domingo, 15 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21545: Blogpoesia (705): "As vielas das casas", "Quando se avizinha a noite" e "Rostos frios, malévolos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As vielas das casas

Tecem lendas
São inversas as vielas das casas, na cidade.
Traçam ruas paralelas, oblíquas.
São avessas as travessas cruzadas.
Traçam praças, cruzamentos, inquinados.
Tecem lendas. Com enigmas.
Rezam fados.
Caçam vento. São moinhos.
Opacos. Helicoidais.
Têm fendas. Resquícios.
Cheias d'ervas.
Opíparas. Comem traças.
Desalmadas. São secretas.
Repelentes. Têm penas.
Eremitérios.
Almas penadas, esvoaçantes.
Têm postes. Guarda-fios.
Guardam espíritos.
Como morcegos.
Fogem delas.
Erram vadios.
Cumprem penas.
Têm estigmas.
De tão ermas.
Ficam desertas.


Berlim, 10 de Novembro de 2020
9h19m
Jlmg


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Quando se avizinha a noite

Quando se avizinha a noite e se acendem as estrelas.
Chegou a hora de fazer as contas.
Valeu a pena o dia?
O que há que corrigir?
Viver só por viver não vale a pena.
É preciso operar o bem e fugir do mal.
Deixar entrar o sol na nossa vida.
Acender o fogo do nosso amor.
Ir à luta em cada dia para frutificar.
A árvore que não presta só serve para queimar.
Aproveitar o que falta viver para ser o se deve ser.
Todos temos o nosso dom.
Ninguém possui o nosso jeito.
Temos a obrigação de o exercer.


Berlim, 12 de Novembro de 2020
9h10m
Jlmg


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Rostos frios, malévolos

Rostos frios, malévolos.
A vida para eles não tem valor.
A morte é um instrumento.
Usá-lo quando for preciso.
A todos que têm poder ou lutam contra a opressão.
Onde quer que seja e seja lá onde for.
Se infiltram pelas escadas.
Se espalham pelos corredores.
Cátedras e catedrais são seu pelouro.
Só descansam quando as derrubarem.
Instrumentos do mal.
Não desarmam enquanto não derrubarem tudo.
Sementes do mal que crescem por toda a parte.
Mal dos tempos.
Sinal de que o mundo inteiro se tresmalhou.
Só a nova ordem será o remédio santo.
Aquela que só o Criador poderá arquitectar.


Berlim, 12 de Novembro de 2020
14h33m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21525: Blogpoesia (704): "O comboio que chega", "Rotação da Terra" e "A paz do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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