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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23633: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (13): Cumbamori, uma das mais violentas acções das NT em território estrangeiro e um dos maiores desaires do PAIGC... Mas falta-nos a versão do outro lado...


 
Batalhão de Comandos da Guiné (1972/74): Guião



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a menos de um  ano, em maio e junho de 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ? De modo nenhum,  e sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e  junho de 1973 (e que se prolongam até julho, no caso de Gadamael), continuamos a querer saber mais,,, 

Foram dos combates mais violentos que se travaram em toda a guerra, desde o início de 1963, a par da Op Tridente (1964) e da Op Mar Verde (1970)... A batalha dos 3 G  (há quem não goste da designação)  não se pode resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). E menos ainda aos "roncos" como a destruição de material fornecido pelos russos e outros ao PAIGC. No balanço dos ganhos e perdas, o PAIGC, apesar da destruição (parcial) da base de Cumbamori,  é capaz de ter marcado pontos ao nível político e diplomático, junto da OUA (Organização de Unidade Africana) e países do bloco soviético e até de alguns dos nossos amigos nórdicos, com o seu cerco a Guidaje (e depois Guileje e Gadamael). Deixemos esse balanço para os historiadores.

Passados 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje ou Guidage (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), parece-nos que continua a ser oportuno e importante, para os nossos leitores,  repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informação de sinopse dos acontecimentos  

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (*).

É uma pena que os camaradas ainda vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael, não escrevam, ou já não escrevam ou ainda não tenham escrito tudo sobre o assunto.  Infelizmente, há outros que a morte já levou, sem que tenham sequer passado ao papel as suas memórias: é o caso, se não erramos, do próprio comandante da Op Ametista Real, o então major Almeida Bruno, 1º cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné,  recentemente desaparecido...Enfim, ficou pelo menos o relatório da Op Ametista Real, que será da sua autoria (...) (**) 

Do lado do PAIGC,  já não temos grande esperança de ainda podermos conhecer a versão dos seus combatentes, "na primeira pessoa do singular". Do lado das NT, republicamos mais um resumo sobre a Op Ametista Real, em que foi invadido o território do Senegal para destruir ou neutralizar a base de Cumbamori (ou Kumbamory) e aliviar a pressão sobre o nosso aquartelamento fronteiriço de Guidaje.

Infelizmente, também está pouco ou nada documentada, em termos de imagens, esta operação em que os nossos bravos comandos pagaram uma "fatura elevada", em "sangue, suor e lágrimas". Como já aqui temos comentado, não sabemos por andaram os fotocines do exército durante a guerra do ultramar / guerra colonial. E o arquivo da RTP, sobre esta matéria, é de um pobreza franciscana...

Por outro lado, já chamámos a atenção para o facto de, em duas das maiores (e mais temerárias, do ponto de vista político e militar) operações terrestres em território estrangeiro, a Op Mar Verde (Guiné-Conacri, 22 novembro 70) e a Op Ametista Real (Senegal. 19-20 mai 73), Spínola não ter arriscado o envio de tropas metropolitanas (páras e comandos, por exemplo). Foram os comandos africanos  (1ª, 2ª e 3ª CCmds Africanos, do Batalhão de Comandos da Guiné) que deram o corpo ao manifesto (para além dos nossos pilotos da FAP: os bombardeamentos aéreos de Cumbamori foram decisivos, como é público e notório,  no desfecho da Op Ametistra Real). 

O risco era menor, de todos os pontos de vista... Mas os comandos africanos acabaram por ser "usados e abusados" (se nos é permitida a expressão)  e em Cumbamori enfrentaram não só os combatentes do PAIGC como inclusive tropas paraquedistas senegalesas... Vale a pena reflectir sobre isto... Em todo o caso, é bom lembrar que o  BCP 12 também participou nesta operação, mas do lado de cá da fronteira. Releia-se o precioso e dramático testemunho do nosso querido amigo e camarada Victor Tavares, no poste P1316, de 26/11/2006: 

(...) "A 17 de Maio de 1973, a Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 recebe ordem para se integrar na operação acima referida [,a Op Ametista Real] , tendo-lhe sido atribuída a missão de garantir a segurança de um corredor entre Ujeque e Guidaje, através do qual se processaria a retirada dos Comandos Africanos. (...) (**)


17 de Maio de 1973: início da Op Amestista Real  (***)


Início da Operação Ametista Real, em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Cumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal

A operação destinava-se a aliviar o cerco do PAIGC a Guidage e a permitir o reabastecimento daquela guarnição.

Só a destruição da base de Cumbamori, a grande base do PAIGC no Senegal, na península de Casamança, permitiria pôr fim ao cerco a Guidage. A operação era difícil e de resultados imprevisíveis. O ataque ao Senegal foi atribuído ao Batalhão de Comandos Afruicanos  [ou melhor, da Guiné, constituído pela 1ª, 2ª e 3ª CComds Africanos]
, comandado pelo major Almeida Bruno – que tinha por hábito atribuir às acções militares o nome de pedras preciosas: esta ficou Operação Amestista Real.

Na tarde de 19 de Maio de 1973, uma sexta-feira , 450 homens do Batalhão de Comandos Africanos embarcavam, em lanchas da Marinha e subiram o rio Cacheu até Bigene onde chegaram ao pôr-do-sol. À meia noite a força de ataque seguiu dividida em três grupos de combate:
  • o Agrupamento Bombox, comandado pelo Capitão Matos Gomes;
  • o Agrupamento Centauro, sob o comando do Cap Raul Folques;
  •  e o Agrupamento Romeu, comandando pelo capitão paraquedista António Ramos.

O Comandante da operação, Almeida Bruno seguiu integrado no Agrupamento Romeu, que levava um grupo especial comandando por Marcelino da Mata. Avançaram, durante a madrugada e pisaram território senegalês, cerca das seis da manhã do dia 20, sábado.

Às oito horas, uma esquadrilha de aviões Fiat iniciou pesado bombardeamento da zona. Os pilotos atacaram um pouco às cegas, porque a axacta localização da base da guerrilha não era conhecida. Mas por sorte as bombas da avião acertaram, em cheio nos paióis. 

Mal cessou o ataque aéreo , que não terá demorado mais do que dez minutos, os grupos comandados por Matos Gomes e Raul Folques lançaram-se ao assalto, enquanto o Agrupamento Romeu, comandado por António Ramos, e onde seguia o comandante da operação, Almeida Bruno, tomava posição como força de reserva. Os três agrupamentos envolveram-se em duros combates: “Os soldados de ambos os lados estavam tão próximos uns dos outros que era impossível delimitar uma frente”.

O combate foi corpo a corpo e desenrolou-se até às 14h10, quando Almeida Bruno deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as forças do Batalhão de Comandos e as do PAIGC. O Agrupamento Bombox estava praticamente sem munições e o Agrupamento Centauro substituiu-o no contacto. Entretanto, Raul Folques, o comandante do Agrupamento Centauro, apesar de gravemente ferido numa perna, conseguiu a ruptuta do combate. A marcha do Batalhão de Comandos em direcção a Guidage foi lenta e com várias emboscadas pelo meio.

Resultados

Pelas 16 horas cessaram os combates e às 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começaram a chegar a Guidage. Tinham sido destruídos:

  • 22 depósitos de material de guerra;
  • duas metralhadoras antiaéreas;
  • 50 mil munições de armas ligeiras;
  • 300 espingardas Kalashikov;
  • 112 pistoals PPSH
  • 560 granadas de mão;
  • 400 minas antipessoal:
  • 100 morteiros 60;
  • 11 morteiros 82;
  • 138 RPG7:
  • 450 RPG2;
  • 21 rampas de foguetões 122.

O PAIG sofreu 67 mortos entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos, enquanto os Comandos sofreram dez mortos, dos quais dois oficiais, 23 feridos graves (três oficiais e sete sargentos) e três desaparecidos.

Uma nova coluna de reabastecimento ficou retida em Farim, por ter sido atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram, no terreno, tendo as forças portuguesas sofrido quatro mortos e 16 feridos, dos quais nove graves.

Na luta por Guidage o PAIGC utililizou a sua infantaria apoiada por artilharia pesada e ligeira, além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento utilizou foguetões de 122 mm, morteiro 120 e 82 mm, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5 cm, RPG2 , RPG7, armamento ligeiro e mísseis Strela. (...)

Fonte: Excerto de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973: Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: Quidnovi, 2009, pp. 41-45. (Com a devida vénia..)

[Seleção / revisão / fixação de texto,  para efeitos de edição deste poste: LG. ]
_________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de setembro de  2022 > Guné 61/74 - P23625: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (12): A Op Ametista Real: o batalhão de comandos em Cumbamori, no Senegal, 19 de maio de 1973 (Amadu Bailo Djaló, alf graduado 'comando', 1940-2015)


(***) Vd. informação mais detalhada no poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal

Vd. também o testemunho, na primeira pessoa, de Amadu Djaló (1940-2015):

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7387: Os Anos da Guerra Colonial (1961-1975), de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (1): Um obra enciclopédica, de 838 pp.


Título: Os Anos da Guerra Colonial (1961 - 1975) (*)
Autores: Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes
Editora: Quidnovi
Local: Matosinhos
Ano: 2010
Formato: Brochado
Nº pp.: 838
Preço de cappa: c. 45€

Infelizmente não pude estar presente, por razões profissionais,  na sessão de lançamento do livro dos nossos camaradas Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, no passado dia 29  de Novembro (*). Gostaria de ter podido lá estar, para dar um abraço a estes dois autores, e manifestar-lhes o meu apreço e o meu respeito pelo seu labor enciclopédico e historiográfico.

Já conheço o essencial da obra, através dos 16 volumes que foram lançados em 2009 pelo Correio da Manhã, sob a chancela da QuidNovi. Mas sei que o livro, de 838 pp.,  traz algumas melhorias (e correcções) em relação à edição anterior,  distribuída em fascículos. De qualquer modo, ficam aqui os nossos votos de sucesso para mais esta obra monumental  de historiografia da guerra colonial que passa a ser de incontornável referência.

O livro conta ainda com a colaboração do historiador catão Joseph Sánchez Cervelló (que conheci em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008, foto à esquerda, na Amura, com o Matos Gomes; fez o seu doutoramento com uma tese sobre a Revolução Portuguesa e sua Influência na Transição Espanhola, 1961-1976, de que há um livro, em português, editado pela Assírio e Alvim, 1993).A colaboração é ainda extensiva aos portugueses David Martelo, Nuno Santa Clara Gomes, João Moreira Tavares, Sandra Araújo e Dulce Afonso. 

Sinopse

Saber o que aconteceu durante os anos de 1961 a 1975, os anos em que a Guerra Colonial esteve no centro da nossa História, das nossas vidas. Saber o que aconteceu em cada um dos locais onde a guerra foi travada, nas “picadas” mais perigosas, nas “matas” do Norte de Angola e de Moçambique, nas “chanas” do Leste, nas “bolanhas” da Guiné, a bordo de navios e lanchas, de aviões e de helicópteros. Saber o que pensaram os homens que decidiram a guerra, que a conduziram, que a fizeram de ambos os lados. Mas pretendemos também Compreender. Compreender por que foi assim que os factos aconteceram, por que foram escolhidas estas soluções e não outras. Compreender as dúvidas dos homens que tiveram de decidir num momento o caminho a seguir e ajudar a perceber as consequências dessas decisões. É, pois, sobre o Saber mais e o Compreender melhor os anos da Guerra Colonial que trata esta obra.

Sobre os autores:


ANICETO AFONSO

(i)  Coronel do Exército na situação de Reforma; 
(ii) Nasceu em Vinhais em 1942;
(iii)  Fez os estudos secundários em Bragança;
(iv) Concluiu o curso de Artilharia da Academia Militar em 1963;
(v) Cumpriu comissões em Angola (1969-71) e em Moçambique (1973-75);
(vi) Fez a licenciatura em História pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1980 e o Mestrado em História Contemporânea de Portugal pela mesma Faculdade em 1990;
(vii) Foi professor de História na Academia Militar de 1982 a 1985 e de 1999 a 2005;
(viii) Foi director do Arquivo Histórico Militar (Lisboa) de 1993 a 2007, integrando vários grupos de trabalho e comissões relacionadas com os arquivos militares, a documentação e a História;
(ix) Foi responsável pelo Arquivo da Defesa Nacional de 1996 a 2007;
(x) É membro da Comissão Portuguesa de História Militar e do Comité dos Arquivos da Comissão Internacional de História Militar, desde 1998; 
(xi) É investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e autor de várias obras, incluindo O Meu Avô Africano, editado pela Casa das Letras (2009).

CARLOS DE MATOS GOMES  [, foto à esquerda, Guiné-Bissau, Bissau, Amura, 7 de Março de 2008. Foto de L.G.]

(i) Coronel do Exército, na situação de reserva;
(ii) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha;
(iii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Álvares, de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar;
(iv) Durante a guerra colonial cumpriu três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas “Comando”;
(v) Foi ferido e condecorado;
(vi) Foi auditor do Curso de Defesa Nacional, do Instituto de Defesa Nacional;
(vii) Paralelamente à carreira militar desenvolveu desde 1983 uma continuada actividade literária, tendo escrito argumentos, romances e várias obras de cariz histórico; como ficcionista usa o pseudónimo Carlos Vale Ferraz, entre eles o Nó Cego, considerado já um clássico não só da literatura da guerra colonial, como da literatura lusófona.


Fonte: Adapt. parcialmente de Quidnovi


Lisboa > Centro Comercial Plaza, nas Picoas > Livraria Bertrand  > 30 de Novembro de 2010 > 18,30 h > Sessão de lançamento do  livro “Os Anos da Guerra Colonial, 1961-75”, da autoria dos nossos camaradas Aniceto Afonso e Carlos Matos, editado pela QuidNovi. Na mesa,  da esquerda para a direita: Joaquim Furtado (apresentador da obra), Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso (autores)

Foto: Cortesia de QuidNovi (página no Facebook) (**)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7332: Agenda Cultural (91): Lançamento do livro Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 30 de Novembro de 2010 na Bertrand Picoas Plaza, Lisboa (Carlos Matos Gomes)
 
(**) A QuidNovi, com sede em Matosinhos, é  "uma editora especializada na produção de livros e outros conteúdos para venda associada a jornais". Desde a sua fundação, em 1995, a editora tem colaborado regularmente com todos os principais jornais e revistas portugueses.

O sucesso deste projecto  levou a empresa A dar um novo passo, criando paralelamente uma "editora tradicional", orientada para o mercado livreiro. A  QuidNovi surge assim, em 2005, "com esta nova faceta, marcando presença no mercado editorial português, com um catálogo diversificado, onde se tem destacado sobretudo pela colecção de autores portugueses, com vários títulos premiados e muito elogiados pela crítica".

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (1973/74) > Jargas, um os guias e picadores do Xitole que estavam na frente da coluna que foi emboscada no Jagarajá

Foto : © José Zeferino (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande, José Zeferino, ex-Alf Mil At Inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74 (1)

Assunto - Comentário de Abreu dos Santos ao post 2565, de José Zeferino (2)


Caros camaradas da Guiné e tertulianos:


A propósito do referido comentário e sem querer nem procurar qualquer tipo de protagonismo ou polémica, tenho que referir o seguinte:

(i) Não tive conhecimento de qualquer espécie de coluna motorizada de Bambandica com o objectivo de contactar o PAIGC. Mas não me admiro que estivesse a ser preparada.

(ii) As únicas viaturas militares presentes no dia 15 de Maio de 1974 no Jagarajá pertenciam ao Xitole.

(iii) Para a instalação da segurança da coluna para Cambessé saíu do Xitole o 4º GC comandado pelo alferes Luís Aguiar, apeado, e procedendo à picagem até ao Jagarajá.

(iv) Um outro grupo de combate, creio que o 2º, seguia-o em dois unimogues e a alguma distância.

(v) O 3º GC, o meu , de reserva, chegou ao local praticamente no fim da emboscada.

(vi) O procedimento para lá do pontão [do Rio Jagarajá], portanto na zona da 1ª CCAÇ, de Mamsambo , não foi analisado por mim, nem o podia ser.

(vii) Quando se desencadeou a emboscada – não uma simples flagelação, como se pretende – o alferes Aguiar acciona uma mina ao procurar abrigo nas árvores, tendo ficado sem uma perna.

(viii) O comandante da milícia de Cambessé também faz detonar uma mina que lhe amputa um pé.

(ix) Logo atrás, no começo da descida para o rio, o soldado - já confirmei que não era cabo, pelas minhas notas - de transmissões Domingos Ribeiro é atingido por fogo directo, no peito, ao tentar posição que lhe permitisse contactar com o quartel. Já depois de ter estado bem abrigado do fogo inimigo.

(x) Tive conhecimento de um soldado morto na zona de Mamsambo mas não confirmei as circunstâncias. Creio que se prestava para fazer fogo de LGF.

(xi) Assinala, ainda, Abreu dos Santos um morto da 3ª CCAÇ do 4616/73. Em consequência deste ataque de 15 de Maio no Jagarajá? É que não me recordo de ter visto algum camarada da 3ª CCAÇ na zona do Xitole, nem em Mamsambo. A 3ª CCAÇ do nosso Batalhão estava posicionada em Farim e K3.

(xii) Seja : os camaradas mortos, de imediato ou não, e feridos do Xitole NÃO SALTARAM APRESSADAMENTE DAS VIATURAS PROVOCANDO A DEFLAGRAÇÃO DE MINAS.

(xiii) Uma referência ainda aos “disparos longínquos”: Os nossos batedores, guias e picadores - entre eles o Jargas , de quem envio uma foto – responderam ao fogo IN em plena picada. Mais tarde, quando da entrega do quartel ao PAIGC, e já à civil , reconheceram elementos das forças que nos tinham atacado em 15 de Maio no Jagarajá.O reconhecimento visual foi recíproco. Lembravam-se, gracejando, que tinham disparado uns contra os outros. Estavam a alguns metros uns dos outros.

(xiv) Gostaria, por fim, de ver comentários de camaradas que estiveram naquele dia lá. Pois posso ter omitido, sem querer, qualquer facto. E até desconhecer outros. Natural. Foi há 34 anos!

Assim caros editores deixo nas vossas mãos o tratamento que optarem por dar a este mail. Seja qual for, concordo.

Com os melhores agradecimentos e cumprimentos e esperando regressar ao vosso convívio com relatos mais agradáveis .

José António dos Santos Zeferino

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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)

"(...) No dia 15 de Maio de 1974, na zona do Rio Jagarajá, limite de actuação das forças do Xitole, fomos alvo de uma violenta emboscada que nos causou dois mortos (um alferes e um cabo de transmissões), um ferido grave (o Comandante da Milícia de Cambessé) e uns, poucos, feridos ligeiros. Procedia-se à segurança de uma minicoluna com materiais de construção para Cambessé. (...)"


(2) V d. poste de 21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2568: Historiografia de uma guerra (2): Maio de 1974, Sector L1 (Bambadinca): Os nossos quatro últimos mortos (Abreu dos Santos)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2568: Historiografia de uma guerra (2): Maio de 1974, Sector L1 (Bambadinca): Os nossos quatro últimos mortos (Abreu dos Santos)

Guiné > Zona Leste > Paunca > CCAÇ 11 > Junho de 1974 > A nem sempre fácil mas esperada confraternização entre as NT e os guerrilheiros do PAIGC, depois do 25 de Abril que abriu perspectivas a um solução política do conflito... Na foto, o Fur Mil Op Esp J Casimiro Carvalho, o herói de Gadamael, posa ao lado de um guerrilheiro do PAIGC, apontador de RPG (1).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


Este apontamento, a seguir, do Abreu dos Santos - um amigo do nosso blogue, um leitor atento e informado, um estudioso da guerra da Guiné - foi deixado à laia de comentário do poste do José Zeferino (2). Pela sua oportunidade e pertinência, merece outro destaque, nesta série - Historiografia de um guerra - que gostaríamos que tivesse mais postes ou entradas (3):

«(...) no dia 15 de Maio de 1974 (...) fomos alvo de uma violenta emboscada que nos causou dois mortos (um alferes e um cabo de transmissões), um ferido grave (o Comandante da Milícia de Cambessé) e uns, poucos, feridos ligeiros.» (1)
1974 – Maio. 15 (4ª feira)

Por essa ocasião no palácio do governo provincial em Bissau, o delegado da JSN [Junta de Salvação Nacional] e comandante-chefe tenente-coronel Carlos Fabião preside a uma reunião com 1400-1500 militares, durante a qual é decidida «a reestruturação democrática do MFA [ovimento das Forças Armadas], seu alargamento a todos os elementos das Forças Armadas em serviço na Guiné e definição da missão das Forças Armadas como "garante da execução séria e integral do Programa do MFA em consonância com as aspirações populares"».

Entretanto no centro-sudeste da Guiné uma patrulha motorizada do BCCAÇ 4616, desde há cerca de 4 meses estacionado em Bambadinca sob comando do tenente-coronel do MFA Luís Ataíde Banazol, procura contactos com o PAIGC para conversações sobre o cessar-fogo: em deslocação para sul, a coluna é alvejada na picada Mansambo-Xitole por disparos longínquos e os militares saltam apressadamente das viaturas, provocando a deflagração de minas que causam 2 mortos, 4 feridos graves e 14 feridos ligeiros.

(i) 2 Mortos, imediatos: JOAQUIM DOS SANTOS PINHO (Soldado da 1ª/BCAÇ 4616/73 colocada em Mansambo) e DOMINGOS DA SILVA RIBEIRO (Soldado da 2ª/BCAÇ 4616/73 colocada no Xitole).

(ii) Mais 4 Feridos, graves (entre eles o oficial comandante de pelotão da 2ª Companhia /BCAÇ 4616/73, e um primeiro-cabo, ambos com as pernas destroçadas);

(iii) e ainda 14 Feridos, ligeiros. De entre os azuis evacuados para o HM241, vieram em 20Mai74 a falecer: LUÍS GABRIEL DO REGO AGUIAR (Alferes miliciano da 2ª/BCAÇ 4616/73); e ESMERALDINO ANTÓNIO ESPANHOL CATAMBAS (1º Cabo da 3ª/BCAÇ 4616/73).

Foram estas, de facto, as 4 derradeiras baixas mortais "em combate", registadas no território da Guiné.

Abreu dos Santos
_____________

Notas dos editores:

(1) Sobre Paunca e a CCAÇ 11 (para onde foi o J. Casimiro Carvalho, na sequência do abandono de Guileje), vd. posts de:

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1636: Álbum das Glórias (10): Paunca, CCAÇ 11: Com o PAIGC, depois do 25 de Abril de 1974 (J. Casimiro Carvalho)

(2) 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)

(3) Vd. poste de 25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2214: Historiografia de uma guerra (1): A questão (polémica) do início da luta armada (Abreu dos Santos)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2214: Historiografia de uma guerra (1): A questão (polémica) do início da luta armada (Abreu dos Santos)

Guiné > Região de Quínara > Buba > Fevereiro de 1968 > Uma das famosas imagens que ilustram o livro de Basil Davidson, Liberation of Guine (*). Segundo a legenda original, trata-se de um ataque do PAIGC ao ao aquartelamento de Buba. À direita, vê-se Lando Mané, comandante de um bri-grupo. Foto: World in Action, Granada TV (com a devida vénia...).

Vd. sítio criado por Brad Sigal, City College, New York, em Abril de 1999 > Amilcar Cabral and the Revolution In Guinea-Bissau


1. Mensagem, com data de 20 de Outubro de 2007, do nosso leitor Abreu dos Santos, que é um estudioso da guerra do Utramar, e amigo de ex-combatentes que fizeram a guerra da Guiné (**).

Boa tarde, Luís Graça:

No que respeita ao post 2190, editado por Virgínio Briote e por si publicado em 18 de Outubro de 2007 (***): as fontes que desde há décadas referem como início da «luta armada do PAIGC», um ataque ao quartel de Tite no dia 23 de Janeiro de 1963, em meu entender são equívocas, porque uníssonas. Provêm todas do PAIGC, ora reproduzidas por jornalistas (como por exemplo Basil Davidson), ora por historiadores (como por exemplo Norrie MacQueen) que se radicam em "história oral" e bibliografia da(s) mesma(s) origem(s).

Certo que, se à época do conflito armado, todas as armas eram admissíveis, entre elas a informação e a contra-informação, a agit-prop de um lado (as NT) e do outro (o IN), o empolamento das vitórias de uns era (e ainda é em conflitos vários) considerado estrondosa derrota por parte dos outros, etc., etc., não parece curial mantermo-nos, nós, portugueses, sujeitos a estórias "escritas pelos vencedores".

O modesto contributo que anexo – e que deixo à sua consideração para publicação –, constitui brevíssimo extracto de pesquisa pessoal há largos anos desenvolvida (e ab initio não limitada ao TO da Guiné). A fixação de texto, a que corresponde o anexo extractado (referente ao dia 23 de Janeiro de 1963), está desde 12 de Agosto de 2002 consolidada e, de então ao presente, não obtive quaisquer outras informações, fidedignas, que obrigassem a alterar o conteúdo.

(Considerando a lembrança da efeméride haver sido no foranada recém-recordada por Virgínio Briote, vai este e-mail reendereçado para conhecimento àquele co-editor).

Breve contributo para uma historiografia da Guerra na Guiné - (anexo ficheiro Guinala.doc)

Saudações cordiais,
do
Abreu dos Santos

2. Breve contributo para uma historiografia da Guerra na Guiné
por Abreu dos Santos

1963 – Janeiro.23 (4ª feira)

Em Conackry, o presidente Sekou Touré ordena o encerramento de todos os centros culturais estrangeiros e a submissão de todas as publicações estrangeiras à aprovação do directório do seu PDG (partido único), continuando uma parte do comité central do PAIGC enclausurada em Camp Boiro.

Por essa ocasião no sudoeste da vizinha Guiné, em desforço pela detenção de parte do seu comité central, um dos primeiros grupos (1) do PAIGC infiltrados procura desesperadamente lançar «a luta armada»: sob a chefia de Arafan Mané e armados com AK-47, Simonov, PPSH e um lança-rockets RPG-7, preparam em vésperas de lua-nova um ataque nocturno ao destacamento militar instalado em Budon no armazém de mancarra da Companhia Comercial Ultramarina. Para aquele efeito e sob orientação do guia balanta Diallo, na picada Guinala-Buba montam uma emboscada à patrulha que habitualmente ao entardecer regressa àquele acantonamento, causando-lhe 2 mortos (2) e 5 feridos; mas uma parte da guarnição da CCAÇ 152 desloca-se rapidamente ao local, repele o grupo terrorista e recolhe os mortos e feridos, voltando para o aquartelamento que não chega a ser atacado.

– «Houve uma fase preliminar de um ano e meio de “acções directas”, designadamente actos de sabotagem e desobediência civil, que coincidiu com um período de intensa mobilização política entre os camponeses do sul do país, levada a efeito pelos quadros do PAIGC que estavam fixados ao longo da fronteira com a Guiné-Conackry. [...] A fase militar [!?] da campanha do PAIGC começou a 23 de Janeiro de 1963 com o ataque [!?](3) ao aquartelamento português de Tite [!?], no sul [!?] do território.» (4)

– «A guerra começou com a dimensão mais fruste: actos esporádicos de sabotagem de pequena dimensão e significado. Osvaldo Vieira descreve (5) deste modo o primeiro [!?](6) desses actos: “Tínhamos 3 armas e éramos 10. Fizemos uma emboscada a 3 veículos deles e matamos-lhe 7 homens. Capturámos 8 armas”.» (7)

– «Sabedores de que grande parte da direcção está presa em Conackry, alguns combatentes que se encontram no interior da Guiné decidem-se pelo salto em frente: em 23 de Janeiro de 63, atacam um quartel [!?] do Exército português, em Tite [i.e, no sul da circunscrição administrativa de Fulacunda]. Esta acção, de raiva e desespero, conduzida mais pelo coração do que pela razão, tem um duplo efeito. Por um lado, como há-de assinalar Luís Cabral, convence Sekou Touré “que o combate continuava e que as armas que tinham transitado clandestinamente por Conackry começavam a dar os seus frutos”; a consequência, é a libertação dos detidos. Por outro lado, marca o início [!?] da luta armada e da guerra [i.e, guerrilha] contra Portugal.» (8).

3. Comentário de L.G.:

Agradeço ao Abreu dos Santos as suas notas (eruditas) sobre a polémica questão do início da guerra... Concordámos em publicá-las, autonomamente, em post dele e num nova rubrica a que eu vou chamar Historiografia de uma Guerra... e que fica à espera dos contributos de todos os amigos e camaradas da Guiné que, de uma maneira ou de outra, acompanham a investigação (historiográfica, jornalística, militar, sociológica, etc,) sobre a guerra de 1963/74.

O nosso blogue não tem propriamente uma vocação académica (logo, elitista), mas acolhe com todo o gosto e interesse o contributo dos estudiosos da guerra da Guiné, como o Abreu dos Santos... Temos já, inclusive, publicado textos de investigação historiográfica original, como por exemplo, os do historiador e nosso tertuliano Leopoldo Amado (que - aproveito para o dizer em primeira mão - irá em princípio publicar, proximamente, em livro, uma versão mais ligeira da sua tese de doutoramento, na editora Campo das Letras, Porto).

Registo aqui a posição do Abreu dos Santos sobre a minha sugestão editorial: "Acabo de ler a sua resposta, que agradeço, e bem assim o acolhimento que entendeu proporcionar a perspectivas diversas. Anteriores esclarecimentos mútuos, directos e indirectos, levam-me a poder considerar que, ambos, prosseguimos numa busca pela verdade, histórica e independente da formação académica e das particulares inclinações de cada qual".
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Notas de L.G.:

(*) Há tradução portuguesa: DAVIDSON, Basil > A libertação da Guiné / Basil Davidson ; trad. António Neves Pedro. Lisboa : Sá da Costa, 1975. 209 pp.

Fonte: Mémória de África

(**) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)

(***) Vd. post de 18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC: Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)
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Notas de Abreu dos Santos:

(1) Treinados em Nanquim, com inspiração na guerrilha norte-vietnamita e apoio logístico de Conackry, tendo sido o primeiro armamento e munições doado pela URSS, China, Checoslováquia, Argélia, Coreia do Norte, Jugoslávia, Alemanha Oriental e Cuba.

(2) Veríssimo Godinho Ramos (nat freg. Vale de Cavalos, conc. Chamusca), soldado, mobilizado pelo RI6-Porto e integrado no BCAÇ 237 (sediado em Tite), a 7 meses do final da comissão; e Bajo Sambu (nat. Empada, circunscrição de Fulacunda), chefe de cipaios, mobilizado pelo CTIG como guia civil, a título póstumo agraciado com uma Cruz de Guerra de 4ª classe);

(3) Hão houve, de facto, ataque a quartel algum nesta data; a primeira tentativa de assalto verifica-se no destacamento de Salancaur-Cul (17km NE Bedanda) em 6 de Fevereiro de 1963, exactamente uma semana depois, com recurso a cerca de 200 balantas sem quaisquer armas de fogo; desse ataque, resultam 2 mortos e 3 feridos nas NT.

(4) Norrie MacQueen, in "A Descolonização da África Portuguesa - A revolução metropolitana e a dissolução do Império", pp.59 e 45 (Editorial Inquérito, Lisboa, Junho 1998).

(5) a Basil Davidson; cit in "A política da luta armada - Libertação Nacional", pp.58 (ed. Caminho, Lisboa, 1979).

(6) a 1ª acção armada na Guiné, tentada contra tropas portuguesas, havia sido levada a efeito junto à fronteira noroeste em 21 de Julho de 1961, por dissidentes do FLGC [

(7) António de Almeida Santos, in "Quase memórias", vol.II pp.8 (ed. Círculo de Leitores, Lisboa, Setembro 2006).

(8) José Pedro Castanheira, in "Quem mandou matar Amílcar Cabral?", pp.42 (ed. Relógio d'Água, Lisboa, 18 de Abril de 1995).