sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8724: Da Suécia com saudade (31): Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes... (José Belo)

1. Do nosso camarada e amigo José Belo, hoje jurista, cidadão do mundo, que vive habitualmente na Suécia e às vezes em Kiruna, no Círculo Polar Ártico, mas também em Miami, nos States...

É autor do blogue Lappland to Key West. Não tem endereço de email certo. É um luso-lapão nómada, que nos escreve sempre com saudade do seu/nosso querido Portugal... LG

Outras bandeiras, outros costumes, outras gentes

por José Belo
 

Tenho por vezes meditado sobre quais os sentimentos com que milhões de Portugueses, nascidos, educados, e muitos combatendo nas colónias sob a bandeira tradicional de séculos, azul e branca, se terão sentido quando, bruscamente, com a implantação da República, a Bandeira Nacional mudou totalmente de cores e símbolos, acabando as cores tradicionais por serem substituídas pelas cores partidárias de um dos agrupamentos políticos republicanos.

  
Fonte: Cortesia de Lappland to Key West

Apesar de a bandeira verde-rubra ter ainda poucas décadas em 1974,como teriam reagido os Portugueses se algum dos muitos "iluminados" de então têm decidido mudar as cores da Bandeira Nacional, republicana ? E se, para mais, viesse a adoptar para a nova bandeira as cores de um dos quaisquer partidos de então?

Para os que hoje colocam a bandeira da União Europeia em lugar de honra,(talvez por ignorâncias feitas, para não chamar de complexos frente "ao estrangeiro"),julgando que a mesma terá "mais pinta", usando um termo, por certo, para eles favorito; esquecendo que, infelizmente, a tal Europa Unida, e a sua bandeira, neste momento o que representam não será lá muito para nos orgulharmos. Uma União Europeia em que a igualdade e a solidariedade entre os povos que a constituem, são cada vez mais substituídos pelos termos "Nós", os ricos, os que trabalham, os sérios, os capazes...e... "Eles", os "Outros", os das praias ao sol...

Tudo o resto que a bandeira azul estrelada deveria representar, se torna de uma simplicidade assustadora nas suas falácias. Antes a "pobre" bandeira verde-rubra, que nos representa como o Povo que somos,com os nossos grandes defeitos,mas também, e não menos,com as nossas grandes qualidades humanas. Qualidades que,infelizmente,talvez só sejam compreendidas em toda a sua profundidade pelos que vivem sob outras bandeiras há muitas décadas.

Como curiosidade, e quanto à Escandinávia e as suas bandeiras, recordo que,  quando aqui cheguei há 36 anos,ter estranhado que, frente a cada vivenda, quinta, casa de férias da mais pequena à mais luxuosa, havia um pau de bandeira. Não um pau de bandeira "à janela", mas um típico pau de bandeira "militar",enterrado no solo. E não só nos feriados ou festas nacionais, mas tanto nos dias de anos dos familiares que vivem na casa, casamentos, batizados ou outras festas familiares, a bandeira lá está, bem alta e orgulhosa. Aquando de morte na família,a bandeira também lá está, só que agora a meia haste. Ao passar de carro numa estrada, ou de barco frente a estes milhares de ilhas, é impressionante o aspecto festivo das vilas e aldeias com as suas centenas de bandeiras nacionais.

E isto do extremo sul ao extremo norte de todos os países escandinavos, mais a Finlândia. Ninguém é obrigado a ter a bandeira. Mas,  tendo-a,  existem regulamentos rígidos sobre o uso da mesma, e multas avultadas para aqueles que os não cumpram. Por exemplo, a bandeira não pode estar velha,  esfarrapada,ou com perda da cor. As dimensões das bandeiras são estabelecidas, assim como as dos paus de bandeira em relação com os tamanhos das casas que os usam, para em nada serem ridículos ou exagerados,e portanto menos próprios para com o símbola nacional. Isto, em toda a sua simplicidade, tem muito a ver com um sincero orgulho da sua Pátria, cultura e valores.

A mesma bandeira nacional que nos nossos Regimentos Militares é guardada em armário envidraçado, geralmente na sala de honra, nos Regimentos Suecos é colocada em lugar destacado da caserna dos soldados mais antigos do Regimento com o fim de ser a última coisa que estes militares olham ao recolher,e a primeira a ser vista à alvorada. 

Outras bandeiras...Outros costumes...Outras gentes.

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

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7 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Meu caro Zé Belo

Obrigado pelo teu testemunho. É bom para se pensar nele.

Recordo-me, e recordo, que ainda há "farrapos" hasteados em paus de vassoura, desde o Europeu de 2004.
Pobre País ao vento, que precisa do futebol para sentir orgulho.

Se calcularmos a idade do nosso secular país, pela idade do homem, este vive, se não tiver muitos problemas, actualmente cerca de 90 anos (este número facilita as contas).
Nasceu, o país, em 1143 (5 de Outubro - Tratado de Zamora). Estamos em Setembro de 2011. Este país fará, entretanto (....) em 5 do próximo mês, 868 anos.
Na proporção de 1 para 10, o pais teria em termos comparativos de idade, 86 anos. Proveta idade, mas adulta, sábia e consciente.

Nestes anos todos (868) não há nada que ENALTEÇA, o país, aos olhos dos seus cidadãos, que além do futebol (onde, pasme-se, agora há DESERTORES)nada recordam?

Mudaram-se regimes várias vezes, mas não se ocultaram os seus heróis e os seus valores de povo.

Coloco, então, esta questão aos nossos camaradas de armas que, naquele tempo ou depois, se formaram em medicina: Será que o país sofre de amnésia? Falta de orgulho pessoal? Politiquismo a mais?

Abraço camarigo

Torcato Mendonca disse...

José Belo

É de facto estranho. Houve um treinador de futebol, repito um treinador de futebol, que, com as suas palavras, levou centenas(?)de milhares de Portugueses a colocarem a Bandeira Nacional ás janelas e nas varandas. Não recordo o ano. Sei que era para um Mundial ou Europeu.

Não sei porque a bandeira é assim tratada. Objecto "piroso"e, se lhe acrescentarmos o galo de Barcelos.

Deve haver uma explicação.
Quanto ao hino é igual. Em miúdo se o ouvia, na rádio claro,levantava-me

Não me quero alongar....
Um abraço do T.

Luís Dias disse...

Caro Zé Belo

Muito interessante o que aqui nos trouxeste, dando testemunho de outras bandeiras, outros costumes e outras gentes, que vão passando a memória aos vindouros.
Será que o nosso mal é como se diz nestas quadras produzidas no Post 8719, sobre o XVI Convívio dos Ex-Combatentes da Freguesia de Campia,postado por Artur da Conceição, em 20 de Agosto último.

Autor:Carmindo Pereira Ramos, Veterano da Índia, que a seguir se reproduz, com a devida Vénia:

VIII
Ser patriota, hoje em dia!
É uma coisa arbitrária,
Outra sim, se aprendia
Desde os bancos da primária.
IX
A Pátria, acima de tudo,
Assim, pois, nos ensinaram!
A bandeira verde/rubra
E a língua que nos legaram.
X
Mas:
Em pouca conta hoje se têm
Estes valores afirmados.
Tidos até com desdém,
Pelos que são mal formados.
XI
O nosso grupo de amigos!
Tem orgulho, tem certeza:
Tem costumes bem antigos,
Ama a Pátria Portuguesa.

Um abraço
Luís Dias

Anónimo disse...

Boa
Gosto desta bandeira inventada pelo camarada J.Belo.
É bonita e contenta republicanos e monárquicos.
Quanto mais conheço o mundo mais gosto deste rectângulo à beira-mar plantado.
Não sou saudosista, mas não sei explicar muito bem o que sinto,quando ligo o rádio num quarto de hotel num País distante e ouço a Dulce Pontes,ou quando o avião em que viajo alinha com a pista da portela e vejo Lisboa.
Eu cá gosto muito de ser Português, confesso que não sei porquê,mas que gosto,gosto.Feitios

C.Martins

Anónimo disse...

Como médico,vou responder ao camarada J.Marcelino

Amnésia não é com certeza pois esta implica não recordar o que se sabia.
Não se recorda o que não se sabia.
Politiquismo, seja lá o que isso for, existe em todo o lado,e se os nossos são medíocres,vejo às vezes em Países, supostamente mais evoluídos,ainda mais medíocres do que os nossos.
"Orgulho pessoal" quer dizer auto-estima,é provável que seja este o problema.
Infelizmente verifica-se muito uma baixa auto-estima,que normalmente se traduz em comportamentos de pseudo super-ego,"só eu é que sou bom" "se todos fossem como eu", e tudo o que é mal feito é sempre culpa dos outros--afirmações como "só neste país",etc, e nunca se valoriza o que é nacional, a típica inveja sobre todos aqueles que se destacam nas diferentes actividades humanas...bem até pode ser bom...MAS..

C.Martins

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Zé Belo

Pois, a bandeira...
A bandeira e outros elementos simbólicos de uma identidade colectiva foram-se esbatendo.

Várias 'culpas' poderão ser assacadas para se ter chegado a esta situação. Mas mais do que determinar culpados há que procurar soluções para inverter tais atitudes (ou falta delas).

É que o que se passa actualmente é muito perigoso. Pode tornar-nos indiferentes perante as ameaças externas.
Se não há sentido de identidade colectiva não há sentido de entreajuda para um bem comum e isso é aplicável a muitos (a todos) aspectos da vida social.

Agora, uma pequena observação. Já vi numa publicação qualquer os vários 'estudos' que se fizeram, as várias propostas produzidas, para se chegar à bandeira da República, que é aquela que nós conhecemos. Como não a tenho aqui para comparar, não posso dizer se aquela que publicas está lá e a quem foi atribuída a autoria. Mas lá que tem o seu quê de curioso e de atracção isso tem.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Camarada e Amigo Hélder Valério. A bandeira publicada é uma "criacäo" moderna,e näo tem a ver com as variantes procuradas no início da República.Encontra-se junto a cerca de 10 outras sugestöes no blog "Dizeresmeus" que encontrei por mero acaso.Alguns dos outros modelos valem a pena ser vistos. Um grande abraco.