Foto (e legenda): © António Carvalho (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Data . Quinta, 1/05/2025, 17:35
Assunto - Vilas Boas
Na sequência do meu encontro de ontem, na Tabanca de Matosinhos, com o Lopes da Régua, o Pinto de Famalicão, o Polónia e o Miranda Lopes do Porto, e o Vilas Boas de Braga, achei de algum interesse mandar-te esta estória que saiu por lá, da boca do próprio (Vilas Boas). Se entenderes podes torná-la pública no nosso blogue.
Carvalho de Mampatá
Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)
O António Carvalho, mais conhecido como Carvalho de Mampatá, foi fur mil enf, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74); integra a Tabanca Grande desde 13/9/2008; tem cerca de referências no blogue; tem publicado algumas das suas histórias na série "Os nossos enfermeiros" (*); é autor do livro de memórias "Um Caminho de Quatro Passos" (Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 218 pp., ISBN: 978-989-731-187-1); tem em mãos uym segundo livro, de ficção histórica, centrado sobre a figura de um "brasileiro de torna-viagem"; mora em Medas, Gondomar, de que foi autarca (presidente da junta de freguesai) há uns largos anos atrás
1. Mensagem de António Carvalho
Data . Quinta, 1/05/2025, 17:35
Assunto - Vilas Boas
Na sequência do meu encontro de ontem, na Tabanca de Matosinhos, com o Lopes da Régua, o Pinto de Famalicão, o Polónia e o Miranda Lopes do Porto, e o Vilas Boas de Braga, achei de algum interesse mandar-te esta estória que saiu por lá, da boca do próprio (Vilas Boas). Se entenderes podes torná-la pública no nosso blogue.
Carvalho de Mampatá
Os nossos enfermeiros (20) > Era preciso ser doido para se ser especialista na arte de montar e desmontar minas e armadilhas... O caso do nosso Vilas Boas
por António Carvalho
Estávamos na estação seca, no ano quente da guerra, em 1973. Havíamos de apoiar a
engenharia militar nos trabalhos de abertura e pavimentação da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, com passagem por Áfia, Mampatá, Ieroiel, Colibuia e Cumbidjã. Connosco, na protecção a esses trabalhos, estiveram ainda a CCaç 18, a Companhia de Cavalaria 8351, grupos do Batalhão 3852 e, mais tarde do 4514.
engenharia militar nos trabalhos de abertura e pavimentação da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, com passagem por Áfia, Mampatá, Ieroiel, Colibuia e Cumbidjã. Connosco, na protecção a esses trabalhos, estiveram ainda a CCaç 18, a Companhia de Cavalaria 8351, grupos do Batalhão 3852 e, mais tarde do 4514.
Quanto mais a estrada se estendia, maior era a área sob a nossa protecção e sob a pressão do IN. Nas extensas áreas terraplanadas fácil era montar minas. Montavam-nas eles e nós também, segundo as estratégias concebidas pelos quadros especializados.
Na minha companhia, CArt 6250 (1972/1974), o mais entendido na arte de as instalar e levantar era o Vilas Boas, fur mil Minas e Armadilhas. Levantava muitas, as que ele próprio instalava e as do IN.
Tornou-se tão célebre nessa arte perigosa de neutralizar e levantar minas que um dia, no Café Bento, numa mesa de pessoal em trânsito por Bissau, se falava num gajo maluco que levantava minas a torto e a direito, lá para os lados de Aldeia Formosa. O que não sabiam os palradores era que o sujeito objecto daquela conversação estava ali mesmo, numa mesa ao lado. Por certo, algo envaidecido por ser o alvo daquele conclave de gente da guerra, levantou-se e puxou dos galões :
− Pois não sabem que é esse gajo ? Sou eu próprio.
Não crendo nele, por terem preconcebido na sua mente, um militar avalentado, nunca um
finguelas de corpo como o que se arvorava em herói perante eles, riram-se de chacota. O
nosso Vilas Boas, natural e residente em Braga, aborrecido por não o tomarem a sério,
levantou-se e foi-se embora, não se esquecendo de os mandar abaixo de Braga.
Já não via o Vilas Boas há 30 anos, mas tive a sorte de o reencontrar no antigo Milho Rei, em
Matosinhos, na quarta-feira , dia 30, onde convivemos com mais quatro combatentes da nossa companhia. O rapaz contou-nos coisas do arco da velha, entre elas vai esta pérola.
Num dado momento, em 1973, o rapaz, saltava de um lado para o outro, numa área
terraplanada onde ele próprio tinha instalado algumas minas, na zona de Colibuia. Perante a
estupefacção e desespero do nosso Capitão, Luis Marcelino, arredado dez ou vinte metros, ele insistia que as minas que ali colocara, tinham detonado todas, não carecendo por isso de ser removidas.
Querendo comprová-lo arremessou a pica para longe e continuou a calcar a terra, aos saltos.
Não crendo nele, por terem preconcebido na sua mente, um militar avalentado, nunca um
finguelas de corpo como o que se arvorava em herói perante eles, riram-se de chacota. O
nosso Vilas Boas, natural e residente em Braga, aborrecido por não o tomarem a sério,
levantou-se e foi-se embora, não se esquecendo de os mandar abaixo de Braga.
Já não via o Vilas Boas há 30 anos, mas tive a sorte de o reencontrar no antigo Milho Rei, em
Matosinhos, na quarta-feira , dia 30, onde convivemos com mais quatro combatentes da nossa companhia. O rapaz contou-nos coisas do arco da velha, entre elas vai esta pérola.
Num dado momento, em 1973, o rapaz, saltava de um lado para o outro, numa área
terraplanada onde ele próprio tinha instalado algumas minas, na zona de Colibuia. Perante a
estupefacção e desespero do nosso Capitão, Luis Marcelino, arredado dez ou vinte metros, ele insistia que as minas que ali colocara, tinham detonado todas, não carecendo por isso de ser removidas.
Querendo comprová-lo arremessou a pica para longe e continuou a calcar a terra, aos saltos.
O nosso Capitão, ajuizado, resolveu, logo que chegou a Mampatá, marcar-lhe uma consulta de psiquiatria, no Hospital Militar de Bissau. E o rapaz lá foi para Bissau passar uns dias merecidos de férias.
Será que aquela dança (perigosa), avistada pelo nosso Capitão, arrepiado, não foi mais do que uma artimanha do Vilas Boas para se livrar das agruras do mato ?
Carvalho de Mampatá
Carvalho de Mampatá
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Nota
Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)
4 comentários:
António, tens razão, era preciso ser-se (ou tornar-se) doido...Nunca é demais falar destes nossos camaradas que "brincavam com a morte"...Um abraço fraterno, Luís
Ele diz que não estava maluco e que estava plenamente cônscio de que elas tinham rebentado (todas). Certo é que nos deu uma imensa felicidade revê-lo em Matosinhos, porque alguns já não o viam há mais de trinta anos. Ele era (é) um excelente camarada.
Prometeu estar presente no próximo convívio, de 12 de Julho, em Ponte de Lima.
Aquando das miniférias, em Bissau, que a consulta de psiquiatria lhe proporcionou, terá sido sondado para, no fim da comissão, trabalhar na Rodésia, como instrutor de minas e armadilhas, a ganhar um saco de dinheiro. Não se consumou o fecho desse eventual contrato, porque se deu o 25 de Abril e, como se sabe, em cadeia (ou quase) o regime rodesiano de minoria branca soçobrou.
Um grande abraço.
Carvalho de Mampatá
Amigo Carvalho, essa “fdp” guerra das minas quando a minha cav 8351, entrou em Colibuia, Cumbijã e Nacobá, infelizmente, não obstante os cuidados redobrados dos nossos minas e armadilhas (dos quais destaco o Furriel Beires), acabou por vitimar dois camaradas nossos.
Contudo, nenhum dos nossos especialistas de minas e armadilhas chegou a esse ponto de “loucura” ou de matreirice!!! O logo de Braga!!!
Um abraço amigo Carvalho, é sempre um prazer ler os teus textos e ainda muito melhor conversar contigo.
Joaquim Costa
Na nossa companhia perdemos um soldado, num rebentamento de uma mina ali para os lados de Colibuia. Quando foi transportado para Bissau, pensávamos que sobreviveria. Infelizmente morreu no hospital de Bissau, decorridos poucos dias. Está sepultado em Barcelos o Albuquerque. Uma curiosidade interessante : um dos convívios anuais da nossa companhia foi realizado em casa de um dos seus irmãos, com a presença (ainda) da sua própria mãe ; no meio do jardim da casa, encostada a uma árvore, a família tinha colocado a fotografia, em tamanho natural, do Albuquerque, extraída em Mampatá.
Um grande abraço.
Carvalho de Mampatá
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