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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26156: In Memoriam (517): José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador MA, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); morava em Caneças, Odivelas




José Manuel Amaral Soares (1945-2024)


1. Por intermédio do Humberto Reis, nosso colaborador permanente (e meu vizinho de Alfragide), tive ontem a triste notícia da morte, no passado dia 10, de mais um nosso camarada e amigo, o José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador minas e armadilhas, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)

Soubemos, pela notícia da agência funerária, que a cerimónia fúnebre se realizou no passado dia 11 de novembro, pelas 15:30, tendo sido antecedida de velório e de missa de corpo presente. O corpo saiu depois da capela mortuária da igreja de Caneças, para o cemitério local.

 família enlutada transmitimos ainda, em tempo, os nossos votos de pesar e a nossa solidariedade na dor. O Soares vai ficar aqui também connosco, à sombra do nosso simbólico e fraterno poilão. Queremos honrar a sua memória e lembrarmpo-nos dos bons e maus momentos qiue passámos juntos. Por lapso, ele não passou a figurar na lista alfabética da nossa tertúlia, logo em abril de 2005, como deveria ter acontecido pelas nossas regras. Ingressa agora, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande. com o nº 895.

O Soares residia em Caneças, concelho de Odivelas, e estava doente há já alguns tempos, o que não o impediu de ir ao último convívio da malta de Bambadinca, em Vila Nova de Azeitão, no passado dia 25 de maio, de cadeira de rodas, amparado pela filha (**)

Em Bamdadinca, estivemos juntos cerca de 10/11 meses  (entre julho de 1969 e maio de 1970). As nossas instalações eram comuns, incluindo a messe e o bar de sargentos. 

Muito mais assíduo do que eu nos convívios do pessoal de Bambadinca do nosso tempo, encontrámo-nos também algumas vezes em vários locais do país: por exemplo, em Lisboa, na Casa do Alentejo (2007) (***), em Castro Daire (2009), etc. 




Vila Nogueira de Azeitão > 25 de maio de 2024 > Restaurante Típico Manuela Borges> 28º almoço-convívio do pessoal de Bambadinca de 1968/71 (BCAÇ 2852, CCÇ 12 e outras subunidades). A organização coube ao João Gonçalves Ramos (ex-sold radiotelegrafista, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, jun 69/ mar 71).Sentados, da esquerda para a direita: Fernando Calado (CCS/BCAÇ 2852) (Lisboa), Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12) (Lisboa). Silvino Carvalhal (CCS/BCAÇ 2852) (V.N. Famalicão), e o José Manuel Amaral Soares (CCS/BCAÇ 2852) (Caneças / Odivelas).(**)

(Foto gentilmente cedidas pelo Humberto Reis, tirada por um fotógrafo da organização. Edição e legendagem complementar: Humberto Reis e Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)


Castro Daire > Freguesia de Monteiras > Zona Industrial da Ouvida > Restaurante P/P > 30 de Maio de 2009 > 15º Convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas > O ex-fur mil sapador, MA,  CCS / BCAÇ 2852, José Manuel Amaral Soares.


Foto ( legenda): © Luis Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado, coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos alferes da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71). 

Aqui na foto o Ismael Augusto e o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel mil sapador, ambos da CCS / BCAÇ 2852. O primeiro vivia em Lisboa (trabalhou na RTP como engenheiro e gestor;  e era na altura consultor e docente universitário nas áreas da multimédia). O Soares, por sua vez, vivia em Caneças.(***)

Foto ( legenda): © Luis Graça (2007). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O Zé Manuel Soares foi dos primeiros camaradas a aparecer no blogue. No poste P5, de 20 de abril de 2005 (****), publicámos a sua convocatória para o convívio desse ano, do pessoal de Bambadinca 1968/71 (de que ele era o organizador, como já o tinha sido em anos anteriores):



"Guiné, Bambadinca 68/71. 

"Companheiros: Desejo que estejam de saúde assim com os vossos familiares. Vamos mais uma vez realizar o nosso almoço anual a fim de convivermos, matarmos saudades e ainda relembrarmos aqueles bons e menos bons momentos que cimentavam a nossa amizade; de tal forma que passados 37 anos sentimos ainda um grande prazer de estar juntos, ainda que por breves horas.

"Por tudo isto, camaradas, no próximo dia 11 de junho espero por todos na Baixa de Faro, junto ao Jardim Manuel Bivar, pelas 10.30 horas. 

"Vamos aí fazer a nossa concentração para que, depois das habituais formalidades, possamos seguir para o Cais da Porta Nova e às 11.00 horas embarcar até à Ilha Deserta. Durante o percurso vamos apreciar a bela paisagem da magnífica Ria Formosa. 

"Quando forem 13.00 horas iniciaremos o nosso alomoço, composto apenas por produtos do mar. O preço por pessoa é de 48 euros com viagem de barco incluída.  As crianças dos 5 aos 11 anos pagam 50%, portanto 24 euros.

"Camaradas, a vossa confirmação tem que ser feita até ao dia 1 de junho, impreterivelmente, com cheque cruzado para José Manuel Amaral Soares (...). Para toda ajuda, telemóvel 96 242 80 53".


3. Além destas referências no blogue, há uma do tempo de Bambadinca, que nos é particularmenmte cara pelas fotos de camaradas daquele tempo e dos nossos quartos. As fotos foram-nos enviadas pelo nosso muito querido e saudoso amigo e camarada de Coimbra, o Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (*****)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 >  Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Na primeira fila, veem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto... A foto foi tirada pelo furriel Rei (Cart 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, em 6/2/1969, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico"

O Humberto Reis veio depois completar o nome dos dois camaradas que apareciam em primeiro plano: à direita, o  José Manuel Amaral Soares,  ex-furriel mil sapador de minas e armadilhas, CCS / BCAÇ 2852; e à esquerda, o "ranger" Fernando Jorge da Cruz Oliveira (hoje a viver em Fernão Ferro, Seixal). Quanto ao Carlos de Oliveira Pinto, era  radiomontador  (morou depois no Porto onde se formou em engenharia).




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Aqui, já com o furriel Rei na 1.ª fila",

Comentário de LG: "Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo das "fadas"  que povoavm os seus sonhos ou ajudavam a climatizar os seus pesadelos,,, Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos, lavados, e até a frigorífico elétrico"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > O Carlos Marques Santos em trânsito para Mansambo, depois da licença de férias na metrópole. (*****)


Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Acrescenta o Humberto Reis em relação a esta última foto: "(...) pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS / BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".

Comentário de LG:

 "Um frigorífico (para mais  elétrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! 

"O nosso (o do Humberto, que ele compartilhava com a malta do quarto, como eu e o Tony Levezinho) só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieram render, em finais defevereiro de 1971. 

"E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra, incluindo obuses 14...

"Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

"A sede da CCS / BCAÇ 2852, a que a CCAÇ 2590/CÇAÇ 12 estva adida, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

"Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades) procurava sempre 'desenrascar'   os alferes e furriéis milicianos em trânsito... 

"Mais do que cumplicidade corporativa, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12)." (...)


(*****) Vd. postes de:

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26074: (De) Caras (224): Maurício Saraiva, cofundador e instrutor dos Comandos do CTIG, cmdt do Gr Cmds Fantasmas - Parte II: Um dos momentos mais dramáticos que vivi, na sequência da terrível emboscada com mina A/C, em 28 de novembro de 1964, na estrada de Madina do Boé para Contabane, perto de Gobije (Antóno Pinto, ex-alf mil, Pirada, Madina do Boé e Béli, 1963/65)



Guiné > Brá > Comandos do CTIG > c. 1964 > Emblema de braço do Grupo Fantasmas, que pertenceu ao alferes  mil 'comando' Maurício Saraiva.

Angola > CIC - Centro de Instrução de Comandos > 1963  > O alferes mil Maurício Saraiva em Angola, aquando da frequência do curso de Cmds; no CTIG  será depois promoviodo, por mérito, a tenente e a capitão. 
  

Fotos (e  legendas): © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento (1966). Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presumer-se que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-cap mil CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, nosso tabanqueiro, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66 (autor do livro: Uma campanha na Guiné, 1965/67).



1. Alferes, tenente e depois cap mil 'comando' (até  chegar a cor inf, na reforma extraordinária), Maurício Saraiva (1939-2002) foi idolatrado por uns, odiado por outros, "um mal amado", no dizer do Virgínio Briote (*)... 

A nível operacional, começou por integrar a 4ª CCAÇ (Bedanda, 1961) e,  depois de frequentar o curso de comand0s (em Angola, sua terra, 1963), voltou ao CTIG como instrutor e também como comandante operacional. 

A seguir à da Op Tridente (jan - mnar de 1964), irá  comandar o  Grupo Fantasmas, de que fez parte, entre outros, o nosso querido e saudoso tabanqueiro Amadu Djaló (1940-2015).  Recorde-se que o sold cond auto Amadú Djaló alistou-se nos comandos do CTIG, a convite do Maurício Saraiva.

O Amadu Djaló frequentou o 1º Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964. Desse curso fizeram parte 8 guineenses: além do Amadu Djaló, o Marcelino da Mata, o Tomás Camará e outros. Deste curso sairam ainda  os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram a actividade na Guiné até julho de 1965: Camaleões, Fantasmas e Panteras

Interessa-nos conhecer melhor o percurso do nosso camarada Maurício Saraiva, no CTIG, embora saibamos que ele virá a ser gravemente ferido, por mina A/P, em Moçambique, em 1968, enquanto comandante da 9ª CCmds. (Altamente medalhado por feitos em combate, é agraciado em 1970 com o o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; passaria em 1973 à situação de reforma extraordinária: vd. o seu impressiomnante CV militar, no portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar.)

Mas demos voz também àqueles que o conheceram,  para além  do Virgínio Briote (*) e da família (**). Foi o caso do António Pinto (***),  ex-alf mil inf, BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65), um veterano de Madina do Boé e de Beli mas também um dos veteranos do nosso blogue. É mais um pequeno contributo para o seu "retrato" que o Virgínio Briote ainda há de fazer, se Deus lhe der vida e saúde... (****). 

 

António Pinto, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande, Pombal, 2007

Um dos momentos mais dramáticos que vivi, na sequência  da terrível emboscada com mina A/C, em 28 de novembro de 1964, na estrada de Madina do Boé para Contabane, perto de Gobije


por António Pinto 

(...) A memória já me vai traindo um bocado, mas há momentos que jamais poderei esquecer e com certeza que me acompanharão para sempre. 

Guardei alguns documentos daquele tempo e, vasculhando-os, verifico que pertenci à 3ª Companhia de Caçadores, em Nova Lamego, e aos Batalhões de Caçadores, sediados em Bafatá, nºs 506 e 512 e,  finalmente,  ao Batalhão de Cavalaria nº 705.

Sobre Madina do Boé,  estive lá no 2º ano de comissão, lembro-me que fomos os primeiros a lá chegar e montar o 1º aquartelamento que ficou ao fundo da estrada, onde havia uma escola desactivada. 

Os primeiros tempos passámo-los sem sobressaltos de maior até que houve o 1º ataque, não posso precisar a data. Não tivemos feridos.

Há um episódio, no entanto, entre vários, que me marcou bastante. Vou tentar resumi-lo:

Uma tarde estávamos no destacamento, quando, de repente, ao fundo da tal estrada vimos chegar, com grande alarido,  dois ou três jipes com uma velocidade inusitada e alguém aos gritos, que só conseguimos entender quando chegaram à nossa beira. 

Era um grupo de comandos, chefiados pelo alferes  [Mauríco] Saraiva [um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de familiares seus, (dizia-se)].

Aos berros, pediu-nos viaturas e homens para efectuar uma operação (de que eu não tinha conhecimento ) nos arredores de Madina.

 De tal maneira ele estava transtornado que chegou a puxar de pistola para um furriel do destacamento, que estava a apertar as botas, tal era a sua pressa.

O que não posso esquecer é o pedido que um dos nossos soldados fez para substituir o condutor duma viatura, salvo erro, uma Mercedes, argumentando que, sendo ele pequeno ( e era-o de facto), se uma mina rebentasse,  ele saltava com mais facilidade, pedindo só para deixar tirar a capota da viatura. Não me recordo do nome dele mas vejo-o constantemente...

Essa patrulha, em que não participei, pois o Saraiva não o permitiu, foi atacada, após o rebentamento de minas. Morreram vários camaradas nossos, entre eles o referido condutor, que teve uma morte horrorosa.

Alguns desses camaradas deixaram este mundo nos meus braços e nos do médico que, na altura, estava conosco e que é por demais conhecido - o Luiz Goes, que todos conhecem, com certeza, pelos seus fados de Coimbra.

Este foi um dos momentos mais dramáticos que vivi na Guiné, para além de outros, especialmente em Beli, onde fui ferido (....)


______________

Notas do editor:

(*) 11 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25832: (De) Caras (308): Maurício Saraiva, cofundador e instrutor dos Comandos do CTIG, cmdt do Gr Cmds Fantasmas - Parte I: O "capitão Manilha", por Virgínio Briote (ex-alf mil cav, CCAV 489, Cuntima; e ex-alf mil 'cmd', Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67)

(**) Vd. poste de 6 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11531: As Nossas Tropas - Quem foi quem (12): Maurício Leonel de Sousa Saraiva, ex-cap inf comando (Brá, 1965/67) (Luciana Saraiva Guerra)

Vd. também poste de:


(...) Tenho muito material sobre o cor Maurício Leonel Saraiva. Fotos, documentos e memórias de acontecimentos, histórias que corriam na altura, outras de que fui testemunha e uma ou outra em que até fui protagonista. Gostaria de fazer um trabalho sobre o Saraiva (já em tempos encomendado pelo Presidente da Associação de Comandos, mas que não pude levar adiante).

Foi ele, o Saraiva, que como tenente me convidou a concorrer aos comandos e, dois meses mais tarde, como capitão, foi meu director de instrução.(..:)


sábado, 19 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26057: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte IX: O cmdt que se seguiu ao Armindo Batata, entre dez70 e jul72, foi o alf mil inf José Daniel Portela Rosa (Lisboa, 1946 - Sintra, 2021)


1. Comentário de Luís de Sousa, ex-sold trms, CCAÇ 2797 (Cufar 1970-72),l membro dfa Tabanca Grande desde 14/9/2008:


Olá a todos, li o post do camarada Armindo Batata (*) que se refere ao alf  Rosa como sendo Manuel Rosa, com familiares em Dona Maria. 

Conheci bem o alf Rosa, julgo não haver grande probabilidade de se tratar de um segundo Rosa, o nome era de facto José Daniel Portela Rosa, Pel Caç Nat  51, vivia em Dona Maria. (Fot0 à direita, cortesia da página da CCAÇ 4740.)  

 Pontuava em todos os encontros anuais da minha CCaç 2797, assim como do BCAÇ 2930. 

Abraço à malta. Luis de Sousa (foto à esquerda).

17 de outubro de 2024 às 19:00

2. Comentário do editor LG:

Segundo o portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, o nosso camarada José Daniel Portela Rosa, natural de Lisboa, residente em Dona Maria, Almargem do Bispo, Sintra, ex-alf mil inf, cmdt do Pel Caç Nat 51 (dez 1970 / jul 1972), morreu aos 74 anos, em 10 de janeiro de 2021

Era DFA. A 29  de julho de 1972, num patrulhamento ofensivo, no subsetor de Cufar, juntamente com 3 Gr Comb da CCAÇ 4740 e o Pel Caç Nata 51, o Rosa acionou uma mina A/P, ficando sem uma perna.  

Foi evacuado, com outros 2  camaradas da CCAÇ 4740, para o HM 241 (Bissau) e depois para o HMP (Lisboa). 

______________

Nota do editor LG:

(*) 13 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25740: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte VIII: Cufar, no tempo do Manuel Luís Lomba (1965), do Armindo Batata (1970) e do Luís Mourato Oliveira (1973)

(...) Arrmindo Batata  | 1/7/2024, 17:08:

(...) O alferes que me rendeu, nos últimos dias de dezembro de 1970, foi o Manuel Rosa (sic). Creio não estar enganado no nome, até porque conheci-o na metrópole onde estive de férias, no final da minha comissão, tendo regressado quando me faltava cerca de um mês para completar os 24 meses.

O pai dele tinha uma loja de pneus na Rua São Filipe Neri, em Lisboa, e almocei com ele e a família numa casa que eles tinham em Dona Maria / Belas
   [ na realidade, Dona Maria, Almargem do Bispo, Sintra e não, Belas, Queluz].  

Imagina o quanto constrangedor foi aquele almoço, em que todos queriam saber "coisas" sobre o local para onde ele ia.  (...)

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26006: A CCAÇ 675 - A Gloriosa - Relação das minas que tanto nos fustigaram (Belmiro Tavares, ex-Alf Mil)



CCAÇ 675

Relação das minas que tanto nos fustigaram

Datas e consequências

As minas são, como soe dizer-se, autênticos diabos à solta; outros demónios, também estuporados, são as emboscadas e as armadilhas. De entre todas… que o diabo escolha!

A Primeira mina - que tão profundamente nos marcou - 28/12/1964 – eram 12H30 – na estrada de Bigene, entre Sansancutoto e Genicó-Mandinga. Vínhamos duma patrulha ao nosso “far-west”. A mina explodiu sob a roda de trás, direita, da segunda viatura, o unimog MG-01-86, conduzido pelo sold. cond. auto n.º 2577, Virgílio M. M. Carvalho (mais conhecido por “Malveira”). Foi seguida duma emboscada duríssima!

Provocou:
a) Um morto – o fur. mil. Álvaro M. Vilhena Mesquita; ele seguia, precisamente, sobre a roda que fez explodir a mina. Segundo a opinião abalizada do nosso Dr. Barata, no local, quando o Mesquita “aterrou” já nos tinha “abandonado”… para sempre.
b) 3 feridos muito graves:
- Sold. at. n.º 2085, António Filipe – quase quatro anos de internamento, no HMP, em Lisboa.
- 1.º cabo n.º 2231, M. Craveiro da Silva – mais de três anos no HMP.
- Sold. trans. n.º 2978, Severino D. M. Nunes – dezoito meses internado no HMP.
Nota: Enquanto esteve internado, o António Filipe fez o 5.º ano dos liceus – uma proeza digna de registo.
c) Quatro feridos ligeiros:
- Sold. at. n.º 2096, J. Tomás Marques;
- Sold. at. n.º 1909, F. Ribeiro dos Santos;
- Alf. mil. J. M. Fernandes Costa;
- Sold. nativo n.º 06/63/U- Nashastima Dum.
D) Do unimog sinistrado restou, apenas:
- Um pneu;
- O depósito da gasolina;
- Um monte de ferros retorcidos e calcinados.
Valeu-nos a presença, entre nós, do Padre Eterno… que conduzia a primeira viatura.


********************

Segunda mina – 05/01/1965, cerca das 17H00, na picada de Guidage, a meio caminho, entre Cufeu e Ujeque – precisamente, oito dias, após a primeira. Era uma ameaça incomensurável!
Vínhamos de uma badalada “operação”, na península de Sambuiá; demolimos quanto, por ali, havia de pé!

Esta mina foi detetada pelo sold. cond. auto n.º 2775, Firmino A. Carola Padre Eterno, ao volante da sua GMC.
Ele contou:
- Encabeçando a coluna, eu vinha a seguir as pegadas de uma vaca, na areia da “picada”; de repente, em vez das pegadas, apareceu o rasto dum pneu. Como a viatura não tinha travão de pé, eu usei o de mão com toda a força; a GMC parou, ficando uma roda de cada lado da mina.
O nosso furriel Pedra barafustou e eu respondi:
- “Está ali uma mina!”
Ele não acreditou e meteu lá o pé; apercebendo-se daquela bomba, ele quase virou “calhau”!
Alguém que gosta de se rir e fazer rir os outros, comentou:
- Tu seguiste as pegadas da vaca mas, na verdade, o que tu tiveste foi uma vaca… do caraças.
O indómito inventor do “quadrado móvel” provocou a explosão da mina, no local, sem riscos para ninguém.


********************

Terceira Mina – 09/03/1965, ao fim da tarde, junto ao entroncamento de Genicó – Mandinga.

Explodiu sob a roda da frente direita da 6.ª viatura – caso estranho!
- Seria telecomandada?
Suspeitou-se que sim mas – não seria, certamente! - Havendo viaturas com mais de vinte pessoas a bordo, não selecionariam uma com apenas cinco.
Provocou:
- Dois feridos muito ligeiros:
- Sold. cond. auto n.º 2569, J. Galvão de Oliveira (o Barbosa);
- Um soldado africano (ou milícia?) cujo ferimento foi tão ligeiro que o seu nome não ficou… para a história.


********************

Quarta Mina – dia 11/04/1965, junto à segunda ponte da bolanha de Cufeu – seriam 06H45.

Foi seguida de uma violentíssima emboscada, a partir da margem direita da bolanha.
O local foi, inteligentemente, escolhido! Os independentistas não eram burros!
No fim da bolanha, a estrada curvava, ligeiramente, à direita e os nossos adversários colocaram-se mesmo no enfiamento da estrada que sobrelevava a bolanha.
Ao entrar naquela zona alagadiça, foram criados, naturalmente, espaços significativos, entre as viaturas – contrariamente ao que já estava determinado.
Na frente, seguia a mercedes do sold. cond. auto n.º 2466, J. A. Jesus Alexandre, bastante isolada.
A mina era comanda, a distância! Temos a certeza! A explosão ocorreu antes que a roda a pisasse.
Assim, os danos no pessoal foram mínimos. O único ferido foi o condutor atrás citado – ferido ligeiro (aparentemente), num pé. Foi evacuado para o HM de Bissau e, logo, para o HMP, em Lisboa.
Em consequência… passou à disponibilidade, porque já tinha mais de quinze meses de comissão.
Devido à explosão, o motor da mercedes (pesaria mais de meia tonelada) “voou” e “mergulhou” na bolanha, onde ficou submerso; talvez se encontre lá, ainda! O mesmo aconteceu à espingarda G3 do sold. at. n.º 2176, M. Duarte Frade que seguia, ao lado do condutor.
Os independentistas, nossos adversários, abrigados atrás de árvores e no “enfiamento” da estrada, desencadearam uma violentíssima emboscada. Logo, o Frade “roubou” a espingarda a um milícia e, absolutamente sozinho, enfrentou, corajosamente, todo o “peso” brutal daquela emboscada, abrigando-se, na “cratera” provocada pela explosão da mina anticarro.
Os outros militares “avançaram por lances”, ao longo da via demasiado estreita; sentiram enormes dificuldades para, passando ao lado da viatura sinistrada, se irem juntando ao Frade; alguns rastejaram sob a mercedes para aumentar o número de combatentes, na cabeça da coluna.
Apercebendo-se que o número de soldados, lá na frente, ia aumentando e temendo poder vir a ser cercados, os guerrilheiros “deram corda aos sapatos”; terão procurado refúgio, em Sambuiá, donde terão partido – só pode!

Segundo averiguámos, haveria, ali, mais de trinta guerrilheiros; terão aguardado pela nossa tropa, durante dois ou três dias.
Hoje, não tínhamos, ali, o Padre Eterno mas… valeu-nos o Jesus Alexandre! Tínhamos sempre boas companhias!


********************

Quinta Mina – 13/05/1965 – cerca das 08H00, próximo de Faer, região de Sanjalo.

Provocou um ferido ligeiro (perfuração do tímpano), o sold. at. n.º 1887, António S. Gregório; não chegou a ser evacuado para o HM 241, em Bissau, porque, por si só, ou devido aos medicamentos ministrados, o tímpano regenerou-se.
A intensíssima deslocação de ar, provocada pela explosão da mina, foi tal que “enfureceu” um enxame de abelhas localizado na árvore sob a qual a mina explodiu. Alguns militares viram-se obrigados a abandonar as espingardas para se defenderem das “abelhas loucas”, à bofetada.
O senhor Ribeiro, o madeireiro de Binta, levou tantas e tão intensas picadas que o nosso médico, Dr. Barata, teve de o tratar, durante vários dias, quase em permanência.
A velha GMC (heroica resistente da segunda GG) teve de ser rebocada. Fomos bafejados pela sorte, porque era o dia de Nossa Senhora de Fátima e porque o Padre Eterno estava ao nosso lado, mais uma vez, mas… a sua viatura preferida foi pró maneta! Antes a viatura que os homens!


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Sexta Mina – Estrada de Guidage, ao lado da antiga tabanca de Ujeque – 10/02/1966, cerca das 11horas.

As viaturas passaram no local, a caminho de Guidage; como não estava prevista grande demora, aquele sempre perigoso local não ficou sob vigilância da n.t. (nossa tropa), contrariamente ao que era habitual.
O instalador de minas estaria de atalaia e, em tempo breve, tê-la-á colocado. Com a pressa ou temendo que nós aparecêssemos, a mina não terá ficado, devidamente, “camuflada” – graças a Deus!
Foi detetada e, logo, “levantada” pelos nossos “sapadores privativos” – que não tínhamos. Os tais sapadores foram substituídos por “voluntários acautelados”. A mina foi levantada… sem qualquer perigo – há horas de sorte! Era uma TM46.
Em resposta, enviámos para a base de Sambuiá, via SPM, com pedido de urgência, meia dúzia de granadas de morteiro. Pretendíamos avisar aquela base temível que estávamos todos vivos… ainda.
Aquela mina seria – pensámos nós – uma resposta dos guerrilheiros a uma “falsa e desconexada visita” àquela base, alguns dias antes.
As nossas “chefias” deveriam saber que, se decidimos “bater”, temos de agredir mesmo, em força, porque na guerra não há lugar a “cócegas” e, quem não bate… leva!

Conclusão: devemos ter em conta que as alterações que levámos a cabo para proteção do nosso pessoal, iam dando bons frutos.
O diabo não está sempre atrás da porta!
Azar desmedido na primeira! Sorte nas restantes! Coisas da vida!

Região do Oio - Localização de Binta
© Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné

Após a primeira mina, era necessário mudar o rumo dos acontecimentos.
Teríamos de inovar! Não podíamos esquecer o facto de termos Nossa Senhora de Fátima, o Padre Eterno e o Jesus Alexandre do nosso lado. Tivemos essas ajudas, é certo, mas teríamos de cumprir a nossa parte.
Vejamos as alterações (materiais e comportamentais) que pusemos começámos a pôr em prática, após a primeira mina.
Como sempre, a primeira palavra (inovação) pertencia ao nosso mui ilustre capitão; de seguida, era a vez dos subalternos, dos furriéis e dos próprios soldados colocarem aquelas ideias em prática. Todos nos orgulhávamos de obedecer às ordens ou sugestões de tão distinto oficial do nosso Exército.
Vejamos quais foram as decisões colocadas em prática para minimizar (ou tentar diminuir) os efeitos perniciosos das minas anticarro:
- As viaturas passam a circular sempre com pequenos intervalos entre si.
- Cada condutor tem de pisar o rasto da viatura que o precede.
- As viaturas não podem circular a mais de 30/40 km hora;

Nota: os nossos condutores terão sido ensinados, durante a instrução que, se, em alta velocidade, pisassem uma mina, quando ela explodisse, eles já estariam longe… e fora de perigo. Parece inacreditável que alguém ensinasse isso mas… era o que eles diziam. Tal ensinamento “não tinha pés nem cabeça” ou “não tinha ponta por onde se lhe pegasse” ou “não tinha pernas para andar”.
- Os estrados das viaturas vão ser cobertos com uma espessa camada de terra cuidadosamente peneirada para evitar (ou diminuir) o efeito dos estilhaços.
- Sempre que possível, as estradas serão “picadas” com estiletes metálicos para detetar minas. Aquelas barras metálicas afiladas na base eram os “detetores… dos pobres”!
- Serão colocados sacos de terra, sob os assentos, da cabina.
- O piso da cabina será coberto por uma espessa camada de terra crivada.
- Serão colocados sacos de terra sobre os guarda-lamas.
- Usaremos calhas de madeira no enfiamento dos pedais para proteger os pés dos condutores.

Enfim! Aumentámos o peso das viaturas mas as pessoas (a parte mais importante) passavam a ter mais e melhor proteção.
Coincidência ou não, as minas, como vimos, deixaram de ter os efeitos altamente perniciosos como os que sofremos com a primeira mina.
Valeu a pena!
Nada fazer (alterar) seria a maior asneira!

Lisboa, abril de 2024

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Nota do editor

Vd. post de 26 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25983: A CCAÇ 675 - A Gloriosa - Como se “inventou” e gerou o mito – verdadeiro da Gloriosa CCaç 675 (Belmiro Tavares, ex-Alf Mil)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25978: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (9): a última foto do cap art Manuel Guimarães, cmdt da CART 1690, tirada instantes antes de morrer, na estrada Geba-Banjara, vítima de uma mina A/C, em 21 de agoto de 1967


Guiné > Região de Bafatá > Estrada Geba-Banjara > 21 de agosto de 1967 > A última foto do capitão: "A mina rebentou. O capitão e o Domingos Gomes, à esquerda, morreram.  Eu (de faca) e o Laminé Turé (à direita) ficámos feridos". Foto de um furriel da companhia.  



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, primeiro comandante da CART 1690 (Geba, 1967), então com 29 anos. Morreu, em combate, na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967, na sequência de deflagração de uma mina A/C. Foi um dos 26 capitães que morreram no TO da Guiné. (55,3% do total dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar. mortos nma guerra do Ultramar.) (*)

Entrou para a Escola do Exército (hoje Academia Militar), ni último trimestre  de 1954. Esteve na Índia como alferes e depois tenente, entre maio de 1959 e março de 1961. (Esteve, pois, também como prisioneiro de guerra na Índia). Tinha chegado ao CTIG em 15 de abril de 1967. Era a sua primeira comissão em África, como capitão.

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2023). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  A foto de cima é a última do cap art Manuel Guimarães (1937-1967), tirada uns minutos ou uns instantes antes  de morrer, em 21 de agosto de 1967. O nosso saudoso A. Marques Lopes fez dele (o "capitão Mendonça")  uma das principais personagens do seu livro de memória, "Cabra Cega" (2015).  

Estamos a reproduzir alguns excertos do melhor que o A. Marques Lopes nos deixpou escrito, nomeadamente no seu livro de memórias "Cabra Cega" (**).

Seguimos o texto, respeitando a seleção que ele próprio fez na sua página do Facebook, na postagem de 11 de maio de 2023, às 23: 45.
 
Aqui a narrativa é já feita na 1ª pessoa do singular, assumindo o autor que o "Aiveca" do livro (edição de 2015) era o seu "alter ego", ou seja, o alferes Lopes.

No livro, na edição de 2015,  o alf mil Domingos Maçarico é o Zé Pedro. O alf mil A. Marques Lopes é o Aiveca. O cap Manuel Guimarães é o Mendonça. O seu guarda-costas, o Calmeiro, é o Domingos Gomes. O guarda-costa do Lopes, o Laminé Turé, é o Carmelita. 

O comandante do batalhão a quem o cap art Manuel Guimarães "queria oferecer" a mina A/C, levantada por ele, não vem identificado. A CART 1690 pertencia ao BART 1914 (que teve  três comandantes: Ten cor art Artur Relva de Lima; ten cor inf Hélio Augusto Esteves Felgas: e ten cor cav António Maria Rebelo. Mas no setor de Gaba, de abril de 1967 a novembro de 1968,  ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1877 e depois do BCav 1905 e ainda do BCaç 2856.
 
Mas em agosto de 1967 a CART 1690 dependia do BCAÇ 1877, sediado em Bafatá, e tendo como comandante o ten cor inf Fernando Godofredo da Costa Nogueira de Freitas. O Comando de Agrupamentpo era o nº 1980  (Bafatá, fev67/nov68) (cmdts: cor inf José Frederico Porto Assa Castel-Branco; e ten  inf Hélio Augusto Esteves Felgas).
 
O A. Marques Lopes, na sua página do Facebook, transcreveu este episódio, por duas vezes, em 15 de maio de 2019, e uns meses antes de morrer (de cancro no estômago), em 21 de agosto de 2023 (56 anos depois!).

O excerto que transcrevemos corresponde, grosso modo, às pp.  434-439 (com algumas alterações e pequenos cortes: em 2015, no livro, as personagens sáo identificadas por nomes fictícios; nos  excertos publicados no Facebook, a narrativa é feita na primeira pessoa do singular).


A Mina , 21 de Agosto de 1967

por A. Marques Lopes (1944-2024)

 
(... ) O  [Domingos] Maçarico saiu com a coluna no dia seguinte, logo de manhã muito cedo. Eu e o Guimarães ficámos no bar-barraco a tomar o pequeno-almoço juntamente com dois furriéis. O do capitão era a habitual fresquíssima garrafa de vinho verde e uns cachorros. Maravilha, dizia ele, o frigorífico a petróleo até estava a funcionar. E ele, assim fresquinho, bebia-o mesmo bem. Eu estava agarrado a uma sandes de queijo que acompanhava com uns goles de café.

Eis se não quando chega um Unimog e vimos o Maçarico saltar dele todo agitado:

− Meu capitão, encontrámos uma mina  comunicou, ainda afogueado.

 Deflagrou? 
− perguntou o capitão.

− Não. Os picadores detctaram-na e agora está tudo lá parado.

 
− Então vou lá ver isso aqui com o Lopes. Vamos.

Nem me perguntou se queria ir ou não. Chamou o seu guarda-costas. Fiz o mesmo. Fomos no mesmo Unimog até para lá um bocado depois de Sare Banda, a tabanca dos milícias. Quando chegámos vimos a coluna parada. Os furriéis, alguns soldados e os milícias picadores estavam à volta da mina. Era outra TMD. O capitão ficou excitado, parecendo uma criança a quem deram um brinquedo desejado. Deu ordem para se afastarem todos para longe.

− Só eu e o alferes Lopes mais os guarda-costas é que ficamos aqui. Vamos ver isto.

Ajoelhámo-nos os quatro à volta da anticarro.

− Lopes, esta vamos levantar e vamos oferecê-la ao nosso comandante de batalhão. Além disso isto dá dinheiro.

Estava todo entusiasmado mas eu não sabia quanto é que dava e não estava nada interessado em ganhar dinheiro dessa maneira. Como estava lixado com os mandões do batalhão e do Agrupamento, porque me estavam sempre a mandar para a boca do lobo, também não estava nada virado para lhes oferecer prendas.
Mas, enfim, a prenda era dele, que se lixasse. Peguei na minha faca de mato e comecei a escavar à volta da mina. Era uma TMD, soviética.

Chegou-se, entretanto, um furriel ao pé de nós e tirou uma fotografia. O capitão enxotou-o:

 Já disse para saírem daqui!

Continuei a escavar. Quando já não havia terra nenhuma à volta da mina, achei por bem dizer:

− Não vejo nada aqui à volta, meu capitão. Mas eu não sou especialista nestas coisas e parece-me que é melhor rebentá-la com uma granada ou puxá-la de longe com uma corda. É melhor não arriscar.

−  Nada disso, pá. Vai ser um ronco e quero oferecê-la ao comandante de batalhão. Vamos levantar isto.

Estava obcecado pela prenda ao comandante e devia estar arrependido de não ter feito isso com a outra. Aquilo podia estar mesmo armadilhado, até me tinham dito que, muitas vezes, só quem montou a armadilha é que sabe como está. E eu, ainda por cima, não percebia nada daquilo. Tinha de o avisar novamente.

− Ó meu capitão, não faça isso. É um grande risco que é melhor não correr. Atamos uma corda e puxamos de longe com um Unimog.

 Deixe-se disso. Vamos levantar.

− Então, não sou eu que pego nisso  − disse decididamente, levantando-me.

Lamine Turé, o meu guarda-costas, já se tinha levantado também, estava agora ao pé de mim e olhava-me com aprovação.

Ficou o capitão e disse ao Domingos Gomes, guineense de Bissau e seu guarda-costas, para pegar na mina. Foi quando eu e o Lamine recuámos uns passos.

Foi outra dimensão. O trovão e a faísca rápidos que me lançaram no vazio, sem passado nem presente, nem nada pela frente. Não senti dor ou sofrimento, nem tive qualquer pensamento. Era a forma rápida de sair da vida para o nada.

Não soube nem deixei de saber o que se passara, não soube se morrera ou se ficara ferido, não soube se fui para o inferno ou para o céu, não vi o velho das barbas nem o cornudo de rabo comprido. Houve momentos em que não existi. 

Nem soube quanto tempo tinha sido quando deu por mim deitado no chão da mata, fora da picada.

Levantei-me e vi ao pé o capitão também deitado. Não se mexia, a farda tinha desaparecido quase toda, a perna direita estava pegada ao joelho por uma tira de pele, os testículos estavam desfeitos. Mais à frente estava o Laminé, que se tinha levantado e parecia não ter nada. Perguntei-lhe como estava. Disse-me que só tinha uns estilhaçositos. Fui até ao buracão da mina, olhei para o fundo e viu lá bocados de uma granada de morteiro. Tinha sido assim, um rebentamento por simpatia. Vários elementos da coluna tinham-se aproximado. O Maçarico olhou para ele estarrecido.

− Estás a deitar sangue dos ouvidos.

Ouvi-o mal mas ainda percebi e levei lá as mãos. Vieram cheias de sangue. Vi também que o poncho que envergara tinha desaparecido, só tinha um bocado à volta do pescoço.
 
− E o guarda-costas do capitão? − perguntei-lhe.

− Já o procurei mas não o encontro 
− respondeu o Maçarico

Decidimos colocar o capitão em cima dum poncho e levá-lo para a sede do batalhão, onde havia um médico. Na nossa companhia não havia. Ainda pensámos que podia estar vivo. Por isso vimos que não havia tem po de procurar o homem que levantara a mina, o qual, concluímos, devia ter os bocados espalhados no meio da mata. Depois se veria.

Ouvia-me ao longe, mas sei que fui todo o caminho a chamá-los turras filhos da puta, cabrões, hei-de fodê-los… e montes de impropérios, misturados com várias lágrimas.

O médico do batalhão disse que o capitão estava morto. Viu o meu guarda-costas e confirmou que tinha dois pequenos estilhaços, retirou-os e tratou dele. Com dificuldade, mas ouvi-o a dizer-me que tinha dois estilhaços no peito, tirou-mos e olhou-me:

Estes não têm importância. Mas olhe que você teve uma sorte do caraças. Há um que lhe passou na virilha direita, deixou aí um traço mas não atingiu nada de importante. 

Sorriu-se mas eu não achei piada nenhuma.

− De qualquer modo tem de ser evacuado porque tem os dois ouvidos furados.

E fui. Veio um helicóptero e levou-me para o HM241, em Bissau. Fiquei lá uma semana, tratado a mais de 15 comprimidos por dia. Hão-de ter-me feito bem a alguma coisa, não duvido, mas ao fim de alguns dias o meu estômago nem a água aguentava. 

No fim dessa semana fui evacuado para o HMP, para Lisboa. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

sábado, 17 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25852: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte V: mortos em Moçambique

 




Concelho de Fafe - Lista dos mortos durante a guerra colonial, no TO de Moçambique  no período de 1962 a 1975 

Capa do livro
Fonte: SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal- In: Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 62-63,

1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. Nesta parte são os respeitantes ao TO de Moçambique (pp. 62-67).





Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [ Excertos ] - Parte V (pp. 62-67)




Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): (i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de cultura e desporto; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem cerca de 90 referências no nosso blogue.


C. MOÇAMBIQUE


QUADRO 3 – Lista dos mortos de Fafe em Moçambique


(...) Ao analisarmos o quadro referência com a identificação dos nomes dos militares de Fafe mortos, verificamos que:

  • Em Moçambique morreram catorze fafenses;
  • Podemos verificar, também, que quatro militares morreram já depois da Revolução de 25 de Abril de 1974: Manuel Martins Carneiro, de Fareja, em 2.7.1974, Agostinho Soares Carvalho, de Arões S. Romão, em 2.7.1974, Francisco Jorge Gonçalves Carvalho, de Moreira do Rei, e o Alferes Norberto Salgado, de Arões S. Romão, em 22.2.1975.
  • As causas da morte foram: (i) 9 em combate; (ii) 2 por acidente;  (iii) 1 por doença; e (iv) 2 por causa desconmhecida;
  • Acidentes: um com arma de fogo; outro, outro por outros motivos;
  • Combate: inclui um caso de ferimento mortal por mina  antipessoal;  
  • Causa desconhecida,  inclui um desaparecido em combate (fur mil op esp / ranger, João Manuel de Castro Guimarães).

Quanto ao posto e especialidade: 

  • um oficial, alferes miliciano com a especialidade de intendência;
  • um furriel miliciano;
  • três cabos, tendo dois a especialidade de atirador e um outro sem especificação, mas pertencente a uma companhia de artilharia;
  • e oito soldados: destes, três sem anotação da especialidade, um é soldado comando, um sapador, um spontador de morteiro, um atirador e um condutor auto rodas.

Podemos verificar que ficaram sepultados dois militares em Moçambique: um, no cemitério de Lourenço Marques, o Manuel Moreira Fernandes, de Travassós (28.3.1962); e outro, o Avelino Ribeiro Cunha, de Fafe, em Nampula (cemitério de S. João de Brito, em 23.6.1966).

A primeira morte de um militar de Fafe em Moçambique ocorreu, ainda, antes de rebentar oficialmente a guerra em Moçambique. Foi em 28 de março de 1962 que o 1.º cabo Manuel Moreira Fernandes Cunha, nascido em 26 de março de 1939, na freguesia de Travassós e recenseado pela freguesia de Santos o Velho, 2.º Bairro de Lisboa, com o número mecanográfico NIM 60-A-2946:  morreu por motivo de acidente (queda acidental em buraco em 26 de março de 1962, segundo informação por email do Arquivo Geral do Exército, de 24 de outubro de 2013). Ficou sepultado em Moçambique (cemitério de Lourenço Marques), de acordo com a informação do irmão.

O último jovem a morrer em Moçambique foi o Agostinho Soares Carvalho, natural de Arões S. Romão, filho de José Oliveira Carvalho e Rosa Soares. Foi soldado comando da Companhia n.º 2045, morto por ferimentos em combate perto de Vila Paiva de Andrade, a caminho da Gorongosa. Faleceu já após o 25 de Abril, em 9 de julho de 1974. Está sepultado no cemitério de Santa Cristina de Arões.

Antes de embarcarem para o Ultramar já eram casados quatro destes fafenses:

  • O soldado Sapador Albino Freitas Novais, de Estorãos, casado com Maria das Dores Castro, pertenceu à CCS do Batalhão n.º 288, vindo a morrer em 3.11.69 em consequência de ferimentos em combate ocorrido no Norte, no subsetor de Macomia, e está sepultado no cemitério de Fafe. 
  • O soldado António Joaquim Machado, de Regadas, casado com Emília da Glória Cura Grade, pertenceu à CCAÇ n.º 1618, faleceu a 14.6.67, em consequência de ferimentos em combate ocorrido no Norte, na Missão do Imbuo, e está sepultado no cemitério de Sôsa – Vagos. 
  • O soldado atirador Manuel Martins Carneiro, de Fareja, casado com Maria da Conceição Fernandes, pertenceu à 1.ª CCAÇ do BCAÇ n.º 5016 aquartelado em Honde, faleceu a 2.7.1974, em consequência de ferimentos em combate e está sepultado no cemitério de Atães – Guimarães. 
  • E o 1.º cabo Luís Mário Carvalho Cunha, de Antime, faleceu em consequência de ferimentos provocados por rebentamento de mina.
De todos os militares de Fafe casados antes de embarcarem para Moçambique, tive a oportunidade de consultar o processo de Luís Mário Carvalho Cunha por deferência do seu filho, que agradeço.

  • O Luís Mário Carvalho Cunha nasceu a 18 de setembro de 1944 na freguesia de Fafe, filho de José da Cunha e Maria da Carvalho, exercia a profissão de tecelão, casou em 18 de abril de 1964 com Palmira Gonçalves e, antes de ser mobilizado, tinha dois filhos, um rapaz de dois anos e uma rapariga de um. 

Foi alistado em 19 de julho de 1965 e incorporado em 25 de janeiro de 1966 no RI 8, fez o juramento de Bandeira em 30 de abril e terminou a recruta a 28 de maio de 1966, sendo transferido par o RAP2 onde, a 25 de maio, concluiu a especialidade de atirador de artilharia, seguindo para Viana do Castelo para o RC 9, para fazer parte da CART 1595 /BART 1893, sendo promovido 1.º cabo em 28 maio 1966 com a especialidade de atirador.

Nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea e) do art.º 3.º do dec. 42937 de 22.4.1960, embarcou em Lisboa a 7 de setembro e desembarcou em Moçambique em 28 do mesmo mês, sendo a sua companhia colocada em Révia Muoco.

Do relatório de operações datado de 6 de novembro de 1967 e realizado pelo alferes do 3.º Gr Comb da CART 1595 e encarregado da missão consta:

1. Resumo:

06 novembro de 1967 –Quando na execução do Quadro de movimento n.º 06/67 de 20 de outubro / 67 do BART 1893, se efetuava a escolta do Muoco das viaturas utilizadas no transporte da CCAÇ 1797, tendo sido detetada uma mina Acarr (anticarro) colocada pelo IN na respetiva picada a cerca de 2 km do aquartelamento da CART, recebi ordem para ali me deslocar acompanhado de um furriel da mesma. 

Quando decorriam os preparativos para o levantamento da referida mina, foi acionada fora da picada, e a cerca de 2 metros daquela, uma mina Apess (anti pessoal), resultando daí terem ficado feridos as praças: 1.º cabo n.º 01464366, Luís Mário Carvalho Cunha, 1.º cabo n.º 00816366, Luiz Martins Gonçalves, 1.º cabo 05861366, Alberto da Cunha Ribeiro e o soldado n.º 03221466, António Ribeiro Gonçalves, desta companhia, vindo o primeiro a falecer em consequência dos ferimentos recebidos.

3.Comentários

O IN colocara a mina Apess para que, após o rebentamento da mina Acarr, que seria provocada na passagem da viatura, fosse aquela acionada pelo pessoal ao saltar da viatura antes de tomar as devidas posições (de segurança e contra ataque) no terreno.

O Oficial encarregado da missão

Laurénio Monteiro Ferreira da Silva - Alf Mil Art


  • O oficial morto em Moçambique foi o Alferes Miliciano Norberto Luís Seara Salgado, nascido em 8.2.1951 na freguesia de Arões S. Romão, filho de Armando Salgado e Rosa de Jesus Salgado. 

Foi incorporado em 23 de janeiro de 1973 na EPI (Escola Prática de Infantaria em Mafra) e jurou Bandeira em 12 de fevereiro, sendo transferido para a EPAM (Escola Prática de Administração Militar) em Lisboa, onde terminou o 2.º  ciclo do COM (Curso de Oficiais Milicianos) a 7 de julho, sendo promovido ao posto de asp alf  mil e colocado na EPAM. 

A 10 de janeiro de 1974 é nomeado para prestar serviço no Ultramar, em Moçambique, vindo a falecer em 22 de fevereiro. 

De acordo com os registos enviados pelo Arquivo Geral do Exército, as causas da morte foram por: Acidente por outros motivos (final do relatório).

(Continua)


(A seguir, em próximo poste: 8. Testemunhos de ex-combatentes de Fafe participantes na Guerra)

(Seleção, revisáo / fixação de texto, negritos: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25821: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte IB: mortos na Guiné