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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25160: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XIV: visita a Dugal e Encheia


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 1C


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 6A


Foto nº 7


Foto nº 7A


Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > sd > Visita do capelão  Dugal e Encheia>


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada Ernestino Caniço mandou-nos mis umas fotos do ex-capeláo José Tores Neves, ontem, às 11h35

Caros amigos

Votos de ótima saúde.

Na foto em Dugal (nº 7) e Encheia (nº 1), à esquerda parece-me o Padre (civil) Patrocínio, sediado em Mansoa.

Um abraço,

Ernestino Caniço


2. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Hoje algumas fotos da sua visita a Encheia, destacamento e a tabanca que ficava a noroeste de  Mansoa ms que, na altura, pertencia a outro Sector, o Secto Oeste 1 (O1), originalmente com sede em Bial e depois Bissorã (incluia os subsetores de Bissorã, Olossato, Bibar, Bissum, Encheia, Nhamate e Biambe). A responsabilidade deste Sector O1 era do BCAÇ 2861. Em Encheia estava a CCAC 2466. Não sabemos o que é o nosso capelão lá foi fazer, se calhar foi visitar a missão católica, e o padre Patrocínio.

 A organização e a seleção das fotos são feitas pelo seu amigo e nosso camarada, o médico Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa), tendo passado depois pela Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Deve estar com 87 anos (!). Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Estamos-lhe muito gratos pela sua generosa partilha.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa (O4)  e, neste caso, do setor O1 (Bissorã).

Vamos tentar legendar as fotos, com os escassos elementos que temos:

Foto nº 1 > Encheia: o padre José Torres Neves, fardado, parece ser o segundo elemento da foto de grupo, a contar da direita; do lado esquerdo, o padre Patrocínio e a seu lado um elemento da administração, talvez o chefe de posto.

Foto nº 2  e 3 > Encheia: Missão católica, escola;

Foto nº 4 > Capelinha de Encheia;

Foto nº 5 > Encheia, vista de canoa, ao fundo;

Foto nº 6 > Chegada a Encheia, de canoa; em primeiro plano, mãe, em equilíbrio instável,  segura criança (às costas) e alguidar (à cabeça);

Foto nº 7 > Dugal (que ficava a meio caminho entre Nhacra e Mansoa).


Guiné > Carta da antiga Província Portuguesa da Guiné > Esca 1/500 mil (1961) >Posição relativa de Bissau, Nhacra, Dugal, Mansoa, Porto Gole, Encheia e Bissorã


Infografia: Blogue LUís Grça & Camaradas da Guiné (2024)


Guiné > Região do Oio >  Mansoa > Dois elementos da CCAÇ 413 (1963/65), junto à placa toponímica que indicavam algumas das localidades mais próximas  e respetivas distâncias: (i)  para sudoeste, Nhacra, a 28 km, e Bissau, a 49 km);  (ii) para sudeste, Porto Gole, 28 km;  (ii) para Leste (Enxalé, a 50 km; Bambadinca, a 65 km, e Bafatá, a 93 km); (iv) para noroeste, Encheia, a 18 km. 

Foto do livro «Nos celeiros da Guiné», de Albano Dias Costa e José Sá-Chaves, com a devida vénia: vd. poste  P21130.

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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24899: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (19): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Mês de Agosto de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

19 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

MÊS DE AGOSTO DE 1970

João Moreira



SITUAÇÃO
1. TERRENO
O capim cresceu desmesuradamente, as bolanhas estão alagadas. Os percursos tornam-se mais difíceis embora de dia a chuva ajude pois refresca.
Emboscadas noturnas insuportáveis pois a chuva é permanente.

2. NT
Mais experientes e adaptados, como é natural. Actuação calma.

b. ACTIVIDADE
Actividade normal com 1 saída diária.
Em 07AGO70 operação ALMA MINHA do BCAÇ 2861.
Uma série de notícias referem concentração de Grupo IN (MAQUÉ) na região de NHANE, BISSAJAR, BANCOLENE.
A CCAÇ 13 de BISSORÃ e a CCAV 2721 seguem juntas até BISSAJAR onde se separam. A CCAV 2721 para se dirigir a NHANE a CCAÇ 13 para BANCOLENE e JAGALI MANCANHA. Dois contactos da CCAÇ 13 em que sofre 1 ferido grave e provoca 2 mortos confirmados ao IN, recupera 3 (M) e 3 (C), captura 1 pistola e 1 canhangulo e destrói 5 casas de mato e meios de vida.
A CCAV 2721 não contacta e recupera 1 (M) em NHANE.
A operação foi comandada por PCV pelo Cmdt. Batalhão e foi apoiada por 1 heli-canhão.
Em 19 fugiram 2 mulheres que tinham sido recuperadas em JULHO em IRACUNDA.
Domingo, 231700, grupo IN não estimado flagelou o quartel e povoação com morteiro 82 durante 10 minutos, de BINTA 7E6 provavelmente. Provocou 1 ferido grave e 1 ligeiro, ambos civis. Foi pedido apoio aéreo visto ser a melhor maneira de provocar baixas. Dois FIAT não se fizeram esperar e metralharam a zona.
Mais tarde, série de notícias C-3 recebidas da CCAÇ 2465 refere que o IN sofreu 5 mortos nesta flagelação, entre os quais um comandante de grupo. Estas notícias são no entanto improváveis no julgar deste comando.
Em 26 fugiu 1 homem que fazia parte do grupo recuperado em IRACUNDA. Com este homem iam a fugir mais 4 mulheres que no entanto foram impedidas por elementos da população nos trabalhos agrícolas.
Nota-se já com a experiência que fica de Companhias anteriores que os MANDINGAS fogem muito enquanto que os BALANTAS pouco.
Este facto não deverá ser só atribuído a idiossincrasia étnica, a mentalização, etc.
Assim o facto mereceu uma pequena investigação, e algumas conclusões expostas no relatório A/P.

​EXTRACTO DO RELATÓRIO PERIÓDICO DE ACÇÃO PSICOLÓGICA N.º 5/70

FACTORES DA SITUAÇÃO PSICOLÓGICA

POPULAÇÃO

Motivações susceptíveis de virem a ser exploradas pelo IN
Acerca da fuga de recuperados mandingas, muito mais frequentemente que de outras etnias, provoquei uma discussão aberta entre os chefes da população fixados no OLOSSATO e elementos recuperados tendo chegado a uma conclusão que é possível tenha interesse:
(a) Um dos motivos que os levam a fugir são laços afectivos com elementos que ficaram no mato, por ordem de importância: filhos, maridos, mulheres e irmãos.
(b) No entanto há um outro, talvez ainda mais importante e que segundo concluí, conhecida mesmo entre a população controlada pelo IN e que pode ser um dos factores impeditivos de apresentações além de, como já disse, provocar fugas:
- Os recuperados, quando são libertados para se integrarem na população, vão, como é natural, para casas de parentes com os quais habitam e colaboram até poderem adquirir a autonomia social e económica.
Ora, enquanto entre fulas e balantas existe uma verdadeira vontade de entreajuda, entre os mandingas (nos quais se nota desde a chegada dos parentes um excesso de zelo e de afinidades de parentesco) persiste um certo espírito de exploração económica e de cobiça sexual, que tentam efectivar à sombra da bondade e vontade de ajuda do parente desprotegido.
Assim este último, ao fim de algum tempo começa a sentir-se alvo de pressões a que dificilmente tem coragem para resistir (não têm os parentes as "costas largas" com o apoio e confiança das autoridades civis e militares, enquanto elas são as réprobas, têm a "cabeça cheia de vergonha" e não devem merecer a total confiança das autoridades? - possivelmente serão os próprios parentes que lho faz "ver" explícita ou implicitamente por meio de observações, conversas, insinuações, censuras) e vai cedendo lentamente, parte das vezes permitindo até violações à tradição que tão fortemente o marca. A rapariga que tem o noivo no mato e se vê a casar com um camafeu estabelecido. O artífice que vai começando a ganhar "patacão" e é explorado "ab início" sob a alegação que está a ser ajudado pelo anfitrião. O "tio"ganancioso que recolheu em casa a rapariga recuperada e põe dificuldades ao seu casamento com o rapaz de que gostou porque quer receber o pagamento respectivo, (pois o pai dela está no mato, "sabe-se lá onde e como coitado") mas não tem direito a esse pagamento enquanto o pai dela for vivo, podendo aparecer em qualquer altura e exigir o dote à família do rapaz que não está para pagar duas vezes (não se trata aqui de respeitar um direito de tutor visto a rapariga ter já entrado na maioridade). O velho ou quase, que cobiça os braços da rapariga para a lavoura e a sua beleza e juventude para carinho e prestígio senil, forçando-a sob pretexto de gratidão a união desigual.
Enfim, um sem número de pressões, pequenos ultrajes, a que recuperado se vê sujeito no seio dos seus próprios irmãos e que forçosamente afectam a sua vontade de permanência.
Quase me arriscaria a dizer que o problema dos familiares (mesmo os filhos) ficados no mato, é de somenos importância, perante a submissão a que se veem obrigados, até porque a psicologia gentílica é muito mais atreita a factores de ordem económica e social do que propriamente a uma afectividade na maior parte das vezes consequência daqueles mesmos factores.
Suponho que o problema existe realmente e não é de desprezar para recuperação e integração dos Mandingas.

Em 27 durante a picagem da estrada para BISSORÃ, para uma coluna de reabastecimento, foidetectada e levantada 1 mina A/C reforçada com 1 mina A/P em BINTA1I8.31.

Da crítica à Act. Op. n.º 78 do COMANDO-CHEFE consta que:
"A CCAV 2721, que vinha desenvolvendo apreciável actividade, acusou, no período, ligeira quebra de rendimento".
A esta crítica respondeu o BCAÇ 2861: "Em referência à crítica supra, informo V. Exª. que a ligeira quebra de rendimento da CCAV 2721 foi devido ao facto de nos dias 29 e 30 de Julho, embora previstas acções nas regiões de BISSAJARINDIM e COLI SARE, conforme constava do Planeamento da Actividade Operacional elaborado pela CCAV 2721, aprovado por este Comando, do qual se envia 1 cópia, se terem realizado colunas auto entre OLOSSATO-BISSORÃ e BISSORÃ-OLOSSATO.
Por lapso não foi mencionado no n/SITREP n.º 529, a realização da coluna auto, BISSORÃ-OLOSSATO, a cargo da CCAV 2721.

Da crítica n.º 80 transcreve-se:
" . . . anotando-se ausência da actividade noturna da guarnição do OLOSSATO (CCAV 2721)."

(c) RESULTADOS
- Baixas ao IN
Recuperado - 1 elemento da população
Apresentado - 1 Elemento da população

- Material capturado
Mina A/C - 1 levantada
Mina A/P - 1 levantada

- Baixas NT
feridos - 2 elementos da população


Com baixa para saídas, por ter arrancado uma unha e não poder calçar.
Bilhete de Identidade Militar

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24877: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (18): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Julho de 1970 - Acção "Bacará"

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19674: Tabanca Grande (476): João Fernando Congil Rosa, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2465 / BCAÇ 2861 (Có e Bissum Naga, 1969/70), nosso tertuliano 787

Via facebook Messenger, o nosso camarada e novo tertuliano João Fernando Congil Rosa, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2465 / BCAÇ 2861 ( e Bissum Naga, 1969/70), manifestou a sua vontade de aderir à nossa tertúlia.

Com muito gosto o recebemos à sombra do nosso poilão, onde ocupará o lugar n.º 787.

Lembramos que a CCAÇ 2465 foi comandada pelo Capitão de Infantaria António Melo de Carvalho, actualmente Coronel na situação de Reforma, também ele pertencendo à tertúlia deste Blogue.

O Coronel António Melo de Carvalho escreveu o livro "Paz e Guerra Memórias da Guiné", já aqui abordado numa recensão feita por Mário Beja Santos em 2016. 

Abril/Maio 1967 - Construção do quartel de Bissum-Naga. 
Foto e legenda: © Carlos Ricardo. 


Sobre a CCAÇ 2465:


Desembarcou em Bissau em 11 de Fevereiro de 1969. Seguiu imediatamente para Có, a fim de efectuar o treino operacional e integrar as forças empenhadas na protecção e segurança aos trabalhos da estrada Bula-Có, na zona de acção do seu Batalhão.

Em 16 de Maio de 1969 foi substituída na missão pela CCAÇ 2584 e seguiu para Bissum a fim de render a CCAV 1747, tendo assumido a responsabilidade daquele subsector em 4 de Junho de 1969.

Em 30 de Novembro de 1970 foi rendida pela CCAÇ 2781 e recolheu a Bissau.

Regressou à Metrópole em 7 de Dezembro de 1970.
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Nota do editor

Último poste da série de10 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19663: Tabanca Grande (475): Fernando José Estrela Soares, cor inf ref, membro da Tabanca da Linha, senta-se à sombra do nosso poilão, sob o lugar nº 786: foi comandante da açoriana CCAÇ 2445 (Cacine, Cameconde e Có, 1968/70)

sábado, 24 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19229: Consultório militar do José Martins (38): Pedido de Informações sobre a CCAÇ 2466 / BCAÇ 2861, Bula e Encheia, 1969/70, a que pertenceu o meu avô (Cristiana Duarte)

1. Mensagem do nosso colaborador permanente José Martins [ex-Fur Mil Trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):

Data: quarta, 14/11/2018 à(s) 21:43
Assunto: Resposta a pedido de informações sobre a CCAÇ 2466

Caríssimos:

Estive hoje no AHM [, Arquivo Histórico-Militar,]  e consultei a História do BCAÇ 2861, processo bastante extenso. [Cota: 2/4/109/1)

Capítulo I – Mobilização, Composição, Deslocamento

Historia o início do batalhão, em 4 páginas.

Do Anexo 1, ao Capítulo I, constam 17 páginas com a composição de todo o batalhão. Em relação à CCAÇ 2466 [, Bula e Encheia, 1969/70,], estão nas páginas 13 a 17 (5 páginas).

Capítulo II – Actividade operacional

São 194 páginas, cujo resumo se encontra nos livros da CECA, volume 7, páginas 124 a 126.

Capítulo III – Baixas – Punições – Louvores – Condecorações.

São 41 páginas com os respectivos registos que, sem saber o nome do nosso camarada, o avô da Cristiana Duarte,] não é possível detectar algum registo.

Arquivo Histórico Militar

Telefone 218 842 415

Largo do Outeirinho da Amendoeira

1100-386 Lisboa

Horário: 2ª a 6ª feira, das 10H00 às 12H15 e das 13H45 às 16H45.

Não sei se o mail «ahm@mail.exercito.pt» ainda está activo.

Se necessitarem de algo mais, ao serviço de V. Exªs.

"Saúde e Fraternidade" e "A Bem da Nação"

Abraço

Zé Martins


2. Mensagem da nossa leitora Cristiana Duarte:

De: Cristiana Duarte  [email: cristianaduarte1425@gmail.com]

Data: terça, 11/09/2018 à(s) 14:48

Assunto: Pedido de Informações sobre a CCAÇ 2466

Boa tarde.

Tenho estado a ver o vosso blogue "Luís Graça & Camaradas".

O meu avô esteve na Guiné, no BCAÇ 2861,  CCAÇ 2466, tenho procurado informações sobre esse batalhão e essa companhia.

Gostaria de saber se por acaso o senhor não tem informações do mesmo ou se não me consegue disponibilizar um site que contenha por exemplo a listagem dos militares presentes nesse batalhão.

Aguardo resposta

Cumprimentos
Cristiana

PS - O nome do meu avô é José Henriques Ferreira [mensagem de 25/11/2018]
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18653: Consultório militar do José Martins (37): Monumento aos Combatentes de Vila Chã da Beira

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19107: Convívios (876): Grande homenagem da Tabanca de Matosinhos ao João Rebola (1945-2018), no passado dia 10 de outubro, com a presença da filha, Maria João (José Teixeira)

 Cartaz do evento


A Maria João Rebola, rodeada pelo Leite Rodrigues e pelo Moutinho Santos  (régulo da Tabanca de Matosinhos)
.

Aspeto geral da sala que desta vez foi pequena para tanta gente


Momento da Chamada pelo camarada João Rebola.


Momento emocionante do "PRESENTE" gritado pelos camaradas presentes.


Um grupo de "históricos" da Tabanca de Matosinhos.


Alguns camaradas que nos visitaram pela primeira vez.


Convivência sadia entre gente que se encontra pela primeira vez.


Os camaradas do Batalhão do João Rebola quiseram estar presentes (I)


Os camaradas do Batalhão do João Rebola quiseram estar presentes (II)


Alguns dos camaradas do Bando do Café Progresso

Matosinhos > Tabanca de Matosinhos >  Restaurante o Espigueiro (ex-Milho Rei) > 10 de outubro de 2018 > Homenagem ao João Rebola (1945-2018)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Sentida homenagem da TABANCA DE MATOSINHOS > JOÃO MANUEL PEREIRA REBOLA! (*)

À chamada feita pelo Capitão na Reserva Leite Rodrigues, responderam os ex-combatentes - PRESENTE!

Foi com este gesto simples, mas comovente,  que os ex-combatentes presentes na Tabanca de Tabanca Matosinhos quiseram homenagear o camarada e amigo de todas as horas, João Rebola.

Juntamos-nos como é habitual desde 2005, no Restaurante O Espigueiro,  em Matosinhos. Alguns tarimbeiros habituais desta Tertúlia e muitos outros vindos do Norte, do Centro e do Sul. Estávamos oitenta em sala e houve alguns que por falta de lugar à mesa foram-se embora

A casa nunca esteve tão cheia.

A Maria João Rebola, sua filha,  honrou-nos com a presença, nesta justa homenagem ao João. Uma presença muito querida de alguém que nos recorda um grande camarada e amigo.

Registamos também a presença de muitos camaradas do Batalhão [, BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/71] a que o João Rebola pertenceu, quando andarilhou pelas picadas da Guiné.

O Bando do Café Progresso, uma tertúlia que congrega um grupo de ex combatentes da Guiné, que historicamente começaram por se reunirem no Café Progresso no Porto, com quem a Tabanca de Matosinhos se sente irmanada, também quis estar presente, e em força, na homenagem.

Registe-se ainda a presença de alguns ex-combatentes  "periquitos" que vieram até nós, pela primeira vez,  e como sempre foram acolhidos pelos "velhinhos" com todo o carinho.

A Tabanca de Matosinhos,  tertúlia de ex-combatentes da Guiné, congratula-se e agradece o testemunho de amizade de tantos amigos que o João Rebola foi granjeando pela vida fora e sobretudo desde que começou a participar nos almoços semanais da Tabanca.

A porta continuará aberta enquanto houver ex combatentes que queiram honrá-la com a sua presença.

Obrigado,  João,  pelo exemplo de vida em comunidade que foste para todos nós. (**)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de outubro de  2018 > Guiné 61/74 - P19076: In Memoriam (329): A Tabanca de Matosinhos vai promover uma homenagem ao João Rebola (1945-2018) no almoço da próxima quarta-feira, 10 de Outubro, às 12h30 no Restaurante Espigueiro (antigo Milho Rei), em Matosinhos (José Teixeira)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14996: Bibliografia de uma guerra (77): Do meu livro "Paz e Guerra - Memórias da Guiné", excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné (2) (António Melo Carvalho, Coronel Inf Ref)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 ( e Bissum-Naga, 1969/70), actualmente Coronel Inf na situação de Reforma, com data de 16 de Junho de 2015:

Caro camarada,
Na sequência da colaboração prometida, junto envio mais um excerto do livro que publiquei recentemente sobre a Guiné.

Um abraço
António Melo de Carvalho


Do livro Paz e Guerra - Memórias da Guiné

Excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné* (2)

António Melo de Carvalho

[ … ]
Na reacção às flagelações do IN, foi o 2.º GComb que mais se destacou. Por vezes em circunstâncias muito críticas, bem vivas ainda nas nossas memórias. Mais de quarenta anos depois, em Braga. O corpo do Peixoto, durante a comissão um dos melhores cabos do 2.º GComb, comandante de uma das Equipas da Secção do Fur. Barata, tinha acabado de descer à terra. Cumpriu-se nesse dia o pressentimento que me transmitiu pessoalmente, à despedida no final do último encontro anual em Mira, em 2010. Foi dos que nunca faltou a esses encontros.
- "Meu capitão, é a última vez…"  E acertou.
O recatado luto pelo nosso companheiro de guerra prolongou-se ao sabor de uma bica, num dos cafés na proximidade do cemitério. Partilhámos vivências várias. Umas ainda frescas e em primeira mão, outras repetidas, algumas já sumidas nos recônditos do consciente.

“…aquela em que o Barata saiu de calções e botas calçadas à pressa. Os primeiros cinquenta metros foram rápidos, mas depois tivemos que amochar, porque o fogo IN era muito intenso. Enquanto aguardava a cobertura do fogo de apoio ao nosso avanço, perpassou-me pela mente um “flash” de imagens dos contrastes da vida…”, dizia-me então o Magalhães, antigo comandante do 2.º GComb, “…uns mais pertinentes que outros. Pelos meus dez anos, a minha mãe fez-me a promessa de um bom chocolate se me portasse bem durante a próxima visita de uma pessoa amiga. Foi no início da década de 1950.

As reuniões familiares eram frequentes. Algumas vezes em casa dos meus pais, em Vilarinho das Paranheiras, concelho de Chaves, e noutras ocasiões em Casas Novas, freguesia de Redondelo, também do concelho de Chaves. Pois essa pessoa era agora o chefe máximo dos homens que estavam naquele momento a fazer-nos mergulhar pela terra dentro, em busca de protecção contra o intenso tiroteio das suas armas ligeiras, pensava eu. A chicotada ainda nos feria e irritava os ouvidos, apesar dos milhares que já nos tinham passado por cima. Por sorte os regos da mancarra foram abertos paralelamente à frente Sul do aquartelamento, de onde vinha o fogo mais intenso…”.

A direcção desses valados tinha a ver com o declive do terreno. Apesar de ser muito suave, o agricultor balanta sabia que tinha de preservar a terra da erosão das águas lançadas em torrentes na época das chuvas. O saber acumulado de gerações dizia para não se afastarem muito da configuração que nós na escola designamos por curvas de nível. Quando foi planeada a implantação do quartel, não se terá chegado a este detalhe, tão importante naquele momento de reacção ao ataque. E então os regos pareciam ter sido feitos mesmo à medida, tanto em profundidade, como em largura. As abundantes chuvas daquela terra assim o exigiam. Se o declive não se aproximasse do zero, as pesadas chuvas tropicais fariam desaparecer a terra em poucos anos. Abençoado clima tropical que tanta água despejava no solo em tão pouco tempo, pensaria o Alf. Magalhães [foto actual à direita], enquanto sentia no corpo os salpicos da terra projectada pelo impacto dos tiros do IN.

“…Só nos terão detectado depois de termos progredido pelo menos duzentos metros. Por certo não esperavam este tipo de reacção. O agora líder do PAIGC, matutava eu, aquando dos meus dez anos, era o namorado da minha prima Maria Helena. As nossas mães eram irmãs. A família tinha uma grande consideração por ele e tinham medo que não me portasse à altura. Mas quando o encarei, não resisti ao medo que o seu rosto me infundiu. Fugi apavorado. Nunca tinha estado tão perto de um africano. Ainda para mais com um tom de pele tão escuro. Lá me conseguiram acalmar. Apesar de o não merecer, deram-me a oportunidade de saborear o meu doce preferido. A pouco e pouco, o contacto com esse senhor acabou por se intensificar. Por incrível que pareça, com o passar do tempo, comecei até a apreciar as visitas do namorado da minha prima, integrando-me assim no ambiente de grande simpatia e cordialidade com que o engº Amílcar Cabral era recebido por toda a família. Acabei por me tornar no seu principal fã. E a guerra não apagou esses laços com a família. Há registos que o comprovam. Nos princípios de Fevereiro de 1970, estava então a meio da comissão na Guiné, meu pai recebeu uma carta de condolências de Amílcar Cabral, com o carimbo dos correios de Paris e sem remetente, pouco depois da morte da minha mãe. Era tia e madrinha da mulher de Amílcar Cabral. Tenho pena de não ter comigo essa carta, hoje nas mãos de uma pessoa de família, porque ainda não se apagou da minha memória a confiança e admiração que aquela figura inspirava”.
[ … ]
____________

Nota do editor

(*) Poste anterior de 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14808: Bibliografia de uma guerra (73): Do meu livro "Paz e Guerra - Memórias da Guiné", excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné (1) (António Melo Carvalho, Coronel Inf Ref)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14948: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (99): Sou Manuel Morato Gomes, ex-alf mil, CCS/BCaç 2861, estive em Bula e Bissorã até Junho de 1970, e procuro camaradas desse tempo..... E eu sou o Armando Pires, ribatejano, furriel enfermeiro, fadista, e tenho muita honra em "apadrinhar" a tua entrada neste blogue que tem já perto de 700 membros...


Convívio da CCS/BCAÇ 2861 (Bissorã e Bula, 1969/70) > Entre -os.-Rios > 1999 > Da esquerda para a direita, furriel Bonito (1),  fur  enf Armando Pires (2), furriel Filipe (3), 1º cabo Abreu (4), alferes Mourão (5), alf Morato (6) e fur  Vasques (7).

Foto (e legenda): © Armando Piures (2015). Todos os direitos reservados..



1. Mensagem de Manuel José Sousa Morato, com data de 22 de junho passado:


Apesar de tudo são boas recordações.

Sou Manuel Morato Gomes, ex-alferes miliciano da CCS do BCaç 2861. Estive em Bula e Bissorã até Junho de 1970. Lembro-me bem do furriel Pires, dos alferes Almeida, Vinagre, Moura e Barbosa (...), entre tantos outros. 

Lembro-me do programa de "rádio" feito uma vez por dia e aos fins de semana duas vezes por dia,  chamado "Bissorã 70". 

O meu endereço é mmoratogomes@hotmail.com ou mmoratogomes@gmail.com e fico à espera de contacto da gente da minha companhia para nos vermos. 

Só uma vez fui a um almoço de convívio mas gostava de voltar a estar com todos da CCS do BCAÇ 2861. Fico a aguardar qualquer informação ou endereços para contacto. 

ABRAÇOS GRANDES PARA TODOS.
Manuel Morato Gomes



2. Neste mesmo dia, foi reencaminho mail do Morato para o nosso grã-tabanqueiro Armando Pires (ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70)



Armando: Lembras-te deste camarada ?!.. Queres escrever duas linhas, em meu nome, a convidá-lo para ingressar na nossa Tabanca Grande ? (...)

Diz-lhe que só sobre Bissorã temos perto de 250 referências; e sobre Bula quase outro tanto (230). E,além de imensas fotos, temoa a cartografia da região... Por exemplo, Bissorã/Mansoa (1954), Bula (1953)...

Um grande abraço para ti... Luís

3. Resposat do Armando Pires, com data de hoje


Olá, Luís.

Aqui vai o texto que me pediste, de resposta ao alferes Morato.
Se achares que deves corrigir alguma coisa, estás à vontade. (...)
Desculpa o atraso.
Abraço.



Viva, Morato!

O que é feito de ti, camarada.

Pediu-me o Luís Graça, “Comandante-em-Chefe” da Tabanca Grande, que respondesse ao teu “apelo”. E faço-o com a maior das satisfações.

Desde logo, pela satisfação que me dá ter notícias tuas. Diria mais, por finalmente ter notícias tuas.

Sim, é que a malta, todos os anos, nos nossos encontros de confraternização, tem o hábito de perguntar pelos que faltam, sendo que esses de quem sentimos falta são sempre os que mais estimámos.

Daí que me lembre da primeira e única vez que estiveste connosco, depois de termos regressado da Guiné.  Foi no Encontro que teve lugar em Entre-os-Rios, no ano de 1999. [Vd. foto acima]

Já foi há tanto tempo que talvez valha a pena recordar-te que na foto estão, começando à esquerda, o furriel Bonito (1), eu (2), furriel Filipe (3), 1º cabo Abreu (4), alferes Mourão (5), tu (6) e o furriel Vasques (7).

Já perdeste o Encontro deste ano. Foi em Maio, em Castelo de Paiva.

E é em Maio que todos os anos nos encontramos, e nos encontraremos, até que reste um para apagar a luz do salão.

Portanto, tens Maio do próximo ano para te juntares a nós, se não for antes. Basta que me envies, por email, o teu endereço actualizado, para que possas receber a correspondência.

Dito isto, vamos ao passo seguinte.

Já aqui vieste, não faças do nosso blog um ponto de passagem. Tens cá um lugar à tua espera. Mandatado pelo Luís Graça, estou a convidar-te para integrares “o nosso exército”.

Aqui encontrarás o maior acervo documental e fotográfico sobre a guerra na Guiné, visto e contado pelos seus protagonistas.

E ele será tanto mais importante para memória futura (como agora é uso dizer-se), como para nós, que melhor ficaremos a conhecer essa parte do nosso passado, se todos dermos o nosso contributo. Desde logo, o teu.

Envia-nos duas fotos, se possível tipo passe. Uma do tempo da Guiné, para que te reconheçam os que por lá um dia se cruzaram contigo, a outra actual, para que na rua a malta diga, “eh!,  camarada, eu também sou do blog”. Junto com as fotos, envia a síntese do teu currículo militar. Da incorporação à disponibilidade.

O Luís há de depois dizer-te qual teu número de ordem que te cabe neste “exército”.  Ma so importante é escrever-nos. Escreve o que, se calhar, trazes escondido na alma. Fala-nos da tua experiência militar na Guiné. Traz-nos histórias, amargas ou doces, que tenhas vivido, ou que tenhas visto a outros viverem.

Faz jus ao nosso slogan, da nossa Tabanca Grande: “não deixes que sejam os outros a escrever a tua história por ti”...

E não te esqueças, rapaz, aqui todos nos tratamos por tu.

Sê bem-vindo, camarada Morato.

PS - Tenho uma série, no blogue, que se chama "Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires)" que já deves conhecer, e que fala da malta do nosso tempo, de Bissorã e de Bula...
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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14808: Bibliografia de uma guerra (73): Do meu livro "Paz e Guerra - Memórias da Guiné", excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné (1) (António Melo Carvalho, Coronel Inf Ref)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo de Carvalho(1), ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 ( e Bissum-Naga, 1969/70), actualmente Coronel Inf na situação de Reforma, com data de 16 de Junho de 2015:

Caro camarada,
Na sequência da colaboração prometida, junto envio um primeiro excerto do livro(2) que publiquei recentemente sobre a Guiné.

Um abraço
Melo de Carvalho


Do livro Paz e Guerra - Memórias da Guiné

Excerto para Luís Graça & Camaradas da Guiné (1)

António Melo de Carvalho

Agora, a mata era menos cerrada. Permitia um campo de observação e tiro razoáveis, fora de hipótese há umas centenas de metros atrás. Era assim possível colocar sistematicamente a segurança imediata à frente da área que estava a ser capinada.
Desde que há uns dias tínhamos ajustado o dispositivo de segurança às novas condições da vegetação, andava com o pressentimento de que algo de novo poderia vir a acontecer, por parte do PAIGC.
A aparente falta de iniciativa dos guerrilheiros perante a nossa estrutura, não estava a condizer com a sua habitual e quase diária agressividade. À distância de mais de quatro décadas, penso que andaríamos a ser observados, com o objectivo de identificarem as nossas novas rotinas.
Todas as manhãs, como responsável pela segurança, definia com os comandantes de pelotão, os respectivos sectores a ocupar, antes do início dos trabalhos. Para isso percorria com eles, a corta mato, a frente onde cada um se instalaria.
Tinha então que palmilhar umas centenas de metros na área que iria ser capinada e na que o fora no dia ou dias anteriores. Nestas caminhadas de preparação do dispositivo, tínhamos que nos desviar dos destroços mais volumosos das árvores e arbustos cortados, e do emaranhado da arborização que ainda aguardava os golpes certeiros das catanas desse dia.

Naquela manhã de 13 de Abril de 1969, procedia aos últimos retoques na estrutura de segurança à capinação e obras da estrada, com o alferes Pires da CCaç. 2312.
O Pires era na ocasião, na ausência do seu capitão, o substituto do comandante de companhia, como oficial mais antigo. Olhos bem abertos, como sempre, em particular com a máxima atenção aos pontos onde colocávamos os pés. O Pires atrás de mim a seguir as minhas pegadas, sempre que possível. Tinha de ser garantida a ligação entre os grupos instalados. Cada grupo não podia ter dúvidas sobre o posicionamento do grupo à direita e à esquerda, e conhecer bem os respectivos sectores de tiro. Percorríamos naquele momento a corta mato, era a regra sagrada a cumprir, a área que delimitava o fim da capinação do dia anterior, da que ia ser iniciada nesse dia.
Súbito como um raio, trovão violentíssimo, saído das entranhas da terra. Ficamos esmagados e sem respiração. Só a poeira, a envolver-nos por completo, ainda em movimento, perturbava o silêncio absoluto que se seguiu.
Numa fracção de segundo a consciência desperta.
Tinha sido um tremendo rebentamento mesmo por debaixo dos nossos pés. Senti-me projectado em frente e a cair de bruços. A visão reduzida a zero com a enorme e espessa nuvem de poeira à nossa volta. Respiração sufocada pelo pó e cheiro acre dos gases da deflagração.

Apesar de meio cambaleante, levantei-me de imediato. Por instinto, movimentei as pernas para me certificar de que ainda lá estavam. Elas e os pés. Felizmente vi-as a mexer, obedecendo à minha vontade. E então lembrei-me que não vinha só. Olho para trás, à procura do Alf. Pires. Apesar da visão ainda meia turva, o quadro que se me deparava deixou-me atordoado. Na cratera da mina que esperava por nós, no intervalo da minha passada, deduzi depois, jazia uma figura de contornos imprecisos, imóvel e silenciosa, enrodilhada em poeira cinzenta. Se alguém mais nos estivesse a acompanhar naquele momento, ser-me-ia totalmente impossível identificar a quem pertencia aquele corpo. Mas estávamos só nós dois. Era o Alf. Pires. Um dos pés tinha desaparecido. O que restava da perna, a seguir ao joelho, era uma banana meia descascada. A brancura da tíbia e perónio furava entre as massas musculares, toscamente arregaçadas em escuras tiras, quais tentáculos de cefalópode depois de dominado pelo pescador. Quase cobriam o joelho. Por detrás de uma máscara de terra e pó tentava-se adivinhar um rosto. Não se distinguiam olhos, nariz ou boca. A farda, um farrapo esburacado. À primeira vista, não aparentava encobrir mais ferimentos graves. Por estranho que pareça, e para mim foi, não se via sangue naqueles instantes. Nem na perna nem no rosto, nem em qualquer outra parte do corpo. Estaria vivo, estaria já morto? Fiquei na dúvida, naquele momento. Enquanto há vida há esperança, pensaria eu. De facto havia. Um quase sopro de vida diz-me que o Pires ainda cá estava. E uma tentativa de sílabas. Quase uma palavra. E mais outra. Um fio de voz muito baixa e resignada. Daquela vida que pressenti em fase terminal, começava-se agora a perceber um ténue lamento,
Meu capitão vou morrer …, meu capitão vou morrer …,
Era o murmúrio sereno que lhe saía da boca.
[...]
Mas aqueles vinte e dois anos que, por ironia do destino, se completavam naquele dia 13 de Abril de 1969, não acabaram ali.
[...]
Assalta-me agora o consciente, a mais de quarenta anos de distância daquela manhã, a conversa recente com uma irmã do Pires. Vive em Lisboa. Foi localizada graças à internet e ao meu amigo Magalhães, antigo comandante do 2º GComb. Com ela tive oportunidade de conhecer algo mais do Pires do que os contactos esporádicos durante cerca de dois meses permitiram, no início da nossa comissão na Guiné. Cego das duas vistas, sem testículos, sem uma perna, foi evacuado do Hospital Militar de Bissau para o Hospital Militar da Estrela, em Lisboa, dois dias depois do rebentamento, por sinal no mesmo voo em que regressava a Lisboa o então Presidente do Conselho de Ministros, Professor Marcelo Caetano, após uma visita à Guiné. Ainda falou durante a primeira metade da viagem. Depois calou a boca para sempre.
Era o mais novo de quatro irmãos. Ficaram sem mãe quando o Pires tinha dois anos. Foi a irmã, Margarida Pires, que a partir daí passou a ser sua mãe. Enquanto falava comigo, os olhos fugiam-lhe com frequência para a fotografia em ponto grande, do irmão fardado de uniforme nº1. Enchia o “hall” de entrada da casa, em Lisboa. “O ingénuo entusiasmo com que o meu irmão foi para aquela guerra!…”, lembrava ela. Era todo força e desenvoltura física. Tinha feito o curso de rangers em Lamego. Passado o primeiro ano de comissão na Guiné, veio de férias. O irmão que tinha partido para a guerra não voltou. No final desses dias de descontracção, se pudesse não regressaria. Nunca o disse explicitamente. O rosto e os prolongados silêncios, não deixavam margem para dúvidas sobre o seu estado de espírito, recordava a irmã.
[...]
Em meados de Maio de 1969, chegou-nos a notícia do fim do Alferes Pires no Hospital Militar de Lisboa. Segundo o relatório médico, a causa imediata da morte teria sido uma pneumonia dupla.
[...]
Após este contacto directo com a crueza da guerra, durante muito tempo na minha cabeça:
-Porquê ele e não eu?
Até esse dia 13 de Abril de 1969, uns tiros de arma ligeira e uma ou outra roquetada ou morteirada, sem consequências graves. Agora era o contacto com a morte iminente. Na ocasião, recebi este acontecimento como um cartão de visita das mãos do PAIGC, dando-me as boas vindas àquele palco. As rotinas estavam identificadas. Hoje tenho a certeza que o alvo da mina não era o Pires.
Foi a primeira e uma das principais situações, em que a estrela da sorte me acompanhou naquela guerra.

Afinal também havia minas fora dos trilhos!
[...]
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Notas do editor

(1) - Vd. poste de 26 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14665: Tabanca Grande (464): António Melo de Carvalho, Coronel Inf na situação de Reforma, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Có e Bissum-Naga, 1969/70), Grã-Tabanqueiro 688

(2) - Paz e Guerra - Memórias da Guiné, por António Melo de Carvalho (http://www.memoriasdaguine.com)

Último poste da série de 30 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14548: Bibliografia de uma guerra (72): Do meu livro “O Corredor da Morte”, rebentamento de uma mina PMD 6 (Mário Vitorino Gaspar)

terça-feira, 26 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14665: Tabanca Grande (464): António Melo de Carvalho, Coronel Inf na situação de Reforma, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Có e Bissum-Naga, 1969/70), Grã-Tabanqueiro 688

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano, António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 ( e Bissum-Naga, 1969/70), actualmente Coronel Inf na situação de Reforma, com data de 21 de Maio de 2015:

Caros camaradas,
Sou um leitor assíduo do vosso blogue.
Julgo que chegou a hora de me juntar à vossa Tabanca Grande, que afinal também tem vindo a ser minha desde há anos.

- Nasci em Barcouço, em 18-8-1940.
- Frequentei o ensino primário em Barcouço e o liceal em Coimbra.
- Entrei para a Academia Militar em 1960.
- Sou coronel na situação de reforma.
- Cumpri 2 comissões no Ultramar. Uma na Guiné, em 1969/70, como comandante da Companhia de Caçadores 2465. Pertencia ao Batalhão de Caçadores 2861.
- Outra comissão em Moçambique, de Out 1973 a Abril 1975, no Serviço de Reconhecimento das Transmissões.
- A última unidade que comandei foi o Batalhão Infantaria Mecanizado, da Brigada Mista Independente (Santa Margarida).
- Depois de passar à situação de reforma, a meu pedido, desempenhei várias funções na empresa MCG durante 13 anos, no Carregado. A última foi a de Director Administrativo e Financeiro.

E agora digo mais duas palavras sobre a comissão da Guiné.
Estivemos em Có durante três meses, integrados na segurança à construção da nova estrada Bula - Teixeira Pinto. Depois, até final da comissão, a CCaç 2465 ficou como responsável pelo sector de Bissum – Naga. Era a área mais problemática do Batalhão, que tinha o comando em Bissorã.
A actividade operacional em Có e de modo particular em Bissum, até final do ano de 1969, foi muito dura.
Em 1970 diminuiu de intensidade. Então, o acento tónico da nossa actividade ficou inscrito em acções de paz, bem vivas ainda hoje na memória daqueles que então ainda continuavam a fazer a guerra. O apoio dado à população de Bissum, na formação escolar das crianças, no campo sanitário, habitacional e outros, a valorização escolar e profissional dos soldados da CCaç 2465, teimam em não deixar de afirmar-se, nas recordações desses dois anos, como o mais gratificante que fizemos na Guiné.
Apesar de largas dezenas de contactos com os guerrilheiros do PAIGC, regressámos todos.

Com um abraço
Melo de Carvalho

Vista aérea de Bula
Foto: © Carlos Ricardo.

 Estrada Bula-Có-Pelundo-Teixeira Pinto - Vd. Carta da Província da Guiné 1:500.000

Abril/Maio 1967 - Construção do quartel de Bissum-Naga. Como se pode ver, estas construções davam-nos cá uma qualidade de vida...
Foto e legenda: © Carlos Ricardo. 


2. Comentário do editor:

Caro camarada Melo Carvalho, bem-vindo à nossa caserna virtual de ex-combatentes da Guiné.
Uma vez que nos segues atentamente, não estranharás o nosso tratamento menos informal, por tu, que é uso na nossa tertúlia, independentemente da nossa idade, dos nossos postos antigos e/ou actuais, formação académica, profissão e outras circunstâncias que "lá fora" podem fazer diferença mas que entre camaradas são irrelevantes.

Saberás que este blogue é um repositório de memórias escritas e fotográficas dos momentos mais ou menos marcantes dos combatentes da Guiné. São relatos escritos na primeira pessoa e fotos, elas próprias também falantes.
No teu caso, poderás, se assim o entenderes, deixar um ou outro apontamento da tua passagem por Moçambique, esta última vivida nos tempos conturbados da passagem do testemunho da soberania nacional para aquele novo país independente e soberano.
Claro que o que mais nos interessa são apontamentos da História da CCAÇ 2465, da qual, além de ti, só temos na tertúlia o ex-Alf Mil Aníbal Magalhães que em tempos nos disse:

[...]
A nossa estadia na Guiné, no ambiente de guerra, foi difícil como deve calcular. Mas havia uma grande união entre todos, nos bons como nos maus momentos. 
É de realçar que fomos comandados superiormente pelo Capitão António Melo Carvalho a quem tudo devemos. Mas, como o Luís tem dito, todos temos uma história para contar. 
A minha (história) começou no início da década 1950, quando conheci Amílcar Cabral. Conheci como? Pois Maria Helena, primeira mulher de Amílcar era minha prima. As nossas mães eram irmãs. As reuniões familiares eram frequentes e algumas vezes em casa dos meus Pais. 
Tenho de Amílcar Cabral grandes recordações,uma grande simpatia, uma grande amizade. Toda a família o respeitava. Eu pessoalmente fiquei impressionado com aquela figura que apresentava uma grande confiança. 
Esta história como deve calcular teve muitos episódios sobretudo quando fui mobilizado para a Guiné. Estive na Guiné sem complexos e como afirmou Amílcar, a sua luta não era contra o povo português. A morte de Amílcar deixou-me triste, perdi um amigo e sua morte nada resolveu. 
[...]

Militam também na tertúlia: da CCS/BCAÇ 2861, o ex-Fur Mil Enf Armando Pires; da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861: o ex-Fur Mil António Nobre, o ex-Sold Apont AP Alexandre Cardoso e o ex-Sold Radiotelegrafista (DFA) José Maria Claro.

Se ainda não leste e quiseres aceder às suas memórias, clica nos nomes na cor laranja.

Os editores ficam ao teu dispor para esclarecer qualquer dúvida que tenhas e desejam que te sintas bem entre nós porque é com o maior prazer que te recebemos. Poderás conhecer alguns de nós no nosso próximo Encontro de 2016, muito provavelmente a levar a efeito no dia 16 de Abril em Monte Real.

Aqui fica um abraço em nome da tertúlia e dos editores
Carlos Vinhal
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 Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)