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sábado, 16 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12302: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Notícias de Macau, do futuro grã-tabanqueiro Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem de Virgilio Valente [, foto à esquerda,, em Macau, cortesia da página do Facebook de Wai Tchi Lone]. com data de 11 do corrente, em resposta a uma mensagem anterior, do nosso editor (*)

Luís Graça,

Obrigado pelo teu e-mail.

Sim, ainda continuo por Macau, terra que me acolheu em 1993. (**)

O Manuel Amante da Rosa já deixou Macau e também não tenho tido notícias recentes sobre onde está ou o que está fazendo agora.
Confesso que tenho andado bastante ocupado nos últimos tempos e por isso mesmo não tenho perguntado por ele. Culpa minha, prque devemos sempre saber dos amigos, ainda que não seja só para saber se estão bem.

O amigo [António] Estácio continua por aí por Portugal. De vez em quando dá notícias, poucas, mas vai dando. Continua a escrever sobre a Guiné. Sempre que vem a Macau costumamos encontrar-nos e falar um pouco. Faço parte de Associação dos Naturais e Amigos da Guiné-Bissau, em Macau, como sócio extraordinário. E é nas actividades desta associação que muitas vezes me encontro com o Estácio.

Reencontrei agora, por email, um amigo da CCAÇ 4142 e que foi furriel no meu pelotão (o 4.º), Dálio João Gil de Carvalho. Temos mantido algum contacto através do Facebook. Já lhe falei neste Blogue. Há três anos estive com o Sargento [Victor] Gonçalves, e esposa, em Vila Real quando aí fui de férias.

Sim, o António Graça Abreu é um nome bastante conhecido por estas bandas. Pessoa com bastantes conhecimentos e experiência sobre a vivência Chinesa. Estou interessado em ler o seu livro "Toda a China". espero que ele leia este email e me contacte pois sei que anda por Macau mas ainda não tivemos possibilidade de nos ver.

Quanto a escrever para o Blogue, ando para o fazer desde o primeiro dia. Tenho algumas fotos da Guiné, principalmente da Gampará e dos tempos que lá passei,  bem como histórias que nunca mais me sairão da lembrança.

Vou preparar algumas fotos e respectivas legendas e tentarei enviar para depois veres, se achares bem, se deves publicar no blogue.

Estou em Macau e estes são os meus contactos:

VIRGÍLIO VALENTE
Telemóvel (+853) 66808034
Telefone do serviço (+853) 89896116
Telefone de casa (+853) 28830781
email: oumunlinfa@gmail. com ou patelas@macau.ctm.net
Facebook: Wai Tchi Lone (é o meu nome em chinês)

Aguardo notícias tuas e dos restantes amigos [, acima citados,] para quem igualmente envio este email.

Fica também o voto de que vos possa receber em Macau e outro de que nos encontremos em breve em Portugal, talvez no próximo ano quando aí for em curto período de férias.

Parabéns pelo Blogue. Não há dia que não o leia. Parabéns a todos os que escrevem no Blogue. Nele as memórias de uma época, de um passado, de muitos portugueses. Triste o Povo que não tem Memória. (***)

Alfa Bravo com Afecto,

Virgílio Valente
________________

Notas do editor:

(*) Mensagem de L.G., enviada a 3 do corrente:

Virgílio: Não sei se ainda continuas por Macau ou se já voltaste à santa terrinha, a quem às vezes chamamos Pátria, Mátria, Fátria... ou simplesmente Madrasta. Em qualquer dos casos, muita saúde e longa vida, porque um combatente da Guiné merece tudo!...

Não tenho tido notícas do nosso comum amigo (e camarada) Manuel Amante da Rosa, a não ser há um ano atrás, quando o meu filho, João Graça (e a sua banda musical, os Melech Mechaya), jantou com ele, na Praia, Santiago.

Quanto ao grande Estácio, costumo vê-lo, em Monte Real, nos encontros anuais da nossa Tabanca Grande. Teve uns problemas de saúde que, penso, já ultrapassou felizmente.
Por sua vez, António Graça de Abreu que, penso, também é teu conhecido, nas andanças por China, Macau, etc., publicou mais recentemente um livro, que deve interessar-te: é o 1º volume de um livro de viagens e memórias, "Toda a China" (Lisboa: Guerra e Paz Editoras, 2013), lançado recentemente no Museu do Oriente, aqui em Lisboa.

Escrevo-te, entretanto, para te dar notícias de mais um camarada da tua CCAÇ 4142 que nos visita, por intermédio da sua filha, Elisabete Gonçalves... O Victor Gonçalves é hoje srgt chefe reformado... Deves lembrar-te dele. Tens aqui o link, no nosso blogue.

Escrevo-te ainda porque continuas a ter um lugar à tua espera, debaixo do frondoso, mágico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Já somos 631 (ou éramos, uma vez que quase 3 dezenas jde grã-tabanqueiros á nos deixaram, segundo no "barco de Caronte" para aquela última viagem que nenhum de nós quer fazer.. pelo menos tão cedo)...

Pois, caro Virgílio, ainda não tenho ninguém que represente, no blogue, os valorosos "Herdeiros de Gampará".. Como sabes, o preço é simbólico: 2 fotos e 1 história/10 linhas...Pensa lá nisso. Queria ver o teu nome junto desta valoroso rapaziada que um dia desembarcou na Guiné e alguns, como tu e eu, beberam a água do Geba... 

Um Alfa Bravo com afeto. Luís Graça

domingo, 3 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

1. Mensagem de Elisabete Gonçalves (filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe de Inf que fez parte da CCAÇ 4142, Ganjauará, 1972/74), com data de 22 de Outubro de 2013:

Caros Senhores,

Tenho vindo a publicar vários textos com memórias do meu pai, tendo sido bem aceites por camaradas e grupos do facebook. Se o achar digno de publicação no seu blogue, disponha.

Um abraço.
Elisabete Gonçalves



Guiné - Região de Quínara - Mapa de Fulacunda (1955) / Escala 1 por 50 mil - Posição relativa da Península Gampará e do destacamento de Ganjauará à guarda da CCAÇ 4142.

Ainda hoje, no desespero com que nos obriga a comer a última folhinha de alface da terrina da salada, eu sei que é verdade que nos 730 dias que passou em Gampará, aturdido em trincheira com o quase permanente arraial dos tiros de canhão sem recuo e mísseis (soviéticos?) dos “turras”, a beber água de um poço profundíssimo que entupia o sorvedouro com rãs e tão pouca que apenas dava para o rancho, em que o banho era tomado debaixo do pingante do telhado de zinco, esperando de sabão e toalha na mão que viesse a chuvada depois do aviso do trovão ao longe... que os parcos legumes frescos que comeu se contam pelos dedos da mão.

Sei-o na raiva com que não deixa ficar nada que seja verde no prato, mesmo que esteja já satisfeito... que é verdade!

Gampará ficava apenas a 60 km de Bissau e facilmente alcançável rio Geba acima, tal como fez o navegador Diogo Gomes no ano de 1456, numa planura que faz sentir à altura de 6 metros as marés do Atlântico. Um dos rios que são dele afluentes, o Corubal, faz no subir de maré alta o estranhíssimo “macaréu”, que ao fazer uma onda de quase três metros rio acima, obriga a saltar das pirogas os navegantes de “água-que-deveria-ser -doce", (...mas é apenas salgada e barrenta!) em verdadeiro pânico. A gigantesca onda varre tudo à sua passagem, galgando margens até se desfazer vencida por uma cota mais alta.

Do outro lado do rio,  mesmo em frente da península de Gampará.  fica Porto Gole, onde em "zebros" foram buscar gatos bravos, que os esfarraparam de arranhadelas na renitência de se verem metidos em sacos de serapilheira que antes estavam cheios de batatas, para debelarem a praga de ratos que assolou a península dos “Herdeiros de Gampará”... e a preciosa despensa da Companhia.

Durante dois anos, apenas interrompidos por uma breve visita à Metrópole que mal deu para afogar as saudades, a Companhia de Caçadores 4142 sobreviveu e resistiu, em surdez colectiva ao tiroteio cerrado, à escassez de alimentos frescos, ao racionamento da água potável, aos mosquitos e ratazanas, ao paludismo, ao calor húmido e abafado dos trópicos, ao macaréu... sucumbindo apenas às intermináveis barrigas de "lutador de Sumô” que lhes fazia a cerveja, mesmo no contragosto de quem nada mais tem de fresco para beber. Nas fotos que enviava, quase sempre em tronco nu, calções e grande bigode, invariavelmente a legenda dizia, depois dos beijos e saudades: “Pareço o Gungunhana!”

O 25 de Abril apanhou-o de surpresa em Bissau enquanto saia do Banco, fardado e de maleta preta com o dinheiro para pagar à Companhia, que preparava o tão ansiado regresso.

Às pauladas que o puseram como Cristo, a “esguichar sangue” cara abaixo, que lhe deu a turba eufórica de Guineenses que festejava a “queda do Império”, reagiu calado e aceitou-as sem se defender em troca de proteger a mala contra o peito... com o único “passaporte” que lhes garantiria o regresso.

Depois de dias a fio com músculos retesados da vigília, noites de sonos interrompidos e nunca silenciosos no medo de ter a garganta cortada à catanada, encontro agora explicação para os saltos de pânico que ainda hoje, volvidos tantos anos, dá em grito de “Que foi isto?!, quando no silêncio de uma casa na hora de almoço... se deixa cair um garfo estridente, na tijoleira da cozinha.

Chama-se a isto, sei-o agora, “Síndrome de Guerra”!
(Com Victor Gonçalves, Sargento Chefe de Infantaria, meu Pai).

Elisabete Gonçalves

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Sobre a CCAÇ 4142/72

Unidade Mobilizadora: RI 1 (Amadora)
CMDT: Cap Mil Cav Fernando da Costa Duarte
Partida: 16SET72
Regresso: 25AGO74


Síntese da actividade operacional:

Após realização da IAO, de 20SET72 a 17OUT72, no CMI, em Cumeré, seguiu em 18OUT72 para Ganjauará, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CART 3417.

Em 15NOV72, assumiu a responsabilidade do subsector de Ganjauará, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 7 e depois do BART 6562/72, tendo orientado a sua actividade para a redução do esforço inimigo na região e coordenação dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 01AGO74, foi rendida no subsector de Ganjauará pela 2.ª Companhia do BCAÇ 4612/72, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Pág. 413 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume - Fichas das Unidades-  Tomo II - Guiné)

OBS:- Emblema da colecção do nosso camarada Carlos Coutinho
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11873: O Nosso Livro de Visitas (167): Francisco Maria Magalhães Batista, ex-Alf Mil, integrado na CART 2732 em Setembro de 1971 (Carlos Vinhal)