quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Guiné 61/74: P21559: Arte guineense, fula e mandinga (Luís Dias, ex-alf mil inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > O chefe da tabanca, com o traje usado durante o período do Ramadão [detalhe: usa ao peito um colar de prata, trabalho que só podia ser de ourives mandinga, vd. foto nº 8]


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Cerimónia do Ramadão


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi >  s/d [c. 1972/74] > Arte fula; alfange  e punhais, com bainha de couro




Foto nº 4 Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > s/d , c. 1972/74]  > Arte mandinga, pulseira em prata do ourives de Bafatá


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula; machados da fertilidade: o masculino, à esquerda;o feminino, à direita.


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula  [?} > O alf mil Luís Dias empunhando um canhangulo de caça grossa


Foto nº 7  Guiné > Região de Bafatá > Bafatá >> 1972 > Arte mandinga:trabalho do ourives de Bafatá, o Tchame, já falecido.

Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > s/l > s/d > Arte mandinga: colares de prata



1. Mensagem de Luís Dias [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), o nosso especialista em armamento; tem mais de 8 dezenas de referências no nosso blogue]:


Data - sexta, 6/11, 12:10
Assunto - mais fotos agora de material de arte fula 


Seguem mais fotos, agora de arte fula e algumas de arte mandinga:.

(i) Arte fula: machados da fertilidade (representado à esquerda, o macho, e à direita a fêmea) [Foto nº 6];

(ii) Arte guerreira fula: alfange com com bainha de  couro  [, Foto nº 3];

(iii) Trabalhos em prata do famoso ourives de Bafatá [, de seu nome Tchame] [Fotos nºs 4 e 7];

(iv) Traje de cerimónia do Chefe da Tabanca do Dulombi, no período do Ramadão [Foto nº 1] e o Ramadão na Tabanca do Dulombi, ambas de 1972 [Foto nº 2];

7ª Um canhangulo usado pela população do Dulombi para abater animais de maior porte.



Foto nº 9 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > O Tchame, o famoso ourives de Bafatá, em dia de Ramadão frente à Mesquita, com os seus dentes de ouro.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > Uma pulseira, executada pelo ourives de Bafatá, , que a minha amiga Regina Gouveia, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia.


(...) De seu nome Chame (não sei se é assim que se escreve o nome), era conhecido em toda a Guiné pelo seu trabalho de ourives. Executava peças de prata e de ouro como qualquer oficina de ourivesaria de Gondomar e digo isto porque o género de trabalho mais praticado por ele era muito semelhante à nossa filigrana. 

Por mais que uma vez estive na sua oficina, uma pequena palhota na tabanca da Ponte Nova. No chão uma pequena fogueira ladeada por duas pedras onde eram colocados os cadinhos para derreter os metais e onde, soprando com o auxílio de um maçarico de boca, se iam soldando os fios dos metais preciosos. Completava a oficina, uma pequena mesa com ferramentas rudimentares. 

Lamento não ter tirado uma foto das instalações, mas não tinha flash. Numa das vezes fui lá com a minha mulher e comprámos-lhe uma pulseira (ver foto). Mas talvez o mais espectacular é que era o artífice das coroas de ouro dos seus próprios dentes, serviço que não fazia a mais ninguém. (...)

Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

14 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Também tenho esse artesanato.
Os enfeites das kafalas(?) de couro eram feitos de palha - ou ráfia - cosida nuns golpes dados no cabedal.
Há alguém que saiba para que servem aquelas caixas redondas penduradas nos fios de prata?
É só ronco ou transportam alguma coisa?

Bom dia e um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tó Zé, vou perguntar ao nosso Cherno Baldé mas ele tem andado muito ocupado,por razões profissionais...

Tens razão, as alfanges e os punhais eram revistados em couro e ráfia... Abraço. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma hipótese é as caixinhas dos colares de prata (, que só os indivíduos de estatuto elevado podem usar...) servirem para guardar os "amuletos"... Os meus soldados, fulas, usavam "amuletos" em pequenas bolsas de couro fechadas, que usavam penduradas no peito, ou atadas nos braços, mas também na cintura... Também os guerrilheiros do PAIGC usavam amuletos e não eram poucos... E nós também tínhamos os nossos...

Todo o combatente, em todas as guerras, é "supersticioso"...

Que dizes, mano Cherno ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Consultei o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa...

«Kafala» é um termo islâmico jurídico e significa adopção legal...


https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-significado-de-kafala-termo-juridico-islamico/26906

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Canhangulo é um vocábulo de origem angolana, vem do quibundo... Como se diz em crioulo da Guiné ? Não me recordo... "Longa" ?

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canhangulo | s. m.

ca·nhan·gu·lo
(do quimbundo)
nome masculino
[Angola] Espingarda antiga ou de fabrico artesanal, de um só cano comprido e estreito, que se carrega pela boca.


"canhangulo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/canhangulo [consultado em 19-11-2020].

Valdemar Silva disse...

Também tenho um alfange igual à da imagem, que em tempos utilizei para cortar um esticador de arame para cortinados e ficou cheio de bocas.
A minha faca de mato, também a mandei "vestir" como a da imagem, com o aço impecável, ainda a utilizo para abrir alguma lata sem abertura fácil. (P16324)
Quase todos soldados fulas da minha CART11 usavam "amuletos" envolvidos em couro. Tenho um com cerca de 7cm envolvendo uma presa ou corno, só com a ponta à vista, de forma triangular para pendurar ao pescoço.
Nós também usava-mos as nossas medalhinhas nos fios ao pescoço e até santinhos que as nossas mães metiam nas nossas carteiras. A propósito de medalhinhas, o soldado Mamadu Cano, do meu Pelotão, quando eu vim de férias pediu-me para lhe trazer de Lisboa 'fio doro com cruz', provavelmente por ver muitos de nós com um crucifixo. Evidentemente que me esqueci desta e de muitas outras 'trás-me' de Lisboa.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caros amigos Luis e Valdemar,

Como podem notar, a arte entre fulas e mandingas é um prolongamento da arte do entao chamado Sudao Ocidental com o centro em Mali que apos a independencia e durante alguns anos o teria adoptado como nome oficial do pais. O Mali, como império e centro de cultura na Africa Ocidental, de modo geral, foi zona de apropriaçao e expansao da religiao muçulmana e das artes dos povos arabes.

Respondendo a questao dos colares em prata, a vossa deduçao é logica e faz sentido, pois que as caixinhas teriam sido feitas para alguma utilidade como guardar e/ou transportar pequenas coisas de valor e uso pessoal. Da minha experiencia em criança, tenho visto em ocasioes de festas a minha mae abri-la e retirar de la dinheiro em moedinhas de prata (poucas), brincos das filhas mais pequenas e até pedaços de cola. No caso dos homens, certamente, era mais para ronco, como diz o Tozé, sem excluir a possibilidade de transportar amuletos ou guardas, nao sendo todavia uma pratica muito usada, porque estes, normalmente, eram considerados adornos modernos e de luxo ao alcance de poucos e também pouco propicios para albergar ou atirar poderes de protecçao. Para isso era utilizado exclusivamente a pele (couro) dos animaes.

O Canhangulo em Crioulo da GBIssau é Longa, e em fula é "Noku-low" quer dizer (a arma de) "carregar a mao". O meu avo materno tinha uma igual e era carregada, salvo erro, pela boca com um chifre de boi, utilizando um pequeno cabo para empurrar e compactar a polvora.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

António J. P. Costa disse...

Olá Cherno

Mas as bainhas das espadas e punhais eram as kafalas tinham outro nome?
Eu também tenho um chicote em cabedal com uma faca embutida

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Caros Luís e Tozé,

O termo Cafala é de origem árabe e pode ter diferentes significados, entre os quais de protecção (bainha) ou de adopção no sentido da protecção social ou familiar muito usado no seio das tribos árabes do próximo e mêdio Oriente. O mesmo se poderá dizer do termo Alfange.

Pode ser que tenham outros nomes nas línguas fula ou mandinga, mas não conheço. Eu nasci na época das armas automáticas e nunca tive nenhuma curiosidade ou fascínio por armas dos séculos Passados.

Abraços,

Cherno AB

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Aprendi o termo cafala em Cacine, com os fulas da Comp. Mil.ª n.º 21 em 1968.

Um Ab.
António J. P. Costa

Juvenal Amado disse...

Luis Graça

Ainda tens a espada fula ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Olá, Juvenal, está lá em casa (, em Alfragide)... à espera de ir para o nosso futuro museu da Tabanca Grande... Mas posso devolver-ta quando quiseres... Vou tirar uma foto e tu escreves um pequeno texto sobre a sua "história": onde a compraste, a quem, etc.

Um abracelo. Luís

Valdemar Silva disse...

Quem esteve na tropa em Santarém e nos fins de semana utilizava o comboio para vir a casa, recorda-se, no regresso, a dificuldade que era subir aquela estrada em ziguezague da estação até ao quartel. O táxi era muito caro, só havendo quatro para dividir a bandeirada ficava um pouco mais barato.
Não muito longe da estação fica a localidade ribeirinha de Alfange. Este topónimo nada tem a ver com sabres ou espadas, ma sim com "cobra" ou calçada ziguezagueante de ligação da cidadela num ponto alto a um núcleo ribeirinho.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Ainda sobre Alfange, freguesia ribeirinha de Santarém, Luís Mata escreve no "Substrato Levantino da Cultura Imaterial do Estuário do Tejo" que Alfange 'estribada do árabe Alhanse (al-Hanas «a cobra»)' também aparece em Badajoz, Valência e norte de África em locais com a mesma topografia, e também aparecem em grafias moçárabes mais antigas Alfansi, Alfanxi, Alfanxe.
Como curiosidade o célebre Alfageme de Santarém, fabricante e afiador de espadas, era alfageme e não alfangeme.

A conversa começou com os "roncos" e já chegou a isto..... como as cerejas.

Valdemar Queiroz