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sábado, 19 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23796: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte IX: "Amadu, que vamos fazer ao puto ?"... "Meu alferes, vou levá-lo para Bafatá, a minha irmã cuidará dele!"... A história do puto, "turra", Malan Nanque, que o Amadu salvou e adotou como sobrinho...

 


Angola > CIC - Centro de Instrução de Comandos > 1963  > O alferes mil Maurício Saraiva em Angola, em 1963, aquando da frequência do curso de Cmds; No CTIG  será depois promoviodo, por mérito, a tenente e a capitão.. (*)





Guiné > Brá > Comandos do CTIG > Junho de 1965 > Cap Mil 'Comando' Maurício Saraiva > Idolatrado por uns, odiado por outros, foi um mal amado, diz o Virgínio Briote... O Amadu Djaló, por sua vez,  foi um dos oito "negros" (sic) - a par do Marcelino da Mata, do Tomás Camará e outros - a participar "no 1º curso de quadros para os Comandos do CTIG", que teve início em 3 de Agosto de 1964  (Amadu Bailo Djaló - Guineense, Comando, Português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p. 82). O seu primeiro comandante, no Grupo Fantasmas, foi o Alferes Saraiva (entretanto promovido a tenente e depois capitão).



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > c- 1964 > Emblema de braço do Grupo Fantasmas, que pertenceu ao alferes  'mil comando ' Saraiva.  


Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 ( Bambadinc) > Xime > Porto fluvial

Foto cedida por Torcato Mendonça


1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do Amadu Djaló, que a morte infelizmente já nos levou, há 7 anos,  em 2015, ainda antes de completar os 75 de idade.  Os seus filhos, por sua vez, vivem (ou viviam até há uns anos) no Reino Unido.

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. E muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro, nem muito menos o privilégio de conhecer o autor, em vida.


O nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965, e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / set 1966) fez generosa e demoradamente as funções de "copydesk" (editor literário) do livro do Amadu Djaló, ajudando a reescrever o livro, a partir dos seus rascunhos.

Temos vindo a introduzir pequenas correcções,  toponímicas e outras, ao texto  impresso, a ter em conta numa eventual (se bem que pouco provável) 2ª  edição.  Mantemos a ortografia original.

Recorde-se, aqui o último poste: o sold cond auto Amadú Djaló (1940-2015) alistou-se nos comandos do CTIG, a convite do alferes mil 'comando' Maurício Saraiva, angolano. Frequentou o 1º Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964. 

 Deste curso fizeram parte 8 guineenses: além do Amadu Djaló, o Marcelino da Mata, o Tomás Camará e outros. Deste curso sairam ainda  os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram a actividade na Guiné até julho de 1965: Camaleões, Fantasmas e Panteras

O Amadu passou a pertencer ao Grupo Fantasmas, comandado pelo alf mil 'comando' Maurício Saraiva. Logo no fim do curso, os três grupos participaram na primeira operação, a Op Confiança, realizada entre 25 de Outubro e 4 de Novembro de 1964 no Oio,   na área atribuída ao BCav 705, tendo por objectivo a reabertura do itinerário entre Mansabá e Farim.

  


Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense,  Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


A história do puto "turra" do Buruntoni, Xime, de nome Malan Nanque

(pp. 90-94)

por Amadu Bailo Djaló



Dias depois, nova saída, para Buruntoni, no Xime. Saímos de Bissau, de barco, para o Xime.

Logo que chegámos, instalámo-nos no quartel, até ao fim do jantar. Forneceram-nos um guia e marchámos directos a Burontoni.

Nesta operação [1], eu ia integrado na 3ª equipa, a meio do grupo. Toda a noite a andar, a corta-mato. Perdermo-nos já era uma sina, andámos, sempre com o guia à frente, sem darmos com o caminho que nos levava para o acampamento. Quando chegámos à zona, o sol ia alto, eram para aí 7h00 [2].

Encontrámos um rapazito de 8 ou 9 anos. Interrogado disse que ia para o campo de lavra dos pais. Sobre o acampamento da guerrilha que procurávamos[3], disse que ficava na outra margem do rio Burontoni. Seguimos até à margem. O alferes ia falando com ele, fazendo-lhe perguntas. Se o acampamento tinha pessoal, respondeu que nessa manhã, o Suleimane Djaló tinha avisado a população para abandonar o acampamento, porque tinha andado uma avioneta a sobrevoar e isso não era bom sinal, que podia acontecer qualquer coisa a todo o momento. 

Sobre o local, onde costumava ficar a sentinela, o rapazito disse que ficava atrás de nós. Então, o alferes deu instruções para voltarmos atrás, para ver se conseguíamos apanhar a sentinela.

O alferes Saraiva passou para a frente e fomo-nos aproximando do local, onde julgámos que ela estava. Estava numa árvore. O alferes abriu fogo e ele caiu imediatamente. Corremos para ele, e quando lá chegámos já estava moribundo. 

Com a arma do sentinela nas nossas mãos, continuámos a marcha para o Xime, até que demos com uma tabanca abandonada, que se chamava Gundagué Beafada

Perto deste local encontrámos a tropa de Bambadinca que estava com a missão de nos recolher. Encontrei alguns companheiros da minha incorporação e, quando estava a abraçá-los vi o alferes, de arma ao ombro, e o menino com a mão na nuca, de olhar fixo no alferes. Cheguei-me para junto do alferes e ele disse-me:

– Amadu, que vamos fazer ao puto?

– Levá-lo, meu alferes?

– Ele é turra, Amadu!

– O meu alferes tem mais formação e conhecimento que eu, mas parece-me que com esta idade, o menino não é inimigo nem amigo.

– Então, por que vivia no mato, Amadu?

– Porque os pais vivem no mato, meu alferes!

– E tu, o que queres fazer com ele, Amadu?

– Deixamo-lo no quartel de Bambadinca.

O capitão da companhia de recolha estava junto de nós. O alferes perguntou se eles queriam ficar com o miúdo. Negativo, respondeu o capitão. O alferes ficou a olhar para mim e eu disse:

– Levamo-lo connosco para o quartel. Se o meu alferes não quiser que ele fique no quartel, eu fico com ele na minha casa.

– Não tens mulher, como é que vais tomar conta dele?

– A minha irmã toma conta!

– Tens a certeza, Amadu? Fica à tua responsabilidade!

– Inteiramente, meu alferes.

Agarrei no menino e começámos a andar até ao Xime e depois para Bambadinca.

Em Bambadinca, eram para aí 18h00, estava um barco no cais, a preparar-se para partir para Bissau. Aproveitámos o transporte no barco que ia carregado com laranjas, limões, ananás, bananas, muita fruta. Mas não era o que nós precisávamos, o que nos fazia falta era uma refeição quente.

O barco levava também batata-doce e abóboras. O furriel Artur tinha só 5 escudos e o alferes, que tinha uma nota de 500 escudos, pediu para lhe venderem batata-doce e abóboras, ao preço que se vendiam em Bissau. A batata-doce era vendida ao quilo, a abóbora era conforme o tamanho. Começámos a pesar as batatas e ninguém no barco tinha troco. Então, nós dissemos que, logo que chegássemos a Bissau, no dia seguinte um de nós ia ao mercado pagar. Mas não aceitaram.

Então pedimos uma panela grande, descemos ao porão e pusemo-nos a cozinhar a abóbora que tínhamos comprado. Mas uma abóbora não dava para o grupo todo. Enquanto o cabo Cruz, sentado em cima de um saco, cantava fados, íamos roubando batatas, uma a uma. Quando o Cruz assobiava parávamos de tirar batatas e assim fomos enchendo a panela. Quando o cozido ficou pronto, chamámos o grupo todo para comer.

Eram para aí 21h00 quando acabámos. Quando chegámos a Brá, já depois da meia-noite, ainda comemos uma refeição quente, de peixe cozido e depois retirei-me para a minha casa.

Eu estava muito satisfeito comigo próprio e com o alferes. Assim que ele aceitou o meu pedido de ficar com o miúdo, que se chamava Malan Nanque [4], um companheiro europeu do meu grupo, o Mendes, que tinha apanhado uma maleta com quatro cortes de fazenda, ofereceu-ma para fazer roupa para o rapazito. 

Quando chegámos a Bissau, levei-o ao alfaiate, e os cortes de tecido deram para fazer 3 calções e 2 camisas. Ainda lhe comprei um par de sapatos e uns chinelos.

Agora, que estou a escrever e a recordar este episódio, tenho os olhos húmidos. Estou a ver o miúdo à frente da arma com a mão na nuca, a tremer todo, a olhar para o matador. Ele, o menino, tinha acabado de ver o alferes matar a sentinela e devia pensar que agora era a vez dele. (**)

(Continua)

__________

Notas do autor Amadu Djaló e/ou do "copydesk" Virgínio Briote:


[1] Nota do editor: “Vai à Toca”

[2] Nota do editor: 11 de Novembro de 1964

[3] Em Darsalame Baio

[4] O rapazito, Malan Nanque, biafada, mudou de apelido, para poder frequentar a escola. Passou a ser meu sobrinho e viveu com a minha família em Bafatá. Durante muitos anos ninguém da nossa família soube que o Malan Djaló era o miúdo que tinha sido capturado pelos Fantasmas, numa manhã de Novembro de 1964.

Anos depois, em 1973, levei-o a ver a mãe, em Bissau. Mas Malan continuou a viver na nossa casa. Uns anos mais tarde, já com a Guiné independente, deu aulas de português em quartéis do PAIGC. Casou, teve um filho, adoeceu e morreu pouco tempo depois no hospital de Bafatá. O único filho que teve, uma menina, também sobreviveu pouco tempo. Morreu, ainda não tinha dois anos.

__________

Notas do editor:

(*) Sobre o Mauricio Saraiva (1939-2003) e o seu Grupo Fantasmas, Vd.

24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote

27 de abril de  2010 > Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló

Ver o que escreveu, sobre o Maurício Saraiva,  o Luis Rainha,  em poste de 31 de marco de 2010, no blogue Comandos Guine 1964 a 1966 (que deixou de estar dospinível na Net, não está sequer no Arquivo.pt, o que é pena:  http://comandos-guine-1964a1966.blogspot.pt/ ):


(…) Não querendo menosprezar ninguém, até porque sou Comando Centurião, quero aqui afirmar que o Grupo  Fantasmas foi de todos os Grupos formados e existentes na Guiné que mais louvores e condecorações teve. Teve um Chefe excepcional, que foi um belissimo condutor de  homens, um guerrilheiro fantástico e um exímio estratega.

Foi ele, Capitão Maurício Leonel Sousa Saraiva, dos militares Portugueses mais condecorados de todos os tempos e quiçá dos tempos vindouros. Este Homem, de H grande, grande Português e grande Patriota, ainda estava para sofrer os horrores da guerra não convencional. (…) [Era] um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de Familiares seus. (…)

Sobre o seu comandante, com quem esteve nove meses (até Maio de 1965), e por quem nutria respeito, admiração e afecto, o Amadú Djaló é parco em pormenores, nomeadamente sobre aspectos, eventualmente mais controversos, do seu comportamento como homem e militar. 

Aliás, ele é, quase sempre, de uma grande discrição e até deferência em relação aos seus "companheiros europeus" (sic). Só é crítico quando vê "europeu" a tratar, com menos respeito, bajuda e mulher grande... 

Perante umn capitão manifestamente racista, que ele conheceu no CICA/BAC, em Bissau, em 1962 ("Preto é como tartaruga, só quando lhe chegamos fogo ao cu, é que tira cabeça!", p. 41), Amadú é condescendente, compreensivo e caridoso: "Pela minha parte, ele era um diabo, não era um ser humano. Um homem com tanta cultura, oficial do Exército Português, não deveria trata deste modo os subordinados", p. 41).

sábado, 24 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22131: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VI: O baptismo de fogo no Xime (17/8/1965, e a Op Avante, ao Buruntoni (em 29-30/8/1965) com os primeiros mortos



Guiné > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca (L1) > Xime > Carta do Xime (1961) > Escala 1/ 50 mil > Posição relativa de Enxalé, Xime, Madina Colhido, Gundagué Beafada, Darsalame (Baio) e Buruntoni, a sula da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês (na Foz do rio Corubal).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)




Guiné > Região de Bafatá > Xime > CCAÇ 1439 (1965/67) > 30 de agosto de 1965 > O Armando Assunção Coutinho ("Penalti"), soldado do BCAÇ 697, ferido no decurso da Op Avante. Foto: fonte desconhecida.


1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque)



Parte VI - Actividade operacional 
 durante a estadia da CCaç 1439 no Xime, de 17 de agosto a 5 de setembro de 1965


(i) Baptismo de fogo: 17 de Agosto de 1965, ataque ao aquartelamento do Xime

Foi o nosso baptismo de fogo. Diziam que sempre que chegavam “periquitos",   estes se deviam preparar pois o IN vinha sempre “dar as boas vindas’ e testar.

Copio o que consta no "relatório oficial”:

"Dia 17 de Agosto de 1965, ataque IN ao aquartelamento do Xime.

O ataque desenrolou-se com bastante violência com várias granadas de morteiro 60, rajadas de PM. As NT reagiram com fogo violento, não tendo o IN causado qualquer abalo no animo das NT. A CC1439 teve o seu baptismo de fogo.

Resultados obtidos - Do rebentamento de uma granada de morteiro 60 IN, resultaram dois feridos sendo um deles de muita gravidade, posteriormente evacuado para o HMP.  Foram eles: Soldado nº 5266865, João Pestana Vieira,    e Soldado nº  7387965, João Virgílio Nunes.

Da reacção das NT desconhece-se se houve baixas nos elementos IN atacantes.

Diversos - Distinguiu-se pelo seu valor e coragem o Furriel Mil. Manuel Nunes Geraldes."



Permito-me juntar duas notas complementares a este relatório para melhor e mais completa informação:

O Furriel Mil mencionado era o enfermeiro da CCaç 1439. Não havia nenhum médico e, como se veio a confirmar várias vezes depois durante os dois anos que se seguiram, a par da sua coragem e dedicação sem limites, ele tinha uma preparação profissional extraordinária, bem mais além de simples enfermeiro. 

Nunca mais soube nada do soldado evacuado para Bissau. Mas lembro-me bem do ataque e do tiroteio cerrado, ( mesmo em comparação com muitos outros que vim a experimentar depois). Eu,   embora não sentisse medo em demasia, corria quase desvairado dum canto a outro do acampamento: era a primeira vez que "a coisa era mesmo a sério” e eu queria ter a certeza de que toda a gente estava cumprindo o que se esperava de cada um. 

Fui interpelado por alguém que me disse haver feridos; corri e, quando cheguei ao local, o nosso furriel enfermeiro Geraldes já lá estava prestando os seus serviços. Ao perguntar-lhe qual a gravidade,   respondeu-me que ia fazer o que podia, mas que era melhor chamar o helicóptero imediatamente. 

Eu pensei que o ferido talvez não aguentasse muito tempo; e lembrei-me do pedido da mãe dum soldado, não sei qual, que no Funchal no dia da partida me tinha dito: "Oh Senhor alferes, cuide do meu filho …. ele vai consigo, por amor de Deus traga-me o meu filho de volta!"…  

E ali estava eu, sem saber o que fazer, talvez este não voltasse mais. Em outras situações haveria um médico e talvez mesmo um padre para o encorajar com esperanças e apoio. E fui buscar uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que a companhia tinha trazido: sem palavras, que nem sei se ele estava suficientemente consciente, segurei durante alguns minutos a imagem em frente dele… Queria que,  além do cuidado médico,  ele sentisse também algum apoio moral e essa foi a única maneira que eu lha podia dar.

Outra coisa que merece ser mencionada e não vem neste relatório: neste “baptismo de fogo”, vim a confirmar o que já suspeitava: o nosso capitão não era para brincadeiras; na manhã seguinte , depois de termos feito buscas e vasculhado as vizinhanças sem qualquer resultado, ele disse-nos que tinhamos de "responder imediatamente e ir à procura deles” para mostrar àqueles c...  que não nos tinham metido medo e contassem connosco… E logo mandou chamar o Adão, um caçador nativo, que, diziam, conhecia bem toda a região para saber do que se poderia fazer …


(ii) Operação Bravura: de 19 a 24 de Agosto, na zona do Xitole


Dois dias depois estávamos envolvidos na Operação Bravura , junto com outra companhia (, a quem pertencia não me lembro,   e que o relatório também não identifica, mas que depreendo, pelo que se segue,  que fazia parte do BCaç 697)-

Tratava-se de uma "operação de reconhecimento e combate” na Zona de Xitole (de 19 a 24 de Agosto).

Resumindo o que vem no relatório:

"Chegados a Corubal,  foram detectados vestígios de presença IN tendo sido enviadas pequenas colunas de reconhecimento , foram assinaladas duas sentinelas, tendo sido eliminada uma. A outra detectou as NT e deu o alarme", Depois de várias manobras,  continua o relatório, "foi feita uma batida a toda a zona; foi destruída uma tabanca com os seus haveres, bem como um extenso campo de milho. Durante a retirada as NT foram emboscadas por duas vezes"...

Resultados obtidos : "foram causados dois mortos e três feridos confirmados ao IN" e  "capturados uma metralhadora ligeira, três Mauser", bem como diversas granadas ofensivas e defensivas e outras munições . "Não houve baixas das NT".

Diversos: foi salientada a audácia e sangue frio do soldado desempanador 3225/63, Armando Assunção Coutinho, da CCS do BCaç 697, voluntário para esta operação. 

Este soldado foi louvado pelo Exmo Comdt Chefe. Bem como o caçador nativo do Xime, Adão Camala, pelo seu valor mais uma vez demostrado nas operações em frente ao IN. "Todo o pessoal constituinte da Operação revelou qualidades militares de disciplina e com vontade de vencer".

(iii) Operação Avante: 29-30 de agosto de 1965, na zona do Buruntoni


Dia 29 e 30 de Agosto de 1965, realizou-se a Operação Avante.

Esta foi, na minha memória, uma das mais “difíceis”,  talvez a mais perigosa operação em que a CCaç 1439 esteve envolvida, opinião esta que é partilhada / confirmada por outros elementos desta Companhia que nesta e outras operações estiveram envolvidos. 

O próprio relatório da CECA,Volume 7, Tomo II, Guiné (página 349),  ao falar das actividades da CCaç 1439, menciona estas duas operações, Avante e Bravura,  como as dignas de maior destaque.

Vou copiar entre  algumas partes do "relatório oficial” mas porque fiz parte "não insignificante" desta operação que me ficou bem na memória, pelo mesmo relato de outros com quem tive recentemente ocasião de reviver estes momentos, reservo-me o direito de expôr a minha/nossa memória e versão, cujos detalhes não são exactamente a versão contada /escrita neste relatório.

(...) "Em 29 saiu do Xime a CCaç 1439 a fim de realizar a operação Avante que consistia numa patrulha de reconhecimento e combate à região, margem esquerda do Rio Burontoni junto da nascente."

E a descrição que se segue no relatório parece por vezes mesmo até contraditória nos seus detalhes. Pelo que vou descrever o que eu e outros , como por exemplo o furriel Lopes , lembramos com muita nitidez e precisão:

Saimos do Xime tendo o Capitão Pires que comandava a operação decidido que fosse o meu pelotão ( o 2º pelotão) a seguir na frente da coluna . "As forças da CCaç 1439 foram reforçadas com um Grupo de Combate da CCav 676, seis caçadores nativos e um voluntário da CCS, soldado 3325/63, Armando da Anunciação Coutinho."

(...) "A força partiu do Quartel do Xime a pé, e depois de articulada (com a outra CC de reforço) progrediu ao longo do Rio Gundagué, contornou Gundagué Beafada, passou ao largo do Darsalame (Baio)  e, antes de alcançar a povoação de Burontoni, (...) atingiu umas casas de mato, situadas na margem direita do Rio Burontoni, acerca de 200 metros deste".

O relato que se segue, sem dúvida bem intencionado, é um pouco confuso. E por isso permito-me descrever por minhas palavras o que vi e vivi, sem intuitos de aumentar ou diminuir:

O IN parece ter sido avisado com antecedência e estava definitivamente à nossa espera, tendo preparado uma bem pensada emboscada: antes, mas já perto do objectivo, talvez com o intuito de nos despistarem,   simulando desconhecimento da nossa aproximação, ouvimos conversas aparentemente despreocupadas, mas de lugar bem fora das nossas vistas. 

O meu pelotão, com a secção do furriel Lopes à frente em ponta, ia na frente; e connosco nesta secção iam dois guias nativos, um deles o Adão, em cuja experiência contávamos e em quem tinhamos toda a confiança; seguiam-se os outros dois pelotões da CCaç 1439 e o grupo de reforço em último lugar. O Capitão Pires vinha um pouco mais atrás do meu pelotão, talvez porque isso lhe daria mais facilidade de controle e comando.

Caminhávamos muito lentamente e de repente rebentou um ataque infernal, sobretudo de metralhadoras e pistolas metralhadoras à nossa frente. A emboscada estava preparada para à base de fogo de metralhadora a curta distância,  nos aniquilarem antes que tivéssemos possibilidades de nos defendermos. 

 No momento em que nos atirávamos ao chão,   ainda vi o corpo cair,  já descontrolado, do guia nativo Adão e de outros dois cujos ferimentos exigiram rápida evacuação de helicóptero para Bissau. 

Felizmente que as granadas de morteiro do IN foram cair mais longe de nós. Tivesse o IN juntado granadas de mão ( como está erroneamente escrito no relatório) ao fogo de metralhadoras no ataque ao meu pelotão que ia na frente,   e teríamos tido muitas mais baixas. 

Felizmente para as forças do meu pelotão havia um pequeno desnível no terreno que nos dava alguma proteção. Mas o fogo era muito cerrado e infernal. O Capitão Pires confessou-me mais tarde,  quando chegámos ao quartel,   que naquele momento pensou que toda a 1ª secção ( na qual eu estava, junto com o furriel Lopes) e talvez a maior parte do meu pelotão, estavam perdidos e ele nada podia fazer para nos salvar. 

Um dos soldados nativos, o guarda costas do furriel Lopes, Mamadu Jaló , ao ver o fogo cerrado de que estávamos a ser alvos, atirou-se para cima dele para o proteger, pondo-se ele em risco maior de ser atingido. Mas o furriel Lopes saiu imediatamente debaixo dele para poder usar a sua arma. 

Eu vi que estávamos perdidos se continuássemos naquela posição, pois quase não podíamos usar as nossas armas; mas tínhamos de fazer algo para inutilizar aquelas metralhadoras à nossa frente. No meio daquele inferno tive uma ideia e berrei tão alto quanto pude a todos, especialmente ao furriel Lopes e ao meu guarda-costas Baptista e aos outros que estavam perto de mim: "Granadas de mão e saltar"!...E  foi a nossa salvação. 

Lançamos as nossas granadas e, ao rebentar das nossas granadas, nós saltámos. O IN esperava tudo menos ver saltar de repente uma dúzia de homens/demónios à frente deles,  vomitando fogo para cima deles; espantados, nada mais fizeram que levantar e fugir loucamente à nossa frente para o interior da mata, sem sequer levarem as armas, enquanto nós corríamos como loucos atrás deles… 

Entretanto, os outros pelotões que estavam um pouco mais atrás, fizeram o mesmo levantando-se imediatamente com o Capitão Pires à frente,  a perseguiram o IN em frente e lateralmente, numa corrida /perseguição louca. 

Ouviram-se depois muitos tiros e rebentamento de granadas ao longe que não sabemos a que atribuir, uma vez que não tivemos conhecimento de qualquer outra operação nas redondezas naquele dia.

Não encontramos IN mortos, mas enquanto esperávamos os helicópteros, tivemos tempo de ver vários rastros de sangue, do que depreendo terem sido várias as baixas no IN .

As NT sofreram três mortos: Adão Camada, caçador/guia do Xime ; soldado 1880865, José Manuel Mendonça; soldado 833 3265 Tolentino de Gouveia;  e dois feridos graves: soldado 32265/63 Armando Assunção Coutinho ("Penalti"); e caçador nativo Braima Indjai; e vários outros feridos e acidentados de menor gravidade.

O “Penalti” não era madeirense, mas estava adido à nossa companhia. Mesmo seriamente ferido no braço,  não parou de fazer fogo louco. Não me recordo disso, mas outros que estavam comigo contaram-me. (não sei quem é o autor da foto que acima se publcia, que com a devida vénia copio, pois em boa hora apareceu no nosso blogue.)

O "Penalti" era “pau para toda a obra" ou "pano para toda a manga” e onde houvesse alguma chance de haver barulho ele era voluntário. No quartel andava sempre com um macaquito às costa (o “Benfica”) de que só se desligava quando saía para o mato, deixando-o acorrentado no quartel até que ele voltasse.

Consta (não posso afirmar a veracidade do que segue; assim me contaram, e conhecendo a fonte acredito que tenha sido verdade e portanto aqui o deixo, para que não passe ao esquecimento) que, não sei como (pois o 1º  ataque a Porto Gole foi em Marco de 1966) ele estava em Portugal quando o corpo do alferes Maldonado, vítima desse ataque, foi a enterrar em Coimbra. 

Ele soube e foi ter com a família a quem disse que estava em Porto Gole neste dia fatídico; que ao ver o Alferes Maldonado ferido pegou nele para o ajudar e que ele lhe faleceu nos seus braços.  Evidentemente que a mãe do Maldonado ficou emocionada e que depois tratava o ‘Penalti” como a um filho. Que permaneceu em Coimbra uns dias e que foi visto a andar de cavalo na quinta da família do falecido Maldonado. (**)

Consta ainda (mais uma vez não sei se é verdade ou não…) que voltou para o hospital onde estava em tratamento, mas, achando-se já suficientemente curado, como não lhe “davam alta”,  ele fugiu do hospital; e não sei como, conseguiu passagem para a Guiné num navio e apresentou-se em Enxalé para continuar o seu tempo de serviço na Guiné. 

Verdade ou não, mas que ele era homem para tudo isto… isso era sem dúvida nenhuma!


(iv) O dramático regresso da Operação Avante



O regresso foi exaustante, carregando às costas os nossos falecidos. O terreno e as circunstâncias eram as piores que se podem imaginar e a cada instante esperávamos sermos emboscados. Pelo que o Cmdt Capitão Pires pediu o apoio da Força Aérea. 

Ainda hoje lembro o respirar fundo e a sensação de alívio que senti quando dois aviões bombardeiros apareceram; o trajecto de regresso foi longo e creio que os dois aviões tiveram de ser revezados por outros, mas não nos deixaram mais durante todo o trajecto até chegarmos já bem perto do Xime.

Lembro que no dia seguinte, na formatura da manhã, o nosso Capitão Pires,  falando à Companhia inteira,  enalteceu o valor e coragem que todos tinham dado provas no dia anterior. Mas que queria de um modo especial mencionar o João Crisóstomo, o furriel Lopes e todo o 2º pelotão, que num momento, que parecia ser um momento trágico para a Companhia, tinham transformado essa situação de desespero numa acção heróica pela qual toda a Companhia lhes estava agradecida.

Foram vários os condecorados em resultado desta operação : Adão Camala, João Crisóstomo, António Lopes, Nauser Sana, Brama Lai; e outros foram “louvados". 

Ainda hoje é minha opinião que bastantes outros , nomeadamente todos os membros da secção do furriel Lopes e os que nesta operação perderam a vida mereciam o mesmo reconhecimento.

(v) Dia 5 de Setembro de 1965: Operação Corça, na zona do Enxalé

Um grupo de combate da CCaç 1439 deslocou-se do Xime para o Enxalé para participar na Operação Corça, reforçando a CCaç 1556. Esta operação é mencionada no resumo da CCaç  1556.

(Continua)
 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...

(*ª)  Sobre o malogrado alferes mil at inf, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, 1ª CCAÇ / BCAÇ 697 (Fá Mandinga, 1964/66), morto em combate, em Porto Gole, em 3 de março de 1966, ver aqui:

22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em março de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morreu no dia 4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada.

Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]  


(,,.) No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Era alf mil da 1ª CCAÇ / BCAÇ 697. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolama… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar.

O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge [Rosales]  foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o. (...) 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/71) >  s/d > O Fur Mil At Inf Arlindo Roda  (CCAÇ 12, Bambdaionca, 1969/71) junto ao um dos obuses 10.5 que defendiam o aquartelamento e tabanca do Xime... A CCAÇ 12 fez inúmeras operações no sector do Xime (bem como no de Mansambo, a sul, entre Bambadinca  e o Xitole).






Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Armas Pesadas Inf, Henriques, posando para a fotografia com um RPG2, que estava distribuído à milícia local, reforçada (temporiaramente com uma secção da CCAÇ 12).







Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Inf Mil Luciano Severo de Almeida, posando para a fotografia com um RPG2... O Luciano de Almeida, que era natural de (ou residia em) um dos concelhos ribeirinhos da margem sul do Tejo (Montijo ?),  morreu (em circunstâncias violentas, ao que me disseram), anos depois do regresso à Metrópole. Fiquei chocado com a sua morte.

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados







Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte sobre o Rio Udunduma (dinamitada pelo PAIGC em 28 de Maio de 1969). A partir de Dezembro de 1969, a sua defesa (até então a cargo da unidade de quadrícula do Xime, a CART 2520) passou a ser da CCAÇ 12, do Pel Caç Nat 52 e da CCS/BCAÇ 2852 e mais tarde do BART 2917.




Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCS/BART 2917 (1970/72) O Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 (1970/72),  no alto da ponte, na "prancha de saltos"... O rio (afluente do Geba) ajudava a matar o tédio dos dias, já que as noites eram infernais (por causa do calor e dos mosquitos, no tempo das chuvas)... Só havia valas, protegidas por bidões de areia e chapas de zinco... No nosso tempo, nunca chegou haver nenhum ataque ou flagelação do PAIGC...






Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) (?) > Um militar africano, com a famigerada bazuca 8,9 cm, M20, de origem americana...

Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados






A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça 

(6) Bamdabinca, Dezembro de 1969: Tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo



(6.1) Op Estrela Grandiosa


A 5 de Dezembro de 1969, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, juntamente com forças da CART 2520 [, unidade de quadrícula do Xime,] e do Pel Caç Nat 63 (, Fá Mandinga, comandada pelo Alf Mil Art Jorge Cabral, o nosso querido Alfero Cabral,) efectuam a Op Estrela Grandiosa em repetição da Op Tigre Valente (patrulhamento ofensivo na região de Ponta Varela /Poindon, passando pelo antigo acampamento IN destruído em Setembro passado). Não houve contacto nem se detectaram vestígios do IN.


(6.2) Acção Hindu


A 7, o 1º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Op Esp, Francisco Moreira, e o Pel Caç Nat 52 (Missirá, comandado pelo Alf Mil Beja Santos) levam a efeito a Acção Hindu, patrulhando as tabancas a sueste de Bambadinca (Sinchã Dembel, Iero Nhapa, Aliu Jai, Queroane, Queca e Sare Nhado).


(6.3) Op Lua Nova


A 13, realizava-se uma operação a nível de Batalhão no subsector de Mansambo, a fim de bater a área de Sangué-Bemba (Danejo), Galoiel e Biro (Op Lua Nova).


Desde há muito que estavam referenciados trilhos do IN, vindos de Mina e dirigindo-se para a área de Mansambo, com passagem por Biro e Galoiel. O IN tinha-se aqui instalado montando destacamentos avançados e/ acampamentos temporários. Ainda recentemente, em Agosto, forças heli-transportadas haviam destruído as instalações de Biro, capturando diverso material, na exploração imediata de informações dadas por uma prisioneiro, o Malan Mané, roqueteiro do bigrupo comandado por Mamadu Indjai.


Depois disso, esta era a primeira operação que as NT realizavam a Biro. Admitia-se que o IN voltasse mais cedo ou mais tarde a esta região a fim de levar a cabo acções no subsector de Mansambo, com especial incidência sobre a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole.


A progressão e batida foi executada por 2 Dest apoiando-se mutuamente. Participaram na operação forças da CCAÇ 2404 (a nova unidade de quadrícula de Mansambo que viera substituir a CART 2339, dos nossos camarigos Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça;  tinha passado por Teixeira Pinto e Binar, pertencendo ao BCAÇ 2852,  Bambadinca, 1968/70), Pel Caç Nat 52 (Missirá) e Pel Caç Nat 63 (Fá), além de 2 Gr Comb da CCAÇ 12.

Como se estava na altura do ano em que a humidade atmosférica é mais elevada, atingindo a temperatura à noite valores mínimos de 15º, as NT foram duramente afectadas pelo frio no decurso desta operação, enquanto ficaram emboscadas em Galoiel. (Pessoalmente, não me lembro de ter rapado tanto frio em toda a minha vida!)


A tabanca de Biro foi assaltada ao amanhecer, verificando-se que estava abandonada há meses. Todos os vestígios do IN eram antigos. Constatou-se que Galoiel e Biro eram uma zona que reunia condições ideais para refúgio e instalação do IN devido ao relevo e arborização do terreno. Os Dest regressaramn a Mansambo ao longo da margem esquerda do Rio Bissari.




(6.4) Destacamento da Ponte do Rio Udunduma


A partir de 16, a segurança da ponte do Rio Udunduma deixa de ser da responsabilidade da CART 2520 (1que tinha ali 2 secções destacadas desde Junho), passando a ser feita pelos Gr Com da CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras subunidades afectas ao comando de Bambadinca (como o Pel Caç Nat 63). A importância estratégica deste ponto sensível justificava que houvesse ali um destacamento permanente. No primeiro ataque a Bambadinca, em 28 de Maio de 1969, o IN tentara dinamitar a ponte, a fim de cortar a estrada Bambadinca-Xime.




(6.5) Op Punhal Resistente



A 21, tem lugar outra operação a nível de Batalhão com forças da CART 2520 (Xime), CCAÇ 2404 (Mansambo), Pel Caç Nat 52, além do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (que deixou de ter a comandandá-lo o Alf Mil At Inf António Manuel Carlão , destacado para o reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969)  para uma batida à região de Baio/Buruntoni, onde do antecendente estava referenciado 1 bigrupo. O facto do IN, durante o tempo seco, não ter uma acampamento certo nesta região, pernoitando na mata sempre em sítios diferentes, tornava a missão das NT mais difícil e perigos (Op Punhal Resistente).


As NT, de resto, não chegariam a cumprir a missão  uma vez que se perderam. A região de Baio/Buruntoni é de floresta densa, sendo percorrida por numerosos cursos de água. Pontos há em, que não se vê a luz do sol e só se pode andar de rastos. Não se dispondo de guias conhecedores da região, e tornando-se impossível a orientação pela carta e mês,o pela bússola (porque não existiam pontos de referência no terreno e era necessário muitas vezes ir abrir caminho), este tipo de operações (batida com 2 destacamentos partindo um de Mansambo e outro do Xime para se encontrarem no ponto de coordenação) só são realizáveis nos… transparentes do gabinete do comando de operações

Na Op Punhal resistente, os 2 destacamentos depois de terem pernoitado em locais diferentes, só conseguiram localizar-se um ao outro graças ao PCV, tendo-se feito a sua junção com o auxílio de uma granada cujo rebentamento indicou a direcção a tomar.


Não houve contacto com o IN que, no entanto, fez fogo de morteiro ao anoitecer no dia D (21) para zona imediatamente a norte do Buruntoni, pressupondo porventura que as NT pernoitassem ali…


(6.6) Acção Guilhotina e Op Faca Húmida na quadra natalícia



A 24 a 24, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, em cooperação com a autoridade administrativa de Bambadinca, onde estava aquartelada a companhia, levam a efeito uma rusga (com cerco) à tabanca de Mero, aldeia balanta, junto ao Rio Geba. Apesar de alguns indícios suspeitos, não foram detectados elementos IN ou população sob o seu conbtrolo, que vem aqui reabastecer-se, oriunda de Madina/Belel (no extremo noroeste do regulado do Cuor).


Para efeitos de controlo populacional, completou-se e actualizou-se o recenseamento dos habitantes de Mero (Acção Guilotina, nome de código da operação). Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos (cubanos ?) que retirou para a região de Bucol, atravessando o Rio Geba de canoa, para norte.

Escrevi na altura, no meu diário: "Guardo, na memória, a hostilidade passiva com que a população nos recebe, a nós, tugas, e aos soldados fulas… Que pensará esta pobre gente balanta que não tem outro remédio senão fazer o jogo duplo ? De dia, acatam (mal) a autoridade administrativa de Bambadinca; à noite, recebem os seus parentes que estão no mato"...


Por outro lado, prevendo-se a possibilidade o IN atacar os aquartelamentos das NT durante a quadra festiva do Natal e Ano Novo, foi reforçado o dispositivo de defesa de Bambadinca. Assim, além da emboscada diária até às 1 a 3 horas da noite, a nível de secção reforçada num raio de 3 a 5 km (segurança próxima), passou a ser destacado 1 Gr Comb para Bambadincazinho (ou ...Bambadincazinha, como chamávamos à tabanca, em fase de reordenamento, a sul do quartel), todas as noites, no edifício da antiga Missão do Sono,  até às 6h da manhã, constituindo uma força de intervenção com a missão de fazer malograr o eventual ataque ao aquartelamento e/ou às tabancas da periferia, actuando pela manobra e pelo fogo sobre as prováveis linhas de infiltração e locais de instalação das bases de fogo do IN, ou no mínimo detê-lo e repeli-lo pelo fogo .


A 26 de Dezembro de 1969, forças da CART 2520 (Xime), reforçadas por um 1 Gr Comb da CCAÇ 12 realizam um patrulhamento ofensivo na região do Xime, Madina Colhido, Chacali, Colicumbel e Amedalai, sem detectarem vestígios do IN (Op Faca Húmida).


A 30, o Comandante Chefe, General António de Spínola, visita Bambadinca para apresentar cumprimentos de Ano Novo a todos os oficiais, sargentos e praças do Comando e CCS/BCAÇ 2852 e sub-unidades adidas, a CCAÇ 12 incluída.


Luís Graça

B. Comentário do Humberto Reis:



(...)  A desgraçada da CCAÇ 12, naqueles sectores L1 e L5 (do Enxalé, na margem Norte do rio Geba, até Galomaro e ao Saltinho), era pau para toda a obra.Tinha, em permanência, um pelotão no destacamento da Ponte (estrada Bambadinca-Xime) e tinha que TODAS AS NOITES colocar um outro pelotão nos arredores de Bambadinca a fazer a segurança ao aquartelamento para que "dentro do arame farpado" se pudesse dormir mais descansado.

De manhã, após uma bela noite a alimentar os mosquitos e depois dos Senhores da Guerra já terem feito o seu soninho mais tranquilo, quando o pelotão regressasse estava sujeito a sair para mais uma operação.

Aquando da abertura do novo itinerário Bambadinca-Xime (quando viemos embora em Março de 71, ainda não estava totalmente asfaltado) era exactamente o pelotão que tinha estado toda a noite emboscado que tinha de ir, com mais outro, fazer a segurança ao pessoal civil (era a empresa TECNIL) que estava a trabalhar nesse empreendimento. Só da parte da tarde estes dois pelotões eram substituídos por pelotões do Xime e regressavam então a Bambadinca.

Houve uma altura em que o comando do Batalhão sediado em Bambadinca (tinha a CCS com um Pel Rec, um Pel Sap, um Pel Morteiros, um Pel Daimler, um Pel Intendência e um Destacamento de Engenharia) ainda queria que o pessoal operacional da CCAÇ 12 fizesse serviços dentro do aquartelamento (oficial de dia, sargento de dia, cabo de dia, reforços, etc.).

Claro que eles pagavam HORAS EXTRAORDINÁRIAS, davam SUBSÍDIO DE REFEIÇÃO (em vales da Ticket Restaurante), um mês de férias com SUBSÍDIO, um 13º MÊS e uma mama de fora. Reclamei junto do nosso Capitão Brito (arrisquei levar uma porrada mas não levei por duas razões, nem eu fui malcriado ao ponto de ultrapassar os limites e ele é um bom homem) - Ele lá se convenceu e convenceu também o comando, da injustiça de tal situação e isso acabou logo após alguns dias.

Estórias que ajudam a fazer a História do nosso país, daquele país, daquele povo tão massacrado. Merecem melhor sorte. (...)

Fonte: Luis Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXIV: Aquelas noites frias de Dezembro (1) (L. Graça; H. Reis)


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Fontes consultadas:


História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. 19-21.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)
 
Diário de um Tuga
 

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Nota de L.G.:
 
Último poste da série > 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló)


Revolta do Gueto de Varsóvia - Foto do Relatório Stroop por Jurgen Stroop para Heinrich Himmler, de Maio de 1943. A legenda em alemão diz: "Retirados à força dos covis". Pessoas reconhecidas nesta foto: (i) O rapaz da frente não foi reconhecido, algumas identidades possíveis: Artur Dab Siemiatek, Levi Zelinwarger (junto à sua mãe Chana Zelinwarger) e Tsvi Nussbaum; (ii) Matylda Lamet Goldfinger; (iii) Leo Kartuziński - recuado com um saco branco no ombro; (iv) Golda Stavarowski - também recuado, primeira mulher da direita, com uma mão levantada; (v) Josef Blösche - Soldado das SS com uma submetralhadora


 Fonte:  Foto e legenda:  Wikimedia Commons (com a devida vénia...) (*)


1. Uma das primeiras operações (a segunda, depois de uma ida ao Óio) que o Amadú fez, integrado no Grupo Fantasmas, do Alf Saraiva, foi no meu conhecido Buruntoni, no Xime, em 11 de Novembro de 1964.

Na véspera, o grupo deslocara-se de barco, de Bissau até ao Xime. A 11, andaram toda a noite, a corta-mato, com um guia local. Como era quase inevitável, nas matas do Xime, o guia perdeu-se. O objectivo era um acampamento da guerrilha. Chegaram ao Buruntoni por volta das 7h00, quando o sol já ia alto… Deparam-se, entretanto, com um “rapazito de 8 ou 9 anos” (p. 91).

“Interrogado, disse que ia para o campo de lavra dos pais. Sobre o acampamento da guerrilha que procurávamos [, em Darsalame Baio, not do V.B.], disse que ficava na outra margem do rio Buruntoni”…

O grupo seguiu até à margem, com o Alf Saraiva continuando a fazer perguntas ao miúdo que, aterrorizado (como é fácil de imaginar), não teria outro remédio senão colaborar...

E é aqui que eu leio uma das belas e sublimes páginas do livro, reveladoras da grandeza humana do Amadú, futa-fula, muçulmano, bom crente. Vale a pena transcrever (coma devida vénia ao autor e ao editor):.

(…)  Sobre o local onde costumava ficara a sentinela, o rapazito disse que ficava atrás de nós. Então, o alferes deu instruções para voltarmos atrás, para ver se conseguíamos apanhar a sentinela.

O Alferes Saraiva passou para a frente e fomo-nos aproximando do local, onde julgávamos que ela estava. Vimo-la numa árvore. O alferes abriu fogo e ele caiu imediatamente. Corremos para ele, e quando lá chegámos já estava moribundo. Com a arma do sentinela nas nossas mãos, continuámos a marcha para o Xime, até que demos com uma tabanca abandonada que se chamava Gundagué Beafada. Perto deste local encontrámos a tropa de Bambadinca que estava com a missão de nos recolher. Encontrei alguns companheiros da minha incorporação e, quando estava a abraçá-los, vi o alferes, de arma ao ombro, e o menino com a mão na nuca, de olhar fixo no alferes. Cheguei-me para junto do alferes e ele disse-me:
- Amadú, que vamos fazer ao puto ?
- Levá-lo, meu alferes ?!
- Ele é turra, Amadú!
- O meu alferes tem mais formação e conhecimento que eu, mas parece-me que com esta idade, o menino não é inimigo nem amigo.
- Então, por que vivia no mato, Amadú ?
- Porque que os pais vivem no mato, meu Alferes!
- E tu, o que queres fazer com ele, Amadú ?
- Deixamo-lo no quartel de Bambadinca.

O capitão da companhia de recolha estava junto de nós. O alferes perguntou se eles queriam ficar com o miúdo. Negativo, respondeu o capitão. O alferes ficou a olhar para mim e eu disse:
- Levamo-lo connosco para o quartel. Se o meu alferes não quiser que ele fique no quartel, eu fico com ele na minha casa.
- Não tens mulher, como é que vais tomar conta dele ?
- A minha irmã toma conta!
- Tens a certeza, Amadú ? Fica à tua responsabilidade.
- Inteiramente, meu alferes.

Agarrei no menino e começámos a andar até ao Xime e depois para Bambadinca. (…) (pp. 91/93)…

Enquanto regressam, ainda nesse dia, a Bissau, tomando um barco que estava prestes a partir, por volta das 18h, e chegando a Brá já depois da meia-noite, o Amadú escreve:

(…) Eu estava muito satisfeito comigo próprio e com o alferes. Assim que ele aceitou o meu pedido de ficar com o miúdo, que se chamava Malan Nanque, um companheiro europeu do meu grupo, o Mendes, que tinha apanhado uma maleta com cortes de fazenda, ofereceu-ma para fazer roupa para o rapazito. Quando chegámos a Bissau, levei-a ao alfaiate, e os cortes de tecido deram para 3 calções e 2 camisas. Ainda lhe comprei um par de sapatos e uns chinelos.

Agora que estou a escrever e a a recordar este episódio, tenho os olhos húmidos. Estou a ver o miúdo à frente da arma com a mão na nuca, a tremer todo, a olhar para o matador. Ele, o menino, tinha acabado de ver o alferes matar a sentinela e devia pensar que agora era a vez dele (pp. 93/94).

Em nota de pé de página, é contado o desfecho, mais ou menos feliz, desta história de compaixão humana, que merece figurar numa antologia de histórias de guerra:

O rapazito, Malan Nanque, beafada, mudou de apelido para poder frequentar a escola. Passou a ser meu sobrinho e viveu com a minha família em Bafatá. Durante muitos anos ninguém, da nossa família soube que o Malan Djaló tinha sido capturado pelos Fantasmas, numa manhã de Novembro de 1964. (**)

Anos depois, em 1973, levei-o a ver a mãe, em Bissau. Mas Malan continuou a viver na nossa casa. Uns anos mais tarde, já com, a Guiné independente, deu aulas de português em quartéis do PAIGC. Casou, teve um filho, adoeceu e morreu pouco tempos depois no hospital de Batafá. O único filho que teve, uma menina, também sobreviveu pouco tenpo. Morreu, ainda não tinha dois anos. (Nota 59, pp. 93/94).

Extractos de: Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos. 2010. (***)

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Notas de L.G.:

(*) A foto da ignomínia... Uma das fotos mais tristemente famosas da II Guerra Mundial... de todas as guerras. Lembrei-me de imediato desta foto, ao ler a história (comovedora) de que o Amadú foi protagonista num sítio que eu conheci muito bem (eu, o 1º Cabo Galvão, e outra malta da CCAÇ 12, da CART 2520 e do Pel Caç Nat 63),  Gundagué Beafada:

Vd. poste, da I Série, 10 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)

(**) Vd. último poste da série >18 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5670: O segredo de... (11): Um ataque a Bissau, uma bravata do Hoss e do Django (Sílvio Fagundes Abrantes, BCP 12, 1970/71)

(***) Sobre o Mauricio Saraiva (1939-2003) e o seu Grupo Fantasmas, vd. o poste do Luis Rainha, de 31 de Marco de 2010, no blogue Comandos Guine 1964 a 1966

(…) Não querendo menosprezar ninguém, até porque sou Comando CENTURIÃO, quero aqui afirmar que o GRUPO FANTASMAS foi de todos os Grupos formados e existentes na Guiné que mais louvores e condecorações teve. Teve um Chefe excepcional, que foi um belissimo condutor de HOMENS, um guerrilheiro fantástico e um exímio estratega.

Foi ele, Capitão Maurício Leonel Sousa Saraiva, dos militares Portugueses mais condecorados de todos os tempos e quiçá dos tempos vindouros. Este Homem, de H grande, grande Português e grande Patriota, ainda estava para sofrer os horrores da guerra não convencional. (…)  [Era] um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de Familiares seus. (…)


Sobre o seu comandante, com quem esteve nove meses  (até  Maio de 1965),  e por quem nutria respeito, admiração e afecto, o Amadú Djaló é parco em pormenores, nomeadamente sobre aspectos, eventualmente mais controversos, do seu comportamento como homem e militar.  Aliás, ele é, quase sempre, de uma grande discrição e até deferência em relação aos seus "companheiros europeus" (sic). Só é crítico quando vê "europeu" a tratar, com menos respeito, bajuda e mulher grande... Perante umn capitão manifestamente racista, que ele conheceu no CICA/BAC, em Bissau, em 1962 ("Preto é como tartaruga, só quando lhe chegamos fogo ao cu, é que tira cabeça!", p. 41), Amadú é condescendente, compreensivo e caridoso: "Pela minha parte, ele era um diabo, não era um ser humano. Um homem com tanta cultura, oficial do Exército Português, não deveria trata deste modo os subordinados", p. 41).

Vd. poste de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6210: Os gloriosos malucos das máquinas voadoras (21): Meu tenente, eu e o Tomás Camará não vamos com o Honório! (Amadu Djaló)