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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26366: "Dia da Consciência e o Humanismo Universalista Lusófono Em Aristides de Sousa Medes e Luís Souza Dantas” (Pe. Vitor Melícias, OFM, novo membro da Academia Internacional da Cultura Portuguesa)



1. 
Tomada de Posse do 
Padre Vítor Melícias, OFM,  como Académico de Número, Academia Internacional da Cultura Portuguesa, Lisboa,  12 de dezembro de 2024.


Realizou-se no passado dia 12 de dezembro, às 17h00, na sede da AICP - Academia Internacional da Cultura Portuguesa,sita na Sociedade de Geografia de Lisboa, a tomada de posse do  Padre Dr. Vítor Melícias, como Académico de Número.

Em representação do João Crisóstomo e do nosso blogue, esteve presente o nosso grão-tabanqueiro Joaquim Pinto Carvalho.

O novo académico proferiu, na ocasião,  uma conferência cujo texto passamos a reproduzir (cortesia sua e do João Crisóstomo): 



Lisboa, AICP, 12 de dezembro de 2024 > O Pe. Vit0r Melícias e o Dr. Joaquim Pinto de Carvalho

Foto (e legenda): © Joaquim Pinto de Carvalho (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


“Dia da Consciência e o Humanismo Universalista Lusófono Em Aristides de Sousa Medes e Luís Souza Dantas”

por Vítor Melícias



“Buona sera, buona gente”. Com estas palavras saudava S. Francisco de Assis as pessoas que algures o acolhiam.

Com a mesma saudação, Boa tarde a todos vós, gente boa e amiga. Bem-vindos.


-Senhora Presidente e estimada Profª Doutora Maria Regina

-Ilustríssima Mesa

-Caros e eminentes Académicos

-Caro amigo e irmão Fr. Silvestre Ministro Provincial dos Franciscanos Portugueses e demais irmãos franciscanos aqui presentes

-Caros Presidentes nacionais dos Bombeiros, das Misericórdias, do Montepio e outros Altos dirigentes da Economia Social e do Mutualismo

-Caros Representantes da Fundação, da Comissão do Dia da Consciência e de outros organismos ligados a Aristides de Sousa Mendes

-Meus caros familiares, conterrâneos e demais amigos

-Senhor Embaixador em representação da CPLP

E, permitam-me, em menção muito especial, the last but not the least:

-Caro David Godorovitch e outros membros das comunidades judaicas portuguesa e brasileira

- Caríssimo irmão e amigo D. José Rodriguez Carballo, ilustre Académico Correspondente da nossa Academia, Arcebispo de Mérida e Badajoz, ex-Ministro Geral da Ordem Franciscana. A vossa presença honra-me muito e dignifica assás a nossa comum Academia.

A todos, também como franciscano, começo por saudar com as palavras com que S. Francisco mandou os seus frades saudarem dizendo “Il Signore vì dia Pace”, “O Senhor vos dê Paz”, aquela paz serena e confortante dos que, em bom espírito, se reúnem por boas causas.

É, de facto, em bom espírito e por boas causas que aqui estamos e que, antes de mais, desejo agradecer, bem cá do fundo do coração, a V. Excia, Senhora Presidente, e ao osso muito ilustre Conselho Académico pela subida, ainda que por mim imerecida, honra de passar a integrar o núcleo institucional dos Académicos de Número da nossa prestigiada e prestigiante Academia.

Como muitas vezes digo em idênticas circunstâncias, quanto menos mereço mais agradeço. Bem hajam.

Em primeiro lugar, seguindo o espírito e a letra dos Estatutos desta nossa Academia, desejo homenagear e enaltecer os que me precederam nesta cátedra, que tanto dignificaram.

Evocá-los neste momento de entrada para o lugar que nos deixaram é confirmá-los na galeria de eternidade dos que da lei da morte se foram libertando e na memória sem empo se vão perpetuando. Honra e glória a todos eles. Perpétua memória aos seus nomes.

Ao ponderar de entre os vários temas que melhor pudessem corresponder à identidade e originária vocação pro-cultural da nossa Academia, acabei por escolher, em contexto de comemoração do 70º aniversário das suas mortes, quase simultâneas, evocar aqui as históricas e corajosas opções de consciência de Aristides de Sousa Mendes e de Luís de Souza Dantas, dois dos símbolos maiores do humanismo identitário da cultura lusófona e, por isso, inspiradores do Dia Mundial da Consciência.

Daí, e também em sentido de homenagem, o ter intitulado e contextualizado esta minha primeira comunicação de Académico de Número como “Dia da Consciência e Humanismo Universalista Lusófono em Aristides de Sousa Mendes e Luís Souza Dantas”.

Como é de universal conhecimento, por proposta de Reino de Barém no seguimento do Congresso Internacional sobre a Paz e  a Mente dos Homens, organizado pela UNESCO na Costa do Marfim em 1989, a Assembleia Geral da Nações Unidas decretou, pela Resolução 73/329 de 25 de julho de 2019, que o dia 5 de abril de cada ano fosse celebrado
como “Dia Mundial da Consciência” com o expresso objetivo de “mobilizar os esforços da comunidade nternacional para promover a paz, tolerância, inclusão, entendimento e solidariedade em ordem a construir um mundo de paz, solidariedade e harmonia”.

Após a primeira celebração em 6 de abril de 2020 na sede da ONU em Nova York, o Dia passou, logo no ano seguinte, a ser celebrado na sede da UNESCO em Paris no âmbito da semana que incluísse o dia 5 de abril e, já em 2024, nas instalações da ONU em Genève com ressonância, aliás, muito reduzida.

Ora acontece que, precisamente 20 anos antes, em Nova York um grupo de membros da comunidade portuguesa aí residente, em direta ligação com a Igreja Católica e a Comunidade Judaica e mobilizados por João Crisóstomo, nosso conterrâneo torriense há muito radicado nos Estados Unidos, intrépido promotor de Grandes Causas ligadas a Portugal, como a defesa das Gravuras do Vale do Coa, o apoio político e humanitário à independência de Timor-Leste e, com grande afinco, à reabilitação de Aristides de Sousa Mendes, tinham já lançado um movimento a nível mundial precisamente com a designação de “Dia da
Consciência”, em homenagem e promoção dos valores de humanismo universalista pelos quais o diplomata Aristides de Sousa Mendes, para salvar vidas inocentes e invocando “deveres de consciência”, desobedecera às normas então em vigor e aos seus legítimos superiores, designadamente a Oliveira Salazar, que ao tempo era simultaneamente Presidente do Conselho de Ministros e Ministro dos Negócios Estrangeiros, chegando mesmo a dizer publicamente “não
participo em chacinas, por isso desobedeço a Salazar”.

Esse movimento, que se iniciara, desde logo, com a bênção e patrocínio do Cardeal Renato Martini, Observador Permanente da Santa Sé junto da ONU, recentemente falecido, assentava na promoção de celebrações
eucarísticas em sés catedrais e outros destacados locais de culto católico ou em celebrações culturais e religiosas em sinagogas judaicas de algum modo acessíveis através, nomeadamente, da Fundação Raoul Wallenberg, da qual, aliás, João Crisóstomo era e é Vice-Presidente e da qual, por proposta sua, foram admitidos como “Honorary Members” António Guterres, Jorge Sampaio e eu mesmo.

Celebrado todos os anos a 17 de junho, data em que o cônsul Aristides de Sousa Mendes entrou a conceder, em frenesi de ato salvador, passaportes e visas “a todos os que precisem”, o Dia da Consciência de âmbito judaico-cristão foi-se expandindo gradualmente com o apoio e
direta participação de personalidades tão eminentes como o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Cláudio Hummes, franciscano meu colega de estudos em Roma e grande amigo do Papa Francisco, que foi aquele que no momento da eleição papal lhe disse “não te esqueças dos pobres”, ou, em Portugal, do Cardeal Manuel Clemente e do seu bispo auxiliar D. Tomás Nunes, que Deus tenha, de D. Serafim Ferreira da Silva, D. António Montes Moreira e tantos outros. 

Eu mesmo recebi e conservo com muito carinho uma carta oficial de John Paul Abranches, filho de Aristides de Sousa Mendes, que, na qualidade de International Chairman do “International Committee to Commemorate Dr. Aristides de Sousa Mendes”, ao agradecer a minha participação nas iniciativas dessa Comissão ou Comité, me escreveu em inglês no dia 30 de maio de 1995: 

“You are the first member of the clergy in Portugal to publically acknowledge the actions of this Portuguese hero of conscience”.

O facto é que foi de tal maneira persistente e eficaz o empenhamento de João Crisóstomo e seus amigos colaboradores na promoção deste Dia da Consciência ligado a Aristides de Sousa Mendes e, ultimamente,
também ao eminente diplomata brasileiro Luís Souza Dantas, que, com surpresa geral, o Papa Francisco na sua Audiência Geral de 17 de junho de 2020 evocou (cito) o “Dia da Consciência, inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes que, oitenta anos
atrás, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos”.

Entusiasmado com este inequívoco apoio e a sua dimensão universalista, João Crisóstomo e os seus mais diretos colaboradores, vencendo algumas compreensíveis resistências à mudança devidas ao receio de que se desvirtuasse a original ligação a Sousa Mendes e ao Holocausto e ao 17 de junho, data mais expressiva da sua corajosa ação, decidiram que (cito literalmente o que ele escreveu em carta ao Cardeal
Parolin) o Dia da Consciência “embora baseado no testemunho de Aristides de Sousa Mendes, em 17 de junho de 1940, será celebrado a partir de agora na mesma semana em que as Nações Unidas celebram o seu ‘Dia Internacional da Consciência’ para evitar qualquer ideia,
mesmo involuntária, de competição e proselitismo, como disse um ilustre diplomata português”.

Como, entretanto, se processava no Brasil a reabilitação de Luís de Souza Dantas, eminente Embaixador do Brasil em França e um dos mais prestigiados diplomatas brasileiros de todos os tempos, o qual evocando, como Sousa Mendes, motivos “de consciência e humanidade” salvara também centenas de vidas de judeus e outros fugitivos do
nazismo e dos seus campos de concentração, em muito boa hora os promotores do Dia da Consciência decidiram estendê-lo ao mundo lusófono e celebrar a 5 de abril o único e universal Dia Mundial da Consciência, mas concentrando as celebrações na específica evocação dos ideais e motivações humanistas tanto de Sousa Mendes e Souza Dantas bem como de todos os que, brasileiros, portugueses ou de qualquer outra fonte lusófona, defenderam e salvaram vidas e se guiaram pelos mesmos critérios de humanidade e consciência como Teixeira Branquinho, Sampaio Garrido, P. Joaquim Carreira
e tantos outros, cujos feitos e nomes se perderam na clandestinidade dos seus atos ou no esquecimento coletivo como, por mero exemplo, Frei Rafael dos Santos, irmão leigo franciscano natural do Vilar, Torres Vedras, o qual, como eu mesmo ouvir de sua própria boca, escondeu,
alimentou e confortou dezenas de famílias judaicas nos extensos sótãos do Colégio Internacional, hoje Universidade, “Antonianum”, na Via Merulana, em Roma, onde, aliás me formei em direito canónico e ele esteve por muitos anos ao serviço da Ordem, situação que só era
conhecida do Superior da casa e de dois outros irmãos que com ele tinham acesso clandestino aos sótãos.

De entre todos sobressaem os dois que estou hoje aqui a homenagear, ambos “Justos entre as Nações”, que, como eferiu o Papa Francisco a propósito de Sousa Mendes em mensagem enviada à inauguração do Museu Sousa Mendes, na sua Casa do Passal, em Cabanas, eram
“homens peritos em humanidade”.

Dois peritos em humanidade, dois modelos de humanismo.

Comecemos por Sousa Mendes.

Votado, por largas décadas, ao mais profundo e intencional esquecimento imposto por vontade e expressas diligências de Salazar e do seu regime, os quais, além da demissão, assim o pretendiam castigar por desobediência, Aristides de Sousa Mendes e a sua obra, recuperadas por ação das liberdades de abril, são hoje plenamente reconhecidas sobretudo em Portugal, no mundo lusófono e na comunidade judaica mundial. 

Assim, tem desde 3 de julho de 2020 honras de Panteão Nacional, tendo também sido condecorado a título póstumo com a Grã-Cruz de Cristo em 1995, a Grã-Cruz da Liberdade em 2016 e a Grã-Cruz do Mérito e declarado, em 1966 , “Justo entre as Nações” pelo Yad Ashem e Museu do Holocausto em Jerusalém, continuando ainda a merecer, como reabilitação a nível mundial, as mais variadas celebrações e altas referências, incluindo uma Fundação e Museu com o seu nome e ainda nomes de ruas, praças e monumentos, biografias, teses e publicações e representações várias.

Não carece, pois, nem se justificaria, que aqui evoquemos todos os passos e feitos da sua vida, pelo que referirei apenas os essenciais para enquadrar o sentido de humanismo com que, por expresso imperativo de consciência e contrariando sucessivas ordens dos seus superiores hierárquicos, ele salvou de modo heróico dezenas de milhares (fala-se mesmo em cerca de 30.000) de vidas de judeus e outros perseguidos pelo nazismo.

Nascido em 19 de julho de 1885 em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, no seio de uma família profundamente católica e de formação franciscana, licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra ao mesmo tempo que seu irmão gémeo, César, tendo depois, tal como seu irmão, entrado na carreira diplomática, onde exerceu as funções
de Cônsul em Zanzibar, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Bélgica e, a partir de 1938, em Bordéus.

Neste último Consulado Geral, acorrendo a Bordéus multidões de refugiados das perseguições e campos de concentração nazis, Sousa Mendes, apesar de adoentado, com a ajuda dos filhos e sobrinhos e do Rabino Jacob Kruger, que teria conhecido em Antuérpia e agora
reencontrara numa rua em Bordéus, principalmente nos três dias e três noites de 18, 19 e 20 de junho de 1940, aos milhares carimbou passaportes e passou vistos, dizendo em certo momento, no meio do terror e emoção generalizada entre os requisitantes, “a partir de agora, darei vistos a toda gente; já não há nacionalidade, nem raça
nem religião”. 

Isto é humanismo universalista.

Alertado de que estaria a contrariar e desobedecer a expressas e repetidas orientações governamentais, respondeu “Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus”. 

Isto é a reta consciência a funcionar.

Apesar de lhe terem sido enviadas ordens expressas e funcionários governamentais, incluindo o poderoso Embaixador Teotónio Pereira, para o dissuadir e conter, o corajoso Cônsul, movido por intenso ardor humanitário continuou a passar vistos e carimbar passaportes. E mais:
tendo-lhe chegado a informação de que Espanha ia recusar a entrada e passagem destes refugiados, com a sua própria viatura conduziu uma coluna de veículos de refugiados até à fronteira franco-espanhola, conseguindo fazê-los passar. 

Isto é a determinação a seguir a consciência.

Perante isto e sob as pressões mais variadas, foi compulsivamente exonerado e mandado regressar ao país. Aí começou um calvário de castigos e marginalizações que o reduziram à mais profunda pobreza. Tendo morrido sua mulher Angelina, os filhos para sobreviver foram forçados, porventura com auxílio de alguns familiares ou amigos de
seu pai, a emigrar para os Estados Unidos e Canadá, de modo que, após um largo processo persecutório e punitivo, veio a morrer só e abandonado, como na altura escreveu sua sobrinha, único familiar que o acompanhou na morte:

“Lisboa, 3 de Abril de 1954. Estou no Hospital da Ordem Terceira, na Rua Serpa Pinto. O meu tio, Aristides de Sousa Mendes, acaba de falecer, trombose cerebral agravada por pneumonia. A sua esposa, a minha tia Angelina, morreu em 1948 com uma hemorragia cerebral e
ficou vários meses em coma, coitada.

"Todos os seus filhos, meus primos, vivem hoje nos Estados Unidos e Canadá, conseguiram escapar a tempo do purgatório… Sou a única familiar presente. O meu tio era um homem bom sempre a pensar nos outros. É por isso que morreu pobre e desonrado”.


Foi sepultado com hábito franciscano, provavelmente escapulário e cordão da Ordem Terceira de S. Francisco, da qual era membro, tal como seu irmão gémeo César, que foi Ministro desta Ordem Terceira então ainda existente em Cabanas.

Este verdadeiro herói, português, cristão e franciscano, “Justo entre as Nações”, que em determinado momento dissera “Como pode a minha consciência estar tranquila quando penso que tantas pessoas estão a sofrer e a morrer?”, em peças dos processos disciplinares, com que Salazar e o regime o perseguiram, sempre se defendeu com o
argumento de que agira por “dever de consciência de cristão e bom português”.

E, claro, acrescento eu, também de bom irmão terceiro franciscano, que ele era, cuja Regra, ao seu Capítulo II, nº 5,  determina que os Irmãos 
“Estejam sempre presentes com o testemunho da sua vida humana e também com iniciativas corajosas, quer individuais quer comunitárias, na promoção da justiça, principalmente no âmbito da vida pública, comprometendo-se com opções concretas e coerentes com a sua fé”, designadamente, obedecendo sempre aos seus superiores “a não ser que as suas ordens sejam contra a nossa alma e a nossa Regra”, norma
fundamental do franciscanismo deixada pelo próprio S. Francisco no texto da sua Regra dos Frades Menores. Um franciscano deve obedecer sempre, exceto por razões de consciência.

Assim, por exemplo, no processo disciplinar, arquivado no Arquivo Histórico -Diplomático do MNE, Sousa Mendes disse: “a minha atitude inspirada única e exclusivamente nos sentimentos de altruísmo e de generosidade de que os portugueses, através dos seus oito séculos de história, soubemos tantas vezes dar provas eloquentes e que tanto
ilustram os nossos feitos históricos”.

Isto é o “Humanismo Universalista dos Portugueses” que Jaime Cortesão escolheu como título da sua bem conhecida obra.

Em razão desse seu comportamento humanitário bem merece ser -e de facto já é- reconhecido como símbolo e modelo de humanismo, dever máximo da consciência universal, que o Dia Mundial, a partir de agora, celebra a 5 de abril.




Cartaz do Convite, em inglês, para a celebração de dois grandes humanistas, os diplomatas, o português Sousa Mendes e o brasileiro Sousa Dantas, por ocasião dos 70 anos das suas mortes, e da sua acção em defesa das vítimas de perseguição na II Grande Guerra. Uma iniciativa do Comité do Dia da Consciência, Missão Permanente de Portugal nas Nações Unidas, Igreja Eslovena de São Ciro, Fundação Internacional Raoul Wallenberg e Fundação Sousa Mendes. A cerimónia realizou.se no passado dia 7 de abril de 2024, em Nova Iorque (*)

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Evoquemos então, ainda que ligeiramente, Souza Dantas:

De entre outros heróis que, por dever de consciência e não raro desobedecendo a explícitas ordens superiores, salvaram milhares de judeus e outros perseguidos pelo nazismo, destaca-se o eminente Embaixador brasileiro Luís de Souza Dantas, que, mais recentemente do que Aristides, foi também ele resgatado do olvido imposto pelos
poderes políticos no seu jogo de interesses e artes da diplomacia.

No seguimento da aprofundada investigação de Fábio Koifman, nosso académico correspondente já eleito ainda não empossado, autor do grosso volume “Quixote nas Trevas – O embaixador Dantas e os refugiados do nazismo” e de “Two Diplomats and People in Need” (Sousa Dantas e Raoul Wallenberg) bem como do direto envolvimento (após contato pessoal de João Crisóstomo em Nova York) do então Presidente Fernando Henriques Cardoso, Sousa Dantas, em 10 de dezembro de 2003 foi, tal como Sousa Mendes, reabilitado no Brasil e consagrado pelo Yashem “Justo entre as Nações” com lugar próprio no
Jardim do Holocausto em Jerusalém e passou a integrar a galeria dos “Heróis da Consciência” no mundo da lusofonia.

A própria Comissão que, a partir dos Estados Unidos, promovia o Dia lusófono da Consciência (17 de junho) passou, a partir de 2004, a associá-lo a Aristides de Sousa Mendes nas respetivas celebrações com a constatação da impressionante coincidência de circunstâncias, que João Crisóstomo, emérito aristidesista e, de certo modo pai, do Dia lusófono da Consciência, descreve assim, a páginas 25 do seu “O Papel das Comunidades Luso-Americanas no Reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes”:

“É impressionante o quanto estes dois humanistas têm em comum: Os dois têm como língua materna a língua portuguesa. Ambos seguiram a vida diplomática e ambos se encontraram em França, quase vizinhos, no desencadear da WWII. 

"Ambos tomaram a decisão de desobedecer aos mandatos errados dos seus governos para seguir a voz das suas consciências, salvando
indivíduos perseguidos pelo terror nazi. E ambos, aparentemente mesmo sem se conhecerem, vão declarar mais tarde durante os processos disciplinares de que vão ser vítimas, ter sido o dever de “seguir a sua consciência de cristãos”, a razão do seu proceder. 

"E como que para selar todas estas 'irmandades' os dois vêm a morrer no mesmo mês e no mesmo ano, a escassos dias um do outro: Aristides de Sousa Mendes morreu a 3 de abril e Luís Martins de Sousa Dantas duas semanas depois, a 16 de abril de 1954”.

De Sousa Dantas e da sua vida e obra ímpar em favor da liberdade de consciência e do mais profundo humanismo universalista certamente nos falará Fábio Koifman na sua comunicação de posse nesta sua e nossa Academia, pelo que aqui e agora me limito a transcrever duas das múltiplas frases lapidares com que, em processos disciplinares por
causa delas, Dantas justificou as suas corajosas opções.

Assim, em telegramas oficiais ao seu Ministro Aranha, referindo-se ao “internamento em campos de concentração comparáveis ao inferno de Dante”, Souza Dantas evoca a “generosidade da alma brasileira” como justificação para “continuar a passar visas livres de encargos para sair de França” (onde eram horrivelmente perseguidos), e ainda:

“Eu fiz o que faria o mais frio de coração, com a nobreza de alma dos Brasileiros, movido pelos mais elementares sentimentos de piedade Cristã”.

Esta “alma dos brasileiros” é, na verdade, aquela “alma”, “alma portuguesa repartida pelo mundo” de que nos falava amões e que, muito para além dos interesses políticos e económicos, é hoje partilhada na troca de princípios e valores comuns entre os vários intervenientes do grande e permanente “encontro de povos, culturas e crenças diferentes”, a que, em razão do muito que têm de comum,
chamamos lusofonia.

Como escreveu o nosso já clássico Eduardo Lourenço no seu precioso texto “Repensar a Lusofonia” incluído no vol. IV das suas Obras Completas, embora “talvez a muitos apareça inviável,”, “este sonho universalista”, “esse continente imaterial que é a lusofonia” (Nau de Ícaro, 174) é possível, mas “só o aprenderemos a fundo no convívio,
no contato e, quanto possível, na comunhão daqueles (povos e gentes) que quisemos ensinar e que, por sua vez, nos ensinaram e nos recriaram. É uma empresa futurante esta, endereçada à redefinição de nós mesmos no horizonte do mundo lusófono, que nos compreende e nos ultrapassa, e não na revisitação nostálgica de um passado de muitas cicatrizes”. Empresa, diz ele, que “apetecia tutelar pela mais lusófona das vozes, a voz imensa, acusadora e ecuménica de António Vieira”.



Eis porque escolhi por tema desta minha intervenção de caráter institucional a convicção pessoal de que o lusófono humanismo universalista, gerado na fé e marcado de franciscanismo, do qual Aristides e Dantas são testemunho repleto de atualidade.

Sim. Homens como estes precisam-se. Hoje talvez mais que nunca. Os valores, princípios e causas, que regeram as suas corajosas opções não podem perder-se.

A cultura do humanismo, da solidariedade sem barreiras nem fronteiras e a fidelidade à consciência têm de se recuperar, corrigindo a desvairada globalização dominante de interesses e individualismos opostos aos valores da consciência e do universalismo humanista.


Por isso, me congratulo com a feliz decisão de, a partir do próximo ano, passarmos a celebrar o nosso Dia da Consciência na mesma data, objetivos e contexto do Dia Mundial proclamado pelas Nações Unidas, assim evitando duplicações e separatismos, mas permitindo-nos “lusofonizar” (desculpem o atrevimento do neologismo) a celebração do único e universal “Dia da Consciência” com acento tónico nos valores ancestrais identitários da nossa cultura humanista e na evocação dos nossos “heróis da consciência”.

De facto, a própria Resolução 73/329 da Assembleia Geral das Nações Unidas, que o criou, estabelece que a celebração e objetivos do Dia se realizem, (cito) “de acordo com a cultura e com outras circunstâncias ou costumes adequados às suas comunidades locais, nacionais e regionais, sobretudo por meio de uma educação de qualidade e de atividades de sensibilização do público”.


É essa intenção que cada vez mais justifica que Portugal, o Brasil e demais Países-Irmãos da CPLP, evocando esses heróis e revitalizando a sua comum cultura identitária de humanismo universalista, façam que aquela partilhada cultura, que da camoniana “saudade para além dos mares” fez “sodade, sodade dess ‘nha terra San Niclau” seja agora por eles partilhada como vigoroso instrumento de Paz.

Do mesmo modo, sendo a nossa Academia, “instituição de índole cultural”, cuja finalidade fundacional e estatutária é (cito) salvaguardar e promover “as tradições e padrões culturais portugueses no estrangeiro e a identificação e estudo das comunidades filiadas na cultura portuguesa radicadas fora de Portugal” é natural e altamente desejável que assuma o “Dia lusófono da Consciência” como lógico e
envolvente instrumento de portugalidade em lusofonia e, portanto, do humanismo universalista como padrão identitário da cultura lusófona.


Por isso, e a terminar, permitam-me, Senhora Presidente e caros Confrades Académicos, a ousadia de sugerir (que não me sinto com autoridade para propor) que o próximo dia 3 de abril de 2025 seja aqui celebrado como “Dia da Consciência” com convite para vir tomar posse e apresentar a sua inerente comunicação o nosso Académico Correspondente brasileiro Fávio Koifman.

É mera sugestão, claro. Mas oxalá seja compreendida e aceite. OBRIGADO.

Bem hajam todos pela vossa presença e paciência.

Viva o Brasil de Souza Dantas.

Viva Portugal de Sousa Mendes.

Vivam a Lusofonia e a nossa Academia.


P. Vítor Melícias,

OFM

(Revisão / fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue: LG) 
(Com a devida vénia ao autor...)

________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25338: Tabanca da Diáspora Lusófona (23): Nova Iorque, Igreja Eslovena de São Ciro, domingo, 7 de abril: recordando e cebrando os 70 anos da morte de dois grandes diplomatas e humanistas do tempo da II Grande Guerra, o português Sousa Mendes, e o brasileiro Sousa Dantas (João Crisóstomo)

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25762: Efemérides (443): Hoje, no dia do 139º aniversário natalício de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), e na inauguração do seu Museu, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, o Papa Francisco deu-nos a graça e a honra da Sua Benção (João Crisóstomo)


Imagem de Aristides de Sousa Mendes 
(1885-1954), adapt. com a devida vénia
do programa oficial da inauguração
da antiga Casa do Passal (*)


1. Mensagem de hoje, às 08:45, do nosso amigo e camarada João Crisóstomo, que é um dos convidados de honra  da sessão de inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, sessão que acabou de se realizar às 13:00 locais, conforme programa que divulgámos (*):

 Caríssimos, 

 Quando tiver tempo enviarei melhor... A inauguração consta de três dias:  ontem (pré-inauguração) foi para a família, "visa recipients" e alguns mais; 19 inauguração oficial que se prolonga no dia 20. 

Para já aqui está algo de relevante: Dia 18: Um dia em cheio. O tema "Dia da Consciência" ficou em lugar de honra no museu: o texto está em Inglês e português; até me deram uma medalha.

... E a meio da tarde recebi esta mensagem do Vaticano que eu já não esperava. Vou lê-la hoje durante a cerimónia da inauguração, depois da mensagem do António Guterres. 

Abraço, João.



Carta de 18 do corrente, enviada ao João Crisóstomo, pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, com a mensagem do Papa Francisco, dando a sua benção a todos os participantes na sessão de inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, hoje às 13h00, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal (*). A mensagem foi lida pessoalmente pelo João Crisóstomo, a seguir à mensagem (gravada) do presidente das Nações Unidas, o português e beirão António  Guterres.

2. Esta mensagem de Sua Santidade veio como anexo, na mensagem do Secretário de Estado do Vaticano, recebida ontem à tarde pelo João Crisóstomo, em Carregal do Sal, onde se encontrava como convidado para a cerimónia de hoje:


Carregal do Sal > Cabanas de Viriato >
Museu Aristides de Sousa Mendes >
18 de julho de 2024 >
A alegria do João Crisóstomo  por ver
que o tema do "Dia da Consciência"
tem o devido destaque neste novo espaço
de memória.
Foto: Vilma Crisóstomo (2024)
Dear Mr. João,

Thank you very much for your e-mails, dated 27 June and 9 July last. First of all, I extend my best wishes on the occasion of your 80th birthday. Although with delay, they are sincere and especially backed by prayer, which I also make for your health. I hope that you are gradually recovering and can continue, even if in a reduced manner, your meritorious activity.

I am sending you in attachment a message from the Holy Father Francis for tomorrow, on the occasion of the inauguration of the restored birth house of Aristides de Sousa Mendes, in Carregal 
do Sal, Portugal. It is, as you see, a written text, 
but the Pope now accepts to make videos only very rarely and only for very special circumstances. You, however, 
can read it in public.

I hope that tomorrow’s initiative, with the participation of the President of the Portuguese Republic,  will be successful and will help spread his message 
through this centre that will become the new headquarters for the “Day of Conscience.”

With warmest regards and best wishes.
X Pietro Card. Parolin
SECRETARY OF STATE

Tradução do inglês para português (Google Translate | LG)

Meu caro João, muito obrigado pelos seus e-mails datados de 27 de junho e 9 de julho passado. 

Em primeiro lugar, apresento-lhe os meus melhores votos por ocasião do seu 80º aniversário natalício. Embora com atraso, são sinceros e principalmente apoiados na oração, que faço também pela sua saúde. Desejo que esteja a recuperar gradualmente e possa continuar, ainda que de forma reduzida, a tua meritória actividade. 

Envio-lhe em anexo uma mensagem do Santo Padre Francisco para amanhã, por ocasião da inauguração da casa, agora restaurada,  onde nasceu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, Portugal. É, como vê, um texto escrito: agora o Papa  só muito raramente,  e apenas em circunstâncias muito especiais, aceita fazer vídeos . No entanto, o João pode lê-la em público. 

Espero que a iniciativa de amanhã, com a participação do Presidente da República Portuguesa, seja um sucesso e ajude a difundir a sua mensagem através deste centro que passará a ser a nova sede do “Dia da Consciência”. 

Com os mais calorosos cumprimentos e melhores votos. Cardal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano.

3. No passado dia 9 de julho de 2024, 01:16, o João Crisóstomo tinha feito, por email, o  seguinte pedido ao Secretáro de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin (reproduzimos apenas a versão em português,  tradução do inglês, da nossa responsabilidade):

Eminência,

A pedido do Presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Dr. Paulo Catalino, no dia 27 de junho enviei uma carta a Sua Santidade solicitando a Sua Bênção para a inauguração da antiga casa de Aristides de Sousa Mendes.

Enviei esta carta à sua atenção, pedindo a Vossa Eminência que fosse nosso advogado junto de Sua Santidade para nos conceder a Sua Bênção, mas, lamento dizê-lo, nem sei se a carta chegou a si e a Sua Santidade.

No dia 19 de julho de 2024, aniversário de nascimento de Aristides de Sousa Mendes, a sua antiga casa, agora restaurada e inaugurada neste dia, será a nova sede do Dia da Consciência. Venho pedir uma curta mensagem, em vídeo, tal como o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, concordou em fazer para este evento, que será presidido pelo Presidente de Portugal, Professor Marcelo Rebelo de Sousa.

Ciente dos muitos assuntos prementes que todos os dias chegam à mesa de trabalho de Vossa Eminência, atrevo-me ainda a pedir-lhe que não o esqueça e nos conceda esse favor, como forma de alimentar o interesse pelo "'Dia da Consciência'". Este, embora baseado no testemunho de Aristides de Sousa Mendes, em 17 de junho de 1940, será celebrado a partir de agora na mesma semana em que as Nações Unidas celebram o seu “Dia Internaconal da Consciência" (“para evitar qualquer ideia, mesmo involuntária, de competição e proselitismo”, como disse um ilustre diplomata português). 

Aguardando o favor de sua resposta, meu pai e amigo, imploro a Deus, Nosso Senhor, que o abençoe a si e a Sua Santidade. 

João Crisóstomo (**)




O João Crisóstomo, no Museu Aristides de Sousa Mendes, 
lendo hoje às 13h00 a mensagem do Papa Francisco,
enviada expressamente para saudar (e "unir-se de coração" com)
todos os que vieram a Cabanas de Viriato "não apenas para homenagear 
mas para beber do legado de um homem perito em hunanidade 
e justo entre as nações". 

Foto enviada pelo Valdemar Queiroz, obtida do Telejornal, 20h00, RTP1.

______________

Notas do editor:

(**) Último poste da série > 10 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25627: Efemérides (442): Comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo de Matosinhos da LC, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, levada a efeito na Freguesia de Leça da Palmeira (LC / Carlos Vinhal)

domingo, 18 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24409: Efemérides (397): 17 de Junho, o Dia da Consciência, em memória de Aristides Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque) - Parte II: enviadas cartas às conferências episcopais de 71 países


O ativista luso-americano João Crisóstomo
1. Mensagem do João Crisóstomo, com data de 17 do corrente, às 13h36:

Caro Luís Graça,

Obrigado por decidires falar do Dia da Consciência (*), a meu ver pertinente no blogue pela sua ligação com o nosso Aristides.

Curiosamente, como vês, foram várias as respostas das conferências episcopais mundo fora que contactei e que decidiram contactar todas as dioceses desses países, conforme o que eu podia.

No caso de Portugal tive mesmo de contactar eu mesmo as dioceses individualmente. Já são vários os anos em que tenho contactado a nossa conferência episcopal portuguesa , sem nunca ter recebido qualquer resposta. Desta vez quando fui a Portugal fui mesmo a Leiria pessoalmente falar 
com o presidente da conferência episcopal portuguesa . Fui "muito bem recebido” , mas 
no fim sem qualquer resultado…

Se eu não tivesse contactado individual e directamente as dioceses (excepto a de Leiria , pois tinha falado pessoalmente com Dom Ornelas), o “dia da Consciência" e Aristides de Sousa Mendes teriam sido ignorados. Diz o ditado que "Santos da Casa Não Fazem Milagres"... É mesmo verdade.

Depois de ter enviado recebi mais algumas respostas (menos do que esperava, mas também sei que alguns E-mails não me chegam ficando pelo caminho como tento verificado por vezes).

De Portalegre/Castelo Branco; as conferências episcopais da India e outros que manifestaram intenção, mas não recebi nada mais, pelo que assumo que as respostas (se realmente as mandaram,) ficaram pelo caminho. 

Envio-te alguns exemplos pelo especial interesse neles manifesto: Coreia (carta abaix ) e um trabalho que saiu no Jornal da Madeira pelo empenho do Senhor Bispo Dom Nuno, antigo bispo auxiliar em Lisboa. E um Press release da IRWF, que a incluiu na sua lista de subscritores:


Vaticano, Agosto de 2017: I “Dia da Consciência” foi  um assunto do encontro 
entre o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé
e o ativista João Crisóstomo.


2. Cópia da carta, inglès,  enviada para 71 países, dirigida à respetiva Conferência Episcopal, pelo João Crisóstomo, fundador e coordenador do Projeto do Dia da Consciência, assinada também pelos cofundadores e coordenadores, luso-americanos, Mariana Abrantes e Miguel Ávila:

Excellence… Eminence

As a follow up of a previous letter I sent to Your Episcopal Conference, I would like to ask again for your your support and participation in the celebration of the "Day of Conscience" on June 17.

Three years ago, on June 17 2020, His Holiness Pope Francis, after mentioning that Day as “The Day of Conscience”, encouraged “every Christian to give the example of the consistency of an upright conscience enlightened by the Word of God”.

There is a reason to remember and celebrate June 17 as the Day of Conscience in the world, a project I am involved with since 2004, on the 50th anniversary of the death of Aristides de Sousa Mendes, whose name and courage were recalled by His Holiness on the same day of June 17 2020.

On June 17 1940, in the middle of the World War II, the Portuguese Consul in Bordeaux, France, Aristides de Sousa Mendes, disobeying his government but obeying his CATHOLIC CONSCIENCE, decided to give transit visas, and thus saving their lives, to many thousands of people fleeing ahead of the Nazi army occupying France, many of them Jews. For this Consul Sousa Mendes was dismissed from the diplomatic corp and died in poverty on April 3, 1954.

Greatly encouraged by Pope Francis and emboldened by His words, we want to continue promoting the “Day od Conscience” as we believe that the Catholic Church should lead this renaissance movement for a better world, promoting this idea of conscience awareness and the duty of every single one of us to accept and follow it as a way to address the many problems afflicting our world.

Because June 17 falls on a weekday most of the time, we asked about the possibility of an advanced reminder by dioceses to the parishes to prevent this date from being forgotten and the consequent absence of any conscience awareness effort. 

To our great satisfaction we were advised that there is no reason to prevent a reminder from being made during the Masses of the previous Sunday before June 17, as a way to reach a desired wider audience. This way the “Day of Conscience” message can be spread and made known on church bulletins and all other ways available, including media and social media.

With this in mind we are asking Your Excellence to contact and encourage the dioceses of your jurisdiction to participate in this movement. If we want a better world than the one we are experiencing everywhere, this is a must.

I am sending this letter to all Episcopal Conferences around the world, for I am confident and do not doubt that, as it has happened in years past , it will be well received and given favorable consideration.

Grateful in advance and looking forward to the favor of a kind reply from Your Excellence confirming receipt of this letter, I am

Yours in Christ,
João Crisóstomo

Founder and coordinator of the “Day of Conscience Project”
Vice President of Angelo Roncalli International Committee
Raoul Wallenberg Foundation, New York
tel 1 917 257 1501; E mail: crisostomo.joao2@gmail.com

Mariana Abrantes, co-founder and co-coordinator
tel: 351 917 286 396; E mail: mariana.ppplusofonia@gmail.com

Miguel Ávila, co-founder and co-coordinator
tel 1 408 772 2941; E mail : miguelavila@tribunaportuguesa.com 

Traduão / adaptação livre para portuguèrs: Google Transalate / Editor LG


Excelência... Eminência:

No seguimento de uma carta anterior que enviei à Vossa Conferência Episcopal, gostaria de pedir novamente o vosso apoio e participação na celebração do “Dia da Consciência” a 17 de junho. 

 Há três anos, em 17 de junho de 2020, Sua Santidade o Papa Francisco, depois de mencionar aquele Dia como “O Dia da Consciência”, ,  encorajou “todo cristão a dar o exemplo da consistência de uma consciência reta iluminada pela Palavra de Deus”. 

 Há uma razão para recordar e celebrar o dia 17 de junho como o Dia da Consciência no mundo, projeto no qual estou envolvido desde 2004, no 50.º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes, cujo nome e coragem foram lembrados por Sua Santidade no mesmo dia 17 de junho de 2020. 

A 17 de Junho de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, o Cônsul de Portugal em Bordéus, França, Aristides de Sousa Mendes, desobedecendo ao seu governo mas obedecendo à sua CONSCIÊNCIA CATÓLICA, decidiu conceder vistos de trânsito, salvando assim as suas vidas, a muitos milhares de pessoas fugindo do exército nazi que ocupava a França, muitos deles judeus. Por isso o cônsul Sousa Mendes foi demitido do corpo diplomático e morreu na pobreza em 3 de abril de 1954. 

Muito encorajados pelo Papa Francisco e encorajados pelas suas palavras, queremos continuar a promover o “Dia da Consciência” porque acreditamos que a Igreja Católica deve liderar este movimento de renascimenmto para um mundo melhor, promovendo esta ideia de consciência e dever de todos e de cada um de nós apenas um de nós para aceitá-lo e segui-lo como uma forma de abordar os muitos problemas que afligem nosso mundo. 

Como o dia 17 de junho cai na maioria das vezes em dia de semana, permitomo-nos sugerir a possibilidade de um lembrete antecipado das dioceses às paróquias para evitar que esta data seja esquecida com consequente ausência de qualquer esforço de conscientização. 

Para nossa grande satisfação fomos informados de que não há razão para impedir que seja feito um apelo durante as missas do domingo anterior a 17 de junho, como forma de atingir um público mais alargado, como desejamos. Desta forma, a mensagem do “Dia da Consciência” pode ser divulgada e divulgada nos boletins da igreja e em todos os outros meios disponíveis, incluindo a Internet e a comunicação. 

Nesse sentido, pedimos a Vossa Excelência que entre em contato com (e incentive) as dioceses de sua jurisdição a participar desse movimento. Se queremos um mundo melhor do que este em que vivemos em todo o lado, esta é uma obrigação.

Envio esta carta a todas as Conferências Episcopais do mundo, pois estou confiante e não tenho dúvidas de que, como tem acontecido nos últimos anos, será bem recebida e considerada favoravelmente. 

Agradecido antecipadamente e esperando o favor de uma resposta amável de Vossa Excelência confirmando o recebimento desta carta, sou Seu em Cristo, João Crisóstomo 

Fundador e coordenador do “Projeto Dia da Consciência”,  Vice-presidente do Comité Internacional Angelo Roncalli, Fundação Raoul Wallenberg, Nova York tel 1 917 257 1501; E-mail crisostomo.joao2@gmail.com

Mariana Abrantes, co-fundadora e co-coordenadora,  tel: 351 917 286 396; E-mail mariana.ppplusofonia@gmail.com

Miguel Ávila, co-fundador e co-coordenador,  tel 1 408 772 2941; E-mail: miguelavila@tribunaportuguesa.com

3. Até ontem,  dia 17, o João Crisóstomo, já recebido resposta escrita e/ou telefónica de diversos países (da Bélgica ao Zimbabué, da Irlanda à Malásia, passando pela Coreia do Sul, bem como de diversas dioceses portuguesas (Funchal, Porto, Guarda, Lisboa, Portalegre / Castelo Branco...). Publicamos duas respostas escritas, a título exemplificativo:

(i) Resposta do bispo da Guarda:

17 de junho “O Dia da Consciência”

O Santo Padre, o Papa Francisco, em 17 de junho de 2020, apontou este dia como “O Dia da Consciência”, para que seja celebrado anualmente.

E evocou a figura do Português Aristides de Sousa Mendes que, em 17 de junho de 1940, no aceso da II Guerra Mundial, sendo Cônsul de Portugal em Bordéus, soube obedecer à voz da sua consciência de católico, mesmo tendo de desobedecer às ordens do seu Governo e assinou os vistos de passagem para o território português de centenas de pessoas que fugiam à perseguição nazi.

Como sabemos, em Vilar Formoso, da nossa Diocese, foi levantado um memorial para evocar este nobre gesto de obediência à consciência pessoal, com todas as consequências.

Acolhendo esta recomendação do Papa Francisco, feita no ano de 2020, também se recomenda o aproveitamento do próximo dia 17 e do domingo que se lhe segue para lembrar a todos que a consciência bem formada, e sobretudo quando iluminada pela Palavra de Deus, é sempre a grande regra para todos, mesmo que envolva contratempos, como aconteceu no caso de Aristides de Sousa Mendes.

2 de junho de 2023
Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda


(ii) Resposta da Confereència Episcopal da Coreira do Sul, com data de 7 do corrente:

sábado, 17 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24408: Efemérides (396): 17 de Junho, o Dia da Consciência, em memória de Aristides Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque) - Parte I: Carta enviada às dioceses portuguesas


Aristides de Sousa Mendes, consul português de Bordéus, 1940.

Cortesia de Fundação Aristides de Sousa Mendes.

1. Mensagem do nosso amigo e camarada João Crisóstomo, Nova Iorque:

Data - 4 jun 2023 10;34
Assunto - Hello, de Nova Iorque

Meus caros Luís Graça e Alice,

Desculpem o meu silêncio. Tenho tentado "segui-los” e, quando descubro algo bom, fico logo contente, como por exemplo de ver o Luís a apanhar uma boleia dum camarada para poder estar também presente num encontro. Nem o blogue tenho seguido com o cuidado e carinho que merece. Mas, mesmo sem enviar abraços individuais como devia fazer, não me passaram despercebidos aniversários de nossos camaradas; como não deixei de ler sobre encontros — um deles em A-dos-Cunhados terra onde nasci, e por isso senti pena, quase raiva, de não ter podido ter presente; e os posts de especial interesse para mim como o do Abel Rei e outros falando sobre Enxalé, Xime e Bambadinca… e alguns “hellos” especiais, enviados de camaradas na diáspora de quem há muito não sabia nada.

Como os “avisei" por telefone há tempos atrás, a data de 17 de junho (Dia da Consciência) (*) tem-me exigido todo o tempo. Nas últimas duas semanas, desde o momento em que a Vilma partiu (foi passar uns tempos à Eslovénia, sua terra natal), nada mais tenho feito, 24 sobre sobre 24 horas, nem mesmo descansar, pois foram várias as noites em que nem fui à cama. Aliás foi uma das razões, além de outras de carácter burocrático, que me forçou a ficar aqui e não acompanhar a Vilma à Eslovénia. Mas, graças ao WattsApp, temos-nos visto e falado todos os dias.

Sobre este “Dia da Consciência” para quem o assunto tiver interesse, dado a sua ligação com o nosso Aristides de Sousa Mendes, vou-te enviar cópia da carta que enviei mundo fora para (71 países), individualmente pois eu não sei fazer esses milagres de internet que para gente mais sabida em coisas digitais é o pão de cada dia. E da carta que enviei individualmente a todas as dioceses portuguesas. Embora ainda cedo, que ainda faltam duas semanas, envio-te também algumas respostas já recebidas. (**)

Muito provavelmente este ano fico-me por aqui, a não ser que alguma razão de força maior me obrigue a ir a Portugal. Redobrada será a satisfação quando nos encontrarmos na próxima vez.

Um abraço com saudades , 
João


2. Carta enviada para as dioceses portugueses, por João Crisóstomo:

Founder and coordinator of the “Day of Conscience Project”
Vice President of Angelo Roncalli International Committee
Raoul Wallenberg Foundation, New York
tel 1 917 257 1501; E mail crisostomo.joao2@gmail.com


Saudações amigas de Nova Iorque e os meus respeitosos cumprimentos.

As palavras de Sua Santidade o Papa Francisco na sua audiência geral de 17 de Junho de 2020 foram estímulo grande para o projecto Dia da Consciência, que temos vindo a celebrar desde 2004, 50.º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes.

Devido à pandemia que assolou o mundo até recentemente, pouco aconteceu nos últimos dois anos, salvo algumas excepções como a lembrança e celebração deste dia por Sua Eminência Dom Manuel Clemente em Lisboa no ano passado. Queremos agora recomeçar e reavivar a lembrança e celebração do Dia da Consciência, acentuando a sua ligação entre a corajosa decisão de Aristides de Sousa Mendes e a sua consciência cristã.

Venho pedir a Vossa Excelência o seu apoio e participação na diocese de_________ neste “despertar de consciências”. Fui motivado a esta decisão de contactar as conferências episcopais mundo fora, e no caso de Portugal de fazer um pedido directo às dioceses individualmente, por uma experiência que tive com o nosso saudoso bispo D. Daniel Henrique.

Em junho de 2018 pedi a Sua Excelência, quando Dom Daniel Henrique era ainda Vigário em Torres Vedras, o seu apoio e participação neste projecto. A sua resposta a 14 desse mês foi <<... Com todo o gosto farei referência, na homilia e na Oração dos fiéis das missas do próximo domingo a este assunto e tratarei de o divulgar entre os colegas das 20 paróquias da Vigararia de Torres Vedras, assim como no Jornal Badaladas...>>

Inspirado neste contacto em 2021 enviei uma carta a diversas conferencias episcopais mundo fora. Os resultados foram gratificantes nesse ano, com muitas respostas positivas, da Bélgica às Filipinas.

Para este ano 2023, enviamos recentemente uma carta (que junto a seguir a esta) a muitas conferências episcopais pelo mundo fora com resultados já gratificantes, desde a Belgica << As we did in 2021…>>... Irlanda << The Commission recommended to the Bishops that they might consider the implementation of this initiative within their dioceses.>>…. Malasia <<I have forwarded your mail to all the bishops …>>;… Zimbabwe <<Greetings from Zimbabwe... We have circulated the letter to all the bishops>>...

Em resposta a uma pergunta sobre como celebrar o “Dia da Consciência" fui instruído de que "since the “Day of Conscience” has been celebrated since 2004 on June 17, there is no reason to change to another date… (and also that) … there is no reason to prevent it ( the Day of Conscience) from being mentioned at the Masses of the previous Sunday before June 17, as a way to reach a wider audience so that the “Day of Conscience” message can be spread and made known in church bulletins and all other ways available, including other media and social media”.

A situação, em muitas vertentes confusa e caótica do mundo de hoje, exige um movimento de Renascimento para um mundo melhor. O "Projecto Dia da Consciência" tenta vir ao encontro deste. A semana 11 a 17 de Junho, dedicada a um “despertar de consciências” assume especial relevância este ano, num contexto de preparação para o Encontro Mundial da Juventude em Agosto.
(Negritos nossos, editor LG)

Porque achamos que Portugal deve liderar este movimento de despertar de consciências, projecto inspirado e nascido pela sua ligação a Aristides de Sousa Mendes, decidi contactar as dioceses portuguesas individualmente. E neste sentido vimos pedir a Vossa Excelência que a mensagem inerente ao Dia da Consciência receba a relevância que Vossa Excelência ache apropriada, nomeadamente que seja mencionado nas missas do dia 11, domingo anterior ao dia 17, em todas as paróquias de__________ .

Na esperança dum bom acolhimento a este meu pedido e o favor de uma resposta, queira aceitar os meus respeitosos cumprimentos.
João Crisóstomo

(Continua)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

1 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21128: Efemérides (329): "17 de junho, o Dia da Consciência", o historial de uma causa em que o mundo (, o Vaticano incluído,) relembra o exemplo inspirador do diplomata português Aristides de Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque)

17 der junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23361: Efemérides (371): 17 de junho de 2022, Dia da Consciência, em memória de Aristides de Sousa Mendes (João Crisóstomo, Eslovénia)

(**) 13 de junho de  2023 > Guiné 61/74 - P24396: Efemérides (395): Leça da Palmeira comemorou, mais uma vez, o 10 de Junho e homenageou os seus Combatentes caídos em Campanha (Núcleo de Matosinhos da LC / Carlos Vinhal)

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21128: Efemérides (329): "17 de junho, o Dia da Consciência", o historial de uma causa em que o mundo (, o Vaticano incluído,) relembra o exemplo inspirador do diplomata português Aristides de Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque)




Carta de 5 de dezembro de 2018, do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin,em resposta ao João Crisóstomo.




Carta de João Crisóstomo, para Sua Santidade o Papa Franscisco, com data de 3 de abril de 2019



Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do João Crisóstomo [, aqui na foto com o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal  Pietro Parolin, em agosto de 2017]

Date: sábado, 27/06/2020 à(s) 17:56

Subject: Historial do 'Dia da consciência"


17 de Junho :  Historial do "Dia da Consciência"

por João Crisóstomo

 Conhecedores do meu envolvimento  neste assunto, alguns amigos têm-me sugerido, com insistência, que,  para esclarecimento dos interessados mas menos informados no nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes, eu faça um resumo, um historial,  de como se chegou a este feliz momento  de vermos o dia  17 de Junho  aceite  pelo papa Francisco como "Dia da Consciência"  e o reconhecimento deste  nosso herói pelo Vaticano. 

É isso que me proponho fazer, sem ridículas intenções de qualquer autopromoção, mas também sem pretensões de falsa modéstia.

Não vou  fazer um historial do  reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes em geral, mas vou-me cingir ao que directa ou indirectamente está relacionado com o "Dia da Consciência".

 O acaso, se tal existe, levou a  que uma pessoa amiga em 1996 me falasse  de Aristides  como meio de melhor me envolver no assunto de Timor Leste. Vinte e um anos mais tarde seria o  meu envolvimento com Timor Leste  que me  ajudaria   no caso de Aristides de Sousa Mendes.  

Até esse  ano de 1996, Aristides de Sousa Mendes era para mim um herói desconhecido.  No momento, contudo, em que o conheci e me apercebi da sua grandeza, decidi fazer o possível para acabar com  este geral desconhecimento deste nosso grande humanista.

Já no ano 2000, na grande exposição,  "Visas for Life", nas Nações Unidas,  Aristides de Sousa Mendes foi o  diplomata de destaque neste evento e  o dia de abertura oficial foi propositadamente escolhido para coincidir com o dia do aniversário  da   sua morte. 

Acrescento que o filme documentário " Diplomats for the Damned",   do History Channel [. Canal História],  teve de ser refeito - e assim aconteceu - para incluir com o maior destaque o nosso herói que havia sido "esquecido". 

Nesta altura  vim a saber que, para honrar Aristides de Sousa Mendes, o 17 de Junho  tinha sido  o dia escolhido para  a  inauguração  de uma estátua e uma  praça com o seu nome em Bordéus,França.  

Fazia  sentido, pensei eu: foi esse o dia em que o cônsul Sousa Mendes mostrou o que era e que fez dele  o modelo  e a inspiração que iria a ser para todos os que viriam no futuro a ter dele conhecimento. A partir desse dia,  foi essa a data e essa a vertente  a que comecei a dar maior destaque nos vários eventos que ia promovendo para apresentar Aristides de Sousa Mendes.

 Entre estes  devo salientar os acontecimentos levados a efeito em 2004. Porque Aristides era católico e  explicou o  seu procedimento como  tendo sido motivado  pela sua consciência de cristão, tentei dar a vertente católica a estes acontecimentos. 

Juntei-me à International Raoul Wallenberg Foundation  (pois a Fundação Sousa Mendes US só viria a aparecer em 2010/11) e entre as muitas dezenas de acontecimentos nessa semana de Junho de 2004, 34 desses foram missas, celebradas na maioria pelos  prelados máximos   em 22 países mundo fora.

Esta  era também uma maneira mais eficiente de dar a conhecer o nosso herói, pelo elevado número directo de pessoas a ouvir falar dele, como pela cobertura mediática, como felizmente aconteceu.  

Em 2010 celebrávamos os 70º aniversários da capitulação da Fança na II Guerra Mundial e o desse  acto corajoso de salvamento de refugiados por Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus.  

De novo houve celebrações em vários países,  e da mesma maneira que tinha sido feito em 2004 - em que o Senhor Cardeal Don Renato Martino tinha presidido a uma missa solene na Basílica de Trastevere - eu pedi e teve lugar uma concelebração de quatro cardeais em Roma para lembrar  a acção do antigo cônsul de Portugal em Bordéus. 

Essas  missas eram pedidas sob o tema de agradecimento ao Senhor por nos ter dado o exemplo inspirador de Aristides de Sousa Mendes e  outros, especialmente o diplomata brasileiro Luis Martins de Sousa Dantas,  de coragem e humanismo  gémeos dos de Aristides Sousa Mendes.   

Esta concelebração em Roma  foi notícia  espalhada pelo mundo pela Agencia Zenith, e eu achei que era uma boa altura para  pedir ao Vaticano, na pessoa do Sr. Cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, que declarasse  17 de Junho  como o "Dia da Consciência".  

Esta expressão "Dia da Consciência" - e não "Dia da Desobediência" ou "Dia de Acção de Graças" - foi escolhida e resultou duma conversa telefónica com Mariana Abrantes que ma sugeriu como mais  apropriada. E em boa hora o fez. A partir daí foi sempre como "Dia da Consciência" que  se ficou a chamar o dia 17 de Junho. No mesmo ano, no Canadá, o "Dia da Consciência" foi apresentado no Parlamento pelo  representante federal Mario Silva que  introduziu  uma resolução nesse sentido.

Entretanto, esta primeira carta/pedido ao Vaticano não teve qualquer resposta. A chegada do papa Francisco e do novo Secretário de Estado deu-me esperanças de que o meu pedido  tivesse melhor recepção e em 2014, depois de me ter aconselhado com Sua Eminência Cardeal Renato Martino, decidi tentar de novo, desta vez em carta  de 6 de Março endereçada  directamente  ao Papa Francisco.

Para surpresa minha  esta carta, mesmo registada,  perdeu-se  no correio. Explicaram-me   que tinha sido enviada por engano para a  Inglaterra… e por mais voltas, queixas  e insistências minhas, nunca foram capazes de a encontrar.  Decidi enviar outra carta e a esta também não recebi resposta, pelo que pedi então mais uma vez o auxílio de  Sua Eminência Cardeal Renato Martino que, em email de 11 de Abril de 2014, me instruiu para mandar a carta para ele e que ele garantia a entrega  da carta no seu destino.  

Quando chegou Junho, eu ainda não tinha qualquer resposta. Consegui o  número  de telefone de Monsenhor Peter Wells, assistente do Secretário de Estado,  a quem consegui chegar. Contactei-o por email a 2 e a 10 de Junho. Como nada resultava,  pedi ao Sr. Cardeal Renato Martino que lhe desse uma chamada telefónica: com certeza que ele daria mais importância a uma chamada dum Cardeal  do que todos os telefonemas  e emails meus…. Mas a resposta desejada sobre o 17 de Junho não chegou. Chegou, contudo,  a explicação de que a minha carta tinha chegado  atrasada demais para poder ser considerada.

Em Julho desse ano o Supreme Court of USA  [, o Supremo Tribunal dos EUA,] decidiu em favor de "direitos de consciência" dos indivíduos  e eu, satisfeito com essa decisão, aproveitei para contactar Monsenhor  Peter Wells e preparar o terreno para o ano  seguinte. A 7 de Julho perguntava se devia enviar a carta imediatamente. Que não, que devia esperar uns meses e enviar a carta apenas uns meses antes "just a few months before, lest it fell in the cracks". 

  A 17 de Janeiro 2015, enviei então nova carta  por  ocasião da celebração do 75º aniversário da ocupação da França  e do acto humanista do então cônsul de Portugal em Bordéus. Num email para Monsenhor Peter Wells informei-o que  a carta tinha já passado por Milão e "is currently in transit to the destination". 

A 23 de Fevereiro, Monsenhor Peter Wells informava-me que as minhas cartas tinham chegado ao escritório do Papa Francisco. Mas "Ele está em retiro e com certeza que me  darão a sua resposta quando voltar". Mas nada sucedeu. A 15 de Março  "lamentava" não ter notícias para me dar, mas que me daria conhecimento se houvesse alguma novidade.

No dia seguinte,  em  carta postal só  chegada no fim do mês,  deu conhecimento da sua chegada, mas que "devido à agenda litúrgica de Sua Santidade não era possível responder afirmativamente ao meu pedido". 

Foi nesta altura que tive conhecimento de que o Vaticano tinha tido um outro contacto relacionado com Aristides de Sousa Mendes: João Correa  recebeu uma carta acusando a recepção do seu livro "Sousa Mendes, le Consul de Bordeaux"  que o autor lhes tinha enviado. 

Em Julho de 2013 fui, turista,  a Roma  com a minha esposa e aproveitei para fazer algumas visitas. Uma das que eu tencionava fazer era a Monsenhor Peter Wells. Mas, entretangto, ele tinha sido nomeado Níncio na África do Sul  onde já se encontrava. Em 2018, foi um dos Núncios (junto com Don Celestino Migliore, em Moscovo), que participaram  nas celebracões de 17 de Junho desse ano. 

 Em Agosto de 2017, ao verificar que as crianças nas montanhas de Timor Leste precisavam de ajuda, resolvi enviar uma carta ao papa Francisco pedindo-lhe uma carta de apoio pois,  pensava eu, com uma carta sua de apoio a causa das crianças esquecidas  seria ouvida com mais atenção. 

Dias depois, recebi um telefonema do Vaticano, de que Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin queria saber mais detalhes sobre esta minha carta e instruia-me a ir  falar com ele ao Vaticano. Sua Eminência  estava sobremaneira interessado no assunto de Timor, mas manifestou o seu interesse também sobre Aristides de Sousa Mendes de quem falei, argumentando  eu que o seu exemplo era inspirador e devia ser conhecido como meio de despertar as consciências no mundo confuso em que vivemos.  

No ano seguinte, numa carta em que o assunto de Timor era tema principal, Sua Eminência  não deixou de me informar ter celebrado a missa de 17 de Junho com a sua intenção.

 Esta foi uma oportunidade que eu  não podia  deixar de aproveitar. E, conhecedor, agora, que a sensibilidade do Papa Francisco era partilhada  de igual maneira pelo seu Secretário de Estado, em Janeiro de 2018 pedi a sua participação na celebração de 17 de Junho, que eu, como em anos anteriores,  tencionava coordenar em muitos países simultaneamente,  como uma ocasião para lembrar "everyone in the world  of the need to follow one's conscience".  

Para  que o Vaticano  compreendesse  o muito interesse do que eu  expunha, eu assinei esta carta não só em meu nome, como coordenador do projecto 'Dia da Consciência,  mas em nome de várias organizações, a quem contactei nesse sentido, nomeadamente IRWF, LAMETA, Sousa Mendes Foundation US, Observatório internacional de Direitos Humanos, Fundação Aristides de Sousa Mendes - Portugal, e o Comité de Homenagem a Aristides de Sousa Mendes em França. 

O facto de o mundo atravessar uma crise moral de grandes proporções como todos sabemos e sentimos  é  facto que  não podia ser esquecido como argumento. O mundo precisa realmente de algo que o faça despertar para evitar um cataclismo do qual dificilmente o mundo sobrevirá. 

A 3 de Abril de 2019, dia do aniversario da morte de Aristides, seguia nova carta  ao Papa Francisco em termos bem explícitos  e angustiantes: 

"Today's world seems to be getting out of control everywhere"… "I am coming to ask for your blessing and support … to awaken people's conscience and to call to action our duty to abide by it, to stop what seems  a run to madness... Reminding the world of the week of June 17 1940 and of Aristides de Sousa Mendes could be this catalyst... The world needs this … and the Catholic Church could be the one promoting and encouraging this "conscience awakening". 

[Tradução para português: "O mundo de hoje parece estar a ficar fora de controle em todos os lugares. (...) Venho pedir sua bênção e apoio ... para despertar a consciência das pessoas e chamar à ação o nosso dever de cumpri-la, para parar o que parece ser uma corrida para a loucura. .. Lembrar ao mundo a semana de 17 de junho de 1940 e o exemplo Aristides de Sousa Mendes podendo ser esse o catalisador ... O mundo precisa disso ... e a Igreja Católica pode ser ela a promover e incentivar esse 'despertar da consciência' "]

Numa carta posterior,  a 17 de Junho de 2019, para Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin, continuei perseverante lembrando que "Dire situations...  demand equivalent/appropriate measures" e  pedia o favor de uma resposta para as minhas cartas.

Sua Eminencia não deixou de me ouvir. A 11 de Setembro  o seu assistente, em vésperas de partir para novo posto,  enviou-me uma mensagem  dando-me  a conhecimento  que o assunto das minhas cartas não estava esquecido: 

"Cardinal Parolin has asked me to reply on his behalf to your letters, sent over the course of the last months, to assure you that your proposal regarding the "Day of Conscience" is currently under study."

[Tradução para português: "O cardeal Parolin pediu-me para responder em seu nome às suas cartas, enviadas ao longo dos últimos meses, para lhe garantir que a sua proposta sobre o 0Dia da Consciência', está atualmente em estudo."]

  Eu tentava  alimentar este propósito para que o  assunto não  arrefecesse. A 4 de Fevereiro de 2020 o processo de " impeachment" de President Trump ofereceu-me uma oportunidade de lembrar a Sua Santidade e a Sua Eminência o quanto este assunto era relevante e oportuno: 

"Today was a remarkable and historical day: In the Senate of USA, during the trial of President Donald Trump, senator Mitt Romney  who in  previous elections was the Presidential candidate for the Republican Party, taking the floor invoked his  duty to Our Lord above all other considerations to  follow his conscience  and casted a courageous dissent  vote, instead of abiding by the dictates of his party..."  

[Tradução para português: "Hoje foi um dia memorável  e histórico: no Senado dos EUA, durante o julgamento do presidente Donald Trump, o senador Mitt Romney, que nas eleições anteriores [de 2012]  tinha sido o candidato presidencial pelo Partido Republicano, ao tomar a palavra invocou p seu dever, para com  Nosso Senhor acima de todos os outros considerações,  de seguir a sua consciência e deu um voto de dissidência corajoso, em vez de respeitar os ditames de seu partido ... "]

 Mais tarde, a 22 de Março,  recebia um outro email de Sua Eminência:

"Sorry for not giving any reply to your numerous letters, the last of which you sent at the beginning of last February,  about the Day of Conscience project" (...). Unfortunately, the project has not been studied yet by our Office,..  I hope to be able to send you a definite answer without further delays.  I apologize for this inconvenience and I rely on your understanding. May God bless you.  Have a good Sunday! Pietro Parolin".  

[Tradução para português: "Desculpe por não responder às suas numerosas cartas, a última das quais  enviada  início de fevereiro passado, sobre o projeto do Dia da Consciência" (...) Infelizmente, o projeto ainda não foi estudado pelo nosso gabinte...  Espero poder lhe enviar uma resposta definitiva sem mais demoras. Peço-lhe  desculpas por esse inconveniente e confio na sua compreensão. Que Deus o abençoe. Tenha um bom domingo! Pietro Parolin ".]

Finalmente, no dia 17 de Junho de 2020,  o Papa Francisco começava a sua Audiência Geral  lembrando  17 de Junho  como  o "Dia da Consciência" e o exemplo inspirador do diplomata português Aristides de Sousa Mendes. 

Foi muito gratificante  verificar que tudo valeu a  pena.  E mais ainda será  se em consequência e seguimento de tudo isto  houver  um esforço continuado e  perseverante para um despertar de consciências para os muitos problemas que afligem o mundo de hoje.  Se assim suceder,  esse  será o maior e melhor  legado de Aristides de Sousa Mendes para cada um de nós e para o mundo inteiro.

João Crisóstomo, Nova Iorque