sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)

Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1966 > Pel Caç Nat 54 > O Alf Mil Marchand, comandante do destacamento, a avaliar os estragos do ataque de 22 de Dezembro de 1966, três dias antes da noite de Consoada.

 
Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > Pela Caç Nat 54 > 1966 > O Alf Mil Freitas da CCAÇ 1439 que estava no Enxalé e avançou com um grupo para as primeiras ajudas.

Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1966 > Alguns elementos do Pel Caç Nat 54 e da CCaç 1439, fotografados num cenário de destruição, na sequência do ataque do PAIGC.


  Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1966 > A messe...

Guine> Zona Leste > Cuor > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966 > ... e a morança do comandante que desta vez escaparam. 


 Fotos: ©: José Viegas / Henrique Matos (2007). Direitos reservados. 


 Segunda e última parte do texto de 12 de Julho de 2007,enviado pelo Henrique Matos, que foi o 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)(1). 


Para a história de Missirá, mando o resto das fotografias cedidas pelo Fur Mil José Viegas, do Pel Caç Nat 54. Este pelotão que estava naquele destacamento, ainda há pouco tempo, quando foi atacado em 22 de Dezembro de 1966, cerca das 22 horas. 

No ataque o IN usou canhão s/r (que deixou marcas no terreno), foram ouvidas vozes de comando de cubanos e houve 5 mortos da população civil. 

 Henrique Matos 

__________ 

 Nota de L.G.: 

 (1) Vd. posts de:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Guiné 63/74 - P2106: Tabanca Grande (33): José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador (CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71)

José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete 1969/71

1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro, com data de 5 de Setembro de 2007:

Encontrei no [sítio] HI 5 um ex-combatente à procura de companheiros e que pertenceu à CCAC 2585 do BCAC 2884. Esteve na Guiné nos anos 1969 a 1971, na zona de Jolmete (1).

Dei-lhe a conhecer o nosso blogue, fazendo-lhe o convite a participar e tornar-se membro da nossa grande caserna de ex-combatentes da Guiné.

Chama-se José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador, casado, 60 anos de idade, natural de Armamar, Distrito de Viseu, residente em Paredes, Distrito do Porto.

Destaque para o louvor à CCAC 2585 atribuído pelo COM-CHEFE pelas acções e resultados obtidos em pouco espaço de tempo. Esta Companhia esteve envolvida em acções de combate, quando da morte dos três Majores na zona do Pelundo/Jolmete.

O Firmino, alegando pouco traquejo nestas coisas, pediu-me para fazer chegar à tertúlia e com pedido de publicação no blogue o trabalho que anexei.

Juntei também as duas fotos da praxe, uma da época e outra actual, retiradas da página pessoal dele no HI5. Gostaria também que o Firmino enviasse as fotos que tem no HI5 sobre a passagem dele pela Guiné para o blogue.

Cumprimentos,

Sousa de Castro
ex-1.º Cabo Radiotelegrafista
CART 3494/BART 3873
Xime e Mansambo
JAN72/ABR74

2. Mensagem de José Firmino de 6 de Setembro de 2007, chegada até nós por intermédio do nosso camarada Sousa de Castro:

Chamo-me José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884.
A nossa Companhia esteve na Guiné - Jolmete, de 17 de Maio de 1969 a Fevereiro 1971.

Embarcámos em Lisboa a 7 de Maio de 1969 e desembarcámos em Bissau a 12 do mesmo mês.
Embarcámos em Bissau em 25 de Fevereiro de 1971 com destino à Metrópole e chegámos a Lisboa em 3 de Março.
Vou dar conta de algumas acções levadas a cabo pela minha Companhia.

(i) Em 21 de Maio de 1969
Missão: Patrulhamento de combate conjugado com emboscada na região de Pelundo GF4, com a finalidade de capturar ou aniquilar elementos IN que se revelem, destruir instalações e meios de vida e apreender material e documentos.

Tropas executantes: CCAÇ 2366 com o 1.º GCOMB e a CCAÇ 2585 com o PEL CAÇ NAT 59 e PEL MIL 128. Duração: 11h e 45m.

Resultados: As NT detectaram um grupo IN estimado entre 8 a 10 elementos armados de morteiro 60, LGF e armas automáticas ligeiras, com quem estabeleceram contacto, tendo o IN sofrido 3 feridos confirmados refugiando-se na mata. As NT não sofreram consequências tendo regressado ao quartel pelas 16h e 45min.

(ii) Em 23 de Maio

No quartel em Jolmete terminada que foi a segurança à escolta de abastecimento e transporte de pessoal, regresso da CCAÇ 2366 a Teixeira Pinto, no regresso ao quartel em Jolmete, deu-se um acidente grave com arma de fogo (Bazooca) com elementos da CCAÇ 2585 resultando daí alguns feridos graves sendo eles:

1.º Cabo n.º 19983868 Francisco Inácio da Paz
Soldado n.º 15606668 José Martins de Almeida
Soldado n.º 18119468 António Nunes Lopes
Soldado n.º 18457168 Henrique Pinto Araújo
Soldado n.º 18450068 António Fernandes Barbosa
Soldado Mil n.º 50/57 João da Silva do PEL MIL 128

Todos os feridos foram evacuados para o HM 241 de Bissau

(iii) Em 29 de Maio

Tropas da CCAÇ 2585 levaram a efeito mais uma acção de patrulhamento conjugado com emboscada Região de Bugula onde foi accionada uma mina AP na Região do Pelundo 617-28 que causou 2 feridos graves às NT.

Soldado Mil n.º 53/64 Mamadu Só
Soldado Mil n.º 56/67 Martinho Landi

Ambos evacuados para Bissau, pertenciam ao PEL MIL 128

(iv) Em 2 de Junho

Durante uma acção levada a cabo, pela CCAÇ 2585 com o 2.º GCOMB, o PEL CAÇ NAT 59 e PEL MIL 128 esta Operação demorou cerca de 8 horas, durante a qual foi recolhida cerca de 1 tonelada de arroz, que foi distribuído pelos elementos da população. Os celeiros foram destruídos pelo fogo.

(v) Em 8 de Junho

Patrulhamento e combate na Região de Cassical com a finalidade de capturar, aniquilar elementos IN e recolher o arroz referenciado nos dois celeiros encontrados nesta Região.

(vi) Em 16 de Junho

Operação À Carga

Missão - Patrulhamento conjugado com emboscada na Região de Ponta-Badá-Bugula, com a finalidade de capturar ou aniquilar o IN, destruir instalações e meios de vida, apreender material e documentos, e recuperar população fora do nosso controle.

Tropas executantes: CCAÇ 2585 juntamente com o 3.º GCOMB e PEL CAÇ NAT 59.

A Operação teve uma duração de cerca de 33h e 30m com o seguinte resultado: As NT estabeleceram contacto com um grupo IN armado estimado em cerca de 20 a 25 elementos armados de morteiro 60, LGF e armas automáticas ligeiras na Região do Pelundo 9C2-47, causando às NT 3 feridos ligeiros. O IN que se encontrava a construir um acampamento naquela Região foi obrigado a retirar perante a reacção das NT pelo fogo e movimento, sofrendo 2 mortos confirmados e sete feridos e a captura do seguinte material:

1 pistola metralhadora Sepagin 7,62mm
2 carregadores para p/metralhadora Sepagin 7,62mm
7 granadas de Morteiro 82
1 granada de mão defensiva F1
1 sabre baioneta
142 cartuchos para armas ligeiras
1 fita carregadora para metralhadora ligeira
1 bolsa de lona para carregador de PM SEGAGIN (PPSH)
1 rádio transistor
Várias roupas
Utensílios domésticos e vária documentação.
Foram destruídos os acampamentos que o IN se propunha construir.

Um grupo IN estimado em 15 elementos emboscou as NT com Morteiro 60, LGF e armas auto ligeiras na Região do Pelundo, causando 2 feridos ligeiros às NT. O IN retirou perante a rápida reacção das NT.

(vii) Operação com o código Não Passam

Numa missão de patrulhamento conjugado em emboscada na Região Ponta Nhaga, com a finalidade de capturar, aniquilar elementos IN, destruir instalações e apreender material e documentos.

Tropas executantes: CCAÇ 2585, 2.º GCOMB, PEL CAÇ NAT 59 e PEL MIL 128

Duração da operação: 1 dia.

Resultados obtidos: Cerca das 12h foram referenciadas 2 sentinelas IN armadas, na Região do Pelundo, tendo as NT aberto fogo e os elementos IN retiraram para além do limite do sector 05 acolhendo-se no sector 01 (Bula).

No regresso ao quartel pelas 16h45m um grupo IN estimado em 15 elementos emboscou fortemente as nossas tropas, utilizando LGF, MP e armas ligeiras automáticas, na Região do Pelundo.
Após a reacção das NT, o IN desencadeou nova emboscada com um grupo de 4 a 5 elementos armados de LGF e armas ligeiras automáticas a uma distância de 100 metros do aquartelamento, impedindo a saída das forças que tentavam manobrar para fora do aquartelamento e em socorro das NT emboscadas.

Nesta operação as nossas tropas sofreram 1 ferido grave e 3 ligeiros. O IN que retirou em face da reacção das NT, sofrendo 2 mortos confirmados e outras baixas prováveis.

Feridos evacuados para o HM 241 de Bissau:

Soldado n.º 57/68 Morel Biai PEL MIL 128 - Ferido grave
Soldado n.º 61/67 Gabriel Bramer PEL MIL 128
Soldado n.º 61/67 Granque Jaló PEL MIL 128
Soldado n.º 31/58 Augusto Balanta PEL CAÇ NAT 59

Destaque para o louvor à CCAC 2585 atribuído pelo COMCHEFE pelas acções e resultados obtidos em pouco espaço de tempo. Esta Companhia esteve envolvida em acções de combate, quando da morte dos três Majores na zona do Pelundo/Jolmete.

Sinto orgulho em ter contribuído com o meu trabalho e dedicação juntamente com os meus camaradas na construção de 22 casas para a população, 1 escola, 1 pequena capela que servia também para pedir à Mãe Protectora sorte, 1 cozinha e tantos outros trabalhos ali efectuados e no distribuir da comida àqueles miúdos após a nossa refeição. Lembro do mal que se comia na altura, tanto cá como lá e na ida no Niassa, a dormir em camas feitas de tábuas.

Mais teria para descrever no entanto penso ser suficiente. Um abraço e obrigado. José Firmino


3. Comentário do co-editor CV:

Caro Firmino sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande. Esperamos de ti estórias e fotografias dos acontecimentos da tua Companhia, que pelos vistos foi mesmo importante em termos operacionais.
Não te acanhes em contactar directamente o nosso Blogue e em mandar o que achares importante para aumentar o nosso espólio e os nossos conhecimentos sobre a guerra na Guiné.

Carlos Vinhal
Co-editor
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Nota de CV:

(1) Sobre a CCAÇ 2585, vd. os posts de:
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

27 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1629: Lendo os vossos depoimentos com um nó na garganta... O que é feito da CCAÇ 2585 ? (Raul Nobre, ex-Alf Mil Médico)

(...) Tenho lido estes depoimentos com um nó na garganta. É muito importante em todos os sentidos, quer histórica quer emocionalmente.
Em 1969 fui incorporado como médico na CCAÇ 2585, comandada pelo Capitão Tomaz da Costa. Ainda fiz o IAO na Arrábida e gozei os 10 dias de licença antes do embarque. Entretanto deu-se o "atentado" ao Niassa e o embarque do Batalhão fez-se com atraso. Eu não cheguei a embarcar, pois deferiram-me o requerimento que fizera para poder terminar a especialidade de Estomatologia e em 1971 mandaram-me para Timor donde regressei em 1973.
Nunca mais tive notícias de ninguém. Recordo-me que havia um Alferes chamado Almendra, creio que natural de Trás-os Montes.O meu contacto com os camaradas foi de curta duraçáo, pois tinha sido reinspeccionado, fizera uma recruta de um mês em Santarém e tinham-me colocado naquela Companhia que, por sua vez, tinha sido constituída a toda a pressa.Gostava de ter notícias daqueles rapazes (...).

Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

Guiné > Zona Leste > Cuor > Missirá > 1966 > O Fur Mil José  António Viegas, do Pel Caç Nat 54, autor das fotografias.


Guiné > Zona Leste > Cuor > MIssirá > Pel Caç Nat 54 > Imagens de Missirá após o ataque de 22/12/1966 

 Fotos: ©: José António  Viegas / Henrique Matos (2007). Direitos reservados. 

 Texto de 12 de Julho de 2007,enviado pelo Henrique Matos, que foi o 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)(1): 

 Meu caro Beja Santos e camaradas da Tabanca Rrande: O desafio lançado para ajudar a escrever a história do Pel Caç Nat 52 é aliciante e devo acrescentar que gostava de a ilustrar também com imagens dos lugares que conheci: Enxalé, Porto Gole e Missirá, este sempre de passagem durante os reabastecimentos. 

A tarefa não é fácil e não se faz de repente. A memória é traiçoeira e os camaradas com quem tenho contactado sofrem do mesmo mal. Estamos longe uns dos outros, as conversas por telefone são sempre inconclusivas e para mal dos nossos pecados tenho verificado que o pessoal do meu tempo não percebe nada destas coisas da Internet. Tenho de digitalizar as fotos e retocar algumas que estão degradadas. 

 Para a história de Missirá mando hoje uma séria de fotografias cedidas pelo Fur Mil José Viegas, do Pel Caç Nat 54 (2). Este pelotão que estava naquele destacamento não havia muito tempo quando foi atacado em 22 de Dezembro de 1966, cerca das 22 horas. 

Do ataque deve referir-se que o IN usou o canhão s/r que deixou marcas no terreno, foram ouvidas vozes de comando de cubanos e houve 5 mortos da população civil. 

 Ainda não aprendi a inserir comentários, como gostaria o nosso comandante Luís, por isso aproveito para enaltecer a entrada do coeditor Virgínio Briote de quem já li tudo o que escreveu e que, tal como eu, passou pelo BII 17. Tenho a certeza que quando nos encontrarmos vamos ter coisas para contar, não esquecendo o saudoso (no bom sentido) Ten Cor Garrido Borges. 

 Também gostaria de mandar uma saudação especial ao Rui Alexandrino Ferreira, com quem estive na Companhia de Adidos em Brá nos primeiros meses de 67 (não me recordo a data exacta) e que me contou umas coisas sobre Madina do Boé. 

 Abraços Henrique Matos

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 Nota de L.G.: 






Guiné 63/74 - P2104: Álbum das Glórias (26): Café Avenida, Bissau (Gabriel Gonçalves)

Mensagem do Gabriel Gonçalves (ex-1.º Cabo Cripto da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) (1), com data de 11 de Setembro:


Caros amigos editores da nossa Tabanca Grande:

Depois das férias e de um merecido descanso, entro em contacto convosco para vos enviar uma foto tirada em Bissau, em Outubro de 1969, no conhecido Café Avenida, com o título "Uma mesa cheia de criptos".

Esta foto foi-me enviada recentemente pelo nosso camarada e tertuliano Luís Camões, que pertencia à CCAÇ 2589 sediada em Mansoa, onde se encontrava o BCAÇ 2885.


Guiné > Bissau> Outubro de 1969> Café Avenida> Uma mesa cheia de Criptos


Foto: © Luís Camões (2007). Direitos reservados.

Nesta foto, da esquerda para a direita está o Camões (2); o nosso camarada a seguir não nos lembramos no nome, mas pertencia ao Batalhão dos velhinhos de Mansoa e era das Transmissões; a seguir o Brazão que também era Operador Cripto da Companhia do Camões; depois o Gabriel Leal Op Cripto de rendição individual, QG-Bissau, e eu.

Podemos ver, por baixo do meu banco, um saco da TAP. No dia seguinte ao que esta foto foi tirada, iria apanhar o avião para Lisboa, para vir conhecer a minha filha mais velha que tinha nascido no mês anterior (3).

Um abraço
GG
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Notas de CV

(1) Vd. post de 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves

(2) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1886: Tabanca Grande (18): Luís A. Camões de Matos, Op Cripto da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa (1969/71)

(3) Vd. post de 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1485: Bambadinca revisitada... ou os azares de um operador cripto em fim de carreira (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2103: Gente do Olossato (Rui Silva, CCAÇ 816, 1965/67)


Guiné > Região do Oio > Olossato > c. 1966 > O Sana, o Abdul e o Mamadú...


O Jorge devidamente engravatado e com ar solene, cá em Portugal, no dia do casamento do Rui Silva (Abril de 1970).


Fotos: © Rui Silva (2007). Direitos reservados

1. Texto do nosso camarada Rui Silva, ex-Fur Mil, CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa
1965/67), e que vive hoje em Vila da Feira (1). Enviado em 31 Julho de 2007:

Para todos os que passaram por Olossato, mormente para os camaradas da 566 e da 816 (a minha Companhia).

Vejam se os reconhecem! ... Não?

Eu apresento-vos: da esquerda para a direita, de pé e sem bola, e…sem roupa: o Sana, o Abdul e o Mamadú (à atenção do Sargento Preto - era o apelido do Sargento - da 566 que o acarinhou e protegeu na zona de Morés) ou Morés (hoje Jorge e a viver desde 1967 em Riomeão).

Na outra foto, o Jorge devidamente engravatado e com ar solene, cá em Portugal e no dia do meu casamento (Abril de 1970).

Aproveito para saudar a gente de Olossato (que saudade!), gente ordeira, leal, humilde, trabalhadora e respeitadora.

O Sana e o Abdul (hoje com quarenta e tal anos), espero que estejam bem. Um abraço para todos.

Rui Silva
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Nota de L.G..

Guiné 63/74 - P2102: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (1): Mamadu Camará, a onça vigilante

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > 1968 > Mamadu Camará, um dos soldados do Pel Caç Nat 52, sob o comando do Alf Mil Beja Santos que lhe propôs um louvor devido à sua acção heróica na noite do ataque ao destacamento, em 19 de Março de 1969 (1). E no ataque de Agosto de 1969, salvou a vida ao seu comandante, episódio esse que aqui se relata.

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.



Texto do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviado a 19 de Julho último. Correspondente ao episódio nº 1 da Parte II da série Operação Macaréu à Vista, ou seja, ao futuro segundo volume das suas memórias do Cuor e, cronologicamente, ao seu 2º ano de comissão na Guiné (2).



Conforme foi oportunamente aqui noticiado, está já no prelo o livro do Beja Santos, Na Terra dos Soncó: Diário de Guerra (1968/69), em edição do Círculo de Leitores (3). Depois de mais de um mês de um interruptação, por motivo de férias, retomamos a publicação desta série.

Operação Macaréu à Vista - Parte II: Mamadu Camará, a onça vigilante
por Beja Santos

(i) Fogo de Santelmo, fogo de Madina

A partir do meio da tarde, o céu fez-se chumbo, o ar esfriou, ficámos à espera que chovesse, contrariados no meio das obras à volta do arame farpado. Quando parecia que o chumbo passaria a negro, o negro da nuvem espessa que se encaixara como uma abóbada sobre Missirá deixou imprevistamente que os raios e coriscos se acendessem e, como uma faca que rasga a seda, estoiraram estrepitosamente em Missirá, em todo o Cuor.

O anoitecer fez-se dia com aquela iluminação de teatro, espectral. A chuva abundante caiu dos céus, ficou a empapar-se às nossas botas, o sibilar da trovoada gigante levou-nos a fugir para casa. É nesse entretanto da fuga precipitada para as moranças que começa uma flagelação com morteiros e costureirinhas. Do pânico da chuva passou-se rapidamente para a resposta, corríamos nus, em roupa interior, encharcados, enlameados. Quem limpava as armas pô-las em funcionamento, quem fazia a contabilidade mudou de armas, quem cozinhava foi logo responder com metralhadoras, e todo este fogo de resposta amorteceu o som das obusadas que espalhavam o metal destruidor, salpicando a terra.

Os colhidos de surpresa, as mulheres e as crianças que cultivavam e brincavam, atiraram-se para as valas. No morteiro 81, encadeado por aquele maldito fim de tarde desorientador, pois falsa era a noite e o falso era o dia, com precioso auxílio do Queirós, eu punha e tirava cargas das granadas, procurando atinar com as distâncias. Era uma estranha flagelação, era um fogo espúrio, como se estivessem a testar-nos para o tiro a tiro. O Queirós gemia, segurando o tubo sem a braçadeira, o braço em chaga. As explosões chegavam espaçadas, como a lembrar que há muitas maneiras de fazer flagelação.

É então, entre esse dia e essa noite de Santelmo e do fogo de Madina que sou disparado a coice, saio do abrigo de morteiro com forte encontrão, alguém me projecta ao solo. Uma explosão ao pé soergue-me e ao intruso que me arrancara do morteiro 81. Eu desfiro palavrões mas o intruso grita de dor. Desprendo-me do fardo, o Queirós a tudo assiste aparvalhado, ponho-me de pé e vejo Mamadu Camará jazente e depois de tronco arqueado, com o rosto riscado pelo sofrimento. É o Queirós, que sai do atordoamento, que explica o transcendente daqueles instantes:
-Meu alferes, o Camará viu o rebentamento, quis salvar-lhe a vida.

Entretanto, acabou-se a flagelação, que deixou a mesquita com algumas chapas perfuradas, há os pés rasgados do costume, há semblantes enfarruscados e queimados e há ainda alguma luz para deitar contas à vida e ver o que correu mal. Felizmente, nada mais aconteceu, Madina lançou mais um aviso, muito provavelmente vieram patrulhar e antes de retirar deixaram este cartão de visita.

Agora, nada mais me interessa do que agradecer discretamente a Mamadu Camará, que cambaleia, cheio de contusões e rasgões. Nessa noite, depois do jantar, enquanto Missirá faz serão a comentar os acontecimentos, chamo o Mamadu, depois de ter reflectido sobre a sua bravura:
-Mamadu, não tenho palavras para te agradecer, tu estiveste pronto para dar a tua vida para me salvar. Tu merecias uma elevada condecoração. No entanto, vê a posição em que me encontro: se publicitar o teu feito, parece que estou a engrandecer o facto de estar no morteiro, no meu dever a enfrentar o inimigo. Peço-te que me compreendas, prefiro ficar com uma dívida contigo, deixa-me amanhã eu contar a todos o que fizeste por mim. E esta história fica sem ser conhecida por mais ninguém fora de Missirá.

O Mamadu, em todas as conversas sérias, ele que tinha um vozeirão de barítono wagneriano na vida corrente, pôs-se a entaramelar a voz, reduzindo-a a um fio, vacilando na resposta. Ouviu-me e disse:
-Está certo, ninguém tem o direito de saber fora de Missirá esta história. Eu já tenho uma medalha, não preciso de mais.

E ninguém soube até hoje. Chegou o momento da tua abnegação chegar aos quatro cantos do mundo, Mamadu (4).

A noite corre, a tensão é grande, só com os alvores da madrugada é que vamos perceber quem veio flagelar, como retiraram. Como não me saísse do sentimento a impressão desta dádiva total, um ímpeto leva-me a escrever no profundo silêncio da mata. Então simulo poetar:

Mãe, saúdo-te entre cravos olerosos, frutos deiscentes e os feridos que aguardam um helicóptero. Eu sou o fogueiro que subiu ao viaduto de gás e faço ressoar o hino da vitória desses meteoritos que se espalham por esta mata. Saúdo-te num abrigo - casamata, como se pegasse no arado das palavras e para te alegrar do fundo desta guerra. Sim, Mãe, devo-te a vida e a mais alguém. Saúdo o teu segredo num luar textual. É possível que Deus cavalgue a lua neste preciso instante em que ergo as mãos para te beijar e abraçar esse mais alguém que me ensinou o sopro da carne viva. A ti e a esse mais alguém, desejo-vos a hora viva nas palmeiras..

E deitei-me, derreado, agradecido, sem ilusões do sem préstimo desta pseudo-poesia a copiar escandalosamente o génio de Saint-John Perse (5).

Ao amanhecer, reconhecemos os itinerários da gente de Madina, eram um grupo de pouca monta, deixou marcas na estrada de Cancumba, apanhou a estrada principal até Morocunda, seguiu por Biassa.
- Tenho que pedir ao Reis sapador para vir cá, para armadilhar todo este trilho (6).

Mal sabia eu como iria increpar-me contra tal pensamento.


(ii) Em Gambana, o fim das canoas de Madina

Logo a seguir a esta flagelação quase sem memória, substituídas as chapas da mesquita, elaborada a informação que seguiu para Bambadica, com mais um dia a arranjar arame farpado e a patrulhar Mato de Cão, chegou o momento de ir buscar um grupo de sapadores para destruir as canoas identificadas a partir dos Nhabijões. O Reis sapador quis vir e mais entusiasmado ficou quando lhe disse que iríamos até o Enxalé festejar a sua entrada no nosso sector, e esse entusiasmo ficou ainda acrescido quando lhe pedi para vir armadilhar de novo os trilhos de Morocunda e nos arredores de Sansão, para onde eu suspeitava que um dia a gente de Madina nos faria a surpresa de aqui colocar os canhões sem recuo.

Saímos cedo de Finete, seriam sete da manhã, tudo estava cronometrado para afundar as canoas, armadilhar o local e às onze da manhã vermos passar dois batelões a caminho do cais de Bambadica. O Reis desempenhou-se com a sua equipa bem e depressa, três canoas desfizeram-se dentro da lama, depois ele montou um engenho e lá seguimos com duas viaturas a quebrar o silêncio numa estrada cheia de beleza, um dia calmo, ensolarado, aprazimento nos céus e sossego nos nossos corações.

Não vale a pena repetir como foi bom voltar ao Enxalé (7), reencontrar o Taveira, dar-lhe a notícia, foi um almoço apressado com mais conservas que comida feita na hora, o céu não estava de fiar, fora um grupo exíguo, o regresso urgente impunha-se para evitar mais suplícios na picagem da estrada. Recordo que deste vez não houve fogo de reconhecimento para os lados de Sinchã Corubal. Mas o que nunca mais esqueci foi que junto à estrada que ia para Madina o Alcino Barbosa encontrou uma sinalização de proibido, que vinha do antes da guerra. Fez-se fotografar e depois metemos o sinal num dos Unimogs. Sim, era inaceitável um caminho proibido até Madina. Mas a verdade é que só lá voltámos e com sucesso em Fevereiro de 70.

O Reis partilhava a nossa felicidade embora confessasse não perceber o meu entusiasmo em ficar em estreita cooperação com o Enxalé. A verdade é que saírei em Novembro de Missirá, tudo ficará na mesma, não aumentaram os efectivos, não se criou a cooperação desejada entre os dois destacamentos frente ao inimigo comum. Era assim a nossa estranha guerra, com as suas falsas mudanças e o inimigo cada vez mais forte.

Em Missirá, o Reis armadilhou com o fervor que lhe conhecíamos. Desta vez, tudo ficou esquematizado e ele prometeu voltar em breve para confirmar a eficácia do seu trabalho. Quase sempre esquecíamos estes engenhos, até que de madrugada acordávamos com o alvoroço dos estrondos: ou os humanos saíam estropiados com o rebentamento ou as gazelas ou macacos morriam e ficavam pasto dos jagudis. E não voltámos a ter acidentes com militares e civis, dentro e fora do aquartelamento de Missirá.

O Reis partiu e eu adoeci seriamente. Até ao fim de Agosto [de 1969], toda a minha correspondência sairá do punho do [Fur Mil] Pires, a quem vou ditando as cartas para a Cristina, para a família e os amigos. Evitarei nova vinda do David Payne a Missirá, aparecerei aos tombos na enfermaria de Bambadinca e, pela primeira vez em todo um ano de comissão, ficarei ali a descansar e a vitaminar-me, tratando dos líquenes, fungos e pés inchados, dois dias completos. Mas vou regressar sem emenda, vou recorrer dos préstimos do Casanova e do Pires nas idas a Mato de Cão. Até que um dia vai chegar uma mensagem e vou participar na primeira edição da Operação Pato Rufia e depois na segunda (8). Fiquei com sérias razões para detestar o Buruntoni e aquelas operações azaradas.

As obras prosseguem, já chegaram algumas das toneladas dos materiais oriundos do batalhão de engenharia de Brá. A jangada em que trouxe um atrelado para a bolanha de Finete apodreceu, o gerador não virá tão cedo. Terei a alegria de sair da cama, em Missirá, para cumprimentar o capitão Rui Gamito, que aproveitando uma ida à Ponte dos Fulas veio visitar-nos e trazer estímulo.


(iii) Uma viagem à Idade Média, uma ida ao tribunal com Perry Mason

Surpreendentemente, leio indiferente ao torpor da minha prostração. É uma consolação embrenhar-me na leitura de A sociedade medieval portuguesa pelo Doutor Oliveira Marques. É um quotidiano dos nossos ancestrais que eu desconhecia. É um encontro com o Portugal das florestas, refúgio de feras, esse Portugal de um milhão de habitantes que tanto sofreu com a Peste Negra, dividido entre a nobreza, o clero e o povo, que o medievalista nos vai contar com assombrosa mestria: o que era a comida, o vestuário, a habitação, a higiene e a saúde, o afecto, os lazeres e a morte, tudo escrito sempre com uma tocante simplicidade, demonstrando que a História não é um conhecimento hermético destinado a grupos elitistas. Os pobres comem peixe e fava ou castanha. Os condimentos são raros. É vasta a quantidade de fruta posta à disposição de todos. Os ovos são apreciados cozidos, escalfados e mexidos. A descrição dos banquetes são páginas emocionantes.



Capa do livro de A. H. Oliveira Marques, A Sociedade Medival Portuguesa: aspectos de vida quotidiana. 2ª ed. Lisboa: Sá da Costa. 1971 (1ª ed., 1964).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados



Fico a saber como vestem os homens e as mulheres e as crianças há seis séculos atrás, como se eliminam nas suas casas rústicas onde o conforto parece centrado na cama. A higiene é escassa mas é uma remantada mentira dizer-se que a Idade Média foi o paraíso da imundície. Leio pela primeira vez o que era a comunicação afectiva . Os filhos estão em poder dos pais até ao matrimónio. A religião não pode tudo, a Idade Média não escapou ao incesto como não escapou aos grandes arroubos do amor. Grande livro, que vai marcar o meu gosto pela vida quotidiana, a análise histórica feita de dentro da civilização e da cultura, no claro entendimento das mentalidades.

Li também com satisfação O Caso da Noiva Curiosa, de Erle Stanley Gardner. O livro é tão bom como a capa do Cândido da Costa Pinto é belíssima. Uma cliente vão ao escritório de Perry Mason saber se uma amiga tem o direito de se casar depois de 7 anos em que o primeiro marido esteve desaparecido. Mason apercebe-se que há mais história e faz investigação. O primeiro marido da cliente aparece morto e esta está manifestamente indiciada como homicida. Raras vezes Mason vai brilhar com tanto fulgor no tribunal convertendo as testemunhas de acusação em defesa, levando o segundo marido da sua cliente a uma dolorosa confissão.



Capa do romance policial de E. S. Gardner, O caso da noiva curiosa. Lisboa: Livros do Brasil. s/d. (Colecção Vampiro, 29). Capa de Cândido Costa Pinto.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



Estou a viver o mês de Agosto [de 1969] sem nervo, com pouco sabor, subindo a corda à procura de entusiasmo. Estou literalmente farto de escalas de serviço, listagem de gente que vai para a emboscada, fazer engenharia entre os que ficam em Missirá e o grupo que parte para Finete para arregimentar milícias e daqui seguir-se para Mato de Cão. As minhas cartas, disse-o atrás, são ditadas, não espelham exactamente o que me vai na alma.

Na última semana, parto com 12 homens e entro em Bambadinca para participar na Operação Pato Rufia. Esta aparece descrita em Setembro, mas elide que 15 dias antes vários destacamentos andaram a apanhar bonés com dois guias perdidos, entre a estrada do Xime e do Ponta do Inglês, sem se saber bem como chegar a um acampamento inimigo. Vale a pena contar.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1578: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (37): O horror do Hospital Militar 241 e o grande incêndio de Missirá

(2) Vd. post de 6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2031: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (57): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (6)

(3) Vd. post de 25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1996: Nas Terras dos Soncó, um livro saído do nosso blogue, em próxima edição do Círculo de Leitores (Beja Santos / Luís Graça)

(4) Cometendo embora uma inconfidência (o Mário e o Círculo de Leitores vão-me perdoar), posso desde já confirmar que o livro Na Terra dos Soncó, terá uma Dedicatória, com o seguinte teor:

A quem combateu comigo, muito especialmente a malta do Pel Caç Nat 52 e dos Pel Mil n.º 101 e 102, nos destacamentos de Missirá e Finete. Uma ternura muito especial ao Cherno Suane, ao Mamadu Djau e ao Mamadu Camará (eles sabem porquê).

(5) Diplomata e poeta francês (1887-1975), Prémio Nobel da Literatura (1960). Vd. sítio da Fundação Saint-John Perse.

(6) "O mais truculutento dos sapadores do Geba", é assim, carinhosamente, que o Beja Santos trata o Alf Mil Sapador Reis, da CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): vd. post de 18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1442: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (29): Finete contra Missirá mais as vacas e o bombolom dos balantas

(...) O Alferes Reis, o mais truculento sapador da Guiné, veio passar 4 dias connosco. Zaragateámos um pouco por causa da quantidade de trotil que ele pretendia enterrar em todos os atalhos que circundam Missirá. O Reis começa-se a afeiçoar à região e quando eu for operado em Março, será ele que apanhará o vendaval de fogo . Mas hoje ajudou-nos imenso a colocar correctamente as fieiras de arame farpado e deixei-o com carta branca para armadilhar junto da fonte de Cancumba, que é um local que tenta os rebeldes (...).

(7) Vd. post de 26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2000: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (55): Uma visita a Enxalé, um tornado em Bambadinca, um enterro em Madina Xaquili....

(...) Uma memorável viagem ao Enxalé só para 'partir mantenha': Pelas 6 da manhã de 19 de Julho de 1969, perguntei ao contigente que ia a Mato de Cão se me queriam acompanhar ao Enxalé. Os nossos motoristas foram o Setúbal e o Manuel Guerreiro Jorge. Tal como eu esperava, houve urras e manifestações de alegria, logo uma adesão espontânea (...).

(8) Vd post de 8 Agosto 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça).

Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

Texto de Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,1968/69) (1)

(i) Punições

Dia 18 de Novembro de 1968 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do BCAÇ 1932 o Soldado n.º 00347967, J. M.B. L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 21 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Furriel Miliciano n.º 01329267, P. J.V., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.° Cabo n.º 03156167, F.L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 31 de Março de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o 1.º Cabo n.º 02715767, A. F.M., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 7 de Junho de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o Soldado n.º 13504968, J.E. S. F., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 4 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 8 dias de prisão disciplinar.

Dia 23 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.º Cabo n.º 03844267, J. C. O., com 10 dias de detenção.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Soldado Condutor n.º 00696967, B. R. S., com 10 dias de detenção.

Dia 15 de Outubro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o 1.º Cabo n.º 03485567, M. J. P. G., com 15 dias de detenção. (2)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340


(ii) Louvores e Condecorações

Louvados em 31 de Julho de 1969, por Sua Excelência o Comandante Militar:

Louvo individualmente os seguintes militares:

Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes

1.º Cabo n.º 03485567, Manuel José Pereira Guimarães

Soldado n.º 00633457, Armando Lucena Pinheiro


Porque no dia 2 de Abril de 1969, se ofereceram voluntariamente para ajudar a retirar as viaturas, um morteiro e respectivas munições da proximidade de uma caserna da CART. 2340, em chamas, cujo paiol estava a arder; provocando, de quando em quando, explosões que podiam ser mortais.
A atitude assumida com magnífico desprezo pelo perigo e pelo desembaraço demonstrada constituem exemplo brilhante de coragem e abnegação digno de ser apontado como exemplo.

Louvados em 27 de Outubro de 1969, pelo Excelentíssimo Comandante de Companhia de Artilharia 2340

Louvo o Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes porque durante a sua permanência como comandante do destacamento do Dugal, demonstrou elevado espírito de iniciativa e entusiasmo pelo trabalho, contagiando do seus subordinados, levando-os a melhorar as condições do aquartelamento. O seu trabalho é tanto mais digno de ser apreciado, atendendo à intensa actividade operacional solicitada ao destacamento.

Louvo o 2.° Sargento de Artilharia n.º 51667511, José Virgílio da Rocha Borges, porque durante a sua comissão, desempenhou todas as funções que lhe foram atribuídas, com extraordinária dedicação e entusiasmo, e sentindo do dever, merecendo ser apontado como exemplo, sendo digno das provas de estima de que foi alvo, tanto da parte dos seus superiores como dos seus subordinados.

Louvo o Furriel Miliciano de Artilharia n.º 09539365, Luís Manuel Pessoa Begonha, porque durante a sua comissão, desempenhou com brio honestidade e voluntarioso entusiasmo, todas as funções a que foi solicitado além da sua de comandante de secção. De realçar a extraordinária versatilidade do seu espírito, que lhe permitiu moldar-se ás mais diversas situações, que o tornaram digno da maior estima dos seus superiores e admiração dos seus subordinados.

Louvo o 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, n.º 00019167, Manuel Correia de Oliveira, porque durante a sua comissão, demonstrou grande grau de conhecimentos, e elevado espírito de abnegação, demonstrada várias vezes nas acções em que tomou parte, desprezando o seu estado físico e acorrendo aos camaradas que dele necessitavam, tratando-os e encorajando-os com uma palavra amiga ou um dito espirituoso.

Louvo o 1.º Cabo n.º 02643867, Horácio Correia da Silva, porque durante a comissão, demonstrou em todas as acções, que tomou parte, grande sangue frio, valentia e abnegação. A par destas qualidades era ainda possuído de grande amor ao trabalho, sensatez e correcção que o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir.

Louvo o 1.º Cabo n.º 00462467, Manuel Gonçalves, porque durante a sua comissão, demonstrou extraordinária iniciativa, decisão e valência, nunca descurando o mais pequeno pormenor de segurança, contribuindo assim com a sua sensatez para que os seus camaradas o admirassem e o tomassem como exemplo, conquistando também a simpatia e consideração dos seus superiores. De salientar a sua acção na tabanca de Jumbembem, na qual voluntariamente instruiu um grupo de caçadores nativos.

Louvo o 1.º Cabo Escriturário, n.º 04610267, José Manuel Ribeiro de Barros, porque durante a sua comissão desempenhou as suas funções com extraordinária competência e dedicação, desconhecendo o descanso quando o seu trabalho o exigia. De salientar também, o facto de durante as inúmeras flagelações IN, ao aquartelamento de Canjambari, ser o primeiro a chegar ao morteiro 81 revelando se um precioso e corajoso auxiliar do apontador e substituindo este quando se tornava necessário.

Louvo o 1.º Cabo Operador Cripto, n.º 02220367, José Maria Ribeiro Gaspar porque durante a sua comissão, desempenhou com elevado grau de competência e disciplina o seu cargo. De salientar ter sempre desconhecido horários, para o desempenho das suas funções atendendo a que qualquer mensagem desde a rotina à relâmpago, o encontrava sempre pronto a decifrá-la. Corajoso e digno representante da sua especialidade, a sua conduta é digna de ser apontada como exemplo.

Louvo 1.º Cabo Mecânico Auto, n.º 03276167, Luís Manuel Gomes da Silva, porque durante a comissão se revelou sempre cumpridor e competente, não regateando esforços para o bom andamento do serviço. Bom camarada, conquistou a estima e administração dos seus superiores e camaradas.

Louvo o Soldado Mecânico Auto n.º 02444467, José da Rocha Sousa, porque durante o seu tempo de comissão, revelou alto grau de conhecimento no desempenho das suas funções. De realçar a sua propensão para a resolução de problemas de mecânica o que permitiu o bom êxito de muitas colunas auto.

Louvo o Soldado n.º 10412567, Ezequiel Bento Caixinha, porque no dia 16 de Agosto de 1969, com risco da própria vida, tentou salvar da morte por afogamento do seu camarada africano, Soldado Milícia Mudo Sira, e só o não conseguiu, porque apesar de ter segurado uma corda entre os dentes e nadado para o local onde o milícia se debatia, a corrente forte da maré vazante o não permitiu, tendo-o afastado do soldado que acabou por submergir: Apesar disso, ainda mergulhou várias vezes nas imediações do local, onde ele desaparecera na tentativa de o encontrar.

Louvo o Soldado n.º 00347967, José Maria Barros Lopes, porque durante a sua comissão, se ter comportado como digno, valente e verdadeiro soldado. Voluntário para todas as acções cumpriu-as com elevado espírito de sacrifício. Perguntado acerca das razões do seu voluntariado permanente respondia com ar simples, que tinha vindo para a Guiné, para a conhecer: De salientar a sua acção, quando numa emboscada a NT, nitidamente inferiorizadas fisicamente, e debaixo do fogo IN e dos gritos "agarra à mão ", e apesar de um estilhaço ter perfurado o carregador de sua G3, com imperturbável serenidade o substituiu e ripostou ao fogo IN, contribuindo assim para a sua debandada.

O Comandante da CART 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap Mil Art
_____________________________

Notas do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

5 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

(2) De acordo com os nossos princípios editoriais, optámos por não publicitar o nome dos nossos camaradas da CART 2340 que sofreram punições, embora essa informação possa constar em documentos públicos ou em arquivos públicos. Eles têm direito ao bom nome, pelo que são apenas identificados pelo posto, nº mecanográfico e iniciais do nome. Esta informação sobre louvores e punições tem interesse meramente factual, documental. Faz parte da petite histoire da guerra colonial, das misérias e grandezas das NT e dos seus comandantes... Não nos questionamos sobre a sua justiça ou injustiça, nem temos elementos para o fazer... Em todas as unidades, houve punições e louvores. E, em geral, mais louvores do que punições. (CV/LG).

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2100: Documentos (2): A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (1) (A. Marques Lopes / António Pimentel)

Fotcocópia da capa da brochura Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

Foto: © A. Marques Lopes / António Pimentel (2007). Direitos reservados.
_____________

Todavia, na Guiné trava-se uma guerra revolucionária, escreve Spínola em O Problema da Guiné, em que as duas partes em presença têm um mesmo objectivo: a conquista das populações. Para isso, não basta a G-3, é necessário conjugar a manobra militar com a promoção sócio-económica e a acção psico-social. (1)
______________

Por uma Guiné Melhor:

  1. Organizar a população, junto aos aquartelamentos, para a furtar ao controle do IN.
  2. Incrementar o sistema de auto-defesa.
  3. Desenvolver a acção psicológica, apostando na africanização da guerra.

No Vietnam chamaram-se aldeias estratégicas (2), na Guiné fez-se o reordenamento (3)... As razões para isso estão abaixo explanadas num documento do Com-Chefe, a que tivemos acesso através de um exemplar do arquivo do nosso camarada António Pimentel.

A. Marques Lopes.

Editor: vb.

Reprodução do documento:

INTRODUÇÃO (p. 1)

1. O problema de fundo de toda a manobra de contra-subversão é a conquista das populações. Na Guiné os argumentos sob os quais o PAIGC construiu a sua máquina subversiva e os objectivos que se propõe atingir, estão sendo anulados ou apropriados pela política prosseguida pelo Governo da Província, que se baseia no desenvolvimento sócio-económico da população em tempo útil.

A estagnação sócio-económica que se verificou no passado facilitou a tarefa inicial do PAIGC em ordem à mobilização subversiva. Contudo não foi ainda e não é a curto prazo possível no partido de Amílcar Cabral concretizar os programas de fomento que propagandeia, por não ter ainda a adesão da esmagadora maioria da população e por não ter estruturas e quadros que os ponha em prática, em tempo.

Por outro lado, em relação ao Governo da Província este esforço de fomento, no campo da manobra contra-subversiva, apresenta alguns aspectos favoráveis ao êxito:

- Reduzidas dimensões do território da Guiné, permitindo a rápida deslocação e que, com meios pouco vultuosos e dentro das possibilidades da Nação se desenvolva a manobra contra-subversiva pelo fomento.

- O baixo nível de vida dos países limítrofes possibilitando que uma sensível melhoria, provoque um contraste notável.

Como atrás foi dito, a conquista das populações pelo desenvolvimento sócio-económico, terá de fazer-se em tempo útil, “rapidamente e em força”, provocando o desiquilíbrio das populações indecisas e mesmo das controladas pelo IN, a favor da Causa portuguesa. As populações da Guiné apresentam-se extremamente receptivas e sensíveis às realizações que se traduzam numa melhoria visível da situação da Província. Assim, a necessidade de aproveitar todos os meios disponíveis e a colaboração a que as Forças Armadas são chamadas a prestar.

2. Os reordenamentos são um meio de promoção, mesmo quando impostos pela evolução da manobra militar do IN. O desenvolvimento sócio-económico através deles, alcançar-se-á mais facilmente pela:

-Concentração populacional em menores espaços, permitindo auferir maiores benefícios colectivos.

-Maior economia de meios humanos e técnicos.

-O controle mais eficaz e adequado das populações, subtraindo-as à acção subversiva e impedindo qualquer ajuda que, eventualmente, pudessem dar ao IN.

-A defesa mais fácil, pela concentração, possibilitando a auto-defesa, a existência de destacamentos militares ou a integração do agregado em planos mais vastos de defesa.

PANORAMA DOS PRINCIPAIS GRUPOS ÉTNICOS (p. 2-3)


1. Podemos considerar que existem dois grandes grupos humanos na Guiné: islamizados e animistas. No primeiro grupo incluiremos os Fulas, Mandingas, Beafadas, Saracolés, Sossos e Panjadincas e no segundo, Balantas, Manjacos, Papeis, Felupes, Baiotes, Brames, Banhua e Bijagós.

Existem, no entanto, pequenos núcleos híbridos, formados por etnias que utilizam práticas animistas e islâmicas e são, geralmente, sub-grupos em vias de se islamizarem. O factor religioso condiciona todo um comportamento social feito de usos, costumes e tradições ligadas às práticas religiosas. Assim, existem dentro de cada um dos sub-grupos elementos de afinidade e repulsão, como existem também, e mais vincadamente, entre os islamizados e os animistas. Interessará conhecer os principais elementos de cada grupo e, ainda, de algumas etnias principais, tomadas como padrão.
ISLAMIZADOS
  • forte sentimento tribal
  • quase fanatismo religioso
  • apreço pelo gado bovino
  • fidelidade tradicional às autoridades
  • respeito pela hierarquia religiosa
  • dependência jurídica do Alcorão
  • culto da hospitalidade
  • espírito guerreiro
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida
ANIMISTAS
  • sentimento tribal menos intenso
  • sentimento religioso normal
  • preconceito racial (em relação aos islamizados)
  • apego à família e à terra
  • espírito guerreiro
  • espírito de vingança
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida
  • coesão familiar
  • respeito pela vida da mulher
  • desejo de justiça
Entre os islamizados existem também afinidades e repulsões, elementos que os caracterizam e que são suficientemente fortes para os opor e, simultaneamente, os unir. Usando como exemplo duas etnias islamizadas, as mais representativas quantitativa e qualitativamente, vamos verificar essas motivações.
FULAS
  • Ódio ao mandinga
  • Apreço e dependência do gado bovino [ilegível]
MANDINGAS
  • Ódio ao Fula
  • Apreço de gado bovino só para fins [ilegível]
As afinidades entre os animistas são talvez mais flagrantes, visto que as religiões são diversificadas e não existe uma unidade sob o ponto de vista religioso que, como já se disse, condiciona o seu comportamento social. No entanto, existe similitude de práticas religiosas, o respeito pelos espíritos dos mortos e pelos símbolos que os representam (os Irãs), o respeito e aceitação espontânea e indiscutível das interpretações dos guardas de Irã que constituem uma espécie de sacerdotes do animismo.
Das etnias tomadas como exemplo, os Balantas e os Manjacos constituem as principais dentro do grupo animista. Os Balantas têm uma população de 150.000 habitantes e a totalidade do grupo constitue dois terços da população guineense. Os Felupes, sendo uma minoria étnica é, sem dúvida, extraordináriamente característica por ser uma das mais primitivas e, ainda, a mais antiga que se conhece como originária do território guineense.
BALANTAS
  • culto do roubo como prática social
  • resistência à cultura europeia
  • desrespeito pelas hierarquias verticais
  • interesse material pela família
  • resistência ao cristianismo e islamismo
MANJACOS
  • aversão ao roubo
  • desejo de toda a cultura
  • respeito pelas hierarquias verticais
  • interesse relativo pela família
  • resistência ao cristianismo e islamismo
FELUPES
  • não aceitação do roubo
  • resistência à cultura europeia
  • respeito pelas hierarquias verticais
  • interesse pela família (influência da mulher)
  • permeabilidade ao cristianismo
Existindo dentro de cada um dos grupos humanos- Islamizados e Animistas- motivações tão flagrantes, é lógico que entre ambos essas motivações aumentem, já que são duas sociedades distintas em presença, cada uma das quais mantendo em relação à outra uma certa animosidade. A compreensão dessas motivações, facilitará esta visão geral do mosaico étnico- religioso e humano- da Guiné Portuguesa.
ISLAMIZADOS
  • monoteístas
  • forte sentimento religioso
  • dependência jurídica do Alcorão
ANIMISTAS
  • diferentes concepções da divindade
  • relativo sentimento religioso
  • independência jurídica de fórmulas religiosas
(Continua)
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Notas do co-editor vb:


(2) The Strategic Hamlet Program foi um plano dos governos do Vietame do Sul e dos Estados Unidos da América durante a guerra do Vietname para combater a insurreição comunista, que incluía a transferência de populações.

(3) Consultas:

(i) Segundo a directiva 49, de 16/10/1968, do Comando Chefe das F. A. da Guiné, a Divisão de Organização e Defesa das Populações ficou encarregada do estudo, impulsionamento, coordenação e fiscalização do reordenamento, pelo recenseamento e pelo enquadramento e defesa das populações.

(ii) Segundo o Relatório de Comando, 1971, do Comando-Chefe das F. A. da Guiné, em Dezembro de 1971, estavam registadas 46 tabancas organizadas em auto-defesa.

Guiné 63/74 - P2099: PAIGC - Propaganda (4): Os fuzileiros desertores, Livres da Criminosa Guerra Colonial! (Júlio César / António Pinho)



1. Mensagem do Júlio César :


Caros amigos.

Envio-lhes um panfleto de propaganda do PAIGC, àcerca dos 3 Fuzileiros que então desertaram, encontrado pelo ex-Fur Mil António Pinho, da CCAÇ 2658, do BCAÇ 2905, aquando uma picagem para Binar.

Este panfleto é apenas uma fotocópia que me foi cedida pelo meu amigo António Pinho, natural do Porto, onde podemos ver, escrito pela sua própria mão, a data em que foi encontrado: 29/5/70 e a respectiva descrição: "Encontrado durante a picagem para Binar".

Porque estava colocada em aberto a data em que ocorreram estes factos, talvez esta descrição possa esclarecer alguma coisa!!!

Júlio César

CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905

Cacheu (1970/1972)

______

Nota de L.G.:

(1) Vd.posts de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)

1. Mensagem do João Tunes (ex-alf mil de transmissões, Pelundo e Catió, 1969/71), com data de 10 de Março de 2007:

Caro Luís e demais camaradas,

Mandam as boas regras das assembleias que cada cidadão, com as quotas em dia e devidamente identificado e não fuja da ordem de trabalhos, possa apresentar propostas à Mesa e depois retirá-las se assim o entender.

Foi o caso com a minha proposta sobre um camarada fuzileiro desertor (1). Li atentamente as posições, requerimentos e moções que ela suscitou (2). E aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia. E como, em nós, se sedimenta o nosso posicionamento para com os outros.

Também aumentei os meus conhecimentos sobre a relatividade do conceito de desertor ao constatar que é considerado respeitável aquele que desertou do PAIGC para passar a combater nas NT e como já não o é o que das NT se passou para o PAIGC.

Desconto, entretanto, as indignações. Não porque não as respeite, apenas as considero com um saldo de empate com outras que aqui já senti e engoli. Valeu, pois, a pena. Sob todos os aspectos. E só posso agradecer a frontalidade com que se manifestaram aqueles que se exprimiram em repúdio ou até em repugnância.

Face à prática unanimidade das posições expressas, resta-me, com toda a humildade democrática, pedir à Mesa que considere a minha proposta nula de efeitos por falta de liquidez em termos de aceitação. E fica um bem hajam a todos os camaradas.

Saudações amigas do

João Tunes


2. Comentário do editor L. G.:

Na altura (Março de 2007) mandei a seguinte nota para a tertúlia:

(i) O João merece um grande aplauso, não por retirar a proposta, mas pela sua coragem, frontalidade, coerência e honestidade intelectual... Num ponto estamos de acordo: não pode haver dois pesos e duas medidas para os nossos desertores e para os do PAIGC... Os do PAIGC seriam bons, os nossos traidores... Além disso, também tivemos desertores arrependidos como o fuzileiro Alfaiate... que foi a Conacri com o Alpoim Galvão...

(ii) Por outro lado, o João é um grande observador do nosso grupo, ao dizer: “Aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia”... Bem hajas, João, por teres agitado e animado a caserna... É verdade: isto ainda é uma Caixa de Pandora, cheia de fantasmas e demónios, ainda há muitos esqueletos no sótão da memória... Mas foi um bom ensaio para outros debates.



3. Também o João Bonifácio (ex-furriel vagomestre da CCAÇ 2402, camarada do Raul Albino, vivendo actualmente no Canadá) fez, na altura, um comentário que não chegou a ser publicado:

Meu Caro João:

No assunto a que faz referência, pode dizer-se que todos tiveram a oportunidade de dar as suas opiniões. Este tema desertores teria tido uma reacção diferente se a questão fosse posta nessa altura, mas após todos estes anos, e já com mais experiência e tolerância, e por isso é apenas natural a diversificação de pontos de vista.

Não pense o João que pelo facto de nem todos terem as mesmas ideias, retiram o mérito do tema. A verdade é que pudemos expor as nossas versoes, sem necessariamente estar do lado das mesmas. Não há repúdio, mas pelo contrário o João teve a coragem de trazer a esta caserna um ponto em que houve debate. Quanto às conclusões, pouco há a dizer, pois de um modo geral, e eu tive a oprtunidade de ler todos os e-mails que me foram enviados, não achei que se tivesse chegado a um consenso, para que a chamada moção passasse à fase seguinte.

Por tudo isto, vamos todos pensar que um bom tema para ser discutido abertamente e democraticamente, e se alguns fizeram depoimentos que nos levam a crer que a Guerra onde andamos, ainda os perturba, pois é apenas isso e nada mais.

Através do Luís, desejo agradecer a coragem e a frontalidade e esperar que os desertores não seja o último tema para nos ocupar as horas vagas da caserna.

Um grande Abraço

João Gomes Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851
, Mansabá, Olossato
1968/70

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(2) Vd. posts de:

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1585: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (1): Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema Santos

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1587: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (3): Vitor Junqueira / Sousa da Castro

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1588: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (4): Torcato Mendonça / Mário Bravo

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha

13 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1591: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (6): Pedro Lauret

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1593: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (8): A. Marques Lopes

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1596: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (9): Humberto Reis

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1597: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (10): Idálio Reis

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1599: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (11): Paulo Salgado

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1604: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (12): J. L. Mendes Gomes

17 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1606: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (13): Jorge Cabral