Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Tabanca de Candoz > 31 de Agosto de 2011 > Último dia do meu/nosso querido mês de Agosto... Deu-me saudades do sol, do sal, do sul, a que também pertenço... Fui revisitar um poema escrito há 3 anos, no bar da Peralta, no bar Victor, quase a 400 quilómetros a sul desta minha Tabanca nortenha (onde também sou querido e mimado)... Parto daqui a umas horas, rumo ao sul, de regresso a casa, depois de ter participado na nossa vindima (que é sempre azáfama e festa) e de ter feito muitas fotos e vídeos... Segunda feira, 5, entra-se nas calhas da (a)normalidade... Até lá, apetece-me agradecer à vida... a movida!... E a todos os amigos com quem estive nestas férias que já não são tão grandes como antigamente... E em homenagem ao meu pai, meu velho, meu camarada, que fez 91 anos no passado dia 19 de Agosto... E ainda a todos os demais aniversariantes do mês de Agosto... E, por fim, a todos os leitores do nosso blogue (amigos, camaradas, camarigos...) que tiveram a benevolência e a pachorra de alinhar neste passatempo das Fotos à procura de... uma legenda. Espero que se tenham divertido tanto quanto eu... (LG)
Fotos: © Luís Graça (2011). Todos
os direitos reservados
Gracias à la
(mo)vida
por Luís Graça
A vida é la movida.
É Sagres.
É Boémia.
E choco frito.
Tudo o que a gente gosta.
Uma esplanada à beira-mar.
O sol.
A maresia.
A boa vida.
A sorna.
O fado.
A morna.
O dolce far niente.
Com a gente de quem se gosta.
Muito, pouco ou nada.
Mais a Nossa Senhora dos Milagres
Que te acode,
Quando aflito.
Enquanto a maré sobe.
E a noite espreita.
E a morte não pré-avisa.
Olha a moreia da costa,
Que é a melhor do mundo.
A vida é pregão.
A vida é merda.
A vida é Sagres, é Boémia.
A vida é hipoglissémia.
A vida é adrenalina.
A vida é prego a fundo.
A vida é stresse.
Sexta-feira à tarde,
Ao fim da tarde,
Uma hora antes do pôr do sol.
A vida é festa.
La fiesta, amigo.
Vengo de la altiva Castilla.
No TGVê espanhol
Que não paga imposto
Único
De circulação.
Que o futuro não paga imposto,
Nuestro hermano.
Pressupuesto, amigo.
Que viva la siesta!
Que viva la vida!
Mas agora que vem aí a crise,
Como é que eu chego à ponta mais
Acidental
Da Europa ?
Para comer o meu choco frito,
No bar da Peralta,
A las cinco de la tarde.
Com navios negreiros,
Fantasmagóricos,
Na linha do horizonte,
A quinze milhas.
Com os jacobinos do Junot
Na película da memória.
E o Vimeiro aqui tão perto.
Com autos de fé,
Mouros, judeus, corsários,
No meu ADN de português
Sem história,
Maçarico, maltrapilho, errante.
No mar onde naufragam
Todas as boas consciências
E se afinam as ciências,
As ditas duras mais as ditas moles.
Um homem sorri com meia-cara
O sorriso amarelo do cinismo.
Aqui,
No cabo da terra,
Onde se proclama a ditadura do sucesso.
E do novo riquismo.
Com o isco
Da vã glória de ganhar
A medalha olímpica.
A vida eterna.
O Nobel.
Um lugar no paraíso.
O Olimpo,
Condomínio fechado dos deuses.
Que dos perdedores não reza a História.
A vida é la movida
No Peralta Bar,
no Bar do Victor,
Que não vem na lista do Expresso
Da Boa Cama, Boa Mesa & Roupa Lavada.
Haja lugar à mesa,
Comprida,
E valha-nos Baco, velho compincha.
Viva o Portugal do petisco!
Viva o mês de Agosto,
O meu querido mês de Agosto!
Deixei os meus velhos
Institucionalizados
Nacionalizados
Alegaliados
Sedados
Securizados
Acorrentados
À árvore do Welfare State.
Na Atalaia,
A caminho do Porto das Barcas.
Ficaram aos cuidados de uma ucraniana
Que era enfermeira na sua terra,
E da santa padroeira
Dos pescadores,
A Nossa Senhora da Guia.
Que há sempre uma santa para todas as aflições,
Das dores do parto
À agonia da morte.
Que às vezes, mais vale a morte
Que tal sorte.
Tenho insónias às cinco da manhã,
Mesmo sabendo que da janela
Do quarto dos meus velhos
Há uma linda vista para as Berlengas.
E que a associação é
Cultural,
Social,
Artística,
Desportiva
e Humanitária.
Minha mãe, minha avozinha,
Tens a graça até no nome,
Não é por seres mais velhinha
Que de amor passarás fome.
Passo pela loja do chinês,
Fugido de Tianamen,
E compro um prato
De Alcobaça, pintado à mão,
De contrafação.
Com quadras pimbas
Ao amor de mãe…
Brilhas como uma estrela,
No teu quarto, lá no lar,
Tens uma linda janela,
Com vista de céu e mar.
Quem disse que a vida é bela,
E que as mães é que dão cabo dela ?
Desligo o botão da televisão,
Puxo o reposteiro da janela
Donde vejo o mundo a cor de rosa,
Arrumo o cavalete
E as tintas do arco-íris.
E peço uma posta de moreia frita
E um copo de tinto.
É a hora da doce melancolia
E do leve sentimento de culpa
E da idiota reflexão sobre a idiossincrasia
De se ser velho, europeu e português,
Na ponta de uma navalha
Da economia
Da política
Da demografia
E da geografia.
Não escolhi nascer.
Não escolhi pai e mãe.
Não escolhi o pedaço de chão onde fui parido.
E não sei o que farei com este poema,
Que não vale um algoritmo
Nem um simples teorema.
E que não é de protesto
Nem é manifesto.
Entre a ciência da morte
E a fé da ressurreição,
Haverá sempre uma santa
Que me valha.
Ou uma azinheira ou uma carvalha
Onde possa pôr uma Santa Aparecida
Que me salve da má consciência
De la movida.
Lourinhã, Praia da Peralta, Agosto de 2008 (revisto hoje)
É Boémia.
E choco frito.
Tudo o que a gente gosta.
Uma esplanada à beira-mar.
O sol.
A maresia.
A boa vida.
A sorna.
O fado.
A morna.
O dolce far niente.
Com a gente de quem se gosta.
Muito, pouco ou nada.
Mais a Nossa Senhora dos Milagres
Que te acode,
Quando aflito.
Enquanto a maré sobe.
E a noite espreita.
E a morte não pré-avisa.
Olha a moreia da costa,
Que é a melhor do mundo.
A vida é pregão.
A vida é merda.
A vida é Sagres, é Boémia.
A vida é hipoglissémia.
A vida é adrenalina.
A vida é prego a fundo.
A vida é stresse.
Sexta-feira à tarde,
Ao fim da tarde,
Uma hora antes do pôr do sol.
A vida é festa.
La fiesta, amigo.
Vengo de la altiva Castilla.
No TGVê espanhol
Que não paga imposto
Único
De circulação.
Que o futuro não paga imposto,
Nuestro hermano.
Pressupuesto, amigo.
Que viva la siesta!
Que viva la vida!
Mas agora que vem aí a crise,
Como é que eu chego à ponta mais
Acidental
Da Europa ?
Para comer o meu choco frito,
No bar da Peralta,
A las cinco de la tarde.
Com navios negreiros,
Fantasmagóricos,
Na linha do horizonte,
A quinze milhas.
Com os jacobinos do Junot
Na película da memória.
E o Vimeiro aqui tão perto.
Com autos de fé,
Mouros, judeus, corsários,
No meu ADN de português
Sem história,
Maçarico, maltrapilho, errante.
No mar onde naufragam
Todas as boas consciências
E se afinam as ciências,
As ditas duras mais as ditas moles.
Um homem sorri com meia-cara
O sorriso amarelo do cinismo.
Aqui,
No cabo da terra,
Onde se proclama a ditadura do sucesso.
E do novo riquismo.
Com o isco
Da vã glória de ganhar
A medalha olímpica.
A vida eterna.
O Nobel.
Um lugar no paraíso.
O Olimpo,
Condomínio fechado dos deuses.
Que dos perdedores não reza a História.
A vida é la movida
No Peralta Bar,
no Bar do Victor,
Que não vem na lista do Expresso
Da Boa Cama, Boa Mesa & Roupa Lavada.
Haja lugar à mesa,
Comprida,
E valha-nos Baco, velho compincha.
Viva o Portugal do petisco!
Viva o mês de Agosto,
O meu querido mês de Agosto!
Deixei os meus velhos
Institucionalizados
Nacionalizados
Alegaliados
Sedados
Securizados
Acorrentados
À árvore do Welfare State.
Na Atalaia,
A caminho do Porto das Barcas.
Ficaram aos cuidados de uma ucraniana
Que era enfermeira na sua terra,
E da santa padroeira
Dos pescadores,
A Nossa Senhora da Guia.
Que há sempre uma santa para todas as aflições,
Das dores do parto
À agonia da morte.
Que às vezes, mais vale a morte
Que tal sorte.
Tenho insónias às cinco da manhã,
Mesmo sabendo que da janela
Do quarto dos meus velhos
Há uma linda vista para as Berlengas.
E que a associação é
Cultural,
Social,
Artística,
Desportiva
e Humanitária.
Minha mãe, minha avozinha,
Tens a graça até no nome,
Não é por seres mais velhinha
Que de amor passarás fome.
Passo pela loja do chinês,
Fugido de Tianamen,
E compro um prato
De Alcobaça, pintado à mão,
De contrafação.
Com quadras pimbas
Ao amor de mãe…
Brilhas como uma estrela,
No teu quarto, lá no lar,
Tens uma linda janela,
Com vista de céu e mar.
Quem disse que a vida é bela,
E que as mães é que dão cabo dela ?
Desligo o botão da televisão,
Puxo o reposteiro da janela
Donde vejo o mundo a cor de rosa,
Arrumo o cavalete
E as tintas do arco-íris.
E peço uma posta de moreia frita
E um copo de tinto.
É a hora da doce melancolia
E do leve sentimento de culpa
E da idiota reflexão sobre a idiossincrasia
De se ser velho, europeu e português,
Na ponta de uma navalha
Da economia
Da política
Da demografia
E da geografia.
Não escolhi nascer.
Não escolhi pai e mãe.
Não escolhi o pedaço de chão onde fui parido.
E não sei o que farei com este poema,
Que não vale um algoritmo
Nem um simples teorema.
E que não é de protesto
Nem é manifesto.
Entre a ciência da morte
E a fé da ressurreição,
Haverá sempre uma santa
Que me valha.
Ou uma azinheira ou uma carvalha
Onde possa pôr uma Santa Aparecida
Que me salve da má consciência
De la movida.
Lourinhã, Praia da Peralta, Agosto de 2008 (revisto hoje)
Luís Graça > Blogpoesia > 1 de Setembro de 2008 > Blogantologia(s) II - (68): Gracias à la (mo)vida
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Nota do editor:
Último poste da série > 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8720: Fotos à procura de... uma legenda (12): Mais uma foto-mistério da Tabanca de Candoz (Luis Graça)