quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)

1. Mensagem do João Tunes (ex-alf mil de transmissões, Pelundo e Catió, 1969/71), com data de 10 de Março de 2007:

Caro Luís e demais camaradas,

Mandam as boas regras das assembleias que cada cidadão, com as quotas em dia e devidamente identificado e não fuja da ordem de trabalhos, possa apresentar propostas à Mesa e depois retirá-las se assim o entender.

Foi o caso com a minha proposta sobre um camarada fuzileiro desertor (1). Li atentamente as posições, requerimentos e moções que ela suscitou (2). E aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia. E como, em nós, se sedimenta o nosso posicionamento para com os outros.

Também aumentei os meus conhecimentos sobre a relatividade do conceito de desertor ao constatar que é considerado respeitável aquele que desertou do PAIGC para passar a combater nas NT e como já não o é o que das NT se passou para o PAIGC.

Desconto, entretanto, as indignações. Não porque não as respeite, apenas as considero com um saldo de empate com outras que aqui já senti e engoli. Valeu, pois, a pena. Sob todos os aspectos. E só posso agradecer a frontalidade com que se manifestaram aqueles que se exprimiram em repúdio ou até em repugnância.

Face à prática unanimidade das posições expressas, resta-me, com toda a humildade democrática, pedir à Mesa que considere a minha proposta nula de efeitos por falta de liquidez em termos de aceitação. E fica um bem hajam a todos os camaradas.

Saudações amigas do

João Tunes


2. Comentário do editor L. G.:

Na altura (Março de 2007) mandei a seguinte nota para a tertúlia:

(i) O João merece um grande aplauso, não por retirar a proposta, mas pela sua coragem, frontalidade, coerência e honestidade intelectual... Num ponto estamos de acordo: não pode haver dois pesos e duas medidas para os nossos desertores e para os do PAIGC... Os do PAIGC seriam bons, os nossos traidores... Além disso, também tivemos desertores arrependidos como o fuzileiro Alfaiate... que foi a Conacri com o Alpoim Galvão...

(ii) Por outro lado, o João é um grande observador do nosso grupo, ao dizer: “Aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia”... Bem hajas, João, por teres agitado e animado a caserna... É verdade: isto ainda é uma Caixa de Pandora, cheia de fantasmas e demónios, ainda há muitos esqueletos no sótão da memória... Mas foi um bom ensaio para outros debates.



3. Também o João Bonifácio (ex-furriel vagomestre da CCAÇ 2402, camarada do Raul Albino, vivendo actualmente no Canadá) fez, na altura, um comentário que não chegou a ser publicado:

Meu Caro João:

No assunto a que faz referência, pode dizer-se que todos tiveram a oportunidade de dar as suas opiniões. Este tema desertores teria tido uma reacção diferente se a questão fosse posta nessa altura, mas após todos estes anos, e já com mais experiência e tolerância, e por isso é apenas natural a diversificação de pontos de vista.

Não pense o João que pelo facto de nem todos terem as mesmas ideias, retiram o mérito do tema. A verdade é que pudemos expor as nossas versoes, sem necessariamente estar do lado das mesmas. Não há repúdio, mas pelo contrário o João teve a coragem de trazer a esta caserna um ponto em que houve debate. Quanto às conclusões, pouco há a dizer, pois de um modo geral, e eu tive a oprtunidade de ler todos os e-mails que me foram enviados, não achei que se tivesse chegado a um consenso, para que a chamada moção passasse à fase seguinte.

Por tudo isto, vamos todos pensar que um bom tema para ser discutido abertamente e democraticamente, e se alguns fizeram depoimentos que nos levam a crer que a Guerra onde andamos, ainda os perturba, pois é apenas isso e nada mais.

Através do Luís, desejo agradecer a coragem e a frontalidade e esperar que os desertores não seja o último tema para nos ocupar as horas vagas da caserna.

Um grande Abraço

João Gomes Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851
, Mansabá, Olossato
1968/70

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(2) Vd. posts de:

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1585: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (1): Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema Santos

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1587: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (3): Vitor Junqueira / Sousa da Castro

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1588: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (4): Torcato Mendonça / Mário Bravo

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha

13 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1591: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (6): Pedro Lauret

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1593: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (8): A. Marques Lopes

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1596: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (9): Humberto Reis

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1597: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (10): Idálio Reis

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1599: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (11): Paulo Salgado

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1604: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (12): J. L. Mendes Gomes

17 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1606: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (13): Jorge Cabral

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