quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo)

Caros Amigos e Camaradas da Guiné

Nesta distante, e voluntariamente isolada Escandinávia, quando o vento sopra do Sul…chegam saudades! Daí, o atrever-me a compartilhar com a Tabanca Grande dois "poemas" (!?!) de tempos idos.

O primeiro retirado do livro "Trinta Facadas de Raiva", do então Cap. Calvinho, deficiente das Forças Armadas, e meu companheiro de muitos caminhos.
O segundo foi, um dia, dedicado a todos os "Maiorais" da CCaç 2381, Guiné/68-70/, Ingoré-Buba-Aldeia Formosa-Mampatá-Empada.

Um abraço amigo do

José Belo

ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70

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O Uíge ao largo de Cabo Verde.

A VIAGEM

Que luxo! Viajar em camarote de primeira.
Que chique! Jantar, num salão de primeira, manjares de primeira.
Que pinta! Ter conjunto privativo, com piano, violino e tudo.
Que relaxante! Ter um bar flutuante onde, em fofos sofás e com ar condicionado, via jogar ao King, ao Bridge e ao Poker.
Que fino! Passar tardes tropicais em privativa piscina, tomando banhos em mar cativo.
Não longe, e no mesmo navio…
Que merda! Mais de dois mil soldados, escravos novos, enjaulados e com grilhetas na alma.
Que tédio! Centenas de homens suados, dormitam nos porões ao som da canção metálica que vem da casa das máquinas.
Que vida insuportável aquela vida de rato, que não levei mas...sentia.
(Ah! as minhas reminiscências de menino e moço, que me habituaram ao convívio dos percevejos, dos ratos e das pulgas...a empurrarem-me para o porão).

Ali jogava-se a vermelhinha, a sueca, o chincalhão, a bisca lambida, (a bisca dos nove era só para aqueles que tinham a quarta classe!).
De vez em quando, a lerpa originava cenas de porrada, e lá ia o Sr. Oficial de serviço ao barco...armado em Vasco da Gama...meter-se na vida e costumes do Povo.



SOLDADOS

Lutas de vida e morte apodrecem em páginas amarelecidas de velhos jornais guardados.
Memórias sem sentido por já não se "intercalarem"!
Gerações novas ignorando raízes de tanta dor.
Ideais morrem em círculos cada vez mais rápidos.
São outros os tempos!
Tempos de...aceitação. Para ti...é tarde!
E, em verdade, poderá um SOLDADO como tu algum dia regressar a casa?!

Joseph Belo


Estocolmo, 30Julho de 2008.
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Notas:

1. Fixação de texto: vb
2. artigos relacionados em

17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo.

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

1 comentário:

Unknown disse...

M. Obrigado por ter transcrito estes poemas.
Carlos Filipe
ex radiomontador b.caç3872
Guiné 71/73