quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24877: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (18): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Julho de 1970 - Acção "Bacará"



"A MINHA IDA À GUERRA"

18 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

JULHO DE 1970 - ACÇÃO BACARÁ

João Moreira




O MEU COMENTÁRIO AO DIA 13 DE JULHO DE 1970

ACÇÃO BACARÁ

13/JUL/1970


Perto do objectivo, o 1.º grupo de combate ficou emboscado para proteger a retirada do 4.º grupo de combate, que foi fazer o golpe de mão.

Chegados ao objectivo, entramos nas moranças e capturamos os elementos da população e apanhamos tudo o que pudesse ter interesse ou fosse suspeito.
Eu não entrei nas moranças. Fiquei com um grupo de soldados para guardar os elementos capturados nas moranças.
Contei 39 elementos, entre homens, mulheres, jovens e crianças mas admito que tenha ficado algum por contar.

Saímos rapidamente, porque tínhamos a informação de haver um bigrupo naquela zona.

Era uma zona de bolanhas, mas nós regressamos pela orla da mata para não sermos facilmente detectados e estarmos mais protegidos. O furriel Justino comandava a última secção composta por uma esquadra nossa e alguns milícias. Algumas vezes o furriel Justino pediu para pararmos, porque ouvia barulhos suspeitos e queria certificar-se do que se tratava.

Neste trajecto, ouvimos o ruído de um helicóptero que, pela direcção seguida, devia dirigir-se para o Olossato.

Como esta acção previa a presença de 1 heli-canhão em alerta no Olossato, o pessoal ficou mais tranquilo, pois podia socorrer-nos no caso de sermos atacados. Só que vinha atrasado, isto é, depois do golpe de mão feito.

Após 3 ou 4 paragens por causa do barulho que se ouvia atrás de nós, fomos surpreendidos por um grupo de guerrilheiros que corriam pela berma da bolanha, ao nosso lado, tentando alcançar-nos e atacar-nos.
Como seguíamos por dentro da mata, não fomos detectados. O IN estava ao nosso lado, a cerca de 20/30 metros de nós.

Avisei o capitão que deu ordem de fazer fogo e os "turras" de prováveis atacantes passaram atacados.
Os guerrilheiros responderam com RPG's e armas ligeiras.
O capitão enquanto dava ordens, ia lançando granadas de mão e o IN atirava as roquetadas para as palmeiras atrás do capitão.
Disse-lhe para sair dali e se proteger, mas ele calmamente disse para não me preocupar com ele e para nós nos protegermos.

Como é "habitual" nestas situações o rádio RACAL não funcionou - quando havia contactos com o PAIGC os rádios raramente funcionavam. Penso que o problema não era dos rádios, mas sim dos nervos/medo dos operadores de rádio.
Valeu-nos o "banana" ou AVP1 que contactou o Olossato.

No quartel, o alferes Pimentel ao ouvir as armas e pela direcção donde vinham deduziu que era a nossa Companhia a "embrulhar".
Pegou na carta/mapa da zona onde tínhamos ido e correu para a pista, onde o heli-canhão tinha acabado de pousar.
Deu a carta/mapa e as coordenadas ao piloto e lá foi o heli ao nosso encontro.

O heli voando baixo, aproximou-se do local e pediu a nossa posição e a posição do IN.
Após a nossa resposta, disse que já nos tinha visto e ia atacar o grupo inimigo.
As munições que eram explosivas e incendiárias provocaram a fuga do IN.

Depois de fazer o reconhecimento da zona, disse que podíamos regressar pelas bolanhas, porque ia acompanhar-nos, voando por cima do nosso grupo, e evitando a volta muito maior e mais cansativa, se fosse feita pela mata.

Durante o contacto fugiram alguns capturados, pelo que só chegaram 37 ao Olossato - MESMO ASSIM, MISSÃO COM MUITO BONS RESULTADOS.

Quando o grupo de combate que fez a protecção chegou ao quartel, alguns dos seus elementos disseram aos soldados do meu grupo de combate que, quando estavam emboscados, viram passar o grupo IN mas não o interceptaram.

Como o alferes, comandante do meu grupo, não tomou posição falei no caso ao capitão, que após "averiguações" disse-me que tinha havido "desinformação", porque o comandante do outro grupo negou terem visto o IN.

Até aceito que o outro grupo de combate tenha evitado o contacto - SÓ TÍNHAMOS 3 MESES DE COMISSÃO - mas não aceito que pelo "rádio" não nos tenha informado que "PASSOU" ou "PARECEU QUE PASSOU" um grupo IN.
Com este aviso já não seríamos surpreendidos.
Felizmente não fomos surpreendidos, porque detectamos a aproximação do grupo IN.

Curiosamente, passados 50 anos, um elemento desse grupo confirmou terem visto os "turras" a passar. MAS NÃO OS ATACARAM NEM NOS INFORMARAM QUE ESTÁVAMOS A SER PERSEGUIDOS.
E ASSIM SE FAZIA A NOSSA GUERRA.
JÁ DIZ O DITADO: "QUEM TEM CU, TEM MEDO"

Furriel Moreira junto ao heli-canhão que actuou nesta Acção BACARÁ
Furriel Moreira com o Capelão Baptista, do Batalhão de Bissorã. Era um "velho" conhecido, pois fora Capelão Auxiliar na Igreja de Santa Marinha a que pertence o lugar do Candal, onde nasci e vivo.
O Padre Baptista deslocava-se periodicamente ao Candal para acompanhar a JOC de Santa Marinha nos intercâmbios com a JOC do Candal razão pela qual não éramos desconhecidos.

(continua)

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Nota do editor

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1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, o "nosso capelão" Augusto Baptista é nosso tanqueiro... Vê aqui alguns postes com ele... Ab, Luis


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Augusto%20Baptista%20%28capel%C3%A3o%29