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terça-feira, 15 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26691: História de vida (57): o fur mil vagomestre António Fonseca que acabou por ter uma morte trágica no Algarve, em Albufeira, com a toda a família em 2009 (Luís Dias, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > CCAÇ 3491 (1971/74) > Dulombi > "O ex-furriel mil vagomestre Fonseca é o segundo a contar do lado esquerdo (com o seu aprimorado bigode)". (Da esquerda para a direita, furriéis Almeida, Fonseca, Gonçalves, E.Santo, 1º srgt . Gama, cap Pires, alf Luís Dias e Parente,  furriéis Machado (já falecido), Rodrigues e Reis; em pé, da esquerda para a direita,  fur Baptista, os 2 impedidos da messe,  furriéis Nevado e Carvalho.



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > CCAÇ 3491 (1971/74) > Dulombi > 1972 > "À porta da messe dos oficiais e sargentos: da equerda para a direita,  fur Fonseca (o nosso vagomestre), fur Batista (com a cara meio tapada), fur Gonçalves (só se vê a cara), fur Rodrigues (o nosso especialissimo mecânico auto rodas) e em primeiro plano o 1º srgt Raul Alves... Foto gentilmente cedida pelo camarada Manuel Rodrigues, ex-fur mil mecânico auto, que mantinha as nossas viaturas sempre operacionais".


Fotos (e legendas): © Luís Dias (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar de: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



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Crachá da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro,  dez 71 - mar 74)




Luís Dias
1. Mensagem de Luís Dias, o nosso especialista em armamentp, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro,  dez 71 - mar 74), inspetor da Polícia Judicionária reformado (tem 107 referências no nosso blogue que integra desde 30/5/2008):


Data - domingo, 13/04/2025, 21:52
Assunto -  O nosso vagomestre António Fonseca 
 

Caro Luís Graça:


Na CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, que esteve na Guiné entre 24 de dezembro de 1971 e 28 de março de 1974, tínhamos como vagomestre o furriel miliciano António Fonseca. 

A CCAÇ 3491 foi colocada no Dulombi, Leste da Guiné, estando:

  •  isolada vários quilómetros da CCS (Galomaro - a cerca de 20km);
  • a sul,  a CCAÇ 3490 - Saltinho (não havia estrada ou picada para este aquartelamento, ida do Dulombi, pelo que a volta para lá chegar era ir através de Bambadinca, Xitole (150 km);
  • a norte,  ficava a CCAÇ 3489, com picada/estrada indo por Galomaro (40 km);
  • à nossa frente ficava o Rio Corubal (40 km), zona para a qual efetuávamos a maior parte das operações. 

Estávamos isolados. A comida não era e nunca foi grande coisa e estávamos sempre a apertar com o vagomestre (*). Ele raramente  participava nas colunas semanais que fazíamos a Bafatá e Bambadinca para ir buscar abastecimentos. 

Certa vez, um dos bidões de azeite, depois de abertos no quartel, estava adulterado por água (alguém "palmara" azeite e completara o bidão com água). Aliás houve também casos de adulteração de garrafas de uísque. Não se sabendo se a adulteração já vinha da metrópole ou era feita em Bissau. 

O capitão reagiu e passou a obrigar o  furriel a ir em todas as colunas de abastecimento para verificar os carregamentos. 

O furriel para se desenrascar teve de pedir alguns litros de fornecimento de azeite às outras companhias do batalhão, com a promessa de os devolver o mais breve possível. 

Houve um período, em 1972, em que devido às chuvas as colunas não conseguiam passar porque a picada ficou intransitável em vários pontos e também não se conseguiu largada de frescos pela aviação, pelo que houve que recorrer a rações de combate e até pagar a caçadores indígenas a compra de caça variada obtida.

Entretanto, a nossa companhia foi transferida praticamente toda para a sede do Batalhão, em Galomaro, isto em 9 de março de 1973 (quando era eu o comandante da mesma, porque o capitão estava de férias), deixando no Dulombi 2 pelotões de milícias e 13 elementos de apoio (1 auxiliar de enfermagem, pessoal de transmissões, cozinheiros, condutores, mecânicos, apontadores de morteiros 81 mm, professor da escola dos miúdos, etc.), comandados por um dos meus furriéis e tendo como adjunto o furriel de transmissões. 

Esta saída inopinada deveu-se a um forte ataque sofrido pela CCS, no dia 1 de dezembro de 1972 e depois de 2 ataques anteriores rechaçados muito bem no Dulombi e ter surgido o general, Comandante-chefe,  e o nosso comandante de Batalhão,  em visita inopinada ao Dulombi, onde tive de explicar a atividade operacional que realizávamos e os resultados obtidos.

Em Galomaro, a situação era diferente e passámos a depender, em termos de comida, da organização já montada para a CCS, pelo que o nosso furriel vagomestre foi enviado para Bissau, para ser o representante do Batalhão na administração de abastecimentos. 

A companhia a 3 grupos de combate (o outro grupo foi reforçar o batalhão de Piche) ficou a efectuar operações na zona de Galomaro e também na zona do Dulombi (ficámos com mais do dobro do território anterior). 

Depois de ser enviado com o meu grupo para Piche (onde se  comia muito bem - oficiais e sargentos, mas muito mal os soldados, o que me levou a ter problemas com o comandante), ainda estive a comandar o CIM de Bambadinca, depois fui para Nova Lamego, onde estava o meu grupo de combate e depois fui para Pirada, onde estive poucos dias, voltando a Nova Lamego. Nestes três últimos locais, em termos de comida, não posso dizer mal.

Em inícios de janeiro de 1974, recebi ordens de regressar ao Dulombi, onde voltei a reunir-me com a companhia (todos os elementos de apoio, onde estava também o furriel vagomestre, entretanto regressado de Bissau), porque os outros grupos de combate estavam 2 em Galomaro e 1 em Nova Lamego. 

Nesta altura fui incumbido de ser o responsável por realizar a parte operacional com os grupos de combate da nova companhia que vinha nos substituir (a 1ª CCAÇ/BCAÇ 4518).

Nessa preparação havia o cuidado de verificar se na nossa zona da frente (lado de onde normalmente partiam os ataques do PAIGC) havia material que tivesse ficado por explodir, para o neutralizar.

Aqui chegado, devo referir que o amigo António Fonseca tinha muito "respeitinho", direi mesmo receio,   de alinhar na parte operacional, o que se compreende, porque não lhe competia. Deste modo, se houvesse uma coluna de abastecimentos de 10 viaturas ele seguia na décima, se fosse de 3 ou 4 viaturas ele seguia sempre na última, com o justo receio de que podia apanhar com alguma mina A/C.

Tinha detetado,  a cerca de 100 metros do nosso arame farpado, uma granada de morteiro 81 mm GEGP que fora disparada num dos ataques que o quartel sofrera e que não explodira. 

Escavei uma defesa de terra, em relação ao quartel, coloquei um petardo de TNT 100g, com detonador eléctrico, junto à granada, sem lhe tocar e estendi o fio até ao quartel e coloquei-me por trás do edifício do comando e avisei as torres de sentinela, bem como o pessoal da companhia para que se protegesse e acionei o detonador. 

Deu-se a explosão e pronto, estava feito. De repente, reparo que,  em frente à messe de oficiais e sargentos, estava o nosso amigo vagomestre com a mão na cabeça e olhar incrédulo. Então não é que o furriel, em vez de se esconder por trás do edifício, ficou, sem proteção,  a ver a explosão, não tendo ligado às instruções que eu dera ?!...

O furriel António Fonseca, um recatado militar, que punha todos os cuidados quando era obrigado a sair em coluna, ficou de peito feito a ver o que acontecia. 

A sorte protege os audazes e foi o que aconteceu. A cabeça da granada de morteiro veio de lá, e caiu a cerca de 2 metros dos seus pés. Passado quase uma hora ainda estava quente, um pouco mais e tinha atingido o nosso vagomestre, e podia-lhe ter tirado a vida.

Os anos passaram e a companhia voltou a reunir-se em convívios, 25 anos após a nossa chegada à metrópole. Contávamos histórias, episódios acontecidos e lá vinha sempre à memória o que podia ter acontecido ao furriel vagomestre e dizíamos que "sorte tiveste". 

Contudo, uma horrível notícia, referia uns anos depois, que na Praia da D. Luísa, um grupo de pessoas tinha ficado debaixo de uma arriba que desabou. O infortúnio tinha acontecido, o nosso amigo e companheiro furriel António Fonseca, juntamente com a sua esposa e filhas,   eram algumas das vítimas do funesto desastre (**).

Que possam as almas desta família estar no eterno descanso.
Abraço
Luís Dias

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Notas do editor LG:

(*) Último poster da série > 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26681: Histórias de vida (56): Berta de Oliveira Bento, a Dona Berta da Pensão Central, Bissau (1924 -2012)

(**) Vd. poste de Blogue > Histórias da Guiné 71-74: A CCAQÇ 3491, Dulombi > Sábado, 29 de agosto de 2009 > Morte trágica de um camarada

(...) Caros Camaradas: cumpre-me a dolorosa missão de vos informar da morte trágica do camarada José Batista Mota Fonseca,  o nosso ex-furriel vagomestre. O Fonseca perdeu a vida juntamente com a sua esposa e as duas filhas, na derrocada que se deu no passado dia 21, na Praia da Maria Luisa, em Albufeira, onde se encontrava a passar férias.

Este triste acontecimento foi-nos participado pelo nosso camarada ex-furrriel Carvalho.
À família enlutada as nossas sentidas condolências.
Descansa em paz,  querido amigo.

Luís Dias (...)
 

segunda-feira, 17 de março de 2025

Guiné 61/74 - P25592: O melhor de ... Mário Gaspar (1943-2025) - Parte II: "Todas as vezes que via o alferes Gouveia, olhava-o bem nos olhos e dizia: – Você matou o Pestana e o Costa!... Mais tarde o ex-cap mil Mansilha informou-me: – O Gouveia suicidou-se na ilha da Madeira. Lançou-se ao mar de um penhasco!... Respondi-lhe: – Sou o único culpado!"





Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Monumento aos Combatentes do Ultramar > Memorial dos Mortos do Ultramar > c. 2018 > O Mário Gaspar aponta os nomes dos seus camaradas António Lopes Costa, soldado, natural  de Vila Real,  e Victor José Correia Pestana, furriel, natural de Santarém, mortos em "acidente com arma de fogo", em 12 de outubro de 1967, perto de Ganturé, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri.


Fotos (e legenda) : © Mário Gaspar (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Mário Gaspar (Sintra, 1943 - Lisboa, 2025) teve, depois da "peluda", pelo menos duas grandes paixões (além de Alhandra da sua infância e adolescência): 

(i) a DIALAP- Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, onde foi lapidador, sindicalizado, e delegado sindical (ficou desempregado, em 31/5/1996, por extinção do posto de trabalho); 

e (ii) a Apoiar - Associação de Apoio Aos Ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra, de que foi sócio fundador e dirigente. Temos que relembrar, proximamente, estas duas facetas do nosso "Zorba".

Tanto quanto a sua saúde o permitiu (era DFA - Deficiente das Forlas Armadas, com 40% de incapacidade, e nos últimos conheceu o calvário dos lares, clínicas e  hospitais, sofrendo de problemas do foro cardíaco), teve uma presença ativas nas redes sociais (em particular no nosso blogue e na sua por vezes atribulada página do Facebook: queixava-se que lhe cortavam inúmeros comentários). 

Tinha um humor instável e truculento; detestava que lhe chamassem Mário Gaspar ou Mário Vitorino. Era o Mário Vitorino Gaspar.  Sofreu muito em vida.

Recorde-se que o Mário Gaspar, ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68),  era, como gostava de ser conhecido, "Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado"; e ainda "cofundador e dirigente da associação Apoiar"...

Tinha, além disso,  o curso de minas e armadilhas. E terá sido em Tancos e depois no teatro de operações no sul da Guiné que ele afinal iria descobrir o seu talento para o trabalho minucioso,paciente e... arriscado de lapidador de diamantes.

É autor do livro de memórias "Corredor da Morte" e da série, publicada no nosso blogue, "Recordações de um Zorba". Republicamos, dele, mais um poste, em que conta como é que a burocracia da tropa o matou (ou deu-o como morto) e relata  a tragédia da morte de três Zorbas, o Pestana, o Costa e o Gouveia. (*).



"Todas as vezes que via o alferes Gouveia, olhava-o bem nos olhos e dizia:  – Você matou o Pestana e o Costa!... Mais tarde o ex-cap mil Mansilha informou-me: – O Gouveia suicidou-se na ilha da Madeira. Lançou-se ao mar de um penhasco!... Respondi-lhe:  – Sou o único culpado!"    

por Mário Vitorino Gaspar (1943-2025)  (**)


Que interesse têm os portugueses de saberem que existiu uma Guerra Colonial? Já basta o “A
aquecimento global”, que nem sequer sabemos ao certo o que é, ainda para cúmulo essa guerra onde os nossos pais ou avôs combateram. Pois vou narrar-lhes aquilo que me sucedeu, talvez em agosto, no período das férias de 1969.

– Foi precisamente no dia 12 de o
utubro de 1967 que morri (*). Não sei como! Se por doença: paludismo; matacanha; outra.

– Mas o que é isso do paludismo ou matacanha? Compreendia antes se fosse da saudade!

– Esquece!

Morri, curiosamente só tive conhecimento de tal, no dia do meu casamento. Inicialmente fiquei preocupado, quando o padre na igreja de São João de Brito disse:

– Estou a casar o morto vivo!

– Se morreste, não compreendi essa, estás aqui, e vivo… Como a sardinha da Costa!

Sorri e tudo se sumiu como espuma!

Pois no dia que me desloco à sacristia para levantar a certidão de c-asamento, recordei aquele episódio rocambolesco na greja. Parei no topo da escadaria e abri a sinistra caderneta m-ilitar que deixara para que fossem feitas as alterações necessárias: data do casamento e mudança de residência.

Primeira surpresa. Leio, esfregando os olhos: 

 "Baixa de Serviço: – por falecimento a 12 de outubro de 1967!" ... Algumas páginas a seguir: "Morto a 12 de outubro".

Tudo sem explicações: quem o fez tinha plena consciência daquelas asneiras, podia no mínimo ressalvar esta «morte», uma mentira cruel, e um padre que tinha a obrigação de fazer menos comentários.

Verdade é que ia caindo na escadaria e rebolado até ao “passeio português”. Tinha consciência que da tropa podia esperar um pouco de tudo, agora matarem um combatente com tinta parker azul permanente…

Tive de saber o que estava por detrás daquela historieta.

Nas férias em agosto dirigi-me ao quartel mobilizador, o Regimento de Artilharia de Costa (RAC), em Oeiras. Encontrava-se na secretaria o major (julgo ser ainda major), o oficial que me colocara de sem erviço no último domingo que tinha a oportunidade de estar com a família antes de embarcar para a Guiné.

Quando lhe dei para as mãos a caderneta logo me arrependi. Leu e disse:

– Que mal faz estar aqui dado como morto? -Ao senhor pouco ou nada importa!

Interrompi-o ao escrever na caderneta com uma bic azul e outra vermelha.

– Mas você não pode, nem deve fazer emendas ou ressalvas. Nesse caso as rasuras faço eu. Não tem o direito.

Tirei-lhe a caderneta das mãos. Tinha sublinhado de um lado e fez uma ressalva.


Fotocópia da folha da caderneta militar, do Mário Gaspar, correspondente à página das "ocorrências extraordinárias", onde é de novo referida a sua morte...




Tratei-o mal, chamando a atenção àquilo que me fizera colocando-me no domingo anterior à partida de serviço:

– Sargento de Dia ao Regimento!

Ninguém aceitou fazer esse serviço por mim por ameaça a todos que de algum modo fizessem esse serviço, inclusive eu pagava bem.

Passado algum tempo desloquei-me ao departamento do Arquivo Geral do Exército que funcionava no antigo quartel na Avenida de Berna e nos dias de hoje emprestado à Universidade NOVA de Lisboa. Segundo consta, o imóvel foi vendido, esse quantitativo serve para o Fundo dos Combatentes.

Interessa neste caso a explicação sobre a minha morte. Logo que disse a razão da minha ida ,
os três indivíduos riram. Entreguei a caderneta e logo vi segurar uma pasta, diferente das outras, estava toda agrafada. Disse:
-
– Vi que tenho toda a razão: morri a 12 de outubro de 1967!

O sargento tirou os agrafos – eram os três sargentos – e referiu logo:

– Olhem, este camarada era nosso vizinho na Guiné!

Disse-me junto ao balcão:

– Aquele estupor esteve comigo em Guileje e o outro do canto era de Mejo.

Curioso, estivemos todos juntos. Respondi:

– Agora estou a reconhecê-los, estivemos mais de uma vez a comer juntos.

Referiram estar tudo na ordem, com o inconveniente de estar registado na caderneta. Não compreendiam a razão do major em Oeiras ter feito esta gatafunhada. Ninguém o autorizou.


O jovem Mário Vitorino Gaspar






Ainda fui a programas de Rádio; dei entrevistas para jornais e fui a dois programas de televisão. Um deles, da Fátima Lopes.

Talvez tivesse algo a ver com esta asneira, terem morrido o meu Amigo, vítima do rebentamento de uma granada armadilhada, o furriel miliciano Vítor José Correia Pestana, de Abitureiras, Santarém.  e o soldado António Lopes da Costa, de Cerva, Vila Real. Ambos mortos por acidente, um acidente, e grande, era estarmos na guerra.

Quando gozei férias fui entregar à família do Vítor pequenos utensílios que lhe pertenciam. Como o Vítor falasse muito no Mário, trataram-me como sendo o filho, primo, etc.. Custou-me imenso. 

Como tivessem morrido num período em que eu não estava, fui verificando não me terem narrado tudo sobre ambas as mortes, por saberem sermos muito amigos. A razão de tal é termos cumprido grande parte do serviço militar juntos.

Um dia insisti com um camarada que a chorar pelo telemóvel me contou. A CART 1659 iniciou uma patrulha até à fronteira com o fim de montarem armadilhas, o que foi feito. Esta patrulha era sempre no mesmo sentido, nunca no contrário nem com regresso pelo mesmo lado.

O alferes Gouveia que comandava, já na fronteira deu ordens para regressarem pelo mesmo trajeto da ida e o Vítor Pestana referiu ter feito o croqui mas no sentido da ida, não possuía pontos de referência no sentido contrário.

 Insistiu o alferes, eram ordens. O Costa disse ao furriel que o acompanhava, os dois avançaram. Pára o Pestana, olhando para os pés. Não podia escapar e lançou-se sobre a granada armadilhada que rebenta. O Costa fica encostado a uma árvore, parecia descansar, nem sequer tinha sinais de ter sido atingido, estava morto. O Pestana tinha braços e pernas seguros do restante corpo por linhas. No peito um buraco. Estava vivo. Ainda chegou vivo a Gadamael Porto e foi visto pelo médico do batalhão que se encontrava perto.

O Pestana pedia, e por favor, aos furriéis milicianos, que lhe dessem um tiro na cabeça. Morreu. Tive só conhecimento da sua morte ao regressar de licença de férias. A história que me contam é sobre o local das mortes e das ordens que recebeu.

Todas as vezes que via o alferes Luís Alberto Alves de Gouveia, olhava-o bem nos olhos e dizia:

– Você matou o Pestana e o Costa!

Ele nunca me respondeu. Anos depois, encontrei-me com capitão miliciano de infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha [nosso antigo comandante] que me informou:

– O Gouveia suicidou-se na lha da Madeira. Lançou-se ao mar de um penhasco!

Respondi-lhe:

– Sou o único culpado.


(Revisão / fixação de texto, título: LG)


2. Comentário do editor LG:

Faço questão de repetir aqui o que disse em 2018, em comentário ao poste P19093 (**),  mesmo sabendo que o Mário, lá no além, já não me pode ler nem muito menos responder:

Mário, é bom voltar a "ver-te" aqui na Tabanca Grande. Já tinha estranhado o teu silêncio. Esta "macabra" efeméride, já a tinhas relatado há uns anos atrás... Mas agora percebe-se melhor a origem do erro: em 12 de outubro de 1967, morrem os teus dois camaradas, no acidente com a granada armadilhada. Um deles, o Victor Pestana, é furriel... Houve uma troca de identidades... Lamentável, mas aconteceu, e seguramente que não foi caso virgem...

Quanto ao eventual suicídio do Gouveia, seria "monstruoso" tu assumires a "culpa" desse ato, tantos anos depois... Tira-me isso da cabeça!... Um grande abraço, Luis.

2018 M10 12, Fri 14:36:09 GMT+1
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Ficha de unidade >  Companhia de Artilharia n.º 1659

Identificação: CArt 1659
Unidade Mob: RAC - Oeiras
Cmdt: Cap Mil Art Manuel Francisco Fernandes de Mansilha
Divisa: "Os Homens não Morrem" - "Zorba"
Partida: Embarque em 11jan67; desembarque em 17Jan67 | Regresso: Embarque em 300ut68

Síntese da Actividade Operacional

Em 19jan67, rendendo a CCaç 798, assumiu a responsabilidade do subsector de Gadamael, com um pelotão destacado em Ganturé, e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1861 e depois do BArt 1896 e ainda do BCaç 2834.

Em jul68, face à intensificação da actividade de patrulhamento de itinerários e emboscadas na linha de infiltração inimiga na região de Guileje, o destacamento de Ganturé foi reforçado, temporariamente, por outro pelotão da companhia.

Em 20out68, foi rendida no subsector de Gadamael pela CArt 2410 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa nº 81 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 448

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26586: O melhor de... Mário Gaspar (1943-2025), ex-fur mil, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) - Parte I: "Estou cego, cego..., não vejo, nada, merda!"


(**) Vd. poste d12 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19093: Efemérides (291): Faz hoje 51 anos: 12 de outubro de 1967, o dia em que eu morri....Por outro lado, sou o "único culpado" do suicídio do ex-alf mil, madeirense, Gouveia (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

sábado, 15 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26586: O melhor de... Mário Gaspar (1943-2025), ex-fur mil, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) - Parte I: "Estou cego, cego..., não vejo, nada, merda!"

1. Mário Vitorino Gaspar (1943-2025) vai hoje descer à terra da verdade, no cemitério de Camarate, Loures (*). 

Em sua homenagem vamos selecionar alguns dos seus melhores postes. Além de ter escrito o livro "O Corredor da mortes" (2014), foi autor, no nosso blogyue, da série "Recordações de um Zorba".

 Foi fur mil, MA, CART 1659, "Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (divisa,: "Os Homens Não Morrem").


Excerto do capítulo 15 do livro de memórias do “O Corredor da Morte” (ed. autor, 2014):


Dia 15 de Janeiro de 1968 (…), tinha sido chamado na véspera ao capitão que considerou a utilidade de irmos buscar o correio a Sangonhá, assim patrulharíamos a zona. (…).

As tabancas alinhavam-se à direita. Aproximavam -se os Soldados Nativos e as Praças “U”.

Dei um nó no lenço que colocara ao pescoço. Um lenço de seda que me dera a minha namorada quando estivera de licença em Portugal. Era também “ronco”, como lhe chamavam os nativos.

O cabelo estava demasiado comprido. Gostava assim. Além disso, a barba. Há quantos dias que não a fazia.

O camuflado, uma miséria, parecia que velhice o engolia aos poucos. Tinha que me confundir com os negros no mato. Assemelhava-me, talvez.

Com o pessoal todo preparado, encaminhámos os nossos passos para a “porta de armas”, se é que poderíamos chamar àquilo tal nome. Seriam duas secções e os Caçadores Nativos e as Praças “U”. O total seria de uns quarenta homens. Não ia qualquer Oficial, seria eu a comandar.

Logo que passada a porta de armas, ficámos automaticamente com as distâncias controladas. Nunca íamos a monte, nem sequer era necessário dizer-se. As picas avançavam ao solo, massacrando-o com ato delicioso. Os arames rompiam pela terra. O trilho estava seco. A pica chocava no terreno, procurando um objecto que impedisse a perfuração. Eram as “carícias” daqueles arames de ferro, instrumentos improvisados. Eram sem dúvida nenhuma os melhores detetores de engenhos explosivos.

À frente ia o guia, logo a seguir, a uma distância de sete ou oito metros, um soldado. Separava-nos por volta dos sete metros da frente para trás. À esquerda e à direita. Todos a picar. Eu seguia o guia, Praça “U”, que picava, com uma certa minúcia. 

Tinha notado, já há algum tempo, que dois soldados que iam à minha frente depois de eu recuar, mais parecia quererem brincadeira. Algo de estranho se passava entre os dois. Saltei para a berma direita, colocando-me entre os dois, fiz sinal para terem cuidado. Mudei-me logo para de trás dos dois soldados e continuei a picar.

No meio daquele silêncio profundo, senti um frio percorrer-me o corpo. O cérebro, a espaços, estagnara oco. Nem o vento, as folhas ou viva força da natureza.

 Vamos a ter cuidado  – disse-lhe em voz baixa – é picar como deve ser.



Capa do livro, publicado em 2014, em edição de autor.
Prefácio do psiquiatra Afonso de Albiquerque.


Olharam-me, quase como envergonhados, sorrindo de seguida. Transportava, como todos, a G3 sobre o ombro esquerdo, enquanto a mão direita segurava a pica. As Praças “U” e os Caçadores Nativos batiam com a pica na terra que parecia ser acarinhada pelo arame. Continuei a avisar os dois soldados que me antecediam. Afastei-me para a berma contrária. O silêncio preocupava-me.

Olhei para trás. Estavam algo eufóricos. Desconhecia o motivo de tal. Seria a correspondência? Não sabia explicar. A verdade é que a alegria é contagiante. Estávamos na guerra, ali não havia espaço nem tempo para a nostalgia daquelas paragens sufocantes e doentias. O meu lenço de seda estava encharcado em suor. Coloquei o nó mais à frente. Notava a anormalidade de comportamento nos dois soldados da minha secção, colocados na berma do lado direito.

A uns vinte metros à frente, do mesmo lado, o guia parou por instantes, enquanto picava. Os dois soldados seguiam-no, ouvindo aquilo que a Praça “U”, transmitira baixo. O soldado que vai à minha frente espeta a pica, com raiva. Um estoiro. Um rebentamento forte. O guia foge para a frente. Apontei-lhe a G3, não sabendo explicar tal ato.

 Alto! – gritei-lhe. – Para aqui já!

O militar negro parou e aproximou-se de nós. Num ápice todos se lançaram para a berma. Era o conhecimento prático, os ensinamentos daquela guerra de guerrilha. O guia estava entre nós.

 
– Mina! – gritou o soldado que vinha na minha retaguarda, respirando fundo.

Eu era o único que continuava de pé. Rebentando mina, armadilho ou fornilho, acontecia haver uma forte probabilidade de emboscada. De pé e o coração rompia do peito martelando-o, mas como sempre, mais lúcido, uma lucidez difícil de explicar. Numa fracção de segundo. Mais calmo que anteriormente. Também não entendo. A serenidade fazia parte integrante do “eu”. Era talvez como se tivesse ingerido um calmante. O cérebro respondia na íntegra. Deixei de tremer. Transformara-me,  como por milagre, num ser diferente.

Ouvi gritos que penetravam não só nos ouvidos, mas também no corpo e no espírito. Excluindo eu e o guia,  todos tinham sido atingidos pela mina. 

A minha experiência como especialista de explosivos, minas e armadilhas dizia-me que era, mais uma vez, uma PMD 6, vulgarmente conhecida por “saboneteira”. Uma antipessoal, que possuía mais o efeito psicológico. O que parecia estar pior era o soldado que ia à minha frente, com o rosto de menino, coberto de sangue. Fechava os olhos. O camuflado estava repleto de estilhaços e também de sangue que haviam atingido também o rosto, na zona da vista. Sofria. Aquele sangue do corpo jovem molhava o trapo.

O outro que o seguia era quase o vivo espelho do primeiro, com mais estilhaços talvez. Continuava a não entender porque teria picado com tanta violência. Quereria matar a mina? 

Gritei para o radiotelegrafista, depois de pedir a um soldado que o chamasse:

– Aqui já! – fiz sinal ao condutor para virar a viatura.

–  Informe Gadamael Porto que temos evacuações para fazer, umas seis ou sete.

Disse ao radiotelegrafista com calma: 

 – Não é grave!

A GMC tinha já dado a volta. Havia que evacuar os feridos. O soldado que tinha sido atingido no rosto, desabafou, com dores:

– Estou cego, cego..., não vejo nada, merda. Estes filhos de uma puta nem nos deixam ir buscar o correio!

Não via as lágrimas, elas agarravam-se ao sangue que continuava a correr do seu rosto.

 
– Calma rapaz, vamos para Gadamael, não fazemos aqui nada, as evacuações não podem ser feitas daqui! – disse eu.

Aproximei-me dos feridos. Um gemia em tom demasiado baixo:

– É pá como vai isso? – perguntei-lhe, sorridente, pretendo incutir-lhe a calma e fé que necessitava, enquanto pedia ao telegrafista que pedisse as evacuações.

–  Sinto picadas nas pernas. São os mosquitos todos da Guiné que me chupam o sangue – respondeu.

O sangue manchava os camuflados. Julgava serem os três únicos que necessitavam de evacuação, muito embora outros tivessem sido atingidos. A mina era de fraca potência. Feita de madeira, com algum arame. Disse para o condutor:

 
– É a abrir sempre até Gadamael, não é necessário picar... – disse-lhe em altos berros.

Logo que arrumados na caixa da GMC, a mesma arrancou, com sete feridos e mais quatros homens. Uma secção de Ganturé, chegava com três viaturas. Subimos todos e com alguma velocidade, chegámos ao cruzamento. A secção de Ganturé saiu e continuámos até Gadamael Porto. Não era necessário picar. Gadamael estava à vista. Já se viam os militares da nossa companhia de calções e tronco nu. A GMC estava junto daquilo a que chamavam pista. Todos aqueles a evacuar estavam deitados em macas.

O furriel enfermeiro e o 1º cabo auxiliar enfermeiro encontravam-se junto dando o apoio, limpando os ferimentos e retirando os camuflados. O primeiro soldado atingido, e o que estava em situação mais grave, estava mais sereno. Aproximei-me, eram cinco corpos.

Um murmúrio aqui, outro acolá, nasciam das gargantas daqueles jovens, mas homens de verdade. Homens com um “H” grande.

Ouvia-se o roncar dos helicópteros. Eram dois.

O meu cabelo comprido foi sacudido pelo ar em movimento. Vento.

O capitão estava junto do primeiro helicóptero. Desceu a enfermeira paraquedista de calça camuflada e camisola de um branco lavado. Sobressaíam uns seios rígidos. A enfermeira era de cor branca. A única branca naquele local afastado da civilização. Uma mulher branca, era impensável. Bem torneada!
Aproximou-se das macas, balanceando as ancas.

 
– Como está? – perguntou ao soldado que tinha sido atingido na vista. – Está bem?

- É muito boa! – respondeu rapidamente o soldado.


Via-se um sorriso naquele homem. Já havia ganho esse estatuto há algum tempo. O capitão, referiu:

– Não ligue, ele não sabe aquilo que diz!

– Já estou habituada! – respondeu a enfermeira com um sorriso.

Os helicópteros levantaram dos torrões da pista e desapareceram no horizonte.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26585: In Memoriam (539): Mário Vitorino Gaspar (1943-2025), ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)... O funeral é hoje, às 15h45, no Cemitério de Camarate, Loures

quarta-feira, 5 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26556: Efemérides (451): Memórias do dia 2 de Março de 1970. O infortúnio levou a que o Fur Mil António Carvalho da CCAÇ 14, numa acção de neutralização de minas antipessoais, calcasse uma não detectada (Eduardo Estrela, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Estrela, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14, (Cuntima e Farim, 1969/71) com data de 4 de Março de 2025:

MEMÓRIAS

Eram mais ou menos 9 horas da manhã. Dois grupos de combate (ou três?) já não me lembro bem, tinham saído de Cuntima para interditarem os carreiros de infiltração do corredor de Sitató, que o PAIGC utilizava para reabastecer as suas forças no interior da Guiné. Naquela zona operacional estavam permanentemente no mato, por períodos de 48 horas, 2 ou mais grupos de combate. Na cabeça da coluna seguia um camarada do pelotão de milícias de Cuntima. Após o atravessamento do rio de Camjambari e ligeiramente a norte/noroeste da tabanca abandonada de Cabele Uale foram detectadas 8 minas anti pessoal.

O António Carvalho, que comigo completava os Fur Mils do 3.º grupo da CCaç 14, começou a executar o levantamento das malditas. Levantou 4 e quando se preparava para a 5.ª, calcou a puta da mina que não tinha sido detectada. Eram 9.

Um pandemónio, pedido de evacuação à força aérea e um jovem mutilado numa merda duma guerra feita em nome da pátria e em defesa de interesses que extravasam o respeito que a mesma nos merece.
Ainda hoje nos atormenta a questão da mina não detectada.

Posição relativa Cuntima-Tabanca de Cabele Uale
©Infogravura LG&CG - Carta Colina Norte 1:50.000

Passaram 55 anos após esse maldito 2 de março de 1970. O António Carvalho tem uma história que já me contou, de em Cuba ter sido abordado numa praia por um indivíduo que lhe confessou ter sido combatente na Guiné e ter estado nessa altura na nossa zona de Intervenção. Gostaria que ele próprio a contasse aqui no blogue mas sei que talvez seja difícil já que o Carvalho tem receio de ferir susceptibilidades com coisas que possa vir a mencionar, deste e doutros casos. Este deveria ser o local da verdade e do politicamente incorrecto mas... há resistências que prevalecem.

Para o camarada António Manuel Gaspar de Carvalho o meu abraço fraterno e que continue a ser protegido pelos bons irans.

Eduardo Estrela

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Nota do editor

Último post da série de 6 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26467: Efemérides (450): 6 de fevereiro de 1969, o desastre do Cheche: quando os relatos de futebol eram dados em direto, e efusivamente, e a guerra em diferido, resumida a telegráficas notas oficiosas

sábado, 1 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26539: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXII: Mansabá, novembro de 1970, por ocasião da missa de sufrágio por alma do alf mil art MA, Armando Couto, da CART 2372, vitima de mina IN




Foto nº 1 e 1A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > "Cerimónia fúnebre" (possivelmente a missa de sufrágio que o Padre Zé Neves rezou em Mansabá, no dia 11 de outubro de 1970, em memória do malogrado Alf Mil Art MA Armando Couto, da CART 2732, vítima de uma mina IN cinco dias antes, como nos informa o Carlos Vinhal).  O edifício parece ser o do posto administrativo.


Foto nº 2 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Cerimónia fúnebre em homenagem ao Alf Mil Art MA Armando Couto: a presença dos Homens Grandes de Mansabá



Foto nº 3 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá >   Em segundo plano, à esquerda, a casa do chefe de posto; a messe de oficiais ficava em frente ao posto, junto ao edifício do Comando e Secretaria" (segundo a informação do Carlos Vinhal)
 


Foto nº 4 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Putos


Foto nº 5 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Putos que estavam a guardar o gado: vendo a coluna passar...


Foto nº 6 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Entrada, vindo de Bafatá...Ao fundo o quartel, com destaque para o inevitável depósito de água, como nos restantes quartéis (excelente referência para a artilharia do IN)


Foto nº 6A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > O aquartelamento visto da entrada (de quem vinha de Bafatá, a sudeste)


Foto nº 7 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Um poilão centenário, gigante, que morreu de pé (1): vítima de um temporal, acabou por ser cortado mais tarde pela engenharia militar...


Foto nº 7A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Um poilão centenário, gigante, que morreu de pé (2)...



Foto nº 8 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Futura avenida



Foto nº 8A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Moranças


Foto nº 9 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Espaldáo do morteiro 81


Foto nº 9A > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Pormenor do espaldão do morteiro 81 e, ao fundo, à esquerda, o "castelo"



Foto nº 10 > Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > Chegada do mato: um bazuqueiro...


Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá > 1970> Fotos do álbum do Padre José Torres Neves.


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do Ernestino Caniço (zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da Guiné, do padre missionário José Torres Neves):


Data - 01/02/2025, 20:10

Assunto - Fotos do Álbum Padre Zé Neves


Caros amigos, boa noite;

Que a saúde esteja no alto, nosso bem mais precioso.

Anexo mais fotos de Mansabá, do álbum do Padre Neves.

Sobre Mansabá existem mais 20 fotografias que serão enviadas oportunamente.

Grande abraço,

Ernestino Caniço


2. Nota do editor LG:


Continuação da publicação das fotos relativas a Mansabá, do álbum da Guiné do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, tendo sido um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971. Veio recentemente de África, vive agora em Lisboa com a boniuta idade de oitenta e muitos.

 Por Mansabá passaram diversos camaradas nossos, que fazem parte da  Tabanca Grande, o Carlos Vinhal e tantos outros: Francisco Baptista, José Carvalho, Vitor Junqueira, Ernesto Duarte, António Pimentel, António J. Pereira da Costa, Ernestino Caniço, Carlos Pinto, Jorge Picado, Manuel Joaquim, José Rodrigues, etc. (são apenas alguns dos nomes que nos vêm à cabeça)...

Sobre Mansabá temos cerca de 340 referências no nosso blogue. Em 11 de novembro de 1970, foi criado ou reativado o COP 6, com sede em Mansabá, abrangenmdo os subsetores de Mansabá e Olossato. O objetivo era assegurar a continuação e o bom andamento da construção da estrada Mansabá-Farim.

3. Comentários dos nossos camaradas que andaram por estas bandas :

(i) Césdar Dias:

Luis, o Padre Neves visitava todos os destacamentos do sector de Mansoa, os mais próximos era visita de médico, nos outros ficava alguns dias, como Mansabá fez parte do sector de Mansoa ele não deixaria de se preocupar com a guarnição, mas não fomos contemporaneos pois eu estive em Mansabá de novembro de 70 a fevereiro de 71, e não me recordo do Padre Neves ter lá ido nessa data.

Mas o Padre Neves provavelmente esteve em Mansabá antes do sector passar para o COP6.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 às 15:49:00 WET 

(ii) Carlos Vinhal:

Caro César Dias: O Pe. Neves rezou em Mansabá, que me lembre, uma Missa de sufrágio, no dia 11 de outubro de 1970, em memória do malogrado Alf Mil Art MA Armando Couto, da CART 2732, vítima de uma mina IN 5 dias antes.

Como bem referes, Mansabá passou a sede do COP6 em meados de Novembro, deixando a CART 2732 de estar adstrita ao BCAÇ 2885.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 às 17:22:00 WET 


(iii) Carlos Vinhal:

(,,,) Na estrada Mansoa-Mansabá, só em 1973 morreram 18 camaradas, entre metropolitanos e guineenses. Em Janeiro de 1972 morreram 2 camaradas da minha CART 2732.

No meu tempo, entre Mansabá e Farim, rebentou em julho de 1971 uma mina no Bironque, aparecendo outra em dezembro, no mesmo local, detectada pelos meus camaradas da 2732 e levantada por mim.
Fazer colunas entre Mansoa e Farim nunca foi pacífico. (...)


(iv) Carlos Vinhal:

Na foto n.º 9 (*) aparece ao fundo, na estrada de acesso a Mansabá, um gigantesco oiláo, muito velhinho, que um temporal derrubou. Foi preciso vir a Engenharia para o remover. Enquanto lá permaneceu causou imensos transtornos ao tráfego local, principalmente nas horas de ponta.

Nas fotos 12 e 12A parece-me reconhecer o abrigo da Mancarra. Posso estar enganado.

O Castelo era um ponto muito importante na defesa de Mansabá, estava integrado na povoação. Situado na estrada Mansoa-Farim, onde havia uma bifurcação para a alameda de acesso à Porta de Armas do quartel. Estava equipado com um Breda que cobria uma área muito abrangente. Confesso que não me lembro do nome dos nossos militares que lá viviam em permanência.


(v) Ernestino Caniço:

A CCAÇ 2403 a que o meu Pel Rec Daimler 2028 esteve adstrito cerca de 2 meses e era comandada pelo capitão Carreto Maia, antecedeu a CART 2732.

Não era infrequente a deslocação do Padre Neves aos aquartelamentos do setor de Mansoa, nomeadamente a Mansabá.

Pelo menos uma vez, quando eu estava em Mansoa, acompanhei-o a Mansabá tendo-nos deslocado em avioneta Dornier (já relatei esse episódio neste blogue). Terá deixado de ir a Mansabá quando esta passou a ser a sede do COP 6, como referem os amigos César Dias e Carlos Vinhal.

Como diz o Carlos Vinhal,  fazer colunas entre Mansoa e Farim nunca foi pacífico. Eram frequentes as emboscadas entre Cutia e Mansabá na zona da serração (normalmente as colunas eram “protegidas” por uma Daimler do meu pelotão, até não ter peças para a sua manutenção). Por essa razão o pelotão acabou por ser desativado, apesar das minhas tentativas de aquisição das indispensáveis peças.

Durante o alcatroamento da estrada Bironque – Farim (K3) os ataques eram praticamente diários. A estrada Mansabá - Bironque já estava alcatroada.

A estrada Bissau Mansoa era apelidada a linha de Sintra (segundo um capitão meu amigo e ex colega de liceu, já falecido, quando fui comandar a coluna que o escoltou de Bissau a Mansoa, para integrar o BCAL 2885). (mais tarde penso que houve um ataque entre Mansoa e Nhacra).

 
sábado, 11 de janeiro de 2025 às 16:18:00 WET 

 
(Revisão/ fixação de texto, legendagem complementar, edição e numeraçáo das fotos: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26370: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXI: Mansabá, a "avenida", "o castelo"... (legendas precisam-se)

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26156: In Memoriam (517): José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador MA, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); morava em Caneças, Odivelas




José Manuel Amaral Soares (1945-2024)


1. Por intermédio do Humberto Reis, nosso colaborador permanente (e meu vizinho de Alfragide), tive ontem a triste notícia da morte, no passado dia 10, de mais um nosso camarada e amigo, o José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador minas e armadilhas, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)

Soubemos, pela notícia da agência funerária, que a cerimónia fúnebre se realizou no passado dia 11 de novembro, pelas 15:30, tendo sido antecedida de velório e de missa de corpo presente. O corpo saiu depois da capela mortuária da igreja de Caneças, para o cemitério local.

 família enlutada transmitimos ainda, em tempo, os nossos votos de pesar e a nossa solidariedade na dor. O Soares vai ficar aqui também connosco, à sombra do nosso simbólico e fraterno poilão. Queremos honrar a sua memória e lembrarmpo-nos dos bons e maus momentos qiue passámos juntos. Por lapso, ele não passou a figurar na lista alfabética da nossa tertúlia, logo em abril de 2005, como deveria ter acontecido pelas nossas regras. Ingressa agora, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande. com o nº 895.

O Soares residia em Caneças, concelho de Odivelas, e estava doente há já alguns tempos, o que não o impediu de ir ao último convívio da malta de Bambadinca, em Vila Nova de Azeitão, no passado dia 25 de maio, de cadeira de rodas, amparado pela filha (**)

Em Bamdadinca, estivemos juntos cerca de 10/11 meses  (entre julho de 1969 e maio de 1970). As nossas instalações eram comuns, incluindo a messe e o bar de sargentos. 

Muito mais assíduo do que eu nos convívios do pessoal de Bambadinca do nosso tempo, encontrámo-nos também algumas vezes em vários locais do país: por exemplo, em Lisboa, na Casa do Alentejo (2007) (***), em Castro Daire (2009), etc. 




Vila Nogueira de Azeitão > 25 de maio de 2024 > Restaurante Típico Manuela Borges> 28º almoço-convívio do pessoal de Bambadinca de 1968/71 (BCAÇ 2852, CCÇ 12 e outras subunidades). A organização coube ao João Gonçalves Ramos (ex-sold radiotelegrafista, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, jun 69/ mar 71).Sentados, da esquerda para a direita: Fernando Calado (CCS/BCAÇ 2852) (Lisboa), Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12) (Lisboa). Silvino Carvalhal (CCS/BCAÇ 2852) (V.N. Famalicão), e o José Manuel Amaral Soares (CCS/BCAÇ 2852) (Caneças / Odivelas).(**)

(Foto gentilmente cedidas pelo Humberto Reis, tirada por um fotógrafo da organização. Edição e legendagem complementar: Humberto Reis e Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)


Castro Daire > Freguesia de Monteiras > Zona Industrial da Ouvida > Restaurante P/P > 30 de Maio de 2009 > 15º Convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas > O ex-fur mil sapador, MA,  CCS / BCAÇ 2852, José Manuel Amaral Soares.


Foto ( legenda): © Luis Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado, coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos alferes da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71). 

Aqui na foto o Ismael Augusto e o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel mil sapador, ambos da CCS / BCAÇ 2852. O primeiro vivia em Lisboa (trabalhou na RTP como engenheiro e gestor;  e era na altura consultor e docente universitário nas áreas da multimédia). O Soares, por sua vez, vivia em Caneças.(***)

Foto ( legenda): © Luis Graça (2007). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O Zé Manuel Soares foi dos primeiros camaradas a aparecer no blogue. No poste P5, de 20 de abril de 2005 (****), publicámos a sua convocatória para o convívio desse ano, do pessoal de Bambadinca 1968/71 (de que ele era o organizador, como já o tinha sido em anos anteriores):



"Guiné, Bambadinca 68/71. 

"Companheiros: Desejo que estejam de saúde assim com os vossos familiares. Vamos mais uma vez realizar o nosso almoço anual a fim de convivermos, matarmos saudades e ainda relembrarmos aqueles bons e menos bons momentos que cimentavam a nossa amizade; de tal forma que passados 37 anos sentimos ainda um grande prazer de estar juntos, ainda que por breves horas.

"Por tudo isto, camaradas, no próximo dia 11 de junho espero por todos na Baixa de Faro, junto ao Jardim Manuel Bivar, pelas 10.30 horas. 

"Vamos aí fazer a nossa concentração para que, depois das habituais formalidades, possamos seguir para o Cais da Porta Nova e às 11.00 horas embarcar até à Ilha Deserta. Durante o percurso vamos apreciar a bela paisagem da magnífica Ria Formosa. 

"Quando forem 13.00 horas iniciaremos o nosso alomoço, composto apenas por produtos do mar. O preço por pessoa é de 48 euros com viagem de barco incluída.  As crianças dos 5 aos 11 anos pagam 50%, portanto 24 euros.

"Camaradas, a vossa confirmação tem que ser feita até ao dia 1 de junho, impreterivelmente, com cheque cruzado para José Manuel Amaral Soares (...). Para toda ajuda, telemóvel 96 242 80 53".


3. Além destas referências no blogue, há uma do tempo de Bambadinca, que nos é particularmenmte cara pelas fotos de camaradas daquele tempo e dos nossos quartos. As fotos foram-nos enviadas pelo nosso muito querido e saudoso amigo e camarada de Coimbra, o Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (*****)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 >  Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Na primeira fila, veem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto... A foto foi tirada pelo furriel Rei (Cart 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, em 6/2/1969, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico"

O Humberto Reis veio depois completar o nome dos dois camaradas que apareciam em primeiro plano: à direita, o  José Manuel Amaral Soares,  ex-furriel mil sapador de minas e armadilhas, CCS / BCAÇ 2852; e à esquerda, o "ranger" Fernando Jorge da Cruz Oliveira (hoje a viver em Fernão Ferro, Seixal). Quanto ao Carlos de Oliveira Pinto, era  radiomontador  (morou depois no Porto onde se formou em engenharia).




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Aqui, já com o furriel Rei na 1.ª fila",

Comentário de LG: "Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo das "fadas"  que povoavm os seus sonhos ou ajudavam a climatizar os seus pesadelos,,, Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos, lavados, e até a frigorífico elétrico"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > O Carlos Marques Santos em trânsito para Mansambo, depois da licença de férias na metrópole. (*****)


Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Acrescenta o Humberto Reis em relação a esta última foto: "(...) pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS / BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".

Comentário de LG:

 "Um frigorífico (para mais  elétrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! 

"O nosso (o do Humberto, que ele compartilhava com a malta do quarto, como eu e o Tony Levezinho) só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieram render, em finais defevereiro de 1971. 

"E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra, incluindo obuses 14...

"Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

"A sede da CCS / BCAÇ 2852, a que a CCAÇ 2590/CÇAÇ 12 estva adida, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

"Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades) procurava sempre 'desenrascar'   os alferes e furriéis milicianos em trânsito... 

"Mais do que cumplicidade corporativa, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12)." (...)


(*****) Vd. postes de: