Mostrar mensagens com a etiqueta Carlos Alberto da Costa Campos (cor inf). Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Carlos Alberto da Costa Campos (cor inf). Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 22 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17169: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVIII Parte: Cap IX - Guerra 2: O primeiro Lassa a morrer em combate, o sold at inf Marinho


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCç 763 (1965/67) >  T6 com motor gripado, a aterrar na pista de Cufar, depois de alvejado  em Caboxanque.


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCç 763 (1965/67) > 1965 > Dakota afocinhando, na pista de Cufar, quando transportava motor do T6 alvejado em Caboxamque. O Mário Fitas é o 1º da direita-

Fotos ( e legendas): © Mário Fitas (2016). Todo os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.

Mário Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô. [Foto  em baixo, à direita, março de 2016, Tabanca da Linha, Oitavos, Guincho, Cascais.]

Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > XVIII Parte > Cap IX - Guerra 2 (pp. 58-61)

por Mário Vicente


Sinopse:

(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8),

(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra");

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

(vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965;

(viii) experiência, inédita, com cães de guerra;

(ix) início da atividade, o primeiro prisioneiro;

(x) primeira grande operação: 15 de maio de 1965: conquista de Cufar Nalu (Op Razia):

(xi) a malta da CCAÇ 763 passa a ser conhecida por "Lassas", alcunha pejorativa dada pelo IN;

(xii) aos quatro meses a CCAÇ 763 é louvada pelo brigadeiro, comandante militar, pelo "ronco" da Op Saturno;

(xiii) chega a Cufar o periquito fur mil Reis, que é devidamente praxado;

(xiv) as primeiras minas, as operações Satan, Trovão e Vindima; recordações do avô materno;

(xv) "Vagabundo" passa a ser conhecido por "Mamadu"; primeira baixa mortal dos Lassas, o sold at inf Marinho: um T6 é atingido por fogo IN, na op Retormo, em setembro de 1965.

Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVII Parte: Cap IX: Guerra 2 (pp. 58-61)

E voltamos ao Cantanhez agora para fazer a {Op] Retorno a 17 de Setembro [de 1965]

Flaque Injã é o objectivo e o novo acampamento IN. Os Lassas a três grupos de combate embarcam em duas LDM, no cais de Impungueda pelas 24h00,  desembarcando na bolanha a oeste de Caboxanque, progredindo rapidamente,  ultrapassando esta tabanca e a de Flaque Injã, internando-se na mata a leste desta última.

Como primeiro objectivo teríamos a visita ao antigo acampamento, destruído na operação Satan, no entanto foram emboscados cinco elementos tendo sido aprisionados dois, que conduziram a CCAÇ ao novo acampamento existente. A recepção foi forte por parte do pessoal do PAIGC, utilizando armas ligeiras e pesadas, com balas tracejantes. Apesar dessa forte resistência, os Lassas assaltaram o acampamento desalojando o IN a quem causaram seis baixas confirmadas, apreendendo diverso material. 

Dirigem-se depois para Caboxanque em cujo cais deveriam reembarcar. Na frente da coluna em primeiro escalão, vai a secção do Chico Zé,  comandada pelo Carlos Manuel,  da secção de cães, levando como guias, Alfa Nan Cabo, Gibi Baldé e  Carlos Queba. Seguem-se as secções de Tambinha e Vagabundo. Há que atravessar um túnel arbustivo, onde se encontra uma cobra verde enroscada. A malta vai passando a palavra para trás, para as precauções necessárias pois uma picada desta bonita e simpática coisinha, de vinte e cinco centímetros no máximo é morte certa entre três, quatro minutos. 

Quando a cabeça da coluna atinge as proximidades da mata, de acesso ao cais de Caboxanque, há umas rajadas e uns tiros de G3 isolados. Malta para o chão, seguindo-se uns segundos sepulcrais. Que terá acontecido? Carlos Manuel e os seus homens lá na frente tinham desfeito dois indivíduos, capturado uma metralhadora ligeira, uma pistola e vários cunhetes de munições É aqui que Alfa torce o nariz, vem atrás e fala com Carlos.
– Ali na frente, manga de chatice! Pessoal não pode passa lá!

Inquieto, nariz no ar como que animal adivinhando catástrofe da natureza, rinoceronte perscrutando o perigo, não deixando de fazer o seu vocal som característico de “tchee… tchee…”.. Manga de chatice são as únicas palavras que sabe dizer. Almeida e Vagabundo chegam à frente, Alfa e Gibi apontam o chão. A experiência de escuteiro leva o furriel a verificar a erva levemente inclinada e a concluir também que por ali passaram dezenas de indivíduos.

Almeida leva os três guias e conferenciam com Carlos e Paolo. Carlos manda os Lassas abandonarem a mata em ziguezague e entrarem na bolanha, afastando o máximo possível.

É impressionante! O festim estava preparado com toda a ciência, uma emboscada com uma técnica fora do vulgar.

Quando os comandos do PAIGC se aperceberam que lhes tínhamos morto a detecção à retaguarda, fazer a diversão para terreno aberto, escamoteando a entrada na zona de morte, papando-lhe as migas na cabeça, ficaram fulos. Desvairado, o pessoal do PAIGC veio também para terreno aberto. Então começou o lindo espectáculo das bazucas e dos RPG a digladiarem-se. Estamos um pouco em vantagem porque as granadas dos RPG ao caírem na bolanha enterrando-se na lama, grande parte não rebentava. O céu mantinha-se encoberto e não tínhamos apoio aéreo. Verifica-se que são mais do que nós e que sem medo avançam em terreno descoberto.

Dá-se um milagre!... O sol desponta e ouve-se o roncar dos velhos T6. Damos a nossa posição no terreno com granadas de fumo. O “Mais Audaz” localiza tudo e faz duas picagens. Vagabundo, rádio sintonizado com o ar,  ouve nitidamente o tenente piloto dizer:
– Só vejo malta a rebolar… estou a atingir em cheio… vou picar novamente e gastar os últimos roquetes!

E assim faz, aparecendo sobre o tarrafo do lado do cais de Caboxanque, faz nova picagem. Ficamos suspensos por momentos, o piloto informa que a aeronave foi atingida e que ia tentar aterrar na pista de Cufar. Corações pequeninos, ouvimos que tinha conseguido. Quando regressados a Cufar soubemos, o T6 tinha sofrido bastantes impactes que lhe causaram dezassete furos,  um dos quais no depósito do óleo que esvaziara por completo, o avião a tocar na pista de terra batida e o motor a gripar.

Entretanto o festival em Caboxanque continuava. Alertadas, as lanchas e a vedeta da Marinha tinham subido o Cumbijã. Com a sua ajuda e mais uma parelha de T6, as forças do PAIGC foram reduzidas ao silêncio e os Lassas embarcaram,  regressando a Cufar.

Passados dias soube-se e ficará gravada na história da CCAÇ 763, tínhamos tido à nossa espera uma Companhia do Exército Popular, comandada, nada menos nada mais, do que pelo comandante 'Nino', a qual sofreu das mais avultadas perdas em termos humanos averbadas pelo PAIGC.

Obrigado Alfa, FAP e Marinha,  pois estaríamos metidos numa enorme e indefinida encrenca se não fosseis vós. A sorte também conta, sendo de uma importância extraordinária nesta guerra.

Nunca será pouco enaltecer os amigos fuzos e marinheiros, e aquilo que por nós fizeram com as suas lanchas e vedetas. Aos pilotos, e às enfermeiras páras, bastará o conhecimento e forma como são recebidos em Cufar para saberem como lhes estamos gratos por tudo.

É claro que nem tudo foram rosas.

Havendo uma grande operação dos fuzos na zona de Cabedu, foi montado o posto de comando e evacuação em Cufar,  derivado da sua bela pista e segurança. Hospital de campanha montado do lado esquerdo junto à entrada do aquartelamento. Por escala os Vagabundos de piquete. O seu chefe furriel já alcunhado de Mamadu, vestido ou despido à maneira do mato, calção e camisa de caqui, bota de lona e boina preta, pistola caindo do cinturão à “pistoleiro” em vez de carregar com a G3. Malta almoçada, segurança montada às aeronaves na pista, um calor de rachar, toca de espreguiçar numa maca, instalada no improvisado Hospital de Campanha.

Foram-se juntando alguns soldados em redor do furriel, começando as anedotas e histórias da vida de cada um. Mamadu delirando contar e ouvir uma anedotazinha, contava aquela do dramático caso do patrício que se queria suicidar por infidelidade de sua companheira e que, subindo ao quinto andar do prédio, de lá gritava estar farto da vida e que se iria mandar dali abaixo. O povoléu juntava-se todo à espera do desfecho do drama, quando apareceu a mulher do infeliz e que em desespero gritou:
– Oh!, a  homem, não faças isso,  porque eu só te pus os cornos, não te pus asas!

Encontrava-se Mamadu e aquela malta toda nesta bagunçada, quando de repente aparece a alferes pára enfermeira. Ao ver a malta por ali sentada, correu com a soldadesca toda. O furriel continuou agora sentado na maca, mas também ele teve ordem para se pôr a andar. Verificando o protagonismo que a sra. alferes estava a tomar, o chefe dos Vagabundos resolveu manter o seu. Deu-se então um diálogo interessante. Mamadu levantou-se e informou:
– Saiba Vossa Senhoria, meu alferes, que eu não vou abandonar esta posição, se há alguém que tenha de solicitar autorização para permanecer neste local, não serei eu, pois quem é aqui o responsável neste momento é este maltrapilho do mato que se apresenta a vossa senhoria!...

Perfilando-se, na posição de sentido, o furriel pronunciou:
– Apresenta-se o furriel miliciano Mamadu, comandante do piquete com a responsabilidade total pela segurança desta tenda, bem como de todas as aeronaves que se encontram na pista. Não tenho as divisas nos ombros, porque no mato é adorno que não usamos e a boina preta está superiormente autorizada.

Grande discurso!... A alferes enfermeira [, Maria Ivone Reis, foto à esquerda,]  sorriu e repostou:
– São todos iguais!... Têm todos a escola do vosso capitão! Mas pelo menos deveria estar com roupa em condições!
–  Saiba sra. meu alferes, que a minha lavadeira Miriam está em Catió com montes de roupa à espera de portador, pelo que não tenho o prazer e a honra de lhe satisfazer esse desejo. Mas como sabe e muito melhor do que eu, para morrer tanto faz estar de smoking como de camisa rota, o importante é estar lavada!
– Machistas de merda!

Foi a resposta que o furriel recebeu. Tinha razão a alferes enfermeira!?... Sim! Tinha razão, mas a CCAÇ não pode parar com estas ninharias pois o caminho a percorrer é longo. Reentramos nos cercos e limpeza e bate-se toda a tabanca de Cubaque,  dando forma à operação Rissol. Voltamos a Camaiupa e Cantumane para efectuar a [op] Rastilho, reconhecendo toda a mata. Uns tiros sem importância para comunicação e reunião, nós sabemos que eles continuam lá, é vital para dar seguimento ao corredor de Guilege. 

Quando entrávamos em Cantumane aconteceu precisamente o mesmo que na operação Trovão. No mesmo local e da mesma forma, fomos emboscados e atacados com o sistema de abelhas. O grupo de combate que seguia em primeiro escalão é obrigado a recuar. Só depois do envolvimento dos outros dois grupos e após uma hora de fogo intenso, a CCAÇ consegue repelir o IN causando-lhe nove mortos e pelo menos um ferido. Pela nossa parte um morto e vários feridos com picadas de abelhas. O soldado Marinho regressou à sua terra para nela repousar eternamente. Alguém irá ao Terreiro do Paço, receber a medalha postumamente atribuída. Os feridos no total de oito tiveram de ser evacuados alguns para Bissau,  resultante das picadas das abelhas, pelo que nos tivemos de deslocar para a bolanha para serem levados pelos helicópteros.

Com a morte do primeiro militar da CCAÇ 763, houve que definir coisas muito importantes. Tendo em atenção, a construção da nossa identidade, com o direito à identificação e localização, de um ente que faz intrinsecamente parte do nosso génese, ou agregação espírito-matéria. Sendo um direito adquirido, fazendo parte da nossa complexa estrutura cultural, o cultivar o culto dos mortos, e fazermos o nosso luto. Nunca um combatente poderá ficar no campo de batalha, local da sua morte, mas sim onde as suas cinzas façam parte de um todo, de uma vontade una daqueles a quem estão ligados.

É Cultura Portuguesa, caso contrário não teríamos ninguém nos Jerónimos.Todos devem ter direito aos seus sentimentos!

É importante que as nossas famílias saibam o que lhes é entregue. Quem não dignificou o valente soldado português, vindo dos mais recônditos lugares deste país? Não são considerados e respeitados por quem devia.

Carlos manda formar a Companhia e é assumido o compromisso:
–  Qualquer elemento da CCAÇ 763 que tenha a infelicidade de aqui falecer, a família receberá o seu corpo. Todos contribuirão para o efeito, em função do seu vencimento. Assim acontecerá!

Não abrandamos o controlo a sul. Num golpe de mão a Cantone, Quepul Na Cuenha,  chefe de partido de Mato Farroba, e Go Na Ialá,  enfermeiro do PAIGC, são feitos prisioneiros. Go Na Ialá é abatido por uma sentinela ao tentar a evasão, saltando o arame farpado. Mas também não temos meios para fazer tudo na noite de 26 para 27 de Novembro, elementos do PAIGC aparecem nas tabancas a sul tentando aliciar a população, raptando alguns blufos que conseguiram fugir e se apresentaram no aquartelamento informando do acontecido.

Confirmamos as dificuldades do PAIGC com a população, e no recrutamento interno, mas chegam-nos informações de que o Exército Popular está a ser reforçado por pessoal estrangeiro que não se limita a dar instrução, entrando também em combate. Verificamos que a guerra começa a internacionalizar-se. Não é novidade, já haviamos abatido uma ave estranha.

Continua a cobrança!... Hoje pagas tu, amanhã pago eu!

Primeiro de Dezembro, uma data que ainda diz qualquer coisa a este povo português. Inauguramos uma escola para as crianças nativas. A sua actividade é iniciada com a frequência de uma centena de alunos das povoações a sul e por nós controladas. É-lhes igualmente distribuída diariamente a primeira refeição, tendo-lhe sido fornecidos livros e outro material, tudo a expensas da CCAÇ 763. Desempenha as funções de professora Dª. Glória, tendo como assistente na parte de desporto Jata, o nosso amigo Micaelense, sargento Luís Tavares de Melo.

Não param os Lassas, apesar dos mortos e dos feridos que já sofreram, é necessário aproveitar a maré alta e por isso já fomos para o outro lado do Cumbijã, estamos cá para quê?... Fazer a guerra? Faça-se!
__________

domingo, 10 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15603: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - Parte I: capa, dedicatória, introdução e prefácio (, este com a assinatura de António Graça de Abreu)













"Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", livro  de Mário Vicente  [ Fitas Ralhete],o nosso querido camarada  Mário Fitas, ex-fur mil inf,  op esp,  CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora [, foto atual à direita].l

[Em, cima:]  Capa, dedicatória, introdução e prefácio (este, com a assinatura do nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu).


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


1. Começamos hoje a publicar no blogue o livro do nosso camarada, que anda há anos à espera de editor... Na realidade, o livro não é inédito, há uma edição de autor de 2000. (*) 

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada, como nos diz o António Graça de Abreu no prefácio, e a sua publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente, de seu nome completo, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726), alentejano, reformado da TAP, pai de duas filhas, avô.

Recorde-se que já aqui publicámos, em 2008,  em dez postes o seu fascinante livro "Pami Na Dondo, a guerrilheira" [capa à esquerda], ed. de autor, Estoril, 2005, 112 pp. (**).

O ano passado o Mário Fitas entregou-nos, em formato digital, esta segunda versão do seu primeiro  livro, que deu novo título, "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2010, 99 pp., em formato digital). Deu-nos "luz verde" para a publicar no blogue, como de resto há muito nos tinha prometido...

Capa de "Putos, ganduilos e guerra",
edição de autor, 2000
O Mário Fitas ainda teve esperança de encontrar um patrocinador para  a 2ª edição, em papel. Mas, convenhamos, não é fácil, nesta conjuntura, e para mais para os escritores que foram combatentes da guerra do ultramar/guerra colonial, encontrar patrocinadores ou mecenas para a publlicação de livros.

Esperamos que os portugueses, sobretudo os mais novos, não queiram esquecer, ignorar, branquear ou escamotear o seu passado. O passado é um património que todos temos a obrigação de preservar, divulgar e valorizar. E sem ele, não há presente nem futuro.

Começamos hoje a reproduzir esse ficheiro que nos chegou às mãos, com o propósito de poder levá-lo a um público mais vasto, começando pelos nosssos amigos e camaradas da Guiné que nos leem.

Estamos gratos ao Mário Fitas pela sua generosidade e camaradagem. Estamos certos que os nossos leitores vão saber acarinhar e valorizar estas memórias biográficas do Mário Vicente / Mário Fitas, fazendo-lhe chegar críticas e comentários, através da caixa de comentários do nosso blogue.  Não se esqueçam que nada é mais estimulante para um autor do que o "feedback" dos seus leitores. E nós temos a obrigação de valorizar o que é nosso. 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14236: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte X (Mário Vasconcelos): Bissau, cidadezinha colonial, em 1956, onde chegam as modas de Lisboa


___________________________________________________________________________




_________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________







Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015). [Edição: LG]




1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Trata-se de uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição, no espólio do seu falecido pai.

Hoje publicamos mais de anúncios de empresários de Bissau, com interesses em Bissau: era o caso, por exemplo, da Companhia dos Grandes Armazéns ALCOBIA, SARL, com sede na baixa lisboeta, que fornecia "mobiliário e decoração" para palácios do Governo (Guiné, Bié, Congo, Luanda...), hotéis, bancos, "e muitas outras entidades oficiais e particulares do Ultramar". Era uma casa famosa, fundada em 1914, instalado num edifício oitocentista,  na Rua Ivena, 14, esquina com a Rua Capelo...  e que ainda hoje existe   com sede na Av. Roma 48 - B - lj 1, Lisboa...

Ficamos a conhecer também:

(i) A. F. Parente & Ca, que tinha ao seu cuidao "todas as obras de asfaltamento das estradas da Guiné e da cidade de Bissau";

(ii) O Quiosque de Gelados, de Teresa Fiore, com os melhores sorvetes da cidade, cerveja das melhores marcas e esplanada; pelo apelido só pode ser uma senhora italiana, ou de origem italiana;

(iii) Empresa T. da Guiné, com "carreiras para todo o interior da província e Ziguinchor [Senegal,  o vizinho do norte, colónia francesa, que se tornaria independente em 4/4/1960]

(iv) Estação de Serviço Especializada Auto Bissau, de José Maria Melão: bate-chapas, pintura, mecânica;

(v) Império Lda, com fábricas de gelo, refrigerantes e fundição de metais; [há colecionadores com caricas de refrigerantes da marca Império Lda,, de Bissau!]

(vi) Jorge da Conceição Relvas de Carvalho, "O Transmontano", agente comercial (vinhos do Porto e outros produtos);

(vii) Costa & Campos Lda: agentes comerciais, representantes de Mourão da Costa Campos, Praça dos Restauradores, 13-3º Lisboa...

[Possivelmente Luís Joaquim Mourão da Costa Campos, Caranzalém,  Goa, 17.04.1903 / Lisboa 20.10.1989; no portal Geneall, lê-se que  foi: (i) funcionário do Banco Nacional Ultramarino; (ii) industrial e comerciante em Lisboa e na Guiné; (iii) grande empreendedor nas áreas da indústria hoteleira e turística; (iv) pioneiro em Portugal da atividade de catering à aviação comercial, e (v) pai de Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos  (1927-2006), cor inf ref,   antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973)].

Pormenor interessante: destas 7 empresas de Bissau, só uma tem nº de telefone no anúncio, a Empresa T. da Guiné... Era o nº 99... O telefone ainda era um luxo em 1956...Em Bissau o nº de telefone mais alto que encontrei até agora, nestes anúncios,  foi o da casa Benjamim Correia, uma das mais antigas, fundada no tempo da I República,em 1913... O nº de telefone era o... 156! Isto dá uma ideia da dimensão da rede telefónica!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11175: In Memoriam (142): Sesimbra, 26/2/2013, cemitério local, talhão dos antigos combatentes: singela mas digna cerimónia de trasladação dos restos mortais do nosso amigo e antigo comandante cor inf ref Alberto Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19


Foto nº 20


Foto nº 21


Foto nº 22


Foto nº 27


Foto nº 29

Cemitério de Sesimbra, 26 de fevereiro de 2013... Cerimóna da trasladação dos restos mortais do cor inf ref Costa Campos para o talhão dos combatentes.

Fotos: © Mário Fitas (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Jorge Pereira [, foto atual à esquerda]:

Assunto - Coronel Carlos Alberto da Costa Campos
Data: 26 Fev 2013 20:20:19
Companheiro Luis Graça

Realizou-se hoje pelas 11.00 horas a trasladação dos restos mortais do nosso saudoso Comandante e Amigo Coronel Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos no cemitério de Sesimbra para o Talhão dos Combatentes.

A cerimónia iniciou com um pequeno acto religioso, seguido de alguns discursos de evocação do Sr Cor Costa Campos [, foto à direita].

O Presidente do Núcleo de Sesimbra, Ten de Marinha Ref Florindo Paliotes referiu-se ao comportamento dos Militares e às suas  dificuldades e à especificidade das suas missões.

Pelos militares da CCaç 763 presentes, o ex-Alf Mil Jorge Paulos referiu o lado humano do seu antigo Comandante.

Em representação de SExa o General Artur Neves Pina Monteiro, Chefe do Estado Maior do Exército, o Sr Ten Cor Mário Bastos transmitiu o agradecimento do Exército ao Militar e ao Homem que hoje era homenageado. 

Presentes igualmente a sua viúva,  D. Maria Teresa e filho, além do ex-Ten Fuzileiro Luís Costa Campos e Esposa,  que lembrou  que, finalmente este dia tinha chegado, pois um dos últimos desejos de seu Pai era repousar no Talhão dos Antigos Combatentes.

Quero expressar o meu agradecimento aos que a mim se juntaram para conseguir um local digno e eterno para o nosso antigo Comandante.

Não posso deixar de referir o Ex-Fur Mil Benjamim Durães e do Ex-Fur Mil. Artur Zegre do Núcleo de Setúbal e de Sesimbra,  sem os quais esta minha missão não teria sido possível.
Inegável e fundamental foi a divulgação dada pelo bloque Luis Graça & Camaradas da Guiné sem a qual não teria sido possível coordenar esforço e ter presente na trasladação tantos antigos companheiros. O blogue para os antigos Combatentes é uma referência.
 
Obrigado a todos


 
Carlos Jorge Lopes Marques Pereira
Ex-Fur Mil de Infor e Operações de Infantaria
Bigene-Guidage
Guiné 1972-74

PS - Junto envio fotografias tiradas pelo Ex-Fur Mil Mário Fitas [, da CCAÇ 763,] sugerindo, caso não possam ser todas, que se publiquem as 17, 19, 20, 27 e 29.

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11167: In memoriam (141): Nuno Felício (1974-2013), jornalista da Antena 1, filho do nosso camarada Rui Felício (ex-alf mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro, Dulombi, 1968/70)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11110: In Memoriam (139): Cor inf Carlos Alberto da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973): Trasladação dos seus restos mortais, no próximo dia 26, 3ª feira, às 11h00, no Cemitério de Sesimbra, para o talhão da Liga dos Combatentes (Carlos Jorge Pereira)



Uma das últimas fotos do cor Carlos Alberto Costa Campos (1927-2006), tirada pelo Mário Fitas em fevereiro de 2004.


Foto: © Mário Fitas  (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem que acabamos de receber nosso camarada Carlos Jorge Pereira [,membro da nossa Tabanca Grande desde 11/2/2009, e de quem infelizmente ainda não temos nenhuma foto]


(...) Realizou-se hoje pelas 10.00 horas no Cemitério de Sesimbra e exumação dos restos mortais do Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos. (*)

Estiveram presentes cerca de doze antigos Combatentes, alguns deles que serviram sob as suas ordens. A liga dos Combatentes de Sesimbra fez-se representar pelo seu empenhado e activo sócio e dirigente ex-Fur Mil Artur Zegre.

Pena que não tenha acolhido, da parte do blogue,  a atenção (e a dignidade) que a cerimónia mereceu e que não tenha sido divulgada no nosso blogue, o que teria permitido que mais antigos camaradas estivessem presentes.

Volto a apelar a que façam  o favor de informar, com urgência, que no próximo dia 26 de Fevereiro, pelas 11.00 horas, se irá realizar no Cemitério de Sesimbra, a transladação dos seus restos mortais para o talhão da Liga dos Combatentes, campa nº 41, para que o maior numero possível de amigos e ex-combatentes possam marcar presença.

Respeitosamente subscrevo-me,

Carlos Jorge Marques Pereira
Ex-Fur Mil Inf e Operações de Inf
Bigene-Guidage 1972-74

2. Nota sobre o CV militar  do cor Carlos Albertoi Costa Campos, que nos foi enviada pelo Carlos Jorge Pereira:

Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos [, foto à esquerda]

Curriculum Vitae Militar

(i) Nascido em Lisboa em 18 de Abril de 1927;

(ii) Entrou para a Escola do Exercito em 1945;

(iii) Faleceu em Sesimbra em 8 de Agosto de 2006;

(iv) Comissões:

1. Timor 1952/55 - Alferes
2. Moçambique 1961/64 - Capitão em Boane
3. Guiné 1965/67- Capitão -Cmdt. da Ccaç 763 em Cufar
4. Moçambique 1968/70-  Major, 2º Cmdt do Bcaç 14 em Porto Amélia (#)
5. Guiné 1972/74- Major - Cmdt da ACAP em Bissau; Cmdt do COP 3 em Bigene.

( # ) Criou e comandou o Centro de Instrução de Cães de Guerra.  Pioneiro na introdução de cães de guerra em Portugal, com vários livros  publicados, que ainda hoje são utilizados como manuais, pelas Forças Militares  e Militarizadas.

(v) Ten cor a partir de Janeiro de 1974;

(vi) Portugal 1975-78- Cmdt. do Bat. Nº 3 da Guarda Fiscal em Évora; 

(vii) 1976- Proposto por três vezes para o Curso de Oficial General, mas recusado pelo Concelho da Revolução;

(viii) 1979-83 -Tribunal Militar de Santa Clara: Promotor de Justiça, Vogal e Presidente do Colectivo; 

(ix) 1983 - Passou à reserva;

(x) Condecorações:

Cruz de Guerra de 2ª classe
Comenda da Ordem de Avis
Medalha de Ouro de Serviços distintos com Palma
Medalha, Colar e Crachá de Mérito Militar de 1ª classe
Medalha de Comportamento Militar
Medalha de Assiduidade de Serviço no Ultramar
Medalha em Homenagem Nacional aos Heróis da Ocupação do Império
Medalha das Campanhas e Comissões Especiais das Forças Armadas Portuguesas
Medalhas ( 5 ) das cinco comissões no Ultramar

2. Comentário de LG:

Foi o Carlos Jorge Pereira quem desencadeou este processo, que termina agora com a trasladação, condigna, dos restos mortais de mais um combatente da Guiné, o cor inf ref Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da  CCAÇ 763, Cufar, 1965/67, e depois comandante do COP 3 (Bigene, 1973).

Fica aqui o nosso público apreço pela ação meritória e solidária  do nosso camarada Carlos Jorge Pereira,  da Liga de Combatentes de Sesimbra e muito provavelmente de outros camaradas anónimos. (**)
______________

Notas do editor:

(*) Ver postes anteriores:

(...) No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante, [do COP 3,] Sr. Coronel de Infantaria Carlos Alberto Wahon Costa Campos, que se encontra sepultado em Sesimbra.

Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.
Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e, caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua. Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia. (...)