Lobão da Beira, Tondela, 2017 > Funeral do Soldado Paraquedista António Silva
1. Em mensagem de 19 de Outubro de 2023, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), fala-nos dos (combatentes) Esquecidos, nós todos afinal, mortos ou vivos.
Ainda os Esquecidos
Para o António Silva, Soldado Paraquedista morto em Angola em 1963
Patriotismo é querermos o melhor para o nosso país.
Nacionalismo é querermos o país só para nós.
Os dois foram homenageados na Assembleia da República por diferentes razões a meu ver. Mereceram a homenagem?
Um era esquivo, não tinha travões na língua, discreto quanto à sua vida pessoal, rico dono de uma cadeia de supermercados, que se enchem quase todos os dias de gente que o enriqueceu e promete continuar a enriquecer os seus familiares nos anos mais próximos. Dizem que à custa de salários baixos e de o defender com a boca toda, era responsável pelo fecho de milhares de pequenas empresas, lojas, talhos, mercearias, retrosarias e até ao definhar de mercados tradicionais, onde os produtores vendiam os seus produtos directamente ao consumidor.
Digno de todas a honras, para além de entender que devia pagar o menos possível aos seus trabalhadores, também não estava de acordo com a tributação devida no seu país e passou a sede das suas empresas para a Holanda, onde paga menos. Era comendador pelos serviços prestados ao nosso país, aliás como muitos que o merecem, e outros tantos ou mais que o não merecem, como se veio a comprovar-se nos anos seguintes.
Quanto ao outro que vi actuar desde cedo como músico, era como dizem, um gajo porreiro, amigo do seu amigo, que integrado numa banda primeiramente punk e depois rock, que quer se goste ou não, marcou trinta e tal anos das nossas vidas, pois a sua música não nos atingiu a nós, atingiu os nossos filhos e também netos. Na verdade ele não explorou ninguém, não enriqueceu (quem é que enriquece pela música em Portugal?) mas levava milhares de apreciadores atrás dele para onde fosse, como eu fui testemunha disso. Quando ele estava no palco sabíamos que conhecia muita gente que ali estava e nós, tínhamos a sensação de pertencermos ao seu núcleo de amigos sem nunca termos estado a menos de trinta metros dele. Tenho pena que ele tenha morrido, do outro tenho uma dualidade entre o lamento e a embirração.
No dia que eram homenageados na AR, chegava a Portugal finalmente o soldado paraquedista António Silva morto em combate Angola 1963. Morreu por uma Pátria que já não existe.
Essa Pária alterou no seu conceito, já não tem guerra, modernizou-se, encheu-se autoestradas, dos tais supermercados, de temas musicais que não lhe diriam possivelmente nada, tem uma juventude que não sabe o que é ter guerra estar longe de casa sem telefone por vezes sem água e com uma alimentação que faria torcer o nariz a qualquer jovem frequentador de centros comerciais de hoje.
O soldado António Silva por lá esteve morto e enterrado 11 anos antes da viragem do seu país e, se voltou no dia 6 de Dezembro de 2017 a pisar solo pela Pátria, pela qual deu a vida, não foi o Estado que lhe prestou esse derradeiro e devido serviço.
No dia em que homenagearam dois, talvez, discutíveis portugueses na AR, esqueceram aquele que morreu pela Pátria, lamentavelmente não lhes mereceu uma só palavra, que era indiscutível.
Os esquecidos, continuam isso mesmo, esquecidos.
Feliz Natal e um Grande Ano para todos os camaradas.
Escrevi em 2017 mas como continua actual cá vai.
Juvenal Amado
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Foto: Nuno André Ferreira - Com a devida vénia ao Correio da Manhã
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24860: (In)citações (259): Depois da "mina A/P" que me atirou, em 29/10/2023, para um leito de hospital, com o fémur partido, estou de regresso à vida, à luta, a escrita, enquanto a a recuperação prossegue (José Saúde, Beja)
5 comentários:
Ao Juvenal, uns pingos doces para temperar a mente tão azeda.
Conselho budista: O homem alcança o vazio absoluto, a serenidade interior, a suprema tranquilidade, a plena sabedoria, esvaziando o seu ser. Nas palavras de Buda: "Esvazia a tua barca. Vazia, ela vogará levemente. Esvazia o teu coração de paixões e ódio, alcançarás bom porto".
Abraço.
António Graça de Abreu
Antonio
O que tu chamas azedume eu chamo ânsia de justiça.
Juvenal, é caso para dizer : eh pá, dá-lhes !
Os nacionalistas ferrugentos ainda dizem, 'aos festejos da independência daquilo', sobre a ida do PR e PM recentemente a Bissau, e 'desde que Portugal acabou' ou 'ao que resta de Portugal', quando falam sobre o País.
Mas, nada desse nacionalismo quando na CP, TLP(telefones) ou na Carris era içada a bandeira britânica, em dias feriados.
Os eternos esquecidos serão sempre os filhos do povo.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Diz o povo e com razão,!!!!!
Fala dos outros para que não falem de ti.
Azedume!!!!
Com que então azedume?!
Dizes bem Juvenal!
" Ânsia de justiça"
Abraço fraterno
Eduardo Estrela
Aqui, estou com o Juvenal. Subscrevo tudo o que ele disse.
Os políticos e outros promotores de homenagens e condecorações deviam ser mais parcimoniosos e honestos na selecção dos homenageados. E fico-me por aqui.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá
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