Foto nº 1
Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Texto ("Em Key West, Flórida, Estados Unidos da América") enviado na quinta, 14/08/2025, 23:51
EUA, Flórida, Key West, 2025: passei à porta do José Belo, meu camarada
por António Graça de Abreu
Agora, peregrino, vago e errante
Vendo nações, linguagens e costumes,
Céus vários, qualidades diferentes.
Luís de Camões
António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1,
Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar,
junho de 1972/abril de 1974;
sinólogo, escritor, poeta, tradutor;
tem c. 380 referências no blogue
Alugo carro no aeroporto de Miami e avanço com o meu filho João para uma grande volta pela Florida (Foto nº 1)
.
Começamos pelos jacarés e crocodilos em Everglades (Foto nº 2), nós pendurados num airboat, um hidroplanador que flutua suspenso sobre os muitos canais nas zonas pantanosas e nos leva a saudar os simpáticos répteis que aparecem um pouco por todo o lado, até no meio do asfalto da estrada por onde circulamos.
Começamos pelos jacarés e crocodilos em Everglades (Foto nº 2), nós pendurados num airboat, um hidroplanador que flutua suspenso sobre os muitos canais nas zonas pantanosas e nos leva a saudar os simpáticos répteis que aparecem um pouco por todo o lado, até no meio do asfalto da estrada por onde circulamos.
Seguimos para a cidadezinha de Naples, dormida em motel, não muito caro, 70 dólares pelas duas camas. Os americanos da Flórida vivem bem, habitações de luxo por tudo quanto é sítio, a terra está cheia de Ferraris e Porsches, uma panóplia de automóveis caríssimos.
Donald Trump, presidente dos EUA, também tem por aqui uma enorme mansão.
Seguimos para São Petersburgo, não a Petrogrado dos russos, mas o burgo norte-americano plantado pelas gentes vindas da terra dos czares que desaguou em solos floridos.
A cidade alberga hoje um extraordinário museu dedicado integralmente às obras surreais de Salvador Dali, o catalão genial de bigodes revirados, génio desbragado e pincel mágico (Fotos nºs 6 e 7). Diante de mim, 96 quadros, memórias vivas, coloridas da arte de Dali;
- pintando a curvatura dos montes com o corpo cheio das mulheres da Catalunha, enlaçando céu e a terra;
- os olhos de Gala, a amante exuberante e elanguescente, capazes de trespassar paredes;
- uma lagosta suada está ao telefone;
- naturezas mortas renascem todos os dias no pincel de Dali;
- uma menina de caracóis perde-se nas lonjuras de Castela, meu Deus, as nádegas como dois sóis;
- a grande tela com Colombo descobrindo as américas, as velas da nau enfunadas pelo sopro de serafins e arcanjos, o pintor humildemente ajoelhado em terra segurando um crucifixo;
- depois, Cristóvão Colombo, tão jovem, levantando um pendão com a imagem da deusa que conduz os homens ao encontro de mais mundo;
- Gala ou a Virgem Maria.
Atravessamos a Flórida. Em Orlando passamos ao lado da Disneylândia, já somos gente crescida, não existe vontade de ir cumprimentar o Pato Donald ou o Mickey. Acabamos por abancar em Cabo Canaveral (Foto nº 3).
Daqui partem os foguetões que levam a espécie humana para viagens espaciais, especiais, rumo à lua e a infindáveis órbitas terrestres. A fantástica aventura, o engenho das gentes.
Dormir em Miami e seguir para Key West, outrora uma ilha, mas há já umas boas dezenas de anos ligada ao continente por uma estranhíssima Overseas Highway, uma fantástica estrada levantada sobre rochedos, pequeníssimas ilhas e sobretudo por cima de pontes e aterros lançados sobre o mar. A estrada estende-se por 256 quilómetros.
Em Key West, porto de cruzeiros, terra de turistas, de gente boa e de desvairadas criaturas, estamos apenas a pouco mais de 100 quilómetros de Cuba (Fotos nº 4 e 5).
Nos anos trinta do século passado, Ernst Hemingway aqui construiu uma magnífica casa (Fotos nºs 6 e 7) a que a sua esposa de então acrescentou uma enorme piscina.
Tudo se mantém impecavelmente conservado, até os muitos descendentes dos incontáveis gatos de Hemingway, nascidos e criados no lugar, continuam a habitar o casarão.
Em Key West mora hoje o José Belo, ex-capitão de infantaria, militar de armas aperradas comigo nos distantes anos da nossa guerra na Guiné-Bissau, anos 1968/70.
Pós-conflitos bélicos, eu segui para as terras da China, o José Belo estacionou e fez vida nas paragens frias da Lapónia, no norte da Suécia. Depois voou para a América.
Não consegui encontrá-lo em Key West, não tinha o seu contacto. Mas sei que estava por perto. Um abraço ao camarada da Guiné.
(Revisão / fixação de texto, título, negritos, edição de imagem: LG)
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Nota do editor LG: