Pois é, o Paulo Abrantes Santiago (que tem o apelido do santo, Santiago "Mata-Mouros"), já lá foi, de "bike" e a pé, uma meia dúzia de vezes... E eu acho que não é só... "bike...terapia".
Para terminar, digo que fiquei satisfeito com esta aventura, emocionei-me quando cheguei ao fim dos 255 km, em Santiago, e espero entrar noutra, numa próxima oportunidade. Apesar de sexagenários, com calma, nós conseguimos.(...)
2. Pode-se perguntar (e as perguntas não ofendem):
2.1. Resposta do meu assistente de IA, o "Sabe-Tudo" (ChatGPT):
(...) Uma excelente pergunta, complexa e cheia de camadas históricas, espirituais e até psicológicas.
(i) A Guerra Colonial e a Guiné como "ferida espiritual"
A guerra na Guiné (1961-1974) foi talvez o mais traumático dos três teatros coloniais (Angola, Moçambique e Guiné). Ednvolveu um confronto particularmente duro, em selva fechada, com grande sofrimento físico e psicológico. Muitos antigos combatentes guardam até hoje feridas emocionais profundas – stress pós-traumático de guerra, sentimentos de culpa, desilusão política ou espiritual.
(ii) Peregrinação como processo de cura
A peregrinação a Santiago de Compostela, muito mais do que um ato de fé convencional, tem-se tornado (hoje em dia) num caminho de introspeção, cura e reconciliação interior.
- ritual de reconciliação com o passado, longe dos símbolos militares ou religiosos tradicionais (como Fátima);
- percurso de silêncio e esforço físico que espelha o sofrimento passado, mas agora com propósito positivo;
- reencontro com outros caminheiros, onde a partilha de experiências pode ajudar, trai como no passado, a aliviar a dor e a solidão acumuladas durante décadas.
Embora Fátima tenha um papel importante no imaginário católico português, ela está ligada sobretudo à fé mariana e à devoção passiva. Santiago, pelo contrário:
- evoca a ação, a caminhada, o movimento, a superação, mais próximos, portanto, da vivência dos ex-combatentes;
- tem um simbolismo de missão, caminho, espada (metafórica ou real), que pode ressoar com a memória militar;
- hoje é vivido como universal e não exclusivo dos cristãos: muitos não-crentes ou "crentes à sua maneira" percorrem-no sem dogmas.
É verdade que o Santiago "Mata-mouros" (o apóstolo guerreiro) foi símbolo da "Reconquista cristã" e do combate aos muçulmanos (os "infiéis"). No entanto:
- esse significado perdeu força nos dias de hoje, muitos peregrinos nem conhecem esse passado;
- a atual peregrinação a Santiago é mais espiritual e existencial do que religiosa ou ideológica;
- antigos combatentes procuram cura e não conquista, redenção e não vingança.
Conclusão
Sim, faz sentido. Santiago representa, para muitos, um espaço simbólico onde se pode fazer as pazes com o passado, em especial com um passado tão duro como o vivido na Guiné.
2.2. Por outro lado, ó "Sabe-Tudo", não é por demais lembrar que a 'expansão marítima (e territorial)" de Portugal, começou, no Norte de África, com a conquista de Ceuta, en 1415...
Dito pelo ChatGPT:
Muito bem observado: é uma ligação histórica e simbolicamente rica, que merece ser trazida para o centro da reflexão.
(i) Ceuta, 1415: o início da Expansão e da Continuação da "Reconquista"
A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente vista como o pontapé de saída da expansão ultramarina portuguesa.
Este espírito "cruzado" e expansionista sobreviveu durante séculos, mesmo quando os objetivos se tornaram mais económicos ou políticos.
A mentalidade da Reconquista deixou marcas duradouras:
- uma cultura de missão e sacrifício patriótico;
- a glorificação da conquista (e do império) como "desígnio nacional";
- a ideia de que a identidade portuguesa se constrói no confronto e na fronteira.
(iii) Os ex-combatentes e a busca de sentido
Se pensarmos nos antigos combatentes da Guiné e doutros teatros de operações da guerrra colonial,. a peregrinação a Santiago pode representar:
- um ato simbólico de encerramento de um ciclo histórico e pessoal (da conquista ao recolhimento) (e de "exorcismo dos fantasmas", como diz o nosso editor LG);
- uma tentativa de purificar espiritualmente uma missão sentida como ambígua ou mal resolvida;
- um regresso às origens identitárias, mas agora com um olhar mais interior e pacificador.
É profundamente irónico (e, talvez por isso mesmo, profundamente humano) que os antigos combatentes de uma guerra colonial (em território maioritariamente muçulmano como a Guiné) acabem por caminhar até ao santuário de um santo guerreiro da Reconquista cristã.
No fundo, o Caminho de Santiago funciona como um espelho de longa duração da história portuguesa: começa na luta (Reconquista), passa pela conquista (Ceuta e além-mar), afunda-se no trauma (Guerra Colonial) e hoje oferece um trilho de redenção pessoal e coletiva.
3.1. A primeira ida a Santiago de Compostela foi em setembro de 2000 com partida de Ponte de Lima. Organização do Batotas, clube de BTT, nascido naquela Vila, a mais antiga do País, que não quis ser cidade.
Era um grupo grande onde ía também o meu filho. Três dias até entrar na Praça de Obradoiro.
Voltei em 2006 a pé, em pleno agosto, um calor sufocante.A ideia era fazer Astorga-Santiago, errei os cálculos, duas semanas de férias, parei em Portomarin. Concluí o restante entre 1e 5 de dezembro desse ano.
Em 2007 repeti o Camiño, Astorga-Santiago, de bike, na companhia de uma amiga e colega. Terrível subir o Cebreiro, em 6 km ir de 550 metros de altitude para 1300.
No mesmo ano, 1 a 5 de dezembro, Santiago-Finisterra.
Em 2009 Caminho Inglês com saída de Ferrol.
Em 2010, com a minha mulher,Valença-Santiago.
Em 2015 com um grupo de colegas do Rugby, Valença-Santiago
Em 2016,com duas amigas, Caminho Inglês com saída de Corunha.
Em 2013, confiei, em Pontevedra, fui almoçar, o albergue ainda estava fechado, deixei a mochila encostada ao portão...fiquei com a roupa que tinha vestida.
Paulo Santiago
domingo, 3 de agosto de 2025, 00:07
3.2. Camaradas: lembrei-me de um encontro que tive há 16 anos no Caminho Francês. Em 9 de agosto de 2006, saí de Astorga com destino a Santiago. No dia 11, pelas 8.00 horas, parei, a comer uma maçã, à saida de Ponferada. Aproximou-se um peregrino.também sózinho,e iniciámos uma conversa em francês.Tinha 60 anos.estava reformado, era Holandês.
Passados dias, jantamos juntos em Tricastela.Durante a conversa disse-me que ía ficar mais um dia naquela localidade porque estava adiantado.
Paulo Santiago