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terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27585: In Memoriam (564): Horácio Neto Fernandes (Ribamar, Lourinhã, 1935 - Porto, 2025): ele foi, para mim, o irmão mais velho que eu nunca tive (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, Nova Iorque)



Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > Convívio anual da Tabanca de Porto Dinheiro. Régulo: Euardo Jorge Ferreira (1953- 2019), ex-alf ex-alf mil, Polícia Aérea,Bissalanca, 1973/74 >

(i) Da esquerda para a direita, na primeira fila:
  • António Nunes Lopes e João Crisóstomo (ambos pertenceram à CCAÇ 1439, 1965/67); 
  • Helena do Enxalé (mulher do Álvaro Carvalho, fotógrafo; era filha  do Pereira do Enxalé, que morreu em Bissau, em agosto de 1974);
  • Vilma Crisóstomo (esposa do João);
  • Dina   (esposa do Jaime) e Milita (esposa do Horácio) (as duas últimas naturais de Fafe); 
(ii) na segunda fila:

  • Eduardo Jorge Ferreira;
  • Maria Alice Carneiro e  Luís Graça;
  • Alexandre Rato (então presidente da junta de freguesia de Ribamar);
  •  Horácio Fernandes (1936-2025);
  • Jaime Bonifácio Marques da Silva. (Falta o fotógrafo, o Álvaro Carvalho.)

Lourinhã > Ribamar > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 > Restaurante O Viveiro > Convívio anual da Tabanca de Porto Dinheiro > João e Horácio  

Fotos: © Álvaro Carvalho (2015) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Braga > Convento e seminário de Montariol > 1959 > Esta foto foi a foto dos “finalistas" de Montariol de 1959 (5º ano), prontos a ir para o Varatojo, em Torres Vedras, ao pé da minha casa, “tomar o hábito de noviços". 

Sem desprimor para os outros, permito-me identificar o padre capelão (falecido), José Sousa Brandão, que é o segundo na última fila, da direita para a esquerda [assinalado a amarelo, com o nº 1]; ao centro está o padre, meu primo direito, António Alves Sabino (de Vale Martelo, Silveira, Torres Vedras); ea o prefeito do colégio nessa altura [2].

A seu lado, estou eu, o único de braços cruzados [3] …A meu lado, a à minha esquerda, está o Padre Diamantino Maciel [4], fundador duma paróquia ( igreja St.António da Arancária, Vila Real ). 

O Horácio, quase dez anos mais velho do qu eu, não está nesta fotografia. Encontrámo-nos pela primeira vez em Leiria no convento franciscano da Portela, ele já padre franciscano (desde 1959, ano em quer disse missa),  estava como prefeito do que era na altura uma “escola” para miúdos que fazia parte desse convento, mas sem qualquer relacionamento com “vocação religiosa”.


Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1. Mensagem do João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque,é o régyulo da Tabanca da Diáspoara Lusófona, e que está por estes dias em Alter do Chão com a Vilma e o Rui Chamusco, devendo lá passar o fim de ano. 


Data - segunda, 29/12/2025, 22:08
Assunto - O choque da notícia da morte do Horácio

Meu mano Luís Graça,


Bem Hajas!  

Obrigado por este poste "In Memorian” do nosso Horácio (*). “Nosso” porque vejo que temos muitos elos comuns que nos ligavam e continuam a fazer que ele fique sempre connosco. 

De certa maneira, ele é mais teu do que meu pois que no meu caso não sou da família e não sou tão seu conterrâneo como tu, pois a Bombardeira one nasci fica a uns bons quilómetros de Ribamar. 

Por outro lado o destino fez de nós irmãos em várias outras vertentes: a sua meninice não deve ter sido muito diferente da minha: ambos fomos criados com poucos meios materiais. No caso dele ainda bem mais difícil do que eu. 

Depois da escola primária os nossos caminhos foram os mesmos: frequentamos os mesmos colégios onde recebemos a mesma "agri-doce educação”: se por um lado recebemos uma cultura franciscana de altruísmo, desapego a bens materiais e outros ensinamentos que podemos considerar positivos, por outro lado fomos desde miúdos sujeitos a uma lavagem celebral a muitos títulos desastrosa que a ele, a mim e tantos outros nos marcou e que tivemos de lutar para dela nos livrar para o resto das nossas vidas.

Mas tudo isto sucedeu sem mesmo nos conhecermos por muito tempo: ele nascido a 15 de setembro de 1935 era portanto quase dez anos mais velho do que eu. Encontrámo-nos pela primeira vez em Leiria no convento franciscano da Portela, ele já padre franciscano , estava como prefeito do que era na altura uma “escola” para miúdos que fazia parte desse convento, mas sem qualquer relacionamento com “vocação religiosa”. 

E eu frequentava os estudos de filosofia. E lembro que quando ele precisou de ajuda para preparar o presépio e outros decorações de Natal nessa escola , que de certa maneira era independente do convento, eu e outro “estudante franciscano de filosofia” oferecemo-nos. Foi nessa altura que nos conhecemos e começou a nossa amizade.

Sucede que no fim destes meus três anos de estudos eu resolvi sair. E logo se me pôs o problema do serviço militar, pois ninguém me queria dar trabalho antes de eu ter acabado o serviço militar. Esta espera levou-me a voltas e contactos, entre estes com uma família da Cerca, Silveira.

A verdade é que o que me atraía nessa família eram as três irmãs com quem eu queria a todo o custo manter boas relações. Estas conheciam o João Maria Maçarico e o Padre Horácio de Ribamar, que eu conhecia já. E cedo os pais e irmãs do (padre) Horácio "adoptaram-me” também . E a minha vida era uma correria entre Ribamar e a Cerca , a ponto de os meus pais me censurarem, que “parecia que eu gostava mais daquelas casas do que da casa deles”, que eram meus pais.

E comecei a conhecer melhor ainda o padre Horácio, o seu amor e dedicação aos seus paupérrimos pais e irmãs. Mas não só: ele era um amigo de toda a gente, e mesmo na sua pobre condição de frade franciscano, a todos queria ajudar. 

Recordo-me que um dia, estávamos nós— eu, ele e um grupo de rapazes e raparigas, sempre os mesmos —  nas imediações de Porto Dinheiro, e ele, pensando que  eu que já não era frade e devia estar "mais à vontade", de longe berrou-me:
 
 —  Oh,  João, tu podes-me emprestar vinte escudos?

E  eu que fazia tudo a pé (Bombardeira-Ribamar ; Bombardeira -Cerca, etc.), porque não tinha um tostão, fiquei muito embaraçado, mas triste também por o não poder ajudar. 

Ainda hoje se me aperta o coração quando lembro esse dia.  Como lembro o dia em que o mesmo grupo   fomos todos numa traineira de pesca às Berlengas: o dono da traineira não só nos levou e trouxe com ainda fomos para casa depois com sardinhas e chicharro que ele fez questão em nos presentear. 

Era assim o Horácio. Todos gostavam dele. Até que um dia mais tarde ele “saiu” também. Mas não vou falar sobre essa parte da sua vida de que ele fala com hombridade e coragem no seu livro que tu conheces bem.

Quando eu estava na Guiné e já depois de ter acabado o meu serviço militar e ele mesmo esteve na Guiné e depois num barco, eu correspondia-me com ele . E segui o que foi a sua luta ( e sucesso ) para ajudar as irmãs a tirarem os seus cursos de enfermagem e de professora e os seus próprios pais….

Talvez porque sofremos os dois tanta coisa comum —meninice, colégio, educação boa e má, lavagem celebral , dificuldades financeiras, situacões que felizmente no fim ele e eu conseguimos vencer e sobreviver… 
— mas sobretudo porque ele era para mim um irmão mais velho, a sua passagem foi dura para mim.

Já há bastante tempo que não sabia dele: era sempre a esposa, a Milita, que apanhava o telefone e agora nem isso. Pelo que ontem lembrei-me de ir ver a Carmitas, que habita no que era a sua casa onde nasceu, agora feita muma residência muito confortável, para lhe dar um abraço e saber notícias. Quando ele me disse "o meu mano faleceu “ foi como se me tivessem dado um "knock-out”. De que não me foi fácil despertar e aceitar.. Duro, duro!

E, mais do que informação que achei devia partilhar contigo, era o teu abraço e empatia que eu precisava. Obrigado, meu caro Luís Graça. Obrigo-me a mim mesmo a ter coragem. Mas não é fácil.

Um abraço grande, João

(Revisão / fixação de texto: LG)
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