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segunda-feira, 24 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26611: Notas de leitura (1783): "Futuros Criativos"; edição da Associação para a Cooperação Entre os Povos, Fundação Portugal-África e Instituto Camões, 2019 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Aconteceu andar a passear pelo Campo dos Mártires da Pátria e resolvi entrar no Goethe-Institut, aqui se promove a língua e cultura alemãs, tem permanentemente livros em saldo, dirigi-me em primeiro lugar à biblioteca, se tinha vindo alguma coisa sobre a Guiné-Bissau, que não, mas lembrava-se que havia ali uns expositores de livros em segunda-mão qualquer coisa que falava da Guiné-Bissau. Matei a barriga de misérias, encontrei um cd com os concertos de flauta de Georg Philipp Telemann, interpretações prodigiosas, livros de fotografia e, cá está, este Futuros Criativos que me encheram a alma, naquele dia em que vinham notícias tão sombrias de uma terra que tanto amo, e aqui fica esta minha homenagem àquele povo que não desfalece com sucessivos piratas em lideranças políticas, são a estes futuros criativos que mando o meu abraço e votos de resiliência, haverá um dia em que este povo amável encontrará lideranças justas.

Um abraço do
Mário



Futuros Criativos da Guiné-Bissau (1)

Mário Beja Santos

Futuros Criativos tem a ver com economia e criatividade em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, e Timor-Leste, acolhe um conjunto de atividades desenvolvidas pela ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos, edição da ACEP, Fundação Portugal-África e Instituto Camões, 2019. Aqui são repertoriadas atividades em parceria com organizações e pessoas destes países de língua portuguesa ao longo dos últimos quatro anos, com o objetivo de conhecer e valorizar a inovação e a criatividade como fatores de desenvolvimento.

A criatividade e inovação estão cada vez mais na base da valorização de recursos endógenos e até identitários, de descoberta de novas soluções para uma multiplicidade de desafios, assistimos à criação de oportunidades para jovens, uma maior igualdade na inserção das mulheres no trabalho e nas comunidades, inclusão de populações rurais envelhecidas, uma gestão de recursos de forma sustentada, valorização de culturas nacionais, com o recurso a inovações da ciência e da técnica. A economia criativa é um conceito baseado nos recursos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento económico. Aqui se passam em revista experiências em território da Guiné-Bissau que abarcam diferentes áreas, mas que certificam que a economia criativa permite o desenvolvimento de atividades económicas suportadas pelo capital cultural, criativo e artístico, transversal aos contextos culturais, artísticos, sociais e económicos e que conferem um caráter único aos bens e serviços gerados.

Escrevo este texto numa ocasião uma vez mais tão dolorosa para o povo da Guiné-Bissau, o que aqui mostro, retirado deste esplêndido livro, é a minha rendida homenagem a um povo que tanto amo, tem a sorte madrasta de ser dirigido por classes políticas cúpidas, dominadas pela agiotagem, expedientes de corrupção, tenebrosos compadrios de negócios, incluindo os da droga. Um povo que nos deslumbra pela capacidade de superara adversidade e de usar a inovação e o criativo como recursos ilimitados.


Os Netos de Bandim: amigos das crianças e das artes

São crianças e jovens entre os 4 a 30 anos de idade e todos têm uma paixão pelas artes culturais e tradicionais dos diferentes grupos étnicos que representam a cultura guineense. Surgem da iniciativa da organização não-governamental guineense Amigos das Crianças, em 2000, com o objetivo de sensibilizar para a maior promoção da cultura guineense, recolhendo e divulgando elementos de expressão dos diversos grupos étnicos do país. Rapidamente se transformou também em instrumento de sensibilização através da dança, música e teatro, reunindo cerca de 120 associados jovens, do bairro de Bandim, em Bissau. As receitas provenientes das atuações revertem para a educação dos seus associados e para o apoio em despesas de saúde. Os Netos de Bandim são uma presença assídua no Carnaval e já representaram o país na maior manifestação de Carnaval do mundo – o Carnaval do Brasil.
Imagens dos Netos de Bandim

Irmão Unidos, pelo sangue e pelas artes plásticas

Começaram por pintar cabaças, no início dos anos 2000. Criaram então o grupo “Irmãos Unidos”. A pintura foi-se tornando uma forma de contribuir para a dinamização da cultura guineense. Neste sentido envolveram-se na Associação de Artistas Plásticos, onde Lemos Djata tem exercido funções como presidente. Já apresentaram o seu trabalho em exposições individuais e coletivas na Guiné-Bissau, Cabo Verde, Senegal e Egipto, Portugal, França, Bélgica e Espanha. Foram galardoados como os melhores pintores do ano em Bissau, em 2005, tendo recebido prémios e distinções por organizações da Polónia, de Portugal e da diáspora guineense. Sentido que as artes plásticas têm ainda pouco espaço na Guiné-Bissau, procuram divulgar o seu trabalho num espaço de exposição coletiva em Bissau, onde apresentam o seu trabalho, com outros artistas plásticos nacionais.
Os Irmãos Unidos, Ismael e Lemos Djata
Imagem de um dos seus trabalhos

A deslumbrante panaria que sai dos panos de pente

Fundada em 2004, a Artissal é uma associação guineense que trabalha na recuperação e valorização da panaria guineense. Os panos de pinti (de pente, o tipo de tear utilizado) são tradicionalmente utilizados nas mais importantes cerimónias das pessoas e comunidades, principalmente das etnias Papel e Manjaca, e a sua produção é habitualmente realizada por homens, a partir de conhecimentos e técnicas ancestrais, transmitidos entre gerações. A associação tem desenvolvido um trabalho de pesquisa e recuperação de materiais e padrões antigos, de práticas de tecelagem e de modelos de teares, introduzindo elementos de melhoria, quer na qualidade das matérias-primas quer na qualidade dos processos de trabalho. Tem igualmente dinamizado grupos de mulheres tecelãs, de etnia Papel, que participam de grupos de formação com artesãos, abrindo assim esta atividade às mulheres. Com o propósito de melhorar a dinâmica de produção e a geração de rendimento para os artesãos e artesãs, estes estão organizados em cooperativas e numa federação: a Cooperativa Bontche, em São Paulo, Bissau, a Cooperativa Djaguimobilar, em S. Domingos, e a Federação Sitna Bissif, em Cacheu. A Artissal procura integrar estes grupos em redes nacionais e internacionais de comercialização solidária, contribuindo para a divulgação da panaria tradicional guineense e para a comercialização dos produtos por um preço justo. A qualidade desta panaria tem sido alvo de reconhecimento que permite a continuidade do projeto, pelos apoios que estimulam a continuidade.
Artissal, os maravilhosos panos de pente

B&F, a engenheira que se dedica à moda

Nérida Fonseca é uma jovem engenheira informática que trabalha para uma grande empresa internacional de telecomunicações. Em 2014, decide criar a sua própria empresa, a Batista & Fonseca, que se dedica à produção e comercialização de acessórios de moda e decoração a partir de elementos tradicionais da cultura guineense – o pano de pinti. Este artigo, tradicionalmente associado às cerimónias fúnebres e matrimoniais das etnias Papel e Manjaca, adquire novas formas e funções nas criações de Nérida. O que é que faz correr esta engenheira informática? A paixão pela moda e pelo seu país, a que se aduz a sua capacidade enquanto autodidata, o que lhe permitiu aliar o design contemporâneo ao saber tradicional pano de pinti. Inicialmente, tudo o que confecionava era ou para uso exclusivo na própria casa ou para dar presentes aos amigos e conhecidos. A receção que as diferentes peças tiveram no mercado foi determinante para a formação da dimensão comercial. E o aeroporto de Bissau tem sido a sua rampa de lançamento.
B&F, acessórios de moda e decoração a partir de elementos da cultura guineense

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 21 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26603: Notas de leitura (1782): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 3 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11087: Blogues da nossa blogosfera (62): Grupo Cultural Netos de Bandim, Bairro de Bandim, Bissau... Pequenos grandes embaixadores da cultura guineense





Historial do Grupo Cultural  “Netos de Bandim”

Definição do Grupo

(i) O Grupo Cultural “Netos de Bandim” foi criado no dia 12 de Novembro de 2000, no Bairro de Bandim, Bissau,, com carácter associativo;

(ii) É composto por jovens e crianças de várias faixas etárias e grupos étnico-linguísticos;

(iii) Integra hoje 90 integrantes entre os 4 e os 45 anos.

(iv) Apresentam danças típicas das várias etnias do país, entre elas a Balanta (com as danças Nhaê e Ksundé), Felupe (dança da “rapaziada”) e Bijagós (danças kampuné e kabaró);

(v) O Grupo nasce da iniciativa de um pioneiro, um verdadeiro animador sociocultural, formador e líder,  Ector Diógenes Cassama [, vd aqui uma entrevista com ele];

(vi) A ideia original da criação da associação foi  unir jovens e crianças para trabalharem  no domínio cultural, contribuindo desse para a prevenção e redução da delinquência juvenil e da exclusão social no país.

Objectivo do Grupo

 O Grupo tem como objectivo:

(i) Estabelecer uma comunicação transversal no seio da população através da arte e da cultura;

(ii) Promover sessões de intercâmbio, de manifestação e divulgação da criatividade em diferentes cenários sócio-culturais contribuindo assim para uma sociedade mais rica e pacífica;

(iii)  Promover a formação das crianças e jovens e agrupá-las para uma maior formação pessoal e intercultural.

Objectivo Específicos:

(i) Promover e divulgar a cultura nacional dentro e fora do país;

(ii) Sensibilizar a comunidade sobre a mudança da mentalidade face aos Direitos das Crianças;

(iii) Incrementar o protagonismo infanto‑juvenil na abordagem comunitária dos problemas que afetam a infância e a maternidade;

(iv) Dar às crianças a possibilidade de expressar as diferentes formas de violações dos seus direitos através de danças, canções, teatros e poesias;

(v) Criar o espírito e a dinâmica cultural no seio das crianças;

(vi) Mobilizar a adesão das populações em matéria da implementação da CDC [, Carta dos Direitos das Crianças ?];

(vii) Proporcionar momentos de intercâmbios entre as crianças de diferentes horizontes culturais.


O grupo tem já um vasto currículo dentro e fora do páis. Destaque-se, a título meramente exemplificativo


2000 - Fevereiro > Participação no desfile do Carnaval infantil do Bairro Bandim, organizada pela Associação dos Amigos do Centro de Saúde de Bandim “Acesa – Bandim”;


2003 - Participação na campanha de luta contra a Mutilação Genital Feminina Organizada pela AMIC / INDE. (Em Fevereiro):  Participação na campanha de luta contra paludismo organizada pela INDE (Abril); Participação na campanha de luta contra o HIV/Sida organizada pela INDE (Dezembro);

2006 - Participação no desfile do Carnaval organizado pela  ONG Tiniguena (Fevereiro); Participação no desfile do Carnaval Nacional (Fevereiro);

2007 - Setembro > Realização de uma campanha de sensibilização sobre os direitos das crianças através de poesias, músicas, peças e danças tradicionais no Bairro de Bandim.


Os anos seguintes foram de atividade intensa, com atuações praticamente em todos os meses, até chegar a sua internacionalização (Brasil, Cabo Verde, etc.). Vejam-se aqui alguns vídeos:




Ver aqui no Google mais imagens deste pequenos grandes embaixadores da cultura da Guiné-Bissau. Ver também no You Tube, onde estão disponíveis diversos  vídeos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10975: Blogues da nossa blogosfera (61): Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral: mais de 10 mil documentos, integralmente tratados, abertos a partir de hoje ao público