Amílcar Cabral (1924-1973) > c. 1970 > Foto do líder histórico do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC (1970) |
1. Excerto do conto "A doença do Alemão", de Luís Graça (*):
2. Comentário de António Graça de Abreu:
Que grande história! Mas uma frase lapidar, exemplar pelo rigor: "O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo." (**)
Abraço,
António Graça de Abreu | 18 de abril de 2023 às 18:01
(**) Último poste da série > 31 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23477: Frase do dia (6): Abençoadas Guiné e China que me deram este gosto pela poesia (António Graça de Abreu)
(...) Sei que fez a tropa (e a guerra) na Guiné. Não posso dar muitos pormenores, porque sou um zero à esquerda nessas matérias. Julgo que pertencia à engenharia militar. Tanto quanto me lembro das nossas conversas, ele não deixava de simpatizar com o Amílcar Cabral, filho de pai cabo-verdiano. Mas achava um disparate a ideia de união ou unidade entre a Guiné-Bissau e Cabo-Verde.
− O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo − recordo-me de ele me ter dito uma vez.
− Ingénuo ?... − indaguei eu.
− E viu-se: deixou-se matar por um dos seus. Em vez de mandar limpar o sebo a esse tal Inocêncio Cani, não, deu-lhe uma segunda oportunidade para ele se regenerar...
O Arsénio tinha uma costela cabo-verdiana, pelo lado da mãe que, garantia ele, era bisneta de escravos...
− O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo − recordo-me de ele me ter dito uma vez.
− Ingénuo ?... − indaguei eu.
− E viu-se: deixou-se matar por um dos seus. Em vez de mandar limpar o sebo a esse tal Inocêncio Cani, não, deu-lhe uma segunda oportunidade para ele se regenerar...
O Arsénio tinha uma costela cabo-verdiana, pelo lado da mãe que, garantia ele, era bisneta de escravos...
− E eu trisneto, com muita muita honra, sem qualquer complexo... Tive pena que Cabo Verde tivesse entrado, em 1975, na paranoia da dipanda, a reboque do PAIGC. Arrepiaram caminho, anos mais tarde, que a euforia revolucionária não enche barriga...
− Dipanda ?!...
− Ah!, desculpa, é angolês, uma corruptela de independência...
Eu aqui não quis comentar, nem nunca disse que tinha tido amigos cabo-verdianos que apoiavam o PAIGC no Luxemburgo... Depois meteram a viola no saco, quando se deu o golpe de Estado do 'Nino' Vieira, em 1989, se bem recordo... Foi o fim de muitas ilusões... "A segunda morte do pai das nossas nacionalidades", chorava um dos meus amigos que era cantor, com discos publicados na Holanda... E, para mim, também, embora eu nunca tivesse conhecido a realidade da Guiné-Bissau nem de Cabo-Verde, antes e depois da "luta de libertação", como eles gostavam de dizer... Mas o direito à independência, tanto da Guiné-Bissau, como de Cabo Verde, esse, sempre o reconheci. Como lá se chegou, num caso e no outro, isso eu já não discutia, era assunto para os guineenses, os cabo-verdianos, os portugueses e os historiadores... E eu, afinal, era cidadão luxemburguês...(embora mantivesse a cidadania portuguesa). (...)
2. Comentário de António Graça de Abreu:
Que grande história! Mas uma frase lapidar, exemplar pelo rigor: "O Amílcar Cabral tinha tanto de génio como de ingénuo." (**)
Abraço,
António Graça de Abreu | 18 de abril de 2023 às 18:01
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24230: A galeria dos meus heróis (49): A doença do Alemão (Luís Graça)
(*) Vd. poste de 18 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24230: A galeria dos meus heróis (49): A doença do Alemão (Luís Graça)