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quinta-feira, 1 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9550: As novas milícias de Spínola & Fabião (4): Em 225 localidades ocupadas pelas NT no CTIG, 71 eram exclusivamente guarnecidas por unidades de milícias, no 1º trimestre de 1974 (gen Bettencourt Rodrigues)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Militares guineenses da CCAÇ 12, presumivelmente da 2ª secção do 3º Gr Comb,  numa tabanca fula em autodefesa... O elemento da ponta esquerda é um milícia, empunhando uma espingarda automática FN... Não consigo identificar a tabanca: poderá ser Candamã, no regulado do Corubal...

A 2º secção do 3º Gr Comb era constituída por, além dos metropolitanos Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda e  1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus, os seguintes soldados do recrutamento local, de etnia fula ou futa-fula:  Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F); Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F); Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF); Sold 82110169 Madina Jamanca (F)... Recorde-se que os apontadores de dilagrama, morteiro e LGFog tinham direito à famosa pistola Walther, de 9 mm...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Legendas de L.G.


1. Diversos comentários ao postes P9532 ou P9526

 (i) Comentário de L.G.:

Seria interessante que os camaradas nos dessem uma estimativa da proporção de guineenses (milícias incluídos) que faziam partem do dispositivo militar do respetivo setor... 


No setor L1 (Zona leste, Bambadinca), no 1º trimestre de 1972, a proporção poderia ser de 1 (guineense) para 1 (metropolitano)... Mas noutros setores (do leste mas também do oeste, do norte e do sul), as coisas poderiam ser diferentes... Vejam o dispositivo militar do vosso setor e contem as G3 ou as cabeças...

(ii) José da Câmara:

Para vosso conhecimento, os Pel Mil 294 e 295 estiveram adidos à CCaç 3327, quando esta esteve em Bissassema, zona de Tite.

Cada um destes pelotões era constituído por 39 elementos.

Com a excepção de 3 elementos do Pel Mil 295, recenseados em 1971, os outros tinham-no sido em 1970.

 Não posso acrescentar muito sobre a articulação das nossas Milícias. Como sabes, eu estive ligado ao Pel Nat 56.

Todavia, posso dizer que a G3 era a única arma que estava distribuída aos Pel Mil 294 e 295.

Também não é fácil fazer uma estimativa correcta da proporção do dispositivo militar que englobava a CCaç 3327 no seu sector. Primeiro, porque a CCaç mantinha um pelotão de reforço à guarnição de Tite. Em depois porque a companhia tinha muitos militares envolvidos na construção do reordenamento.

Mesmo assim, sem aqueles constrangimentos, a proporção era de 2 por 1 em favor da CCaç 3327.

Facto interessante naqueles pelotões era a nomeação dos graduados ser da responsabilidade directa do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

(iii) António José Pereira da Costa:

(...) Sobre este assunto creio fundamental fazer uma separação entre militares (metropolitanos e guineenses) e milícias.

Estes tinham um estatuto diferente e eram civis armados. Recordo, por exemplo, que, se concorressem aos "comandos" eram incorporados como praças e não lhes era concedida qualquer vantagem por terem sido milícias. Ganhavam menos do que os soldados, só tinham alimentação durante a "formação" (como se diz em eduquês moderno) e, mesmo neste caso, a verba era claramente inferior à dos soldados (creio que era pouco mais de 50%). 

Além disso, procurava-se, e conseguia-se normalmente, que tivessem as famílias junto ou próximo do quartel a que pertenciam. Cito de memória porque em Mansabá foi formada uma companhia de milícia, durante a minha permanência.

É capaz de ser pouco exacto metê-los nas contas juntamente com os soldados (CCaç, Artilharia, Comandos, Serviço de Material, Intendência, etc.). Ficam bem ou mal (conforme as leituras) nas estatísticas, mas não é exacto.

(iv) Paulo Santiago:

(...) Quanto a vencimentos de milícias não posso ajudar. Como "instrutor" [, no CIMIL de Bambadinca], era um assunto que me ultrapassava. Não sei se os 700 escudos estão certos. Um dos meus soldados, Amadú Baldé, tinha sido milícia na zona de Aldeia Formosa, passou para o Exército e posteriormente voltou à Milícia, ficando a comandar um dos pelotões da segunda companhia que formei em Bambadinca.É natural que ficasse a ganhar mais.

Também o 1º Cabo Suleimane Baldé, actual Régulo de Contabane, foi milícia, em Aldeia Formosa, antes de passar ao Exército. (...)

2. Informação prestada pelo gen Bethencourt Rodrigues (1918-2010),  antigo comandante-chefe e governador da Guiné (1973/74), nome às vezes também grafado como "Bettencourt" Rodrigues:


As  NT eram constituídas por: 

(i) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades e meios navais da Armada; algumas unidades de Fuzileiros Navais eram integradas por pessoal voluntário da Guiné, com enquadramento europeu”;  

(ii)  “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades do Exército; cerca de 20%  das unidades combatentes eram de pessoal recrutado na Guiné e em algumas todo o pessoal era guinéum, incluindo o enquadramento; 

(iii) “ órgãos de comando e de apoio logístico e  unidades da Força Aérea; (iv) “unidades de milícias, integralmente com pessoal da Guiné” (pp.  129/130).

O “efetivo em pessoal armado era  constituído, em percentagem superior a 50%, por elementos naturais da Guiné” (p. 130).

No 1º trimestre de 1974, as NT ”ocupavam, com guarnições militares ou de milícias, 225 localidades” (p.  141)….  Era a seguinte a distribuição dessas guarnições: 

(i) “72 ocupadas exc lusivamente por tropas do Exército e Armada”; (ii) “82 por tropas  do Exército e Armada e unidades de milícias”; e (iii) “71 só por unidades de milícias” (p. 130).

Fonte: Gen Bethencourt Rodrigues – Guiné. In: Cunha, Joaquim Luz; Arriaga, Kaúlza de; Rodrigues, Bethencourt; Marques, Silvino Silvério- África: a vitória traída. Braga: Editorial Intervenção, 1977, pp. 103-142.
______________
Nota do editor:

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9543 : As novas milícias de Spínola & Fabião (3): Comandante de Companhia de Instrução de Milícias, no CIMIL de Bambadinca, em set/out de 1973 (Luís Dias)



 Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Setembro/outubro de 1973 > Formatura de inspeção. O Cmdt da Companhia de Instrução era,  na altura, o Alf Mil At Inf Luis Dias, da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), tendo como adjunto o Fur  Mil Gonçalves, do seu pelotão dorigem, e como comandantes dos pelotões os seus 1ºs cabos atiradores.

Foto: © Luis Dias (2012). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [, pertencente ao BCAÇ 3872,] no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o Alf Luís Dias, atrás o Fur Baptista, do 1º Gr Comb, e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha nossa na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por 'costureirinha' e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71".

Foto (e legenda): © Luis Dias (2012). Todos os direitos reservados.

1. Texto do Luís Dias, com data de 26 do corrente:Caros Camaradas,

Conforme foi referido no post P9526 pelos editores, eu fui um dos comandantes da Companhia de Instrução de Milícias, no CIMIL de Bambadinca, administrado pelo Comando do BART 3873 [, Bambadinca, 1971/74,] nos meses de Setembro e Outubro de 1973.

No meu tempo, a companhia tinha como comandante 1 alferes (Luís Dias), como 2º comandante 1 furriel (Gonçalves) e como comandantes de pelotão 1º cabos atiradores. O chefe de secretaria era um sargento do BART 3873.

A Instrução administrada era razoavelmente rigorosa e os milícias mostravam-se interessados nas informações técnicas recebidas e aplicados nos exercícios configurados para adaptar a teoria à prática.

A espingarda automática, FN, de origem bela (produzida pela Fabrique National), inicialmente na guerra colonial, em Angola, em 1961, antes da G3.


O único e grave problema que tivemos foi o de praticamente toda a instrução ter sido efectuada com a espingarda automática HK G3 e perto do fim foram estas armas substituídas por espingardas automáticas FN FAL, o que originou alguma confusão (os milícias não conheciam a arma e ficaram desconfiados que era inferior à G3). Isso obrigou a treino extra de adaptação à arma que, como sabemos, funciona de forma diferente da G3.

Também houve alguma discussão com o responsável pela distribuição das armas ligeiras (Tenente-coronel da Engenharia), porque este referia que as armas distribuídas aos milícias eram novas e nada inferiores à G3, tendo eu retorquido que as armas não eram novas, mas recicladas, para parecerem novas, como lhe mostrei, ao exibir algumas delas que não obstante terem as coronhas de madeira pintadas de novo, conseguia-se perceber: "Angola tantos de tal", ou nomes diversos, etc. (tudo escrito por canivete ou objecto semelhante na coronha das armas), além de que sofriam bastantes interrupções de tiro, devido ao regulador de gases.

As milícias eram essenciais na defesa imediata das tabancas onde se encontravam instaladas, bem como no acompanhamento em operações das unidades operacionais aquarteladas nas suas zonas. Dado o seu contacto diário com a população forneciam informações bastas vezes sobre as deslocações do IN na zona.

Na nossa área de intervenção, o armamento individual das milícias era composto por espingardas automáticas HK G3, morteiros 60mm, granadas de mão ofensivas e defensivas e dilagramas. Julgo que em uma ou duas das tabancas onde eles estavam instalados e para defesa da mesma, estava atribuído um morteiro 81mm.

Devo salientar a grande bravura de muitos destes elementos dos pelotões de milícias (elementos das etnia fula), porquanto os ataques que sofriam do IN eram, normalmente, ataques directos nocturnos, efectuados já muito perto do arame e a sua resposta era quase sempre muito eficaz e acabado o ataque perseguiam o grupo do PAIGC. Enquanto o ataque se produzia era normal outros pelotões de milícia, das tabancas mais perto, tentarem interceptar e emboscar o IN na sua retirada, ou auxiliar a tabanca atacada.

Estes ataques produziam, normalmente, baixas entre a população e às vezes também nas milícias, mas também produziam baixas significativas nas forças do PAIGC, como a do ataque à tabanca de Campata.

Em Março de 1973 o Batalhão de Caçadores 3872 [Galomaro, 1971/74], tinha o seguinte dispositivo:

CCS – Galomaro (Sede do Batalhão);
Pel Mil 256 – Deba;
Pel Mil 289 - Umaro Cossé;
Pel Mil 304 - Contabane;
Pel Mil 315 – Cansonco;
Pel Mil 316 – Pate Gibel;
Pel Mil 317 – Cansamba;
Pel Mil 318 – Campata;
Pel Mil 353 – Bangacia;
Pel Mil 354 – Sinchã Maunde Bucô;
Pel Mil 368 - Dulô Gengele

CCAÇ 3489 – Cancolim;
Pel Mil 290 – Cancolim;
Pel Mil 347 - Anambé;

CCAÇ 3490 – Saltinho;
Pel  Caç Nat 53 – Saltinho;
Pel Mil 287 - Cansamange;

CCAÇ 3491 – Dulombi/Galomaro;
Pel Mil 288 – Dulombi;
Pel Mil 373 – Dulombi.

Um abraço.
Luís Dias

 2. Comentário do editor

Para um batalhão (c. 500 homens, metropolitanos) havia 15 pelotões de milícias e 1 Pel Caç Nat,  ou seja, perto de outros 500 homens,  guineenses, em armas... Grosso modo, a proporção era de 1 para 1 no setor de Galomaro, ao tempo do  BCAÇ 3873. Isto dá uma ideia do elevado grau de "militarização" do chão fula (grosso modo, zona leste, do Xime a Buruntuma), bem como do esforço de "africanização" da guerra...

_________________

Nota do editor:

Postes anteriores  da série:

24 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9526: As novas milícias de Spínola & Fabião (1): excerto do depoimento, de 2002, do Cor Inf Carlos Fabião (1930-2006), no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida (Arquivo de História Social, ICS/UL - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) 

25 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9532: As novas milícias de Spínola & Fabião (2): O CIMIL (Centro de Instrução de Milícias) de Bambadinca, criado em 5 de Agosto de 1971, ao tempo do BART 2917

domingo, 27 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)

A espingarda automática FN, de origem belga [produzida pela Fabrique Nationale]

A pistola-metralhadora UZI, de origem israelita

A espingarda automática G-3, de origem alemã.


1. Mensagem do Santos Oliveira (1), de 20 do corrente, dirigida ao Mário Dias, com conhecimento aos editores do blogue:

Amigo caríssimo Mário:


Afinal, parece que sou bem mais azelha que o que pensava, pois não conseguia comunicar contigo devido a um simples til.

Mas, já agora, acerca do assunto em esclarecimento (das estrias da G3), não há um Camarada ilustre, o Victor Condeço, que era Mecânico de Armamento? Suponho que é dos anos seguintes aos nossos, mas deve ter documentação mais completa que a minha e da minha curiosidade daquela época me ter guiado para o fresado. Mas, cá vai o que sei e o que penso estar certo.

Mais uma vez, mil perdões por interferir.

Um imenso abraço, do
Santos Oliveira

2. Mensagem enviada ao Mário Dias e ao Virgínio Briote:

Caros Amigos:

Sem criar polémicas, entendo que é um mau exemplo o meu Alferes ter, um dia, transportado a arma naquela posição (2). Eu pregar-lhe-ia uma porrada se fosse da minha competência. Razão, muita razão tinha o nosso Furriel em condenar e censurar.

O Mário Dias ouviu, certamente, o meu desabafo acerca dos equipamentos com que ambos os lados iniciaram a Guerra. Eu disse que a nossa G3 (FBP) não conseguia fazer tiro útil, em determinadas condições de terreno, como, por exemplo, se se molhassem; mas também afirmei que a minha G3 (original Mauser) nunca se encravou.

O ponto de que o Mário fala, as estrias, é o ponto fulcral. Efectivamente só haviam 4 estrias longitudinais, mas cuja diferença era, tão-somente, o tipo de fresado que as diferenciava. Enquanto que o fresado das originais (da minha, por ex.) tinha um ângulo de uns 30 graus (??) as de origem em Braço de Prata eram perpendiculares (90 graus), o que facilitava a acumulação de poeiras e pólvora, que depois de humedecida…

De resto a minha G3 e a minha UZI foram fabulosas, embora a minha função não fosse igual, nem semelhante, àquela que vocês tiveram.

Essa G3, eu também defendo. Ainda deve estar aí para as curvas…

No manual que vos anexo, não há nenhuma referência às estrias do cartucho. Na época, também não se sabia qual arma que viria ser aprovada (se a G3 ou se a FN) e por isso a sua produção, em Portugal, nem sequer era equacionada (3).

Espero ter dado o meu contributo.

A ambos, com admiração, o meu abraço

Santos Oliveira

_____________

Notas dos editores

(1) Vd. poste de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

(2) vd.postes de:

19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

(3) Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra


(...)
Espingardas: O desencadear das hostilidades revelou, logo de início, em qualquer dos três teatros, a falta de uma arma automática de base: em Angola, os ataques em massa não podiam ser eficazmente contrariados com espingardas de repetição; na Guiné e em Moçambique, os guerrilheiros dispuseram, desde o princípio, de armas automáticas que lhes davam nítida vantagem sobre algumas das tropas portuguesas (caso das unidades de guarnição normal).

Assim, a prioridade, em 1961, foi a obtenção imediata de armas automáticas, mas tendo em atenção a necessidade de garantir o fluxo de abastecimento de munições e sobressalentes, o que só poderia ser plenamente conseguido através do fabrico nacional. Duas armas pareciam corresponder aos desideratos operacionais então formulados: a FN, de origem belga, e a G-3, de origem alemã. Quanto às munições, não havia problema, porquanto o cartucho de 7,62 mm era já fabricado em Portugal e exportado em larga escala, sobretudo para a RFA [República Federqal Alemã].

Foram assim adquiridas (com dificuldades, como veremos), dois lotes destas duas armas:
- FN: 3835 sem bipé (s/b) e 970 com bipé (c/b);
- G-3: 2400 sem bipé (s/b) e 425 com bipé (c/b).

Estas armas foram testadas em operações, “a quente”, tendo-se concluído, de modo genérico, que as FN eram de mais fácil transporte, mas o sistema de regulação de gases levantava problemas com pessoal pouco instruído; quanto às G-3, tinham mais precisão, mas o sistema de travamento de roletes revelava tendência para quebrar. No entanto, ambas foram consideradas como satisfazendo os requisitos operacionais. (...)


Sobre as dificuldades de abastecimento com que se deparou o Exército Português no início da década de 1960, no quadro da guerra colonial / guerra do ultramar:

(...) Na época, qualquer fornecimento de material militar a Portugal era extremamente melindroso, não sendo de admirar as dificuldades encontradas. No tocante ao fabrico, a decisão tenderia naturalmente para a opção alemã, mais que não fosse pelo grande volume de transacções já existente entre a RFA e Portugal (dezenas de milhões de cartuchos 7,62 e centenas de milhares de granadas de artilharia eram fabricadas nas FBP [Fábrica Braço de Prata] e FNMAL [Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras ] e vendidas à Alemanha). O fabrico nacional ficou decidido ainda em 1961, saindo as primeiras armas 15 meses depois (fins de 1962), para o que foi determinante a transferência de tecnologia e a assistência à produção, que permitiram, a partir de 1962, o fabrico de canos e carregadores.

Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.

Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.

Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.

A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada “arma regulamentar”. (...)


Quanto às pistolas-metralhadoras (PM):

(...) a orgânica anterior a 1960, as pistolas-metralhadoras (PM) tinham uma distribuição relativamente elevada (uma por secção de atiradores). Existia mesmo uma PM de concepção nacional, a FBP de 9 mm m/947, que tinha o inconveniente de só fazer tiro automático, problema resolvido com o novo modelo (m/961), que podia fazer também tiro semi-automático.

A adopção de uma espingarda automática relegou as PM para segundo plano, porquanto obrigavam a dois calibres nas unidades elementares e identificavam os comandantes a quem estavam normalmente distribuídas. Apesar disso, foram adquiridas PM, quer importadas (UZI de concepção israelita), quer de produção nacional (FBP m/961), empregues essencialmente na defesa de instalações e nas forças de segurança e de autodefesa. (...)