quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21783: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (1) O leite; (2) A cura


 Capa de livro de 1741

(Usado & Achado >  "O Leite" > Recolhido em 19/1/2021 por Luís Graça)

Tratado II - Arte de Enfermeiros (...) Cap. LV. Leite aos éticos, tísicos e empiemáticos, como se lhes há-de dar e em que tempo (...) 

302.  O melhor leite, e o mais proveitoso, he o de mulher; e se for preta, melhor: logo o de burras, depois deste o de cabras negras, ou ruivas, logo o de vacas, e o de ovelhas não havendo outro" (pág. 156) (*) 



(Usado & Achado > "A Cura" > Enviado em 9/1/2021 pelo Mário Beja Santos) (**)


1. Estamos a escassos 3 meses de completar 17 (dezassete!) anos de existência, em 23/4/2021... 

Eventuais motivos de celebração da efeméride  (o 17º  aniversário do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)  são ensombrados por : (i) a  pandemia de Covid-19, que está a ter trágicas consequências na nossa terra e no resto do nosso planeta;  e (ii) a perspetiva de termos, em 2021, mais um "annus horribilis", como o de 2020.

Estamos em confinamento geral, pela segunda vez, desde março de 2020. E infelizmente estamos a bater uma série de dramáticos recordes. Precisamos de carregar as baterias da resiliência e da esperança para podermos resistir e sobreviver, com inteligência, arte e engenho. 

É uma fase da nossas vidas e da nossa história comum que está a ser muito dura. E não sabemos como tudo isto vai acabar, bem como as suas consequências epidemiológicas, clínicas, psicológicas,  demográficas, económicas, sociais, políticas, culturais...

Este ano, 2021, evoca-se também, em 15 de março,  os 60 anos do início da guerra colonial, ou guerra do ultramar, ou guerra de África (como cada um quiser chamar-lhe).

Os nossos camaradas mais velhos, que foram para Angola, logo em abril de 1961, "rapidamente e em força", estão agora já na casa dos 80...E os "periquitos", os "checas", os "maçaricos", os que fecharam as portas do império, em 1974 e 1975, também já não são "Sexas", estão todos a entrar nos Setentas,. são Septuas...

Com o peso de tantos anos (e das "medalhas da vida") e com as apreensões que nos batem à porta (a começar pelas mazelas do corpo e da alma...), temos que saber aprender a "sorrir com meia cara", já que a parte inferior anda tapada, há muito, com a máscara sanitária...


2. Algum "humor de caserna", com alguma brejeirice e saudável malícia, será bem vindo, de tempos a tempos, para amenizar a leitura diária do Blogue, e reforçar a nossa resiliência, desde que não infrinja as nossas regras de bom senso e bom gosto, base da nossa política editorial... 

Lembrámo-nos por isso de dar início a uma série a que chamamos "Usados & Achados": pequenos textos, pensamentos do dia ou da noite, ideias ou frases, de preferência ilustrados, que nos façam sorrir, rir, sentir, emocionar, e até chorar e gritar, mas também pensar, reflectir, imaginar,   sonhar, meditar, etc. 

Não têm, necessariamente, a ver com a tropa, a guerra, a Guiné (que o "core business", o foco principal, do nosso blogue), mas tambémpode ter, direta ou indiretamente... 

O leque de temas é vasto, podendo ir da saúde ao amor, do trabalho ao lazer, da vida à morte, da paz à guerra, incluindo os comes & bebes, os prazeres da mesa, a história, a geografia, a etnografia, a fotografia, as viagens, etc. Ou seja, tudo o que pode ter haver com "os nossos seres, saberes e lazeres" (nome de outra série, já consolidada).

Podem ser também anedotas "inteligentes", pequenas séries de provérbios sobre uma tema, pequenos poemas ou curtas histórias, de dois ou três parágrafos, originais ou não, com alguma "verve", "irreverência", e também "raridade" e "novidade"... 

Ou seja, não vale a pena mandar coisas que, embora "muito giras", já  circulam pelas redes sociais e são conhecidas de todo o mundo...

Podem ser, por exemplo, uma sugestão de leitura (de um livro que andam a ler), ou até pequenos excertos de livros  ou autores, atuais ou  antigos, como os dois que hoje publicamos, um sobre a "cura" e outro sobre as qualidades (terapêuticas) do "leite"...

Em contrapartida, devemos evitar o terreno minado a que chamamos RPF (Religião, Política & Futebol)..

Enfim, deve ser algo que se leia mum minuto e que desperte também a curiosidade do leitor e o leve a procurar saber mais, na Internet... (A indicação de um "link" é sempre aconselhável).

Aguardamos a colaboração dos nossos leitores, "confinados" ou não, incluindo os da "diáspora lusófona"...

PS - Não sendo os textos originais, convirá sempre citar a fonte e acautelar eventuais direitos de autor e/ou créditos fotográficos. 

__________

Notas do editor:

(*) SANTIAGO, Padre Fr. Diogo de (1741) - Postilla Religiosa, e Arte dos Enfermeiros, Guarnecida com eruditos conceitos de diversos Autores, facundos, Moraes, e Escriturários Pelo Padre Fr. Diogo de Santiago, religioso de S. João de Deos, Com que educou, e praticou aos seus Noviços, sendo Mestre delles no Convento de Elvas, para perfeição da vida Religiosa, e voto da Hospitalidade (...). Lisboa: Oficina de Miguel Manescal da Costa, impressor do Santo Ofício (Edição em fac-símile, em parceria com A Ordem Hospitaleira de São João de Deus. Original cedido pela Biblioteca da Academia das Ciências Médicas. Apresentação de Luís Graça, introdução de Aires Gameiro: Lisboa: Alcalá, 2005.

Para saber mais:  Graça, L. (2005) - A arte da enfermagem no Séc. XVIII, disponível aqui.

(**) Para saber mais: Wikipedia > Avicena (c. 980-1037)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A "Postilla Religiosa e Arte de Enfermeiros" é o primeiro manual de formação em cuidados de enfermagem de que há notícia em Portugal e, nessa medida, deveria ocupar um lugar de relevo na proto-história do ensino das ocupações e profissões de saúde.(...)

Publicada em 1741, depois do necessário "nihil obstat et imprimatur" das autoridades civis e religiosas, incluindo o competente parecer do médico da Câmara Real e físico-mor do Reino (vd. Caixa 6, em anexo), é seu autor o Padre Frei Diogo de Santiago, religioso da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus.

A obra destinava-se explicitamente à formação dos noviços do Convento de Elvas, "para perfeição da vida religiosa e voto da hospitalidade", sendo apresentada como resultado da experiência do autor em “quarenta anos de Religião” (...)

Na época, e desde 1645, os hospitaleiros de S. João de Deus não só administravam uma vasta rede de hospitais militares, de campanha e de retaguarda, do Minho ao Alentejo, como neles prestavam os cuidados de enfermagem.

O livro, de 300 páginas, está dividido em três partes ou tratados, por sua vez subdivididos em capítulos:

(i) um primeiro tratado ("postila religiosa") contem "advertências para a perfeição religiosa do estado de noviço até ao de prelado superior" (5 capítulos, da página 1 a 71);

(ii) um segundo tratado tem como título "arte de enfermeiros" e como subtítulo "para assistir aos enfermos, com as advertências precisas para a aplicação dos remédios": é o mais extenso em capítulos (59), e em páginas (uma centena, da página 72 a 172) (...)

(iii) o terceiro e último tratado ("advertências para bem morrer") tem 7 capítulos e cerca de 80 páginas, incluindo anexos (da página 173 a 256); o conteúdo desta parte tem a ver com o "modo para o enfermo examinar a sua consciência, exortações para a sua salvação, forma de fazer testamento, e para ajudar a bem morrer";

por fim, (iv) há ainda um índice temático, de A a Z (da página 257 a 300), com as "coisas mais notáveis deste livro", que ajuda o leitor a recapitular e a memorizar a matéria.

Os capítulos do tratado II são, sem dúvida, os mais interessantes, do ponto de vista da arqueologia dos saberes e das práticas de enfermagem, se bem que o autor se limite a divulgar alguns dos conhecimentos da época, ainda em grande parte tributários da medicina arábico-galénica. Todavia, o autor faz questão de apresentar a “arte de enfermeiros na praxe moderna, (…) revista e corrigida por médicos doutos e cirurgiões peritos” (...)

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

(Continuação)

Postilha religiosa e arte de enfermeiros (...)

O livro está longe de ser original e pioneiro: na vizinha Espanha a preocupação com a formação do pessoal religioso que prestava cuidados de enfermagem já remontava ao Séc. XVII. (...)

Na Biblioteca Nacional, em Lisboa, é possível encontrar uma obra, mais antiga, com um propósito didáctico, escrito por um médico e destinada a não-médicos, incluindo enfermeiros. Refiro-me ao livro Luz da medicina prática racional e metódica: guia de enfermeiros, directório de principiantes editada em Lisboa em 1664 e que até ao ano de 1700 teve um grande sucesso, a avaliar pelas suas cinco edições conhecidas. Foi seu autor Francisco Morato Roma (1588-1668), oriundo de Castelo de Vide (e por isso, muito provavelmente, cristão-novo), médico da câmara real nos reinados de D. João IV e de D. Afonso VI. Lemos (1991. 35-36) diz que a obra se destinava a "indivíduos de poucos conhecimentos médicos", resumindo-se à divulgação da medicina arábico-galénica ainda em vigor na época.

O pioneirismo da Postilla Religiosa e Arte de Enfermeiros está no facto de ela se destinar, propositada e especificamente, à formação dos indivíduos, os irmãos hospitaleiros, cuja ocupação principal era a prática da enfermagem. Na época, o termo ainda não existia em português: trata-se de um vocábulo recente, já que só aparece na nossa língua em 1913. Em contrapartida, o termo enfermeiro (do latim, "infirmu", fraco de corpo, débil) remonta, tal como enfermaria, a meados do Séc. XIII.

Por sua vez, o termo arte (do latim, "arte") significa talento, saber, habilidade; ou aquilo em que se aplica o talento; ocupação, ofício, profissão ou mister; arte, ciência. A arte de enfermeiros era já vista, em meados do Séc. XVIII, como uma verdadeira arte de curar (do latim "curare", ter cuidados com, cuidar, tratar), afirmando-se os enfermeiros lentamente mas com alguma segurança em relação a outro praticantes da arte médica, como os cirurgiões, os barbeiros-sangradores, as cristaleiras ou as parteiras.

Na divisão técnica e social do trabalho os enfermeiros do Século das Luzes começam a marcar alguns pontos, tal como os cirurgiões, nomeadamente nos hospitais militares. Apesar de haver hospitais com 500 camas em tempo de guerra, como era o caso do Hospital militar de Elvas (...), calcula-se que o número de enfermeiros não devesse ultrapassar as escassas dezenas em tempo de paz.(...)

Para saber mais:

https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos173.html

Anónimo disse...

Exm.Sr.Editor

Bourbon “arredondado” com bacon fumado,consumido ao...pequeno almoço!

Para efeitos medicinais garantidos o Bourbon deve ser produzido no Estado de Kentucky e bebido por colher de sopa.
(O detalhe quanto à colher de sopa é muito importante para o resultado do tratamento)

Respeitosamente
J.B.

(Ps/Existem certamente fotos deste “tratamento” tanto na Torre do Tombo como nos Arquivos Editoriais do Exm.Sr.Editor)

Anónimo disse...


Paulo Cordeiro Salgado
20 jn 2021 11:14

Uma leitura

Queridos Amigos,

Para além do cuidado que devemos ter em termos de protecção da saúde e de prevenção da doença, sugiro - para quem tiver o Expresso on-line - a leitura do artigo de hoje, dia 20 de Janeiro (primeiro mês do segundo ano de COVID19), de Ricardo Marques (Expresso curto).

Um abraço e desejo de continuação de resiliência. E de boas leituras (ajuda muito; também pode ser bricolage, preparação de refeições, trabalho doméstico...).

Do vosso amigo,

Paulo Salgado

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Joseph Belo:

Já recebi,pelo correio, a encomenda... UM dia destes servimos, ao pequeno almoço (?), a vossa receita de VEXA, Tabanqueiro da Lapónia e Criador de Renas... Good stay in America...