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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25088: Notas de leitura (1659): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (8) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Esta obra de investigação carreia documentação histórica tanto de operações que envolveram a FAP bem como os relatórios do próprio Comandante-chefe acerca da evolução do PAIGC para procurar intimidar a mobilidade aérea, então totalmente preponderante. O que aqui se relata são as operações que se desenvolveram tanto no Cantanhez como no Quitafine, e o então Comandante da Zona Aérea, Coronel Krus Abecasis, não escondeu a sua admiração pela bravura dos combatentes do PAIGC que enfrentaram o fogo aéreo, morrendo no seu posto. Entretanto, chegou o apoio cubano, em termos humanos, o fornecimento de material já tinha antecedentes. E, em 1967, os cubanos forneciam médicos, conselheiros e técnicos. Segundo o antigo embaixador Oscar Oramas, o primeiro diplomata que se aproximou de Amílcar Cabral assassinado, na noite de 20 de janeiro de 1973, morreram 17 cubanos pela causa guineense.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (8)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 2: Eles não conseguiram parar a nossa luta


Demos início no texto anterior informações sobre a Operação Samurai, tinha por missão levar ao afastamento de grupos do PAIGC na ilha do Como, a guerrilha estava a fazer a vida negra ao destacamento de Cachil, criado por decisão do Brigadeiro Louro de Sousa, então Comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, na sequência da Operação Tridente. A Operação Samurai teve duas fases, uma de intensos bombardeamentos, e uma segunda que envolveu a participação dos helicópteros que largaram grupos de paraquedistas em diferentes pontos, eles vinham com a missão de busca e destruição da presença da guerrilha. Fora estabelecido um destacamento de apoio aéreo em Cufar para auxiliar a ofensiva terrestre, a coordenação era fornecida por Bissalanca e uma Secção Conjunta de Apoio Aéreo que tinha um posto de comando avançado em Catió. As aeronaves destinadas a apoiar os paraquedistas incluíam um par de Fiats em alerta em Bissalanca, um par de T-6 em alerta em Cufar onde também estavam DO-27 e Alouettes III, com a missão de colaborarem em evacuações. Tinham sido produzidas centenas de fotografias aéreas que deram informações de enorme valor para a execução operacional.

Finda a operação de bombardeamentos noturnos, iniciada em 13 de novembro, e que forçosamente desmoralizaram os grupos do PAIGC, a segunda fase foi precedida por um lançamento dos paraquedistas que estavam sediados em Cufar, foram várias levas de 5 helicópteros Alouette III que transportaram 97 paraquedistas para a zona Sul do Como. A primeira leva de paraquedistas encontrou uma oposição feroz junto do reduto de Caiar, houve que pedir apoio de fogo, um par de T-6 e de Fiats chegaram quase simultaneamente e assim diminuiu a resistência do grupo de guerrilha, e a força de assalto continuou o seu avanço, um DO-27 que desempenhava funções de PCV foi submetido a disparos antiaéreos ineficazes durante este acontecimento. Com o contínuo apoio aéreo, os paraquedistas alcançaram todos os objetivos que tinham sido atribuídos, sem terem sofrido perdas.

O sucesso que se previa para a ilha do Como revelou-se ilusório. No curto prazo cessaram os ataques contra o destacamento de Cachil e parecia estar preparado o terreno para que as forças portuguesas reocupassem completamente a ilha. Só que nenhuma ação desta natureza foi decidida pelo Comandante-chefe, como irá permanecer um reduto guerrilheiro durante o resto da guerra. O Coronel Abecasis considerou que a capacidade de combate na guerrilha se mantinha intacta. Não querendo aceitar uma batalha aberta contra a superioridade da Força Aérea e confrontos com as forças terrestres, os insurgentes recuaram novamente para o centro da floresta, a aguardar o fim da operação. Um mês após a Operação Samurai, a Zona Aérea e o Grupo Operacional 1201 direcionaram o seu foco para o Cantanhez, local da Operação Resgate cerca de um ano atrás. Dois desenvolvimentos intermédios chamaram a atenção das chefias portuguesas: primeiro o PAIGC restaurara as suas defesas antiaéreas na região, o que representava uma ameaça credível às operações aéreas; segundo, as forças do PAIGC começaram a usar a península do Cantanhez como base para ameaçar o tráfego no estratégico rio Cumbijã, a única ligação à guarnição das tropas em Cufar, o que tinha levado a Marinha a solicitar a intervenção da Força Aérea. Uma tentativa de suprimir a renovada ameaça do sistema de defesa antiaérea do PAIGC e desalojar as posições insurgentes que ameaçavam o rio, a Zona Aérea lançou a Operação Valquíria, em 19 de dezembro, sob o comando do Grupo Operacional do Tenente-coronel Hugo Damásio.

A operação de dois dias seguiu o modelo agora familiar de bombardeamentos noturnos seguidos de operações de reconhecimento armado na superfície. Os C-47 começaram por atacar posições do sistema antiaéreo e abrigos do PAIGC na noite de 19 para 20 de dezembro, enquanto se reuniam informações adicionais sobre alvos para ataques posteriores. A fase seguinte, durante o dia de 20 para 21 de dezembro envolveu 8 Fiat, 12 T-6, as atividades de guerrilha praticamente cessaram. Mesmo assim, a Operação Valquíria deixou o comandante da Zona Aérea, coronel Abecasis, inquieto. Tendo vivido pessoalmente ao “furioso” fogo antiaéreo durante a primeira noite d Operação Valquíria, ele “teve a oportunidade de admirar a coragem como no solo se manejavam as peças antiaéreas à frente dos aviões… O inimigo foi batido e morreu no seu posto” demonstrando uma bravura “desconhecida pela generalidade dos militares portugueses.” Isto representava um grave desafio para a causa defendido por Portugal, caso as suas observações se revelassem rigorosas: “Qual seria o resultado desta guerra se o desequilíbrio psicológico entre os combatentes fosse tão chocantemente a favor do inimigo?”, questionava o comandante da Zona Aérea.

Para corrigir esse desequilíbrio, Abecasis recomendou uma ofensiva aérea total no Quitafine, onde o PAIGC tinha restabelecido o seu domínio e retomava os ataques contra as forças portuguesas. Assim se delineou a Operação Apocalipse, “a ofensiva mais violenta ao alcance dos nossos recursos… A Operação Apocalipse iria mobilizar todo o nosso potencial, pretendia-se demolir a presença do PAIGC do Quitafine.” Era esta a expetativa de Abecasis. Mas para sua consternação, esta proposta não atraiu qualquer entusiasmo entre os seus superiores ou até mesmo nos seus aviadores, dado os riscos crescentes de operar no “Forno do Quitafine”; na verdade, um dos seus oficiais declarou que se recusaria formalmente a realizar tal missão. Ao fim ao cabo, a Operação Apocalipse acabou por ser nada mais que uma miragem, não houve operação. Dececionado, o Coronel Abecasis deixou a Guiné no termo da sua comissão, em 12 de janeiro de 1967, foi substituído pelo Coronel Rui da Costa Cesário, um oficial que compartilhava do seu entusiasmo pelas “operações de intervenção” helitransportadas e ataques aéreos focados.


Capítulo 3: “Eram eles ou nós”

“As missões mais memoráveis que tive na Guiné foram as missões contra as armas antiaéreas. Eram eles ou nós.” – Tenente Egídio Lopes, comandante da Esquadra 121, 1966-67

Em janeiro de 1967, o Comandante-chefe Arnaldo Schulz e o seu novo Comandante Aéreo enfrentaram uma situação aérea que parecia cada vez mais incerta. “Apesar dos danos sofridos durante os dois últimos anos, a virulência político-militar do PAIGC não diminuiu”, tinha ele relatado em dezembro passado, chamando a atenção para o aumento da influência regional e militar do PAIGC, do maior apoio internacional, da chegada de equipamentos mais sofisticados, e com uma ação de propaganda eficaz a todos os níveis. Schulz dava ênfase especial a “um fator relativamente novo – o aparecimento de branco, especialmente cubanos, como instrutores, conselheiros ou especialistas.” Há muito que se suspeitava da participação de conselheiros do Bloco de Leste, mas em 1967 assistia-se a uma escalada de intervenção estrangeira em nome do PAIGC, tendo à frente os autoproclamados “internacionalistas” da Cuba de Fidel Castro.

O envolvimento cubano militar em África começara com a ajuda aos rebeldes argelinos e, 1960-1961 e nos três anos seguintes os militares cubanos tinham realizados missões de aconselhamento em vários locais subsarianos. O interesse crescente de Havana em África fora reforçado com a viagem de Ernesto “Che” Guevara por sete nações do continente, entre dezembro de 1964 a março de 1965, o que levou aos primeiros contactos formais entre Cuba e o PAIGC. Naquela época, o chefe dos serviços secretos de Castro, Manuel Piñero, identificara a Guiné insurgente como a “nossa estratégia prioritária em África”, dados os seus sucessos. Castro concordara e as primeiras armas cubanas para as forças militares de Amílcar Cabral chegaram a Conacri a 14 de maio de 1965, isto enquanto os primeiros formandos do PAIGC viajavam para Cuba para receber instrução política e militar. Armas e materiais adicionais partiram de Cuba em 1966 e os primeiros especialistas militares cubanos chegaram em 1 de maio de 1966.

Nos oito anos seguintes, cerca de 500 “voluntários” cubanos serviram como conselheiros, instrutores, pessoal médico e combatentes pela causa do PAIGC, segundo Oscar Oramas, antigo embaixador cubano na República da Guiné. Um despacho do PAIGC de 1967 listava 32 militares e médicos cubanos ativos na província, e nove deles eram especialistas antiaéreos. No que diz respeito a Amílcar Cabral, os seus “camaradas cubanos, qualquer que seja a sua especialidade” eram “considerados militantes do PAIGC enquanto durasse a sua colaboração” – colaboração que, enfatizou ele, “poderia ter consequências decisivas para o progresso da nossa luta”. Morreram 17 cubanos na Guiné, segundo Oscar Oramas, o primeiro em 2 de julho de 1967. Além disso, pelo menos um oficial cubano, o capitão Pedro Rodriguez Peralta, foi capturado pelos paraquedistas que operavam no corredor de Guileje, em 18 de novembro de 1969.


Amílcar Cabral, Aristides Pereira e o embaixador Oscar Oramas durante o encontro com “internacionalistas cubanos”, na Embaixada Cubana em Conacri (Casa Comum/Fundação Mário Soares)
Primeira fotografia do capitão cubano Pedro Peralta na sua cama de hospital depois de ter sido capturado pelas forças portuguesas. Peralta estava ferido no seu braço direito e foi evacuado para Bissau (Arquivo da Defesa Nacional)
A ZPU na região de Cassebeche protegida por um espaldão em espiral com revestimento em terra (Arquivo da Defesa Nacional)
Uma DShK 12,7 mm capturada durante a Operação Barracuda (Arquivo da Defesa Nacional)

(continua)
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Notas do editor

Post anterior de 12 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25061: Notas de leitura (1657): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (7) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 15 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25072: Notas de leitura (1658): "Reflexos da Carta Secreta - Caso 12 de abril", por Samba Bari; Nimba Edições, 2021 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20213: Notas de leitura (1224): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Esta saga sobre os paraquedistas na Guiné aparece redigida sob um documento muito contido, factual, sem enxúndia nem pompa. Mas há os picos de orgulho, e justificados. Caso daqueles dias de Agosto de 1968, em Gandembel, esta tropa especial lança-se num ataque aos guerrilheiros do PAIGC, este procura ripostar, quatro homens tombam, mas a força resiste, repele os guerrilheiros.
E escreve-se: "Cai a noite quando, quase no limite das suas forças, chegam a Gandembel. Transportam os seus feridos e mortos e algumas centenas de quilos de material de guerra capturado. Formados na parada do quartel, sombras cambaleantes curvadas pelo dor e exaustão, escutam o seu comandante de pelotão que pede voluntários para bater na madrugada próxima toda a zona onde se tinham desenrolado os combates. Perfilando-se orgulhosamente, olhos cintilando nas faces cavadas, cansaço vencido, todos avançam como se fossem um só homem".
Esta a história de 11 anos de uma força especial cujo desempenho foi crucial para a luta que se travou nas matas e bolanhas da Guiné.

Um abraço do
Mário


História das tropas paraquedistas na Guiné (2)

Beja Santos

“História das Tropas Paraquedistas Portuguesas”, Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12, é responsável pela redação e pesquisa o Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão, edição do Corpo de Tropas Pára-Quedistas, 1987.

A segunda parte da obra, que vamos analisar, coincide com o período entre 1968 e o termo das hostilidades, 1974. Spínola irá introduzir alterações na política do emprego operacional das tropas do BCP 12. Como se escreve no documento, “às missões de combate helitransportadas, de curta duração e sob comando directo do seu comandante, irão suceder-se as operações em que os militares pára-quedistas se vão manter durante períodos muito dilatados em áreas distintas do seu aquartelamento em Bissau, em missões de reforço de tropas de quadrícula”. Em Agosto de 1968 assume o comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné/BA 12 o Coronel Tirocinado Piloto-Aviador Diogo Neto.

Enuncia-se a atividade operacional entre Junho de 1968 a Dezembro de 1971, destaca-se a criação dos Comandos Operacionais, onde se vão integrar uma ou mais companhias do BCP 12. Tem destaque a operação Júpiter, que se estendeu por quatro períodos, desde Agosto até Dezembro de 1968. Atua-se nas regiões de Guileje, Mejo, Gandembel e Porto Balana, sob o comando do COP 2, cuja missão era a de reorganizar o dispositivo das forças aquarteladas. No final do primeiro período da operação Júpiter estas tropas paraquedistas tinham causado ao PAIGC 33 mortos, um prisioneiro e um número incontrolável de feridos, com a apreensão de grandes quantidades de armamento, os paraquedistas sofreram dois mortos, um ferido grave e dois ligeiros, e as tropas em quadrícula sofreram dois feridos graves. São descritas as sucessivas fases desta operação e a resposta do PAIGC, logo com um poderoso ataque contra Gandembel. No dia 11 de Setembro, das 20 horas desse dia até às 5 horas do dia seguinte, rebentaram na área do aquartelamento de Gandembel mais de 500 granadas de morteiro 120, 82 e de canhão S/R. Desde as 3h30 da manhã, tentaram o assalto ao aquartelamento, após rebentar as redes de arame-farpado com torpedos bengalórios; repelido, voltou por mais duas vezes à carga, houve mesmo grupos suicidas que tentaram ultrapassar as últimas defesas das nossas tropas, só ao amanhecer é que os atacantes retiraram, e os paraquedistas lançaram-se na sua perseguição. Segue-se um ataque a Guileje e de novo a Gandembel. Os atos de coragem praticados pelas tropas paraquedistas e pelos militares da CCAÇ 2317 mereceram destacadas citações individuais. A campanha de Gandembel, extenuante, chegará ao fim em Dezembro, o COP 2 será extinto, encerrando-se a operação Júpiter. Em 1969 é criado o CAOP 1, com sede em Teixeira Pinto, aposta-se no Chão Manjaco, cujas populações concediam escasso apoio ao PAIGC. Sucedem-se as operações Aquiles 1, Titão, Orfeu, Talião, Adónis, na operação Jove é capturado o capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta. A par da intervenção em Teixeira Pinto, o corredor de Guileje merecia destaque na atividade operacional do BCP 12, a operação Crocodilo Negro foi um enorme sucesso, em 17/18 de Janeiro de 1970, na região de Porto Balana.

Sucedem-se as operações enquanto as companhias paraquedistas intervêm no CAOP 1, no COP 6 e 7, irão ganhar fôlego operações helitransportadas.

O documento, com o título “A Escalada”, reporta a atividade operacional entre Janeiro de 1972 a Dezembro de 1973. O novo comandante da unidade, a partir de Dezembro de 1969 foi o Tenente-Coronel Paraquedista Sílvio Araújo e Sá que manifestou reticências ao modo como estavam a ser utilizadas as tropas paraquedistas. “Em sua opinião, o comandante do BCP 12 deveria dispor sob seu comando directo e em permanência, de duas Companhias de Pára-quedistas. Só assim seria possível lançar operações frequentes e rápidas nas áreas mais sensíveis do teatro de operações, devolvendo às tropas pára-quedistas as suas verdadeiras características operacionais de forças de intervenção”. Mas Spínola não o ouviu. Merecem realce a operação Mocho Verde, realizada na região do Sara, os paraquedistas entraram na chamada “Barraca de Mantém” após uma aproximação apeada de cerca de 15 km. Recuperaram-se 12 elementos de população e apreendeu-se um número significativo de material. A operação mais importante realizada pelo BCP 12 durante o ano de 1972 teve o nome de código “Muralha Quimérica”, e decorreu na região de Unal-Guileje. Para esta operação convergiram três companhias de paraquedistas, duas companhias de comandos africanos, três companhias de caçadores e um grupo especial COE. Dispersou-se temporariamente a força inimiga e apreendeu-se um número impressionante de armamento.

Segue-se a descrição das operações em 1973, até que se chegou à grande ofensiva lançada pelo PAIGC em torno de Guileje e Guidage. As tropas paraquedistas foram lançadas em Gadamael-Porto e atuaram para contrair o cerco de Guidage. O aqui se relata é hoje matéria desenvolvida em diferentes livros, o dado mais significativo é o comportamento admirável dos paraquedistas na defesa de Gadamael e as missões de patrulhamento que posteriormente desenvolveram até interromper a pressão sobre Gadamael-Porto.

O derradeiro capítulo é dedicado à extinção do batalhão, desvelando a atividade operacional entre Janeiro a Maio de 1974. Em Janeiro o comando do BCP 12 passa a ser assegurado pelo Tenente-Coronel Pára-quedista António Chumbito Ruivinho. Os paraquedistas vão participar na operação Gato Zangado 1, sobre o controlo operacional do CAOP 2, que decorrer na região de Bajocunda-Copá-Canquelifá. A última operação militar das forças paraquedistas foi a denominada “Obstáculo Hermético”, levada a cabo entre Abril e Maio na região de Canquelifá. Chegara-se se ao fim da guerra, em Agosto as tropas paraquedistas regressaram a Portugal. As instalações do BCP 12 passaram então a ser utilizadas pelas tropas do Exército que aguardavam transporte de regresso a Portugal. No dia 13 de Outubro de 1974 findou a presença militar das tropas paraquedistas na Guiné, o Capitão Albuquerque Pinto fez a entrega a um representante do PAIGC de todas as instalações do BCP 12. Em 15 de Outubro do mesmo ano um decreto-lei do Conselho dos Chefes de Estados-Maiores das Forças Armadas consumou a extinção legal do BCP 12. Assim se encerravam 11 anos de vida e presença efetiva das tropas paraquedistas na Guiné.

Um "Pára" ferido em combate aguarda a evacuação

Canhão S/R B-10 apreendido durante a operação Muralha Quimérica

Enfermeira do PAIGC capturada pela CCP 121
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20190: Notas de leitura (1222): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20205: Notas de leitura (1223): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (26) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Este livro de José Pedro Castanheira, que ainda é possível adquirir a um preço próximo de 11 euros, comprando três números do Expresso de 2013, permite-nos dimensionar quem eram os grandes alvos do exame prévio, a natureza dos corpos arbitrários, tantas vezes improcedentes e inconsequentes. É ridículo o que se cortou da biografia de Amílcar Cabral, até partir para a clandestinidade. O que Augusto de Carvalho escreveu sobre Spínola foi considerado incendiário, atirado para o balde; o abate e aviões nos céus da Guiné, assunto altamente controlado e nem a fotografia do capitão Peralta em julgamento escapou ao lápis azul.
Hoje são simples curiosidades de um mundo execrável que os mais novos não conhecem. É bom rever as imagens. Foi assim.

Um abraço do
Mário


Jornal Expresso, o que a censura cortou: notícias da Guiné

Beja Santos

O jornalista José Pedro Castanheira apresentou assim a génese deste livro surgido em 2009 e republicado pelo Expresso em forma de três cadernos em 2013:  
“Em Janeiro de 2008, comecei a escrever no Expresso uma coluna chamada ‘O que a Censura cortou’. A ideia era registar, semana após semana, os cortes efetuados pela Censura 35 anos antes. Foi uma das iniciativas tomadas para assinalar os 35 anos do semanário. O objetivo era não apenas revelar os efeitos da Censura no Expresso, mas tentar mostrar, a partir de um caso concreto e exemplar, o que ele significara no jornalismo português e na própria vida de uma nação. Uma compilação dos textos viria a ser editada em livro em Abril de 2009. Esta é uma reedição desse livro, que se julgou oportuna no âmbito das muitas iniciativas que serão realizadas ao longo de 2013 para comemorar os 40 anos do Expresso. Diferentemente do livro de 2009, este será dividido em três partes, oferecidas aos leitores juntamente com as edições do jornal de 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 2013”.

Esclareço o leitor que adquiri recentemente estes três números do Expresso, que ainda não estão esgotados, com o custo aproximado de 11 euros. Não vamos falar da Censura, vamos só exemplificar o que foi censurado no Expresso entre a sua data de lançamento, em 6 de Janeiro de 1973 e 25 de Abril de 1974, com notícias referentes à Guiné. Em 27 de Janeiro de 1973, o Expresso pretende abordar o assassinato de Amílcar Cabral. A Censura cortou na íntegra a biografia de Amílcar Cabral, o jornal protestou e a notícia veria a ser parcialmente autorizada. Na notícia davam-se informações totalmente inócuas, como é o caso de: “Praticando diversos desportos, pertenceu à equipa de futebol da Casa dos Estudantes do Império, que chegou a ganhar o campeonato popular de Lisboa. A sua habilidade mereceu-lhe dos colegas o cognome de ‘cabecinha de ouro’". Augusto Carvalho, a pretexto deste assassinato, vai a Bissau, traça um perfil do governador da Guiné, a Censura corta que se farta: “Foi geral a ideia que conseguimos escolher em meios muito próximos do general: que os governadores-gerais ser campeões dos movimentos de africanização enquadrada num contexto federativo do todo nacional, onde a língua seria o cimento a unir a diversidade de culturas que enriqueceriam uma pátria comum, espalhada pelos quatros cantos do universo” e a Censura revela-se inclemente quando o jornalista escreve: “Spínola é um demagogo (…) disse-nos um representante do PAIGC com quem conseguimos contactar em Bissau. Como é natural, Bissau está cheia de elementos da organização guerrilheira. Espiões e espiados ao mesmo tempo” e escrevia-se mais adiante a propósito de Aristides Pereira como o sucessor de Cabral à frente do PAIGC: “A formação portuguesa é comum a todos eles e todos insistem num ensino do português nas escolas do PAIGC como idioma de entendimento entre as diversas etnias”.


Em 6 de Outubro o Expresso pretende falar dos primeiros aviões abatidos na Guiné-Bissau, e cita a France Presse onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde Março. A notícia fora proibida pela Censura. E vem a seguir uma curiosidade: “Um atraso ou uma qualquer deficiência de comunicação levou a que fosse posta em página. Quando os responsáveis do semanário souberam da inclusão de uma notícia proibida, mandaram para a impressora e substituíram-na por uma breve acerca da visita a Bona do primeiro-ministro do Japão, Tanaka. A infração quase passaria despercebida não fosse a denúncia do matutino de ultradireita Época”.


Falando por mim, foi a ler o livro de José Pedro Castanheira que vi a fotografia do capitão Peralta, capturado na operação Jove. Peralta foi condenado a dez anos e um mês de prisão. O Expresso quis publicar na capa uma foto sua, a censura só autorizou a legenda.


Para Balsemão, se não fosse o 25 de Abril, o Expresso seria forçado a fechar, era totalmente impossível continuar a publicar num jornal que a Censura mutilava nos sucessivos exames. No final do ano de 1973, Marcello Rebelo de Sousa fazia o balanço do ano, levou 24 cortes, o que se dizia sobre o Ultramar era impensável, não se podia falar do Congresso dos Combatentes, nem dos oficiais que apoiavam Spínola, nem das homilias do Padre Mário, de Macieira de Lixa. Entrara-se num período tormentoso onde era totalmente proibido falar em aumentos de preços, greves, uma entrevista a Álvaro Cunhal, por exemplo. À guisa de conclusão escreve-se que das 58 edições o número de artigos que vieram da Censura pelo menos com uma mancha azul foi de 1584. Não deixa de ser revelador que em todas as edições do Expresso tenha havido pelo menos um texto cortado na íntegra. O recorde deu-se a 3 de Fevereiro de 1973, quando o carimbo ‘proibido’ foi usado 18 vezes. A grande história da semana era uma reportagem com o General Spínola em Bissau.

E uma última nota, digna de ponderação: “Nos seus primeiros 16 meses de vida – e pese embora a Censura – o jornal acompanhou, nos locais, tudo quanto demais importante se passava de interesse para Portugal e para os portugueses. Foi à Guiné quando Amílcar Cabral foi assassinado e acompanhou o comando sui generis de António de Spínola; esteve na zona de Wiriamu, para tentar fazer o rescaldo do famoso massacre; acompanhou Caetano na sua importante deslocação a Londres; trouxe reportagens de Angola e revelou a até então desconhecida e misteriosa Macau. Assistiu às grandes pelejas parlamentares dos deputados liberais, foi ao Congresso da Oposição em Aveiro, cobriu de forma exemplar as eleições para a Assembleia Nacional. No plano externo, assistiu às importantes eleições em França, enviou repórteres à África do Sul, Suazilândia e Japão, testemunhou o importante Consistório de cardeais no Vaticano, cobriu os primeiros dias da ditadura de Pinochet no Chile bem como o golpe dos coronéis na Grécia, acompanhou a instabilidade do franquismo. Muitas dessas grandes reportagens tiveram a mesma assinatura: Augusto de Carvalho, o grande repórter dos primeiros anos do Expresso e seguramente um dos grandes repórteres portugueses”.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15416: Notas de leitura (780): “Sopros de vida”, por José Lemos Vale, Fonte da Palavra, 2011 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2015:

Queridos amigos,
É uma leitura que nos permite ficar a conhecer a formação dos enfermeiros militares. Temos aqui um registo de exaltação do enfermeiro a falar desses enfermeiros, alguém que escreveu que os feridos da guerra colonial, na sua agonia e sofrimento aprenderam a só reconhecer um verdadeiro herói na pessoa do enfermeiro de combate que, desarmado e debaixo de fogo, os socorria nas picadas lamacentas. E dei comigo a pensar que ainda não li um elogio semelhante aos maqueiros, falando por mim tive o privilégio da colaboração de maqueiros extremosos que me acompanhavam nas operações, as populações do Cuor confiavam neles, acompanhavam os doentes até à consulta médica, faziam pequenos tratamentos a qualquer hora do dia e da noite.
Por favor, se conhecerem relatos sobre estes maqueiros peço-vos a amabilidade de mos transmitirem.

Um abraço do
Mário


Sopros de vida, por José Lemos Vale

Beja Santos

“Sopros de vida”, por José Lemos Vale, Fonte da Palavra, 2011, é uma homenagem de quem foi enfermeiro na CART 3505 de 1972 a 1974 e atuou em Diaca, Cabo Delgado, Moçambique. O autor esclarece: “O principal objetivo deste livro é o de relembrar a ação humanitária dos ex-enfermeiros militares e sobretudo a abnegação, coragem, sentido de entrega e generosidade de todos os ex-enfermeiros operacionais e das ex-enfermeiras paraquedistas que prestaram serviço na guerra colonial”. E exalta o combatente enfermeiro: “Era ao enfermeiro que cabia dizer ao companheiro caído, trespassado por uma rajada de metralhadora, que tivesse coragem, que não iria morrer, que tivesse fé e era a ele que cabia procurar, na picada ou no capim, o que restava do homem feito em pedaços por uma mina e depois arrumar o que pode encontrar para que as famílias viessem a ter algo dos seus entes queridos para velar. Quando se ouvia o sinistro estrondo de uma mina, ou o ladrar raivoso das metralhadoras a disparar a morte em pedaços de chumbo em brasa, todos os soldados se atiravam ao chão e se protegiam debaixo das viaturas ou num buraco qualquer. Todos, não! Carregando uma singela maleta com alguns medicamentos de primeiros socorros, os enfermeiros de combate corriam desarmados, debaixo de fogo inimigo, sob chuvas diluvianas ou sol abrasador, rastejavam nas tormentosas picadas tentando socorrer um companheiro em dificuldades ou em risco de morte que, em desfalecimento, suplicava: enfermeiro, aqui”.

O autor introduz um punhado de relatos de feridos em combate, onde constam os de Arquimínio Carrasco Marcão, da Companhia de Caçadores Paraquedistas 121, Guiné, 1970-1972, José Pereira Lopes, Guiné, 1972-1974 e Victor Tavares, também da Companhia de Caçadores Paraquedistas 121. Arquimínio Marcão depõe: “Eu regressei ferido. Fui apanhado numa emboscada quando já tinha 19 meses de comissão e ia ser distinguido com o Prémio Governador da Guiné. Depois deram-me um louvor. Uma rajada de metralhadora atingiu-me na barriga, no braço esquerdo, e o mais grave na perna esquerda: a bala entrou junto ao joelho e saiu entre as pernas”. José Pereira Lopes vivenciou o inferno de Gadamael: “Eramos obrigados a ir para as valas de água para fugirmos aos ataques. O pouco que comíamos era debaixo de fogo. Alguns, com a aflição de tentar fugir, atiraram-se ao mar e acabaram por morrer afogados”. Victor Tavares recorda a operação “Pato Azul”, na zona de Tite, o Alferes Afonso Abreu pisou uma mina antipessoal, improvisou-se uma maca alguns metros à frente um dos paraquedistas que pegava na maca acionou o fornilho que matou seis militares, incluindo o sinistrado alferes. E expõe a situação: “O Sousa, enfermeiro, que até aí tinha sido um herói no socorro ao Alferes Abreu e que seguia ao lado da maca segurando o frasco do soro, viria a morrer ficando sem um dos braços. Regressados ao destacamento, os feridos mais graves foram conduzidos para tendas onde lhes foram prestados os primeiros socorros por enfermeiros e socorristas que não tinham mãos a medir para aqueles que mais sofriam: uns choravam em sofrimento, porque os paraquedistas também choram”.

Esclarece a formação dos enfermeiros militares. No Hospital Militar Principal especializavam-se os cabos milicianos que seguiam para África como furriéis enfermeiros. No Regimento do Serviço de Saúde preparavam-se os soldados que eram enviados para a guerra como primeiros cabos enfermeiros. A instrução e especialização consistiam essencialmente em aulas teóricas onde os instruendos aprendiam matérias como: avaliação e tratamento do estado de choque; traumatismo craniano e torácico; improvisação de talas ortopédicas; urgências respiratórias e reanimação cardiorrespiratória; tratamento do choque anafilático; noções de traqueostomia (teoria); prática de pequenas cirurgias; estancamento de hemorragias; imobilização de fraturas internas; analgesia e sedação; tratamento de feridas extensas; injetáveis de vária natureza; tratamento antiofídico e antipalúdico; tratamento de doenças venéreas. No Regimento de Serviço de Saúde era também dada formação às especialidades de maqueiros e analistas de águas. Refletindo sobre as condições terríveis do trabalho do enfermeiro, recorda-nos que por vezes ele cedia às emoções e dá a sua interpretação: “Não é fácil ver um homem com os intestinos a saírem-lhe do abdómen e derramados pelo chão. É algo de pavoroso ver um corpo sem pernas, sem braços, às vezes sem as pernas e os braços. É arrepiante ver a massa encefálica a escorrer do crânio desfigurado por ter ficado sem parte da cara”. E comenta seguidamente o tratamento-tipo destes feridos e como se procurava aplacar as dores em estado de choque ou para impedir o aparecimento de gangrenas, por exemplo. Refere ainda o apoio psicológico do enfermeiro a militares deprimidos e em quadros de tentativa de suicídio. Menciona mesmo que o número de mortes de militares por suicídio foi muito significativo, o que sinceramente me deixou confuso, nunca considerei esta possibilidade. Para os grandes feridos era pedida uma evacuação e aí entravam as enfermeiras paraquedistas. Lemos Vale recolheu testemunhos de dois enfermeiros militares, dois deles antigos combatentes da Guiné: Hugo Rodrigues Coimbra e José Eduardo Reis Oliveira que nós aqui no blogue conhecemos por JERO.

A recordatória das enfermeiras paraquedistas tem sido alvo de vários livros dos últimos anos, a sua formação, a mudança que trouxeram as tradições militares, os primeiros cursos destas boinas verdes, são assunto sobejamente conhecido. Ganham realce alguns depoimentos destas briosas profissionais de saúde como o de Zulmira André que foi buscar a Guileje o Capitão Peralta, no âmbito da operação “Jove”. O autor tece-lhes uma homenagem tocante, lembra como elas excederam todas as expetativas dos responsáveis daquele projeto pioneiro, estas enfermeiras levaram os combatentes o carinho, o profissionalismo, o altruísmo e o elevado sentido de missão, pondo a mulher num plano jamais observado, não como enfermeira num Hospital de Guerra mas indo fisicamente a locais de muito risco, salvar vidas.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15410: Notas de leitura (779): "Combater duas vezes: as mulheres na luta armada em Angola", da antiga combatente do MPLA e hoje antropóloga Margarida Paredes (Vila do Conde: Verso da História, 2015)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11030: O Spínola que eu conheci (25): "Na Guiné nada acontece por acaso", Com-chefe dixit... (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479/CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Paúnca, 1969/70)

1. Mensagem, com data de hoje, de Abílio Duarte, ex-fur nil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente a CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paúnca”) (Contuboel, Nova Lamego e Paúnca, 1969/70):

Assunto: General António Spinola - Caco Baldé.

Olá,  Luis Graça,


Sobre a tertúlia do momento (*), quem era o Gen  Spinola, tenho que dar o meu testemunho.(**)

Nunca esperei, ao ir para o Ultramar, ter tantas vezes contactos e próximos com o Com-Chefe, que até parecia que estava em todo o lado. Talvez por essa proximidade, e sem qualquer preconceito, me despertou uma grande admiração pela pessoa, como militar e Comandante. É evidente, que ele não podia agradar a todos, mas quem andava no mato, sentia a sua liderança.

A primeira vez que o vi, ao vivo e a cores, foi nos adidos em Bissau, onde ele foi fazer a recepção aos militares, que tinham chegado, no Navio Timor, onde estava a minha CArt 2479 / CArt 11 / CCaç 11.

Estávamos nós alinhados, na Parada, e subindo ele a pé desde a Porta de Armas, com os seu Estado Maior, onde se destacava o Cap Almeida Bruno, o General parecia um manequim da Casa Butler. Onde raio foi ele arranjar aquele camuflado?. Foi logo o nosso comentário.

Foi nesse primeiro discurso, pois ouvi vários, que ele, ao falar aos militares, entre várias frases de alento e incentivo, para as  dificuldades que nos esperavam, teve aquela qu,  na nossa Companhia, foi sempre referida por todos, " Na Guiné nada acontece por acaso ", e assim foi. Nada acontecia por acaso.

Depois visitou a nossa CArt em Contuboel, onde estávamos a dar instrução aos militares de origem guineense, por três vezes, incluindo um dia que estavámos a fazer instrução de tiro algures no mato e o General apareceu lá,  sem mais nem menos, e aquilo, quer queiram ou não, impunha respeito.Vi-o depois em Bissau, aquando do Juramento de Bandeira dos militares que iriam  formar a CArt 11 e a CCaç 12. Outro discurso, de envolvimento, em que o pessoal reconhecia a sua capacidade de oratória.

A prenda que tivemos, nesse dia à noite, foi que em vez de nos prepararmos para regressar ao Leste (Contuboel), fomos de prevenção fazer a segurança próxima ao Hospital Militar, pois constava que estava lá um ferido importante, chegou a correr o boato que era o General, mas não, era o cubano Capitão Peralta, e por isso ficamos quase uma semana em Bissau, ao monte nos Adidos.

Atravessei-me com ele novamente em Bissau, no Hospital Militar, quando lá estive para me tratar de doença tropical. Aparecia sempre. Depois ainda o vi mais duas vezes, em Pirada e Nova Lamego.

Há uma coisa, que lhe reconheço, e ninguém pode negar, ele foi comandante Militar numa Guerra, mas também o principal protagonista para o fim da mesma, ao escrever o livro "Portugal e o Futuro", e a controvérsia  que esse livro criou, ajudou a acabar com a mortandade da juventude portuguesa, e não só. Por isto tudo, terá sempre a minha admiração e respeito.

Abílio Duarte
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11028: Facebook...ando (22): O Spínola que eu conheci... Opiniões e depoimentos de Francisco Palma, Torcato Mendonça, J. Pardete Ferreira, José Basílio Costa, Bernardino Cardoso, Armando Ferreira Martins, Armandino Oliveira, Manuel Reis, João Guerreiro, José Tavares, Francisco Gomes

terça-feira, 28 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Passos Ramos (J. Pardete Ferreira)


A. Comentário de J. Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Biossau, 1969/71) ao poste P8474:



1. Fui para Teixeira Pinto [, para o CAOP1,] , de DO 27, numa manhã dos primeiros dias de Fevereiro de 1969! 

Fui requisitado para Bissau no final de Junho do mesmo ano...  (...) O meu cartão [, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969] está assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida (falecido em Janeiro do corrente ano).

Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro, Ortopedista, fui efectivamente eu que operou a ferida da parede torácica do Cap Peralta. 


2. Já não estava em Abril de 1970 em Teixeira Pinto, é verdade, mas fui eu com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, de Matosinhos, quem foi ao Dakota buscar os corpos [das vítimas do massacre do chão manjaco]. Por vontade expressa da Esposa do Major Passos Ramos, a fim de os filhos poderem ver o Pai uma última vez, a urna metálica deste vinha com uma abertura que permitia ver-lhe a face e a parte da frente do tronco.  Vinha de camuflado e com os seus galões de Major bem à vista. 

Aceitei prolongar por pouco mais de três semanas a minha Comissão a fim de permitir que o Dr. Bruges e Saavedra, chefe da Equipa Cirúrgica,  viesse de férias. Se ele não voltasse, teria de continuar até ele ser substituído. Como "prenda" regressei pela TAP.


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


B. Comentário do editor:


Recorde-se: O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. 

Enviado para o HM241 (Bissau) e depois para Lisboa, foi devidamente tratado  pelas autoridades portuguesas.  Foi julgado em Tribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado.  

Em 2008, com o posto de coronel reformado, pertencia ao Comité Central do Partido Comunista Cubano.  Era seguramente o mais célebre dos 437 combatentes que, segundo o regime de Havana, terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974 (Dos quais terão morrido 9 ou 17, conforme duas fontes cubanas oficiosas, já aqui citadas no nosso blogue).


C. Nota posterior, de 6 de Julho de 2011 (JPF):  

(i) Camarigo, por alguma razão Flaubert fazia 15 manuscritos antes de entregar uma obra. Por experiência pessoal e conversas com amigos, agora que utilizamos os infoscritos, mesmo quando em certos casos fazemos o print, passa-se por determinadas palavras, quando não frases completas, de um texto e lê-mo-lo sempre de forma errada ou deformada.

Sem que este argumento, bem estudado, queira significar desculpa, apesar de várias leituras, quase diárias, só ao fim de três semanas é que notei que, se bem que seja o Major Pereira da Silva quem está na fotografia publicada, pelo menos duas vezes, quem veio com a urna com uma abertura foi o Major Passos Ramos, que eu vi com o Azevedo Franco e, depois, a sua digníssima esposa e os filhos!  Quase que foi uma alucinação colectiva, pois ninguém se apercebeu do meu erro. Não gostaria que a história contasse uma mentira. Tentei corrigir directamente no blogue. Penso que, por insuficiência técnica, não o consegui fazer. Mea culpa.José Pardete Ferreira


(ii) Comentário de L.G. : 

Meu camarada J. Pardete: Lamentavelmente o erro é do editor... Nunca foi teu. Quem tem de dar a mão à palmatória sou eu. Fui eu que troquei o nome dos majores. Um lapsus linguae. Foi já feita a correcção do título do poste P8481. 

Um Alfa Bravo. Luís

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Nota do editor: