segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21778: Fotos à procura de... uma legenda (138): um desertor do PAIGC, uma ave de grande porte e o manual do oficial miliciano, uma raridade (Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1 >  Guerrilheiro do PAIGC, equipado com uma pistola-metralhadora Shpagin PPSH-41 (Costureirinha). que se apresentou a uma patrulha da CCAÇ 3491, perto do quartel do Dulombi, em 8 de Março de 1973, vindo da zona do Boé, donde desertou, após o assassinato de Amílcar Cabral.



Foto nº 2 > O  1º Cabo Avelino, a segurar um pássaro de grande porte (que até hoje não conseguimos identificar), que teve o azar de pousar ou tropeçar num dos arames que ligavam as nossas minas AP, colocadas numa das frentes do quartel, em Dulombi.



Foto nº 3 > Manuais do oficial miliciano


Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Mensagem de Luís Dias [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ
3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), o nosso especialista em armamento; tem cerca de 85 referências no nosso blogue]:

 
Date: sexta, 6/11/2020 à(s) 12:27
Subject: Material que pode também interessar
 

Caro Luís Graça

Incluso fotos dos manuais do Oficial miliciano [, foto nº 3], em que o volume sobre operações contra bandos armados e guerrilhas era difícil de obter. Espero um dia destes oferecê-los ao Museu Militar, caso não os tenham. 

Também uma foto do 1º Cabo Avelino, a segurar um pássaro de grande porte (que até hoje não conseguimos identificar), que teve o azar de pousar ou tropeçar num dos arames que ligavam as nossas minas AP, colocadas numa das frentes do quartel e que trazido para o quartel, ninguém quis degustá-lo, nem mesmo o pessoal da tabanca, porque não o conheciam. [Foto nº 2]

Julgo ser uma ave de mar ou mesmo rio mas, de facto, apesar de ter visto muitas fotos de pássaros africanos não consegui ver o que era este bicho. Pode ser que alguém da nossa Tabanca Grande consiga identificar.

Junto também foto de um elemento do IN, equipado com uma pistola-metralhadora Shpagin PPSH-41 (Costureirinha). que se apresentou a uma patrulha da CCAÇ 3491, perto do quartel do Dulombi, em 8 de Março de 1973, vindo da zona do Boé, donde desertou, após o assassinato de Amílcar Cabral.[Foto nº 1].


Grande Abraço
Luís Dias
__________

6 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Estou em crer que os "Tugas" na sua inocência e ingenuidade própria do tempo e da idade assassinaram uma ave rara denominada Pelicano Crespo (com nome científico de Pelecanus Crispus), nativa do sul da Europa e da Ásia (podia ser de Portugal) que se encontrava de passagem por África no seu percurso anual de migração. Como devem saber não muito longe deste lugar encontra-se a zona das lagoas de Cufada que recebia e ainda hoje recebe, muitas aves migratórias do sul da Europa que fogem do frio para regiões mais quentes e acolhedoras. É uma ave antiga e rara, que já nos anos 60/70 já estava ameaçada de extinção.

Pobres soldados, que Deus e os bons Irãs da terra tenham piedade e vos perdoem.

Abraços

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Essa ave de grande porte é um pelicano, como bem afirma o Cherno Baldé; quando a C.CAÇ.4540 foi para Nhacra, o terceiro pelotão ficou a fazer segurança ao canal do Impernal onde apareciam imensos pelicanos; como a fominha era muita havia um perito que os caçava com G3 e de vez em quando mandava alguns para a "messe" de oficiais; a carne sabia um pouco a peixe, que é a alimentação do bicho, mas com umas bejecas fresquinhas, sabia que nem ginjas!
Albertino Ferreira, ex-alferes

Valdemar Silva disse...

Também foi abatido em pleno voo um pelicano destes, pela rapaziada da CART11 "Os Lacraus".
Julgo ter sido no regresso duma operação e não me lembro quem o derrubou, com o embate no chão levantou poeira parecia com um mini cogumelo da bomba atómica. Não me lembro como foi cozinhado, mas os soldados fulas diziam ter muito sabor a peixe. Ainda guardo uma pena deste pelicano com mais de meio metro em bom estado de conservação.
Mas, o abater/matar passarada era habitual pela rapaziada, principalmente nos destacamentos por não haver 'dar explicações' dos tiros efectuados. Coitados dos belos pássaros que poisavam no arame farpado, serviam para apurar a pontaria da G3, já que rolas, pombos verdes ou fracas era difícil de acertar à bala.

Abracelos e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Foto nº 2_ Parcee tratar-se de um Pelicano cinzento ou pelicano rosado...Nome científico: "Pelecanus rufescens"


https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelicano-cinzento

O pelicano-cinzento, Pelecanus rufescens, também conhecido como pelicano-cinzento-africano ou pelicano-de-dorso-rosa-africano (tradução do nome inglês Pink-backed Pelican) é uma espécie de pelicano que se distribui pelas zonas húmidas de toda a África tropical e subtropical, até à Arábia e a Madagáscar.

É uma espécie relativamente pequena (, mais pequena que o pelicano branco), atingindo um comprimento de 132/150 cm, uma envergadura de 2,9 m e um peso de 5,5 kg.

A plumagem dos adultos é branca e cinzenta, com uma tonalidade rosada no dorso e as pontas das asas pretas; durante a época da reprodução, ostenta penas longas na cabeça. O bico atinge 38 cm, com a parte superior amarela e a bolsa cinzenta...

É raríssimo ver-se esta ave em Portugal. Menos raro é o pelicano branco:

http://www.avesdeportugal.info/pelono.html

http://www.avesdeportugal.info/pelruf.html

Mas nem uma nem outra pertence à "Lista Sistemática das Aves de Portugal Continental".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, venho em socorro da honra da rapaziada de Dulombi... O pelicano pode ter sido abatido a tiro. Havia disciplina de fogo nos quartéis, sede de companhia ou de batalhão. Nos destacamentos havia mais tendência paar dar um "tiro aos pássaros", até paar descarregar a tensão, fruto do isolamento e da miséria de vida dentro de um buraco...

O mais provável é, de acordo com a legenda do alferes Luís Dias, o pelicano ter caído ou pousado na zona minada / armadilhada do perímetro de arame farpado... Havia sapadores que usavam minas antipessoais com fio de tropeçar... Qualquer animal, com a envergadura do pelicano, podia provocar a sua detonação...

Mas o Luís Dias pode explicar melhor, se se lembrar ainda dos detalhes...

Obrigado pelo comentário, oportuno, rápido e interessane. Sabes que o pelicano é uma ave bíblica, e portanto um significado místico para as três religiões abraãmicas, judaísmo, cristianismo e islamismo. Era já uma ave sagrada para os antigos egípcios. E integra a simbologia da maçonaria...

Estes nossos comentários não ressuscitam a ave, mas ajudam-nos a reforçar o respeito que devemos ter pela natureza de que fazemos parte!...Aqui, na Guiné-Bissau e em toda a parte.

Anónimo disse...

Caro Luís

Há um pormenor que o Luís Dias (grande especialista de armas e da música pop) evoca e que devia despertar a atenção dos metropolitanos, diz ele "...ninguém quis desgustá-lo nem mesmo os locais que não o conheciam". Em Dulombi (Corubal) a população é exclusivamente fula/fula-fula, muçulmanos que vivem na ambiguidade do lícito e o ilícito, o puro e o impuro (ref. as leis do Moisés) dificilmente comeriam a carne de uma ave desconhecida e pior, morta de forma pouco convencional. Se fossem populações não muçulmanas do litoral, penso que não teriam qualquer problema como o Valdemar muito bem descreveu na localidade perto do canal do Impernal, arredores de Bissau.

Cherno Baldé