Legenda: "Expedicionários portugueses: escrevendo a um camarada uma carta para a família". ("Cliché": Benoliel)
Capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 575, Lisboa, 26 de fevereiro de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 10 centavos.)
Observações: O jornal diário, republicano, "O Século", custava 1 centavo (uma centésima parte do escudo, a nova moeda que valia mil réis da antiga). Com o início da I Grande Guerra, e a escalada dos preços, há uma crise do papel que vem afetar brutalmente a toda a imprensa (nacional e estrangeira). O quilo de papel que, emPortugal, custava 8 centavos, disparava rapidamente para os 50.
"O Século" passará a custar 2 centavos (20$00 réis, um vintém), a partir de 1 de fevereiro de 1918. Era, a par do "Diário de Notícias", o jornal de referência dos lisboetas. A imprensa escrita tem o seu "boom" nesta época, que antecede a rádio (anos 20) e a televisão (anos 50). Apesar da censura imposta pela entrada de Portugal no conflito (a declaração de guerra da Alemanha contra Portugal data de 9 de março de 1916), é apenas pelos jornais que as famílias têm notícias do que se passa nos teatros de operações (na Europa e em África). Dado o seu custo, e a deficiência da cobertura da rede, o telefone era proibitivo.
Em 26 de fevereiro de 1917, a "Ilustração Portuguesa" custava (o número avulso) 10 centavos, não sendo portanto para todas as bolsas, estava apenas ao alcance da classes média, média alta e alta. (A edição de 4/2/1918 já custava 12 centavos e no final dos anos de 1918 e 1919, 15 centavos, passando a 20 centavos, no final de 1920. Na época (1917, o salário médio entre os rurais era de 60 centavos,diários, um pouco mais alto entre o operariado fabril. A inflação, por seu turno, torna- se "milionária": a valores atuais, o coeficiente de desvalorização moeda era superior a mil por cento: mais de 3 mil (para 1916), de 2,4 mil (para 1917) e de 1,7 mil (para 1918).
1. O fotojornalista Joshua Benoliel (1873-1932) é o autor deste "flagrante": antes da partida para França, no cais de embarque, em Alcàntara, dois militares do CEP estão anichados a um canto, junto a uma carroça, retirados do resto da tropa: vistos de perfil, um deles (lado esquerdo) escreve, em cima do joelho, uma carta ou um postal que outro camarada (à direita) lhe dita , e terá por certo como destinário a sua família, algures na terra...
É uma cena tocante, pela solicitude, pela camaradagem, pela entreajuda, pelo momento único de separação, saudade, angústia e incerteza, que representava para aqueles rapazes a partida para a guerra.
Na cobertura jornalística que fez da partida do CEP (Corpo Expedicionário Portuguès) para França, entre janeiro e outubro de 1917, o Joshua Benoliel privilegiou estes cenas mais intimistas da separação e da despedida.
De acordo com o censo de 1911, em 5,960 milhões de habitantes, 75,1% eram analfabetos, (68,4% dos homens e 81,2% das mulheres), com maior predominância nas zonas rurais.
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