Guiné > Região controlada pelo PAIGC, possivelmente na Região de Tombali, no Cantanhez > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas (leia-se: sob controlo do PAIGC) > Novembro de 1970 > Foto nº 45 > Trabalhadores (inevitavelmente balantas) no cultivo do arroz. (Como é sabido, o sul da Guiné era tradicionalmente, e ainda é, o grande celeiro do país).
Sabemos hoje que parte da população controlada pelo PAIGC vivendo dentro do território da Guiné, nas chamadas regiões libertadas (estimada em 80 mil pelas autortidades portuguesas) tinha que ser reabastecida, em arroz, alimentação-base, por não ser autosuficiente. A Inter-Região Sul (à excepção da Frente Bafatá/Gabú Sul) era auto-suficiente na produção de arroz, enquanto a Inter-Região Norte era deficitária.
O fotógrafo norueguês Knut Andreasson e antiga deputada e ex-Presidente do Parlamento sueco, Birgitta Dahl, juntamente com uma delegação sueca, visitaram, a convite do PAIGC, as regiões libertadas na Guiné-Bissau, em Novembro de 1970. Nessa visita tiveram a oportunidade de falar com Amílcar Cabral, na sua casa, entre a sua gente, e obter um conhecimento mais aprofundado da luta pela independência.
Andreasson e Dahl fizeram mais tarde um livro, em sueco, sobre a sua histórica viagem. O Andreasson, por sua vez, fez uma exposição fotográfica com o objectivo de informar a opinião pública dos países nórdicos sobre a luta do PAIGC.
Não só a exposição, mas como a maioria das fotos deste período foram, posteriormente, doadas ao INA - Instituto Nórdico para a África [NAI - Nordic Africa Institute] pela viúva de Andreasson, entretanto falecido . A exposição foi doada à Fundação Amílcar Cabral pelo INA e apresentada por Birgitta Dahl, ex-presidente do parlamento sueco, por ocasião da celebração do 80º aniversário do nascimento do Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.
As fotografias tiradas por Knut Andreasson mostram a vida do dia-a-dia das populações e dos guerrilheiros do PAIGC, nas chamadas regiões libertadas. No sítio do NAI, diz-se expressamente que, sendo a Guiné um intrincada rede rios e braços de mar, "a canoa é um importante meio de transporte nestas regiões, tanto mais que os portugueses fizeram explodir (sic) a maior parte das pontes existentes"...
Não há, contrariamente às fotos do húngaro Bara, qualquer alusão à utilização de napalm contra as populações civis, por parte da Força Aérea Portuguesa.
Uma das célebres fotos de Bara István, o fotógrafo húngaro que esteve 'embebed' com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70. (Hoje é um vulgaríssimo fotógrafo comercial). Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se os efeitos do napalm. É difícil provar ou negar a sua autenticidade. Presume-se que seja uma vítima dos nossos bombardeamentos.
(A foto ilustra um dos poemas do nosso José Manuel Lopes, que está neste momento a atrevessar a Gâmbia, de regresso a casa, com mais malta da Expedição Humanitária 2009 que foi á Guiné-Bissau). Não se diz exactamente onde foi tirada. A legenda (em húngaro) é a seguinte: Bara István: Napalm áldozata [vítima de napalm, traduzindo para em português].Guinea-Bissau, 1969. Julgamos tratar-se de uma imagem copyleft... De qualquer modo, reproduzimo-la com a devida vénia e agradecimento ao autor e citando a sua página (comercial). Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)
Retomando o sítio do INA - Instituto Nórdico para a África, faz-se igualmente referência à histórica taxa de analfabetismo ("mais de 99% da população era analfabeta, quando a luta começou em 1963"), daí a importância atribuída pelo PAIGC à educação. Várias fotografias mostram escolas no mato, tanto para crianças como para adultos adultos.
É referida então "a existência de 75 dessas escolas, sendo uma das primeiras a Escola Piloto em Conacri". É referido também o novo manual escolar, financiado por estudantes noruegueses e impresso na Suécia (*). As imagens, disponíveis no sítio da NAI, mostram também aspectos da organização sanitária do PAIGC e da vida comunitária, de resto em maior núemro do que as fotos de guerra...
Recorde-se que o Nordic Africa Institute é uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala.
Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI ou INA,. dada por escrito ao editor) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda) (LG)
1. Mensagem do
José Belo, ex-Alf Mil, CCaç 2381, Guiné/68-70/, Ingoré-Buba-Aldeia Formosa-Mampatá-Empada, hoje Cap Inf Ref, na diáspora, na Suécia (**)
[Não possuímos infelizmente qualquer foto do José Belo]
(Peço desculpas aos camaradas por erros ortográficos resultantes de dislexia, que, aparentemente, se vai agravando com o passar doa anos, não tendo o meu computador sueco possibilidades de correcção automática da língua portuguesa).
[Revisão e fixaçãop do texto, bem como bold, a cor: Editor L.G.]
Surpreendeu-me que um senhor jornalista português necessite de esclarecimentos quando descreve a guerra colonial em generalidades incorrectas e falaciosas. Não sei a idade ou experiências de vida do sr. jornalista (***), e tenho que reconhecer que, afastado há já muitas décadas do meu querido Portugal, talvez me seja difícil de compreender determinadas "evoluções" descritivas.
Sou um, entre milhares, dos que combateram na Guiné ao lado de Camaradas de todos os recantos de Portugal, e sem nunca esquecer os Guineenses que envergavam com orgulho fardas portuguesas (estes não só ao nosso lado, mas muitas das vezes, literalmente à nossa frente!).
Como tão bem escreveu, na Tabanca Grande, Diana Andringa, não se deve ferver em pouca água, ou perder perspectivas de fundo. Mas não é fácil perante o simplismo do sr. jornalista. Na guerra colonial, como infelizmente em todas as guerras, existiram massacres. De ambos os lados. E que se não esqueça Angola/61! (****). E, apesar de qualquer massacre ser sempre um massacre a mais(!), se tivermos em conta os três teatros de operacões, o número de forças em presença e a duração do conflito, foram miraculosamente poucos!
A esmagadora maioria de nós, os que sacrificaram a juventude em guerra de antemão politicamente perdida, procurou ajudar de alma e coração as populações locais. Como felizmente muitos ainda estamos "vivos", os srs. jornalistas que não saibam...tenham a humildade de perguntar!
Se me desculparem o "pessoalismo", recordo o ano de 1980, quando ainda havia um relativamente grande interesse por parte da sociedade sueca para com os acontecimentos relacionados com Portugal da guerra colonial e de Abril.
Fui procurado por um grupo de jornalistas suecos que, sabendo ter eu sido o Oficial de Segurança e representante do MFA no Depósito Geral de Material de Guerra de Beirolas, procuravam alguns detalhes de histórias relacionadas com acontecimentos dos anos 74/75 passados...do outro lado dos espelhos!
Um deles, representante de um conhecido jornal de esquerda do Norte da Suécia, Norlandsk Flamma, perguntou-me com ironia evidente:
- Se eram assim tão contra a política governamental porque é que cumpriam o serviço militar em África e não desertavam em números substanciais?
Confesso que, no momento, senti vontade de lhe explicar que tendo passado todo o PREC numa guarnição em plena cintura industrial de Lisboa, tinha mais do que um curso completo em grupos, grupelhos e tudo o que de esquerdalhada se tratava quanto a perguntas provocadoras!
Mas como explicar-lhe o facto de, desde o nascimento, nos colocarem sobre os ombros os tais quinhentos anos passados de colonialismos épicos?
Como explicar que desde o Minho aos Açores, todos tínhamos Bisavós , Avós, Pais, Tios Irmãos, Primos, Amigos, conhecidos que cumpriram o seu servico militar algures no império?
Como explicar que o meu Avô, Republicano e anti-salazarista convicto, se orgulhava de ter defendido o Norte de Moçambique aquando dos ataques Alamães da primeira guerra mundial?
Como explicar que o meu Pai estivera voluntariamente como médico no Norte de Angola aquando dos massacres de 61?
Eu, que pretenci aos democratas do antes do 25 deAbril, … desertar? Quando todos os que conhecia com idades próximas da minha se encontravam algures em África?
Por infeliz ignorância, ou produto do nosso forçado isolamento cultural, o desertar era identificado como cobardia para com a Pátria, e não como uma legítima forma de luta política contra o regime. E, francamente, acabaram por ser bem poucos os que o fizeram… por razões extritamente políticas.
Procurando situar-me ao nível da ironia barata do jornalista sueco, nascido, criado, educado numa sociedade livre que não participa em nenhuma guerra nos últimos 360(!) anos, decidi procurar dar alguns detalhes da sociedade da minha Lisboa dos anos sessenta.
Acreditaria ele que estavam colocados polícias da segurança pública à porta dos liceus femininos de uma capital do Ocidente Europeu para afastar (menos delicadamente) os pobres dos namorados de 15/16/17 anos de idade quando as iam esperar à saída das aulas?
Acreditaria ele que a sra. Reitora do Liceu Maria Amália de Lisboa percorria os recreios com uma régua na mão medindo o comprimento moralmente adequado das saias e batas das meninas?
Compreendia ele o que lhe queria mostrar com estes ridículos exemplos de uma sociedade que hoje nos parece incrível?
Serão respostas deste tipo, e deste nível, que o sr. jornalista português necessita para melhor compreender… "enquadramentos"?
Estocolmo 1/3/09.
Um grande abraço amigo para os Camaradas
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3928: PAIGC: O Nosso Livro da 1ª Classe (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, Cafal Balanta / Cafine, 1972/74)
(**) Vd. postes do nosso compatriota e camarada José (ou Joseph) Belo:
17 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo
6 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).
(***) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)
(****) Veja-se o comentário do Jorge Fontinha, que hoje vive na Régua, e cuja
guerra começou bem cedo, aos 12 anos, em Nambuangongo (na Guiné, for Fur Mil Inf, CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, CCaç 2791, Set 1970 / Set 1972) .
Eu sou dos que criticam a política Ultramarina de Salazar. Senão fosse ele ter ignorado quem por diversas vezes o aconselhava, na resolução dos problemas Ultramarinos, antes de 1961, a Guerra nem sequer tinha começado.
Já não estou de acordo dizer-se que os militares Portugueses praticaram massacres e tenham sido os únicos.
Infelizmente tinha eu 12 anos, quando a exemplo de outras, a fazenda do meu pai em NAMBUANGONGO, foi massacrada e lá ficou o meu único irmão morto à catanada. Nove anos mais tarde fui militar na Guiné e em zonas de intensa actividade operacional.
Que tenha sido do meu conhecimento, não vi massacres nossos. Sei que houve e sobretudo em Moçambique algumas acçõess desnecessárias. Talvez na Guiné possa também ter havido algumas semelhantes. Todavia se vamos falar de massacres comecemos pelo 15 de Março de 1961!
Os meus cumprimentos à Diana Andringa, jornalista com "J" grande, que ao londo dos anos aprendi a respeitar.É um exemplo a seguir pelos seus colegas.
Jorge Fontinha
Outro combatente, que andou por Angola, Júlio Pinto, membro da nossa Tabanca Grande, também ironiza:
Li agora, no blogue, o parágrafo do artigo da Visão e fiquei convencido de que a juventude que andou na guerra do Ultramar, andou lá a fazer tiro ao alvo aos elementos das populações locais e depois, para justificar que andavam na guerra, desataram a disparar uns contra os outros.
Fizeram explodir minas só para inglês ver e espetaram com as viaturas umas contra as outras, para dizerem que foram minas.
Então de acordo com esta atitude, morreram milhares de jovens, desapareceram em combate outras dezenas deles e milhares de muitos outros são hoje deficientes das forças armadas.
Claro que o jornalista que escreveu esta aberração de artigo, no tempo em que por lá andávamos, ainda devia andar no c... dos franceses. [Ele] evia ter lá andado, como nós, e com alguns de nós, que passaram as passas do Algarve, sem ter de comer, com água da pior qualidade, muitos sem sequer terem material de guerra, para poder responder ao IN (inimigo para ele saber o que isto quer dizer).
Não há dúvida, nós fomos os maus e os outros foram os bons. No entanto são os maus da fita que organizam expedições, como esta que partiu agora de Coimbra com destino à Guiné, para levar algo útil àquele povo.
Pergunto onde estava a Visão que deste belo acto não viu nada? O que este jornalista merecia sei-o eu (...). Além de tudo, (...) só demonstrou uma enorme falta de respeito por uma geração que deu tudo à Pátria.
Júlio Pinto
Ex-Combatente em Angola
como 2º Sargento de Artilharia
pinto.jvp@gmail.com
Vd. último poste da série de: 24 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3512: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (8): Proposta de Bordel Móvel de Campanha...