > Os "ouriços" do castanheiro... Candoz foi roubado à floresta de castanheiros, que aqui crescem espontaneamente, tal como os carvalhos...



Quinta de Candoz > 8 de junho de 2012 > O nosso orgulhoso sobreiro... Tem menos de 50 anos,
é portentoso, não dá cortiça de qualidade mas a sua sombra é tutelar e o sítio onde está implantado inspirador...

Fotos:   ©  Luís Graça (2011).  Todos os direitos reservados



Quinta de Candoz > 24 de setembro de 2011 > Abate de um castanheiro

Vídeo (38''):  
 ©  Luís Graça (2011). Alojado em You Tube > Nhabijoes >
1. As árvores também choram. Quando o machado, a motosserra ou a bulldozer as abate. Na Quinta de Candoz (Portugal), no Cantanhez (Guiné-Bissau) ou na Amazónia (Brasil). As razões podem não ser (nem são) as mesmas. Na Quinta de Candoz, os castanheiros selvagens competem, pelo espaço vital,  com a vinha de vinho verde, sustento da casa (leia-se: dá para a luz, o gás, o gasóleo, os tratamentos da vinha, o IMI...).

Houve tempos em que tinham valor económico, os castanheiros, só pela madeira. Hoje nem isso. E para darem boas castanhas, têm de ser enxertados... É das árvores que,  em termos de estética da paisagem, eu mais admiro, a seguir aos carvalhos (que são os nossos poilões). É uma dor de alma ver as nossas florestas de castanheiros, carvalhos e sobreiros (que crescem aqui muito rapidamente) serem destruídas pelo raquítico, inestético e invasor eucalipto, uma praga que veio da Oceania e é uma ameaça séria para a nossa paisagem mediterrânica... 

Candoz pertence à freguesia de Paredes de Viadores, concelho de Marco de Canavezes. Do outro lado do vale é Baião. Pertencia ao concelho de Bem-Viver, com sede em Sande, concelho esse que foi extinto em meados do séc. XIX.Há 300 anos estas terras eram fracas de cereal e abundantes em castanha, segundo a  Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, do P. António Carvalho da Costa (3 volumes, Lisboa, 1706-1712).
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10302: O Nosso Livro de Visitas (146) ): Jaime Segura, ex-alf mil cav, CCAV 488 / BCAV 490 (Mansaba Bissorã, Ilha do Como, Jumbembem, Bissau, 1963/65)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Jaime Vieira:


De: Jaime Vieira [ jaime.form@gmail.com ]

Data: 24 de Agosto de 2012 21:14

Assunto: Apresentação


Boa noite, só hoje tive conhecimento deste espaço, para convívio com antigos camaradas de armas da Guiné.

O meu nome é Jaime Segura, fui alferes do 3º grupo de combate da companhia de cavalaria 488, BCAV 490 ( 1963/1965). A minha companhia foi inicialmente uma companhia de intervenção, e estivemos em Mansabá, Bissorã, e mais tarde na célebre campanha da Ilha do Como (Janeiro a Março de 1964). Depois, a companhia passou à quadrícula e permaneceu em Jumbembem. Entretanto, eu fui nomeado ajudante-de-campo do Governador e Comandante-chefe General Arnaldo Schulz, tendo prestado serviço no Palácio do Governo, em Bissau.


Todos os anos fazemos um almoço de confraternização do pessoal do BCAV 490, no último sábado do mês de Maio, nos mais variados pontos do país, sobretudo no centro e sul, de onde é originária a maioria dos elementos do Batalhão.

Tive conhecimento, há relativamente pouco tempo, de um pequeno restaurante, em Matosinhos (cidade contígua ao Porto) onde se encontram antigos combatentes do Ultramar, com especial incidência da Guiné.

Fico a aguardar notícias vossas, e  até sempre,

Jaime Segura

2. Comentário do editor:

Obrigado, Jaime, pela visita e pela tua apresentação. E sê bem aparecido. Temos vários camaradas que pertenceram, ao teu batalhão, a começar pelo nosso co-editor, "jubilado", Virgínio Briote (que foi alf mil daq CCAV 489). Tens aqui cerca de três dezenas de referências ao teu BCAV 490. E cerca de uma dezena à tua CCAV 488 (a que pertenceu também o escritor Armor Pires Mota, a que também já foi dirigido o meu convite para integrar o nosso blogue mas que declinou amavelmente o convite). 

Se quiseres enriquecer este espaço de partilha de memórias (e de afetos) dos antigos camaradas de armas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1961/74), podes começar por fazer um pedido formal de entrada na nossa Tabanca Grande, cujo número de membros registados é já de 573. Chamamos-lhe, por graça, os grã-tabanqueiros. 

Existimos, como blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) desde abril de 2004.  E estamos prestes a atingir os 4 milhões de visitas. Teríamos muito gosto e honra em acrescentar o teu nome à nossa lista (ver coluna do lado esquerdo). Para esse efeito, e se aceitares as nossas regras de convívio, basta enviar-nos duas fotos (digitalizadas), uma do teu tempo de alferes e outra actual. Se morares na região do Porto, podes também frequentar os convívios semanais da Tabanca Pequena, com sede em Matosinhos.  Estamos também no Facebook como Tabanca Grande

Um Alfa Bravo do Luís Graça.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P10301: Parabéns a você (465): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)

Para aceder aos postes do nosso camarada Jaime Machado, clicar aqui
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Nota do Editor:

Vd. último poste da série > 25 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10298: Parabéns a você (461): Manuel Carmelita, ex-Fur Mil Mec Radiomontador da CCS/BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

domingo, 26 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)



Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  23 de Agosto de 2012 >  Ninho de andorinha, insólito, construído não no beiral mas à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas... Aos 43 segundos vê-se uma andorinha entrar no ninho levando insetos para alimentar as crias, e 10 segundos depois sair para mais uma "caçada" ao redor da Quinta de Candoz... O ninho foi recentemente reconstruído.

Vídeo (1' 07''):  © Luís Graça (2012). Alojado em You Tube  > Nhabijoes







Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz >  9 de junho de de 2012 >  O nosso ninho de andorinho, parcialmente destruído por causa desconhecida, não humana, e rapidamente reconstruído pela nova geração... Em agosto de 2012 já alojava as novas crias...  


"As andorinhas são um grupo de aves passeriformes da família Hirundinidae. A família destaca-se dos restantes pássaros pelas adaptações desenvolvidas para a alimentação aérea. As andorinhas caçam insectos no ar e para tal desenvolveram um corpo fusiforme e asas relativamente longas e pontiagudas. Medem cerca de 13 cm (comprimento) e podem viver cerca de 8 anos. (...) 

"As fêmeas fazem uma postura de 4 ou 5 ovos, que depois são incubados durante cerca de 23 dias. Passado o tempo da incubação, nascem os jovens, cuja alimentação é feita por ambos os progenitores. 

"Quando a temperatura baixa, as andorinhas juntam-se em bando e vão à procura de locais da Europa mais quentes, indo também para o norte de África. Depois, quando a temperatura volta a subir, por volta da primavera, regressam novamente. Constroem as suas casas perto do calor, em pequenos ninhos normalmente colados ao tecto." (...)

(...) "Originalmente, a andorinha-dos-beirais [ 'Delichon urbicum'] construía os seus ninhos em falésias e cavernas. Ainda são encontradas algumas colónias em falésias, com o ninho construído sob uma rocha saliente, mas atualmente esta espécie usa sobretudo estruturas feitas pelo homem, como edifícios e pontes, de preferência junto à água. 

"Ao contrário da andorinha-das-chaminés, usa a parte exterior de edifícios abandonados em vez do interior de estábulos ou celeiros. Os ninhos são construídos na junção da parede com o beiral, ficando assim fortalecidos pela ligação a dois planos distintos.

"Regressa à Europa para nidificar entre abril e maio, e a construção dos ninhos ocorre entre o fim de março (no norte de África) e o meio de junho (na Lapónia). O ninho tem a forma de uma taça fechada com uma abertura estreita no topo e é feito com pedaços de lama colados com saliva, e forrado com palha, ervas, penas ou outros materiais macios. A sua construção demora até 10 dias e é levada a cabo tanto pelo pela fêmeacomo pelo macho.

"Frequentemente, o pardal-doméstico ('Passer domesticus') ocupa o ninho durante a sua construção, forçando a andorinha-dos-beirais a construir um novo. A abertura no topo do ninho completo é tão pequena que os pardais não conseguem ocupá-lo uma vez construído.(...)
 
"A andorinha-dos-beirais é mais gregária do que a andorinha-das-chaminés 
['Hirundo rustica'] estando habituada a viver e a migrar em bando, e tende a nidificar em colónias numerosas. Os ninhos podem inclusive ser construídos em contacto uns com os outros. Tipicamente, estas colónias têm menos de dez ninhos, mas há registos de colónias com milhares de ninhos. Cada postura possui habitualmente quatro ou cinco ovos brancos, com um tamanho médio de 1,9 x 1,33 cm e um peso médio de 1,7 g. A incubação dura geralmente de 14 a 16 dias, e é feita essencialmente pela fêmea. As crias recém-eclodidas são altriciais e necessitam de 22 a 32 dias, dependendo das condições atmosféricas, para abandonar o ninho" (...) (Fonte: Wikipédia)

Fotos: © Luis Graça (2012). Todos os direitos reservados 


1. Há um ano atrás, em setembro de 2011, fiz e coloquei no blogue um pequeno vídeo (18'') com insólito ninho de andorinha, construído não no beiral do telhado, como é habitual nas andorinhas de beiral, mas no alpendre de um das casas (não habitadas) da nossa Quinta de Candoz (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses)...

O vídeo comprovava assim a  existência de um família de andorinhas que,  desde há menos de uma década, vem do norte de África "passar as suas férias de verão" e nidificar em Candoz,  nas encostas do Douro... Sempre tivemos, a família de Candoz,  um especial carinho por este ninho e seus habitantes ... Nunca, que eu me lembre, desde 1975, nenhuma andorinha tinha feito nidificado na nossa terra... Estas, tal como eu, chegaram, gostaram e voltam sempre...  Em 9 de junho deste ano, para surpresa e desgosto meus, dei conta que a "abóboda" do industrioso ninho tinha caído, possivelmente sob o efeito de alguma intempérie. Voltei, há dias,  a sorrir, quando a 23 de agosto dei conta de que o ninho tinha sido reconstruído e tinha novos inquilinos, seguramente descentes dos primitivos construtores de há meia dúzia de anos atrás...

Este ninho, que eu chamei insólito, foi pretexto para um dos nossos inocentes e descontraídos passatempos de verão, ajudando-nos a
 cultivar a horta do nosso bom humor e sabedoria... e ao qual se juntaram, com os seus valiosíssimos e oportunos comentários, os nossos camaradas e amigos Henrique Cerrqueira, José Belo, Torcato Mendonça, José Manuel Cancela, Joaquim Sabido, Carlos Cordeiro, César Dias e Filomena... (Espero não estar a esquecer ninguém!).

Moral da história: as andorinhas, mesmo aquelas que são mais "desalinhadas", mostram aos seres humanos que todos podemos ser ao mesmo tempo iguais, diferentes e únicos, e que isso só nos enriquece como espécie... Ah, tem outras qualidades, importantes nos tempos que correm, a nossa andorinha dos beirais: é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... Parafraseando o Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus (6: 26), tomemos como exemplo as andorinhas e demais aves do céu... (LG)