Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > 1970 > Destacamento de Nhabijões > Assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões, maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato", tanto a norte do Cuor como ao longo da margem direita do Rio Corubal, nos subsetores do Xime e do Xitole). Como se vê, a consulta médica era muito pouco privada... Além disso, o médico (neste caso, o alf mil médico Vidal Saraiva (*), cirurgião, tinha que utilizar os serviços de um intérprete (, que está de pé, ao lado do paciente, que veio diretamente do trabalho, na bolanha). Ao canto superior esquerdo, há um tabuleta em madeira onde se lê: "Por favor não deitar lixo para o chão".
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]
Nota de leitura - II (e última) Parte
por Luís Graça
Reis, Carlos Vieira – A Guerra Colonial. In: Veloso A. J., Mora, L. D., Leitão, H., (Eds.) (2017). Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By The Book, pp. 492-505
Carlos Vieira Reis é coronel médico e escritor, ex-diretor de serviço de Cirurgia, ex-director clínico do Hospital Militar Principal, ex-presidente da União Mundial dos Escritores Médicos.
Resumo:
A organização e o funcionamento dos serviços de saúde militar, durante a guerra colonial / guerra do ultramar, é um dos cinquenta capítulos da obra verdadeiramente enciclopédica, de que o meu ilustre amigo A. J. Barros Veloso (médico, músico de jazz e historiador, especialista de medicina interna, ex-diretor de serviço do Hospital dos Capuchos, Hospitais Civis de Lisboa) foi o principal editor literário, para não dizer mesmo a verdadeira “alma mater”: “Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX”.
Barros Veloso é, de resto, o autor de 15 capítulos. A obra, com um total 863 páginas, reúne a colaboração de cerca de quatro dezenas de especialistas da história da medicina portuguesa no séc. XX (, incluindo, modéstia à parte, o meu nome, no que diz respeito à génese e desenvolvimento da saúde pública).
Na II parte desta nota de leitura, aborda-se o apoio sanitário que tivemos durante a guerra colonial,com destaque com a experiência do autor como diretor do hospital militar de evacuação, no Luso, Leste de Angola. (**)
(Continuação) (**)
Os primeiros médicos a serem mobilizados para Angola, na sequência dos trágicos acontecimentos de 15 de março de 1961, foram justamente os que tinham acabado de cumprir o serviço militar obrigatório. Ainda não havia carreiras médicas nem internatos de especialidade e o número total de médicos em Portugal em 1960 não ultrapassava os 7, 1 mil (Gráfico nº 1)… E na década seguinte só se formaram mais 1100…
Se compararmos com a situação atual (2017), desde 1960 o número de médicos aumentou mais de 7,3 vezes. O mesmo se passou com os enfermeiros, que evoluíram de uns escassos 9,5 mil, em 1960, para 71,6 mil (em 2017) (7,5 vezes mais).
Com a abertura de mais duas frentes (Guiné, em 23 de janeiro de 1963, e Moçambique em 25 de setembro de 1964), as necessidades em pessoal médico militar dispararam, obrigando o exército a recrutar médicos menos jovens. Nas especialidades com menos quadros, chegaram-se a mobilizar médicos com “mais de 45 anos”. E até chefes de serviço hospitalares foram chamados (p. 495).
No caso da enfermagem, a estratégia dos serviços de saúde militar foi outra. Em 1965, foi criado o Regimento de Saúde, em Coimbra, para satisfazer as necessidades crescentes de pessoal sanitário para os vários teatros de operações, e em particular de enfermeiros e maqueiros, recrutados entre o pessoal do contingente geral.
Se compararmos com a situação atual (2017), desde 1960 o número de médicos aumentou mais de 7,3 vezes. O mesmo se passou com os enfermeiros, que evoluíram de uns escassos 9,5 mil, em 1960, para 71,6 mil (em 2017) (7,5 vezes mais).
Com a abertura de mais duas frentes (Guiné, em 23 de janeiro de 1963, e Moçambique em 25 de setembro de 1964), as necessidades em pessoal médico militar dispararam, obrigando o exército a recrutar médicos menos jovens. Nas especialidades com menos quadros, chegaram-se a mobilizar médicos com “mais de 45 anos”. E até chefes de serviço hospitalares foram chamados (p. 495).
No caso da enfermagem, a estratégia dos serviços de saúde militar foi outra. Em 1965, foi criado o Regimento de Saúde, em Coimbra, para satisfazer as necessidades crescentes de pessoal sanitário para os vários teatros de operações, e em particular de enfermeiros e maqueiros, recrutados entre o pessoal do contingente geral.
Imagem do sítio oficial da ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (, reproduzida com a devida vénia...). Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. "O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."
Também por aqui passou, na segunda metade da década de 1960, o nosso camarada Adriano Moreira ("nickname", Admor), ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70 (***)
As NEP mandavam haver um médico por companhia…
De qualquer modo, os quadros de saúde, e nomeadamente os médicos milicianos, vão ser usados até à exaustão. O rácio 1 médico por companhia (160 homens), inicialmente previsto nas NEP, deixou de ser praticável, facto que parece ter escapado ao autor, Carlos Vieira Reis:
“O papel desempenhado pelos médicos no mato teve a maior importância na Guerra Colonial. Cada batalhão era constituído por quatro companhias, cada uma como seu médico, ao qual eram adstritos, um sargento-enfermeiro, e dois ou três maqueiros, apoiados por uma ambulância com material cirúrgico elementar” (p. 496).
Pessoalmente, na Guiné, no meu tempo (1969/71), não conheci nenhum batalhão com 4 médicos, um por companhia. Na melhor das hipóteses havia um médico por batalhão (**)… E também não me recordo de ver ambulâncias no mato...
Por outro lado, o autor, coronel médico Carlos Vieira Reis, antigo o diretor do Hospital Militar Principal (HMP), reconhece que os médicos milicianos, recém-licenciados, depois da frequência, com aproveitamento, do COM – Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, transitavam para a Escola de Serviços de Saúde Militar, na Estrela, junto ao HMP, ali “adquirindo noções muito superficiais de patologia tropical” (sic) (p. 496)... Mas foram justamente estes bravos, médicos, enfermeiros e outros, que “fizeram a cobertura sanitária nos teatros de guerra”.
Para o médico no mato, para além das situações de rotina (vigilância da saúde do pessoal de uma companhia ou batalhão, consultas médicas e de enfermagem, etc.), o que era preocupante eram as “situações de emergência”, tais como “as crises graves de paludismo com febre alta, calafrios e convulsões” ou então “as úlceras duodenais agudas com hematémeses e melenas”, requerendo o transporte aéreo do doente para o “centro cirúrgico mais próximo” (que no caso da Guiné só podia ser o HM 241, em Bissau)…
Nas saídas para o mato, a nível de pelotão, “o apoio sanitário era prestado por enfermeiros ou maqueiros com conhecimentos de primeiros socorros e de reanimação”. Tratando-se de operações a nível de companhia, estava prevista a presença de um médico… Mas isso era o que diziam as NEP, meu caro Carlos Vieira Alves…
Em Bambadinca, no setor L1, nem o médico nem o furriel enfermeiro acompanham os operacionais no mato, fosse um ou mais grupos de combate. Em 1969/71, na Guiné, o pessoal de saúde estava mobilizado, no essencial, para prestar cuidados médicos e de enfermagem à população civil, de acordo com as orientações do Com-Chefe e Governador Geral, o gen Spínola. Boa parte dos recursos da saúde militar foi canalizada para o embrionário serviço regional de saúde da Guiné...
O que se terá passado ao longo dos longos anos da guerra ? As chefias militares sabem que os médicos são escassos e, por isso, um recurso raro e precioso. Viajam de heli ou DO 27, evitando as colunas auto, o risco de minas e armadilhas e de emboscadas. Ficam “acantonados” no aquartelamento, chefiando o “posto médico” da companhia ou batalhão, e são cada vez mais assoberbados pelas tarefas decorrentes da “acção psico-social” (que, diga-se de passagem, está longe de ser uma invenção portuguesa, tendo sido inspirada nas guerras da Argélia e do Vietname, tal com as “aldeias estratégicas” ou “reordenamentos”).
Em Angola, nas zonas “mais calmas”, o serviço de saúde desempenhou “um papel crucial”: “uma pequena equipa constituída pelo médico, o enfermeiro, um maqueiro e o condutor deslocava-se, em dias certos, às várias sanzalas, onde era aguardada por uma multidão”…
Na Guiné, e pela minha experiência, a situação era inversa: em geral, eram as populações que se deslocavam ao “posto médico militar”, em Bambadinca, sede de batalhão e posto administrativo. Mas, com o reordenamento de Nhabijões, ao tempo do BART 2917, o médico também ia, periodicamente, ao destacamento, que ficava a escassos quilómetros da sede do batalhão, mas onde eu e outros voaríamos, num GMC, sob o efeito de uma potente mina A/C já próximo do final da comissão.
De qualquer modo, os quadros de saúde, e nomeadamente os médicos milicianos, vão ser usados até à exaustão. O rácio 1 médico por companhia (160 homens), inicialmente previsto nas NEP, deixou de ser praticável, facto que parece ter escapado ao autor, Carlos Vieira Reis:
“O papel desempenhado pelos médicos no mato teve a maior importância na Guerra Colonial. Cada batalhão era constituído por quatro companhias, cada uma como seu médico, ao qual eram adstritos, um sargento-enfermeiro, e dois ou três maqueiros, apoiados por uma ambulância com material cirúrgico elementar” (p. 496).
Pessoalmente, na Guiné, no meu tempo (1969/71), não conheci nenhum batalhão com 4 médicos, um por companhia. Na melhor das hipóteses havia um médico por batalhão (**)… E também não me recordo de ver ambulâncias no mato...
Por outro lado, o autor, coronel médico Carlos Vieira Reis, antigo o diretor do Hospital Militar Principal (HMP), reconhece que os médicos milicianos, recém-licenciados, depois da frequência, com aproveitamento, do COM – Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, transitavam para a Escola de Serviços de Saúde Militar, na Estrela, junto ao HMP, ali “adquirindo noções muito superficiais de patologia tropical” (sic) (p. 496)... Mas foram justamente estes bravos, médicos, enfermeiros e outros, que “fizeram a cobertura sanitária nos teatros de guerra”.
Para o médico no mato, para além das situações de rotina (vigilância da saúde do pessoal de uma companhia ou batalhão, consultas médicas e de enfermagem, etc.), o que era preocupante eram as “situações de emergência”, tais como “as crises graves de paludismo com febre alta, calafrios e convulsões” ou então “as úlceras duodenais agudas com hematémeses e melenas”, requerendo o transporte aéreo do doente para o “centro cirúrgico mais próximo” (que no caso da Guiné só podia ser o HM 241, em Bissau)…
Equipa de saúde: Quem é que saía para o mato ?
Nas saídas para o mato, a nível de pelotão, “o apoio sanitário era prestado por enfermeiros ou maqueiros com conhecimentos de primeiros socorros e de reanimação”. Tratando-se de operações a nível de companhia, estava prevista a presença de um médico… Mas isso era o que diziam as NEP, meu caro Carlos Vieira Alves…
Em Bambadinca, no setor L1, nem o médico nem o furriel enfermeiro acompanham os operacionais no mato, fosse um ou mais grupos de combate. Em 1969/71, na Guiné, o pessoal de saúde estava mobilizado, no essencial, para prestar cuidados médicos e de enfermagem à população civil, de acordo com as orientações do Com-Chefe e Governador Geral, o gen Spínola. Boa parte dos recursos da saúde militar foi canalizada para o embrionário serviço regional de saúde da Guiné...
O que se terá passado ao longo dos longos anos da guerra ? As chefias militares sabem que os médicos são escassos e, por isso, um recurso raro e precioso. Viajam de heli ou DO 27, evitando as colunas auto, o risco de minas e armadilhas e de emboscadas. Ficam “acantonados” no aquartelamento, chefiando o “posto médico” da companhia ou batalhão, e são cada vez mais assoberbados pelas tarefas decorrentes da “acção psico-social” (que, diga-se de passagem, está longe de ser uma invenção portuguesa, tendo sido inspirada nas guerras da Argélia e do Vietname, tal com as “aldeias estratégicas” ou “reordenamentos”).
Em Angola, nas zonas “mais calmas”, o serviço de saúde desempenhou “um papel crucial”: “uma pequena equipa constituída pelo médico, o enfermeiro, um maqueiro e o condutor deslocava-se, em dias certos, às várias sanzalas, onde era aguardada por uma multidão”…
Na Guiné, e pela minha experiência, a situação era inversa: em geral, eram as populações que se deslocavam ao “posto médico militar”, em Bambadinca, sede de batalhão e posto administrativo. Mas, com o reordenamento de Nhabijões, ao tempo do BART 2917, o médico também ia, periodicamente, ao destacamento, que ficava a escassos quilómetros da sede do batalhão, mas onde eu e outros voaríamos, num GMC, sob o efeito de uma potente mina A/C já próximo do final da comissão.
Director do hospital militar de evacuação no Luso,
Região Militar do Leste, Angola
Na segunda parte do artigo, ou melhor, do capítulo do livros (pp.499-503), o autor recorre à sua experiência de diretor do serviço de cirurgia no hospital do Luso, um típico “hospital de evacuação”, no Leste de Angola, por volta de 1970/71.
O Carlos Vieira Reis começa nos confrontar com o contraste entre a “parte militar” e a “parte civil”: de um lado, a chamada Enfermaria de Sector, um pré-fabricado em forma de L, de um só piso, desconfortável, disfuncional, e do outro um magnífico edifício, construído de raiz, onde estava instalado o Hospital Regional do Luso. “O choque, quando se olhava para as duas construções, era de extrema violência e incompreensão” (p. 499).
Não se entendia como, sendo militares, a maior parte dos doentes existentes, se ofereciam “tão miseráveis condições de acolhimento”… E porque não se tinham concentrado todas as actividades num só edifício ? E porquê chamar “enfermaria de sector” e não hospital, como o Hospital Militar de Luanda ?…
Todos os dias o cirurgião recebia vários doentes, trazidos de avião ou de heli, com diversas patologias de guerra, em geral resultantes de minas A/C e A/P. Sobre as minas A/P, diz: (…) "Tinham um efeito terrível. (…) Quando [as vítimas] chegavam às mãos do cirurgião, a maioria das vezes era impossível salvar o membro: ao hospital já chegava um amputado e à pátria regressaria um deficiente” (p. 500).
Também os prisioneiros feridos eram ali tratados, sem distinção, nem discriminação, sendo “a única prioridade no tratamento (…) a gravidade dos ferimentos”… Mas, no final, o cirurgião sabia que estes seus doentes, os do IN, seguiam depois para “interrogatório policial” (PIDE/DGS) (p. 500).
De igual modo, os médicos militares também tratavam a população civil, de origem europeia. Mas aqui o autor faz um retrato pouco simpático do colono branco:
O Carlos Vieira Reis começa nos confrontar com o contraste entre a “parte militar” e a “parte civil”: de um lado, a chamada Enfermaria de Sector, um pré-fabricado em forma de L, de um só piso, desconfortável, disfuncional, e do outro um magnífico edifício, construído de raiz, onde estava instalado o Hospital Regional do Luso. “O choque, quando se olhava para as duas construções, era de extrema violência e incompreensão” (p. 499).
Não se entendia como, sendo militares, a maior parte dos doentes existentes, se ofereciam “tão miseráveis condições de acolhimento”… E porque não se tinham concentrado todas as actividades num só edifício ? E porquê chamar “enfermaria de sector” e não hospital, como o Hospital Militar de Luanda ?…
Todos os dias o cirurgião recebia vários doentes, trazidos de avião ou de heli, com diversas patologias de guerra, em geral resultantes de minas A/C e A/P. Sobre as minas A/P, diz: (…) "Tinham um efeito terrível. (…) Quando [as vítimas] chegavam às mãos do cirurgião, a maioria das vezes era impossível salvar o membro: ao hospital já chegava um amputado e à pátria regressaria um deficiente” (p. 500).
Também os prisioneiros feridos eram ali tratados, sem distinção, nem discriminação, sendo “a única prioridade no tratamento (…) a gravidade dos ferimentos”… Mas, no final, o cirurgião sabia que estes seus doentes, os do IN, seguiam depois para “interrogatório policial” (PIDE/DGS) (p. 500).
De igual modo, os médicos militares também tratavam a população civil, de origem europeia. Mas aqui o autor faz um retrato pouco simpático do colono branco:
“Nunca até tinham tido tão boa assistência. Como reagia ? Com uma mentalidade estreita, focalizada na defesa dum trabalho mal remunerado e no culto do dinheiro; estavam interessados na defesa de Angola e na aniquilação dos terroristas, os ‘turras’, desde que fossem outros a fazê-lo. Que uma geração de jovens viesse sacrificar-se, era uma obrigação da nação onde tinham nascido. Limitavam-se a enriquecer à custa dos negócios e do dinheiro dos soldados” (pp. 500/501).
Não é um retrato edulcorado o do leste de Angola que o autor conheceu como médico militar, e que aqui nos deixa, em tom caricatural:
Não é um retrato edulcorado o do leste de Angola que o autor conheceu como médico militar, e que aqui nos deixa, em tom caricatural:
(…) “Vivia-se numa sociedade de improviso em que os militares eram os que menos improvisavam. As cidades tinham juízes que eram nomeados sem habilitações, presidentes da câmara que nem para escriturários serviam, professores de liceu que nunca tinham acabado o curso liceal” (p. 501).
A actividade médica centrava-se sobretudo na cirurgia. A tal “Enfermaria de Sector”, nestes anos de 1970/71, recebia “75% de todos os feridos e baixas da Região Militar de Angola” (pág. 502).
1700 doentes operados em 14 meses (1970/71)
A actividade médica centrava-se sobretudo na cirurgia. A tal “Enfermaria de Sector”, nestes anos de 1970/71, recebia “75% de todos os feridos e baixas da Região Militar de Angola” (pág. 502).
E, no entanto, tinha um quadro orgânico subdimensionado, com os seus médicos a serem também responsáveis pelos doentes do hospital civil, ao mesmo que as chefias na Região Militar Leste faziam orelhas moucas aos insistentes pedidos de envio de especialistas e “sobretudo de instrumentos cirúrgicos capazes e de ventiladores” (p. 502).
E, falando de quadro orgânico, queria dizer-se… 4 médicos, 1 sargento enfermeiro, 1 cabo auxiliar de enfermeiro e 2 maqueiros!...
Só havia um anestesista e ao ajudante de cirurgião, que se estava a especializar, eram entregues os “casos menos graves”.
Mas, se a penúria de material era grande, dispunha-se do recurso mais precioso nas organizações de saúde e nas demais organizações: o pessoal. O autor tece rasgados elogios à competência e empenhamento dos seus colegas e colaboradores, sempre disponíveis e sem exigências quando tocava a reunir… Vale a pena citar este longo parágrafo,para se perceber as duras condições em que se trabalhava nestes hospitais militares:
“Quando os feridos não chegavam isoladamente, mas em pequenos ou grandes grupos, por vezes mais de duas dezenas de uma só vez, a colaboração de todos os médicos era indispensável quando o cirurgião estava entregue a um dos trabalhos mais dolorosos e desagradáveis da sua especialidade: a triagem por urgência.
“O apoio consistia na estabilização de todos os doentes, desde o combate ao ‘shock’ e à infecção ao suporte endovenoso, às medidas de urgência e à imobilização provisória ou definitiva de fracturas. Mesmo aqueles que se poderiam esquivar a estas tarefas, se entregavam a elas com devoção total.” (p. 502).
Falando em números… Num período de 14 meses (nos anos 70/71), no Luso foram operados 1700 doentes, entre civis e militares, correspondentes a um número necessariamente superior de intervenções, devido, no caso das vítimas de actos de guerra, à presença de “patologias múltiplas: vários tiros ou estihaços, amputações traumáticas, perdas musculares graves, fracturas, queimaduras, além das famosas balas sem orifício de saída,com os trajectos mais aberrantes” (p. 503).
Em resumo, a guerra colonial foi uma experiência marcante para todos os que a fizeram, uns no “front office”, enquanto combatentes, outros no “back office”, como os médicos, os enfermeiros e outros. E isto, indepentemente do teatro de operações que nos coube em sorte. (Para não ferir suscetibilidades, no mato, todos éramos combatentes, tendo pelo menos um farda camuflada e uma G3 distribuída!...
E, falando de quadro orgânico, queria dizer-se… 4 médicos, 1 sargento enfermeiro, 1 cabo auxiliar de enfermeiro e 2 maqueiros!...
Só havia um anestesista e ao ajudante de cirurgião, que se estava a especializar, eram entregues os “casos menos graves”.
Mas, se a penúria de material era grande, dispunha-se do recurso mais precioso nas organizações de saúde e nas demais organizações: o pessoal. O autor tece rasgados elogios à competência e empenhamento dos seus colegas e colaboradores, sempre disponíveis e sem exigências quando tocava a reunir… Vale a pena citar este longo parágrafo,para se perceber as duras condições em que se trabalhava nestes hospitais militares:
“Quando os feridos não chegavam isoladamente, mas em pequenos ou grandes grupos, por vezes mais de duas dezenas de uma só vez, a colaboração de todos os médicos era indispensável quando o cirurgião estava entregue a um dos trabalhos mais dolorosos e desagradáveis da sua especialidade: a triagem por urgência.
“O apoio consistia na estabilização de todos os doentes, desde o combate ao ‘shock’ e à infecção ao suporte endovenoso, às medidas de urgência e à imobilização provisória ou definitiva de fracturas. Mesmo aqueles que se poderiam esquivar a estas tarefas, se entregavam a elas com devoção total.” (p. 502).
Falando em números… Num período de 14 meses (nos anos 70/71), no Luso foram operados 1700 doentes, entre civis e militares, correspondentes a um número necessariamente superior de intervenções, devido, no caso das vítimas de actos de guerra, à presença de “patologias múltiplas: vários tiros ou estihaços, amputações traumáticas, perdas musculares graves, fracturas, queimaduras, além das famosas balas sem orifício de saída,com os trajectos mais aberrantes” (p. 503).
Em resumo, a guerra colonial foi uma experiência marcante para todos os que a fizeram, uns no “front office”, enquanto combatentes, outros no “back office”, como os médicos, os enfermeiros e outros. E isto, indepentemente do teatro de operações que nos coube em sorte. (Para não ferir suscetibilidades, no mato, todos éramos combatentes, tendo pelo menos um farda camuflada e uma G3 distribuída!...
Gostaria,todavia, que se falasse aqui mais das particularidades da saúde e dos serviços de saúde da Guiné, incluindo o papel (excecional) que no CTIG desempenharam os nossos 1ºs cabos e soldados auxiliares de enfermeiro, muitas vezes injustamente arrumados na categoria de “maqueiros”: salvaram muitas vidas nossas no mato, na ausência de médico e de enfermeiro, e enquanto o "anjo do céu" não chegava...
___________
Notas do editor:
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16251: In Memoriam (260): Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva (1936-2015), especialista em Cirurgia Geral, ex-alf mil med CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, nov 1969/jun 1970) e HM 241 (Bissau, 1970)... Está sepultado em Valadares, V. N. Gaia. Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 720, a título póstumo.
(**) Vd. poste de 19 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21781: Nota de leitura (1335): Os serviços de saúde militar e a guerra colonial - Parte I (Luís Graça)
(****) Vd., entre outros, os postes de:
8 comentários:
Uma pergunta, inocente: porque é que as mulheres não foram à guerra ? Havia já bastantes mulheres médicas (embora fossem mais os homens) e, entre o pessoal de enfermagem, estavam então em esmagadora maioria...
Abriu-se uma exceção: as enfermeiras paraquedistas... Não chegaram a meia centena... Mas o seu exemplo uma porta entreaberta, que as mulheres portuguesas vão aproveitar para entrar nos "baluartes masculinos", da tropa à magistratura...
A mudança de mentalidades leva anos e anos...Mas Florence Nightingale (Florença, 1820 — Londres, 1910) liderou um pequeno grupo de mulheres, que prestaram cuidados de enfermagem em hospitais de campanha, durante a guerra da Crimeia (1853-1856)...abrindo o campo à génese e ao desenvolvimento da profissão a partir de 1860...
Oh Luís!
"Porque é que as mulheres não foram à guerra?" Essa é muitaboa!Ganda pregunta!Um sociólogo não perguntaria melhor.
Claro que havia já bastantes mulheres médicas e enfermeiras.
Mas estamos em 1961 - 74 e cruzaram-se vários motivos.
Primeiro e antes de tudo o país estava e não estava em guerra. Umas vezes estava (para o interior) outras não (para o exterior). Por isso as mulheres não podiam ser nomeadas para o apoio médico das tropas, nomeadamente para o apoio às "unidades do mato". Não podiam ir para qualquer lado e isso diz logo algo sobre o assunto.
Podemos também perguntar porque é que não pressionaram para ir, nem que fosse para guarnecer os hospitais das cidades... Qual seria a atitude dos homens se o HM 241 fosse guarnecido preferencialmente por mulheres? E o de Nova Lamego? E outro que se montassem? Seria um fenómeno sensacional e invulgar no mundo de sempre! Um apoio médico e medicamentoso sem tamanho que a população nunca tinha tido e nunca terá.
Qual porta entreaberta? Estás pensar que as mulheres portuguesas queriam aproveitar para entrar nos "baluartes masculinos", naquele tempo? Havia condições para isso?
Pois é! A mudança de mentalidades leva anos e anos... Para além da Florence Nightingale houve as enfermeiras da I GM e na II GM (poucas, mas houve).
Por mim creio que as médicas e enfermeiras não queriam e não estavam dispostas a ir para a guerra. A impopularidade era demasiada e nada as seduzia a isso.
Então e as outras não iam? Se pudessem ir, iriam? Não podiam - por lei - e não seria popular enviá-las. A guerra era demasiado impopular. Essa era a razão. O governo do tempo não tinha campo político para pedir às médicas e enfermeiras que fossem à guerra em apoio de uma manobra que conseguia explicar cada vez menos.
Um Ab.
António J. P. Costa
Luís
No Saltinho,ao tempo da CCaçç 2701,havia Médico, Dr Martins Faria,era de Guimarães e faleceu precocemente há uns vinte anos. Na mesma altura,também havia médico no Xitole, Dr Nunes de Matos.
No Saltinho,deixou de haver médico quando lá estava a Cª da tragédia.
No Xitole continuou a haver Médico Dr Azevedo,curou-me um otite.
Em Galomaro,esteve o Dr Veloso,foi Director do IPO do Porto,e agora julgo ser Presidente da Liga. O Dr.Pereira Coelho,também esteve em Galomaro,mas tive pouco contacto com ele.
Abraços
Santiago
José Teixeira (by email)
19 jan 2021 22:37
Os Serviços de Saúde militar e a guerra colonial.
O Dr. Carlos Vieira Reis faz uma leitura muito interessante dos Serviços de Saúde Militar nas guerras de África creio que muito centrada em Angola e nos primeiros tempos da guerra.
A realidade nos anos 1968/69/70 era bem diferente. A começar pela estrutura médico sanitária da Companhia, onde não havia médico. Este, existia apenas a nível batalhão ou era colocado no Comando do Sector. Cada Companhia tinha nos seus quadros um furriel enfermeiro e três cabos auxiliares de enfermeiro. Note-se que havia a categoria de cabo enfermeiro. A sua preparação era exatamente igual à do auxiliar de enfermeiro, mas o que era classificado como cabo enfermeiro era destinado ao Hospital e o que era classificado como auxiliar de enfermeiro era colocado nas Companhias operacionais.
Deste modo, cada Companhia tinha um enfermeiro por Grupo de Combate (um furriel e três cabos auxiliares de enfermeiro), mas, salvo raras exceções, o furriel refugiava-se no comando e os desgraçados cabos auxiliares de enfermeiro marchavam no terreno.
Quanto a médicos, em cerca de três meses que estive em Ingoré, quem pontificava na assistência à saúde era o furriel da companhia ali estacionada, o qual era chamado “dotor” pela população e na realidade atendia a população receitava medicamentos, assistia a partos, etc.
Era um “apanhado pelo clima” autenticamente maluco, mas que era bom na arte, era! Aprendi muito com ele no pouco tempo em que convivemos, quer em conhecimentos de doenças tropicais e seu tratamento, bem como na minha relação com a população. Posteriormente foi castigado e reduzido a soldado raso, como tive oportunidade de saber, quando o encontrei na prisão dos Adidos em Bissau. (Uma estória para contar mais tarde).
Eu, que tive três meses de formação em enfermagem no Serviços de Saúde em Coimbra, onde um Cabo RD dava formação do corpo humano, um médico que aparecia uma vez por semana para uma palestra e um 1 º sargento “cheio de África” que nos dava palestras numa linguagem pobre, sobre saúde.
De notar que num pelotão de cerca de cinquenta homens a grande maioria vinha da escola de sargentos onde tinha chumbado, logo, gente revoltada, com conhecimentos científicos (7º ano, professores primários, etc) e vistas largas, que faziam do cabo RD e do Sargento gato sapato. Para mim foram umas férias, pois tinha dado o corpo humano no liceu de uma forma muito mais científica e mais profunda. Seguiu-se um estágio de cerca de dois meses no hospital do Porto, numa enfermaria dedicada a medicina interna, onde tomei conhecimento com algumas doenças, treinei a dar injeções e pouco mais.
Entrei pela guerra dentro, com um furriel enfermeiro que tinha o atual 6º ano, um cabo aux. de enfermeiro com o curso comercial (corresponde ao atual nono ano, eu com o 9º ano incompleto e um outro com a 4ª Classe. Uma bela equipa, onde o furriel nunca se encaixou, bem pelo contrário.
Valeram-me a vaga experiência anterior como escuteiro, a minha força de vontade em dar o meu melhor e os conhecimentos adquiridos com o furriel “maluco” em Ingoré e a unidade da equipa dos três estarolas auxiliares de enfermeiro, pois o furriel enfermeiro da minha companhia, creio que sabia muito menos que nós. Felizmente nunca precisou de demonstrar os seus conhecimentos na área. Nunca saiu para o terreno e na única vez que caiu debaixo de fogo, numa mudança da companhia, nem se dignou aparecer juntos dos feridos, quando estavam a ser tratados, um dos quais faleceu por hemorragia interna. A enfermaria era terreno nosso. Como não nos suportávamos mutuamente, ele aparecia lá pontualmente e deixava-nos à vontade, desde que não implicássemos com ele sobre as idas para o T.O.
(Continua)
Zé Teixeira
José Teixeira (by email)
19 jan 2021 22:37
Os Serviços de Saúde militar e a guerra colonial. (Continuação)
No sub-sector de Aldeia Formosa, já colocado em Mampatá, como não havia médico, com a ajuda do Alferes José Belo, meu comandante, conseguimos que uma avioneta fosse de propósito a Aldeia Formosa buscar um africano já idoso com graves problemas intestinais. Isto nos primeiros tempos da spinolandia. Depois foi lá colocado um médico, todavia quando eu – o “dotor” de Mampatá- , lhe enviei um camarada para ser consultado, vi o rapaz regressar sem ser visto pelo médico, dado que este tinha dado baixa a si próprio e não saía do quarto, queria ir para Bissau exercer a sua especialidade.
Está claro que no dia seguinte fui eu visitar o médico e tivemos uma discussão azeda, até que ele acabou por me aconselhar um medicamento para eu administrar ao doente e tudo passou.
Só voltei a encontrar um médico em fevereiro do ano seguinte em Buba, apesar de Aldeia Formosa, ser uma zona de elevado risco, mesmo nas “barbas” da Mata do Cantanhez e com o corredor de Uane a separar-nos de Buba, até onde íamos para transportar os mantimentos que posteriormente levávamos com muito sangue, suor e lágrimas até Gandembel.
Em Buba, o Dr. Azevedo Franco, natural de Matosinhos onde felizmente ainda mora, foi um homem extraordinário para os rapazes das três companhias operacionais, um Grupo do BENG, Comandos e Fuzas, um mundo militar para apoio na construção da estrada para Aldeia Formosa. Sempre atento às necessidades, ouvia cada um com toda a atenção, era pródigo em dar baixas.
Falo com orgulho deste médico de quem estimo a amizade que criamos na guerra e que se mantém. O desgaste físico a que eramos submetidos quebrou a resistência física e o Dr. Azevedo Franco assumiu o risco de nos ajudar, ao ponto de as três companhias ficarem reduzidas a cerca de um terço. As consequências não tardaram: 1º uma Junta médica para analisar as baixas que apareceu repentinamente com dois médicos vindos de Bissau para ver no terreno o que se passava; e tiveram azar, porque a malta estava a comer spaguetti com chispe ao almoço e ossos de chispe com spaguetti ao jantar, (ainda hoje não posso ver sepaguetti) a alinhar todos os dias para a segurança na estrada em construção (tinha havido atraso na remessa de alimentos com cerca de quinze dias); depois a vinda do Spínola em pessoa para fazer um discurso apelativo ao nosso patriotismo.
E perante as nossas queixas virava-se para o major que o acompanhava, “aponta Bruno” Eu, estava ao lado do médico quando o general se aproximou dele e lhe recomendou que desse umas “picas” aos rapazes, “aponta Bruno”, ao que o médico respondeu: Peixe e carne em quantidade e qualidade!
Uns dias depois, juntamente com os mantimentos vierem dois volumes de medicamentos, na sua base, vitaminas. O Médico mandou-me devolver tudo a Bissau com a informação que não tinham sido solicitados e não eram necessários.
Em Empada, o médico de Buba, aparecia de vez em quando e passava á uma ou duas semanas e voltava para Buba. Suponho que fazia o mesmo em relação a Aldeia Formosa, mas não posso confirmar.
Está claro que não estávamos em Angola e os tempos eram outros. Uma guerrilha muito mais localizada e próxima, muito agressiva e sobretudo poucos médicos e uma população muito próxima que via em nós o “dotor”. Grande parte do tempo que tínhamos quando libertos da ação militar era gasto a receber a população e a dar “mezinho”. Quase não havia descanso para os enfermeiros.
Zé Teixeira
Obrigado a todos. pelos comentários. Zé Teixeira, o teu longo mas interessante comentário, é um testemunho na primeira pessoa, merece ser publicado em poste na série "Os Nossos Enfermeiros"... Fica na calha... Mantenhas. LG
Porque é que as mulheres não foram à guerra? Questiona o Luís Graça.
Calma, e vamos pensar no que se passava por cá nos finais dos anos 60/início de 1970.
De 1970 a 1973 cerca de 20% dos recenseados faltava à incorporação na tropa e já havia um grande número de mulheres (pessoal civil) nos serviços administrativos das Forças Armadas.
Por esses anos ainda estávamos capacitados que a guerra ia continuar e mais dia menos dia as mulheres começariam a alinhar e a ser mobilizadas.
O cada vez maior recurso a antigos Oficiais e mobilizados prá guerra era um facto, dando a ideia de haver recurso a outro pessoal (praças e sargentos) na reserva.
Ainda não estaríamos na situação de Volkssturm de triste memória, mas não víamos o regime dar sinal de querer resolver o problema da guerra.
Quando casávamos e com o nascimento dos filhos, começávamos a desejar não nascer uma menina para não ir pra tropa.
Pois Luís, as mulheres não foram à guerra mas quase.
Abracelos confinadamente
Valdemar Queiroz
p.s. Desculpem ter fugido ao tema do poste
Valdemar, não fugiste nada ao tema do poste... Não há volta a dar, direta ou indiretamente, está tudo relacionado com a guerra colonial... Costumo lembrar: quando ouvi dizer o Salazar, depois de um mês de letargia dizer aos microfones da Emissora Nacional e da RTO, em 13 de abril de 1961, "Portugueses, para Angola, rapidamente e em força"..., disse logo para mim: "Esta vai-me calhar"... Tinha eu 14 anos.
Abraço, Luís
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