1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Novembro de 2017:
Queridos amigos,
É inevitável grossas bátegas de chuva no mês de Outubro, no Vale das Furnas. Depois tudo amaina, ficam por vezes umas nuvens esfiapadas que afugentam a luz do sol, parece que a natureza fica dormente, expectante. O viandante recomenda que, faça sol ou chuva tremendamente, deve-se procurar alcançar esta fabulosa visão panorâmica da Lagoa das Furnas a partir do Pico do Ferro.
O viandante está nostálgico, é quase o termo das férias e reavivam-se gratas memórias que justificaram plenamente aqui voltar 50 anos depois de uma inolvidável experiência. Em jeito de despedida, dar-se-á conta dessas memórias para relevar os aspetos mais recônditos desta paixão açoriana.
Um abraço do
Mário
À sombra de um vulcão adormecido (4)
Beja Santos
Cai uma chuva diluviana, persistente, foi assim toda a manhã. O viandante não se inquietou, estava a passar em revista as recordações indeléveis desde Outubro de 1967 a Março de 1968: as recrutas, foram duas, tiveram uma importância transcendental na sua vida, descobriu os genes de liderança, ponto capital para tudo quanto se veio a passar na tormenta guineense, a partir de Agosto de 1968; as amizades, os passeios, a descoberta da natureza, não como adjuvante da cultura mas como pilar do desenvolvimento humano; as crianças dos Arrifes, as minhas cúmplices, enquanto oficial de dia era fim de tarde de rancho melhorado, abria-se latas de atum, dava-se fruta, todas as sobras de carne, aquelas meninas e meninos, naqueles dias iam para a cama com o estômago mais aconchegado. Não me despeço dos leitores sem lhes mostrar imagens desse tempo.
Ao princípio da tarde, os céus aliviaram-se, foi uma oportunidade única de ver a Lagoa das Furnas em intensas tonalidades que a tornam mística, uma paisagem de idílio para espíritos românticos.
O miradouro chama-se Pico do Ferro e assegura uma visão panorâmica com vários desfrutes: a dimensão da lagoa e a envolvente vegetal; o vale com o seu casario disperso, os sinuosos cursos de água, as culturas, até os jardins, nem tudo cabe na imagem, reteve-se num olhar embevecido. Entretanto, adensou-se a neblina, o céu forrou-se, à cautela desceu-se até à lagoa, aguarda-nos uma profunda quietude na mansidão do espelho de água.
Alguém disse que os tons da água eram de turquesa, outro replicou que era jade, fosse o que fosse era uma cor que bem acasalava com aquele solo fértil, arvoredo é coisa que não falta. E regressou-se ao vale, à espera de outros recantos inesperados, no céu, na terra ou nas gretas de água.
Apeteceu um café, havia mesas no exterior, em frente um largo gracioso, ajardinado, ali despontava, sem qualquer concorrência, uma altíssima palmeira. Não era noite nem dia, o céu forrado diluiu-se e deu lugar a este assombroso movimento de azul e branco, de claro-escuro. Porque nos Açores tudo é possível, como neste caso envolver de ramaria o céu celeste e fazer içar, aos píncaros, uma garbosa palmeira; alguém comentou ao lado que parecia uma fazenda em África, houve sorrisos, a foto circulou de mão em mão, houve quem quisesse apanhar aquelas tonalidades, no seu capricho o céu já era outra coisa. Para o viandante, sempre desconcertado na sua inabilidade, esta imagem é um achado dos céus.
Falou-se da Lagoa das Furnas, da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias e do Jardim de José do Canto, pois aqui estão reproduzidos num amplo conjunto azulejar em castanho esfumado. O que mais agradou ao fotógrafo amador foi poder meter-lhe as hidrângeas por baixo, misturar natureza com azulejos pintados.
Deriva agora o passeio para o parque florestal das Furnas, uma graciosidade, aqui há um pouco de tudo, água e bicharada, canteiros aprimorados, explorações agrícolas, arvoredo que vai trepando até às cumeeiras, patos, faisões, trutas. Impressiona a delicadeza e o desvelo de quem aqui mantém tudo num brinco, impossível resistir à desenvoltura das palmeiras, do que resta da hidrângeas, e estas camélias amarelas são francamente irresistíveis, abençoada ideia de quem sugeriu o passeio ao parque florestal.
Na quietude do fim do dia, aqui fica o registo dos gamos em posse para a fotografia, o pato em atividade tem que ser apresentado, segundo uma placa chama-se pato ferruginoso, há patos de outros pontos do mundo, este foi o escolhido pois as águas ferruginosas estão de feição com um pato de igual calibre.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18207: Os nossos seres, saberes e lazeres (248): À sombra de um vulcão adormecido (3) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 20 de janeiro de 2018
Guiné 61/74 - P18231: Memória dos lugares (370): Buba e os bravos do Pel Mort 2138... Mais fotos (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)
Foto nº 1 > O soldado apontador de armas pesadas de infantaria, do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71), no espaldão do morteiro 81, com uma granada
Foto nº 2 > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba, Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)
Foto nº 3 > Posição do espaldão do morteiro 81, junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)
Foto nº 4 > Espaldão do morteiro 81, junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71). Local do impacto de uma granada de canhão s/r, do PAIGC.
Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O Fernando Oliveira "Brasinha", ex-sold ap armas pes inf, Fernando Oliveira, "Brasunha", mandou-nos, ontem, às 20h33, a seguinte mensagem telegráfica
Seguem [4] fotos para comprovar poste do Grã-Tabanqueiro nº 727 Fernando Oliveira (Brasinha). (*)
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Nota do editor;
(*) Vd. último poste da série > 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)
(...) Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições.
O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros (...).
(...) Um ano depois [do ataque ai aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382], tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (...). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz. (...)
(*) Vd. último poste da série > 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)
(...) Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições.
O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros (...).
(...) Um ano depois [do ataque ai aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382], tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (...). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz. (...)
Guiné 61/74 - P18230: Parabéns a você (1377): José Horácio Dantas, ex-1.º Cabo At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18225: Parabéns a você (1376): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Operações Especiais da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18225: Parabéns a você (1376): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Operações Especiais da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
Guiné 61/74 - P18229: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte I
Foto nº 1 > Bando do Café Progresso, Porto: Ricardo Figueiredo e Manuel Cibrão Guimarães
Foto nº 2 > Bando do Café Progresso, Porto: Francisco Baptista (transmontano de Brunhoso) e Jorge Teixeira ("o bandalho-mor", que curiosamente, sendo tripeiro do coração, nasceu em Ribeira de Pena
Foto nº 3 > Bando do Café Progresso, Porto: o José Ferreira da Silva, o "escritor-bandalho", autor de "Memórias Boas da Minha Guerra" (2 volumes)
Foto nº 4 > O José Ferreira ao lado do Jorge Canhão (à direita)... Não sabemos, de momento, quem é o camarada que está do lado esquerdo...
Foto nº 5 > O Alberto Branquinho: não é "bandalho" mas é escritor, e pertenceu ``companhia do José Ferreira, a célebre CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).
Foto nº 6 > Da esquerda para a direita, Francisco Palma, Jorge Teixeira, Francisco Baptista e Manuel Resende
Foto nº 7 > Da esquerda para a direita: o "alfero Cabral", o desejado... e o nosso José Marcelino Martins, que há muito não aparecia nestas andanças... Dois colaboradores permanentes do nosso blogue.
Foto nº 8 > Foto de grupo, com os cimco "bandalhos" que vieram do Porto: da esquerda para a direita; José Martins, Ricardo Figueiredo, Francisco Baptista, Jorge Cabral, Luís Graça, Jorge Teixeira, José Ferreira da Silva, Manuel Cibrão Guimarães e Diniz Sousa e Faro
Foto nº 9 > O grupo anterior (8) mais o Carlos Silva que, além de membro das tabancas todas, é "régulo" da Tabanca dos Melros (Gondomar)
Oeiras > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > Reuniu 8 dezenas de comensais... Mais uma bela jornada de manifestação de amizade e camaradagem dos "magníficos" da Tabanca da Linha que desta vez receberam uma "delegação de luxo" do Porto, cinco dos "bandalhos" do Bando do Café Progresso, a que pertencia o nosso saudoso camarada Jorge Teixeira (Portojo) (1948-2017).
Publicam-se as primeiras fotos do Manuel Resende, fotógrafo oficial da Tabanca da Linha. Trata-se de uma primeira seleção.
Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Último poste da série > 18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18224: Convívios (838): 35º almoço-convívio dos "magníficos" da Tabanca Grande, desta vez abrilhantado com a presença de mais de uma dúzia de "periquitos", incluindo cinco "bandalhos" do Bando do Café Progresso, Porto... As primeiras fotos.
Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18224: Convívios (838): 35º almoço-convívio dos "magníficos" da Tabanca Grande, desta vez abrilhantado com a presença de mais de uma dúzia de "periquitos", incluindo cinco "bandalhos" do Bando do Café Progresso, Porto... As primeiras fotos.
Guiné 61/74 - P18228: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (7): A Petição dos Combatentes da Guerra do Ultramar vai ser discutida no Plenário da Assembleia da República no próximo dia 31 de Janeiro de 2018. Aceitam-se inscrições (máximo, 10) para acompanhar o Inácio Silva nas bancadas parlamentares
1. Mensagem do nosso camarada, e meu particular amigo, Inácio Silva (ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas da CART 2732, Mansabá, 1970/72), fundador e editor da página Relembrar para não esquecer, com data de 18 de Janeiro de 2018, trazendo notícias fresquinhas da Petição que ele próprio colocou em 2011 no site "Petição Pública":
Caro Amigo Carlos Vinhal
Acabei de receber o e-mail do Parlamento a agendar a discussão da nossa Petição para o dia 31 de Janeiro, a partir das 15 horas.
Gostaria que fizesses o favor de o publicar no blogue, com o objectivo de publicitar o evento e de mobilizar alguns camaradas (não mais do que 10) para estarem presentes, comigo, na galeria.
Um grande abraço para ti
Inácio Silva
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2. Transcrição essencial da mensagem recebida pelo camarada Inácio Silva
De: Petições
Enviado: 18 de janeiro de 2018 15:01
Assunto: Agendamento da Apreciação em Reunião Plenária da Petição n.º 309/XIII/2ª
Exmo. Senhor Inácio Rodrigues da Silva,
Encarrega-me Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República de informar V. Exa. de que, na sequência da Conferência de Líderes realizada no passado dia ontem, foi deliberado agendar a apreciação da Petição n.º 309/XIII/2ª na reunião plenária do dia 31 de janeiro, a partir das 15 horas.
Neste sentido, a Assembleia da República tem o gosto de o convidar a assistir ao debate em causa, solicitando que nos façam chegar com a máxima brevidade possível a identificação das pessoas que os acompanharão.
Tendo em conta as limitações de espaço existente e o facto de, nos termos do Regimento da Assembleia da República, as reuniões plenárias serem públicas, solicitamos que uma possível delegação não ultrapasse o número máximo de 10 pessoas.
O acesso às galerias da Sala das Sessões processa-se pela porta da Praça de S. Bento (porta lateral do Palácio de S. Bento), à qual se devem dirigir no dia indicado com relativa antecedência.
Ao chegarem, não será necessário aguardar na fila. Depois de passarem pelo pórtico de raio X, devem dirigir-se ao funcionário que procede à acreditação dos visitantes e identificar-se (através de documento próprio), mencionando ainda que vêm assistir à reunião plenária na qualidade de peticionários ou seus representantes, aguardando, então, que vos acompanhem à galeria destinada para o efeito.
É aconselhável que os visitantes não tragam volumes ou objetos pessoais como sacos, mochilas, máquinas fotográficas ou telemóveis.
Caso transportem consigo estes objetos, os procedimentos de segurança à entrada serão mais demorados, visto que será necessário guardá-los.
Finalmente, salientamos que, para além da delegação, outros peticionários poderão vir assistir ao debate em reunião plenária, ainda que, nesse caso, o acesso às galerias se faça de acordo com o procedimento comum, ou seja, por ordem de chegada e enquanto a capacidade das mesmas o permitir.
Com os melhores cumprimentos,
João Silva
Técnico de Apoio Parlamentar
Divisão de Apoio às Comissões
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3. Comentário do editor CVOs camaradas interessados em acompanhar o Inácio Silva nas bancadas da Assembleia podem manifestar essa disponibilidade, atempadamente, através dos comentários deste poste, por contacto directo com o Inácio ou por meu intermédio.
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Nota do editor
Vd. poste de 4 de janeiro de 2018 4 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18171: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (6): Petição enviada para o Ministro da Defesa Nacional e envio do Relatório para o Presidente da Assembleia da República para agendamento da discussão em Plenário (Inácio Silva)
Guiné 61/74 - P18227: Notas de leitura (1033): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2017:
Queridos amigos,
Estamos ainda num período de acentuada crise económica e escassez de dinheiro, o comércio debate-se com a penúria, os relatórios do BNU não iludem a situação. Inicia-se uma situação que ainda hoje não se consegue dilucidar entre a fixação e a realidade, a chamada revolta dos Felupes. Desparece um avião francês, há quem diga que caiu em Jufunco, em Chão Felupe. As autoridades francesas pedem inquérito, Bolama responde com uma coluna militar. Há interrogatórios de régulos, a quem não faltará violência, os Felupes espalham-se pelas matas e pelo Casamansa, as peripécias arrastar-se-ão até 1935. Depois, os Felupes chegam a um acordo tácito com as autoridades. Acordo que se prolongará pela guerra fora, a generalidade dos Felupes manter-se-ão neutrais, mas não aceitarão ingerências.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18)
Beja Santos
Antes de voltarmos à questão da revolta dos Felupes, é conveniente contextualizar a perda de importância da filial de Bolama, atenda-se ao que se irá escrever num relatório referente ao primeiro semestre de 1984:
“Esta filial continua com o seu movimento bastante reduzido e em regime de prejuízo anual, suportado pela agência de Bissau. É gerida diretamente pelo seu antigo guarda-livros, Sr. Fernando Coelho de Mendonça, com procuração subestabelecida pelo signatário, com poderes reduzidos, assinando conjuntamente todos os documentos, com a exceção da correspondência reservada. O movimento geral quotidiano limita-se a cobrança de letras a receber, alguns empréstimos sobre penhores, um reduzido desconto de letras descontadas sobre a praça, movimento de depósitos à ordem e cobrança de saques ordinários ou telegráficos, cuja emissão é feita pela agência de Bissau, visto o encarregado da filial não ter poderes para sacar. Periodicamente, pelo menos uma vez por mês ou sempre que o serviço da agência o permite, deve ser a filial visitada pelo gerente-geral, como está determinado, para conferência de valores e verificação de serviços. A filial, por nossa terminação, remete também a esta gerência segundo as vias da correspondência reservada dirigida à sede. Esta, a nosso pedido, costuma também enviar-nos duplicados da mesma correspondência dirigida à filial. Desta forma, fica esta gerência ao facto do principal movimento da filial, completando a fiscalização com visitas periódicas do gerente geral”.
Nesta exposição sucinta, fica bem claro que a filial de Bolama era uma sombra do passado.
O período de 1933 termina com uma carta confidenciada do gerente de Bissau para Lisboa acerca da revolta dos Felupes:
“Em aditamento à nossa carta confidencial de 13 de Novembro pretérito, que confirmamos, informamos V. Exa. de que, presentemente, se encontra na região dos Felupes apenas um oficial, Tenente Dores Santos, com um destacamento sem que se tenham registado novos actos de insubordinação activa.
Julga-se que devido às baixas causadas pelas tropas governamentais, os revoltosos se tenham espalhado, uns pelas tabancas da fronteira e outros pelo território francês. Escoaram-se por entre os pântanos, pondo-se fora do alcance das nossas balas, não voltando às suas terras enquanto elas estivessem ocupadas militarmente. Esta situação não permite que as tropas se retirem nem que, ficando, se batam, por desaparecimento do inimigo.
No dia em que o destacamento recolha ao quartel, os insurretos, escondidos ou internados no território francês, voltarão imediatamente e exercerão represálias sérias nos indígenas da região que auxiliaram as nossas autoridades ou, pelo menos, não as hostilizaram. Esta é a convicção geral.
Há dias, seguiu para os Felupes o Capitão Sinel de Cordes, com a incumbência, diz-se, de mandar recolher o destacamento, deixando ali apenas uma pequena força do comando de um sargento. Não tivemos ocasião de aqui trocar impressões com o Chefe da Repartição Militar, mas informaram-nos de que as tropas não recolheriam, seriam reforçadas tanto mais que os indígenas fiéis lhe pediram para de qualquer forma deixar lá tropa comandada por um oficial.
Devemos notar, a título de curiosidade, que na região revoltada todos os indígenas andam com uma fita branca na cabeça para se distinguirem dos revoltosos. Consta que os chefes revoltosos – Alfredo e Coelho – das tabancas de Jufunco e Egine, respetivamente se refugiaram com parte da sua gente no território francês, sendo ambos presos pelas autoridades respetivas. Iniciaram-se diligências oficiosas junto daquelas autoridades para que, às nossas, esses chefes fossem entregues. Parece que tudo indicava que as diligências seriam coroadas de êxito, mas ultimamente o caso mudou de feição e as autoridades francesas não entregaram os homens. Quanto às tropas francesas que guarneceram a fronteira durante a revolta, disse-nos o senhor governador que já tinham retirado”.
Justifica-se plenamente incluir aqui a opinião do historiador René Pélissier, expressa na já anteriormente referida História da Guiné[1], pois dedicou bastante atenção a este período, depois de se ter referido ao golpe republicano de Abril-Maio de 1931, e mencionado uma purga que ocorreu entre Setembro e Outubro na ilha de Bissau, para a qual não encontramos qualquer documento nos arquivos do BNU, temos a seguir uma longa abordagem dos Felupes, como segue. Refere o desaparecimento do avião militar francês, as buscas sem sucesso de vestígios de tripulantes ou do próprio avião e as referências propaladas sobre o seu canibalismo e práticas de feitiçaria. Escreve Pélissier:
“Nos anos 1930, contam-se 16 aldeias Felupes na Guiné dependentes administrativamente em primeiro lugar de S. Domingos e depois de Susana. Com os Nalus do Sul da Guiné, partilham o assustador fardo de estar sob uma permanente acusação de antropofagia. Sempre prontos a denegrir os seus vizinhos, os franceses do Senegal têm os Felupes da Guiné como a quinta-essência do selvagem”.
Estabelece um quadro sobre o que ele chama o “mal-entendido Felupe”: desaparecimento do avião militar francês em fim de Junho; buscas infrutíferas das autoridades de Dakar; em Agosto chega à vez das buscas portuguesas, sem resultado; a mulher do aviador quer descobrir se o seu marido ainda está vivo, depois de muitas peripécias, uma missão de franceses chega à Guiné em 12 de Outubro; o administrador de Canchungo pede à sacerdotisa de Susana que convoque os principais chefes Felupes, estes, interrogados, declaram nada saber, isto enquanto Mamadu Sissé, um tenente de segunda linha que comandou às ordens de Teixeira Pinto, diz que viu um avião dirigindo-se para o Sul e que terá aterrado em Jufunco; espalham-se boatos desencontrados acerca do avião se encontrar em Jufunco; em fins de Outubro o Capitão Velez Caroço manda prender o chefe de tabanca Alfredo e uma dezena de notáveis de Jufunco, de Egine e de Varela, o administrador de Canchungo interroga os suspeitos à palmatória e Alfredo confessa que o avião aterrou em Jufunco e fizeram-se confissões também desencontradas: que os brancos se tinham ido embora, que os Felupes os mataram, que tinham destruído o avião; e no final de Outubro chegam 50 soldados e duas metralhadoras a Susana.
A 1 de Novembro começa a chamada revolta dos Felupes, as tropas portuguesas avançam sobre Jufunco, as tropas não conseguem entrar na aldeia e o Capitão Sinel de Cordes regressa a Bolama para ir buscar reforços. Começa a guerra. Os Felupes refugiam-se nas matas ou na região de Casamansa, juntam-se-lhe os 800 irregulares de Mamadu Sissé. Uma concentração de 1500 Felupes teria feito recuar o Capitão Velez Caroço mas este acabou com a resistência Felupe. Chega-se à conclusão de que nunca os dois aviadores tinham chegado à Guiné, no final de uma limpeza sistemática a todo o território. Tratava-se de um gigantesco mal-entendido. E que deixou sequelas. A 2 de Fevereiro de 1934, as autoridades de Dakar recusam extraditar 31 felupes porque isso seria prejudicial à imagem dos franceses entre os Felupes de Casamansa. Carvalho Viegas, o governador, temendo que os Felupes entrem na Guiné e massacrem as populações fiéis, dispõe de uma unidade militar em Chão Felupe que aí permanecerá até ao fim de Abril de 1934.
Teremos novas agitações a partir de Maio. Eclodiu um novo e bastante grave movimento de insubordinação na região de Susana, Cassalol e Basseor. A repressão esteve a cargo de uma companhia de atiradores sobre a direção do capitão Velez Caroço. De novo os Felupes se refugiam no Casamansa, isto enquanto o Tenente Óscar Ruas chega a Basseor. Para desalojar os Felupes de Casamansa, Óscar Ruas serve-se de um estratagema. “Cerca de 500 felupes, acreditando poder apoderar-se facilmente dos cipaios, desempenhando do papel de chamariz, esbarram com uma das metralhadoras dissimuladas nas camionetas da coluna. Os portugueses e as suas tropas, escondidos, cercam os felupes”. Os rebeldes foram postos fora de combate. A terceira e última sequela a que Pélissier se refere irá ocorrer em Susana, em Março de 1935.
O ano de 1934 trará outras surpresas: a denúncia de um médico aldrabão, a participação da Guiné na Exposição Colonial de Paris e a acrescida decadência de Bolama.
A Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu um valiosíssimo espólio de milhares de fotografias de Mário Novais, um dos grandes fotógrafos do século XX, e com pergaminhos familiares. Foi a examinar este riquíssimo espólio que me deparei com imagens de grande beleza, resta saber em que período Novais visitou a Guiné, provavelmente antes da guerra, ele morreu em 1967, com 68 anos
Fotos editadas por CV
(Continua)
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Notas do editor:
[1] - Vd. Postes: P10447; P10462 e P10485
Poste anterior de 12 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18215: Notas de leitura (1032): “Uma Estrada para Alcácer Quibir”, por António Loja; Âncora Editora, Dezembro de 2017 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Estamos ainda num período de acentuada crise económica e escassez de dinheiro, o comércio debate-se com a penúria, os relatórios do BNU não iludem a situação. Inicia-se uma situação que ainda hoje não se consegue dilucidar entre a fixação e a realidade, a chamada revolta dos Felupes. Desparece um avião francês, há quem diga que caiu em Jufunco, em Chão Felupe. As autoridades francesas pedem inquérito, Bolama responde com uma coluna militar. Há interrogatórios de régulos, a quem não faltará violência, os Felupes espalham-se pelas matas e pelo Casamansa, as peripécias arrastar-se-ão até 1935. Depois, os Felupes chegam a um acordo tácito com as autoridades. Acordo que se prolongará pela guerra fora, a generalidade dos Felupes manter-se-ão neutrais, mas não aceitarão ingerências.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18)
Beja Santos
Antes de voltarmos à questão da revolta dos Felupes, é conveniente contextualizar a perda de importância da filial de Bolama, atenda-se ao que se irá escrever num relatório referente ao primeiro semestre de 1984:
“Esta filial continua com o seu movimento bastante reduzido e em regime de prejuízo anual, suportado pela agência de Bissau. É gerida diretamente pelo seu antigo guarda-livros, Sr. Fernando Coelho de Mendonça, com procuração subestabelecida pelo signatário, com poderes reduzidos, assinando conjuntamente todos os documentos, com a exceção da correspondência reservada. O movimento geral quotidiano limita-se a cobrança de letras a receber, alguns empréstimos sobre penhores, um reduzido desconto de letras descontadas sobre a praça, movimento de depósitos à ordem e cobrança de saques ordinários ou telegráficos, cuja emissão é feita pela agência de Bissau, visto o encarregado da filial não ter poderes para sacar. Periodicamente, pelo menos uma vez por mês ou sempre que o serviço da agência o permite, deve ser a filial visitada pelo gerente-geral, como está determinado, para conferência de valores e verificação de serviços. A filial, por nossa terminação, remete também a esta gerência segundo as vias da correspondência reservada dirigida à sede. Esta, a nosso pedido, costuma também enviar-nos duplicados da mesma correspondência dirigida à filial. Desta forma, fica esta gerência ao facto do principal movimento da filial, completando a fiscalização com visitas periódicas do gerente geral”.
Nesta exposição sucinta, fica bem claro que a filial de Bolama era uma sombra do passado.
O período de 1933 termina com uma carta confidenciada do gerente de Bissau para Lisboa acerca da revolta dos Felupes:
“Em aditamento à nossa carta confidencial de 13 de Novembro pretérito, que confirmamos, informamos V. Exa. de que, presentemente, se encontra na região dos Felupes apenas um oficial, Tenente Dores Santos, com um destacamento sem que se tenham registado novos actos de insubordinação activa.
Julga-se que devido às baixas causadas pelas tropas governamentais, os revoltosos se tenham espalhado, uns pelas tabancas da fronteira e outros pelo território francês. Escoaram-se por entre os pântanos, pondo-se fora do alcance das nossas balas, não voltando às suas terras enquanto elas estivessem ocupadas militarmente. Esta situação não permite que as tropas se retirem nem que, ficando, se batam, por desaparecimento do inimigo.
No dia em que o destacamento recolha ao quartel, os insurretos, escondidos ou internados no território francês, voltarão imediatamente e exercerão represálias sérias nos indígenas da região que auxiliaram as nossas autoridades ou, pelo menos, não as hostilizaram. Esta é a convicção geral.
Há dias, seguiu para os Felupes o Capitão Sinel de Cordes, com a incumbência, diz-se, de mandar recolher o destacamento, deixando ali apenas uma pequena força do comando de um sargento. Não tivemos ocasião de aqui trocar impressões com o Chefe da Repartição Militar, mas informaram-nos de que as tropas não recolheriam, seriam reforçadas tanto mais que os indígenas fiéis lhe pediram para de qualquer forma deixar lá tropa comandada por um oficial.
Devemos notar, a título de curiosidade, que na região revoltada todos os indígenas andam com uma fita branca na cabeça para se distinguirem dos revoltosos. Consta que os chefes revoltosos – Alfredo e Coelho – das tabancas de Jufunco e Egine, respetivamente se refugiaram com parte da sua gente no território francês, sendo ambos presos pelas autoridades respetivas. Iniciaram-se diligências oficiosas junto daquelas autoridades para que, às nossas, esses chefes fossem entregues. Parece que tudo indicava que as diligências seriam coroadas de êxito, mas ultimamente o caso mudou de feição e as autoridades francesas não entregaram os homens. Quanto às tropas francesas que guarneceram a fronteira durante a revolta, disse-nos o senhor governador que já tinham retirado”.
Justifica-se plenamente incluir aqui a opinião do historiador René Pélissier, expressa na já anteriormente referida História da Guiné[1], pois dedicou bastante atenção a este período, depois de se ter referido ao golpe republicano de Abril-Maio de 1931, e mencionado uma purga que ocorreu entre Setembro e Outubro na ilha de Bissau, para a qual não encontramos qualquer documento nos arquivos do BNU, temos a seguir uma longa abordagem dos Felupes, como segue. Refere o desaparecimento do avião militar francês, as buscas sem sucesso de vestígios de tripulantes ou do próprio avião e as referências propaladas sobre o seu canibalismo e práticas de feitiçaria. Escreve Pélissier:
“Nos anos 1930, contam-se 16 aldeias Felupes na Guiné dependentes administrativamente em primeiro lugar de S. Domingos e depois de Susana. Com os Nalus do Sul da Guiné, partilham o assustador fardo de estar sob uma permanente acusação de antropofagia. Sempre prontos a denegrir os seus vizinhos, os franceses do Senegal têm os Felupes da Guiné como a quinta-essência do selvagem”.
Estabelece um quadro sobre o que ele chama o “mal-entendido Felupe”: desaparecimento do avião militar francês em fim de Junho; buscas infrutíferas das autoridades de Dakar; em Agosto chega à vez das buscas portuguesas, sem resultado; a mulher do aviador quer descobrir se o seu marido ainda está vivo, depois de muitas peripécias, uma missão de franceses chega à Guiné em 12 de Outubro; o administrador de Canchungo pede à sacerdotisa de Susana que convoque os principais chefes Felupes, estes, interrogados, declaram nada saber, isto enquanto Mamadu Sissé, um tenente de segunda linha que comandou às ordens de Teixeira Pinto, diz que viu um avião dirigindo-se para o Sul e que terá aterrado em Jufunco; espalham-se boatos desencontrados acerca do avião se encontrar em Jufunco; em fins de Outubro o Capitão Velez Caroço manda prender o chefe de tabanca Alfredo e uma dezena de notáveis de Jufunco, de Egine e de Varela, o administrador de Canchungo interroga os suspeitos à palmatória e Alfredo confessa que o avião aterrou em Jufunco e fizeram-se confissões também desencontradas: que os brancos se tinham ido embora, que os Felupes os mataram, que tinham destruído o avião; e no final de Outubro chegam 50 soldados e duas metralhadoras a Susana.
A 1 de Novembro começa a chamada revolta dos Felupes, as tropas portuguesas avançam sobre Jufunco, as tropas não conseguem entrar na aldeia e o Capitão Sinel de Cordes regressa a Bolama para ir buscar reforços. Começa a guerra. Os Felupes refugiam-se nas matas ou na região de Casamansa, juntam-se-lhe os 800 irregulares de Mamadu Sissé. Uma concentração de 1500 Felupes teria feito recuar o Capitão Velez Caroço mas este acabou com a resistência Felupe. Chega-se à conclusão de que nunca os dois aviadores tinham chegado à Guiné, no final de uma limpeza sistemática a todo o território. Tratava-se de um gigantesco mal-entendido. E que deixou sequelas. A 2 de Fevereiro de 1934, as autoridades de Dakar recusam extraditar 31 felupes porque isso seria prejudicial à imagem dos franceses entre os Felupes de Casamansa. Carvalho Viegas, o governador, temendo que os Felupes entrem na Guiné e massacrem as populações fiéis, dispõe de uma unidade militar em Chão Felupe que aí permanecerá até ao fim de Abril de 1934.
Teremos novas agitações a partir de Maio. Eclodiu um novo e bastante grave movimento de insubordinação na região de Susana, Cassalol e Basseor. A repressão esteve a cargo de uma companhia de atiradores sobre a direção do capitão Velez Caroço. De novo os Felupes se refugiam no Casamansa, isto enquanto o Tenente Óscar Ruas chega a Basseor. Para desalojar os Felupes de Casamansa, Óscar Ruas serve-se de um estratagema. “Cerca de 500 felupes, acreditando poder apoderar-se facilmente dos cipaios, desempenhando do papel de chamariz, esbarram com uma das metralhadoras dissimuladas nas camionetas da coluna. Os portugueses e as suas tropas, escondidos, cercam os felupes”. Os rebeldes foram postos fora de combate. A terceira e última sequela a que Pélissier se refere irá ocorrer em Susana, em Março de 1935.
O ano de 1934 trará outras surpresas: a denúncia de um médico aldrabão, a participação da Guiné na Exposição Colonial de Paris e a acrescida decadência de Bolama.
A Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu um valiosíssimo espólio de milhares de fotografias de Mário Novais, um dos grandes fotógrafos do século XX, e com pergaminhos familiares. Foi a examinar este riquíssimo espólio que me deparei com imagens de grande beleza, resta saber em que período Novais visitou a Guiné, provavelmente antes da guerra, ele morreu em 1967, com 68 anos
Fotos editadas por CV
(Continua)
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Notas do editor:
[1] - Vd. Postes: P10447; P10462 e P10485
Poste anterior de 12 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18215: Notas de leitura (1032): “Uma Estrada para Alcácer Quibir”, por António Loja; Âncora Editora, Dezembro de 2017 (Mário Beja Santos)
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Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, NHala, Mampatá e Empada, 1969/71)
Guiné > Região de Quínara > Buba > s/d > Espaldão de morteiro 81... na margem direita do Rio Grande de Buba.
Foto: cortesia de Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabral > Pasta: 05360.000.325 (*)
1. Comentário (*) do Manuel Fernando Dias Oliveira ("Brasinha"), ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138, (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desfde 17/9/2016 (**):
Boa noite a todos os membros desta Tabanca Grande e outros ex-combatentes que se interessam pelas histórias reais, passadas naquele tempo e que alguns desejam que as mesmas sejam apagadas.
Muito bem, vamos esclarecer o que aqui está sendo comentado. Essa foto é REAL, está (va) mesmo junto ao arame farpado que cercava o aquartelamento [de Buba], para dar cobertura aos desembarques das Lanchas da Marinha que nos reabasteciam periodicamente.
Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições.
O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros:
lº Cabo António Silva Guerra (falecido recentemente);
Jorge Augusto dos Santos Franco (falecido pouco tempo após o término da comissão);
António Mendes de Freitas;
e Manuel Fernando Dias Oliveira ("Brasinha"), que sou eu.
Como bem disse um camarada no seu comentário, essa foto certamente foi tirada no pós-guerra. O ataque ao qual se refere o Capitão Nery, foi comandado pelo [cubano] Peralta e pelo Nino Vieira, ataque esse que foi lançado pela parte superior da pista de aterragem de aeronaves, tendo as tropas inimigas estado muito próximo do arame farpado. Teve especial desempenho o Esquadrão de Morteiros, junto à Pista. foi o nosso baptismo de fogo e a despedida da Companhia comandada pelo Cap Mil Nery [, CCAÇ 2382].
Precisamente um ano depois, tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (que está na foto). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz.
2. Comentário (*) do nosso camarada Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), que vive em Abrantes [, foto atual, à direita]
2. Comentário (*) do nosso camarada Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), que vive em Abrantes [, foto atual, à direita]
Este abrigo de morteiro é em Buba, situava-se na parte de trás das instalações dos sargentos, estive várias vezes neste local e, não há dúvida de que a foto deve ter sido tirada depois da saída dos portugueses, porque antes estava limpo, não havia capim. Vou ver se tenho uma foto! (***)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)
(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)
(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16498: Tabanca Grande (494): Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), 727.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia
Guiné 61/74 - P18225: Parabéns a você (1376): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Operações Especiais da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de Janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P18222: Parabéns a você (1375): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo de Comandos Centuriões (Guiné, 1964/66)
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Guiné 61/74 - P18224: Convívios (838): 35º almoço-convívio dos "magníficos" da Tabanca da Linha, desta vez abrilhantado com a presença de mais de uma dúzia de "periquitos", incluindo cinco "bandalhos" do Bando do Café Progresso, Porto... As primeiras fotos.
Foto nº 1 > Os cinco "bandalhos" do Bando do Café Progresso (BCP), do Porto, mais os outros do sul: em primeiro plano, o Carlos Silva, régulo da Tabanca dos Melros; de pé e da esquerda para a direita: José Martins, Ricardo Figueiredo (BCP), Francisco Batista (BCP), Jorge Cabral, Jorge Teixeira (BCP). José Ferreira da Silva (BCP), Manuel Cibrão Guimarães (BCP) e Diniz Sousa e Faro.
Foto nº 2 > Da esquerda para a direita: Armando Pires, Luís Graça e Jorge Cabral... [O "alfero Cabral" reapareceu. nestas lides tabancais, depois de uma longa "travessia do deserto", imposta por razões de saúde... Deu-me a notícia de que há anos eu estava à espera: "Podes escrever o prefácio...Decidi publicar o livro!.. Selecionei 50/60 histórias... Lançamento do livro na Associação dos Deficientes das Forças Armadas"]
Foto nº 3 > O grande régulo da Magnífica Tabanca da Linha, o Jorge Rosales, que tem mantido a "chama viva" dos nossos convívios, coadjuvado agora pelo Manuel Resende, secretário, que, com o auxílio do José Rodrigues (, que mora em Belas), o tesoureiro, montou a banca à entrada do restaurante, com a lista dos 80 comensais... Cada um largou 20 morteiradas, o almocinho foi bacalhau à minhota, mas desta vez teve menos boa pontuação do que o cabrito do almoço de Natal...
Foto nº 4 > Dois "homens grandes" de Buruntuma: o Jorge Ferreira e o Domingos Pardal, um de Oeiras, outro de Sintra.
Foto nº 5 > Paraíso Pinto, futuro membro da nossa Tabanca Grande (, foi capitão miliciano, na Guiné, algarvio, mora em Lisboa) e o Jorge Ferreira, em segundo plano...
Foto nº 6 > O Fernando Franco, que eu já não via não há anos... e o Mário Fitas.
Foto nº 7 > Mário Fitas, Jorge Cabral e Jorge Rosales
Foto nº 8 > Jorge Cabral e Armando Pires, o "fadista de Bissorã"
Foto nº 9 > Duas das nossas "meninas": a Germana, esposa do Carlos Silva (Massamá) e a Elisabete, esposa do Francisco Silva, o meu cirurgião (Porto Salvo)... Embora em minoria, elas marcaram presença: acrescente-se à lista a Gina (Cascais), a Zita Filipe (Lourinhã, "periquita nestas andanças, esposa do Carlos Silvério, futuro membro da Tabanca Grande), a Ilda (Cascais), a Maria do Carmo (Algueirão), a Helena Fitas (Estoril) e Alice Carneira (Alfragide, Amadora)
Foto nº 10 > O Jorge Rosales, régulo da Tabanca da Linha, de pé; sentados, a Elisabete, o Francisco Silva e o Carlos Silva
Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Oeiras, Algés, Restaurante "Caravela de Ouro > 18 de janeiro de 2018 > Lista dos 80 inscritos
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Nota do editor;
Último poste da série > 14 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18212: Convívios (837): 66º encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real, 31 de janeiro, 4ª feira: comemoração do 8º aniversário, inscrições até 26, lotação máxima: 90 pessoas (Miguel Pessoa)
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Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)
Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl > Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmemte do Pel Mort 2138 [e não 2139], Buba, c. 1969/71. Pode perguntar-se: como é que esta foto chega às mãos do PAIGC?
Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
PELOTÃO DE MORTEIROS 2138 (BUBA, NHALA, MAMPATÁ, ALDEIA FORMOSA E EMPADA, 1969-1971): ESPALDÃO COM HISTÓRIA
por Jorge Araújo
1. INTRODUÇÃO
Tal como aconteceu no meu anterior texto sobre o universo de Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961-1974), no qual se identificaram e corrigiram algumas discrepâncias encontradas em trabalho académico concluído em 2015 (*), também no caso presente se procura rectificar o que, em nossa opinião, é uma inexatidão (provavelmente uma gralha) e que, por esse facto, deve-se corrigir.
E essa inexatidão (ou gralha) foi editada na legenda de uma foto localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares – na pasta: 05360.000.325, com o título: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139 [?], do exército português”. O assunto é: “Estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139. A data [é abrangente]: 1963-1973.
A foto pertence ao DAC - documentos Amílcar Cabral (fotografias), como se prova na imagem acima (reproduzidacom a devida vénia).
Será que esta foto tem alguma história… importante? É muito provável que sim, como daremos conta ao longo do texto.
Considerando que no decurso da sua comissão ultramarina no CTIG (1969-1971) as diferentes esquadras do Pelotão de Morteiros 2138 [e não 2139] estiveram dispersas pelos aquartelamentos de Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e, finalmente, Empada, é mais do que certo que a foto acima dirá respeito a um deles, com forte probabilidade de ser o primeiro – Buba.
2. ELEMENTOS HISTÓRICOS DA UNIDADE
Para enquadramento histórico do Pelotão de Morteiros 2138, daremos conta, em síntese, do que escreveu o camarada Vítor Almeida, ex-fur mil, no blogue da sua Unidade [, e de que se reproduz aqui um excerto, com a devida vénia].
O relato inicia-se assim:
"Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português.
"No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia”, o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã."
"Entretanto [o Vítor Almeida] embarcou para a Guiné no dia 24 de Julho, num [C-54, ] avião Skymaster da Força Aérea, com escala em Las Palmas e Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde pernoitaram [com] a chegada no dia seguinte à Guiné. A finalidade desta viagem antecipada foi tratar da logística do Pelotão, tendo mesmo efectuado uma deslocação a Buba antes da chegada do Pelotão a Bissau [num total de quarenta e oito elementos].
"A partida de todo o pessoal para Buba efectuou-se no dia 24 de Agosto a bordo da LDG 105 “Bombarda”, com chegada no dia 25 pelas 08H00. O pessoal foi dividido por vários aquartelamentos tendo seguido viagem no dia 31 de Agosto, integrados numa coluna militar com destino a Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa.
"Só a esquadra para Nhala chegou ao destino tendo as outras duas regressado a Buba devido ao estado intransitável da estrada. Estas duas esquadras para Mampatá e Aldeia Formosa só no dia 6 de Setembro seguiram para o seu destino.
"No dia 4 de Novembro a CCAÇ 2382, que se encontrava em Buba [comandada pelo Cap Mil Carlos Nery Gomes Araújo (1968/70)] foi substituída pela CCAÇ 2616, passando o Pelotão a depender administrativamente desta última". […]
Em 14 de Março de 1971 foi destacada para Empada uma das esquadras de Buba, comandada pelo fur mil Vítor Almeida [ou seja, pelo próprio].
O regresso a Portugal deu-se no final de Junho de 1971. Felizmente todos regressámos da nossa comissão não interessando mencionar os sacrifícios passados ou as inúmeras vezes que os aquartelamentos onde nos encontrávamos foram atacados.
Pela resenha histórica acima, é credível considerar que esta foto é mesmo de Buba [aguardamos a sua confirmação por quem por lá tenha passado] e a sua existência nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), poderá estar relacionada com o reconhecimento relativo à preparação do ataque ao aquartelamento de Buba, em 12 de Outubro de 1969.
Esta é, aliás, uma forte probabilidade fazendo fé no que se encontra referido no livro «Guerra Colonial – Angola / Guiné / Moçambique», do Diário de Notícias, p. 295, onde consta que esta informação foi obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano [agora, coronel] Pedro Rodrigues Peralta (n.1937), na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro de 1969, durante a «Operação Jove», realizada no “Corredor de Guileje”, onde ficou gravemente ferido e evacuado para o HM 241, em Bissau.
Como curiosidade, o capitão cubano Pedro Peralta foi socorrido e evacuado pela enfermeira paraquedista Maria Zulmira Pereira André (1931-2010), que recebera a incumbência de um seu superior dizendo: “temos um ferido muito grave, que é necessário evacuar o mais rapidamente possível, e a Zulmira não o pode deixar morrer”, [in: Susana Torrão, «Anjos na Guerra», Oficina do Livro, 2011 (P9319)].
3. PREPARAÇÃO DO ATAQUE A BUBA EM OUTUBRO DE 1969
Do livro «Guerra Colonial», referido acima, reproduzimos o que consta sobre a preparação desta operação, informação extraída nos documentos de que era portador o capitão Pedro Peralta.
4. A ESTRATÉGIA DO ATAQUE
A análise ao modo como o PAIGC planeou o ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382, ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo [, Carlos Nery, membro da nossa Tabanca Grande], bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN.
Para que conste, dá-se conta, abaixo, de dois croquis do ataque, um global e outro mais específico, divulgados no livro acima citado, onde certamente se localiza o espaldar de morteiros da foto, utilizado pelos elementos do Pelotão de Morteiros 2138 em resposta ao ataque, cujo desempenho foi importantíssimo para o sucesso das NT, conforme é referido pelo autor do relatório.
5. O QUE ESCREVEU O CAP MIL GOMES NERY GOMES DE ARAÚJO
Neste contexto, recupero o que foi escrito pelo ex-CapM il Carlos Nery Gomes de Araújo, publicado no P6183, e citado do comentário ao poste de 25 de Janeiro de 2009:
“Eu era o Comandante da CCaç 2382 uma das unidades sediadas em Buba quando do ataque. A frase transcrita do relatório então elaborado foi de minha autoria. Porém, o desenho baseado naquele que fiz nesse mesmo relatório, contém algumas inexactidões. Efectivamente os cinco bigrupos do PAIGC que pretendiam entrar em Buba (cerca de 300 homens) foram emboscados por um grupo de combate da CCaç 2382, comandado pelo Alf. Mendes Ferreira, e por elementos do Pelotão de Milícia, postados no exterior do aquartelamento para lá da pista de aviação, tendo retirado com baixas e sem atingir o seu objectivo. Nessa retirada utilizaram o largo trilho aberto quando da sua aproximação.
Enquanto isto, a nossa artilharia, 2.º Pelotão/BAC comandado pelo Fur Mil Gonçalves de Castro atingia com eficácia a posição dos morteiros inimigos. Ficaram no local e foram capturadas na madrugada seguinte pelos fuzileiros do DFE7, 158 granadas, das 180 com que contava o Comandante Peralta [cap. cubano Pedro Peralta] na sua "Ordem de Fogo" preparando o ataque a Buba.
Entretanto, os dois morteiros 81, guarnecidos pelo Pel Mort 2138, atingiam a posição ocupada pelo comando do ataque IN, instalado na margem direita do Rio Mancamã, junto à foz. No lusco-fusco desse fim de tarde, viu-se, do quartel, a confusão de vultos em fuga, por entre o capim, nessa outra margem do rio. A maré estava baixa. Um frémito percorreu os defensores. Elementos do DFE7, da CCaç 2382 e da Milícia, sob o comando do Tenente Nuno Barbieri, alcançam a margem do rio Bafatá fronteira à posição dos canhões sem recuo e do comando inimigo. É aí deixada uma base de apoio comandada pelo Alf Domingos, da CCaç 2382, enquanto o Tenente Barbieri tenta ganhar a margem oposta no comando dos restantes voluntários, actuação esta que fez aumentar a confusão existente no dispositivo inimigo. Uma noite sem lua caíra, entretanto. Foi decidido regressar ao quartel. […]
Quando da captura do Comandante Peralta, pelos Paraquedistas, passados poucos dias, foi constatado que os planos de sua autoria para atacar Buba se ajustavam à descrição por nós elaborada. Gomes de Araújo (Cap Mil Art)”.
Em 4 de Outubro de 2009, passados quarenta anos, o colectivo de ex-combatentes do Pelotão de Morteiros 2138 «Sempre Excelentes e Valorosos», reuniu-se em Fátima, onde recordaram, naturalmente, este episódio (e muitos outros) ocorrido (s) em Buba (1969/1971), tornando-se este convívio num dia especial para todos.
Foto retirada, com a devida vénia, do blogue da Unidade.
Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
13DEZ2017.
_______________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)
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