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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23039: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (12): Murcus (aquele que cortava o dedo polegar para se isentar do serviço militar) poderá estar na origem da palavra morcão


Capa do livro de Teófilo Braga (Ponta Delgada, 1843- Lisboa, 1924), "O Povo Português nos seus Costumes, Crença e Tradiçºoes", Vol I (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1994, Colecção "Portugal de Perto", 10) ( a edição original é de 1885) (Obra esgotada)


1. Já tínhamos (e ainda temos) a pandemia provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Vai fazer dois anos, no princípio de março, que apareceram os primeiros casos em Portugal... Provocou até há data 3,25 milhões de casos (infecções) e mais de 21 mil mortos, apesar de tudo dez vezes menos que a pandemia da "pneumónica" que matou 2% da população portuguesa em 1918/19. (Éramos então 6 milhões.)

Quase 8,9 milhões de portugueses receberam até agora a vacinção primária completa... No mundo morreram já cerca de 6 mlhões de pessoas e o número de casos aproxima-se dos 435 milhões... A Covid-19, doença respiratória cujos primeiros casos apareceram no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, ainda estará longe de se tornar endémica (localizada)....

Já tínhamos a pandemia, faltava-nos agora a maldita guerra na velha Europa... e o pesadelo do terror nuclear. Portanto, o ano de 2022 vai continuar a ser um "annus horribilis"... E daí mantermos em aberto esta série dos "Usados & Achados" (*)...

2. Há dias, ao relermos o Teófilo Braga (Ponta Delgada, 1843-Lisboa, 1924), "O Povo Português nos seus Costumes, Crença e Tradições", Vol I (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1994, Colecção "Portugal de Perto", 10) (a edição original é de 1885), demos com um apontamento interessante sobre guerra e guerrilha, no capítulo II (Rudimentos da actividade espontânea), que inclui ainda temas como a caça, a pesca, bm como as hostiliades nacionais, locais e individuais...

Aqui vai, expurgada das referências bibliográficas, sempre pesadas, uma primeira parte do texto, sobre a "guerra defensiva" (pp. 84/85). Não fica mal em segunda feira de Carnaval, sempre de má memória para mim e os meus camaradas da CCAÇ  12.

(...) A guerra defensiva. – Um capitão do nosso exército, falando do recrutamento num jornal, confessou que a ninguém repugnava tanto o serviço militar como aos Portugueses. De facto, para não ser soldado o aldeão ainda corta os dedos da mão com o machado, para não poder puxar o gatilho da espingarda; este costume acha-se entre os Gauleses, que davam o nome de Murcus àquele que cortava o dedo polegar para se isentar do serviço militar. (...)

No Minho temos ouvido a palavra Murcão empregada como injúria à pessoa desajeitada; de facto, o murcus não podia sustentar a besta. 

Com este carácter os povos antigos da Lusitânia recorriam à guerra como defesa, dando-lhe a forma de emboscadas; a nacionalidade portuguesa, acabado o período das guerras defensivas da sua independência, acentuou-se na História pela actividade das grandes navegações.

Nenhum povo se soube defender com mais bravura do que o português, repelindo a ocupação espanhola e a invasão francesa. Diz Estrabão: «Os Lusitanos, segundo contam, são excelentes para armar emboscadas e descobrir pistas; são ágeis, rápidos, dextros. Armam-se de punhal ou grande faca; alguns servem-se de lanças com pontas de bronze ...» Eram assim os chuços na época da invasão francesa. A guerra defensiva apresenta uma forma peculiar.

A forma das batalhas por meio de guerrilhas, que tanto tem distinguido o povo espanhol e português nas lutas pela sua independência, é um costume das primitivas tribos germânicas. César nos seus Comentários diz destas escaramuças: «Género de combate no qual os Germanos alcançaram uma grande habilidade.» (...)

Por outro lado, o costume das almenaras, ou fogos de aviso, já se encontrava também nos costumes da milícia romana; diz César, nos seus Comentários: «Do nosso lado, tendo-se dado o alarme por grandes fogueiras, que era o sinal prescrito e acostumado". (...)

Por estes dois factos se conhecem os caracteres do romano-gótico nos costumes peninsulares. Mas nos usos consuetudinários, o fogo é sinal de paz, tal como se acha no provérbio jurídico Fogo e logo; também nos monumentos egípcios, nas esculturas das batalhas, o fogo é o sinal da fortaleza sitiada quando pede paz; é portanto o mais antigo, e de origem turaniana." (...) (Teófilo Braga, op cit., pp. 84/85).


3. Chamou-me a atenção a palavra Murcão. Que não vem grafada nos dicionários como tal, mas sim como Morcão, de resto muito utilizada no Norte (, a começar por Candoz...). Fomos ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, e encontrámos esta consulta, que reproduzimos para os nossos leitores, com a devida vénia:

Pergunta: 

Sei que a palavra ‘murcus’, em latim, significa «palerma» ou «estúpido» (Santo Agostinho usa o termo na Cidade de Deus, no quarto livro, capítulo 16). Já li aqui no Ciberdúvidas que a única etimologia registada do regionalismo morcão, com o significado de indivíduo estúpido ou mandrião, é "morcón", do castelhano, referente a «morcela». No entanto, parece-me uma coincidência demasiado grande para ser ignorada. Seria possível contactar algum etimologista que verificasse esta conjectura?

Manuel Anastácio  Professor do ensino básico  Guimarães, 

Resposta:

Morcão parece, de facto, assentar directamente no espanhol “morcón”, baseado num latim mǔrcōne. Isto não é impedido, na realidade, por existir em latim murcus, no sentido de «cobarde» e de «preguiçoso», cuja terminação em -cus ocorre em certos adjectivos que marcam defeitos físicos. Os dois vocábulos latinos parecem, sim, intimamente relacionados.

F. V. Peixoto da Fonseca  31 mar. 2006

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-origem-da-palavra-morcao/17410 [consultado em 27-02-2022]
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 14 de fevereiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22999: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (11): em dia de namorados, relembrando uma peça do falar alentejano que é uma obra-prima de marotice e de saudável bom humor... (Manuel Gonçalves, ex-alf mil manut, CCS/ BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22999: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (11): em dia de namorados, relembrando uma peça do falar alentejano que é uma obra-prima de marotice e de saudável bom humor... (Manuel Gonçalves, ex-alf mil manut, CCS/ BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73)


Capa do livro "Dicionário de falares do Alentejo", de /Vítor Fernando Barros e Lourivaldo Martins Guerreiro. - 3ª ed., muito ampliada ( Lisboa;: Âncora, 2013. - 294 p., a 2 colunas,  ISBN 978-972-780-420-7). VItor Fernando Barros, transmontano, professor do ensino secundário,  é aind autor de outros livros que podem interessar os nossos leitores, tais como: "Dicionário de Falares das Beiras", "Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro", "Dicionário de Português Europeu para Brasileiros e vice-versa".


1. O
nosso querido amigo e camarada, transmontano de Bragança,  Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Manut da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), mandou-nos há dias uma deliciosa peça ilustrando o "falar alentejano" que já se perdeu (ou está-se a perder) à medida que o rolo compressor da modernização e da globalização mata o que é diversidade cultural, incluindo os nossos falares, de Norte a Sul do país, passando pelas regiões autónomas...  Já tenho saudades de ver e ouvir gente, na televisão com sotaque tripeiro, alentejano ou açoriano... Ou de ouvir falar termos e expressões que transgridem a norma cula d língua portuguesa...e que só a enriquecem.

Adicionalmente, em dia de Namorados, esta peça é uma obra-prima de marotice e de saudável bom humor, pese embora o traço grosso da caricatura da mulher alentejana e do padre católico perdido em antigas terras de mouros...  Sem "tradutor", a gente ficava a "ver navios"... Afinal, quantas "línguas" se falam em Portugal ? 

O Manuel Gonçalves não refere a página em que vem esta peça no "Dicionário de Falares Alentejanos", livro que não tenho mas que  vou adquirir. Obrigado, Manel, pela tua atenção. Esperamos não ofender ninguém, a começar pelos alentejanps e os católicos... De qualquer modo, é de "caranço" (ternura) que todos estamos a precisar, nos dias que correm, e nas nossas idades... (LG)


Data - quinta, 10/02/2022, 15:42 
Assunto - Alentejano vs Estrangeirismo

A língua portuguesa é muito rica, não há dúvida... Quando toda a gente fala por estrangeirismos bacocos, neologismos ou no vaidoso jargão técnico, sabe bem lembrar a bela e rica linguagem popular alentejana contida neste delicioso e maroto texto. Deliciem-se. 

Confissão Alentejana 

 Louvado seja Jesus Cristo!

 − Louvado seja sempre 

  Há quanto tempo não te confessas, minha filha ?” 

  − Vai fazer um mês, Senhor Padre.

  Ó minha filha, então porquê? Costumas vir todas as semanas. O que te apoquenta?
 
 −  Senhor Padre, nem sei como lhe dizer. Anda um assunto aberrundando-me, mas...

 − Procura-me o que quiseres, filha. Não deves ter melindres de desabafar com o teu confessor.

 − O meu noivo, Senhor Padre... Está em alas para experimentar... O que as pessoas fazem depois de casadas...

 − Agora cá! Mas vocês não são casados, valha-me Deus! Não podem ir contra as leis de Deus, filha! Querem casar ou querem ajoujar-se?

    Casar, Senhor Padre. Mas ele diz que entre noivos não haveria de ser grande pecado.

  Isso é lá a julgadura dele. Mas é a ele que cabe estabelecer a lei de Deus? Que pachouvada! Tu tens de ser rabeta e ter tinório.
 
 − Então, como devo fazer? Não quero que ele fique alcanchofrado comigo. E Senhor Padre, nós estamos muito encegueirados um pelo outro. Ele anda desinsofrido.

 − Eu entendo-te, filha. O caso está bichoso. Um homem não é de ferro e uma moça também não. Se não existissem esses desejos ninguém casava. Tal como se não existisse o paladar ninguém comia e morríamos todos. Acontece que o ser humano quando é cristão tem de seguir as boas leis de Cristo. Não nos devemos afastar do Evangelho. Atinta nas minhas palavras, pois elas são para teu bem. Mas para que te possa aconselhar melhor deves contar-me tudo o que vós tendes feito durante o vosso derrete.

 −  Como assim, Senhor Padre?

    Tudo. Conta-me tudo. Já o viste à espervela? Ele toca-te?

     Ai Jesus! Que entalo!

    Mexeu-te nas lanteriscas? Não sejas marreta e conta-me.

      Senhor Padre, quando estamos beijando ele quer que lhe mexa no martelinho. Mas eu não sei se devo. Mas nunca o vi nadavau.

  Ele é merlo mas tu terás de ser mais mérrula. Não podes albardar isso. Tal mimo desperta os apetites do verdugo e num flaite estás em privança. Não te esqueças que podes ficar embaraçada. Já viste que papel seria?

 − Não quero isso, Senhor Padre. Que dava um patatum à minha mãe. E o arrecuão que o meu pai me daria até me causa agasturas.

   Tem calma, filha. Tenta apressar a boda. Podes beijá-lo com caranço mas sem escofiar as lanteriscas do moço. Não tomes isto como um recado. És esgalhada, empapoilada e tens andado a aziá-las. Ele também te mexe na rola?

    Ai, Senhor Padre!

  Se não me contas a mim hás-de contar a quem? Dou-te bons conselhos no sentido de evitar a gadela. Todo o homem é pirata. Sei que não és moça alvarina. Confia no teu confessor. É para tua boa orientação, filha. Apressa a boda. Mexeu-te na pinta? Por cima ou por baixo dos froxéis?

  Por baixo, Senhor Padre...

  − Não  é galinha-morta esse teu noivo, não! E enquanto isso acontecia estavas dando-lhe galanduchas no seu romão-cego ?

 − Sim, Senhor Padre...

 Nâo  é nenhum mata-formigas, não. Não ficaram almareados? Conseguiram parar a tempo?

 − Sim, Senhor Padre... Mas está ficando cada dia mais difícil. Dá-me a espertina de noite.  Sinto uma calorina pelo corpo todo. E passo o tempo afofando estar com ele outra vez.

   Apressa a boda! Não te deixes enodoar, filha. A vila está cheia de trogalheiras sempre à espreita. Fazem de ti uma bagaça e lá vai o noivado para o maneta.

 − Isso  é que nunca! Dava-me uma travadinha que nunca mais me recompunha. Vou ter cautelas, Padre.

 − Agora  diz três Avé-Marias e o acto de contrição. Para a semana voltas cá. E tornas a contar-me tudo.


Aberrundar: atormentar 
À espervela: à mostra, a nu 
Afofar: achar gosto antecipado a qualquer coisa 
Agasturas: ânsias 
Agora cá!: não penses nisso! 
Ajoujar-se: amancebar-se 
Alas (Estar em): estar ansioso 
Albardar: permitir 
Alcanchofrado: zangado 
Alvarina: leviana 
Arrecuão: descompostura 
Atintar: ver bem 
Bichoso: difícil de resolver 
Calorina: calor 
Caranço: ternura 
Derrete: namoro 
Desinsofrido: impaciente 
Embaraçada: grávida 
Empapoilada: bem vestida, garrida 
Encegueirados: apaixonados 
Enodoar: manchar a reputação de alguém 
Entalo: aflição 
Escofiar: acariciar 
Esgalhada: airosa, formosa 
Estar a aziá-las: estar a pedi-las 
Flaite (Num): num instante 
Froxéis: roupa interior de senhora 
Gadela: cópula 
Galinha-morta: tolo 
Julgatura: opinião 
Lantriscas;  partes íntimas 
Marreta: teimosa 
Martelinho: pénis 
Mata-formigas: parvo 
Merlo: esperto 
Mérrula: astuta 
Nadavau: nu 
Pachouvada: asneirada 
Papel: escândalo 
Patatum: chelique 
Pinta: vagina 
Pirata: malandro 
Procurar: perguntar 
Recado: repreensão 
Romão-cego: pénis 
Rola: orgão sexual feminino 
Tinório: muito juízo 
Verdugo: homem musculoso 

Fonte: Adapt. livre de Dicionário de falares do Alentejo / Vítor Fernando Barros, Lourivaldo Martins Guerreiro. - 3ª ed., muito ampliada. - Lisboa : Âncora, 2013. - 294 p., a 2 colns ; 23 cm. - Bibliografia, p. 291-294. - ISBN 978-972-780-420-7 (Com a devida vénia...)

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22197: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (10): Dia da espiga... para que não nos falte o pão (espiga de trigo), a alegria (videira), a paz (oliveira), a saúde (alecrim), o amor (papoila) e a sorte (malmequer)...






Lourinhã > Tabanca do Atira-te Ao Mar > 13 de maio de 2021 > Dia da Espiga


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já foi, nos anos 30 e 40 do séc. XX, um mar de searas e de vinhas, o concelho da Lourinhã... E havia meia dúzia de moinhos de vento em cada aldeia. Hoje é difícil encontrar uma seara  de trigo (por muito pequena que seja) ou até uma vinha (, mesmo que seja aqui que se produz a famosa aguardente DOC Lourinhã). 

Mas hoje é Dia da Espiga, 5ª Feira da Ascensão. a ascensão de Jesus Cristo ao Céu, segundo a liturgia cristã, 40 dias depois da Ressurreição...Curiosamente, hoje é também, para os muçulmanos, o fim do Ramadão. Saúdo o Cherno Baldé e nossos amigos da Guiné que são crentes e praticantes.

A 5ª Feira da Ascensão deixou de ser feriado (religioso) há quase 70 anos, em 1952, se não erro. Mas ainda sou do tempo de se ir colher a espiga neste dia... Logo pela manhã, ia-se em alegre passeio pelos campos colher espigas, de modo a formar um ramo que devia  incluir  cereais (, com destaque para o trigo), flores campestres (papoila, malmequer, alecrim...) mas também   um pedacinho de  oliveira e de videira,,, 

Os nossos pais e avós ensinavam-nos que cada elemento do ramo do Dia da Espiga tinha um significado ou simbologia próprios: (i) espiga=pão; (ii) videira=alegria; (iii) alecrim = saúde; (iv) oliveira=paz; (v) papoila=amor; (vi) malmequer= sorte, fortuna...

Os povos, e nomeadamente em meio rural, marcados pelo ciclo do solstício do inverno e o solstício do verão,   precisavam destas "festividades cíclicas"... Hoje, citadinos (e globalizados), o nosso "imaginário" é outro... se é que ainda temos "imaginário".  

Recordo-me ainda, na casa dos meus tios da aldeia do Nadrupe e da Quinta do Bolardo,  de o ramo da espiga ser colocado por detrás da porta de entrada, para dar sorte, devendo ser substituído por um novo no ano seguinte. No campo respeitava-se este feriado, não trabalhando. Nalguns concelhos do País, e nomeadamente na Estrmadura e no Ribatejo, ainda hoje é feriado municipal.

Hoje a Alice Carneiro e a Maria do Céu Pinteus, mulheres grandes da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!),  no seu passeio matinal, foram colher a espiga da tradição. Para que não falte,  a todos os tabanqueiros das tabancas da Tabanca Grande,  sorte, saúde, amor, alegria, paz e pão neste ano de 2021...e se realize o nosso desejo de voltar à normalidade das nossas vidas depois de um ano e tal de pandemia de Covid-19, que fez estragos na nossa saúde, nas nossas vidas e nas nossas fileiras!... (LG).

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Nota do editor:

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22107: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (10): a nossa insólita, brejeira e alegre Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas (Mário Gaspar)


Lisboa > Freguesia de São Vicente > 2021 > Topónimos lisboetas > O Jardim / Largo das Pichas Murchas fica junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé,  

Fotos e texto: cortesia de Valter Leandro (2021)


1. Estamos a escassos dias de completar 17 (dezassete!) anos de existência, em 23/4/2021... Mas não temos (, eu não tenho,  para além do facto de estarmos vivos), grandes motivos para celebrar a  efeméride (o 17º aniversário do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné): 

(i) ainda não nos livrámos da trágica pandemia de Covid-19, com todas as funestas consequências que está a ter em termos individuais e coletivos: já morreram  mais portugueses, no espaço de 12 meses, do que em toda a guerra colonial /guerra do ultramar (falando só de militares portugueses): 

morrreram,de Covid,  até à data, cerca de 17 mil portugueses, contra 9 mil vítimas mortais na guerra colonial (e nesses 17 mil estão membros da Tabanca Grande, estão muitos outros antigos combatentes cuja identidade desconhecemos, estão familiares, amigos, vizinhos...);

(ii) a geração dos antigos combatentes está só agora a ser vacinada, esperando-se em breve a imunização dos grupos estários da população de maior risco (os de 60 e mais anos) que contribuiram para mais de 95% da mortalidade por Covid-19 até à data;

(iii) estamos ainda confinados e privados do convívio, seguro e saudável, com os nossos "mais queridos": família, amigos, camaradas, tabanqueiros;

(iv) enfim, mantém-se a perspetiva de termos, em 2021, mais um "annus horribilis", como o de 2020, embora com uma luzinha ao fundo do túnel...

Alimentar o blogue todos os dias é quase tão difícil como  alimentar uma casa de família em época de crise... E nós fazêmo-lo, a nossa pequena equipa,  há 17 anos... com pandemia ou sem pandemia, com crise ou sem crise, com vacina ou sem vacina, quer faça sol, quer faça chuva...

No princípio deste ano criámos esta nova série, "Usados & Achados", apelando ao sentido de "humor de caserna" da nossa velha guarda, com o intuito de nos ajudar, a todos, a  carregar as baterias da resiliência e da esperança de modo a podermos (a começar pela nossa Tabanca Grande)  a resistir e sobreviver, com inteligência, arte e engenho. 

Este ano de 2021 marca também os  60 anos do início da guerra colonial, ou guerra do ultramar, ou guerra de África (como cada um quiser chamar-lhe).

Os nossos camaradas mais velhos, que foram para Angola, logo em abril de 1961, "rapidamente e em força", estão agora já na casa dos 80...E os "periquitos", os "checas", os "maçaricos", os que fecharam as portas do império, em 1974 e 1975, também já não são "Sexas", estão todos a entrar nos Setentas,. são pois Septuas...

Com o peso de tantos anos (e das "medalhas da guerra e da vida") e com as apreensões que nos batem à porta (a começar pelas mazelas do corpo e da alma...), temos que saber aprender a "sorrir com meia cara", já que a parte inferior anda tapada, há muito, com a máscara sanitária...


2. Esta série , "Usados & Achados", não teve, contudo, o sucesso esperado, tínhamos a expectativa de conseguir maior colaboração dos nossos autores com talento humorístico... 

Hoje chega-nos o contributo do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com cerca de 125 referências no nosso blogue).

O Mário contnua a mandar-nos imenso correio, com mensagens que cabem dentro do seu vasto e eclético leque de interessses, extravasando naturalmente o "core business" do nosso blogue... É de destacar, por exemplo,  a sua colaboração regular no boletim "O Olhar do Mocho", da Associação Cultural e Social de Seniores de Lisboa. No último número,o 68, de abril de 2021, tem um artigo sobre o pensador Agostinho da Silva.


Mas é sobre outro tema, que vamos falar, e que queremos enquadrar na série "Usados & Achados". O Mário Gaspar mandou-nos uma cópia de um artigo deveras curioso sobre a Lisboa que muitos desconhecem, mesmo os lisboetas... Aqui vão alguns excertos, selecionados por ele, e que reproduzimoa com a devida vénia ao autor (do texto e das fotos):

Lisboa Secreta > 24 de fevereiro  de 2021 > Sítios insólitos em Lisboa: o Jardim das Pichas Murchas, by Valter Leandro


(...) Muitos sorrisos e gargalhadas já arrancou a placa do Jardim das Pichas Murchas, ali para os lados do Castelo, junto à Rua de São Tomé.

(...) O jardim foi batizado por um calceteiro da autarquia, chamado Carlos Vinagre, que adorava fazer troça dos muitos idosos que ali se juntavam. Os mais puritanos ainda tentaram mudar o nome ao jardim que também é largo, mas o povo uniu-se e acabou por ficar assim até aos dias de hoje.

(...) Junto à Rua e às Escadinhas de São Tomé, este Jardim/Largo das Pichas Murchas pertence à Freguesia de São Vicente, a caminho do castelo, e atualmente todos os que por lá passam, novos e velhos, homens e mulheres, gostam desta designação. Como é uma zona onde se costumam juntar muitas pessoas para beber uns copos ao final da tarde, ou durante a hora da bucha, para quem está a trabalhar pelas redondezas, mas também onde muitas vezes se reuniam pessoas mais velhas, para dois dedos de conversa ou para jogar às “sueca”.

(...) E, além de tudo, são agora os turistas, que sabendo o que este nome significa, fazem as mais
variadas poses fotográficas para mostrar, nos seus países, esta característica placa toponímica.

É também neste pequeno largo que, por altura dos Santos Populares, se costuma montar um daqueles restaurantes improvisados, devidamente preparados para a maior festa popular de Lisboa. (...)

(...) Muito perto do Jardim das Pichas Murchas, na Rua de São Tomé, uma das mais pisadas por visitantes de todas as partes do globo, fica ainda uma homenagem de Vhils à nossa maior fadista Amália Rodrigues. Este mural fica numa pequena praceta junto à Calçada do Menino Deus e foi todo desenvolvido com as típicas pedras da calçada portuguesa.  (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2021 > Gué 61/74 - P22006: Usados & achados (9): pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (9): Morra o Eça (de Queiroz)!, viva o Caldo (Verde)!

Postes anteriores:

21 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21926: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (8): O casqueiro nosso de cada dia... ou a feliz história do Jobo Baldé, o improvável padeiro do Mato Cão, que nos matou... a malvada (Luís Mourato Oliveira,ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21866: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (7): Receita caseira de Bourbon County, Kentucky, USA... Enquanto se aguarda a vacinação contra a Covid-19... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

4 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21851: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (6): A web câmera, em tempo real, de Karesuando, a localidade mais ao Norte da Suécia e na área da minha casa, município de Kiruana: o pior confimamento... é o da noite escura de 24 horas (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

28 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)

21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21791: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (4) A 'descoberta' da Índia

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21785: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (3) O luso-lapão

20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21783: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (1) O leite; (2) A cura

domingo, 14 de março de 2021

Gué 61/74 - P22006: Usados & achados (9): pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (9): Morra o Eça (de Queiroz)!, viva o Caldo (Verde)!



O escritor Eça de Queirós em 1882.
In O Contemporâneo, nº 108, Lisboa [1882], p. [1]
 Cortesia de Wikipedia


1. Recorte de imprensa:

Público > Opinião > Vítor Belanciano > 14 de Março de 2021, > Ai! Valha-nos Deus! Não toquem no Eça!

(...) Uma investigadora, a doutorar-se em Estudos e Teoria Luso-Afro-Brasileiros, nos EUA, apresentou há semanas uma comunicação, via Zoom, onde o ponto de partida, no sentido de provocar a reflexão, era se o romance Os Maias, de Eça de Queirós, conteria ou não traços de racismo. Lançava questões aos seus pares, académicos como ela, acerca de um trabalho que não está finalizado. Coisa vulgar em qualquer universidade.

Eis senão que o escândalo irrompe nos jornais em Portugal. Lia-se que Eça tinha sido acusado de ser racista. Que queriam censurar Eça. Que agora já não se pode dizer nada, que é tudo racismo. Que qualquer dia, depois do Padre António Vieira e dos Descobrimentos, já não temos nada com que nos orgulhar. E outros dislates parecidos. Felizmente, durante a semana, a CNN considerou o caldo verde uma das melhores sopas do mundo, o que deve ter equilibrado o orgulho pátrio, dado a grandes oscilações. (...)

(...) O realizador João Botelho, que adaptou ao cinema Os Maias, afirmava em 2014 que o Portugal do romance era quase igual ao de hoje, e não andará muito longe da verdade. Uma sociedade de aparências. Estranho país, de vidas precárias e de desigualdades, mas que grita Ai! Valha-nos Deus! Não toquem no Eça, na herança colonial ou nos Descobrimentos, vivendo ainda imerso em sonhos de grandeza, incapaz de se alinhar com a realidade, reactivo perante quem quer cultivar a reflexão. O país já é, aliás, isso. Não existe uma totalidade perene, ao contrário do que nos fazem crer. Há diversidades em construção, onde coexistem, às vezes em consenso, outras conflituando, pessoas, grupos, narrativas. Há quem veja nisso, perda de identidade. Eu vejo enriquecimento. (...)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21926: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (8): O casqueiro nosso de cada dia... ou a feliz história do Jobo Baldé, o improvável padeiro do Mato Cão, que nos matou... a malvada (Luís Mourato Oliveira,ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)


O Casqueiro Nosso de Cada Dia Nos Dai Hoje...


Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Padeiro de Mato Cão (*)

por Luís Mourato Oliveira


O pão é um alimento extraordinário que caso não tivesse sido criado há mais de 6.000 anos na Mesoptâmia, provavelmente a existência humana tivesse sido comprometida. Não conheço ninguém que não goste de pão nas suas múltiplas formas de fabrico e, em particular, nós, portugueses, não o dispensamos para acompanhamento ou mesmo como elemento principal de uma refeição.

Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão] embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.

Na cozinha, dada a simplicidade e a repetição dos menus, as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.


Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa, e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras, ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário, levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.

Ma, como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência:
– Alfero, Jobo passa a fazer o pão para o pessoal!
– Não sabes fazer pão, Jobo, não te metas nisto que arranjas problemas.
– Jobo sabe fazer pão, alfero, deixa experimentar e vais ver.

Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa, resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar, e ele atacou de imediato a nova função.

Não sei se por milagre ou se pelas aptidões inatas do Jobo, no dia seguinte quando este me chamou para ver o pão acabado de cozer, tive das grandes alegrias gastronómicas da minha vida. O pão estava quente, tinha crescido por obra do fermento e da forma carinhosa com a massa tinha sido tratada, o som da batida no “lar” parecia um tambor a acusar uma boa cozedura e o abrir a crosta estaladiça evidenciava um miolo macio, fumegante e com um cheiro delicioso. Regalámo-nos de imediato com pão quente e manteiga e o Jobo ganhou o lugar!

O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido, trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira [, Lourinhã,] quando era dia de cozedura.

No que dizia respeito ao pão, tínhamos atingido, graças ao Jobo Baldé, a felicidade. O Jobo também estava feliz, era casado com uma mulher, bem mais velha, que ele herdara do irmão entretanto falecido. Embora esta mulher fosse divertida e senhora de um grande sentido de humor, já tinha perdido o fulgor e a beleza da juventude e o nosso amigo e saudoso Jobo Baldé, quando acabava de fazer o pão, tinha sempre visitas de exuberantes bajudas a quem ofertava uns pães a troco de inconfessáveis favores.

A felicidade conquista-se com pequenos acordos e cedências. Estávamos todos satisfeitos…até as bajudas. (**)



Luís Mourato Oliveira: lisboeta, vive atualmente na Lourinhã.
Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá (1973/74), 
pelotão que foi comandado por membros da nossa Tabanca Grande 
como  o Henrique Matos, o Mário Beja Santos e o Joaquim Mexia Alves.
Tem mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue.


______________

Notas do editor:

(*) Excerto do poste de 10 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...

(**) Último poste da série > 8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21866: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (7): Receita caseira de Bourbon County, Kentucky, USA... Enquanto se aguarda a vacinação contra a Covid-19... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21866: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (7): Receita caseira de Bourbon County, Kentucky, USA... Enquanto se aguarda a vacinação contra a Covid-19... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)




Infografia: José Belo (2021)


1. Receita do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia ( e também  agora "mezinheiro", por força das circunstâncias):

Date: terça, 12/01/2021 à(s) 15:23
Subject: Enquanto se aguarda a vacinacäo......é urgente a publicação!


Receita caseira deste Bourbon County, Kentucky, USA.

Ter-se em conta que:

a) o bacon deve ser fumado e bem frito sem queimar;

b) o bacon deve ficar toda a noite mergulhado no copo para dar "aveludamento" ao Bourbon.

Obviamente que este detalhe quanto a "toda a noite", näo torna esta receita popular na Lapónia sueca! 
Mas, e de qualquer modo, é bom lembrar: "Ao luar entre nevöes as renas quase se tornam pavöes!"

Combate garantido a todos os vírus, sejam eles passados, presentes, ou futuros.

Um abraço do J. Belo

2. Comentário do editor:

Esta receita é só para Sexas  (= ou > 60) e daí para cimana escala hierárquica..., não podendo (nem devendo) os  consumidores ser acompanhados pelos netos.  

Mais: é uma cortesia do régulo da Tabanca de Um Homem Só que fica no Círculo Polar Ártico... 

Em boa verdade, é uma receita luso-sueco-americana, o uísque é americano (Bourbon não é Scotch,  é feito à base de milho, e não de centeio, e só pode ser Kentucky, nunca de Sacavém), o bacon pode ser sueco e o consumidor final só pode ser... um puro lusitano, de barba rija, descendente do grande Viriato  com provas dadas, como combatente no teatro de operações da Guiné... 

Por outro lado, sendo uma mezinha, de produção e consumo privados, não está sujeita àa competentes  autorizações do "Grande Regulador"... E se alguém se enfrascar (e queixar), respondam-lhe com  o provérbio luso em uso nas casernas da Spinolândia:  "Quem não sabe beber, que beba  m..."

No caso de alguém apanhar a Covid-19, contra todas as probabilidades estatísticas e as melhores expectativas de todas as partes (, produtores, consumidores e autoridades de saúde), e ir direitinho para o Covidário (de que Deus nos livre!), o boticário da Tabanca da Lapónia pede, por favor,  para destruirem  a fórmula e esconderem a garrafa (que dá sempre muito jeito) para outras ocasiões... 
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21851: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (6): A web câmera, em tempo real, de Karesuando, a localidade mais ao Norte da Suécia e na área da minha casa, município de Kiruana: o pior confimamento... é o da noite escura de 24 horas (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)



Fotograma nº 1 

Suécia > Kiruna > Karesuando > A web câmera, em tempo real,  que fica mais a Norte da Suécia, na fronteira com a Finlândia...na área da casa do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia. Fotograma obtido ontem às às 22 horas 19 minutos e 28 segundos. Amanhã amanhece às 7h28 e anoitece às 16h02...



Fotograma nº 2

Suécia > Kiruna > Karesuando > A web câmera, em tempo real,  que fica mais a Norte da Suécia, na fronteira com a Finlândia...na área da casa do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia. Fotograma obtido hoje  às às 11 horas 49 minutos e 31 segundos, locais. Do lado direito, na ponte sobre o rio Muonio, gelado, vê-se uma viatura que me pareceu ter derrapado no gelo... Só passado um bocado o condutor retomou a marcha. 

A manhã amanheceu às 7h28 e vai anoitecer às 16h02, diz o "me(n)teorologista"...



Fotograma nº 3

Suécia > Kiruna > Karesuando >  Fotograma obtido hoje  às 13 horas 39 minutos e 38 segundos, locais.  P...!, que já é noite. Acabou o turno de sentinela... E não vivalma!... E eu pensar que tinha descoberto o passatempo divertido para o resto dos meus dias... de confinamento!



Fotograma nº 4

Suécia > Kiruna > Karesuando >  Fotograma obtido hoje  às 15 horas 14 minutos e 16  segundos, locais.  Bolas,  que já é noite!...  O tom da foto agora é azulado, que estranho!...E continuo a  não ver ninguém a atravessar a ponte...




Fotograma nº 5

Suécia > Kiruna > Karesuando >  Fotograma obtido hoje  às 15 horas 53 minutos e 40  segundos, locais.  Os finlandeses já acenderam as luzes...  Não vi luz do dia nenhuma... muito menos gentes a atravessar a ponte... E até nem faz muito frio: só menos 6 graus...


Fotograma nº 6

Suécia > Kiruna > Karesuando >  Fotograma obtido hoje  às 16 horas 11 minutos e 41  segundos, locais.   Heureca!, está passar um carro na ponte, de faróis acesos!.. Quem será ?...  E a noite é cada vez mais noite... A partir daqui a web câmera passou a dar só imagens a "preto e branco"... Devem estar na "poupança"..., 



Fotograma nº 7

Suécia > Kiruna > Karesuando >  Fotograma obtido hoje  às 16 horas 44 minutos e 53 segundos, locais, mais uma hora que a nossa. Há mais movimento agora; vi mais um ou dois carros... E um "motoqueiro" veio dar umas voltinhas na "pista de gelo"... Entrou e saíu por debaixo da ponte...


Karesuando   é a localidade mais a norte da Suécia, localizada na margem direita do rio Muonio, que constitui a fronteira com a Finlândia. Pertence ao município de Kiruna, condado de  Norrbotten,  ou Bótnia Setentrional (, território com 14 municípios, tão grande como Portugal, mas apenas com 250 mil habitantes; capital: Luleä). É na cidade de Kiruna que  o Zé Belo vai comprar as "rações de combate"... 

Kiruna (cidade e município) tem cerca de 23 mil habitantes, (menos que o concelho, atlântico, que tem 26 mil). E vivia, desde 1900,  sobretudo das suas famosas minas de ferro. Tem ligação rodoferroviária e aérea com o resto do mundo...Por aqui passa a estrada europeia E10. Isto significa que, mesmo a quase 5 mil quilómetros de distância, podemos lá ir direitinho, um dia destes, beber um copo com o régulo da Tabanca da Lapónia.

Karesuando, por sua vez,  tem apenas  280 habitantes.  Do lado finlandês, Karesuvanto tem cerca de 140 habitantes. As duas localidades gémeas estão ligadas por uma ponte, construída em 1980. A zona circundante foi palco de violentos combates entre alemães e finlandeses em Dezembro de 1944, na Segunda Guerra Mundial. (Fonte: Wikipedia).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)



1. Mensagem do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:
 
Date: terça, 15/12/2020 à(s) 00:36
Subject: A web câmera mais ao Norte da Suécia e na área da minha casa 

Camarada:

Como julgo teres interesse nestas curiosidades exóticas,  aqui segue instrucäo para acederes à web câmera de Karesuando, no município de Kiruna.

A maneira mais fácil é escrever esta frase [ou carregar no link]

Välkommen till Karesuando,sveriges nordligast kyrkby  


[Em português, leia-se: "Bem-vindo a Karesuando, a aldeia-igreja mais ao norte da Suécia"... e onde, para este fim de semana, o nosso editor LG não conseguiu arranjar um hotelzinho...] 

Depois de carregar no título acima, tens entrada na página local. Na coluna da esquerda,  e sob as bandeiras [informação em inglês e alemão],  encontras 

Webbkamera


Carregando então na web câmara surgem duas alternativas,  mas só a última está a funcionar, ou seja:

Kamera mot Muonioälven och gränsbron mot Finland

 
[Em português: Câmera apontada em direção ao rio Muonio e a ponte fronteiriça,  em direção à Finlândia]
 
Esta câmara está a funcionar dia e noite.

É a ponte-fronteira com a Finlândia, e as luzes ao fundo são finlandesas. [Fotograma nº 1]

Com muita sorte (!!!)  durante as horas do dia talvez vejas passar algum camião ou carro [Fotograma nº 2], mas não se pode esquecer que nos próximos tempos [, o José Belo escreve em 15 de dezembro de 2020] é... sempre noite escura nas 24 horas.

Bem Vindo!

José Belo


A aldeia-igreja de Karesuando, Kiruna, Suécia...Deve distar quase 5 mil quilómetros da terrinha onde estou confinado por causa da maldita Covid-19... (LG)

Cortesia da menina do turismo de  Karesuando.



Suécia > Distância entre Kiruna (sede do município) e Karesuando, na fonteira. Um bom sítio para a gente fazer o próximo Encontro Nacional da Tabanca Grande, o primeiro da era pós-Covid.

Fonte: Cortesia de  Rome2rio

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)



Um livro que ando a ler e recomendo...


Focha técnica:

Título: Epidemias e Socieade: da Peste Negra ao presnete.
Autor: Frank M. Snowden
Editora: Edições 70 [Grupo Almedina]
Coleção: História Narrativa
Ano: 2020
Nº páginas: 689 
ISBN: 9789724423692
Preco de capa: c.35 € / 30 e
Número de páginas: 700
Capa: Brochado
 

Sinopse_ (...)  O livro recomendado pelo The World Economic Forum no contexto do surto de coronavírus .

Uma análise ambiciosa ao impacto das epidemias que mostra como os surtos infecciosos de grande escala moldaram a sociedade desde a Peste Negra até ao presente. Num estilo claro e acessível, Frank M. Snowden argumenta que as doenças não se limitaram a influenciar as ciências médias e a saúde pública, mas também transformaram as artes, a religião, a história intelectual e a guerra.

Esta investigação comparativa e multidisciplinar da história da medicina e da história social aborda temas como a evolução das terapêuticas, a literatura sobre a peste, a pobreza, o ambiente e a histeria coletiva. 

Além de fornecer uma perspetiva histórica sobre doenças como a varíola, a cólera e a tuberculose, Snowden analisa ainda a repercussões de epidemias recentes como o VIH/SIDA, o Ebola ou a SARS-COVID, ao mesmo tempo que se questiona sobre se o mundo estará preparado para a nova geração de doenças infecciosas. (...)

 
Portuguezes pocos, y eses locos... 

1. Terão razão os nossos vizinhos espanhóis quando se dignam olhar para nós, confinados no "jardim à beira mar plantado", lá do alto dos Picos da Europa  com o olhar altivo do Dom Quixote de la Mancha,  e nos mimoseiam com este secular apodo ?!

Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!...  

Vejam (mas não ouçam, ou só o q.b....) os virologistas, geneticistas, infecciologistas, pneumologistas, intensivistas, epidemiologistas, sanitaristas,  economicistas, futurologistas, moralistas, jornalistas, analistas, bloguistas, catrastrofistas e outros especialistas da Covid-19 (de que Deus nos livre!)...  

Se não todos/as, pelo menos bastantes,  parece adorarem pôr-se em bicos de pés, para terem o seu minuto de fama & glória à hora do telejornal, ao predizerem quantos vão ser infectados e quantos vão morrer, para a semana, daqui a um mês, daqui a um ano, dos tais portugueses, poucos e loucos... 

Estar informado, sim, e saber mais,  também... Mas a "overdose" diária de (des)informação sobre a pandemia, não faz bem à saúde mental... nem à nossa democracia.

2. Em 1918/19, de "gripe espanhola" (!), morreram 120 mil dos tais portugueses poucos e loucos (, estimam os cronistas do reino...). Dois por cento da população (que na altura era de 6 milhões)... 

Já eram poucos, os portugueses, ficaram desde então muito mais loucos... De tal maneira que já ninguém se lembra da mortandade que atingiu famílias inteiras, agravada pela cólera e a tuberculose!... 

A loucura tem a vantagem da amnésia... E, ao que parece, também a pobreza.... Já ninguém se lembra: é como a guerra colonial (, embora mais recente, há 60 anos,,,), Como já ninguém se lembra do populista Sidónio Pais, o presidente-rei, como o entronizou  e aclamou o poeta Fernando Pessoa... Nem muito menos das "sopas do Sidónio"...

Agora, com a pandemia do Covid-19, o Sidónio  (, senhor professor de Coimbra, de Cálculo Diferencial e Integral, ) e as suas sopas têm outros nomes... 

Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias,  a palavra de ordem é: 

Confinemo-nos, sim, camaradas !... Mas não nos (con)finemos, ámen!