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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22285: Em busca de... (314): Camaradas da minha CCAÇ 4544/73 (Cafal, 1973/74), o Coelho (de Alcobaça), o Rosete (de Cantanhede), o alf mil Quintela (de Torres Vedras) (Eugénio Ferreira, ex-1º cabo, 2º pelotão)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cafal, intinerário Cadique-Jemberém, e rios Cumbijã e Cacine. Sobre Cafal Balanta, temos mais de 3 dezenas de referências no blogue.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


1. Comentário, de 13 de junho de 2021 às 21:32, assinado pelo Eugénio Ferreira, ao poste P12020 (*)

Boa tarde, caro camarada Sr. Luís Graça:

Sendo eu Combatente no Ultramar,  na Guiné,  em Cafal Balanta, pertencendo à companhia de Caçadores CCAÇ 4544/73,  desconhecia que afinal existe um grupo de combatentes que se reúnem em confraternização realizando alguns almoços para isso!!!

Eu que já tinha andado pelo Facebook,  procurando pessoal, companheiros desse tempo,  e de minha Companhia... Recordo o nome de guerra de alguns deles,  como o Coelho,  próximo de Alcobaça,  o Rosete,  próximo de  Cantanhede,  o alferes Quíntela...  (ainda tive convívio com ele aqui em Torres Vedras onde morava, é que eu moro também na região).

Eu que não me apresentei,  sou o 1.º Cabo Ferreira,  do 2.º pelotão,  enfim gostaria saber algo mais de como aderir a este grupo de convívio.

Meu email: ecoimbra52@gmail.com
Muito obrigado
Eugénio Ferreira

2. Comentário do editor Luís Graça:

Meu caro Ferreira:

Obrigado pelo teu comentário. Como camaradas de armas que fomos, aqui tratamo-nos por tu. Para mais, és meu vizinho, segundo percebi: eu vivo na Lourinhã, depois de há um ano e picos. Deixa-te, portanto, lá de tratamentoos cerimoniosos...

Respondendo ao teu apelo (**), tenho o grato prazer de te informar que há dois representantes da tua CCAÇ 4544/73, aqui no nossa Tabanca Grande (que reune até ao momento 840 camaradas e amigos da Guiné, entre vivos e mortos): 

(i) o António Agreira, ex-fur mil de transmissões: apresentou-se, aqui na "parada da Tabanca Grande", há dez anos atrás (***), e tem desempenhado o papel de dinamizador dos vossos convívios,; vou-te mandar, por email, o contacto do Agreira;

(ii) o outro camarada é o João Nunes açoriano, também ex-fur mil: vê aqui a sua foto e a sua apresentação à nossa Tabanca Grande (****);

O ex-alf mil António Alfredo Quintela, que de facto vive em Santa Cruz, Torres Vedras, também já passou por aqui (*****).

Quanto ao Coelho, de Molianos (ou Moleanos), Alcobaça, vê aqui o poste do nosso camarada António Eduardo Ferreira (******).

Como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... 

Ficas convidado para te juntares à nossa malta, basta para o efeito mandares as duas fotos da praxe: uma do antigamente, e outra mais atual. Boa saúde, longa vida, e não percas o próximo convívio da tua CCAÇ 4544/73.


3. Ficha de unidades > Companhia de Caçadores n.º 4544/73 (tem 17 referências no nosso blogue)

Identificação:  CCaç 4544/73
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Crndt: Cap Inf Carlos Alberto Duarte Prata
Cap Art José Manuel Salgado Martins
 Partida: Embarque em 23Set73; desembarque em 23Set73 | Regresso: Embarque em 8Set74


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 40ut73 a 1Nov73, no CMl, em Cumeré, seguiu em 4Nov73 para Cafal, no sul da Guiné, região de Tombali, Cantanhez (vd. infografia acima),  a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3565.

Em 4Dez73, assumiu a responsabilidade do subsector de Cafal, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 4614/72 e depois do BArt 6520/73, com a missão de efectuar a reabertura do itinerário Cadique-Jemberém, de actuar sobre as linhas de infiltração inimigas e efectuar a segurança e protecção das populações e construção de aldeamentos.

Em 20Ago74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Cafal ao PAIGC, recolheu temporariamente a Bolama, seguindo em 30Ago74 para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 114 - 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), p. 424.


(****) Vd. postes de:



segunda-feira, 18 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16315: Controvérsias (132): Blindados do PAIGC? Não os vi em Jemberem, ninguém os viu em Bissau, Gadamael, Cacine, Mansoa, etc... aquando da transferência dos nossos aquartelamentos, o que seria normal e expectável se o PAIGC os tivesse... (Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/73, Jemberem, Mansoa e Bissau, 1974)

1. Comentário, ao poste P16309 (*), do nosso camarada Joaquim Sabido

[foto à direita, abaixo: Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CArt/BArt 6520/73 e CCaç 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974);  foto à esquerda: Joaquim Sabido, hoje, advogado, a viver em Évora;  é nosso grã-tabanqueiro desde 24/8/2010; tem uma dezena de referênciasno nosso blogue]



No meu modesto entendimento, este tema encontra-se estreitamente ligado à questão da "guerra perdida vs. guerra ganha".

Naturalmente que não podemos nunca deixar de equacionar que a situação não se poderia eternizar. Por vezes, há camaradas que aqui vêm quase pedir contas àqueles que, como eu, nos encontrávamos no TO do CTIG a 25 de Abril de 74 e que entregámos o território. Sinto-me quase na obrigação de pedir desculpa por ter nascido mais tarde e, por isso, de lá estar no ano de 1974 e não antes.

Quanto à temática dos blindados no terreno. Nunca dei conta de tal e, à época da alegada aparição de viaturas blindadas, estávamos, precisamente, em Jemberém. O buraco a que se chamava quartel, era mesmo em cima de uma estrada que foi alcatroada e que ia até Cadique (isso eu sei) e diz-se que fazia ligação com a Guiné Conakry (isso eu não sei).

Mas blindados só se eram como os que alegadamente o Sadam teria no Iraque.

De facto, o pessoal até dizia que os ouvia o IN noite dentro a circular. Isto apesar de lhes explicar e demonstrar que aquilo que efectivamente escutavam, com maior nitidez durante a noite, como é óbvio, tratava-se, a final da maré a encher ou vazar no braço de mar que ia ter ou que vinha do Cacine e que se situava a cerca de 3 kms do aquartelamento.

Estou certo de que se tratava, mais de um mito "urbano". No mato nunca tal foi avistado.

Nem, posteriormente, em Bissau, ouvi a nenhum dos elementos do PAIGC com os quais contactei - por razões de passagem de testemunho da guarda ao Palácio do Governador e outras actividades de segurança na cidade - falar desse material de guerra.

Senão atentemos que, por exemplo, quando lhes foi entregue Gadamael, Cacine, Mansoa ou até mesmo Bissau, apareceu algum desse equipamento? Não seria de bom tom, se tivessem esses blindados, que os viessem apresentar? Parece-me que a resposta só pode ser que sim, que apareceriam com eles.

Então no relato do tal cubano [, Ramón Pérez Cabrera,] não se diz que se deram ao trabalho de resgatar o blindado inutilizado pela mina? Teriam lá também o reboque do ACP?

Num dos almoços do BART 6520/73, é que o meu Camarada Eiras (de Bragança e fur mil de transmissões da minha 3.ª CART) me recordou uma situação por ele vivida em Bissau, e que passo a relatar:
No quartel onde ele se encontrava colocado,  depois de termos regressado de Jemberém, e estando ele na parada,  acompanhado do seu adjunto também em Jemberém, o cabo das transmissões, foi abordado por dois elementos do PAIGC, e que lhes disseram de imediato: "Vocês estavam em Jemberém, não estavam?" A resposta não podia deixar de ser afirmativa.

Acontece que um desses elementos que até nem falava português, apenas o crioulo, disse através do outro que o cabo de transmissões, uma vez no cais de Jemberém, tinha tido a arma apontada à cabeça quando se encontrava em cima de uma Berliet - numa situação de reabastecimento e no transbordo da LDP (era só o que lá chegava).

Isto porque o nosso cabo de transmissões era facilmente reconhecido e identificável devido a umas malhas brancas que, aos 21 anos, já tinha no cabelo.

Concluíram dizendo que não dispararam nem nos atacaram ali, porque tiveram medo e não eram muitos, estavam a recrutar pouco. Afinal também tinham medo.

E estamos a falar de uma base importante na região, esta que eles tinham ali ao nosso lado. Que ao que se dizia até tinha hospital.

E cubanos também, meu caro Pereira da Costa. Sendo certo que entendo perfeitamente o que dizes e a vossa posição. E, pessoalmente, agradeço pelo 25 de Abril. Apesar dos níveis de adrenalina a que aquela terra, a guerra e o embrulhanço nos levavam, não podíamos manter a situação por muito mais tempo. Por esse andar já lá tinha ido o meu filho e um dia deste ia o meu neto. Não!

Concluindo: blindados nem vê-los. Estávamos à espera que entrassem por ali dentro e levassem as três fiadas de arame farpado que por lá tínhamos. Mas não.

Um grande abraço para todos e continuo a partilhar e a concordar com as opiniões expendidas nos textos (as quais já tive oportunidade de escutar atentamente e de viva voz) do nosso camarada e amigo AMM (*).

Joaquim Sabido


Uma das raras fotos de viaturas blindadas, alegadamente ao
ao serviço do PAIGC no final da guerra. Foto (pormenor) do
Arquivo Mário Pino de Andrade / Casa Comum /
Fundação Mário «Soares.
 Clicar aqui para ver o original
2. Comentário do nosso editor LG (*):

No Arquivo Amílcar Cabral, tratado e disponibilizado para o grande público pela Fundação Mário Soares, no portal Casa Comum, não há qualquer referência a viaturas blindadas entregues pelos russos no porto de Conacri... Estamos a falar de 10 mil documentos, que abrangem todo o período da guerra de "libertação",,,

Até finais de 1971, a ex-União Soviética só fornecia armas automáticas, RPG 7, munições, fardamento, medicamentos e coisas assim... E mesmo assim era preciso negociar com o "ciumento" Sekou Touré... que não perdoava a Amílcar Cabral o crescente prestígio e protagonismo a nível internacional e o leque de alianças e apoios (que ia da Suécia à China)...

Felizmente para nós, parte do armamento e das munições deviam ser "obsoletos"... São os próprios e "insuspeitos" cubanos que dizem que 40% das granadas lançadas contra Copá em janeiro de 1974 não rebentavam!... (As culpas tanto podiam ser dos fabricantes como, mais provavelmente, das condições de transporte, armazenamento e operação).

BRDM para o Amílcar Cabral? Devem ser fantasias dos burocratas da 2.ª Rep, para justificar o seu ordenado ao fim do mês e as horas de tédio (e de algum cagufe) passadas em Bissau... A gente sabe como funcionava a nossa "intelligentsia" na Guiné, incluindo os "broncos" da PIDE/DGS... que tinham a 4.ª classe mal tirada...

O PAIGC nunca teve, ao que parece, este tipo de veículos... Os russos terão oferecido, em 1969, 10 BRDM-1 (5 toneladas e meia + 4 tripulantes e depósito de 150 litros de gasolina)... "Sucata" que o Sekou Touré poderá ter disponibilizado, depois da morte de Amílcar Cabral, aos homens do PAIGC... que ele precisava de controlar... Mas aquela viatura devia gastar 100 aos 100!...

Como é que vocês queriam vê-la a passar o "arco de triunfo" em Bissau? Ou a passar a ferro as 3 fiadas de arame farpado de Jemberém?

Quanto às BRMD-2 (versão posterior, melhorada, 7 a 8 toneladas!), era muito menos provável que os guerrilheiros do PAIGC alguma vez lhes tenham posto a vista em cima... a não ser, já reformados, em 1998, quando a Ucrânia ofereceu à Guiné-Bissau quatro veículos desses, se calhar a cair de podres... É que até a caridade tem um preço!

Angola teve 50 destes veículos, mas já em plena guerra da chamada "2.ª independência"... E Angola tinha petróleo e diamantes, contrariamente à pátria de Amílcar Cabral...

O BRMD-2 era um "besta" de 7 a 8 toneladas, com uma tripulação de 4 elementos (condutor, adjunto, comandante apontador de metralhadora pesada...) e um depósito de 290 litros de gasolina, 5,75 metros de comprido, 2 metralhadoras (uma pesada e outra ligeira)... Onde é que o PAIGC tinha gente com unhas para manobrar um "anfíbio" destes? E sobretudo logística? E depois era um alvo fácil para a nossa aviação...

Ler aqui mais dobre o BRDM-2 (em inglês):

(...) O BRDM-2 (Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, Боевая Разведывательная Дозорная Машина, literally "Combat Reconnaissance/Patrol Vehicle"[5]) is an amphibious armoured patrol car used by Russia and the former Soviet Union. It was also known under the designations BTR-40PB, BTR-40P-2 and GAZ 41-08. This vehicle, like many other Soviet designs, has been exported extensively and is in use in at least 38 countries. It was intended to replace the earlier BRDM-1, compared to which it had improved amphibious capabilities and better armament. (...)
_______________

Nota do editor:

16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

sábado, 24 de novembro de 2012

Guiné 63/74 – P10717: (Ex)citações (203): Comentário ao poste P10555: O nosso livro de visitas (150): À procura de camaradas da 3ª C / BART 6520/73 que estiveram no inferno de Jemberém, em maio/junho de 1974 (Norberto G. Pereira, ex-fur mil)


1. Pela importância dos esclarecimentos e achegas prestadas, passamos a “poste” o comentário inserido pelo nosso Camarada-de-Armas Abreu dos Santos na mensagem P10555, tendo também como intuito apurar-se a verdade dos factos e, fundamentalmente, a identidade do (eventualmente malogrado) militar. 

“Joaquim Rebocho Sabido, Norberto Gonçalves Pereira, Manuel Andrade, e outros veteranos da Guiné-do-fim, interessados em contribuir para o completo apuramento sobre a concisa identificação do militar, supra referido – em "comentários" –, como tendo "morrido afogado no dia 04-06-1974 em Cacine" e cujo corpo não terá sido passível de resgate: 

a) - em nenhum dos concelhos madeirenses, consta que algum militar tenha falecido, pós-25Abr74, por causa de acidente/afogamento; 

b) - na supra citada "Companhia Madeirense", foram registadas as mortes, de Fernando António Gomes Henriques (27Jan74 por "doença"), de Celestino de Freitas Reis (13Fev74 por inopinada deflagração de "granada encontrada abandonada"), e de João Heliodoro Rodrigues Figueira (17Ago74 por "tiro inopinado c/arma-de-fogo").

Aceitemos então, concedendo o benefício de dúvida, estarmos perante a hipótese de uma lamentável omissão nos registos castrenses, plausível face aos conturbados tempos que então se viviam, quer naquele teatro-de-operações como também na rectaguarda metropolitana. 

A título de ajuda-de-memória(s), relembra-se que em Cacine e na data indicada, estava desde 29Out73 aquartelada a CCav8354 (que em 12Ago74 entregou ao IN aquelas instalações das NT). 

Resta-nos recorrer: ao que existe, da citada subunidade mobilizada pelo BII19, no acervo do AHM (2ª Divisão, 4ª secção, Caixa nº 116); e tb aguardar que algum ex-militar das CCac4946 e CCav8354 – preferencialmente os seus respectivos comandantes (capitães milicianos Abílio Fernandes Machado e António Lourenço Dias) –, se "apresentem na parada" para nos elucidar, através de meios-de-prova substantivos e inequívocos, sobre este estranho caso de "um soldado afogado em 04-06-1974 no rio Cacine e não "recuperado", do qual apenas os veteranos supra nomeados – nenhum testemunha presencial da ocorrência –, se recordam difusamente e sobre o qual escreveram, 'en passant' e em jeito de comentários à margem do tema proposto, neste postal 10555 do Blogue dos Camaradas da Guiné.

Melhores cumprimentos,
Abreu dos Santos” 
___________ 

Nota de MR: 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10555: O nosso livro de visitas (150): À procura de camaradas da 3ª C / BART 6520/73 que estiveram no inferno de Jemberém, em maio/junho de 1974 (Norberto G. Pereira, ex-fur mil)

1. O nosso editor Luís Graça recebeu, em 21 do corrente, na sua caixa de correio profissional, a seguinte mensagem do nosso leitor (e camarada) Norberto Pereira:

De: Norberto Pereira [norbertogpereira52@gmail.com]

Enviado: domingo, 21 de Outubro de 2012 21:09

Assunto: Combatentes da Guiné

Estive em Jemberém, Guiné,  de princípios de Maio a 3/4 de junho de 1974, ao serviço do exército, na 3ª C/ BART 6520/73. 

Tinha o posto de furriel. Abandonámos o destacamento à revelia dos comandos de Bissau,  sendo apoiados na retirada pela Marinha Portuguesa, em  LDG [, Lancha de Desembarque Grande]. 

Atracámos em Cacine. O abandono foi provocado por uma ameaça de ataque ao arame por uma força de 150/200 militares do PAIGC. Depois de nos ter sido negado qualquer apoio na defesa de Jemberém, tivemos que fazer a retirada abruptamente,  com o apoio da Marinha Portuguesa. Antes disso, rebentámos com alguns abrigos subterrâneos e construções ali existentes...

Como vinha dizendo, a  retirada foi considerada um ato de insubordinação, perante os comandos de Bissau, da qual resultou na transferência do todos militares, as praças que foram transferidas por pelotões, e os sargentos e oficiais que  foram transferidos individualmente. 

Assim, gostava de rever militares que foram camaradas nesse destacamento, como contactá-los, enfim, trocar opiniões, dissertar sobre a nossa permanência na Guiné. 

 Aguardo contacto com novidades. Um abraço.

Norberto G. Pereira

2. Comentário de L.G.:

Norberto, muito obrigado pela visita. Temos muito gosto em acolher-te nesta fabulosa família de antigos combatentes e demais amigos da Guiné, a Tabanca Grande, que se reunem aqui à sombra de um simbólico mas mágico poilão. Para tal, tens que aceitar as regras que nos regem (constantes da coluna do lado esquerdo) e pagar o ingresso no blogue, que são 2 fotos (uma atual e outra do teu tempo de tropa) + 1 história passada na Guiné...

Quanto aos camaradas que procuras, deixa-te dizer-te que este é o local ideal para o fazeres. Pertenceste à 3ª C/ BART 6520/73... Para já, tens aqui dois camaradas do teu batalhão (e um da tua companhia), inscritos na nossa Tabanca Grande, que passaram por Jemberém, a seguir ao 25 de abril de 1974, e que têm ainda muito para contar, tal como tu:

(i)  Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém - 1974);

(ii) Joaquim Sabido, ex-Alf Mil Art, 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974).


Guiné > Carta de Cacine (Escala 1/25000) > Posição relativa de Cadique, Jemberém e Cacine, em pleno Cantanhez
_______________

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Guiné 63/74 – P10081: Convívios (457): 5º Encontro da 1ª CART do BART 6520/73, Penafiel, 21 de Abril de 2012 (Manuel Sousa)

1. O nosso Camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa, que foi Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique e Jemberém - 1974 -, enviou-nos a seguinte mensagem com uma pequena e curiosa estória, e notícias do último encontro da sua companhia.


“Operação” realizada no IAO. Bolama, 14 de Abril de 1974  (Domingo de Páscoa) 

Camaradas,

Nesse dia, encarregaram-me de comandar uma secção, que foi destacada para fazer de inimigo no referido IAO.

Após preparação prévia, tínhamos como missão efectuar um ataque à 2ª companhia, cerca das 22h30.  A companhia depois de 1 dia de muito desgaste físico, alimentada a ração de combate, estava posicionada no tradicional "grande alto", com sentinela garantida por 1 elemento de cada secção.

Ao aproximarmo-nos do objectivo, em pleno interior da ilha em que as elevadas e densas copas das árvores e restante vegetação tornavam a progressão lenta, com todos os homens muito ligados, comigo à cabeça (porque tinha sido eu a fazer o reconhecimento do local).

Quando estávamos a cerca de 1 quilómetro, cruzou-se, poucos metros à nossa frente, uma numerosa coluna em linha de vultos escuros (africanos ou portugueses?).  Ficamos imobilizados, protegidos/escondidos por um tronco de uma árvore de grande porte e não chegámos a saber quem seria aquela gente.

Para uma secção com apenas com 10 dias de Guiné, foi uma experiência estranha que nunca esqueceremos.

O ataque que efectuamos com a táctica do quadrado (também conhecida por Fidel Castro), permitiu demonstrar a quase nula atenção das sentinelas (talvez devido ao cansaço, inadaptação ao clima, etc.), o que teria permitido, caso assim o tivéssemos pretendido fazer, inclusive levar-lhes as respectivas G3.

Na madrugada seguinte, cerca das 05h00, foi a vez dessa companhia executar um golpe-de-mão sobre a nossa, no local onde pernoitamos junto ao mar/praia sob uma paragem/abrigo em muito mau estado, mas protegeu-nos do cacimbo da noite.




5º Encontro da 1ª CART/BART 6520/73 

No passado dia 01 de Abril de 1974, realizamos o 5º Encontro da nossa companhia, que incluiu uma visita à “casa” de onde partimos para a nossa “aventura” africana.

A carta/roteiro do encontro teve como objectivo principal recordar a instalação/Unidade, onde formamos o batalhão e sentimos o 1º pulsar da revolução que viria a verificar-se no dia 25 de Abril de 1974.

Como já fiz referência em relato já publicado no poste P9875, o ensaio (?) da revolta das Caldas do dia 16 de Março de 1974, contou com a adesão praticamente total do meu batalhão, e, como “prémio” desta nossa postura,  foi trocada a zona do TO que nos estava destinada.

Assim, em vez da localidade de Tite, fomos colocados no Cantanhez - Cadique/Jemberém.  Como o nosso CMDT - Tenente-Coronel Virtuoso, não gostou da nossa “brincadeira”, uma vez chegados à Ilha de Bolama,  retribuímos-lhe a amabilidade e “despachamo-lo” para Bissau.

O programa do evento iniciou-se no ponto de reencontro - o ex-RAL5 / Penafiel -, entre as 11h00 e as 11h30.

Seguiu-se a recepção e uma visita à Unidade, que agora está atribuída à GNR, guiada pelo seu actual CMDT, tendo os presentes recordado alguns momentos mais marcantes da nossa passagem por aquele quartel.

Constatámos a existência de várias placas alusivas à passagem de outras Companhias e Batalhões, que estiveram no ultramar, ficando também ali assumido, por nós, o compromisso de, em Abril do próximo ano, colocarmos uma placa do nosso Batalhão.

Cerca das 13h30, caminhámos para o habitual convívio/almoço no restaurante "Ramiro de Pieres", relativamente próximo da cidade, que satisfez plenamente o grupo.


Frente à porta de armas (da esquerda para a direita): Fur Mil Ferro, Capitão Carvalho, Fur Mil Couto, Fur Mil Sousa, Fur Mil Arnaldo, Fur Mil Paulino, Alf Mil Espada, Fur Mil Saraiva e Alf Mil Ramos. 

Um abraço para todos,
Manuel de Sousa
Furriel Miliciano da 1ª CART do BART 6520/73
____________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em 24 de junho de 2012 > Guiné 63/74 – P10068: Convívios (456): 6º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Guimarães, 23 de Junho de 2012 (Benjamim Durães)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9875: Tabanca Grande (337): Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém - 1974)



    1. Mais um Camarada se perfila junto a nós nesta Unidade virtual, desta vez é o Manuel Luís Nogueira de Sousa que foi Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém - 1974 -, que nos enviou a seguinte mensagem.
Camaradas, 


Chegamos ao Cumeré em 01 de Abril de 1974, com o “cheiro” a mudança no ar (a movimentação de 16 de Março de 1973, liderada pelo tenente Varela – meu comandante de companhia no RI5 -, nas Caldas da Rainha). Do Cumeré seguimos para Bolama onde decorreu o IAO e vivemos o momento histórico do 25 de Abril de 1974. No meu caso, festejei alegre e incontidamente, fazendo eu, para o “filme” de elemento IN. Os festejos decorreram conjuntamente com a 2ª CART, de forma muito emotiva. 



O meu batalhão deixou marcas na passagem por Bolama, que mais tarde, e com o contributo de outros militares, poderá aqui ser retratada. 



No início de Maio fizemos a viagem em direcção á zona que nos estava destinada, o Cantanhez. 


Fomos finalmente colocados em Cadique/Jemberém, que, segundo soubemos pelos relatos que tenho lido neste “blogue” de militares que nos antecederam, era uma das zonas de maior risco na Guiné, sofrendo ataques e flagelações constantes com os graves danos materiais e humanos que todos sabemos. 

Felizmente para nós que, nessa altura em que lutávamos pela sobrevivência, se deu a muito desejada e já mencionada revolução de abril, que contribuiu para o fim da guerra que tantas marcas de dor e luto deixou em muitas famílias portuguesas. 

Relativamente ao camarada do blogue - Magalhães Ribeiro -, com quem já conversei pessoalmente, verifiquei que temos um traçado muito semelhante, nascemos ambos em 1952, eu regressei da Guiné com 10 dias de diferença (cheguei no dia 05 de Outubro) e estamos na mesma empresa – a EDP -, eu na DNDAT e ele no PHMN, e estamos na Boavista/Porto.



Saudações a todos os Camaradas,

Apresento-me agora, com grande satisfação e emoção pessoais, comprometendo-me a contribuir com a minha experiência vivida em pleno teatro de guerra, felizmente já no seu “defeso”.

Sinto-me, a cada dia que passa, pressionado psiquicamente a dar também a minha perspectiva dos sentimentos e análises sobre as acções/reacções que vivi/senti naqueles cruciais e angustiantes momentos do fim da guerra.

Creio bem, que saímos engrandecidos e nos reafirmamos como um povo de valores, que não esquece o sofrimento de todos aqueles que, com os seus temores, destemores e sacrifícios, deram o seu melhor para que o 25 de Abril/74 tivesse êxito no terreno.

Quero expressar aqui um bem-haja de homenagem a todos os Camaradas e familiares, cujas marcas físicas e psíquicas permanecem bem vivas e os acompanharão até ao fim nesta longa “viagem” que todos fazemos.

Passo a resumir o trajecto deste meu último batalhão a sair do ex-RAL5 (Penafiel), em direcção ao teatro de guerra na Guiné.

No dia 1 de Abril partimos de Lisboa (avião) rumo a Bissau e dali para o Cumeré. No dia 4 seguimos para Bolama onde decorreu o IAO (durante cerca de 1 mês).

Como já referi, o 25 de Abril foi ali vivido de forma eufórica (fazendo eu o papel de IN na festa comemorativa). Festejos que realizamos conjuntamente com a 2ª CART, até altas horas da noite.

Este acontecimento já era por nós expectável, na sequência dos acontecimentos do dia 16 de Março de 1973 (o célebre golpe das Caldas liderado pelo então tenente Varela, que era meu comandante de companhia).

O nosso batalhão reagiu favorável e satisfatoriamente à movimentação da malta das Caldas, sendo este um 1º ensaio de revolta, e, em consequência, foi-nos alterado o local que nos estava destinado na Guiné - Tite -, que passou a ser Cadique.

Foi o prémio da nossa postura, que também contrariava o modo de pensar do nosso comandante de batalhão, que se opunha a “revoluções” e estava contra o 25 de Abril, dando a entender que todo o batalhão se opunha também.

Obviamente esta sua posição não convenceu ninguém.

Então, já em pleno centro de Bolama, “despachamos” o comandante, e passamos a viver 100% com o espírito “abrilista”.

Seguiu-se a chegada à zona de Cadique-Jemberém… etc., com a recepção aos elementos do PAIGC, onde encerramos a nossa presença com a troca de contactos com os sues guerrilheiros (sem complexos), arriamos a nossa bandeira nacional e eles hastearam a nova bandeira da Guiné-Bissau, com parada e guarda de honra.

Penso que todos os relatos que possamos fazer, nunca deverão deixar de realçar o sofrimento vivido no terreno, e que poderia e deveria ter sido evitado pelos políticos da época, se tivessem sido perspicazes e sensíveis aos acontecimentos vividos no continente africano, como foi o caso de outras potências colonizadoras (bem mais potentes que Portugal), cujos dirigentes gostavam mais do seu povo.

Hoje, longe da guerra, lendo e analisando os relatos dos que nos antecederam em Cadique, adivinho o muito sofrimento, dor e sangue que derramaríamos naquelas terras. 

 No regresso, a bordo do navio UIGE

 Ainda a bordo do navio UÍGE

Na ilha de Bolama 

Obs: Já tenho registado, ao longo dos últimos tempos aqui no blogue, curtos comentários.

Um abraço para todos,
Manuel de Sousa
Furriel Miliciano da 1ª CART do BART 6520/73

___________
Notas de M.R.: 

Amigo e Camarada Sousa, em nome do Luís Graça e restantes Camarada deste Blogue, quero desejar-te as boas vindas a este nosso “quartel” virtual e transmitir-te que contamos contigo para nos contares tudo aquilo que te lembrares dos teus tempos na Guiné (bom e mau).

Como já reparaste além das histórias, também gostamos de publicar (quando os há claro), fotos e documentos daqueles perigosos conturbados tempos  

Ainda muito recentemente se juntou a nós também o nosso colega da EDP, o Leopoldo Correia (ver poste P9840).

Assim, bem-vindo e um abraço Amigo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6896: Tabanca Grande (238): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/72 (Guiné, 1974)

1. Mensagem de Joaquim Sabido (ex-Alf Mil Art, 3.ª Cart/Bart 6520/73 e CCaç 4641/72, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974), com data de 11 de Agosto de 2010:

Meus Caros Camaradas:

Aproximando-se o decurso de 36 anos após o meu regresso da Guiné, que se completará no próximo dia 25 ou 26 de Setembro, senti como que uma necessidade em ver, ler e saber mais alguma coisa relativamente aos ex-combatentes, designadamente, no que respeita a camaradas que comigo estiveram no CTIG, entre os dias 3 de Abril e 25 ou 26 de Setembro de 1974 e foi quando tomei conhecimento da existência e posterior contacto com este belo sítio, que em boa hora tiveram a ideia de fazer nascer e criar, com muito muito trabalho, estou certo. "Salta,,  Periquito" já estarão a dizer alguns Camaradas que tenham a paciência para ler esta minha mensagem.

Na verdade, assim aconteceu, contava então 21 anos de idade, pois completei os 22 anos lá na Guiné, concretamente no dia 3 de Agosto de 1974, quando me encontrava estacionado em Ilondé, suponho ser esta a grafia correcta, pois só agora, no decurso da leitura de quanto se relaciona com Jemberém, tive a oportunidade de constatar que, presentemente, se denominará Iemberém (?), para aqueles de nós que tivemos a (in)felicidade de por lá passar, será sempre, seguramente, Jemberém, sendo este o tema que, por ora, me impeliu - para além da imensa saudade desses tempos, a vir à presença dos distintos Camaradas desta Tabanca Grande.

Já agora, entendo ser de bom tom e minimamente exigível proceder à minha apresentação:

Sou o Camarada Joaquim Sabido, que já em 74 residia em Évora e assim ainda acontece, completei há poucos dias os 58 anos de idade. Contra a minha vontade e seguramente que contra a vontade da maioria, fizeram-nos embarcar e levaram-nos (no meu caso) num avião dos TAM [, Transportes Aéreos Militares, ] no dia 3 de Abril de 1974, com destino ao então administrativamente denominado Território Ultramarino da Guiné, tendo chegado ao aeroporto de Bissau cerca das 12 horas desse mesmo dia e aí, ao sair pela porta do avião, tendo sido logo acometido de um enorme sufoco, até me faltou a respiração ainda agora me recordo dessa sensação (no regresso foi pior, pois mandaram-me de barco, no Uíge, o que demorou muito mais tempo) e, de imediato, embarcámos para o quartel do Cumeré, como ocorreu com quase todos os que integraram o Exército, ou seja, os da "tropa macaca".

Do Cumeré, com o BART 6520/73, que formou em Penafiel, partimos para Bolama numa ou em duas Lanchas de Desembarque Grandes (LDG), não me recordo, sendo certo que, até há bem pouco tempo, sempre me recusei a pensar nisso, isto é, nesse período de tempo. Todavia, agora, vejam para o que me está a dar, isto só pode ser da idade.

Após completarmos a tal IAO, em Bolama, cidade de segui em directo a noite de 24 para 25 de Abril, pela radiotelefonia, naturalmente, as notícias que nos iam chegando através da BBC, já que, quando partimos, tínhamos perfeito conhecimento do que iria ocorrer, só desconhecíamos quando e a que horas, em Penafiel, à época, estava o Sr. Capitão de Artilharia Dinis de Almeida e, por outro lado, havíamos estado uns 6 meses na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, onde tivemos oportunidade de contactar com muitos Srs. Capitães e Tenentes do Q.P., e, por isso, de algum modo fomos tendo conhecimento do estado da Nação, no que às Forças Armadas e também em matéria de Guerra Ultramarina dizia respeito.

De Bolama, seguiu o Batalhão 6520/73, para Cadique e, a 3.ª CArt desse Bart, à qual eu pertencia, comandando o 2.º pelotão, enquanto Alferes Miliciano de Artilharia, foi colocada em Jemberém, local onde, assim que lá chegámos, o PAIGC nos recebeu, dando-nos as boas vindas com um bombardeamento. Não sei nem queria saber de que armamento se tratou, sei que apenas queria era sair dali, durante os 2 meses em que lá permanecemos, ainda embrulhámos mais umas 7 ou 8 vezes, sendo que, nos ataques posteriores, já conseguíamos ir para a vala e responder com os 3 obuses 10,5 que lá se encontravam. Valeu-nos, aquando dos festejos de boas-vindas, a disponibilidade e o conhecimento do pessoal de uma CCaç (não sei quantos) composta por Camaradas Madeirenses que lá se encontravam há cerca de 6 meses (*).

Chegamos então à partida de Jemberém, que como já acima referi, é o motivo pelo qual venho à vossa presença.

Foi superiormente determinado que Jemberém seria o primeiro "buraco", digo, aquartelamento, a ser evacuado, então, aqui este vosso Camarada, que se encontrava a comandá-lo, com a concordância de outros Camaradas, resolvemos, com as cerca de 150 granadas de obus 10,5 que restavam, dispô-las pelo perímetro junto ao arame farpado, bem como os restantes explosivos que restavam e fizemos, então, a nossa despedida, rebentando com aquilo tudo, certamente que lá terá ficado uma cratera bem visível através dos satélites.

Nesta parte, não posso deixar de referir que tivemos a ajuda do Sr. (então 1.º Tenente Fuzileiro Naval) Benjamim [ Lopes de Abreu], um Senhor que teve a gentileza de me "adoptar" como seu amigo, mas que, infelizmente, devido a acidente de viação ocorrido há alguns anos, quando era o Comandante dos Fuzileiros, já não está entre nós, já que prematuramente nos deixou. (**)

Fomos os dois últimos militares das Forças Armadas Portuguesas a pisar o local onde se encontrava instalado o aquartelamento de Jemberém, e fomos ambos a carregar no detonador ao mesmo tempo, cada um de seu lado na caixa do "interruptor" que era em "tê". Em Gadamael Porto estremeceu tudo, e em Cacine parece que tinha ocorrido um sismo de grau bastante elevado, conforme me foi relatado por Camaradas que ali se encontravam. Em Cadique então, parece que foi uma coisa tremenda.

Por isso que, os Camaradas que por lá têm ido estranham ou não reconhecem o local e outros que têm vindo dizer que aquilo não era assim, etc..., estou certo de que não têm sido levados ao local onde se encontrava o aquartelamento e as seis ou sete habitações dos nativos que por lá estavam. Reparem, o memorial dos Galos do Cantanhez que por lá haviam estado, teve que ser reconstruído e colocado num outro local, vê-se nitidamente pelas fotografias publicadas que ali não se encontra há muito tempo. Tivemos o cuidado em não dispor explosivos junto aos memoriais, isso é certo, aquilo que pretendemos foi, no essencial, não deixar lá nada que se aproveitasse, não andámos a trocar galhardetes com o pessoal do PAIGC.

Isto não é uma crítica a ninguém, apenas refiro isto porque na minha perspectiva e no meu modo de ser e de estar, à época não dava para tal, pelo menos em razão da memória de quantos por lá tombaram, era impensável constituir qualquer relação de amizade com o pessoal do PAIGC. Se assim for entendido pelos Camaradas editores, dando-me luz verde para escrever mais alguma coisa, explanarei, quanto a esta matéria, como foi a minha relação que se pautou apenas sob o ponto de vista institucional, com o pessoal do PAIGC, com quem passei a contactar dia sim, dia não, em Bissau, isto porque era quando me encontrava a comandar a guarda ao Palácio do também já falecido Sr. Brigadeiro Carlos Fabião (igualmente, um grande Homem, na minha modesta opinião), e que por inerência de funções, quando o PAIGC, se instalou em Bissau, numa vivenda numa rua lateral ao Palácio com eles tinha uma reunião matinal, agora parece que é um briefing.

Anexo uma fotografia tirada no Jardim do Palácio, em dia de folga, pois estava o Camarada Alf Mil Brás, da 4641, de serviço nesse dia.

Assisti e vivi por dentro o complicado processo para desarmamento do Batalhão de Comandos Africanos, um grande abraço para o (então) Sr. Capitão da Força Aérea Faria Paulino, Ajudante de Campo do Sr. Brigadeiro, se ele ler este sítio. Ao que sei, encontra-se a residir e a trabalhar na Ilha da Madeira. Porque no sítio não consigo encontrar qualquer referência a outros Senhores que então lá conheci, aproveitava para, daqui enviar as minhas saudações e respeitosos cumprimentos aos seguintes Grandes Militares e Homens que, fizeram o favor de ser meus amigos, pelo menos nesse período de tempo e tanto quanto vou sabendo, pois vou sempre perguntando, encontram-se com saúde e recomendam-se:

(Com as patentes de então)

Sr. Comodoro Almeida Brandão, Comandante Naval da Guiné, Senhor que sempre que eu tinha fome e ia à messe da Marinha, tinha a gentileza de me convidar para a sua mesa, já que eu era uma visita, e me perguntou na primeira vez que lá me viu o porquê da minha presença naquela Messe, tendo desde logo compreendido que a fominha era mais que muita e desde então passámos a ter conversas interessantíssimas versando diversos temas, que ora eram da ordem do dia, ora eram de ordem cultural, pois atendento aos vastos conhecimentos do Sr. Comodoro, actualmente Almirante, com ele muito aprendi; (***)

Sr. Comandante Patrício (capitão-tenente FZ), à época comandante do COP 5, sediado em Gadamel Porto, onde me levou a passar 5 dias com ele e com os seus acompanhantes, que eram os cabos FZ:

Srs. Edgar, Pedras, Guiné, que ao que sei se reformaram no posto de sargentos e, ainda, o já falecido Moscavide, que afinal era alentejano de Mértola;

Sr. Capitão Pára-quedista, Valente dos Santos, ou deverei dizer Astérix, que era o seu nome de código quando se encontrava em operações, na mata, por intermédio de quem tive o gosto de conhecer o Sr. Capitão Marcelino da Mata, bem como outros elementos que pertenciam ao seu grupo de combate e que, por lá abandonámos...;

Sr. Capitão Miliciano de Infantaria Amândio Fernandes, que reside na bela cidade da Guarda, local onde, em Setembro de 2009, me recebeu e a outros Camaradas da 4641 (que esteve em Mansoa), para um bom almoço de cumbíbio; a outros Camaradas da 4641, espero vir a reencontrá-los no segundo fim-de-semana de Setembro, para mais um almocinho e então abraçá-los-ei; não posso deixar de referir e agradecer a forma como todos quantos integravam a CCaç 4641 me receberam e trataram em Mansoa, por tudo isso, o grande Bem-Hajam, do periquito;

Sr. Capitão Imaginário, que tive o grato prazer de conhecer em Gadamael Porto, aquando da minnha visita ao local;

Sr. Capitão de Cavalaria Bicho, também alentejano, que eu já conhecia de Estremoz e que, talvez por isso, não acatou a ordem do então Sr. Coronel Afonso Henriques, chefe do Estado Maior, que para ele telefonara directamente no sentido de que me prendesse no COMBIS, numa noite em que ali fui detido por sua ordem para esse efeito;

A todos os Camaradas do Bart 6520/73, que apareçam e digam alguma coisa, designadamente:

(i) Os Alf Mil Brito, de Lisboa, Av.ª de Roma; o Celestino, o Frade, de Lavacolhos; o Milheiro, do Alto do Pina, o Ramos, o Pereira,

(ii) os Fur Mil Marcelino, de Coimbra, o Ferraz e o Pereira, do Porto, e não me recordo de mais nomes, nem do nome do Capitão Mil da minha Cart já me recordo.

Aceitem todos os Camaradas as cordiais saudações do Camarada

Joaquim Sabido


2. Comentário de CV:

Caro Sabido, as nossas desculpas por só agora a tua mensagem, de 11 de Agosto, estar a receber o tratamento devido. De todo o modo estás já apresentado à Tabanca Grande (****), logo poderás começar a trabalhar quando quiseres.

O período, que viveste, logo a seguir ao 25 de Abril,  até à independência da Guiné, foi um tanto conturbado e complicado para os militares portugueses. Pelo que tenho lido, aqui e ali procedeu-se a cerimónias mais ou menos oficiais de entrega de quartéis ao PAIGC, enquanto os políticos assobiavam para o ar, esquecendo-se do que o que estava em causa era a solução política da guerra, há muito desejada por ambos os contendores.

Como muito bem fizeste, os militares portugueses não tinham que entregar nada a ninguém, apenas retirar em segurança, deixando aos políticos a sua missão de assinar os papéis e conceder aos novos países a soberania por que há muito lutavam.

Esperamos que nos contes como viste e sentiste essa época e o modo como agimos em relação ao PAIGC.

Tens já alguns temas para desenvolver, mas antes que me esqueça, se algum dia resolveres deixar-nos, por favor não te enerves nem armadilhes o Blogue. Calma, homem que temos arquivos muito, mas muito valiosos. É que não gostámos da tua despedida de Jemberém, só violência...

Caro Joaquim, com esta brincadeira passo às despedidas, endereçando-te o habitual abraço de boas-vindas da tertúlia. Instala-te e fica à vontade.
__________

Notas de CV / LG:

(*) Até Fevereiro de 1974, esteve em Jemberém a CCAÇ 4942/72, madeirense, os Galos do Cantanhez. Foi substituída, no subsector de Jemberém,  pela CCAÇ 4946/73, tamnbém madeirense.

(**) "O Comandante Benjamim Lopes de Abreu, natural da Freguesia de Chãos, Ferreira do Zêzere, Santarém, nasceu em 11 de Março de 1945, tendo sido incorporado a 24 de Fevereiro de 1967 na Reserva Naval na Classe de Fuzileiros.

"Frequentou os Cursos de Formação de Oficiais de Reserva Naval (CFORN), obtendo a classificação final de 'Cota de Mérito', Curso de Fuzileiro Especial da Escola de Fuzileiros em 1967. Fez parte do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 12 na Guiné de 1967 a 1969, como 4º Oficial. Fez também parte do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 22 de Novembro de 1970 a Dezembro de 1971 tendo participado na Operação Mar Verde, de resgate de prisioneiros na República da Guiné - Conacri e tendo sido colocado posteriormente no Centro de Operações Especiais de Bolama.


"Da sua Folha de Serviços constam numerosos Louvores e Condecorações atribuídas pelas mais altas entidades do Estado, nomeadamente, a Cruz de Guerra de 2ª Classe, a Cruz de Guerra de 3ª Classe, a Militar de Serviços Distintos com Palma e as Medalhas Militares Comemorativas das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas com as Legendas 'Guiné 1967-71' e 'Guiné 1972-73'.


"O Capitão-de-mar-e-guerra FZE Benjamim Lopes de Abreu foi casado Com a Sr.ª D. Maria Odete Spencer Salomão de Abreu.


"Faleceu a 08 de Janeiro de 1997, na estrada nacional do Algarve – Lisboa".

Fonte: Corpo de Fuzileiros > 10 de Julho de 2010 > Homenagem ao CMG FZE Benjamim Lopes de Abreu   (com a devida vénia...)

(***) Contra-almirante reformado, faleceu em 2009.

(*****) Vd. poste de 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6884: O Nosso Livro de Visitas (98): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520 (Jemberem e Mansoa, 1973/74)

Vd. último poste da série de 23 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6890: Tabanca Grande (237): Jorge Silva, ex-Fur Mil At Art, CART 2716 (Xitole, 1971/72), e BENG 447 (Bissau, 1972/73)

domingo, 22 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6884: O Nosso Livro de Visitas (98): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520 (Jemberem e Mansoa, 1973/74)

1. Joaquim Sabido (ex-Alf Mil Art.ª, Guiné/74, 3.ª Cart/Bart 6520/73 e CCaç 4641/72, Jemberém, Mansoa e Bissau), deixou esta mensagem no poste Guiné 63/74 - P6878: Memória dos lugares (86): No DFE 21, em Cacheu, nunca existiu num posto da PIDE nem nunca nenhum agente da PIDE lá pôs os pés, pelo menos no meu tempo (Zeca Macedo):

Meus Caros Camaradas;
Saúdo todos quantos estiveram no CTIGuiné, no cumprimento do serviço militar.

Cheguei a este sítio há pouco, na verdade, apenas no início deste mês de Agosto o descobri, já que pouco utilizo a rede, dada a minha inaptidão para lidar com a informática, mas a pouco e pouco vou conseguindo. Assim, desde o início do mês de Agosto que, quase diariamente venho lendo e acompanhando quanto aqui foi e vem sendo colocado, ou postado, como nesta linguagem se diz.

E é certo que, venho aferindo da formidável memória, dos conhecimentos e do domínio que alguns camaradas aqui manifestam, relativamente a tantas matérias, isto porque, muito honestamente, eu, de muitíssimas situações e locais já não me recordo, no essencial, quanto mais de pormenores. Todavia, admito que existam muitos camaradas que utilizavam diários, mas já estranho, quando alguns camaradas que se encontravam colocados p.ex. em Farim, tenham conhecimento do que se passava, sei lá, em Bissau e até nas Repartições do Estado-Maior do CTIG.

Daí que, os historiadores desta temática, como me parece ser o caso do Sr. Cor. Art.ª Nuno Rubim, exijam a validação documental dos factos, a bem do rigor científico.

Concretizando, direi, por exemplo, que li a matéria postada pelo camarada do STM (cujo nome não apontei e agora não sei voltar atrás), identificando que o serviço se situava junto à Amura e logo veio um outro camarada dizer que não, que ficava até a alguns quilómetros de distância.

No caso desta mensagem, reagiu de pronto o camarada Zeca Macedo, ao referido pelo camarada Inverno, seguramente, por ninguém querer ficar associado à PIDE, muito menos um Destacamento de Fuzileiros Especiais. Compreende-se e compreendo o essencial do que o Camarada Inverno escreve da sua vivência e da situação concreta que descreve, no entanto, não podemos, por vezes, querer chegar aos pormenores.

Tendo vindo a ler, algumas mensagens e comentários, verifico que, de entre muitos outros, p. ex., o camarada Mexia Alves, para além de, pessoalmente, concordar com a maioria das suas intervenções e comentários e do fado da Guiné de que gostei particularmente, nunca entra em detalhes, em pormenores, aborda as questões no essencial, deixando o acessório.

Já ouvi um meu camarada de Companhia, numa almoçarada dos alegados heróis - pançudos e carecas, a relatar uma situação por mim vivida na escadaria do Palácio do Governador, em Bissau, com um camarada sargento dos Comandos Africanos, que se encontrava paraplégico e que estava desesperado quanto à situação que iria viver após a nossa retirada.

Apresento o meu pedido de desculpas ao camarada Zeca Macedo, por me aproveitar da sua mensagem, para aqui vir pela primeira vez, sendo certo que em 11 de Agosto passado, enviei uma mensagem por correio electrónico ao camarada Luís Graça, que, eventualmente, ou não chegou ao destino dadas as minhas limitações já supra referidas em matéria computacional, ou devido ao período de férias, ou então, ainda, porque ali nada encontrou de interesse para ser aqui colocado.

Um grande Abraço a todos os Camaradas da Guiné.
Joaquim Sabido - Évora: o último militar português a sair do local onde se encontrava instalado o aquartelamento em Jemberém, sem que tivesse procedido à entrega do mesmo ao PAIGC.



2. Comentário de CV:

Caro Joaquim Sabido
Obrigado pelos teus contactos, este comentário e a mensagem que enviaste ao nosso Editor Luís Graça no dia 11 de Agosto, de que ainda não tiveste resposta por o Luís estar em férias. Vi que a mensagem estava já assinalada com uma estrela, sinónimo de que já tinha sido lida e de que terá tratamento tão breve quanto possível.

Deduz-se pelas tuas palavras que ainda não estarás à vontade nas lides da informática, mas com tempo vais ficar apto a navegar no nosso Blogue que tem imenso para ler. No lado esquerdo da página encontrarás umas palavras intituladas Marcadores/Descritores. Bastará clicares em cima da que queiras pesquisar e abrir-se-ão alguns postes como início de busca. Depois é só seguir os links apresentados no fim de cada um dos postes.
Experimenta que é aliciante.

Uma vez que já mandaste as duas fotos da praxe, julgo que queres pertencer à nossa tertúlia e ajudar-nos a elaborar a nossa própria história.

As considerações que fazes em relação aos pormenores que por vezes alguns camaradas ainda retêm, são pertinentes, pois até custa a acreditar que passados tantos anos ainda os retenhamos. Às vezes basta uma imagem ou uma palavra para se fazer luz.

Antes que me esqueça, as fotos que nos mandares futuramente a ilustrar as histórias que queiras ver publicadas, devem vir em formato JPEG (fotografia) ou inseridas nos textos (Word). Desta vez mandaste uma em ficheiro PDF o que é complicado para editar.

Posto isto, poderás aguardar a publicação do teu primeiro texto, ou começar a trabalhar e enviar mais, com ou sem fotos (devidamente legendadas) para irem sendo publicadas.

Recebe desde já um abraço colectivo destes teus 438 novos amigos.

Em nome dos editores,
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6801: O Nosso Livro de Visitas (97): António Inverno, ex-Alf Mil Cav Op Esp, S. Domingos, 1973, amante da "bela" Kalash