domingo, 15 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21547: (D)o outro lado do combate (62): o primeiro contingente cubano em acção no Boé em 1966 (Jorge Araújo)



Foto 1 - Citação: (1963-1973); "Fernando de Andrade com um grupo de guerrilheiros do PAIGC e internacionalistas cubanos", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43457 (com a devida vénia).



Foto 2 – Madina do Boé: vista aérea, tirada de DO27, c.1967. Ao fundo as colinas do Boé – Poste P18873, com a devida vénia.



Foto 3 – Madina do Boé: Imagem do aquartelamento. Foto do álbum de Manuel Coelho, ex-fur mil trms, da CART 1589 (1966/68) – Poste P8548, com a devida vénia.



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem  270 referências no nosso blogue.

 

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE: 
O PRIMEIRO CONTINGENTE CUBANO EM ACÇÃO NO BOÉ (1966) 


► ADENDA AO P21529 (09.11.20) (*)


1. INTRODUÇÃO



O local de martírio, pelo sofrimento continuado na sua defesa, denominado Madina do Boé, enquanto território circunscrito à intervenção das forças militares que nele combateram até 05/06 Fev 69, continua a suscitar superior interesse no aprofundamento da sua historiografia, onde cada contributo se transforma em mais uma peça do puzzle na reconstrução da memória colectiva da «Guerra dos Doze Anos» (CTIG; 1963-1974).

Pelas diferentes narrativas publicadas na última quinzena, no Blogue, acreditamos que está longe o dia em que se poderá dar por encerrado este dossiê, uma vez que muito ainda estará, provavelmente, por dizer, contar e/ou escrever.

Para além do acima exposto, o conteúdo da carta manuscrita por Amílcar Cabral (1924-1973), em 12 de Abril de 1966 [por sinal dia de aniversário de minha mãe (1928-2015)], e enviada de parte incerta ao seu camarada Aristides Pereira "Xido" (1923-2011), onde são dadas informações sobre diversos assuntos, mescladas com "orientações/ordens", nomeadamente as relacionadas com os planos a desenvolver pela guerrilha no Sector do Boé, que, a partir daquela data, iria receber "reforços operacionais" com a chegada dos primeiros elementos do contingente cubano, está na origem deste texto que identifiquei como "Adenda ao P21529" (*).

Porque, entre os diferentes temas tratados na carta, se aborda a chegada dos primeiros cinco "internacionalistas cubanos": três artilheiros (Antonio Lahera Fonseca, Heriberto Salabarria e Loreto Vásquez) e dois médicos (Rómulo Soler Vaillant e Raúl Currás Regalado), fomos em busca de algo mais consistente para nos ajudar a compreender o papel desempenhado por esses "reforços", oriundos do Mar das Caraíbas, nos tempos que se seguiram.

Para o efeito, começaremos por analisar, no ponto 2, o conteúdo das "memórias do médico-cirurgião militar Rómulo Soler Vaillant", a que tivemos acesso na nossa investigação, em particular aquelas que se enquadram neste contexto.


2. MEMÓRIAS DO MÉDICO-CIRURGIÃO MILITAR CUBANO RÓMULO SOLER VAILLANT (GUINÉ, 1966/67) DA SUA PASSAGEM PELO BOÉ 


O médico-cirurgião militar Rómulo Soler Vaillant nasceu em 1936, na cidade de Guantánamo, uma das dez províncias de Cuba, onde está situada a Base Naval dos Estados Unidos. Já graduado em medicina, e como maior experiência em cirurgia, realiza a pós-graduação no Hospital Militar de Matanzas «Mário Muñoz Monroy» (Setembro de 1965 a Fevereiro de 1966). Durante este período de tempo trabalhou como cirurgião, Chefe do Serviço de Cirurgia e Director do Hospital.


Em Março de 1966, é integrado na missão internacional com destino à Guiné-Bissau, como cirurgião e médico da guerrilha do PAIGC, com o nome de guerra  "Raúl Sotolongo Soler".


Fez a viagem de avião, com escalas,  até chegar a Conacri, na Guiné-Conacri, na companhia de sete outros companheiros, dois eram médicos (ele e o Raúl Currás Regalado) e os restantes artilheiros e morteiristas [como por exemplo: os tenentes: António Lahera Fonseca e Heriberto Salabarria e o soldado Loreto Vásquez].


Conheceu o Amílcar Cabral (1924-1973) com quem conversou por diversas ocasiões, para além de realizar tarefas de organização dos medicamentos e outros do seu perfil médico, às vezes em Conacri, outras em Boké ou já na "mata",  com os guerrilheiros.


Após a chegada do resto do seu grupo "mobilizado" em Cuba, cuja composição era de oito médicos e vinte militares, seguiram por estrada até Boké, uma localidade a mais de duzentos quilómetros, perto da fronteira com a Guiné-Bissau. 


Boké era a base de abastecimento e infiltração para a Guiné-Bissau, com um hospital de rectaguarda. Esta cidade ficava a cerca de 40 - 50 quilómetros de Simber, a linha de fronteira entre as duas Guinés.


Sobre a constituição deste "grupo", recupero as informações publicadas no Poste P16224, da autoria do,  também, médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado, onde se refere: 


"(...) Em 21 de Maio de 1966, depois de me incorporarem neste contingente, constituído por artilheiros, morteiristas e médicos, embarcámos para a Guiné no navio Lídia Doce. A viagem durou dezasseis dias, chegando ao porto de Conacri em 06 de Junho desse ano. "(...) 


Do primeiro grupo de nove médicos, três (?) viajaram de avião porque o PAIGC precisava deles com urgência.


Continua: 


(...) "De Boké partimos em transporte para Simber, linha fronteiriça com a Guiné-Bissau, a passagem decorreu sem dificuldades. (…)

O acampamento base onde nos encontrávamos chamava-se Kanchafra [Kandiafara ?] ou Cubucaré, não me lembro bem, só me explicariam (mais tarde) os Drs. Júlio García Olivera ("Bebo") e o Luís Peraza Cabrera, que juntos formávamos o grupo médico da Região Sul.

"No Leste e Oeste do país (Guiné-Bissau), existiam também grupos guerrilheiros do PAIGC, conselheiros e médicos cubanos, entre eles os Drs. Jesús Pérez, Teudy Ojeda Suárez (ortopedista) e Domingo Díaz Delgado (neurocirurgião), Raúl Currás Regalado (medicina geral) [12Set1941-15Mai1976]


"Faleceu em 15 de Maio de 1976, entre Nova Lisboa e Lobito, durante a sua missão humanitária em Angola] que, como nós, tiveram que realizar diversos procedimentos cirúrgicos. Devo esclarecer que, excepto o Dr. Pedro Labarrere que já era especialista (internista), quase todos nós tínhamos experiência como alunos, em internato e em pós-graduação do referido perfil, mas ainda não éramos especialistas.

Um acontecimento maravilhoso e marcante, para mim e também para todos nós que formamos o grupo de cubanos nas "matas" da Guiné, foi a chegada, como chefe da missão, do Víctor Dreke, um homem simples, valente e com condições mais do que comprovadas como chefe e líder.

O costume dos guerrilheiros era dançar e cantar por dois ou três dias antes de atacar um quartel e, principalmente, quartéis com tropas numerosas e bem armados. 

Sobre este ataque, foi feito um filme com a direcção do cineasta José Massip e pela câmera de Dervis Pastor Espinosa, onde entrei no baile e, sem camisa, passei como um nativo [ver o filme cubano 'Madina Boé' – Poste P21522]. 

Madina Boé era uma região muito importante para os portugueses e também para os guerrilheiros: em duas ocasiões foi atacada e o fogo inimigo [NT] praticamente não permitiu que os guerrilheiros avançassem. 

Desta vez, os Drs. Virgílio Camacho Duverger, Ibrahim Rodríguez, Santiago Milton Echevarria Ferrerá ("Xisto") e eu [Rómulo Vaillant], garantiríamos o ataque ao quartel de Madina do Boé do ponto de vista médico. Camacho e Ibrahim preparariam as melhores condições no Hospital de Boké e Milton e eu acompanharíamos a tropa.

Instalamos o posto médico nas nossas mochilas a menos de um quilómetro de onde aconteceria o combate. Sob o comando dos chefes guerrilheiros do PAIGC e de Víctor Dreke, este quartel foi atacado, houve surpresa por parte do inimigo [NT], causando baixas com um incêndio que duraria cerca de 30 minutos (creio). 

Depois da surpresa e quando saímos dos abrigos, foram incontáveis os reabastecimentos e os disparos de canhões [sem recuo] contra nós, bombardeamentos e lançamentos de morteiros, claro que recuávamos a uma velocidade superior à dos projécteis que nos atiraram. Se não me falha a memória, tivemos apenas cerca de seis ferimentos, todos leves. Nunca corri tanto na minha vida.

Numa ocasião acompanhei um pequeno grupo de guerrilheiros (bigrupo) durante um reconhecimento, fui na frente durante a viagem e ouvi um grito alto de quem era o meu segurança... Raúl... - Não se mexa, não ande, você está num campo minado - e ele começou a guiar os meus passos para que ambos saíssemos do perigo, eu recusei-me a fazê-lo e gritei para ele vir-me buscar, e ao meu lado, eu pulei e subi para cima dele, graças ao meu santo eu saí desse tormento são e salvo". (…)


 


3. - OUTROS FACTOS RELATADOS NO LIVRO "LA HISTORIA CUBANA EN ÁFRICA", DE RAMÓN PÉRES CABRERA, SOBRE AS ACÇÕES MILITARES DOS CUBANOS EM MADINA DO BOÉ,  EM 1966


► FRENTE LESTE



Os três artilheiros cubanos chegados em [29] de Abril: Antonio Lahera Fonseca, Heriberto Salabarria e Loreto Vásquez, seguiram para a Frente Leste que tinha como comandante Domingos Ramos, que havia acompanhado Amílcar Cabral na sua viagem a Cuba para participar na «Primeira Conferência Tricontinental», que decorreu em Havana de 9 a 12 de Janeiro de 1966.



 


Foto 5 – Citação:
(1966), "Amílcar Cabral, Domingos Ramos, Pedro Pires e Vasco Cabral na Conferência Tricontinental em Havana", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44215 (com a devida vénia).

 

Os três cubanos, armados com AK, de fabrico chinês, para além de ensinarem o manejo de artilharia aos guerrilheiros, participavam nas acções destes em combate. Estes foram, com efeito, os primeiros cubanos a participarem nas actividades da guerrilha na Guiné (Bissau).


As acções tiveram início a partir do 1.º de Maio de 1966 contra o quartel de Madina do Boé. Por parte das forças das FARP participaram dois bigrupos, utilizando metralhadoras ligeiras e lança-roquetes, apoiados por dois morteiros 82 mm. Este quartel estava defendido por cerca de duzentos militares com potente armamento que incluía: dois morteiros de 81 mm, três metralhadoras calibre .50  [, 12.7 mm, talvez a Browning] e bazucas de grande potência [, 8.9 cm]. No ataque do dia 1.º de Maio, domingo, as FARP tiveram dois feridos.


No dia 12 de Maio, 5.ª feira, o mesmo quartel foi fustigado novamente, com fogo de artilharia, tendo atingido algumas "barracas". Nos dias 20, 6.ª feira, e 31, 3.ª feira, desse mês, realizaram-se novos ataques. 


Neste último ataque, a resposta dos portugueses causaram dois feridos aos guerrilheiros. No dia 23 de Julho, sábado, realizou-se o quinto ataque contra o quartel, onde participaram forças de infantaria e artilharia das FARP. 


Nessa ocasião foram atingidas quase a totalidade das instalações dentro do perímetro fortificado do quartel, apesar de não serem conhecidas as baixas inimigas [NT].


De facto as NT, neste ataque ao quartel, registaram três baixas, a saber (CECA; pp 202/203):


■ Soldado, Augusto Reis Ferreira, natural de Montargil (Ponte de Sôr);

■ Soldado, Carlos Manuel Santos Martins, natural da Cova da Piedade (Almada);

■ 1.º Cabo, Rogério Lopes, natural de Chão de Couce (Ansião).



Capa dp livro de Ramón Pérez Cabrera


Os guerrilheiros (FARP) tiveram três mortos e vários feridos. No dia 31 de Julho, domingo, foi realizado um novo ataque ao quartel com fogo de artilharia.

Neste mês de Julho de 1966, chegou à Guiné (Bissau) o 1.º comandante Raúl Menéndez Tomassevich a pedido de um grupo de oficiais das FAR  [, Forças Armadas Revolucionárias, cubanas], acompanhando, pelo país, Amílcar Cabral, João Bernardo Vieira "Nino" e Francisco Mendes. 

Na companhia de Tomassevich faziam parte os comandantes Lino Carreras, Flávio Bravo e outros comandantes das FAR. Tomassevich permaneceu vários meses assessorando os membros das FARP na organização das Bases guerrilheiras e participou na planificação da «Operação Madina do Boé», efectuada nos dias 10 e 11 de Novembro de 1966.

Esta seria a maior acção realizada até esta data pelas FARP.


No dia 10 de Novembro, 5.ª feira, às cinco da tarde, os guerrilheiros iniciaram os ataques com fogo de canhões e morteiros contra as instalações do quartel, onde estariam uns trezentos efectivos sob o comando de um capitão [o Cap Mil Inf Jorge Monteiro, autor do livro «Uma Campanha na Guiné; 1965/67»] que, entrincheirados nas suas fortificações defendiam-se com as suas armas de infantaria apoiados por potentes armas pesadas: dois morteiros de 81 mm, três metralhadoras de .50  [12,7 mm ] dez metralhadoras de .30 [7.62 mm].  Os atacantes estavam acompanhados por cerca de trezentos e cinquenta guerrilheiros que contavam com boas armas de infantaria e um poderoso armamento pesado: três canhões sem recuo de 75 mm, três morteiros de 82 mm, 15 lança-roquetes e seis metralhadoras antiaéreas de 12,7 mm, utilizadas em tiro rasante.

As acções planificadas pelo comandante Tomassevich, em coordenação com Amílcar Cabral, previam ainda a inclusão de emboscadas de contenção nas áreas de circulação terrestre e fluvial, assim como contra helicópteros. Na liderança das forças atacantes estava o comandante Domingos Ramos, membro do comité político do PAIGC e um dos líderes mais queridos e respeitados pelos guerrilheiros.

No combate participaram seis internacionalistas cubanos: os tenentes Aurélio Riscard Hernández, Heriberto Salabarria Soriano, Virgílio Camacho Duverger, médico, os soldados Loreto Vásquez Espinosa e Milán Suárez, anestesista. Também participou Ulises Estrada Lescaille [nome de Guerra, de Dámaso José Lescaille Tabares (11.12.1934-26.01.2014], membro da Inteligência cubana. (Op. Cit; pp 100-101).


Fonte: https://books.google.pt/books?id=4HT2AgAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false




4.  TESTEMUNHO DO MÉDICO CUBANO VIRGÍLIO CAMACHO DUVERGER (1934-2003) O ATAQUE AO QUARTEL DE «ADINA DO BOÉ EM 10 DE NOVEMBRO DE 1966 – Poste P16613


Ao terceiro mês de estar na região Leste [novembro'66], é-lhe pedido que realize um reconhecimento ao quartel de Madina do Boé, considerada por si como a missão mais importante em que participou, tendo por companhia o dr. Milton Echevarria, médico do seu grupo na Frente, e o apoio de guias/guerrilheiros destacados para aquela acção, caminhada que, disse, demorou perto de cinco horas, uma vez que a base estava a cerca de três quilómetros dali.

Em 10 de novembro de 1966, uma quinta-feira, a operação concretizava-se. Antes do ataque, na companhia de um enfermeiro cubano anestesista que havia chegado para reforçar o grupo de saúde, criou um posto sanitário avançado em território da Guiné-Bissau, perto da zona do combate, de modo a facilitar a assistência médica e a prestar os primeiros socorros aos combatentes que ficassem feridos, pois não era fácil chegar ao Hospital de Boké.

Conta que a primeira morteirada lançada pelos portugueses [da CCAÇ 1416] cai, por casualidade, no local onde estava o posto de observação no qual se encontrava o comandante da Frente, o guineense Domingos Ramos. Os estilhaços da granada atingem-lhe o abdómen causando-lhe uma ruptura hepática violenta que não deu tempo para o levar até ao hospital para o poder operar. 

Durante a evacuação, a caminho do hospital [não indica qual: se a enfermaria que ajudou a criar em território da Guiné-Conacri, se o Hospital de Boké], Domingos Ramos faleceu.


Nota final: 

Para mais detalhes sobre a morte de Domingos Ramos, consultar o poste P16662 > Domingos Ramos, desertor do exército português e herói nacional da Guiné-Bissau: entre o mito e a realidade: as últimas palavras que ele nunca poderia ter dito, nem muito menos escrito, antes de morrer, em 10/11/1966, no ataque a Madina do Boé (Jorge Araújo).


► Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).


Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001).


Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

13Nov2020

__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 9 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21529: (D)o outro lado do combate (61): A chegada dos primeiros cubanos em abril de 1966, e o reforço da guerrilha no Boé, conforme carta de Amílcar Cabral para "Xido", o nome de guerra de Aristides Pereira

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, adorei este parágrafo do médico:

Numa ocasião acompanhei um pequeno grupo de guerrilheiros (bigrupo) durante um reconhecimento, fui na frente durante a viagem e ouvi um grito alto de quem era o meu segurança... Raúl... - Não se mexa, não ande, você está num campo minado - e ele começou a guiar os meus passos para que ambos saíssemos do perigo, eu recusei-me a fazê-lo e gritei para ele vir-me buscar, e ao meu lado, eu pulei e subi para cima dele, graças ao meu santo eu saí desse tormento são e salvo".

Jorge Araujo disse...

Luís; para além dessa passagem (situação) bem interessante, porque a compreendemos perfeitamente, eu seleccionei outra, que é a do parágrafo anterior ao teu:

"Depois da surpresa e quando saímos dos abrigos, foram incontáveis os reabastecimentos e os disparos de canhões [sem recuo] contra nós, bombardeamentos e lançamentos de morteiros, claro que recuávamos a uma velocidade superior à dos projécteis que nos atiraram. Se não me falha a memória, tivemos apenas cerca de seis ferimentos, todos leves. Nunca corri tanto na minha vida."

(...) "recuávamos a uma velocidade superior à dos projécteis que nos atiraram. Nunca corri tanto na minha vida".

É hilariante!

Saúde... Abraço, J. Araújo

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... de entre toda aquela grandiloquente narrativa de um médico castrista, apreciei, sobremodo, o qualificativo "missão humanitária" que mercenários cubanos teriam exercido nos inícios da decurso da guerra civil em Angola. Aliás, como todos sabemos, a OSPAAL desempenhou em África missões internacionalistas essencialmente... humanitárias. Tenham dó!
'Anyway', há que enaltecer o veterano Jorge Alves Araújo, pelos seus trabalhos de sapa na recolha de informações e subsequentes partilhas 'pro bono'.
Saudações.

Antº Rosinha disse...

A fama da qualidade e experiência destes médicos, perante o povo de Bissau, não era a mais bonita.

Antes pelo contrário, caso alguem tivesse um pequeno arranhão num braço que não fosse a um médico cubano, porque a solução era "sacar el braço".

Claro que tinha que haver um desconto ao humorismo em crioulo dos guineenses, que é muito venenoso.

Isto no ambiente do ainda presidente Luis Cabral.

Anónimo disse...


Informação.

Amanhã, vão transladar o que resta do corpo, do antigo Presidente da Republica,

Nino Vieira.

Para o forte da Amura, estava sepultado no cemitério Bissau.

Anónimo disse...

EXPLICAÇÃO

O mais fácil e rápido é amputar, daí a fama dos médicos cubanos.
Acham piada aos depoimentos dos médicos, é pura e simplesmente a "escola soviética" no seu melhor.

AB

C.Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Caro ex-artilheiro Manuel Augusto Caria Martins, veterano da Guiné do-quase-fim,
De facto: a escola soviética; bem sei.
Ora, entre "apreciar" e "achar piada" está a evidente distância do meu sarcástico nojo.
Cordiais saudações.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Comentador anónimo (que nos pediu a reserva da identidade), obrigado pela informação, mais esse (, a polémica à volta da trasladação dos restos mortais do ex-presidente da República da Guiné-Bissau, João Bernardo 'Nino' Vieira para o "panteão nacional", na fortelaza da Amura) é um assunto interno dos guineenses, que não tem (ou não deve ter) cabimento aqui no nosso blogue.

Mantenhas. LG

Valdemar Silva disse...

Luís
É o que tem a nossa Tabanca Grande Luís Graça & Camaradas da Guiné.
É como nas igrejas de portas abertas: entram crentes e não crentes. E até, algumas vezes, entram cães por terem as portas abertas.

Abracelos
Valdemar Queiroz