quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21789: Os nossos enfermeiros (12): Os serviços de saúde militar no meu tempo (José Teixeira, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)


Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 2381 (1968/70) > O José Teixeira, escrevendo, junto ao memorial da companhia.

Foto (e legenda): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de José Teixeira, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70; teve como comandante de pelotão o alf mil José Belo, hoje régulo da Tabanca da Lapónia; o José Teixeira é, por sua vez, régulo da Tabanca de Matosinhos e "senador" da Tabanca Grande, com  mais de 350 referências no nosso blogue:

Data - 19 jan 2021 22:37

Assunto - Os serviços de saúde militar e a guerra colonial [comentário aos postes P21781 e 21782 (*)]

O Dr. Carlos Vieira Reis faz uma leitura muito interessante dos Serviços de Saúde Militar nas guerras de África,  creio que muito centrada em Angola e nos primeiros tempos da guerra.

A realidade nos anos 1968/69/70 era bem diferente. A começar pela estrutura médico sanitária da Companhia, onde não havia médico. Este, existia apenas a nível batalhão ou era colocado no Comando do Sector. 

Cada Companhia tinha nos seus quadros um furriel enfermeiro e três cabos auxiliares de enfermeiro. Note-se que havia a categoria de cabo enfermeiro. A sua preparação era exatamente igual à do auxiliar de enfermeiro, mas o que era classificado como cabo enfermeiro era destinado ao Hospital e o que era classificado como auxiliar de enfermeiro era colocado nas Companhias operacionais.

Deste modo, cada Companhia tinha um enfermeiro por Grupo de Combate (um furriel e três cabos auxiliares de enfermeiro), mas, salvo raras exceções, o furriel refugiava-se no comando e os desgraçados dos cabos auxiliares de enfermeiro marchavam no terreno.

Quanto a médicos, em cerca de três meses que estive em Ingoré, quem pontificava na assistência à saúde era o furriel da companhia ali estacionada, o qual era chamado “dotor” pela população e, na realidade,  atendia a população , receitava medicamentos, assistia a partos, etc.

Era um “apanhado pelo clima” autenticamente maluco, mas que era bom na arte, era! Aprendi muito com ele no pouco tempo em que convivemos, quer em conhecimentos de doenças tropicais e seu tratamento, bem como na minha relação com a população. 

Posteriormente foi castigado e reduzido a soldado raso, como tive oportunidade de saber, quando o encontrei na prisão dos Adidos em Bissau. (Uma estória para contar mais tarde).

Eu, que tive três meses de formação em enfermagem no Serviços de Saúde em Coimbra, onde um Cabo RD [, readmitido,] dava formação do corpo humano, um médico que aparecia uma vez por semana para uma palestra e um 1 º sargento “cheio de África” que nos dava palestras numa linguagem pobre, sobre saúde.

De notar que, num pelotão de cerca de cinquenta homens,  a grande maioria vinha da escola de sargentos onde tinha chumbado, logo, gente revoltada, com conhecimentos científicos (7º ano, professores primários, etc) e vistas largas, que faziam do cabo RD e do Sargento gato sapato. 

Para mim foram umas férias, pois tinha dado o corpo humano no liceu de uma forma muito mais científica e mais profunda. Seguiu-se um estágio de cerca de dois meses no hospital do Porto, numa enfermaria dedicada a medicina interna, onde tomei conhecimento com algumas doenças, treinei a dar injeções e pouco mais.

Entrei pela guerra dentro, com um furriel enfermeiro que tinha o atual 6º ano, um cabo auxiliar de enfermeiro com o curso comercial (corresponde ao atual nono ano), eu com o 9º ano incompleto e um outro com a 4ª classe. 

Uma bela equipa, onde o furriel nunca se encaixou, bem pelo contrário.

Valeram-me a vaga experiência anterior como escuteiro, a minha força de vontade em dar o meu melhor e os conhecimentos adquiridos com o furriel “maluco” em Ingoré e a unidade da equipa dos três estarolas auxiliares de enfermeiro, pois o furriel enfermeiro da minha companhia, creio que sabia muito menos que nós. 

Felizmente nunca precisou de demonstrar os seus conhecimentos na área. Nunca saiu para o terreno e na única vez que caiu debaixo de fogo, numa mudança da companhia, nem se dignou aparecer juntos dos feridos, quando estavam a ser tratados, um dos quais faleceu por hemorragia interna. 

A enfermaria era terreno nosso. Como não nos suportávamos mutuamente, ele aparecia lá pontualmente e deixava-nos à vontade, desde que não implicássemos com ele sobre as idas para o T.O.
 
No sub-sector de Aldeia Formosa, já colocado em Mampatá, como não havia médico, com a ajuda do Alferes José Belo, meu comandante, conseguimos que uma avioneta fosse de propósito a Aldeia Formosa buscar um africano já idoso com graves problemas intestinais. 

Isto nos primeiros tempos da spinolândia. Depois foi lá colocado um médico, todavia quando eu – o “dotor” de Mampatá- , lhe enviei um camarada para ser consultado, vi o rapaz regressar sem ser visto pelo médico, dado que este tinha dado baixa a si próprio e não saía do quarto, queria ir para Bissau exercer a sua especialidade.

Está claro que no dia seguinte fui eu visitar o médico e tivemos uma discussão azeda, até que ele acabou por me aconselhar um medicamento para eu administrar ao doente e tudo passou.

Só voltei a encontrar um médico em fevereiro do ano seguinte em Buba, apesar de Aldeia Formosa, ser uma zona de elevado risco, mesmo nas “barbas” da Mata do Cantanhez e com o corredor de Uane a separar-nos de Buba, até onde íamos para transportar os mantimentos que posteriormente levávamos com muito sangue, suor e lágrimas até Gandembel.

Em Buba, o dr. Azevedo Franco, natural de Matosinhos onde felizmente ainda mora, foi um homem extraordinário para os rapazes das três companhias operacionais, um Grupo do BENG 447, Comandos e Fuzas, um mundo militar para apoio na construção da estrada para Aldeia Formosa. Sempre atento às necessidades, ouvia cada um com toda a atenção, era pródigo em dar baixas.

Falo com orgulho deste médico de quem estimo a amizade que criamos na guerra e que se mantém. O desgaste físico a que eramos submetidos quebrou a resistência física e o dr. Azevedo Franco assumiu o risco de nos ajudar, ao ponto de as três companhias ficarem reduzidas a cerca de um terço. 

As consequências não tardaram: primeiro, uma Junta médica para analisar as baixas que apareceu repentinamente com dois médicos vindos de Bissau para ver no terreno o que se passava; e tiveram azar, porque a malta estava a comer spaguetti com chispe ao almoço e ossos de chispe com spaguetti ao jantar, (ainda hoje não posso ver spaguetti) a alinhar todos os dias para a segurança na estrada em construção (tinha havido atraso na remessa de alimentos com cerca de quinze dias).  Depois a vinda do Spínola em pessoa para fazer um discurso apelativo ao nosso patriotismo.

E perante as nossas queixas virava-se para o major que o acompanhava, “aponta Bruno” Eu, estava ao lado do médico quando o general se aproximou dele e lhe recomendou que desse umas “picas” aos rapazes, “aponta Bruno”, ao que o médico respondeu: "Peixe e carne em quantidade e qualidade!"

Uns dias depois, juntamente com os mantimentos, vierem dois volumes de medicamentos, na sua base, vitaminas. O médico mandou-me devolver tudo a Bissau com a informação que não tinham sido solicitados e não eram necessários.

Em Empada, o médico de Buba aparecia de vez em quando e passava lá uma ou duas semanas e voltava para Buba. Suponho que fazia o mesmo em relação a Aldeia Formosa, mas não posso confirmar.

Está claro que não estávamos em Angola e os tempos eram outros. Uma guerrilha muito mais localizada e próxima, muito agressiva e sobretudo poucos médicos e uma população muito próxima que via em nós o “dotor”.

 Grande parte do tempo que tínhamos quando libertos da ação militar era gasto a receber a população e a dar “mezinho”. Quase não havia descanso para os enfermeiros. (**)

Zé Teixeira  (***)
____________

Notas do editor

(*) Vd. postes de:

19 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21781: Nota de leitura (1335): Os serviços de saúde militar e a guerra colonial - Parte I (Luís Graça)



(***) O José Teixeira tem uma notável série, a que chamou "O meu diário" (terá sido o primeiro a publicar-se no nosso blogue):

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDX: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (1): Buba, Julho de 1968

(...) Buba, 21 de Julho de 1968: Agora me lembro, hoje é Domingo... Saí às cinco da manhã em patrulha de reconhecimento à estrada de Aldeia Formosa. Voltei a Buba onde assento desde ontem pelas treze e trinta, depois de uma marcha de cerca de vinte quilómetros debaixo de sol abrasador. O resto da tarde foi para dormir, estava completamente esgotado (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXI: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (2): Buba/Aldeia Formosa, Julho de 1968

(...) Buba/Aldeia Formosa, 24-26 de Julho de 1968: (...) A noite começou mais cedo neste negro dia de vinte e quatro de Julho! Esta vida salvava-se, mas um mal nunca vem só. A viatura atingida era o carro do rádio e consequentemente desde aquela hora (16 h) ficamos completamente isolados do resto do mundo. O ferido mais grave e que veio a falecer era o radiotelegrafista. Isto é guerra... Quando nos dispúnhamos a montar acampamento o radiotelegrafista morreu. Com o impacte do rebentamento tinha ido ao ar e caíu de peito, rebentando por dentro. Eu e o Catarino nada pudemos fazer (...).

(...) Aldeia Formosa, 9 de Agosto de 1968: (...) Um pelotão de milícia de Aldeia Formosa foi bater a zona de Mampatá, para confundir o IN e sofreu dois mortos e três feridos. Trouxe orelhas de vários IN, mortos durante o combate. É horrível, Senhor... dois mortos e três feridos e... orelhas de vários IN mortos. Alguns, foi a sangue frio, segundo dizem, depois de serem descobertos com ferimentos que os impediam de fugir. Tudo isto é guerra, enquanto uns estavam na rectaguarda feridos, outros, autênticas feras, procuravam IN, irmãos de raça, para os assassinarem (...).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIV: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (4): Aldeia Formosa, Agosto de 1968 

(...) Aldeia Formosa, 28 de Julho de 1968: (...) Encontrei em Gandembel o Mário Pinto, meu colega de escola, contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à estrada da morte, impedindo o IN de fazer os abastecimentos (...).

6 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXVII: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (5): Mampatá, Agosto-Setembro de 1968

(...) Mampatá, 7 de Setembro de 1968: Tenho que reagir. Estou-me portando pior que os outros. Onde está a minha força de vontade de viver segundo o meu projecto de vida ? Sinto-me só... recomeço a luta tanta vez... como fugir ?...Eu não quero matar. Eu não quero morrer. Quero viver, mas esta vida, não (...).

11 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXL: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (6): Mampatá, Setembro-Outubro de 1968 

(...) Mampatá, 17 de Setembro de 1968: Dia de correio. Ainda cedo sentiu-se a avioneta de Sector em direcção a Aldeia Formosa. Aguardamos com ansiedade a viatura que partiu para lá....O Vitor escreveu-me. Por Bissorã nem tudo corre bem. Segundo ele, num pequeno incidente ficaram dois soldados inutilizados para toda a vida, ambos com uma perna amputada e um outro com a cara cheia de estilhaços. Além destes, uma nativa morta e outra sem uma perna. Tudo por rebentamento de minas A/P, montadas pelo IN. Numa saída em patrulha a malta vingou-se fazendo sete mortos e dois prisioneiros. O último a morrer foi o tipo que montou as minas e, pelo que ele conta, teve morte honrosa. Todos os africanos verificaram a eficiência das suas facas no seu corpo (...)

(...) Mampatá, 25 de Setembro de 1968: Como é belo sentir nas próprias mãos o pulsar de um coração novo que acaba de vir ao mundo. Um corpo pequenino, branco como a neve, puro como os anjos e no entanto, este corpo vai crescer, a pouco e pouco a natureza encarregar-se-á de o tornar negro como os seus progenitores, negro como os seus irmãos que hoje não cabiam em si de contentes. É puro como os anjos, a sua alma está imaculada, mas virá o tempo em que conhecerá o pecado, terá de escolher entre o bem e o mal (...).


Guiné 63/74 - CDLIV: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (7): Mampatá, Outubro-Dezembro de 1968

(...) Mampatá, 29 de Outubro de 1968: (...) A família do sargenti di milícia Hamadu (1) estava toda reunida. No meio, um alguidar cheio de vianda (arroz) com um pequeno bocado frango frito:- Teixeira Fermero, vem na cume (Enfermeiro Teixeira vem comer). - Sentei-me meti a mão no alguidar, fiz uma bola com arroz bem temperado com óleo de palma e meti à boca (Em Roma sê romano). Estava apetitoso e eu estava cheio de comer massa com chispe que o cozinheiro confeccionava na cozinha improvisada ao ar livre, porque não havia mais nada. Estamos no tempo das chuvas, a Bolanha dos Passarinhos está intransponível pelo que não há colunas a Buba para trazer mantimentos (...).

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8): Chamarra, Janeiro de 1969 

(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente. A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada). A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).

(...) Chamarra, 23 de Janeiro de 1969: (...) Ontem ao anoitecer, em Aldeia Formosa, alguém, lançou uma granada de mão para a Messe dos sargentos. Não se sabe quem foi. Branco ou negro. Por vingança, por descuido. Os resultados foram tremendos. Dois soldados, meus camaradas, tiveram morte imediata e houve ainda dez Furriéis feridos, alguns com gravidade. As medidas tomadas pelo Comandante para descobrir o assassino ainda não resultaram. Aqueles dois colegas que casualmente se encontravam à porta encontraram a morte, pela mão de um companheiro cego pela loucura ou pelo ódio, tudo leva a crer (...).

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi 

(...) Leça do Balio, 17 de Fevereiro de 2006

Ao reler o Meu Dário (que não era diário) onde apontei algumas das situações mais marcantes da minha guerra, apetecia-me queimar tudo e recomeçar de novo. Tudo o que escrevi, não foram historinhas para depois (agora) de velho, contar aos netinhos. São factos verdadeiros escritos a quente, para não perderem o “sal” da realidade que o tempo teima em dissolver

Hoje, com as feridas saradas, talvez romanceasse um pouco. Talvez lhe juntasse outros pormenores, que com o calor dos acontecimentos foram posto em secundário. Talvez lhe juntasse outras situações que vivi e não escrevi, umas por desleixo, falta de motivação de momento, ou até por não encontra razões de história. Outras por medos “pidescos” de poder ser apanhado. (...)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Grande "Maioral", já tinha saudades da tua prosa!... Grande "Senador" da Tabanca Grande, assino por baixo!...Eu e qualquer dos operacionais da CCAÇ 12 (que bateram todo o Sector L1, de julho de 1969 a março de 1971)...

Os 1ºs cabos auxiliares de enfermeiro foram uns heróis! E na minha CCAÇ 12 destaco o Fernando Sousa, também nosso tabanqueiro.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, já não me lembrava destes do postes meus, da série "A Galeria dos Meus Heróis" (o título é algo irónico; em boa verdade, não faço juízos de valor, limito-me a revolher histórias...)


8 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19563: A Galeria dos Meus Heróis (23): Cirurgião no Hospital Militar de Bissau - Parte I (Luís Graça)


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/03/guine-6174-p19563-galeria-dos-meus.html


9 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19564: A Galeria dos Meus Heróis (24): Cirurgião no Hospital Militar de Bissau - II (e última) Parte (Luís Graça)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/03/guine-6174-p19564-galeria-dos-meus.html

Anónimo disse...

Caro amigo Teixeira e caros tabanqueiros

É (como costuma ser) interessante esta tua descrição pormenorizada da tua passagem por locais da Guiné, alguns deles comuns à minha permanência lá, pouco tempo depois. No meu tempo, a minha companhia tinha quatro Cabos Auxiliares Enfermeiros ( Celso, Gomes, Pinto e Azevedo), um por cada grupo de combate. Eram todos desenrascados e excelentes no mato. Eu estava mais na Enfermaria do Quartel, mas, algumas vezes, por doença ou férias de um 1ºCabo, ou ainda quando o Capitão saía, tinha também que alinhar no mato. Nunca fiz qualquer diário, infelizmente, por isso não posso fazer descrições muito minuciosas de como aquilo funcionava. Certo é que só havia um Alferes Médico na sede do Batalhão, em Aldeia Formosa, e esse era, segundo o que conheço, no período 72/74, o panorama geral naquele território. O Médico terá visitado a Companhia uma ou duas vezes , no decurso da comissão. O que sucedia com mais frequência era eu deslocar-me a Aldeia Formosa para receber instruções ou formação do Médico.

Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Caro Amigo Teixeira e caros tabanqueiros

Quero acrescentar ao meu comentário anterior o seguinte:

Na enfermaria do aquartelamento de Mampatá havia dois turnos de trabalho, um destinado a pessoal civil e outro a pessoal militar. Claro que qualquer civil ou militar era atendido em qualquer um dos turnos e em qualquer hora se se tratasse de alguém que padecesse de algum ferimento ou doença grave que requeresse atendimento imediato. Os civis eram tratados com os melhores meios disponíveis, nada lhes sendo regateado. Estávamos, então, no tempo do Spínola.

Um abraço.

José Teixeira disse...

Bom amigo Carvalho.
No tempo em que estive em Mampatá era o enfermeiro do Gruo de Combate aí sediado. A Companhia estava sediada em Aldeia Formosa e tinha um G.C. em Mampatá e outro na Chamarra. Em Aldeia Formosa ficaram dois G.C. e um cabo auxiliar de enfermeiro. Como o Furriel se estava nas tintas , era o desgraçado que alinhava em todas. Por exemplo: ia a Buba na coluna, regressava no dia seguinte com as viaturas carregadas e no outro dia a seguir partia para Gandembel. Era duro, até porque as saídas de batimento da zona era feita a nível de G.C. e o desgraçado estava sempre a alinhar. Por esta razão eu sempre disse que fui um homem de sorte.
Em montava o meu posto de socorros num sobrado de uma casa e atendia os meus camaradas e a população em geral. Foi um tempo bom para mim pelo que me pude dedicar à população, conhecer as pessoas os seus hábitos e valores, etc

Abraços
J.Teixeira

José Teixeira disse...

Luís. Bom amigo
Sinto-me um homem de sorte por te ter conhecido, a ti e à Alice naquela noite em tempo de Natal de 2005 na Madalena. Obrigado pela vossa amizade que se foi solidificando com o tempo.
Podes crer que eu não dava qualquer valor, à data, ao "meu Diário". foste tu que o fizeste saltar e depois veio tanta coisa à memória e continua a vir, como aquela da "porrada" que ia levando, como te contei no outro dia e hei de contar aqui.
O blogue abriu-se à comunidade dos combatentes da Guiné e tornou-se universal. Um baluarte para a história futura da guerra colonial.
Sei que a Liga dos Combatentes o segue atentamente e os meus escritos foram registados para história futura da Liga, meus e de muitos outros camaradas cuja veia para a escrita é de longe superior à minha e cujas estórias tem muito mais sumo não só pelo conteúdo que reporta as suas vivências como na riqueza da linguagem.
Bem hajas pela ideia.

Abraços
Zé Teixeira