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terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

1. Recordemos parte da mensagem do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74), datada de 3 de Março de 2010:

Caro Camarada
Conforme prometi, aqui estou a "pagar o ingresso" e a enviar as fotografias para formalizar a adesão à Tabanca Grande.
Junto também o prometido texto, em "word", reconhecendo que tem uma dimensão desapropriada para o blogue, mas vocês utilizá-lo-ão (ou não) como melhor entenderem.
[...]
Cumprimentos
Daniel de Matos



No dia 16 de Março de 2010 começámos então a publicar este importante documento, que hoje tem o seu fim, e que narra os acontecimentos trágicos vividos em Guidaje em Maio de 1973.


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XVII

por Daniel de Matos


Devolver os corpos às famílias

Agradecimentos

A exumação dos restos mortais dos dez (depois, onze) militares que se encontravam no cemitério de Guidaje foi efectuada no âmbito de uma operação que envolveu a Liga dos Combatentes, o Ministério da Defesa, a Universidade de Coimbra e o Instituto de Medicina Legal. Uma equipa liderada por Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra, procedeu ao levantamento e identificação das ossadas entre 7 e 21 de Março de 2009 e posteriormente, após as análises genéticas, trasladadas para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga dos Combatentes).

Os restos mortais de alguns desses camaradas, (os que viriam a ser reclamados pelas famílias, nomeadamente o Machado e o Telo, d’Os Marados, o Geraldes e os três pára-quedistas já referidos anteriormente) foram trasladados para os cemitérios das respectivas terras de origem.

As trasladações ficaram a dever-se ao trabalho empenhado de diversas pessoas e entidades, a quem se deve um agradecimento mais do que justo.

É o caso da União Portuguesa de Pára-quedistas (UPP, dirigida pelo major-general pára-quedista Avelar de Sousa, na reserva) que desde o início assumiu a responsabilidade das despesas para transladar os corpos dos três pára-quedistas e dos militares do exército reclamados pelas respectivas famílias. A par da Liga dos Combatentes, foram mobilizados apoios diversos que se revelariam decisivos para as trasladações sem envolver financeiramente as famílias, mormente junto de uma empresa funerária e da TAP Portugal.

No que diz especificamente respeito a José Lourenço, de Fornos, Cadima, foi efectuada uma campanha de recolha de fundos pela Associação de Veteranos de Guerra da Região Centro (sede em Cantanhede).

Manuel Godinho Rebocho, ex-sargento pára-quedista que foi operacional na Guiné, (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje sargento-mor pára-quedista na reserva, entretanto doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975"), ao aproveitar inteligentemente o lema dos páras “ninguém fica para trás”, empenhou-se neste objectivo e incentivou a campanha pró-trasladação. De facto, se existem 4.000 sepultados em cerca de 400 lugares nas ex-colónias, das quais, 1250 nascidos nas actuais fronteiras de Portugal, o mediatismo da Batalha de Guidaje e a campanha que a partir de determinada altura foi feita no mesmo sentido, terão contribuído para que fossem estes, e não outros, os primeiros corpos a serem oficialmente exumados e trasladados para Portugal.

Também as Câmaras Municipais de Cantanhede, Castro Verde, Vila do Conde, Vimioso, Calheta e Valpaços manifestaram (e concretizaram) apoios para o sucesso da operação.

A missão da Liga dos Combatentes é levantar os corpos que se encontram dispersos por esses matos fora e colocá-los em cemitérios que tenham dignidade, zelando pela manutenção dos mesmos. É uma tarefa tão nobre quanto morosa, difícil e dispendiosa. E igualmente insuficiente, pois aquilo que o Estado Português deve fazer é providenciar (e custear por inteiro) a devolução desse corpos às famílias, excepto se estas decidirem em contrário! Urge criar-se um movimento de ex-combatentes, e não só, que arrume a questão de vez, quanto aos mortos que jazem além-fronteiras, especialmente em solo africano. Sendo verdade que existem centenas de casos desde a 1.ª Grande Guerra (Bélgica, etc.) a que a Liga quer deitar mãos, o facto é que quase ninguém se lembrará hoje em dia de reivindicar esses corpos para fazer funerais aos tetravós. Mas aqueles, cujos pais (irmãos, filhos, outros familiares e amigos) ainda estão vivos, têm de merecer um outro tratamento. Os que caíam na guerra até 1968 não vinham, ficavam em cemitérios militares, salvo se as famílias cobrissem as despesas (mais uma vez a protecção aos mais poderosos, aos de maior poder económico). Porém, os cemitérios, ou talhões militares, normalmente nas capitais de distrito ou de província, eram minimamente decentes e cuidados, não o lamaçal do mato. Depois de 1969, creio que após a morte de Salazar, o Estado passou a custear o regresso dos mortos salvo, quando por razões operacionais, foi de todo impossível fazê-lo, como em Guidaje. Mas, por exemplo, com que coerência pode o Estado negar os encargos da trasladação do Telo e do Machado, se providenciou em devido tempo a entrega à família do corpo do soldado Jorge Gonçalves, que morreu em consequência da mesma granada e no mesmo abrigo? (A diferença foi que o Gonçalves sucumbiu aos ferimentos mais algumas horas e ainda conseguimos transportar o seu cadáver para Bissau, enquanto que Telo e Machado tiveram o destino que é conhecido).


Bibliografia

A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961/74), Dalila Cabrita Mateus, 2004, Terramar.

Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2, Estado-maior do Exército, 2001, Comissão para o Estudo das Campanhas de África.

História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, PAIGC – 1974, Afrontamento

Crónica da Libertação, Luís Cabral, Edições O Jornal/1984

Textos Políticos de Amílcar Cabral Cadernos Maria da Fonte

Guinée “Portuguaise”, Le Pouvoir des Armes, Amílcar cabral, Cahiers Libres, 1970

Comemorações Centenárias da Guiné – Discursos e Alocuções, Eng.º Ruy de Sá Carneiro (Subsecretário de Estado das Colónias), Agência Geral das Colónias, 1947

A Libertação da Guiné, Basil Davidson, Penguin Books, 1969 e Sá da Costa, 1975

Os Congressos do Povo da Guiné, Manuel Belchior, Arcádia, Agosto de 1973

Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? José Pedro Castanheira, Relógio d’Água, 1995

Três Tiros da PIDE, Oleg Ignatiev, Prelo

Amílcar Cabral, Oleg Ignatiev, Edições Progresso (Moscovo)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

vários testemunhos e depoimentos, entre os quais:

ex-furriel miliciano José Afonso, da CCav3420

ex-primeiro-cabo pára-quedista Victor Tavares, da CCP 121

ex-1º cabo comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) Amílcar Mendes (Brá, 1972/74)

ex-primeiro-cabo Manuel Marinho, da 1ª companhia do BCaç 4512 (Nema)

ex-coronel Pilav Miguel Pessoa (reformado)

ex-comandante do navio Orion, Pedro Lauret

Guerra Colonial/Associação 25 de Abril

http://www.blogger.com/www.balagan.org.uk/war/portuguese-colonial-war/cazadores4512.htm (sítio do BCaç 4512)

http://www.blogger.com/www.guerracolonial.org

http://ultramar.terraweb.biz/

http://guerracolonial.home.sapo.pt/

http://ci.uc.pt//cd25a/wikka.php?wikka=guerracolonial

http://www.blogger.com/www.rtp.pt/guerracolonial

http://www.blogger.com/www.ensp.unl.pt/lgraca/guine_guerracolonial_historia.html
__________

Nota de CV:

Vd. todos os postes da série de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518

domingo, 9 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XVI


por Daniel de Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74)



Composição da CCaç 3518

Manuel Nunes de Sousa, capitão miliciano, comandante de companhia
António Francisco Lopes Monteiro, alferes miliciano de operações especiais
José Eduardo Freitas da Silva Cavaco, alferes miliciano atirador
Dino Álvaro Mendes Duarte, alferes miliciano atirador, “colocado” na CCaç 6, em Bedanda a 5 de Novembro de 1972
Quirino do Sameiro Correia Igreja, alferes miliciano
Vitorino Ferreira da Cruz, alferes miliciano atirador, chegou à companhia a 12 de Outubro de 1972, (para substituir o alferes Dino Duarte). A 27 de Julho de 1973 seria transferido para o BEng 447.
Manuel Fagundes Neves, primeiro-sargento atirador
José Alberto Ferreira Durão, furriel miliciano mecânico auto
Domingos Gomes Gonçalves Pinto, furriel miliciano de transmissões
José Carlos Moreira Machado, furriel miliciano atirador
Hélder Esteves Novíssimo, furriel miliciano atirador
Nuno Álvares Brasil Pessoa, furriel miliciano atirador, transferido para a 1ª companhia do BCaç 4610, em 27 de Outubro de 1973
António Francisco Revez Guerreiro, furriel miliciano atirador
Manuel Fernando Urbano Neves, furriel miliciano atirador, também “colocado” na CCaç 6, em Bedanda, em Novembro de 1972
Avelino J. A. Gomes, furriel miliciano atirador
José Lopes Silva, furriel miliciano atirador
Daniel Rosa de Matos, furriel miliciano de minas e armadilhas, professor escolar no PEM 23
Ângelo César Carneiro da Silva, furriel miliciano de minas e armadilhas
Bernardo Gomes Monteiro, furriel miliciano de armas pesadas
Hélder Pereira Calvão, furriel miliciano de operações especiais, apresentou-se a 6 de Março de 1972
António Francisco Quaresma, furriel miliciano de alimentação (vagomestre), apresentou-se a 6 de Março de 1972, esteve também na CCaç 3520, de Cacine
Augusto Acácio de Morais, furriel miliciano enfermeiro, apresentou-se a 6 de Março de 1972
Florentino José Lopes de Almeida, furriel miliciano de operações especiais, guineense, apresentou-se a 6 de Março de 1972, vindo da CCaç 17 em substituição do segundo-sargento Luís Lavado, que não embarcou com companhia para a Guiné. Passou à disponibilidade em 1 de Dezembro de 1972.
Adriano Augusto da Silva, furriel miliciano atirador, substitui José Carlos Machado em 13 de Agosto de 1973
Manuel Baptista Fidalgo, furriel miliciano atirador, da, esteve em diligência na companhia; foi para a CCaç 6 (Bedanda) a 7 de Janeiro de 1973
Alexandre Vasco de Castro, 1º cabo escriturário, esteve no DA/CTIG em serviço da companhia
José Rafael Henriques Quintas, 1º cabo operador cripto
Jaime de Neiva Pereira dos Santos, 1º cabo operador cripto
Fernando Cardoso Simões, 1º cabo auxiliar de enfermeiro, esteve no DA/CTIG em serviço da companhia
José Amândio G. Cunha, 1º cabo auxiliar de enfermeiro
Emídio dos Santos Júnior, 1º cabo auxiliar de enfermeiro
Mário da Cruz Oliveira, 1º cabo auxiliar de enfermeiro
Gabriel Gomes Machado, 1º cabo mecânico de armas ligeiras
Luciano Fernandes Rebolo, 1º cabo apontador de armas ligeiras, esteve no DA/CTIG em serviço da companhia
João Luís de Gouveia, 1º cabo apontador de armas ligeiras
Carlos Manuel Nunes Curto, 1º cabo corneteiro
Luís Barros de Macedo, 1º cabo cozinheiro
José Manuel S. Garcês, 1º cabo C. A. R., sintex
Carlos Alberto Esteves Ferreira, 1º cabo C. A. R.
Manuel da Conceição Fino, 1º cabo mecânico A. R.
Manuel Coelho Rodrigues, 1º cabo padeiro
Manuel de Sousa Nogueira, 1º cabo apontador M. M., esteve em diligência em Cufar, na CCaç 4740
António de Oliveira Simões, 1º cabo apontador M. M.
Rafael de Freitas Pereira, 1º cabo atirador
João Manuel Pinto Rodrigues, 1º cabo atirador
Gabriel Ferreira Telo, 1º cabo atirador
Américo Z. G. Paulo, 1º cabo atirador
João Heliodoro Gomes da Silva, 1º cabo atirador
Humberto A. Camacho Gomes Pereira, 1º cabo atirador
Agostinho Gomes Serrão, 1º cabo atirador
Manuel Nuno de Sousa, 1º cabo atirador, monitor escolar
Manuel G. G. Quintal, 1º cabo atirador
José Agostinho de Freitas, 1º cabo atirador
Manuel de Freitas, 1º cabo atirador
José Manuel Mendonça de Viveiros, 1º cabo atirador, esteve no DA/CTIG em serviço da companhia
José Maria Fernandes, 1º cabo atirador
Manuel de Câmara Lambaz, 1º cabo atirador
José Rodrigues Fernandes, 1º cabo atirador
José Teixeira Cardoso, 1º cabo atirador, esteve em diligência no Pelundo
José de Sousa Costa, 1º cabo atirador
João Manuel Mendonça N. Jarimba, 1º cabo atirador
Mário Luís Martins, 1º cabo rádio-telegrafista, apresentou-se a 6 de Março de 1972
Armindo Gonçalves Barbosa, soldado corneteiro, esteve em diligência em Catió, na CCart 6251
Joaquim da Cunha Ramos, soldado corneteiro
José Maria dos Santos Lopes, soldado corneteiro
Francisco Estrela Gonçalves, soldado corneteiro
António Alfredo Cruz, soldado cozinheiro
José Manuel Gomes Aguiar, soldado auxiliar de cozinheiro
Serafim Ferreira Reis, soldado condutor A. R.
António Adílio Moreira Carneiro, sold. condutor A. R.
Albino Jorge C. Caldas, soldado condutor A. R.
Francisco Rocha Moutinho da Costa, soldado condutor A. R.
José Américo Araújo, soldado condutor A. R.
Francisco M. P. da Silva, soldado condutor A. R.
Fernando F. de Oliveira, soldado condutor A. R.
Artur Cunha da Fonseca, soldado condutor A. R.
Francisco Baiona Calado, soldado condutor A. R.
José da Costa Novais, soldado condutor A. R.
Fernando Fajardo, soldado condutor A. R.
Rogério Manuel Cesário Aguiar, soldado condutor A. R., sintex, esteve como delegado da companhia na 4ª REP/QG/CTIG
Fernando Manuel F. Ruivo, soldado transmissões
José Eduardo Marques Diogo, soldado de transmissões, esteve em diligência em Catió, na CCart 6251
José Elias Gomes de Oliveira, soldado de transmissões
Artur Fernandes Moita, soldado de transmissões
Francisco António Riço Louro, soldado mecânico A. R.
Manuel Rodrigues Gonçalves, soldado mecânico A. R.
Emílio de Carvalho Passos, soldado apontador M. M.
Aureliano Martins de Sousa, soldado apontador M. M.
José Manuel de Abreu, soldado apontador armas ligeiras
Francisco Bernardo Freitas Dornelas, soldado atirador
Avelino T. F. Henriques, soldado atirador
José Gabriel Freitas Pestana, soldado atirador
Manuel Januário de Abreu, soldado atirador
Manuel Pereira, soldado atirador
Manuel A. Silva, soldado atirador
Jorge de Andrade Gonçalves, soldado atirador
António de Leça Abreu, soldado atirador
Raul Gaspar Rodrigues, soldado atirador
Jordão Egídio dos Santos, soldado atirador
Juvenal Frutuoso Fernandes Dantas, soldado atirador
José Luís Figueira da Silva, soldado atirador
Manuel de Freitas Moniz, soldado atirador
João Gouveia de Olim, soldado atirador
Mário de Nóbrega Neto, soldado atirador, esteve também na CCaç 3548
José António dos Santos, soldado atirador
João Gonçalves de Jesus, soldado atirador
José Manuel da Silva, soldado atirador
José António da Silva Pires, soldado atirador
Manuel Agostinho T. Silva, soldado atirador
Manuel A. A. Catanho, soldado atirador
Alexandre António Pestana, soldado atirador
Luciano Aleixo Gomes, soldado atirador
Francisco Correia Fernandes, soldado atirador
Joaquim Faria de Abreu, soldado atirador
António de Andrade Pereira, soldado atirador
Adelino Gomes, soldado atirador
José Manuel F. Gouveia, soldado atirador
António Amaro de Oliveira, soldado atirador
Ambrósio F. Rodrigues, soldado atirador
Agostinho Teixeira de Ornelas Flor, soldado atirador, esteve em diligência em Catió, na CCart 6251
Moisés Ferreira Ganança, soldado atirador
Domingos Gonçalves, soldado atirador
José Boaventura de Castro Gouveia, soldado atirador
Agostinho Ferreira Perestrelo, soldado atirador
Arnaldo Martins, soldado atirador
José Pita de Andrade, soldado atirador
Manuel N. V. Cardoso, soldado atirador
Carlos Teixeira de Freitas, soldado atirador, esteve evacuado no HMB e no HMP
Manuel Delgado de Sousa, soldado atirador
Jesuíno Meneses dos Reis, soldado atirador
Manuel Câmara Costa, soldado atirador, esteve em diligência em Cufar, na CCaç 4740; e esteve evacuado no HMP
Vicente de Sousa, soldado atirador
José Marques da Silva, soldado atirador
Pio Marinho dos Santos, soldado atirador, esteve em diligência no BCart 6252
João de Freitas Bettencourt, soldado atirador
António de Sousa, soldado atirador
Sidónio G. Nóbrega, soldado atirador
Adelino Pereira Jardim, soldado atirador
António Rodrigues de Freitas, soldado atirador
Manuel Avelino M. de Olim, soldado atirador
José Urbano Gomes Camacho, soldado atirador
Manuel de Sousa, soldado atirador
José Manuel da Silva, soldado atirador
António do Rosário de Freitas, soldado atirador, esteve no DA/CTIG em serviço da companhia
Carlos Nóbrega de Freitas, soldado atirador
Manuel Baptista Teixeira, soldado atirador
António Alberto Gonçalves, soldado atirador
Heliodoro de Freitas Rodrigues, soldado atirador
José Manuel Barros Soares, soldado atirador
Tolentino Oliveira dos Santos, soldado atirador
Manuel Pestana, soldado atirador
João de Sousa Pinto, soldado atirador
Eleutério Teodósio S. Spínola, soldado atirador
Joaquim Marques de Mendonça, soldado atirador
João Nunes Ferreira, soldado atirador, ferido numa mina a 7 de Agosto de 1972, esteve evacuado no HMP; a 6 de Fevereiro de 1973 vem do DAG e regressa à companhia, indo depois morrer a Guidaje
José Alexandre Rodrigues, soldado atirador
Manuel Germano F. Rodrigues, soldado atirador, sintex
Daniel Martins Alves, soldado atirador
Alfredo Rodrigues França, soldado atirador
José Cipriano Ferreira, soldado atirador
José Nunes Araújo, soldado atirador
José Manuel F. Rodrigues, soldado atirador
Humberto Amaro Francisco, soldado atirador
José Virgílio Vieira, soldado atirador, apresentou-se a 6 de Março de 1972, esteve evacuado no HMB e no HMP
Emanuel Gonçalves, soldado cozinheiro, apresentou-se a 6 de Março de 1972
José de Jesus Rodrigues Carreira, soldado rádio-telegrafista, apresentou-se a 6 de Março de 1972
João Luís Gouveia Rodrigues, soldado rádio-telegrafista, apresentou-se a 9 de Abril de 1972
Ricardo Lima da Costa, soldado monitor escolar no PEM 23, guineense, (temporariamente)
Inácio Soares da Gama, soldado básico vindo do GA7, apresentou-se a 22 de Abril de 1972 e foi transferido para a CCaç 4147, em 24 de Novembro de 1973
Ângelo Manuel dos Santos Raposeiro, soldado atirador, apresentou-se em Maio de 1972, transferido do BCaç 3864
Malan Seidi, soldado atirador, apresentou-se em Maio de 1972, transferido da CCaç 3 , esteve deslocado na CCaç 3548, passou à disponibilidade em 1 de Dezembro de 1973
Joaquim Pereira Campos Simões, soldado atirador, apresentou-se em 15 de Junho de 1972, vindo do Comando de Defesa de Bissau e transferido da CCart 2762
António Henrique Paiva Valente, soldado atirador, monitor escolar, apresentou-se a 27 de Julho de 1972
José Avelino Pestana, soldado atirador, apresentou-se na companhia a 19 de Dezembro de 1972
Orlindo E. Vicente, soldado atirador, apresentou-se na companhia em Fevereiro de 1973
José N. S, Pereira, soldado atirador, apresentou-se na companhia em 26 de Novembro de 1973
Fernando J. F. Fleming de Oliveira, alferes miliciano da 2ª companhia do Depósito de Adidos da Guiné, a frequentar estágio para comandante de companhia
Alfredo Joaquim Ribeiro dos Santos Lima, furriel miliciano sapador do BEng 447, para onde regressou em Maio de 1972
Mário Alves Rolo, furriel miliciano de acção psicológica, da CCS/QG; a 15 de Junho de 1972 regressou à CCS para passar à disponibilidade.
Florémio Fernandes Romão, soldado atirador da CCS/BCaç 2930
Fernando da Silva Lopes, soldado atirador da CCaç 3325
Manuel da Costa e Silva, soldado Pont. A. Fix, do BEng 447, para onde regressou em Maio de 1972
Álvaro José da Silva Albuquerque, soldado atirador da CCaç 3477
José de Brito Simões Gomes, 1º cabo da CCav 8350, esteve em diligência na companhia depois de 2 de Dezembro de 1972
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XV


por Daniel de Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74)


Hino de Os Marados de Gadamael


Escuta, Irmão
Nós somos Os Marados de Gadamael
Vivemos dias maus, Irmão
Dias amargos como fel
P´ra ti cantamos, nosso Irmão
Para o povo todo da Terra
Viver em Gadamael
É o máximo da guerra!
(refrão)
Mas chegará o dia, Irmão
De partirmos da Guiné
Com fé e confiança, Irmão
O que é preciso é estar de pé!
A comer “bianda” com chouriço
Isto é só emagrecer
Queremos ir p’rà nossa terra
Onde podemos comer
(repete refrão)
Mas chegará o dia, Irmão
De partirmos da Guiné
Com fé e confiança, Irmão
O que é preciso é estar de pé!


Dedicatória

Dedico estas páginas à memória dos camaradas que morreram na Guiné, mas igualmente aos Marados de Gadamael que já nos deixaram após o regresso (que eu tenha conhecimento, o Quaresma, o Pessoa, o Jaca e, mais recentemente, o Moutinho (o “Emerson Fitipaldi” das Berliet), grande entusiasta dos nossos convívios anuais no Continente. Por vezes, há outras notícias que nos chegam, mas como não estão confirmadas, não há que especular... Mas temos de nos ir habituando à ideia deste número ir crescendo paulatinamente, pois hoje estamos todos na casa dos 60 anos e a lei da vida é irreversível.

Não sei se para aqueles que de alguma forma participaram na guerra será positivo ou negativo este reacendimento das memórias. Voluntária ou involuntariamente, todos acabamos por dar connosco a reviver excertos do passado (não apenas deste passado, também da infância e de outros períodos da nossa vida). Reagir às recordações da guerra é sempre diferente. Podemos sempre voltar à vivência dos anos em que começámos a crescer e compreender as diferenças, mas é impossível de reconstituir dois a três anos no mato, o sofrimento e os bons momentos de lazer e diversão que também retivemos para todo o sempre. No quotidiano das nossas vidas deparamo-nos com imensos camaradas que ainda hoje é como se nunca tivessem saído da Guiné (de Angola, de Moçambique) e na maior parte dos casos não passaram o que nós tivemos a infelicidade de passar. Então, porquê reavivar esses tempos? Ajuda a espantar fantasmas? Não creio que existam, mas acredito que sejam (perdoem-me o lugar-comum) como as bruxas: “que las hay, las hay”!...

Um dia a SIC patrocinou o regresso de um ex-combatente à localidade onde havia estado durante a guerra (Moçambique). Em contacto com autóctones do seu tempo (já com muitos filhos à mistura) e com ex-combatentes do “outro lado” (FRELIMO), conviveu sem problemas, reviveu momentos, contou e ouviu histórias dos tempos idos. De repente, fez-se silêncio e, como quem não tem mais nada para dizer, pediu humildemente desculpa a todos os presentes. Desculpa de quê? De uma coisa de que não foi o principal culpado: ter lá estado, naquele tempo… E eu, nesse instante, desatei a chorar convulsivamente, de tal modo que não conseguia dominar-me, sendo essa a única manifestação espontânea, que me lembre, que tive relacionada com a minha primeira presença em África, de G3 numa mão e de cavilhas de segurança, mais cordão-de-tropeçar para as armadilhas, na outra. Que complexo guardei em mim durante tantos anos, até ver essa reportagem? Depois do regresso, por razões da minha vida pessoal, tive contactos com inúmeros ex-guerrilheiros e mesmo com dirigentes do PAIGC, MPLA, FRELIMO, MLSTP e FRETILIN, ao mais alto nível, tornei-me amigo de vários e nunca senti que tivesse que apresentar desculpas pessoais a ninguém, por nada deste mundo, nem eles admitiriam que o fizesse; tal como a mim, enquanto cidadão português, nenhum combatente pela liberdade tem motivos para me pedir desculpa. Mas voltar aos locais onde estivemos, encarar de frente os olhos tristes ou indiferentes das pessoas… De todos os programas televisivos, reportagens, foi o mais difícil para mim… Porquê tamanho complexo de culpa?

Quando pus pela primeira vez os pés em África, eu já tinha alguma consciência política, embora não muita informação: lembro-me de gravar um texto que me forneceram no momento, no Funchal (num programa da Estação Rádio da Madeira), em que Amílcar Cabral era tratado como um assassino… O texto era tão mau que o li aos bochechos, gravando-o de primeira, sem o perceber. Quando ouvi o resultado final já não pude evitar que fosse para o ar e, mesmo sem grandes argumentos para o contestar, recriminei-me por não ter recusado liminarmente a leitura.

Lembrar tudo isto, agora? É patético, mas até quando escrevo este texto tenho momentos de emoção e a reacção primeira é a da escrita compulsiva, é a de contar as histórias rapidamente, antes que se esgote o tempo e temendo que já ninguém se interesse por as ouvir (ler). O que de início se pretendia ser um texto sobre os dias de Guidaje já leva a dimensão de um pequeno livro, escrito nos tempos livres de não mais que quatro semanas e sem o intuito de grandes revisões nem cuidados literários: chegado ao fim, amigos, foi contar que foi assim e pronto…

Nesta dedicatória, não resisto a transcrever na página seguinte um poema de Mário Dionísio (16/07/1916 – 17/11/1993, ex-professor da Faculdade de Letras, poeta, conferencista e tradutor, que colaborou na Seara Nova, Vértice e Diário de Lisboa; prefaciou autores como Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires e Alves Redol). Embora publicados em 1945, estes versos adaptam-se na perfeição ao estado de espírito com que recordamos todos estes camaradas.


Balada dos Amigos Separados

Onde estais vós Alberto Henrique
João Maria Pedro Ana?
Por onde anda agora a vossa voz?
Que ruas escutam vossos passos?
Ao norte? Ao sul? Aonde? Aonde?
José António Branca Rui
E tu Joana de olhos claros
E tu Francisco e tu Carlota
E tu Joaquim?
Que estradas colhem vosso olhar?
Onde agora a vossa vida repartida?
A oeste? A leste? Aonde? Aonde?
Olho prà frente, prà cidade
e pràs outras cidades por trás dela
onde se agitam outras gentes
que nunca ouviram vosso nome
e vejo em tudo a vossa cara
e ouço em tudo o som amigo
a voz de um a voz de outro
e aquele fio de sol que se agitava
sempre sempre
em todos nós
Dançam as casas nesta noite
ébrias de sombra nesta noite
que se prolonga em plena angústia
aos solavancos do destino
e não consegue estrangular-nos
Sigo e pergunto ao vento à rua
e a esta ânsia inviolável
que embebe o ar de calafrios
Onde estais vós? Onde estais vós?
E por detrás de cada esquina
e por detrás de cada vulto
o vento traz-me a vossa voz
a rua traz-me a vossa voz
a voz de um a voz de outro
toada amiga que me banha
tão confiante tão serena
Aqui aqui em toda a parte
Aqui aqui e tu aonde?

Mário Dionísio
in As Solicitações e Emboscadas
Vértice n.º 58, Janeiro de 1994
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

1. Continuação da publicação do trabalho Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidaje de autoria do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74).



Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje



Parte XIV


por Daniel de Matos


O(s) cemitério(s) de Guidaje

Mortos na região de Guidaje, de 9 de Maio a 9 de Junho de 1973*


António Júlio Carvalho Redondo, (9 de Maio) Soldado Atirador, BCaç 4512/72, corpo não recuperado.

Arnaldo Marques Bento, (9 de Maio) Furriel Miliciano, CCaç 14,

Bernardo Moreira Castro Neves, (9 de Maio) 1.º Cabo, BCaç 4512/72,

Lassana Calisa, (9 de Maio) Soldado Atirador, CCaç 14.

Manuel Maria Rodrigues Geraldes, (10 de Maio), Soldado Atirador 2.ª Companhia/BCaç 4512/72, sepultado em Guidaje. Corpo exumado e trasladado para Bissau em 21 de Março de 2009, e trasladado para Portugal (cerimónias com honras militares em Belém, junto ao Forte do Bom Sucesso, Lisboa, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes no Ultramar e no Vimioso). Repousa no cemitério de Vale do Algoso.

Abdulai Mané, (10 de Maio) 1.º Cabo Atirador, CCaç 19, sepultado em Guidaje.

Jancon Turé, (10 de Maio) Soldado Atirador, CCaç 19, sepultado em Guidaje.

Mamadú Lamine Sanhá, (10 de Maio) Soldado Auxiliar de Enfermagem, CCaç 19, sepultado em Guidaje.

Sadjó Sadjó, (10 de Maio) Soldado atirador, CCaç 19, sepultado em Guidaje.

Suleimane Dabó, (10 de Maio) Soldado Atirador, CCaç 19, sepultado em Guidaje.

David Ferreira Viegas, (12 de Maio) Soldado Condutor, Com. Agrupam. Operacional n.º 1.

José Luís Inácio Raimundo, (12 de Maio) Soldado Comando, 38.ª Companhia de Comandos.

Ludgero Rodrigues da Silva, (13 de Maio) Soldado Condutor, CCS/BCaç 4512/72.

Martinho Cá, (16 de Maio) Soldado Apontador de Metralhadora, CCaç 3, sepultado em Guidaje.
Anso Baldé, (19 de Maio) Soldado Comando, 1.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Armando Beta Santa, (19 de Maio) Soldado Comando, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Becute Tungué (também Bacote Tanga), (19 de Maio) Soldado Comando, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje. Corpo exumado em 21 de Março de 2009 e trasladado para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga Portuguesa de Combatentes), onde se encontra em repouso.

Carlos Intchama, (19 de Maio) Soldado Comando, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

José Vieira, (19 de Maio) Soldado Comando, 1.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Mama Samba Baldé, (19 de Maio) Alferes Graduado, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Mama Samba Embaló, (19 de Maio) Soldado Comando, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Abdulai Baldé, (19 de Maio) Soldado milícia, pelotão de Milícias 326, sepultado em Guidaje.

Mamadú Alfa Baldé, (19 de Maio) soldado dos Serviços de Administração Militar, Batalhão de Intendência, sepultado em Guidaje.

Saliú Sané, (19 de Maio) Soldado Comando, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

Pedro Melna, (19 de Maio), Alferes Graduado, 3.ª Companhia de Comandos Africana, Operação Ametista Real, sepultado em Guidaje.

António das Neves Vitoriano, (23 de Maio de 1973), Soldado Pára-quedista, CCP 121, sepultado em Guidaje. Corpo exumado em 21 de Março de 2009. Trasladado inicialmente para Bissau e, em 25 de Julho de 2009, para a Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos onde recebeu honras militares junto ao Monumento Aos Mortos em Combate, tal como em Lisboa (Igreja da Força Aérea) e no dia seguinte em Castro Verde, em cujo Cemitério se encontra a repousar.

José de Jesus Lourenço, (23 de Maio de 1973), Soldado Pára-quedista, CCP 121, sepultado em Guidaje. Corpo exumado em 21 de Março de 2009. Trasladado inicialmente para Bissau e, em 25 de Julho de 2009, para a Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos onde recebeu honras militares junto ao Monumento Aos Mortos em Combate, tal como em Lisboa (Igreja da Força Aérea) e no dia seguinte em Cadima (onde nasceu). Repousa no cemitério de Fornos, Cantanhede.

Manuel da Silva Peixoto, (23 de Maio de 1973), Soldado Pára-quedista, CCP 121, sepultado em Guidaje. Corpo exumado em 21 de Março de 2009. Trasladado inicialmente para Bissau e, em 25 de Julho de 2009, para a Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos onde recebeu honras militares junto ao Monumento Aos Mortos em Combate, tal como em Lisboa (Igreja da Força Aérea) e no dia seguinte em Vila do Conde. Repousa no Cemitério de Gião, Vila do Conde.

Bailó Baldé, (23 de Maio) Soldado Atirador, CCaç 3, sepultado em Guidaje.

Fonseca Nancassá, (23 de Maio) Soldado Atirador, CCaç 3, sepultado em Guidaje.

José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano n.º 028937/71, CCaç 3518, sepultado em Guidaje. Corpo exumado em 21 de Março de 2009. Trasladado inicialmente para Bissau e, em Novembro de 2009, para Valpaços, tendo tido cerimónias com honras militares em Belém, junto ao Forte do Bom Sucesso, Lisboa, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes no Ultramar e em Valpaços). Repousa no Cemitério de Sá/Ervões.

Gabriel Ferreira Telo, (25 de Maio de 1973), 1.º Cabo Atirador n.º 031178/71, CCaç 3518, sepultado em Guidaje. Corpo exumado e trasladado para Bissau em 21 de Março de 2009; trasladado para Portugal em Novembro de 2009, com cerimónias e honras militares em Belém, junto ao Forte do Bom Sucesso, Lisboa, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes no Ultramar, e na Madeira, primeiro junto ao Monumento ao Combatente Madeirense, na Mata da Nazaré, e depois no Paul do Mar, concelho da Calheta. Sepultado no cemitério de Paul do Mar/Madeira a 22 de Novembro de 2009.

*em Belém/Lisboa: Ministro da Defesa/Santos Silva, Presidente da Liga Portuguesa de Combatentes/Chito Rodrigues; no Funchal e Paul do Mar: representante da República/Monteiro Diniz, representante do Governo Regional/Brazão de Castro), Presidente da Câmara Municipal da Calheta/Manuel Baeta), o Presidente da União Portuguesa de Pára-Quedistas/Avelar de Sousa e o coronel Ramiro Morna Nascimento, – madeirense e amigo da família que em 1973 foi segundo-comandante em Farim, impulsionador da Homenagem e da edificação do Monumento ao Combatente Madeirense, erguido com donativos populares e inaugurado na Mata da Nazaré, Funchal, em 2003.

João Nunes Ferreira, (25 de Maio de 1973), Soldado Atirador n.º 094773/71, natural de Câmara de Lobos, CCaç 3518. Sepultado em Guidaje. Corpo exumado e trasladado em 21 de Março de 2009 para o Cemitério de Bissau (talhões da Liga Portuguesa de Combatentes) onde está em repouso.

António Santos Jerónimo Fernandes, (26 de Maio), Furriel Miliciano n.º 094862/71, CCaç 19, sepultado em Guidaje. Natural de Garção, Vimioso, o corpo foi exumado e trasladado para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga Portuguesa de Combatentes), onde se encontra em repouso.

António Talibó Baio, (26 de Maio), Soldado Atirador, CCaç 19, sepultado em Guidaje. Corpo exumado e trasladado a 21 de Março de 2009 para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga Portuguesa de Combatentes), onde se encontra em repouso.

Jorge de Andrade Gonçalves, (29 de Maio), Soldado Atirador n.º 048491/71, natural do Campanário, Ribeira Brava, Madeira, CCaç 3518,

António Luís do Couto Toste Parreira, (29 de Maio) Soldado Condutor, CCaç 3414,

Domingos Martins da Silva Lopes, (29 de Maio) Soldado Atirador, BCaç 4512/72,

Luís José Abrunhosa Gonçalves, (4 de Junho) Soldado Atirador, 1.ª Companhia/BCaç 4512/72,

Carlos Manuel Galvão Fernandes, (9 de Junho) 1.º Cabo Atirador, Pelotão Caçadores Nativos n.º 67.

* O número de sepultados não coincide com várias das múltiplas descrições existentes. Há vítimas destes combates que seriam enterradas em Farim e noutros locais próximos. Estão listados os mortos do exército e dos pára-quedistas, não estando referenciadas vítimas dos fuzileiros. Também sobre os mortos da milícia e entre a população civil há muitas imprecisões e dúvidas quanto ao seu número e quanto ao local onde repousam.

O General Lopes Camilo, vice-presidente da Liga dos Combatentes que teve a gentileza de me receber no início de 2009 para me informar dos esforços que então estavam em marcha para a exumação dos corpos, disse à imprensa que haveria a estimativa de 31 corpos enterrados em Guidaje. Porém, o mapa/croquis elaborado pelo pessoal da CCaç 19 só referia dez (quando da exumação descobriram-se 11). Houve algures à volta do quartel de Guidaje outro(s) cemitério(s), supõe-se que constituído(s) exclusivamente pelos restos mortais de pessoal africano.


Madeirenses mobilizados para o Ultramar

Estima-se que durante a guerra tenham falecido nas três colónias portuguesas duzentos e quarenta madeirenses (ou membros de Unidades constituídas na Madeira, cujos Graduados e Especialistas eram geralmente oriundos de outras partes do país).

Das Unidades constituídas na Madeira, registaram-se 125 mortos em Angola, 46 em Moçambique e 69 na Guiné.


O Comando Militar da Madeira mobilizou para a Guiné as seguintes subunidades:

Pelo BII 19 - (Batalhão Independente de Infantaria 19 - Funchal) - Companhias de Caçadores Independentes:


CCaç 1439

CCaç 2246

CCaç 2529

CCaç 2571

CCaç 2679

CCaç 2680

CCaç 2681

CCaç 3325

CCaç 3518

CCaç 3519

CCaç 3520

CCaç 4942

CCaç 4944

CCaç 4945

CCaç 4946

E pelo GAG 2 - (Grupo de Artilharia de Guarnição 2 - S. Martinho) Companhia de Artilharia Independente:

CART 2732
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

1. Continuação da publicação do trabalho Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidaje de autoria do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74).


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XIII

Daniel de Matos


Baixas da CCaç 3518, em Guidaje


Mortos no abrigo do Obus:

José Carlos Moreira Machado, furriel miliciano, natural de Sá, Ervões, Valpaços.

Gabriel Ferreira Telo, primeiro-cabo atirador, natural do Paul do Mar, Calheta, Madeira.

João Nunes Ferreira, soldado atirador, natural de Câmara de Lobos, Madeira.

Jorge de Andrade Gonçalves, soldado atirador, natural de Pedra da Nossa Senhora, Campanário, Ribeira Brava, Madeira. Era casado.


Feridos no abrigo do Obus:

Quirino do Sameiro Correia Igreja, alferes miliciano, de Vila Verde, (viria a ser evacuado para a metrópole).

Vitorino Ferreira da Cruz, alferes miliciano de Lordelo, Paredes

Bernardo Gomes Monteiro, furriel miliciano de armas pesadas, de Cascais, (esteve evacuado no HMP, para onde foi a 3 de Novembro de 1973).

Ângelo César Carneiro da Silva, furriel miliciano de minas e armadilhas, da Trofa.

José Cipriano Ferreira, soldado atirador, da Madeira.

José Virgílio Vieira, soldado atirador, da Madeira, que chegou mais tarde à companhia em “completamento”, a 6 de Março de 1972 (esteve evacuado no HMP).


Feridos nas emboscadas do percurso Guidaje/Binta:

José Manuel de Abreu, soldado atirador, do Funchal.

Fernando Gomes dos Santos primeiro-cabo atirador, (do COMBIS, mas que acompanhou a operação integrado na companhia).


Seria lógico e justo referir aqui a identidade dos feridos das outras unidades ao longo destes dias. Os números ditos oficiais referem um total de 122, cuja identificação individual será muito difícil, senão impossível, de elencar.


Resumo de outras baixas da CCaç 3158 durante a comissão de serviço:

Outro sangue derramado em terras da Guiné ao longo da comissão.

Falecidos em Gadamael:


Alfredo Rodrigues França, (6 de Março de 1972), soldado atirador, Paul do Mar, Calheta, Madeira. Ferido em combate, sepultura em Paul do Mar.

António Alberto Gonçalves, (15 de Abril de 1972) soldado atirador (era casado) Câmara de Lobos, Madeira, morto devido a acidente, – afogamento na margem do rio Sapo (afluente do Cacine), – em Gadamael. Sepultura no Cemitério Municipal de Câmara de Lobos.

João Heliodoro Gomes da Silva, (27 de Junho de 1972), primeiro-cabo atirador, Sítio do Calhau, São Roque, Funchal, Madeira, ferido “por acidente com arma de fogo”, “tiro inopinado” na caserna, em Gadamael. Sepultura no Cemitério das Angústias, São Martinho, talhão de militares falecidos no Ultramar.

Na verdade, o tiro inopinado foi disparado à queima-roupa por um membro da companhia, durante um desaguisado. O causador do “acidente com arma de fogo”, vulgo, assassinato, foi preso de imediato (preventivamente, por autorização da Chefia do Serviço de Justiça).

Em 14 de Junho de 1973, “por despacho de 10 de Abril de 1973, Sua Exa o Director do Serviço de Pessoal determinou que o soldado atirador Carlos Nóbrega de Freitas tivesse baixa do serviço por incapacidade física, por haver sido julgado incapaz do mesmo pela Junta Hospitalar de Inspecção, reunida no HMP, em sessão de 30 de Março de 1973, podendo angariar subsistência”. Ao saber-se disto, a revolta não podia ser maior no seio da companhia: “uns a alinhar e um tipo destes a ficar livre, parece que foi premiado”! Tinha sido preso formalmente em 1/7/72.

Os camaradas mais próximos do João Heliodoro, choravam de raiva e, a quente, juravam que no regresso à Madeira matariam o Freitas, antigo coveiro de profissão. O certo é que ele morreu anos mais tarde, após uma cena de pancadaria na Madeira, não se sabe com quem, ao cair de uma ravina, disse-me um dia o capitão, em sua casa. Depois do gesto irreflectido, foi difícil arrancar-lhe a arma das mãos. O capitão perdeu a cabeça e espancou-o, esmurrando e pontapeando à toa o corpo já tombado no chão. Só parou de o fazer quando o consegui dominar, filando-lhe os braços por trás e imobilizando-o como num abraço, “não se desgrace também, meu capitão”, que a coisa estava feia. Foi metido no abrigo que serviu de prisão algumas vezes em Gadamael (o ex-soldado guineense Inácio Soares da Gama que o diga!) e, dias mais tarde, seguiu com escolta sob prisão, já não me recordo se para a sede do batalhão ou se para Bissau.



Ângelo Manuel dos Santos Raposeiro, (7 de Agosto de 1972) soldado atirador, Lisboa freguesia de Benfica, (era casado e tinha vindo transferido da CCav 3462 – BCav 3874) ferido em combate em Gadamael (accionou mina antipessoal), depois de evacuado faleceu no Hospital Militar de Bissau. Sepultura no cemitério de Benfica.

Malan Mané, (13 de Novembro de 1972), soldado milícia do Pelotão de Milícias 236 (adido à companhia), ferido em acidente com arma de fogo, na sequência do rebentamento de uma mina antipessoal, sepultado em Gadamael.

Outros, nem sempre identificados:

Ussumane (Baldé?), caçador, saiu à caça levando a sua velha Mauser, e accionou inadvertidamente uma mina antipessoal (montada pelo furriel Ângelo Silva, ou por mim, já não me recordo) no cruzamento de Ganturé.

“Informador” (presumível). Desconheço se é um morto que contabilizemos como nosso (quase que garantidamente, não, de todo!), se como do IN ou se de coisa nenhuma. Caiu também numa das nossas minas ao fundo da pista velha. As feridas no pé impediram-no de fugir dali. O capitão mandou-me ver o que tinha feito rebentar a mina e quando cheguei, lá estava o homem sentado no chão, encostado a um coqueiro, olhos recriminatórios, indescritíveis, inesquecíveis… Trouxemo-lo para o quartel mas a evacuação aérea só foi possível no dia seguinte. Soube de sevícias inqualificáveis que alguém lhe fez para o obrigar a confessar ser “turra”. Depois, morreu. Pelos muitos cabelos e bigode brancos via-se ter uma idade avançada. Enterrei-o na pista antiga, na margem do rio, por ordem do capitão Manuel de Sousa. Só eu e os quatro ou cinco homens que foram comigo sabemos (sabíamos) onde ficou. No caso dele, nenhuma família o reclamará nunca, não saberá sequer como nem quando se finou…


Feridos em combate:

(não inclui os feridos, – e foram alguns – cujas chagas foram adquiridas por acidentes vários, por exemplo, devido a falsos alarmes, quando procuravam refugiar-se de ataques não consumados). Cito, apenas os de maior gravidade:

João Nunes Ferreira, soldado, 7 de Agosto de 1972 (morreria a 25 de Maio de 1973, em Guidaje).

João Manuel Duarte Oliveira, soldado (pelotão de reconhecimento Fox 2260, adido à companhia) 7 de Agosto de 1972.


Louvados na “operação Guidaje”


Independentemente do desempenho notável e do grande espírito de sacrifício e de solidariedade para com os camaradas (e de todas as unidades envolvidas) que estiveram em Guidaje, na breve “história da companhia”, (escrita e composta na secretaria pelo primeiro-cabo escriturário Alexandre Vasco de Castro, em “stencil”, com máquina de escrever, “cera” e estilete), ficaram louvados pelo seu comportamento e pela “invulgar capacidade de prontidão de reacção e sangue frio debaixo de fogo” ao longo desta Operação, tendo demonstrado “raras qualidades militares, espírito de sacrifício e alto nível de camaradagem e compreensão, sempre prontos para tudo”, os seguintes militares:


Soldado José Virgílio Vieira:

“durante toda a operação demonstrou possuir raras qualidades de militar destemido. Debaixo de fogo IN, depois do rebentamento de uma granada dentro de um abrigo, em Guidaje, indiferente ao perigo, só tinha em mente ajudar os feridos, seus camaradas e superiores, e transportá-los para a enfermaria. Ainda debaixo de fogo IN, enfrentando o perigo, dirigiu-se a um Obus e, com as fracas noções que lhe deram, consegue fazer fogo com o mesmo, respondendo, assim, de um modo rápido, ao fogo IN. Na emboscada IN reagiu corajosamente, incentivando os seus camaradas a seguirem-lhe o exemplo. Numa das emboscadas, ainda indiferente ao fogo IN, dirigiu-se a uma das viaturas onde se encontrava um Morteiro 60 com bastantes granadas e trouxe tudo para a berma da estrada. Uma vez aí fez fogo com o mesmo.”


Soldado Manuel de Sousa:

“é digno de nota pela sua prontidão de reacção e sangue frio. Um dos elementos IN que nos tentavam envolver, na emboscada da zona do Cufeu, foi imediatamente alvejado por este soldado, ao mesmo tempo que chamou a atenção aos seus camaradas da existência de mais elementos IN. A sua rápida reacção encorajou de tal modo os seus camaradas que os elementos IN imediatamente tiveram que retirar, dado o potencial do fogo das Nossas Forças”.


Soldado José António da Silva Pires (também conhecido por “Jaca”)

“indiferente ao fogo IN, reagiu corajosamente fazendo fogo com o Morteiro 60. De salientar ainda que, na retirada dos elementos IN, este soldado progrediu no terreno fazendo fogo onde as árvores o permitiam. A sua atitude teve o mérito de encorajar os seus camaradas a colaborarem com redobrado esforço”.


Após o regresso a Portugal (à metrópole e à região insular, – os últimos a chegar a Lisboa, no Niassa, aportaram a 3 de Abril de 1974), perdeu-se o contacto com muitos soldados madeirenses, em virtude de uma parte significativa ter emigrado, especialmente para a Venezuela e para a África do Sul. Destes três, desconheço o destino que terão levado o José Virgílio Vieira e o Manuel de Sousa, presumindo que terão deixado de viver naquela Região Autónoma. Quanto ao Jaca (José António da Silva Pires), soube que infelizmente terá falecido há meia dúzia de anos atrás. Era um homem de grandes rebeldias mas que se sabia fiável e amigo do seu amigo, e cujo feitio tanto lhe originava repreensões e “porradas” sérias, como louvores idênticos a estes, umas e outros, em geral, merecidos. O capitão, bem como os agravamentos que se seguiam, aplicaram-lhe vários dias de detenção, prisão disciplinar, etc., (curiosamente aconteceu o mesmo com o soldado José Virgílio Vieira, cuja acção em combate também é agora enaltecida, e tinha sucedido com o soldado Raposeiro, morto em Gadamael ao accionar uma mina). Creio que por volta de 1990, ao encontrar-me no Funchal com o comandante de companhia (ex-capitão miliciano Manuel Nunes de Sousa), ele me contou que o Jaca experimentaria bastantes dificuldades, por não (querer) arranjar emprego e passar horas na mendicidade, a ver se alguma coisa caía, à volta do Mercado dos Lavradores. Noutras deslocações que efectuei ao Funchal procurei-o por várias vezes, no intuito de o abraçar e, porventura, o poder ajudar nalguma coisa. Foi o José Maria Fernandes, – antigo companheirão que com o mesmo sorriso de sempre nos aturava os copos e o resto, na messe de Gadamael, – que me informou do que teria acontecido ao Jaca. Para além das vicissitudes e das partidas que a vida nos prega, custa muito, revolta-nos ver como um ex-combatente que em certas ocasiões foi justamente considerado um herói, tenha vivido com stress os últimos anos da sua vida, na condição de mendigo e sem qualquer apoio social do mesmo Estado que serviu o melhor que pôde e soube!

Nos anos das três frentes de guerra (Guiné, Angola, Moçambique), o regime escondia os mortos para não desmoralizar nem os activos que andavam a combater nem a população. A famigerada Comissão de Censura cortava as notícias dos jornais, rádios e televisão que falassem de baixas entre nós. Apenas no 10 de Junho se dava conta de alguns, se homenageados postumamente. Havia, obviamente, quem na imprensa procurasse resistir. Aproveitando essa coragem, enviei de Bissau uma notícia com comentários pessoais para o semanário Notícias da Amadora, dirigido pelo jornalista e escritor Orlando Gonçalves (também já falecido) e de que era assinante. Os comentários ficaram na gaveta mas os nomes dos camaradas tombados, respectivos pais e esposas saíram, transcrevendo uma nota dos Serviços de Informação Pública das Forças Armadas (além dos quatro Marados de Gadamael e do furriel Fernandes, foi publicada a identidade de mais três praças falecidos também na Guiné). O jornal viveu dias difíceis particularmente nesse ano (estavam marcadas para Outubro as “eleições” para a Assembleia Nacional) e as suas instalações foram ocupadas pela PIDE/DGS, que apreendeu tudo o que havia lá dentro.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

1. Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74) fala-nos hoje do que foi a acção do PAIGC nas frentes de Guidaje, Guileje e Gadamael, os célebres três Gs, e da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau por aquele movimento em 24 de Setembro de 1973.


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XII

Daniel de Matos


Os “três G” e o desfecho das três frentes de guerra em África

Continuam a curiosidade e a estupefacção gerais sobre o andamento da guerra no mato, mais acentuadamente nas zonas fronteiriças. Bissau é uma cidade vestida de “piolhos verdes”, ainda que muitos deles trajando à civil. A capital do Vietname não será diferente, com movimento idêntico e constante de viaturas militares atafulhando o trânsito e de tropas invadindo comércio, bares, restaurantes e zonas de putedo. Para além dos inúmeros quartéis que a circundam, a cidade é um autêntico depósito de adidos, por onde passam os que vêm ao hospital tratar-se disto e daquilo, os que vêm para cá de férias ou estão em trânsito de e para as mesmas, os que são mandados para estagiar numa treta qualquer, – todos os pretextos são bons para quem está no interior dar uma fugidinha, desenfiar-se para Bissau por uma temporada, para respirar fundo. Juntam-se a estes os muitos quadros militares dos gabinetes, os tais que fazem a guerra no ar condicionado basofiando, pois em geral não são parcos a disparar em todas as direcções, quando abrem a boca…


“G” de Guileje, “G” de Gadamael…

Se encontramos alguém conhecido e nos pergunta por onde temos andado e dizemos Guidaje, só falta benzerem-se, ficarem atónitos e quererem logo saber tudo tim-por-tim-tim. Tal batalha, no entanto, já está a perder a actualidade. Em todas as esplanadas não se fala de outra coisa: a nossa conhecida Gadamael está mesmo em grande risco, vivem-se por lá dias horríveis. Lembro-me que, caso estivesse sob um ataque continuado de artilharia como aquele que sofremos no norte, as suas fragilidades seriam idênticas ou maiores que as de Guidaje. Ali não há refúgios subterrâneos nem tectos reforçados com grossas placas de cimento a que possamos chamar abrigo. Bem, é certo que em Guileje existiam e o resultado foi o que se viu… Há outras semelhanças entre Guidaje e Guileje: ficam ambas junto às fronteiras (do Senegal e da Guiné Conacry), estavam as duas dependentes do abastecimento aéreo, eram ligadas ao exterior por um único acesso (a primeira, a Bigene e Binta, e a segunda, a Gadamael), sendo fáceis de isolar se estes caminhos fossem (como foram) cortados. Todavia, tinham uma diferença de vulto, que se revelou definitiva quanto à capacidade de resistência: Guidaje possuía água própria (não sei se estou a divagar, mas lembro-me de ouvir falar da existência dum furo de extracção dentro do quartel); Guileje não tinha água! Aqui, o pessoal ia buscá-la a quatro quilómetros de distância, na direcção do Mejo e por caminhos propícios às emboscadas… Quanto a Gadamael, a situação é intermédia, isto é, a água potável não está dentro do quartel, mas o local de abastecimento é muito próximo e essa dificuldade só existirá caso se verifique um cerco muitíssimo próximo do arame (o que sempre me pareceu improvável de acontecer, até pelas características do terreno circundante, mas estamos sempre a aprender)…

Um soldado nosso recebera um aerograma dum amigo, membro do Pelotão de Reconhecimento Fox n.º 2260 – ou seja, de camaradas que ficaram em Gadamael após a nossa rendição, – e o cenário descrito era dantesco e com tendência a agravar-se. O número de mortos e feridos começa a equivaler-se ao de Guidaje, também estão a construir um cemitério local e o cerco está consumado. Além dos contingentes locais próprios agora está ali o pessoal que chegou de Guileje (o mesmo se dirá em relação aos civis) e o único contacto possível de toda esta gente com o exterior é o braço do rio Sapo (afluente do Cacine). Por outras vias vamos sabendo que já tudo começa a escassear e, à medida que os dias passam, o fogo é cada vez mais violento e amplia-se de dia para dia a destruição dos edifícios (que virá a ser total). Vendo-se incapacitados de se oporem aos intensos bombardeamentos e de darem a volta aos acontecimentos, há militares (a esmagadora maioria) que resolvem abandonar o aquartelamento pela mata do lado do Cantanhez, contornando o tarrafe e a costa de mangal e fugindo em direcção às margens mais palmilháveis do rio Cacine, em busca de refúgio. De notar que, de quase três companhias só cerca de trinta homens permaneceriam no quartel defendendo a posição com morteiros 81. Quer o 15.º Pelotão de Artilharia quer o Grupo de Artilharia de Campanha n.º 10 (Obus 11,4) tinham ficado inoperacionais após um ataque IN de morteiros 120, que destruiu material importante e lhes provocou três mortos (primeiro-cabo David Sousa Cunha, soldado Bassiro Demba e soldado Domena Indi) e ainda onze feridos.

No dia 1 de Junho, começou de manhãzinha o mais crítico de todos os dias da batalha de Gadamael. Houve períodos em que a chuva de granadas de morteiros 120 (às 18 de cada vez) caía de três em três minutos. Logo pelas dez horas ficou inoperacional e praticamente destruído o pelotão de artilharia, que sofreu três mortos e onze feridos. Gadamael ficou reduzida ao morteiro 81 que tinha alcance insuficiente para dar resposta aos bombardeamentos do IN. Conta-se que momentos antes tinha aterrado na pista do quartel um helicóptero que transportava o general Spínola, mas que este teve de ser empurrado para dentro do aparelho a fim de levantar voo de imediato. O silvo das granadas a sair foi ouvido no quartel e os rebentamentos ocorreriam no ponto de aterragem do helicóptero, a cinquenta metros do edifício da secretaria, das messes e das transmissões. Num quartel sem abrigos e com um elevado número de militares concentrados lá dentro, as baixas foram aumentando sem surpresa. Na contabilidade feita ao final do dia eram registados 8 mortos e 27 feridos. Aos poucos, foram tentando fazer evacuações de feridos por barco mas o fogo intenso de cada vez que se dirigiam ao cais dificultava muito a acção. Ao princípio da tarde uma granada destruiu o posto de rádio e feriu os dois comandantes de companhia. "Após a evacuação dos capitães fiquei sem elementos de ligação pois não conhecia ninguém em virtude de ter chegado na véspera", afirma Ferreira da Silva, o oficial enviado em substituição o Major Coutinho e Lima. Num cenário de desespero e os soldados começaram a andar junto às valas a circular apenas dentro da aldeia civil (colada ao quartel, mas poupada ao fogo inimigo). O Capitão Ferreira da Silva, atarefado com as evacuações, só quando o Furriel Carvalho (do morteiro 81) lhe foi dizer que já não tinha granadas e que só se encontravam três ou quatro militares na zona crítica é que se apercebeu que a defesa do quartel estava reduzida a um grupo diminuto de homens. Cerca de 80% das nossas tropas decidiu abandonar o aquartelamento pelos seus próprios pés, independentemente do apoio de duas companhias de pára-quedistas que se deslocaram para a região a aí ficariam estacionadas.

Os pára-quedistas da CCP 121, que tinham estado connosco em Guidaje, não tiveram a mesma sorte que nós quanto a dias de descanso: no dia 12 saíram de Bissalanca em direcção a sul, tendo Gadamael como destino. Não foram os únicos, já havia pessoal das CCP 122 e 123 na missão de “salvamento”, pois uma retirada idêntica à de Guileje estava “em cima da mesa”. A nossa “irmã gémea” CCaç 3520 de Cacine, que já tivera efectivos deslocados em Guileje, esteve igualmente mobilizada para apoiar a defesa do nosso antigo quartel e, com ela, o DFE-21 transportado em zebros.

O “general do monóculo”, que entretanto se tinha deslocado a Cacine, deixou ordens para que ninguém socorresse os fugitivos, que considerava “cobardes”. Só que no navio Orion*, cujo Comandante é Pedro Lauret e que na véspera tinha levado uma companhia de páras até Cacine, impera o bom-senso. A tripulação revolta-se e, como se impõe, marimba-se na opinião de Spínola e recupera entre 300 a 400 “cobardes” que se encontram espalhados pelas margens, em estado verdadeiramente lastimoso, desesperado. Entre eles, há um sem número de feridos a quem o Enfermeiro Abrantes (auxiliado pelo Grumete Ulisses Faria Pereira) presta os primeiros socorros e/ou orienta uma série de ajudantes voluntários a fazê-lo. O então Comandante do Orion refere que “à noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos”, não restando espaço para que ninguém pudesse deitar-se. Mas alguns necessitam de evacuação aérea.


Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > Pedro Lauret, oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem fez a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL).



A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida


“G” de Guidaje

Só em Maio de 1973, o PAIGC contabilizou duzentas e vinte acções militares no território. Em Guidaje, desde o dia 8, sofremos um total de 43 ataques, com artilharia pesada, morteiros e foguetões, e mais uma vintena delas na vizinha Bigene. Causaram 7 mortes, 30 feridos militares e 15 civis, a somar às baixas sofridas nas colunas (mortos 22, feridos 70) e na operação Ametista Real (10 mortos, 22 feridos e 3 desaparecidos). Em números oficiais, registou-se um total de 39 mortos militares, 122 feridos e 3 desaparecidos.

Quem sou eu para ousar pôr estes números em causa? Entendo, porém, que quem lá esteve fica com a sensação de que poderão não corresponder inteiramente à realidade, que haverá falhas por insuficiência de registos ou quaisquer outras razões. Nos relatos, surgem frequentes contradições em relação aos número de soldados mortos e desaparecidos (por exemplo, na picada Binta/Guidaje, em relação aos corpos que lá ficaram sem sepultura). As coisas baterão certas no tocante aos militares de origem europeia (continente e ilhas adjacentes), só que o mesmo se afigura com menos rigor quanto a soldados (e milícias) de naturalidade africana. Lembro-me de ter notícia (e de, nalguns casos, presenciar) da existência de civis que foram feridos e/ou morreram nas flagelações, emboscadas e minas, e que não terão sido contabilizados. Houve muitos feridos ligeiros que receberam tratamentos diversos sem se deslocarem às enfermarias. Em artigos e entrevistas publicados muito mais tarde sobre esta matéria (e onde, entre outros testemunhos chega a participar, por exemplo, o Tenente-Coronel Coreia de Campos), é referido que no mês de Maio se contaram 167 bombardeamentos a Guidaje (mais 50 em Abril), e houve a lamentar 100 mortos… É também mencionado que durante o mesmo mês terão participado de alguma forma na batalha de Guidaje cerca de mil e trezentos militares portugueses, a maior concentração alguma vez efectuada nos teatros da guerra colonial em todo o continente africano.


(Em jeito de conclusão)

Tombaram em Guidaje quatro Marados de Gadamael (três ficaram lá sepultados) e outros deixaram sangue e muitos suores frios a ensopar aquela terra. Doravante, pelo menos aqueles que lerem estas linhas já nos podem incluir nos registos, foi assim que lá fomos parar… Provavelmente nenhuma outra Companhia do Exército/Infantaria teve o infortúnio de correr os três destinos mais fatídicos deste penúltimo ano da guerra. Dizem os entendidos que o PAIGC quis capturar Guidaje, Guileje e Gadamael, promovendo uma operação “em pinça”, ou “tenaz”, para certificar o seu poderio além-fronteiras. Dirigentes da guerrilha sempre desmentiram que a ocupação de Guidaje estivesse nos seus planos, o que tem lógica, pois era uma aldeia sem qualquer interesse estratégico, valeria mais como posto fronteiriço que, existindo ou não, teria um valor relativo. O mesmo não se dirá dos aquartelamentos a sul. Com Guileje ocupada, se o mesmo acontecesse a Gadamael, equivaleria a uma vasta área de território em que Portugal deixaria de ter qualquer posto avançado, só restaria Cacine, sem quaisquer outras povoações em redor. Apesar da resistência portuguesa em Gadamael, (o ataque final só foi sustido depois da nossa aviação ter bombardeado a base de Kandiafara, para lá da fronteira com a Guiné-Conakry), o PAIGC demonstrou em Setembro de 1973 quem controlava efectivamente a Guiné, quando no dia 24 proclamou unilateralmente a independência em Madina do Boé e viu rapidamente reconhecido na arena internacional o novo Estado da Guiné-Bissau.

Passei o 24 de Setembro de serviço, a montar segurança numa das entradas de Bafatá, mais concretamente num posto que existia sobre a nova ponte do Geba, que era suspensa e uma espécie de miniatura da ponte sobre o Tejo (havia carteiras de fósforos com a sua fotografia e, se bem me lembro, também se chamava Salazar). Tínhamos aí uma pequena telefonia, através da qual ouvi a cerimónia da independência transmitida em directo pela Rádio Libertação. Medindo bem, se algum acesso estivesse a funcionar, a distância em linha recta entre Bafatá a Madina do Boé seria coisa pouca, pelo que a situação provocou-me um sentimento, no mínimo, estranho. Na manhã seguinte, quando a minha equipa foi rendida (o serviço era de 24 horas) e me dirigi à messe para tomar o pequeno-almoço, perguntei aos presentes se mais alguém tinha escutado o mesmo que eu e a resposta foi negativa. Narrei o que se passara, com a convicção absoluta de estarmos numa data que ficaria na História e, meio a brincar meio a sério, acrescentei que já me sentia um “estrangeiro” a pisar o chão da Guiné, provocando um sorriso generalizado, porém, amarelo.

Ao cerco, o PAIGC chamou Operação Amílcar Cabral (recorde-se que o dirigente histórico da guerrilha havia sido assassinado a 20 de Janeiro de 1973). E houve também a Operação Nô Pintcha. Os êxitos alcançados fizeram propalar a derrota militar do colonialismo português na Guiné, dando razão aos que defendiam que só uma solução política, – e, logo, negociada, – poderia resolver o conflito. Na arena internacional, os acontecimentos nos chamados “três G” abriram portas à inevitabilidade da independência e ao alastramento da mesma resolução às restantes colónias africanas, fosse, por tabela, em Cabo Verde, fosse em Angola e Moçambique (cada uma com as suas especificidades quando ao estado das respectivas guerrilhas, mas com o denominador comum de terem a razão política do seu lado), ou fosse ainda em S. Tomé e Príncipe. Dir-se-á que a motivação das forças armadas portuguesas era cada vez menos elevada. Realmente, o contacto com as injustiças sociais e descriminações de todo o tipo em nome de valores cada vez mais desacreditados fez abrir os olhos a muitos de nós. Havia neste tempo pouco mais de cem Companhias em exercício na Guiné e só onze delas eram comandadas por capitães do quadro permanente na frente de combate. Todos os outros eram milicianos, quer dizer, pessoal muito menos vocacionado para alimentar uma guerra injusta, que em geral já tinha lido o que era proibido ler-se na Academia Militar, que já participara (ou, no mínimo, assistira) a lutas estudantis que punham em causa o regime e reconheciam os direitos dos povos das colónias à independência…

A verdade é que o PAIGC, com a evidência dos estragos causados às nossas forças armadas a norte e sul, e da proclamação da independência efectuada bem dentro do território (com a presença testemunhal de delegações estrangeiras e de jornalistas internacionais) alterou aos olhos do mundo a situação, quer política quer militar da Guiné: em vez de ser uma colónia com territórios libertados pela guerrilha, passou a ser um Estado com territórios ocupados por estrangeiros (nós)! E isso passou a fazer TODA a diferença…
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6217: Estórias de Guileje (8): O papel da fragata Orion na batalha de Gadamael (Manuel Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350)

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

sábado, 24 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

1. Chegamos assim ao fim do relato dos dias da batalha Guidaje que descreveu os acontecimentos de Maio de 1973, feito pelo nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74).


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XI

Daniel de Matos

Os Dias da Batalha


31 de Maio

Poucas vezes na vida o nascer do sol nos terá sabido tão bem. Desta vez, acho que todos conseguimos dormir profundamente umas quantas horas seguidas e todos acordámos cedo e nos pusemos de pé num único impulso. Falo sobretudo de Os Marados de Gadamael, pois há camaradas que terão como tarefa regressar a Guidaje e ficar mais uns tempos por estas paragens, designadamente as companhias que chegaram anteontem e sem as quais ainda estaríamos sitiados. A missão dos pelotões da CCaç 3518 acabou, “o sibe chegou ao seu destino”, há soldados que se dizem prontos a festejar a próxima noite no Pilão!...

Ainda não eram oito horas e já tínhamos atravessado o rio para a margem esquerda, o motor da jangada até parecia querer pregar-nos uma partida, mas lá se aguentou. Quando arrancamos grita-se “está na mala”, “prego ao fundo, ó condutor”, “putas vão-se lavando que Os Marados vão a caminho” e outros ditos próprios da época e do estado de espírito, que guerra e soldados são assim mesmo em qualquer tempo, em qualquer lugar!

Troços da estrada Farim/Bironque/Mansabá

Com essa mesma alegria abrandamos a velocidade na passagem pelo destacamento K3 (antiga tabanca de Saliquinhedim) e, recebida a ordem do comando de Farim, apagamos os sorrisos e aí vamos em direcção ao sul, andamento moderado. Agora vamos todos motorizados e é sempre pelo alcatrão, pelo menos não haverá minas sob os pneus (o que não significa que a estrada não possa estar armadilhada num sítio qualquer).

Seremos, porém, os campeões do infortúnio. A pouquíssimos quilómetros do K3, de súbito, estoira nova emboscada. As primeiras roquetadas despoletam-na e limpam as viaturas da frente: o primeiro Unimog é destruído e o seguinte incendiado. Há um homem que acciona uma mina com o peito. Para se abrigar das balas das Kalashnikov que entretanto começaram a cantar à nossa volta, lança-se para trás de um “baga-baga” (rijo, à prova de bala, construído por formigas térmitas, chama-se morro de salalé, em Angola), e os fragmentos do seu corpo são espalhados por um diâmetro incalculável. Durante largos minutos há tiroteio de armas ligeiras na frente da coluna. Os homens das viaturas não atingidas, entre os quais nos incluímos, saltam para as bermas e tentam também reagir com prontidão. Seguimos sensivelmente a meio e não avistamos os atacantes, embora algumas balas vão zunindo muito próximas. O IN retira-se e há pessoal das NT que tenta a perseguição, mas é mandado parar. A artilharia do destacamento K3 bate a zona do lado direito da estrada durante alguns minutos. Um Unimog passa a toda a velocidade em sentido contrário, na direcção de Farim. Leva feridos. Um deles, sentado no banco de espaldar e amparado por dois camaradas, leva o joelho garrotado, perdeu a perna daí para baixo.

Destacamento do K3

A coluna recua até ao destacamento para se reorganizar. A zona de onde os combatentes do PAIGC lançaram o ataque continua a ser bombardeada pela nossa artilharia. Ao longo da estrada, em frente ao K3, esperamos pelo Alouette que vem evacuar os feridos. Depois do helicóptero carregar as macas e levantar voo a coluna/auto põe-se de novo em andamento. Quando passamos pelas viaturas destruídas, ainda estão a fumegar. Atingimos Mansabá, vamos para Mansoa na expectativa de novos contactos com o IN, se nada se passou no enfiamento do Mores é porque talvez nos safemos… Safámo-nos!

Uma coluna na estrada Mansabá-Farim

Com a alegria estampada nos rostos chegamos ao COMBIS, em Brá (não longe do quartel dos comandos e a pouca distância da Base Aérea e Aeroporto de Bissalanca), por volta às 17 horas. Aqui sim, o nosso péssimo aspecto mete dó aos transeuntes, assusta as pessoas com quem nos cruzamos. Olham-nos com ar espantado, como se vissem lobisomem! As próprias caras dos camaradas da nossa companhia se dividem entre a alegria de nos ver e a perplexidade.

O pessoal marado vem ao nosso encontro, sai da caserna, da secretaria e vem-nos abraçar efusivamente, andamos de ombro em ombro, não menos eufóricos. O furriel Quaresma – o vagomestre a cujos manjares devíamos tamanha elegância! – fica admirado por me ver à sua frente:

– Estás vivo? – pergunta-me.

– O que te parece? Não sou nenhum fantasma!

Confessa que no jornal da caserna o meu nome integra o rol dos que tinham sucumbido, já quase me tinham cantado a missa do sétimo dia, quem morreu afinal?, no COMBIS ninguém sabia ao certo. Chica, como se as transmissões não funcionassem! Esclareço-o das baixas e pergunto pelo Alexandre Castro, o nosso mangas-de-alpaca, que afinal está de férias na sua Amadora. Ainda assim, vou direito à secretaria, ao primeiro-sargento António Fagundes Neves, para ver se tenho correio. Diz-me “lá se safaram de mais uma” e passa-me um braçado enorme de cartas, jornais e revistas.

Antes do banho, cubro a manta da cama com a correspondência acumulada, que inclui cassetes recebidas dos meus amigos Acácio, Cipriano e Fernando, que em Lisboa faziam o favor de me gravar as últimas novidades, incluindo os discos que eu recebia regularmente de Londres (através da Tandy’s Records) e cuja audição era uma ajuda preciosa para aguentar a difícil passagem do tempo. Leio em diagonal as cartas mais recentes e apercebo-me do que já esperava: uma grande preocupação familiar pelo meu inabitual silêncio e pelo meu estado de saúde.

À porta do quarto surge um ordenança que me vem convocar para ir ao segundo-comandante do COMBIS (o comandante está ausente, também de férias). Fui assim mesmo, botas sem meias nem atacadores, as pernas das calças transformadas em badanas, totalmente descosidas da braguilha para baixo. Apresento-me no gabinete do nosso Major que me mira de alto a baixo, me pede para lhe contar o que se passou nestes dias e qual o estado do pessoal em termos psicológicos. Faço o meu resumo, mais ou menos cronológico, digo o que penso com algum azedume e entrego-lhe o papelucho que havia rabiscado em Farim, supostamente o croquis dos mortos que tivemos de deixar em Guidaje. Diz-me que por agora posso ir descansar e que no dia seguinte voltará a chamar-me para me pedir um relatório escrito e mais detalhado (o que não virá a acontecer).

Dirijo-me ao banho. Mando as calças para o lixo. Dispo o dólmen. De tão esticado e teso, pego-o pelo colarinho e pouso-o no chão. Fica de pé, como se o enfiasse num cabide de alfaiate! Não há a água quente que me apetecia (como seria bom um longo banho quente, de imersão), porém, a água que escorre do duche é tépida e nem sei quanto tempo fico a desfrutá-la. Enquanto isso, lavo o quico com champô, até desaparecerem as principais manchas de suor e de todos os merdelins. Aproveito para não desfazer a barba e andar assim mais um tempo (desde que começou a crescer-me que a uso crescida, salvo agora, por impedimento do RDM).

Antes do sol se pôr, já eu, o Ângelo e o Cruz tínhamos apanhado boleia para a cidade e estávamos frente ao forte da Amura (perto do cais de Bissau) a tirar fotografias, aguardando pelo furriel famalicense José Lopes Silva, que ficou de se encontrar connosco na 5.ª REP (esplanada do Café Bento, conhecido pela abreviatura de “5.ª Repartição”) e depois irmos à Cervejaria Solmar petiscar uma valente mariscada! Seguiu-se um alguidar de ostras e uma travessa de camarões no Pelicano e, devido à quantidade de líquidos ingeridos, já não me lembro o que foi o resto!

Fatal como o destino, enquanto caminhamos pelas ruas da capital encontramos sempre alguém conhecido, ou por ter estado connosco na recruta ou na especialidade, por ser conterrâneo, etc., e enquanto esclarecemos perguntas sobre Guidaje recebemos péssimas notícias de uma Gadamael cercada e com inusitado número de baixas. De Guileje também se fala, mas pouco ou nada resta para contar, salvo alguém ter garantido que o major Coutinho e Lima, ex-comandante do COP 5 e que ordenou a retirada em tempo útil de Guileje, andaria agora em Brá a jardinar no quartel, por estar detido preventivamente pela cegueira do governador. Outro alguém contra-diz-que-disse que o major estaria mesmo preso por ordem de Spínola, – e não simplesmente com detenção num quartel, – e que tal gesto provocara uma onda de indignação entre unidades do exército, em particular, as de Gadamael, Guileje e Cacine.


1 a 12 de Junho

Para os que ficaram em Guidaje os dias não passaram a ficar fáceis. Depois da Ametista Real e da operação que nos permitiu romper o cerco e regressar às origens, foi notório o abrandamento das flagelações. Só que a ligação ao mundo exterior manteve-se muito arriscada. O pessoal de Binta e Nema/Farim não teve melhor sorte, alinhando em patrulhas a colunas para cima e para baixo. A CCav 3420 permaneceu em Guidaje mais alguns dias e depois ainda ficaria em Binta até final do mês. As operações de patrulhamento aumentaram bastante em toda a região. Binta passou mesmo a ser o núcleo centralizador das mesmas, recebendo bastantes reforços durante o mês de Junho, sobretudo a 3.ª Companhia do BCaç 4514 e, já em Julho, a CCaç 4745.

Agora o IN diversifica os alvos, reforça as linhas de penetração fronteiriças de Lamel e Satitó e flagela aquartelamentos e aldeamentos em redor, dando “água pela barba” às companhias do BCaç 4512. A tenebrosa picada de e para Binta continua problemática, contudo, já não é o que era. Percorrer aquele caminho é navegar num mar de estilhaços, de invólucros de munições de todos os calibres e de viaturas esventradas. E, claro está, de ossos, que em boa parte dos casos ninguém sabe já a quem pertenciam, serão de “soldados desconhecidos” para todo o sempre. A diversidade de percursos rasgados entre Binta e Guidaje para contornar campos de minas era tamanha, que a picada tinha extensões que mais parecia uma auto-estrada de várias faixas, construída, apesar de tudo, com alguma facilidade, graças à constante planície do terreno.

A partir de Janeiro de 1974, após longo trabalho de desminagem, pessoal diverso de Engenharia e o BCaç 4512, com um reforço do BCaç 4516, iniciariam a abertura da estrada (verdadeira) Binta/Guidaje, quase em linha recta. No 25 de Abril de 1974 a obra estava no Cufeu, ao lado da bolanha de más memórias...

Só a 12 de Junho a operação de rompimento ao cerco de Guidaje é dada por concluída. O Tenente-Coronel Correia de Campos, comandante do COP3, participa numa coluna e vem com a sua comitiva para Binta, onde durante este mês se concentram as atenções. Calcula-se que o IN, depois de obrigar ao deslocamento de tantos efectivos das NT para proteger Guidaje, e após ter forçado ao abandono de Guileje, concentra agora o seu potencial atacante à volta de Gadamael, tendo por objectivo tomar a aldeia.

Para nós, em Brá, seguem-se dias tranquilos. Quem mandava quis-nos dar “descanso”, – merecidíssimo, digo eu, embora igual merecimento devesse ser extensivo aos camaradas das outras unidades (sei bem que isso é impossível)! Brinda-nos com um punhado de semanas sem escala para fazer colunas, disso beneficiam também os dois pelotões da Companhia que não “alinharam” em Guidaje. Pessoalmente, creio que só voltei a Farim no início de Julho, antes da Companhia abalar para Bafatá. E recordo-me que pouco antes de alcançar o destacamento K3 ainda jaziam à beira da estrada, no local da emboscada de 31 de Maio, os Unimog completamente queimados. Foi nesses dias que aproveitei para conhecer Bissau mais em pormenor, visitando bairros a pé, o mercado de Bandim, etc..
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6211: In memoriam (40): Pequena Homenagem ao Piu, da CCaç 3520/Cacine (Daniel Matos)

Vd. postes da série já publicados:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

1. Continuação da apresentação deste documento pormenorizado dos trágicos acontecimentos de Guidaje em Maio de 1973, de autoria do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74), enviado ao nosso Blogue em 6 de Março de 2010:



Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte X

Daniel de Matos


Os Dias da Batalha


29 de Maio

Pelo menos um héli-canhão e logo a seguir dois Allouette III surgem de supetão sobre as casas e, perante o espanto geral, aterram no largo a que chamamos parada. É uma surpresa para nós, obviamente que não para o tenente-coronel, que antes colocara de prevenção o pessoal de armas pesadas, perspectivando-se, assim, que algo estivesse para acontecer. E aconteceu: as aeronaves trazem a bordo o comandante-chefe, – General António de Spínola. Vêm, por certo, em voo rasante à copa das árvores, que a baixa altitude foi o modo encontrado pela FAP para reduzir o risco de se fragilizar perante o moderno equipamento antiaéreo da guerrilha.

O General teria vindo certificar-se das condições operacionais, do estado psicológico do pessoal e, sobretudo, controlar a execução das directivas traçadas para outra grande operação que vise pôr fim ao isolamento de Guidaje, que permita evacuar feridos e tratar do reabastecimento de géneros, medicamentos, até mesmo de urnas, para o que der e vier!... E essa operação, cuja parte principal pode iniciar-se hoje, há alguns dias que estará a ser preparada a partir de Farim/Nema e Binta, onde uma concentração imensa das NT se iniciou no dia 26: aí estão a 38.ª Companhia de Comandos (“Os Leopardos”, novamente), um grupo especial de Milícias, quatro Grupos de Combate do BCaç 4512, uma Companhia africana e mais duas Companhias inteiras, uma de Infantaria e outra de Cavalaria (a CCav 3420, – "Os Progressistas" – comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, que foi enviada para este tormento já depois de ter a comissão cumprida em Bula e em Mansoa e de estar a aguardar embarque para regressar à metrópole; em vez de seguir para o Cumeré, foi para os Adidos requisitar novas armas).

Não me recordo quanto tempo se deteve o General Spínola nesta passagem por Guidaje. Não deverá ter sido muito, até porque a presença dos helicópteros estaria, decerto, a ser notada do lado de lá da fronteira, as próprias condições do terreno deixavam-nos demasiado expostos no caso de o IN arriscar qualquer investida. Isto, embora ouvíssemos o roncar constante da aviação, lá nas alturas, sobre as nuvens, a impor o seu respeito. Mas recordo-me que todos fomos a correr sacar aerogramas à Secretaria, (conhecidos por “bate-estradas”), pois estava ali uma possibilidade de enviarmos correio às famílias, mentiras escritas à pressa, do tipo “espero que te encontres de boa saúde que eu fico… bem”, quer-se dizer, alvoroçar pais e namoradas com desgraças para quê?!! Para muitos, eram expedidas as primeiras cartas após várias semanas sem receber ou enviar mensagens de e para o exterior. A falta de notícias e de comunicações foi terreno fértil para a propagação do boato. Na parte que me toca, vim a apurar depois do regresso ao COMBIS que na própria Companhia havia quem já me tivesse dado como morto; ao invés, em Lisboa, perante o meu prolongado e inabitual silêncio, o meu pai e a minha mulher (casara-me, nem havia dois meses) andam de repartição em repartição tentando saber se algo me terá acontecido. Cedo desistem, mal um primeiro-sargento anafado lhes garantiu que eu não consto na listagem mecanográfica dos óbitos, que sou obrigado pelas NEP a enviar notícias à família e que, se não o fizer, ainda “leva mas é uma porrada”! – Quer que participe? – perguntou a criatura… à vez, esperando pela disponibilidade da esferográfica do cabo artilheiro que foi circulando de mão em mão, lá gatafunhámos meia dúzia de linhas com o remetente SPM 2158 (era o número do Serviço Postal Militar, espécie de código postal da companhia)…

Os Allouette III levantam voo e levam Spínola e comitiva de volta para Bissau. Transportam para o HMB os feridos que mais necessitam de evacuação. “Nossos”, seguem o Igreja e o Bernardo Monteiro, cujo ferimento no joelho não é de grande gravidade, mas faz-se à boleia com um choradinho bem urdido e consegue o lugar.

Por volta das cinco da madrugada os muitos militares concentrados em Binta tinham começado a percorrer o itinerário para Guidaje. A progressão no terreno, como sempre é extremamente cuidadosa e lenta. Ainda assim, às dez horas é accionada pelo soldado-condutor auto rodas António Luís do Couto Toste Parreira (CCaç 3414) uma anticarro armadilhada que o desfaz, cega um furriel e provoca dois feridos ligeiros. O pessoal do Batalhão de Farim mostra-se particularmente abatido, é também reincidente naquele percurso, onde já muitos camaradas caíram por terra nos combates de 9 deste mês.

O estado de espírito está de tal maneira que um pelotão, que foi incumbido de transportar para Binta (para posterior evacuação) os feridos e o morto na mina anticarro, devendo depois regressar ao local de partida, já não está para isso e os trinta homens entram em desobediência, ficam-se por Binta com os dois Unimog, à espera do desfecho da crise…

Quem comanda, procurando evitar novas minas, decide-se a avançar em corta-mato, rasgando outros trilhos e outra picada, por onde o arvoredo permita a passagem das viaturas. À frente vai o “caterpillar” D6, pronto para derrubar capinzal, árvores e o que apareça pela frente. A grande distância umas das outras, seguem as Berliet só com os condutores a bordo, sempre protegidos por sacos de areia.

Entretanto, a Companhia de Pára-quedistas que chegou no dia 23 (CCP 121) tinha partido de Guidaje no encalço da coluna, levando consigo os comandos (chefiados pelo Capitão Raul Folques, ainda a braços com ferimentos sofridos na investida contra a base de Koumbamory, no Senegal). Para não variar, detectam minas. No entanto, optam por não provocar o rebentamento, preferindo deixá-las balizadas. Ouvem duas rajadas, todavia o som vem de longe e ficou-se por aí, nem se deu por que alguém tenha ripostado. Já perto de atingirem o Cufeu, então sim, rebenta uma emboscada do lado oposto da bolanha, contra o pessoal da coluna que progride no terreno de Binta para cima (as Companhias que atrás citei). Um grupo que foi calculado em 120 guerrilheiros desferiu de rompante um ataque impetuoso, batendo a zona da retaguarda da coluna com Morteiros 82. Os combatentes do PAIGC fizeram várias investidas durante mais de uma hora. Alguns homens vergados pelo cansaço, pela insolação e pela sede, (desde madrugada que mais não ingeriram do que um cantil de água,) desmaiaram e geraram obstáculos de novo tipo à progressão.

A longuíssima coluna cruza-se com os pára-quedistas da CCP 121 que já irão pernoitar a Farim (e que amanhã partirão de regresso a Bissau); e encontra-se com os fuzileiros que estavam retidos há dias e que vieram ao encontro da coluna para reforçar as hostes.

Na região de Ujeque o pessoal ainda veria rebentar outra mina debaixo dum Unimog 404. Um soldado milícia, ao saltar para o lado, ficou sem uma perna por pisar outra mina antipessoal. Sofreram mais um curto ataque às dezoito horas, sem consequências, chegando exaustos a Guidaje, cerca das dezanove, quando anoitecia. A extensa coluna atingiu o objectivo mas o preço foi alto: dois mortos (o referido condutor e o soldado atirador Domingos Martins da Silva Lopes, do BCaç 4512), e ainda vários feridos.

Temos entretanto a notícia da morte do soldado Jorge Gonçalves, que agonizava na enfermaria e não resistiu aos ferimentos. É o quarto morto da Companhia nesta operação e a sexta vítima mortal dos camaradas que a morteirada surpreendeu no abrigo do obus.

Ainda o funesto abrigo do obus, que ficou para sempre nas nossas retinas e cuja memória só desaparecerá quando chegar a vez de nós nos apagarmos. Na sua “Crónica dos Feitos por Guidaje” (publicada no livro “Capitão de Abril – Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril – Depoimentos” (Editorial Notícias) o capitão Salgueiro Maia referiu-se também a esse abrigo (página 71), descrevendo-o da seguinte maneira:

“Nas minhas visitas pelos escombros, desci ao abrigo de artilharia, onde houvera quatro mortos e três feridos graves. O abrigo fora atingido em cheio por uma granada de Morteiro 82 com retardamento; a granada rebentou a meio de uma placa feita com sibes; o resto do abrigo ficou totalmente destruído; o chão tinha um revestimento insólito – consistia numa poça de sangue seco, de cor castanha, com 2 a 3 mm de espessura, rachada como barro ressequido. O odor envolvente era um pouco azedo, mas sem referência possível; o sangue empastava os colchões e as paredes. A minha preocupação era encontrar um colchão. Depois de dar a volta aos oito que lá se encontravam, escolhi o que estava menos sujo. Tirei-lhe a capa, mas o cheiro que emanava de dentro era insuportável; mesmo assim, consegui trazê-lo para a superfície, onde ficou a secar debaixo da minha vigilância, para não ser capturado por outro. Depois de bem seco e com os odores atenuados, levei a minha conquista para a vala onde, para caber, tive de o cortar ao meio, fazendo bem feliz o meu companheiro do lado, que, sem esforço, ganhou um colchão, e sem saber de onde tinha vindo”.

Recorde-se, a propósito dos odores, que entre a noite da destruição do abrigo e a chegada do capitão Salgueiro Maia a Guidaje decorreram pelo menos quatro a cinco dias, até porque não deve ter ido direito ao abrigo logo no primeiro dia… No seu texto ou no meu relato há pequenas contradições, traições da memória que pouco interessam hoje em dia. Contudo, referencio-as: pelo que me recordo de ouvir (todos temos uma costela de perito), e pelo que já li algures, terá sido uma granada de Morteiro 120 a perfurar os troncos de sibe que cobriam o tecto e a destruir o abrigo, e não de Morteiro 82; dificilmente haveria 8 colchões dentro do abrigo, pois mal cabiam as 4 camas existentes (sobrepostas duas a duas, em camarata); o número de mortes que é referido (4) é o dos que tiveram morte imediata (Machado, Telo, Ferreira e um soldado africano, havendo a acrescentar o Fernandes e o Talibó Baio, que faleceriam poucas horas depois (mas já no dia 26) e o soldado Gonçalves (a 29); nunca consegui apurar quem era nem como foi enterrado o segundo soldado africano que se tinha refugiado no abrigo. Com efeito, na altura da exumação dos corpos, em 2009, apareceram onze ossadas no “cemitério” cujo croquis só indicava dez, sendo que o décimo-primeiro (identidade desconhecida), segundo os arqueólogos pertenceria a um indivíduo “africano”. Mas a dedução de poder tratar-se do mesmo indivíduo pode ser precipitada.

Pela quantidade de homens recém-chegados, e com a “fomeca” que traziam, foi grande a azáfama em torno do refeitório, onde não cabiam todos ao mesmo tempo, para que lhes fossem servidas as tradicionais salsichas. Aquela grande concentração é um risco enorme, já que uma simples granada que caia no local, pela certa causará uma mortandade! São mandados dispersar pelos quatro cantos de Guidaje onde devem aguardar que alguém os chame. Não têm tecto onde dormir, os edifícios estão deveras danificados ou completamente destruídos, e os camaradas “residentes” (sitiados) já transformaram a generalidade das valas em dormitórios. Porém, aqui a solidariedade não é palavra vã e para todos se inventará um cantinho onde repousem. Toda a gente se “encolhe” por forma a arranjar novos espaços. Não restam colchões disponíveis para ninguém, cada qual desenrasca-se consoante a imaginação.

Cerca das 21 horas, às cinco de cada vez, começam a cair morteiradas bem no centro do quartel. E não parecem umas granadas quaisquer aquelas que se abatem sobre as nossas cabeças: são de Morteiro 81, isto é, das que o IN conseguira sacar das viaturas de reabastecimento que se imobilizaram e perderam na picada de Binta, (sacadas antes do Fiat do capitão José Manuel Pinto Ferreira arrasar o que restava delas e da carga, no passado dia 9)…


30 de Maio

Ou vai ou racha! Se não for desta, quando será? Somos uma multidão autêntica neste quartel sobrelotado. Fazem-se os preparos para a partida, sacode-se alguma poeira das armas, espreitam-se os canos para ver se têm sujidade, distribuem-se bolachas e latas de sumo que devem ter sido trazidas pelo pessoal chegado ontem, à noitinha. Caramba, com tanta gente não há motivo para descrenças e ansiedades, vamos a eles! Apesar da partida dos “páras” rumo a Farim, entrou aqui o equivalente a quatro companhias… Com Guidaje a abarrotar, a anarquia é total, ninguém sabe quem manda em quê e até para fazerem as suas necessidades há homens a recorrer às proximidades da rede de arame, ignorando quem passa e, do lado da tabanca, ainda passam mulheres e crianças que nunca tiveram a oportunidade de fugir. Contas redondas, deverão estar no interior do aquartelamento entre oitocentos e cinquenta e mil homens. Muitos ficarão em reforço do quartel, mas a maioria esmagadora vai participar na operação.

Há mais de meia hora que arrancaram os homens e viaturas da frente e parece que está tudo na mesma, centenas de outros em espera. Nós e os companheiros da tão afortunada coluna chegada no dia 15, havemos de partir enquadrados com fuzileiros. Para mim é bom sinal, gosto de os ver na mata, inspiram confiança e é disso que precisamos, em primeiro lugar. Sou chamado por um capitão (pela idade e rosto carregado tem ar de ser capitão e do quadro) que me vem apontar o nosso posicionamento na coluna e lembrar da necessidade de haver grande disciplina, manter as distâncias e uma atenção redobrada mal saiamos a porta de armas. Diz-me também que o nosso homem das Transmissões deve ser a minha sombra, ande eu por onde andar e que não devo hesitar em informar o Comando se detectar qualquer anormalidade. Informa-me ainda que iremos utilizar o percurso que eles rasgaram ontem à vinda, talvez o IN não tivesse tempo de miná-lo durante a noite. Certificamo-nos que o corpo do camarada Jorge Gonçalves está sobre uma viatura, queremos levá-lo connosco para Bissau.

Passa provavelmente outra meia hora aborrecida e lá chega a nossa vez de nos deitarmos ao caminho. A marcha, como seria de prever, é extremamente lenta e verificam-se muitas paragens. Até parece milagre não se ter esgotado o combustível das viaturas durante estes dias e agora, com tanto pára/arranca, horas a fio. Embora por vezes se apeiem com mil cuidados nos sítios que vão pisar, mas provavelmente para desentorpecer as pernas, seguem nas Berliet o alferes Cruz, o furriel Ângelo Silva, o soldado Vieira mais os que foram feridos nas emboscadas (Abreu e Gomes dos Santos,) e ainda duas outras praças desfeitas em suor e febre.

Há um fuzileiro que tira do bolso do dólmen uma embalagem de Coramina e, como quem oferece um cigarro, pergunta-me se quero uma. Aceito e agradeço. Nunca percebi muito bem para o que serviam mas sempre cravei muitas das enfermarias, gostava de ir chupando aquelas pastilhas quadradas quando andava no mato, dizia-se que eram estimulantes… Mais do que elas, só as castanhas de cola, que muitos soldados milícias mascavam “para dar força”, como um estupefaciente, e cujo sabor acre eu também gostava de ruminar, aquilo partia-se, triturava-se, mas nunca chegava a desfazer-se na boca, uma castanha dava para a viagem toda e só se cuspia no fim.

Já nem faço ideia de há quantas horas estamos no mato, felizmente que sem novidade, até que nos deparamos outra vez com o cenário dantesco dos mortos espalhados pelo caminho, em diferentes estados de decomposição. O mais próximo de mim já nem deita cheiro (ou terei eu perdido o olfacto?), é só um esqueleto com cinturão, botas e uns poucos farrapos pretos que restam da farda. Por que será que nunca foram removidos? Será por já nem se reconhecer a identidade, ou pelo grande risco de poderem estar armadilhados?

O pessoal do BCaç 4512, levando consigo uma equipa de sapadores, acabaria por ir ao local muito mais tarde, em Agosto de 1973, quando a zona já não oferecia os mesmos perigos. Procedeu à remoção de três desse corpos.

Com efeito, a coluna é muito extensa, não consigo avaliar a dimensão. Prolonga-se certamente por mais de dois quilómetros, tal é o número de tropas e as distâncias que nos separam uns dos outros. Não é fácil avançar-se assim pelo mato fora, muito menos com celeridade. Há uma paragem prolongada, excessivamente prolongada, que nos põe no pensamento a ideia de que uma emboscada estará para chegar… Ou então, surgiram problemas lá na frente, encontrados pelos picadores. Desesperamos de tanta espera, aumenta o stress. Ninguém dá explicações. Sabe-se, finalmente, que um dos homens da cauda da coluna (presumo, sem ter a certeza, que da Companhia do capitão Salgueiro Maia) teve a infelicidade de ser atacado por um enxame de abelhas e, bastante mordido no peito (levaria o dólmen aberto), com a avidez da fuga deixou ficar para trás a G3.

Uma solução para afugentar os insectos seria lançar granadas de fumo, mas com o peso do armamento ninguém estava para as carregar. E mesmo que as levassem, um fumozinho que fosse deitado ali denunciaria a nossa localização e seria a “morte do artista”!... Bem, a nossa presença no mato já o IN conheceria há uma infinidade de tempo, mas não havia necessidade de lha indicarmos com tanta precisão…

O Comandante da coluna, ao ter conhecimento do sucedido fez enviar uma equipa lá atrás para recuperar a arma, só que os insectos voltaram à carga e estabeleceu-se confusão e revolta, opiniões de que mais valia perder a G3 do que sujeitar tantos homens a arcar com outra emboscada “nos cornos”, ainda por cima na zona que nos causava uma carga psicológica acrescida devido aos insucessos passados. O soldado da espingarda perdida ficou com um número significativo de inchaços no corpo. Caiu na asneira de despir o dólmen e tentar afugentar ou esmagar as abelhas que se infiltraram por dentro e foi pior a emenda que o soneto. Estas mordeduras em quantidade têm efeitos idênticos aos das queimaduras na pele, geram a sua asfixia, pode ser fatais. Por fim, recuperou-se a arma depois de angustiante seca, ali nas barbas do Cufeu, e lá prosseguimos lentamente a nossa marcha. O inimigo a causar-nos baixas, desta vez, nem é o PAIGC, é a própria natureza a molestar-nos, parece que até os insectos repudiam a nossa presença…

A bolanha e a casa amarela ficam para trás. Começamos a respirar de alívio ao avistarmos Binta, ao entrar-nos nos ouvidos os ruídos da água do Cacheu. Há agora que esperar por viaturas vagas que nos transportem até Farim. Chega a vez dos nossos pelotões subirem para as Berliet. Ao vermos as casas da vila e a jangada que no dia seguinte nos poria na outra margem, rumo a Bissau, soubemos o que é um sonho transformado em realidade. Já tínhamos desacreditado que este cenário fosse possível.

Os populares olham desconfiados para o nosso aspecto miserável, mas nesta região já não deve ser nada a que não estejam habituados. Rumamos directamente aos balneários e sanitas, fazemos filas para nos dessedentarmos e para um retemperador duche e, claro está, voltamos a vestir a mesma roupa imunda, o mesmo calçado. A seguir, o pessoal vai direito ao rancho, nem que fosse um chispe enlatado viria mesmo a calhar, nem sei como conseguimos evitar os suicídios quando, cúmulo dos azares, servem aos soldados arroz com… salsichas (embora aqui fossem grelhadas)! Na messe temos melhor sorte, mas não me recordo da ementa do dia. O que nos apetece mesmo é sair do quartel e dar um giro à volta das casas civis, ver pessoas diferentes, não fardadas, desanuviar, procurar um bar, uma tasca, mas nestas figuras e sem dinheiro para nada, não iremos longe.

Empanturramo-nos de cerveja e mancarra, tudo à conta dos vales que mais tarde aparecerão na nossa Companhia para nos serem descontados no vencimento. Se bem me lembro, o salário de um furriel miliciano não atingia os seis contos. Em geral, e por opção, a parte maior era enviada para nossas casas ao cuidado de familiares, em escudos portugueses, e a outra era o que recebíamos em escudos guineenses (pesos). Julgo que, em geral, ficávamos na Guiné com cerca de dois mil pesos que, estando-se no mato, davam para o tabaco, despesas de bar e pagar à lavadeira. Bem, em Bissau, umas refeições fora e qualquer compra extraordinária, já justificavam o recurso aos “valores declarados” que mandávamos vir da metrópole (envelopes azuis, com notas lá dentro, que depois cambiávamos aos que tinham a habilidade e o “savoir-faire” para negociar com isso).

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Nestes dezasseis ou dezassete dias em Farim e Guidaje (aqui, com o bar à míngua de produtos, excepto cigarros), a cada um de nós (sargentos, oficiais) foi descontado em média o equivalente ao nosso salário “guineense” de um mês, embora na secretaria tenham dividido os descontos por duas ou três mensalidades! O que seria se comêssemos!?
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973