Lisboa, vista em perspectiva. Gravura em cobre, meados do Séc. XVI (Pormenor) (in G. Braun - Civitates Orbis Terrarum.., vol. V, 1593) (Fonte: Museu da Cidade). Em meados do Séc. XVI, a cidade de Lisboa não sofrera grandes alterações desde o reinado de D. Manuel. Destaque, ao centro, para a representação do Terreiro do Paço e, mais a norte, a Praça do Rossio, com os edifícios do Paço dos Estaus, ao fundo, e do Hospital Real de Todos os Santos, do lado direito. O hospital ocupava grande parte do que é hoje a Praça da Figueira, e pode ser considerado o primeiro hospital mundial da era da globalização, inaugurada pelos portugueses, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Lisboa é um cofre forte suíço
(poema dedicado aos meus amigos kaluandas
Elisabete Pinto, Jorge Lima,
Paulo e São Salgado,
Raúl Feio e Rui Pinto,
pela sua sabedoria,
pela sua hospitalidade,
pelo seu exemplo de interculturalidade
... mas também a uma jovem e sofrida poetisa do Huambo,
que foi minha formanda, Yelisa Visimilo, de seu nome literário,
e que teve a gentileza de me oferecer um exemplar autografado do seu primeiro livro de poemas)
Lisboa é um cofre forte,
uma casamata,
um bunker.
É linda de morrer,
... mas à distância de um tiro de canhão,
diz Braun, em 1593.
Para quem vem do norte
negociar as especiarias da Índia,
na Rua do Bem Formoso,
Lisboa é irrisão,
é uma miragem,
é o vento Suão,
é Seca e Meca,
é torre de Babel,
é um ponto de reunião de meridianos,
ou um simples lugar de passagem,
com doces enlevos e puros enganos.
Do Palácio dos Estaus,
onde os santos oficiantes do Santo Ofício
se reúnem em concílio,
ao Hospital Real de Todos os Santos,
o primeiro hospital da era da globalização,
vai um tiro de mosquete,
enquanto o mouro cai do minarete
e o pobre do rei do Congo morre no exílio.
Para lá do horizonte, a liberdade,
para cá da ponte,
a saudade.
Ah!, e há a embaixada
da Sereníssima República da Suíça,
com as suas grades nas janelas,
de alto a baixo.
E a ética protestante calvinista,
afixada à porta.
onde os santos oficiantes do Santo Ofício
se reúnem em concílio,
ao Hospital Real de Todos os Santos,
o primeiro hospital da era da globalização,
vai um tiro de mosquete,
enquanto o mouro cai do minarete
e o pobre do rei do Congo morre no exílio.
Para lá do horizonte, a liberdade,
para cá da ponte,
a saudade.
Ah!, e há a embaixada
da Sereníssima República da Suíça,
com as suas grades nas janelas,
de alto a baixo.
E a ética protestante calvinista,
afixada à porta.
Do Brasil virão canários e araras
que em vez de alpista
comerão papas da Nestlé,
enquanto partem caravelas p’ra Guiné,
terra de azenegues e de negros.
No tempo em que ainda não havia negócios da China.
comerão papas da Nestlé,
enquanto partem caravelas p’ra Guiné,
terra de azenegues e de negros.
No tempo em que ainda não havia negócios da China.
A Suíça é burguesa,
trepadora,
alpinista.
É um eldorado
onde os cãocidadãos são levados pelas trelas
dos donos
e não mijam no chão.
Dizem que lá o céu não é azul,
é forrado a ouro.
Lisboa, essa, é de cor branco, sujo,
alpinista.
É um eldorado
onde os cãocidadãos são levados pelas trelas
dos donos
e não mijam no chão.
Dizem que lá o céu não é azul,
é forrado a ouro.
Lisboa, essa, é de cor branco, sujo,
com cadáveres de escravos
a boiar no Tejo imundo.
Lisboa é o poço dos mouros e dos negros.
Lisboa é a chusma de pedintes
às portas das igrejas barrocas.
E dos condomínios de jardins de luxo,
e que luxos!, ai!,
a boiar no Tejo imundo.
Lisboa é o poço dos mouros e dos negros.
Lisboa é a chusma de pedintes
às portas das igrejas barrocas.
E dos condomínios de jardins de luxo,
e que luxos!, ai!,
que luxos,
com buxos,
até ao pescoço dos ricos,
suspensos sob um céu de chumbo.
Não sei por que é que o pobre e o rico,
gostam, em Lisboa,
cidade,
púdica,
do risco
da exposição pública.
E também não sei, ai!,
por que é que se nasce suíço,
num cofre forte como maternidade.
Sigo hoje no voo da TAAG Luanda-Dubai.
Angola, Ilha de Luanda, 14-18 out 2012
(com um kandandu para os amigos e camaradas da Guiné,
se a Internet ajudar)
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com buxos,
até ao pescoço dos ricos,
suspensos sob um céu de chumbo.
Não sei por que é que o pobre e o rico,
gostam, em Lisboa,
cidade,
púdica,
do risco
da exposição pública.
E também não sei, ai!,
por que é que se nasce suíço,
num cofre forte como maternidade.
Sigo hoje no voo da TAAG Luanda-Dubai.
Angola, Ilha de Luanda, 14-18 out 2012
(com um kandandu para os amigos e camaradas da Guiné,
se a Internet ajudar)
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10540: Blogpoesia (307): Àguas Paradas (Juvenal Amado)
Último poste da série > 17 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10540: Blogpoesia (307): Àguas Paradas (Juvenal Amado)