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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27539: Humor de caserna (228): O Natal de Missirá que teve bacalhau ensaboado e, como prenda, o Menino... Braima (Abraão, em fula) (Jorge Cabral, 1944-2021)


Ilustração: IA generativa (ChatGPT / OpenAI), composição orientada pelo editor LG


O Bacalhau ensaboado e os Três Reis Magos

por Jorge Cabral (1944-2021)

Poucos são os Natais de que me lembro. E no entanto, já passei mais de setenta. Mas este, o de Missirá 1970, nunca o  esqueci. 

Tínhamos bacalhau. Tínhamos batatas. Fomos tarde para a mesa, a mesma de todos os dias, engordurada, sem toalha. Chegou o panelão fumegante e começámos.

– Caraças!, o bacalhau sabe a sabão! – disse o Branquinho.

E eu para o cozinheiro Teixeirinha:

– Quanto tempo esteve de molho?

– Esqueci-me, meu Alferes, mas o Pechincha, disse que, na terra dele, costumavam lavá-lo com sabão e que ficava bom.

– Porra, Teixeirinha! Se não fosse Natal, estavas lixado! Assim, vais à cantina buscar cervejas para a malta toda e pagas a meias com o Pechincha…

Batatas, umas latas de conserva e cerveja morna, pois a arca frigorífica tinha explodido na semana anterior, foi a nossa ceia de Natal.

Meia hora depois apareceu o soldado Alfa Baldé aos gritos:

– Alfero! Alfero! Já nasceu! Já nasceu É macho! É macho!

– Eu não te tinha dito?!

A alegria do Alfa era legítima. Já tinha três filhas e duas mulheres, mas há uns meses fora à sua Tabanca buscar outra mulher, herdada do irmão que havia morrido. 

Não trouxera só a viúva, treouxe também uma velha, muito velha, a bisavó, que se chamava Maimuna, mas que o Alfero alcunhou logo de  a "Antepassada". Meia cega passava os dias à porta da morança, dormitando de boca aberta…Nunca falou comigo, mas quando eu passava, sorria mostrando o único dente que conservava:

– Vou ver o teu filho, Alfa! Não lhe vais chamar Alfero Cabral. Vai ser Jesus!
 
– Desculpa, Alfero! Tem que ser Braima!

E fui com o Branquinho e com o Amaral. Só lá estavam mulheres e o Bebé, todo enfaixado. Logo que entrámos, o Amaral, que estava um pouco tocado, exclamou:

– Nós somos os Três Reis Magos e viemos adorar o Menino Braima!

Vai fazer 46 anos! Dos Três Reis Magos, um morreu e os outros dois estão velhos…Como a Maimuna, já parecem "Antepassados"… (*)

Jorge Cabral 

Lisboa, 7/12/2016 (Revisão / fixação de texto, título: LG)


Nota de LG - Já morreram todos, o narrador e as suas personagens, o Cabral, o Branquinho, o Amaral... O que será feito do Menino Braima ? Terá chegado a completar um ano ? E depois os cinco anos ? A ser vivo, terá hoje 55 anos. O que é um feito notável  para um guineense. 



Jorge Cabral (1944-2021)

1. Comentário do editor LG:

O Jorge adorava o Natal. Fingia que não, como alguns de nós, mais cínicos, que dizem não ligam  nada ao Natal...E a prova é  que escreveu várias "estórias cabralianas" sobre o tema... Passadas na Guiné. 

Esta é das últimas, a nº 92,  que me entregou , em dezembro de 2016. Para comemorar, à sua maneira, mais um "Natal na Guiné". 

Passou lá dois Natais, tal como eu (o de 1969 e o de 1970). Um em Fá Mandinga e outro em Missirá (aqui muito mais isolado do mundo, com o rio Geba a separá-lo  da sede do sector L1, Bambadinca, que já era a "civilização". O  seu miserável destacamento era mais a norte, em terra de ninguém.

Foi meu camarada e amigo, meu contemporâneo. Três anos mais velho. Não o deixaram completar o curso de direito. Julgo eu, mas não tenho a certeza. Nunca falámos disso. 

Foi depois advogado e professor universitário de direito penal.

Vai fazer 4 anos, no próximo dia 28 deste mês, que ele deixou a terra que tanto amava. 
Morreu cedo demais. Deixou muitos amigos e amigas, inconsoláveis. A começar pelos seus antigos alunos e sobretudo alunas do curso de serviço social. A quem tratava  carinhosamente por "almas". E que ainda hoje lhe escrevem mensagens de muita saudade e ternura na sua página do Facebook (Jorge Almeida Cabral).

Era da arma de artilharia. Passou por Vendas Novas. Comandou um Pelotão de Caçadores Nativos, o Pel Caç Nat  63... Eram poucos, cerca de 30, a maior parte guineenses. 

Cinco anos depois, de ter escrito esta peça de antologia,  de humor de caserna (que acima reproduzimos), o Jorge morreu em plena pandemia. De cancro. Deixou-nos o coração destroçado.  

Pedi à IA que fizesses uma análise sumária do microcono. Género em que ele era mestre. Microconto pícaro, burlesco, absurdo. Ele fazia a guerra como quem representava uma peça do teatro do absurdo. 

 Pedi, além, disso, á menina  IA, que é "talentosa", para criar uma ilustração, divertida, caricatural, alusiva a esse Natal, algures no mato, na Guiné, em Missirá, em 1970, longe de casa (a 4 mil km de distância)... 

Era o Natal possível de muitos de nós, soldados portugueses. É uma homenagem saudosa ao "alfero Cabral" , como diziam os seus soldados. Mas também ao António Branquinho, nosso grão-tabanqueiro, irmão do Alberto.  Sem esquecer o Amaral, de que também me lembro ainda, mas mais vagamente.


Guiné > Zona leste >r Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç NAT 63 > 1971 > O António Branquinho, simulando tocar um instrumento tradicional,  com uma bajudinha, no meio,  e o Amaral (sentado). 

Segundo a oportuna observação do nosso amigo e consultor permanente para as questões etnolinguísticas, Cherno Baldé, "o instrumento, na lingua fula, chama-se 'Hoddu', é mais antigo e, provavelmente, serviu de inspiração para a criacão do cora dos Mandingas"... Em crioulo, "nhanheiro".


Foto: © António Branquinho / Jorge Cabral (2007). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Análise literário do microconto Missirá, 1970 > A Noite de Natal do Bacalhau Ensaboado

(Pesquisa: LG + IA / Gemini e ChatGPT) (Condensaçáo, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

O texto (e o contexto) partilhado é uma memória vívida e comovente de um Natal passado em Missirá, no ano de 1970, durante a guerra colonial na Guiné. É uma narrativa curtíssima, mas rica em detalhes, humor e humanidade. Em dois parágrafos e meia dúzia de diálogos , o autor cria uma atmosfera natalíica, de densidade humana e literária raríssima. 

O nosso amigo e camarada Jorge Cabral, falecido precocemente, é escritor de primeira água. N o futuro merecerá figurar em qualquer antologia do conto sobre a temática da guerra colonial.

Vejamos alguns dos pontos principais da história e do seu contexto:

(i)  O jantar de Natal "cnsaboado"

Cenário: a ceia de Natal aconteceu numa mesa "engordurada, sem toalha", no destacamento  de Missirá. O narrador (o alferes) e os seus camaradas, metropolitanos, "tugas" (Branquinho, Amaral, Teixeirinha) reuniram-se para o que deveria ser um jantar especial. No Natal, em Portugal, come-se bacalhau, com batatas e "pencas" (no Norte). É uma data festiva. A maior do ano.

Incidente: o prato principal era bacalhau com batatas (supremo luxo, naquelas paragens). No entanto, quando começaram a comer, o Branquinho notou que o bacalhau "sabia a sabão".

Explicação: o cozinheiro, Teixeirinha, confessou que se tinha esquecido do tempo de demolha e que o soldado Pechincha lhe dissera que, na terra dele, costumavam "lavá-lo com sabão" para ficar bom.

Punição: o Alferes, numa mistura de frustração e espírito natalício, mandou o Teixeirinha, como castigo,  ir à cantina buscar cervejas para todos, a pagar a meias com o Pechincha.

Ceia final: a ceia resumiu-se a batatas, latas de conserva e cerveja morna (pois o frigorífico tinha avariado na semana anterior).

(ii) O nascimento do menino  e os Três Reis Magos

Notícia: meia hora após a ceia, o soldado Alfa Baldé, que já tinha três filhas e duas mulheres, e recentemente trouxera uma nova esposa, adotada por levirato (**), mais  a bisavó idosa, Maimuna,  irrompe, a gritar de alegria: "Alfero! Alfero! Já nasceu! Já nasceu! É macho! É macho!"

Batismo proposto: o Alferes, num gesto de afeto e ironia, sugeriu que o bebé se chamasse Jesus, mas o Alfa Baldé, fula e muçulmano, já tinha nome para a criança: seria Braima (na língua fula, é uma variação do nome árabe Ibrahim, o equivalente a Abraão em português).

Visita: o "alfero Cabral", mais os furriéis Branquinho e Amaral, foram ver o recém-nascido.

Momento mágico: ao entrarem, o Amaral, que estava "um pouco tocado" (pela cerveja, mesmo "choca"), proclamou: "Nós somos os Três Reis Magos e viemos adorar o Menino Braima!"

(iii) O passar do tempo

Conclusão: o narrador reflete sobre o tempo que passou  (46 anos,  de 1970 a 2016)  e sobre a inevitabilidade da velhice.

Metáfora: dos "Três Reis Magos", um já tinha morrido (o Amaral) e os outros dois estavam velhos (o Branquinho e o Cabral), comparando-se a si próprios com a bisavó Maimuna (a "Antepassada"), que passava os dias a dormitar. 

É uma história belíssima que contrasta a simplicidade e as dificuldades da vida militar em cenário de guerra  (a mesa suja, o bacalhau estragado, a cerveja morna) com a alegria e o simbolismo do Natal (o nascimento do "Menino Braima" e a visita dos "Três Reis Magos"). 

A memória do narrador é claramente moldada por este momento único e inesperado de humanidade partilhada, naquele lugar onde Cristo nunca parou (e onde nem sequer o Diabo perdeu as botas).

Outros pontos a destacar:

Este microconto é um exemplo  do microconto pícaro e burlesco, atravessado por uma camada de absurdo existencial, que transforma a experiência traumática da guerra colonial numa espécie de teatro do quotidiano, onde o riso não nega a dor, domestica-a.

(iv) A memória selectiva e o Natal como exceção:

O texto começa com uma afirmação fundamental: “Poucos são os Natais de que me lembro.”

A memória aqui não é cronológica, é afetiva. Entre dezenas de anos e vários Natais, só um se fixa, o de Missirá, 1970. O Natal surge como ritual deslocado, arrancado do seu cenário simbólico europeu e transplantado para o mato guineense. É um Natal “possível”, não ideal.

(v) O bacalhau: símbolo nacional convertido em farsa

O bacalhau, pilar do Natal português, obrigatório à mesa nesse dia mágico, aparece ensaboado, literalmente contaminado pelo erro, pela improvisação, pelo desenrascanço,  pela santa  ignorância ( bem-intencionada, apesar de tudo).

O episódio é magistral porque:

  • subverte o sagrado produto gastronómico nacional (que é o bacalhau);

  • introduz o humor de caserna (o castigo não é a "prisão", é cerveja, paga a meias pelo desastrado cozinheiro Teixeirinhz e o "chico-esperto" do soldado Pechincha):

  • revela a cadeia de mal-entendidos culturais (o Pechincha, a tradição “da terra dele”, a de ensaboiar o bacalhau em vez de o demolhar em várias águas e vários dias).

Aqui, o riso nasce do choque entre vários mundos, mas nunca há desprezo, humilhação,  apenas risota, humanidade.

(vi) A autoridade do “Alfero”: justa, teatral, cúmplice

O narrador constrói a figura do alferes Cabral como:

  • autoridade funcional;

  • figura quase teatral:

  • mediador cultural.

O castigo é simbólico e coletivo. Não humilha, integra. Isto revela o comando humanizado, típico de quem percebe que naquela guerra ninguém está “inteiro” e tem "toda a razão".

(vii) O nascimento: epifania no meio do caos

O nascimento do filho do soldado guineense Alfa Baldé é o centro simbólico do conto. É um Natal sem presépio formal, sem luzes, sem enfeites, sem artifícios;

  • um parto real, no mato, natural, sem parteira (como terá sido o de Jesus na gruta de Belém);

  • um menino que nasce enquanto outros matam ou morrem;

  • um menino que tem de ser "Braima"... e não o "Jesus" dos cristãos ou o "Alfero Cabral", comandante daquela tropa matrapilha.

A figura da Maimuna / “Antepassada” é absolutamente extraordinária:

  • guardiã do tempo;

  • elo entre gerações;

  • quase uma personagem mítica

O sorriso com um único dente é um recurso literário de enorme economia e força.

(viii) Os Três Reis Magos: embriaguez, teatro e revelação

Quando o Amaral diz: “Nós somos os Três Reis Magos e viemos adorar o Menino Braima!”

o microconto atinge o seu auge. Aqui acontece tudo ao mesmo tempo:

  • o Natal cristão é reencenado de forma profana e ecuménica;

  • Jesus é um menino pretinho:

  • a guerra transforma-se em farsa absurda;

  • os soldados são atores improvisados num palco de todo  improvável.

É o teatro do absurdo em plena guerra, com a gente gosta de dizer das "estórias cabralianas" (de que o "alfero Cabral" publicou, no nosso blogue, mais de 9 dezenas).

(ix) O tempo final: melancolia sem sentimentalismo

O último parágrafo é devastador na sua contenção: “Dos Três Reis Magos, um morreu e os outros dois estão velhos…”. Aliás, cinco anos depois, morreria o narrador, e em 2023 o Branquinho. O Teixeirinha e o Pechincha não sabemos se são nomes reais.

Sem lamento, sem retórica. Apenas o tempo. A guerra passou, mas deixou corpos gastos e memórias resistentes, como a de todos nós. 

 A comparação final com a Maimuna fecha o círculo: todos acabamos “antepassados”. Todos seremos amanhã antepassados, quando os nossos filhos e netos se lembrarem de nós, se um dia forem à Guiné, em viagem de turismo: "Os nossos antepassados, que andaram por estes matos, rios e bolanhas..."

(x) Conclusão

Este microconto é um ato de resistência pela memória, um riso contra a desumanização,  uma homenagem implícita aos soldados anónimos que combateram naquela guerra absurda, um Natal sem redenção, mas com dignidade e humanidade.

O Jorge Cabral escrevia como alguém queria sobreviver contando histórias. e isso é talvez a forma mais honesta de literatura de guerra. N a realidade, eu sempre o oconheci como o mais "paisano" dos combatentes. Ele que era filho de militares e foi até "menino da Luz", seguramente contra a sua vontade.


Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I. Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp.  

Tinha um II volume, praticamente pronto para ser publicado.  
A morte  emboscou-o.

________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 11 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27518: Humor de caserna (227): Ainda o Pechincha, que o Hélder Sousa comnheceu em Bissaiu... "P*rra, que este gajo ainda está mais apanhado do que eu!"

(**) Levirato: o costume, observado entre alguns povos, nomeadamente semitas, que obriga um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quando este não deixa descendência masculina, sendo que o filho deste casamento é considerado descendente do morto. Este costume é mencionado no Antigo Testamento como uma das leis de Moisés. O vocábulo deriva da palavra "levir", que em latim significa "cunhado". Fonte: Wikipedia.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27457: Humor de caserna (223): Contado ninguém acredita: o fur mil Pina que ficou com o dedo mindinho entalado no tapa-chamas da G3 (Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Coamndo e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  c. 1970 >  David Payne, o médico referido nesta história,é o mais alto, no meio, de óculos, na na segunda, de pé. O Beja Santos é da ponta do çlado esquerdo, seguido do major Cunha Ribeiro (2º comandante do BCAÇ 2852);  à esquerda do m+edico, o cap inf Carlos Alberto Maqcahdo de Brito (hoje cor ref), comandante da CCAÇ 12, e ainda o alf mil at int Abel Maria Rodrigues, também da CCAÇ 12.

Na primeira fila, da esquerda para a direita, um militar que não conseguimos identificar, seguidos de três alf mil, José António G. Rodrigues , António Carlão, ambos da CCAÇ 12,  e  Isamel Augusto (CCS).  

Tratava-se da a equipa de futebol de oficiais de Bambadinca que acabara de jogar contra uma equipa de sargentos. Cunha Ribeiro, david Payne, José Antónioo Rodrigues e António Carlão já náo est´~ao entre os vivos.
 
Foto (e legenda): © João Pedro Cunha Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Em novembro de 1969, o alf mil Mário Beja Santos, em fim de comissão, deixa Missirá e é colocado em Bambadinca, com o seu Pel Caç Nat 52. Toda a gente esperava ter direito a umas merecidas férias. Mas  foi puro engano.  A 20 desse mès,o Beja santos começou logo "como oficial de dia" e à noite foi "montar uma emboscada para a estrada do Xime" (*)

No dia seguinte dava à conta à Cristina  [Allen, 1943-2021] , a sua noiva, das peripéricas rocambolescas dessa noite. São daquelas histórias passadas na Guiné que, contadas, ninguém acredita. 

Este episódio. que me passou na  altura completamemente despercebido, merece agora, ao fim de quase 18 anos (!), figurar na nossa série "Humor de caserna" (**)...Felizmente que tudo acabou em bem para o azarado fur mil Pina, do Pel Caç Nat 52 (e posteriormente do Pel Caç Nat 63) (***)


O dedo mindinho do furriel Pina entalado no tapa-chamas da G3

por Mário Beja Santos


Tu não vais acreditar neste episódio burlesco: saímos depois do jantar para uma emboscada decidida pelo major de Operações, a caminho do Udunduma, em ataque anterior a Bambadinca foi aqui que os rebeldes puseram os canhões sem recuo e morteiros.

Estava uma noite serena, saí com duas secções, acompanhou-me o Pina, o Pires tem agora trabalho numa terra aqui perto chamada Sinchã Mamajai. Teríamos feito um quilómetro por um caminho saibroso, e subitamente um grito medonho atravessou a noite, logo me apercebi que não era nem emboscada nem mina. 

Fui ao local da gritaria e dei com o Pina estatelado no chão a gritar com um dedo mínimo dentro do cano da espingarda. Tentei tirar-lhe o dedo, impossível. Ele escorregara no saibro e acontecera aquela coisa impensável.

 Imagina o que é regressar a Bambadinca com o Pina lívido, um soldado a segurar-lhe a arma, ele a gemer com o seu dedo esfanicado lá dentro. À cautela, retirei-lhe o carregador para evitar acidentes. 

Fomos para a enfermaria, ele sentado com a arma em cima da marquesa, com o braço estendido.

 

Tapa-chamas da G3;
um buraco onde nunca se devia
meter o deddo


O David   [Payne, alf mil médico,   já falecido] ficou embasbacado, o dedo ia inchando, todos os esforços para lhe retirar o dedo resultavam infrutíferos. Em dado momento, o David, com a testa perlada de suor, chegou a admitir a hipótese de lhe cortar o dedo e aí o Pina gritou que não, preferia ter todas as dores necessárias até se encontrar uma solução para ficar com o dedo inteiro. 

O Reis sapador foi buscar varetas, começou a esgravatar à volta do tapa-chamas, o Pina deu um urro, tal era o sofrimento, o Reis enfureceu-se e enfiou-lhe um tabefe, não sei que é que ele se julgava, se feiticeiro ou a desmontar uma mina, pedi ao David para lhe dar uma injecção ao Pina que o deixasse a dormir... 

Lembrei-me então que tínhamos desempanadores e pedi para falar com o   [1º cabo mec auto João de Matos Alexandre. O primeiro cabo desempanador Alexandre conhecia perfeitamente Missirá, dizendo que sempre que a visitara fora recebido à morteirada. Foi ele quem conseguiu desatarraxar o tapa-chamas, o dedo tinha a falangeta quebrada, com fractura exposta, lá se deu um calmante ao Pina (que foi na manhã seguinte evacuado para Bissau) e eu regressei para os mosquitos na emboscada.

(Revisão / fixação de texto: LG)

_____________


(**) Último poste da série : 23 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27454: Humor de caserna (222): A chico-espertice às vezes também dava... m*rda (José António Sousa, 1949-2025 / António Carvalho)

(***) Segundo o Beja Sanyos, o fur mil Pina, infeliz protagonista desta história, também integrou, posteriormente, o Pel Caç Nat 63, na altura comandado pelo alf mil  Jorge Cabral (1943-2021). Náo consigo descobrir o seu nome completo. Do meu tempo, lembro-me dos fur mil António Branquinho e do Amaral. O seu nome não consta da História nem do BCAÇ 2852 (1968/70) nem do BART 2917 (1970/72).

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)






Foto nº 1


Foto nº 2



Foto nº 3


Legendas:

Fotos nºs 1 e 2 > Lisboa > Belém > 10 de junho de 2016 > O ex-alf mil art  Jorge Almeida Cabral, antigo cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) com uma jovem militar da Marinha (foto nº 1);  e com Maldu Jaló, natural de Catió, e que era do tempo do Mário Fitas, tendo feito  parte da milícia do João Bacar Jaló (foto nº 2, aqui mais a esposa) (Fotos do Mário Fitas, ex-fur mil inf OR / Ranger, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67).

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Jovem fula ou mandinga vestido o seu grand boubou, e protegendo-se da canícula por intermédio do seu inseparável chapéu automático (dois luxos que chegavam à tabancas do interior, graças ao comércio dos djilas do tchon francês e ao patacon da guerra).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil OE/ Ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I. 
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp.  Tinha um II volume, praticamente pronto para ser publicado. A morte surpreendeu-o. A "estória" que reproduzimos não vem no livro... Foi publicada no blogue há 19 anos atrás. Merece ser conhecida dos nossos "periquitos".


1. Um dia o "alfero Cabral", o Jorge Cabral (Lisboa, 1943 - Cascais, 2021), sonhou que podia ser Cabral entre os Cabrais,  fula entre os fulas, mandinga entre os mandingas, guinéu entre os guinéus, homem entre os homens... e até louco entre os loucos!

Foi de tudo um pouco, o mais paisano dos militares que eu conheci na Guiné. Filho de militar e aluno  do Colégio Militar, disse-me em vida que "todos nós tinhamos direito a um pouco de loucura e de humanidade", o que implicava pôrmo-nos na pele do outro; e ele fazia isso como ninguém... 

Morreu cedo demais, aos 78 anos. Lembrá-lo aqui, no blogue que ele tanto amava, é um dever dos seus amigos e camaradas da Guiné.




Má chegada, pior partida... com o meu grande "bubu" azul e sempre com ameaça de porrada...

por  Jorge Cabral (1943-2021)



Com destino à Guerra, viajei no 
Alfredo da Silva, quase um cacilheiro, durante doze dias. Em primeira classe, sete oficiais e uma dona puta em pré-reforma habitavam um ambiente de opereta, jantando de gravata, com a estafada dama na mesa do comando. Depois havia a valsa… Cheirava a mofo, a decadência, ao fim do Império…

Cheguei à noite, sentindo logo a África, no calor, na cor, na humidade. A bordo subiram militares, e o putativo marido da senhora, cuja profissão nunca descobri. 

Um sargento gago carimbou-me a guia de marcha e assinalou:

− Pel Caç Nat 63. 

Bem lhe perguntei o significado da sigla e para onde ia, mas não sabia ou não quis dizer.

Desembarcado, apanhei uma boleia num camião militar carregado de batatas, que me deixou no "Biafra", depósito de alferes em trânsito por Bissau.

Talvez para impressionarem o periquito, todos se mostraram totalmente apanhados. Quanto ao meu destino foram animadores

 É,  pá, vais para um pelotão de nharros. É só embrulhar. Estás lixado.

Apresentado no Quartel-General, ordenaram-me a partida para o Xime. Tinha que tomar um barco no dia seguinte, às tantas horas.

 Regressado ao "Biafra", aconselharam-me a não ir:

 − Recusa-te. Os barcos são sempre atacados.
 
Confiante na experiência dos velhinhos, falhei o embarque tendo voltado ao QG. Aí um capitão barrigudo passou-me a um major nervoso, que me remeteu para um tenente-coronel que, quase apoplético, me descompôs:

 
− Começa mal! Está a pedir uma porrada. As ordens são para cumprir. Desapareça da minha vista!

Desapareci, e o certo é que fui de avião para Bafatá.

Muitos dias, muitos meses, mais de dois anos passaram e eu continuei no mato. (As cunhas funcionavam na perfeição. Chegados a Bissau, em rendição individual, podiam ser encaixados, sem grande escândalo, em qualquer Repartição.) 

Tinha porém de ser rendido, e a solução foi encontrada a nível de Batalhão, substituindo-me por um alferes da Companhia de Mansambo.

Entretanto o meu Pelotão foi para a ponte do rio Undunduma e a Missirá voltou o Pel Caç Nat 52, tendo eu permanecido mais três semanas e entrado ainda numa operação, na qual morreram dois soldados africanos que, indo a fumar o mesmo cigarro, accionaram uma mina antipessoal reforçada.

Finalmente, e após uns dias em Bambadinca, embarquei no Xime com destino a Bissau. Recusara à chegada, mas afinal regressava de barco… e ao "Biafra". Agora eu era o velhinho e o apanhado.

No dia da partida, eu que cismara aparecer em Lisboa vestido com o bubu azul, bordado a ouro, que comprara a um djila senegalês em Missirá, resolvera mandar encurtar a vestimenta a um costureiro de rua. Enquanto esperava, passou por mim um furriel conhecido, que me alertou: o voo havia sido antecipado. 

À pressa, pego no fato, meto-me num táxi e vou para Bissalanca (toda a minha bagagem, fotografias, o meu diário, os versos que escrevi, ficaram no "Biafra").

Chegado ao aeroporto enverguei o meu traje, causando o espanto e o riso dos passageiros, militares. Eis que sou cercado por um coronel e dois majores, os quais em coro me determinam:

– Não pode ir assim, é uma vergonha, lembre-se que é um oficial....E blá, blá, blá…

Tento contestar:

− Se um fula pode embarcar com um fato europeu, porque não posso eu ir vestido à fula?

Nada feito, se persistir não vou e levarei uma porrada. Obrigado a obedecer, lá entro no avião, no qual segue também o coronel, o que impediu de me fardar a bordo.

Teimoso,  porém, mal chego a Lisboa, envergo o grand boubou e é com ele vestido que abraço a família. 

Franze o sobrolho o meu pai que me diz que o Carnaval ainda não chegara, que tivesse juízo e não o fizesse passar vergonhas… Quanto à minha mãe, chorava, talvez de alegria, mas muito mais de tristeza. Coitado do filho…enlouquecera!

Num destes dias vou de novo vestir o meu grand boubou. Pode ser que tenha conquistado o direito a um pouco de loucura. Talvez


(Revisão / fixação de tecto, título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26677: Humor de caserna (198): Carlos Fabião, um oficial duplamente superior, grandalhão e brincalhão (António Novais, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26274: Humor de caserna (87): A virilidade lusitana: das bagas do Sambaro ao estoicismo do Sousa (Jorge Cabral, 1944-2021)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71 >  O 1º cabo Monteiro (já falecido): "com um pequenino Alfero Cabral, às costas", legendou o cmdt do Pel Caç Nat 63, com graça ... A par da tragédia, a guerra da Guiné foi também um peça do Teatro do Absurdo... Jorge Cabral (1944-2021) tinha o grande talento e o especial mérito de nos mostrar, com um toque de genial humor castrense, esse outro lado da guerra, que era o nosso quotidiano de gente "saudavelmente louca", que se não fora esse "grãozinho de loucura" não teria vencido (leia-se: sobrevivido).

(Foto gentilmente cedida, pelo Jorge Cabral, em 2006, sem menção de autor, e que passou a ser parte do arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

 
1. Chega esta altura do Natal e eu sinto uma doce saudade de alguns amigos e camaradas que foram ficando pela picada da vida. Um deles é o "alfero Cabral", o Jorge Cabral (1944-2021), um dos "históricos" do nosso blogue... 

Já lá ficou ele, em plena pandemia, "sentado no marco quilométrico nº 77 da nossa picada da vida", cada vez mais cheia de minas e armadilhas...Sinto que tenho que ir reler algumas das suas "estórias cabralianas"... Para experimentar estar mais próximo dele, do seu legado, da sua irreverência mas também da sua empatia, da sua capacidade de compreensão e compaixão do outro...

Esta "estória" foi publicada há 18 anos, na quadra natalícia (*).. Talvez seja pouco ... natalícia mas é divertida, irónica, desconcertante. E a gente precisa de rir-se como só ele sabia pôr-nos a rir, a sorrir,  a pensar, com a sua graça brejeira e a sua ironia desarmante, desconcertante    (ninguém como ele para ser capaz de  "avacalhar" o sistema, a tropa, a guerra..., mas sem ódio, sem insultos, sem grosseria) .

Onde quer estejas,  Jorge, tu que foste noutra incarnação alferes miliciano de artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, região de Bafatá, Zona Leste, 1969/71), continua a inspirar-nos e dar-nos ânimo para podermos continuar a contar e partilhar as nossas estórias da Guiné, umas tristes, outras mais divertidas, umas mais safadas outras mais provocatórias, umas mais estúpidas outras mais inteligentes...

Bem sabes que nunca invejei (e tu também não...) o lugar de comandante de coisa nenhuma, no TO da Guiné, e muito menos deste tipo de destacamentos (como o de Missirá), isolados, na linha de fronteira dos setores, na terra de ninguém, guarnecido por pelotões de caçadores nativos, mais uns tantos milícias com a sua numerosa família às costas, além dos cães e dos cabritos   e das galinhas (nunca vi gatos) 
,  e mais meia dúzia de graduados (1 alferes, 2 ou 3 furriéis, outros tantos cabos e especialistas de origem metropolitana), à beira do abismo, esquecidos e abandonados, sem eletricidade, sem bebidas, sem frescos, sem comida decente, sem artilharia... Enfim, entregues à sorte e ao azar...  E, ainda por cima, sem direito a um lugar na História. (No Arquivo Histórico-Militar, não há sequer  história destas subunidades, porque ninguém as escreveu.)

Amigos e camaradas da Guiné: não vejam nestas "estórias cabralianas" qualquer propósito de ofender a secular e nobre instituição militar, mas tão apenas o relato das manifestações de uma saudável loucura, própria dos seres humanos que são postos à prova em situações-limite...

Contrariamente a qualquer bestiário da guerra, as estórias cabralianas são um hino à idiossincrasia lusitana, à plasticidade comportamental dos nossos soldados, à enorme capacidade de resistência, de sobrevivência, de imaginação, de adaptação e de "desenrascanço" da nossa gente...

Eu sei que as estórias do Jorge têm fãs e detratores... Eu, que estou do lado dos fãs, tiro-lhe o quico, bato-lhe a pala, desfaço-me em adjetivos e louvores... Infelizmente este filão esgotou-se: uma doença crónica de evolução prolongada  cortou-lhe o fio da vida, o húmus do humor, a torrente da escrita,  já no final de 2021...

Fica a sua memória,  a sua verve, a sua capacidade de grande observador da natureza humana, o seu talento literário: ninguém como ele sabia, com duas pinceladas, criar uma personagem (um "boneco") e mostrar aquilo que é o único na espécie humana que é a compaixão (no seu sentido etimológico, cum + passio > sofrimento comum, comunidade de sentimentos, partilha da dor) e a capacidade de rir-se  de si próprio quando a gente se olha ao espelho... no outro.

O Jorge, que enquanto estudante universitário tinha devorado o Ionesco e o teatro do absurdo, não se colocava na situação, confortável, do marionetista, manipulando as suas criaturas... Ele fazia parte, de alma e coração, da peça e do cenário, e do "makng of" do seu teatro do absurdo...

Caro leitor: que não sejam precisas as bagas do Sambaro no teu/nosso sapatinho para nos pormos a sorrir, a pensar,  a ter esperança, saúde, boa disposição, amor, amizade, liberdade,  paz... E, já agora,  Bom Ano Novo, saudemo-lo, a ele que aí vem, cheio de promessas, de ilusões, de oportunidades e de ameaças como todos os Novos Anos que já vivemos... 


O "alfero Cabral", 
em carne e osso
A virilidade lusitana: das bagas do Sambaro ao estoicismo do Sousa

por Jorge Cabral
 (1944-2021)


Amigo Luís, cá continuo relembrando a vida nos Destacamentos, com a ajuda dos Amigos que me acompanhavam, e que me contam extraordinárias peripécias, algumas das quais eu já havia esquecido.

Num Destacamento isolado como era Missirá, a forma de estar e de viver dependia muito da personalidade do respectivo Comandante, suas capacidades, limitações e peculiaridades. Até porque as funções que lhe eram atribuídas, excediam a mera chefia militar. Médico, Psicólogo, Juiz, Conselheiro, superentendia em todos os assuntos, e do seu carácter podia resultar um férreo ambiente prisional, ou uma agradável comunidade de afectos, como creio ter sido o meu caso.

Claro que estávamos todos apanhados, mas numa loucura amena e saudável, que nos divertia e  
nos ajudava a mascarar a tristíssima rotina.

Todos, metropolitanos e africanos, alinhavam  n imaginação do alferes  que cada dia surgia com uma nova ideia. É por isso que devo ter material para centenas de estórias, desde a comemoração de São Mamadu, até o ter colocado as mulheres de sentinela…

As decisões mais difíceis aconteciam com as evacuações por doença, principalmente porque o meu enfermeiro, o maqueiro Alpiarça, quando não estava bêbado, para lá caminhava…
A estória que hoje remeto, descreve, precisamente, uma situação em que tive muitas dúvidas. Felizmente, o Sousa recuperou…

Bom Natal, Amigo! Grande Abraço!
Jorge (*)
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Aos domingos vestíamo-nos à paisana e dávamos longos passeios à volta da parada, imaginando praças, avenidas, ruas, adros de igreja e até estações de comboio. Depois entrávamos na Cantina e invariavelmente pedíamos:

− Um fino e uns  tremoços!!!

Não havendo tremoços, triplicávamos a cerveja, não sem o Pechirra, o nosso motorista, explicar a importância do acompanhamento em falta, o qual segundo ele possuía um monumental efeito afrodisíaco, pois…  E lá contava uma delirante estória das suas proezas sexuais. Só os soldados africanos e algum adido metropolitano periquito, ainda o escutavam, embora o seu calão portuense fosse dificilmente traduzível.

Uma vez o bazuqueiro Sambaro anunciou que possuía umas bagas suma (**) tremoço,  tão boas que um homem podia estar toda a noite… Achei piada. À basófia tripeira respondia a basófia fula… Afinal as diferenças não eram assim tão grandes…

O certo é que o Sambaro foi buscar as tais bagas, e calhou ao Sousa experimentar. Ao fim de uma hora resultou. Passadas quatro horas continuava a resultar. Oito horas depois o Sousa uivava de dor, e suplicava-me a sua evacuação. Que fazer?

Reuni com os furriéis. Podia eu lá evacuar um soldado com aquele motivo ?! Que escreveria na mensagem? Ataque de tes*o…? 

Pragmático,  o Amaral sentenciava:

− O que sobe, desce. 

E o Branquinho acrescentava:

− Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.

E quanto ao Pires inventava:

 − A curiosidade não matou, inchou o gato.

Tomada a decisão, o pobre do Sousa aguentou três dias, como um herói.

Quando terminei a comissão, deixei-lhe proposto um louvor “porque durante setenta e duas horas suportou com estoicismo a dor resultante de fogo interno, devendo ser apontado como exemplo da virilidade lusitana"...

Parece que o Polidoro (***) não concordou. Enfim, injustiças…

Jorge Cabral

( Revisão / fixação de texto, títulos, itálicos e negritos, notas, título: LG)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1369: Estórias cabralianas (16): As bagas afrodisíacas do Sambaro e o estoicismo do Sousa

(**) Igual a, como (em crioulo)

(***) Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Substituiu o tenente-coronel Magalhães Filipe.

(****) Último poste da série > 12 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26260: Humor de caserna (86): O ”turra” e a boina verde da enfermeira paraquedista (Maria Arminda, ex-ten graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25688: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo da BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte III


BART 2917 (Bambadinca, junho 1970/março 1972)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 >  Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas (este monumento foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau). O Sousa de Castro ( ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, jan 72/ abr 74) mandou-nos, em 12 de novembro de 2007,   esta foto do monumento, da autoria do Júlio Campos, ex-fur mil sapador, do  BART 2917.

Mortos (1970/72): BART 2917: Alf Mil Ribeiro | Fur Mil Quaresma | Fur Mil Cunha | 1º Cabo Ribeiro | Sol F Soares | Sol Monteiro | Sol Oliveira | Sol P. Almeida || CCAÇ 12: Sol Soares | Sol U. Sissé | Sol C. Baldé || Pel Caç Nat 52: 2º Cabo Nhaga || Pel Caç Nat 54: 1º Cabo Menoita | Sol S Camará | Sol Adip Jop | Sol S Embaló | Sol S Sanhá | Sol S Indjai || Pel Caç Nat 63: Sol D Candé || Pel Mil 201: Sarg Mil C Candé | Sol M Camará | Sol Iaia Jau

Guiné >Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > Aspetos banais da vida do dia a dia do destacamento,com o de cortar lenha com uma motosserra (um pequeno luxo)... Na foto, o último cmdt do Pelotão, extinto em agosto de 1974.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Enxalé > CCAÇ 1439 (1965/67) e Pel Caç Nat 52 (1966/74) > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52,o alf mil Henrique Matos: "Primeira lição no rio Geba, eu, periquito, com os velhinhos da CCAÇ 1439 no Sintex, que até tinha um pequeno motor fora de borda e base para metralhadora".


Foto (e legenda): © Henrique Matos (2007). Todos os direitos [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fonte: Adapt. de História da Unidade - BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) Cópia gentilmente fornecida pelo Benjamim Durães.


I.  Baixas sofridas pelos Pel Caç Nat 52, 54 e 63, no Setor L1, ao tempo do BART 2917 (maio 70 / março 72), bem como punições e louvores


(i)  Mortos em combate 

  • Pel Caç Nat 52

- 2º Cabo Atirador Nhaga Macque 82068762 | Morto em 28/08/71 numa Acção de Patrulhamento em Finete | Sepultado em Enxeia.

  • Pel Caç Nat 54

- Soldado Atirador Suntum Camará 82047766 | Morto em 05/05/71 na Operação  Triângulo Vermelho | Sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador Adi Jop 82130863 | Morto em 05/05/71 na Operação Triângulo Vermelho | Sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador Cherno Sirá Sanhá 82088464 | Morto em 22/06/71 na Acção Galhito |  Sepultado em Bedanda.

- Soldado Atirador Sambaro Embaló 82052068 | Morto em 22/06/71 na Acção Galhito” | Sepultado em Farim

(ii) Feridos em combate

  • Pel Caç Nat 52

- Soldado Atirador Tunca Seidi 82063665

- Soldado Atirador Jobo Baldé  82068868

  • Pel Caç Nat 54

- Furriel Mil Atirador José  A L Pires 10684269

- Soldado Atirador António Maninho 82049167

- Soldado Atirador Sherifo Baldé 82056966

  • Pel Caç Nat 63

- 1º Cabo Atirador Sanassi Baldé 82052865

- Soldado Atirador Samaro Jau  82069865

- Soldado Atirador Guiro Jau  82064067

- Soldado Atirador Nianda Embaló  82035566


(iii) Mortos por outras causas 

  • Pel Caç Nat 54

- 1º Cabo Atirador Fernando Vasco Menoita 00762170 | Morto (Acidente) em 01/07/71 | Sepultado na Guarda.
  • Pel Caç Nat 63
- Soldado Atirador Jango Candé | Morto (Doença) em 15/03/71 | Sepultado em Bambadinca.

 
(iv) Louvores e Punições  (vd. quadro acima)
 
De acordo com o quadro acima reproduzido, o Pel Caç Nat 54 foi, comparativamente  com os outros dois (Pel Caç Nat 52 e 63),  o que teve mais baixas, mais punições e menos louvores.  Por razões óbvias, não queremos individualizar nem uns (os louvores) nem outras (as punições).

Sobre as punições,  há que referir que o Pel Caç Nat 54 teve tantas quantas as sofridas pelos outros Pel Caç Nat juntos : houve um militar com 3 punições, ao longo desde período (Pel Caç Nat 52) e outro  com 4 (Pel Caç Nat 54), o que naturalmente afeta o número total de casos. 

Somando os dias (de detenção, detenção agravada, prisão disciplinar e prisão disciplinar agravada), o Pel Caç Nat 54 sofreu tantos dias de punição (n=119) como os outros Pel Caç Nat juntos (n=118): 74, o Pel Caç Nat 52 e 44 o Pel Caç Nat 63... 

Na maior dos casos, as punições foram dadas pelo cmdt do BART 2917. Se acrescentarmos a estas subunidades, a CCAÇ 12, que também era composta por praças do recrutamento local, valeria a pena, com tempo e vagar, verificar  se  o comando deste batalhão teve ou não mão  pesada para as "africanas"... que eram pau para a toda a obra.

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domingo, 23 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25677: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo da BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte II

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O ten cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o alf médico Vilar e o alf mil Paulo Santiago, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho) e depois instrutor de milícias (no CIM de Bambadinca)  com um crocodilo juvenil  do rio Geba... 

Foto tirada em novembro ou dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. 

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijões, a partir do "planalto" do Mato Cão.  Foto do último cmdt do Pelotão, alf mil  Luís Mourato Oliveira.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em 1 de julho de 1971, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, junho 1970/maio 1972), era a seguinte dispositivo das NT no Sector L1 (Zona Leste), no que diz respeito aos Pel Caç Nat 52, 54 e 63

  • Pel Caç Nat 52 >  Fá Mandinga;
  • Pel Caç Nat 54 > Bambadinca;
  • Pel Caç Nat 63 > Missirá (reforçado por 1 Pel Mil 202 / CMil 1) e a seguir Mato Cão

Maio 71

Op Triângulo Vermelho - 4 e 5mai71

Na região de Enxalé-Cuor, sector L1, foi feito um patrulhamento por forças de 3 GComb/CArt 2715 (Xime), CCaç 12 (Bambadinca), CCP 123 (Bissalanca) e 1 Pel Caç 54 (Bambadinca). 

O lN flagelou as NT, causando 2 mortos e 9 feridos e sofrendo 4 mortos.

Destruídas 12 tabancas, 20 moranças e meios de vida. Capturado 1 elemento armado com esp "Mauser" e documentos diversos.

Agosto 71

28ago71

- Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos flagelou com LROCK, RPG-2 e ARMAUTLIG, de Mato Cão, o barco “Manuel Barbosa” causando 8 feridos graves, e 9 feridos ligeiros.

- Pelas 14,50 horas uma Secção do Pel Caç Nat 52 iniciou a progressão em meio auto com destino a Finete onde se juntaria uma Secção do Pel Mil  201.

- Às 15,10 horas, em [BAMBADINCA 4C2-84], a viatura Unimog 411 de matrícula “ME-18-93” accionou uma mina A/P reforçada, com a roda da frente do lado direito, ficando completamente destruída e provocando ferimentos na quase totalidade dos elementos das NT que nela seguiam, nomeadamente no 2º cabo atirador Nhaga Maque do Pel Caç Nat  52 que veio mais tarde a falecer em Bambadinca como consequência dos ferimentos recebidos.

- Após o accionamento da mina o sold cond Manuel Castro Ribeiro Silva   da CCS/BART 2917 mas destacado no Pel Caç Nat 52, assumiu o Comando da Secção, instalando os seus companheiros e montando um dispositivo de segurança à viatura com os elementos mais válidos após o que se deslocou a Bambadinca, transportando aos ombros um dos feridos, a fim de avisar as NT sedeadas neste aquartelamento.

- Imediatamente se deslocou de Bambadinca uma Secção da CCAÇ 12 (acompanhada de um enfermeiro e macas) que se encarregou do transporte dos feridos de Finete, para onde as milícias desta tabanca, que imediatamente acorreram ao local do acionamento da mina os tinham já transportado, para Bambadinca.

- Num reconhecimento feito posteriormente não foi detectada a colocação de mais qualquer engenho explosivo, tendo-se no entanto detectado em [BAMBADINCA 4C7-74], vestígios de instalação em emboscada de um Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos, o que vem confirmar declarações de milícias em Finete que dizem ter ouvido alguns tiros.

Novembro  71

2-7nov71

Op Tareco Vilão I

(Desenrolar da acção)

- No dia 2 de novembro pelas 8,30 horas os 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca) deslocaram-se em meios auto de Bambadinca  para o Porto (fluvial) de Bambadinca de onde em meios fluviais [barco sintex], prosseguiram para Mato Cão, onde chegaram cerca das 21,00 horas.

- Substituíram então, no local, os Gr Comb  da CCAÇ 12 empenhados na Op Tudo Vale , montando uma rede de emboscadas nos trilhos de acesso mais provável do IN ao Destacamento de Mato Cão, garantindo a segurança com a colaboração do Pel Caç Nat  63, do pessoal que procede à instalação daquele Destacamento.

- No dia 3 pelas 13,30 horas, um Grupo IN estimado em cerca de 40 elementos flagelou com RPG-2 e Arm Aut Lig de [BAMBADINCA 1H97-61], apoiados por RPG-7 e Mort 82, o estacionamento de Mato Cão,  causando 2 feridos graves e 8 ligeiros.

- As NT reagiram imediatamente obrigando o IN a retirar, com baixas prováveis.

- Feito reconhecimento à área de instalação IN,  detectaram-se vestígios de IN ter aproximado e retirado na direcção de Chicri, tendo-se encontrado vários vestígios de sangue.

- No dia 6 pelas 16,55 horas, um Grupo IN não estimado flagelou da direcção de Chicri o estacionamento de Mato Cão e as forças de segurança ao mesmo, durante 5 minutos com Mort 82 e LRock.

- As NT reagiram prontamente pelo fogo de Mort 81 obrigando o IN a retirar.

- Posteriormente o 20º Pel Art (Xime) bateu os trilhos prováveis de retirada.

- Não foi feita uma conveniente batida imediata por, após os tiros de artilharia, ter anoitecido sendo a visibilidade muito fraca.

- No dia 7 pelas 6,45 horas quando o Pel Caç Nat 63 explorava o contacto havido ao anoitecer do dia 6 reconhecendo a mata a Norte de arame farpado detectaram a cerca de 600 metros do mesmo, numeroso Grupo IN estimado em 50 elementos que ali se encontrava emboscado.

- As NT imediatamente abriram fogo, tendo o IN,  ao sentir-se descoberto, reagido com RPG-2, RPG-7, Mort 60 e Arm Aut Lig  ao mesmo tempo que um outro Grupo IN localizado mais para Norte e a uns 500 metros do primeiro, começou a flagelar o estacionamento de Mato Cão  com Mort  82 e RPG-7.

- As NT imediatamente exploraram o contacto manobrando pelo fogo e movimento obrigando o IN a retirar.

- Apesar da pronta e enérgica reacção do Pel Caç Nat  63,  o IN conseguiu ao fim de cerca de um minuto quebrar o contacto em virtude do Pelotão ter esgotado as munições de MorT 60 e dilagrama que transportava consigo, cujo consumo foi maior do que seria de prever num contacto deste tipo em virtude do LGFog. 8,9 cm não ter funcionado.

- Remuniciado, o Pel Caç Nat 63 prosseguiu na batida tendo encontrado abandonado no terreno um morto, armado de pistola CESKA ZBROJOVKA m/1927, de origem checa, identificado por documentos que possuía como sendo Mário Campos, e uma granada de RPG-7.

- Foram ainda detectados vestígios e vistos elementos IN arrastando mais cinco corpos de elementos feridos ou mortos pelas NT.

- Entretanto, primeiro, os Mort 81 do Destacamento e posteriormente o 20º Pel Art /BAC 7  (10,5 cm) (Xime) batiam os itinerários previsíveis de retirada tendo o Pel Caç Nat  63 verificado que alguns dos impactos de artilharia se situavam sobre o trilho seguido pelo IN e nas suas imediações encontrava-se muito sangue.

- Neste contacto as NT sofreram 3 feridos graves e 9 (um civil) ligeiros sendo um ferido grave e 3 ligeiros proveniente do contacto directo com o IN e os restantes como consequência da flagelação ao estacionamento.

- No dia 7 pelas 14,30 horas, os 2 Gr Comb  da CCAÇ 12,  após serem substituídos no local pelas NT empenhadas na Op Tareco Vilão II II, iniciaram progressão em meios fluviais [Barco Girassol] para Bambadinca, permanecendo o Pel Caç Nat  63 e uma Secção do Pel Mil  202 em Mato Cão, onde chegaram cerca das 16,00 horas

Fonte: História do BART 2917, de 15nov1969 a 27mar1972, mimeog, 182 pp. (Cópia, em formo digital, gentilmente cedida por Benjamim Durães)



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá, guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"... A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


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