Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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domingo, 23 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26520: Parabéns a você (2352): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)
Nota do editor
Último post da série de 17 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26502: Parabéns a você (2351):António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo e Cantacunda, 1965/67)
domingo, 6 de outubro de 2024
Guiné 61/74 - P26014: Humor de caserna (76): O Piteira , alentejano de Bencatel, "voando sobre um ninho de cucos, na prova de "slide" em Lamego (José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra", vol. I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp.43-49)

Foto: © José Ferreira da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O José Ferreira da Silva, ex-fur mil op esp / ranger, CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), é sobejamente conhecido na Tabanca Grande como uma mestre na arte de contar histórias pícaras. E, claro, é um homem afável.
"Histórias Boas da Minha Guerra", em 3 volumes (publicadas sob a chancela da Chiado Editora), são a prova de que os antigos combatentes da Guiné, além de terem de ser bons operacionais, também sabiam escrever, com piada e talento , sobre muitas das suas peripécias da tropa e da guerra.O Silva da CART 1689, o nosso mestre do pícaro, é sempre desconcertante nas histórias "boas" que elegeu da sua vida militar: muitas delas são de antologia, como esta que voltamos aqui a reproduzir, em que o protagonista é "o Piteira, o ranger do Alentejo". Espero que gostem e comentem.
Por lapso, o autor chamou "rapel" à prova de "slide". Tomámos a liberdade de corrigir o erro.
O António Piteira, natural de Bencatel, próximo de Borba, era uma força da natureza. Conheci-o em Vendas Novas, durante o Curso de Artilharia. Irrequieto e provocador, vivia sempre em competição, parecendo querer afirmar-se em tudo.
Dizia-se que nas Caldas da Rainha, estando doente, não aceitou o resultado da prova de potência. Foi repeti-la, para baixar mais de 30 segundos.
Como era bom jogador de futebol, foi aproveitado para jogar como ponta de lança no Estrelas de Vendas Novas. Ainda como jogador do Lusitano de Évora, foi treinar ao Sporting e, segundo ele, como não lhe passavam a bola, abandonou o treino chamando-lhes "filhos da p...".
Mais de meio ano depois, em setembro de 1966, encontrámo-nos em Lamego para prestar provas para o curso de "ranger". Curioso que nem ele nem eu desejávamos lá ficar. Por isso, durante as provas de selecção, tudo fizemos para ficarmos em último lugar. Porém, de nada nos valeu essa artimanha e obrigaram-nos a ficar lá.
Inicialmente, o nosso relacionamento foi muito bom. Todavia, devido às suas aventuras e provocações, passávamos muito do tempo a discutir. Uma das coisas que ele gostava era de exibir as calças da farda de trabalho nº 3, abertas / descosidas entre as pernas.
Num dia muito frio de finais de novembro, estava anunciada a descida noturna em "slide", desde a torre da Sé para a parada. Pois o amigo Piteira descobriu logo ali mais uma forma de se exibir. Disse-me que deveria ser engraçado descer com o cigarro aceso que, com o movimento da descida, pareceria um cometa. E decidiu que ia fazer isso.
Entretanto, o Comandante chegou, acompanhado, como habitualmente, da sua mulher, ambos garbosamente vestidos de camuflados, cuidadosamente passados a ferro. Ela vinha já preparada, como sempre, para exemplificar como se devia fazer a descida em "slide" a qualquer maricas que acusasse falta de coragem. E o Comandante, sempre de mangas arregaçadas, mostrava a sua valentia, ainda que exibindo pêlos encrespados na evidente “pele de galinha” provocada pelo frio e, por vezes, através da voz entrecortada, devido ao “congelamento” dos maxilares.
Mal vi o Piteira pendurado no cabo do “slide", de pernas abertas, calças rotas denunciando o “aparelho recreativo” e o cigarro aceso na boca, larguei a fugir para a mata, escondendo-me na escuridão e jurando que, desta vez, não iria aparecer para “pagar” juntamente com ele a pena que lhe iria ser aplicada. Ele descia pelo cabo devagar, possivelmente para prolongar o espetáculo. Porém, o Comandante, de megafone na mão, logo exclamou:
–Ohhhh!!! – soaram, em espanto, as vozes da assistência, seguidas de algumas gargalhadas.
A sessão de "slide" acabou, e eu silenciosamente, fui-me introduzindo no quartel e meti-me na cama de baixo do beliche (a de cima era dele, porque fumava). Não sei onde ele esteve. O que sei é que, quando todos já dormiam, ele surgiu, apoiando-se aos armários, até chegar junto da cama. Não se aguentava de pé. Aninhou-se e caiu sobre a cama, ao meu lado, sem dizer uma palavra. Fui para a cama de cima.
Sempre que vejo o filme “Voando sobre um ninho de cucos” (um dos meus preferidos) identifico com o Piteira a personagem irreverente interpretada pelo Jack Nicholson. E quando ele vem para o dormitório, a regressar da sua última dose de tratamento de choque, eu penso:
(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
Nota do editor:
domingo, 29 de setembro de 2024
Guiné 61/74 - P25992: Humor de caserna (75) - Os "pilha-galinhas" (José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra", Vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 75/77)
Guiné > Região de Tombali > Catió > CART 1689 (1967/69) > O Silva com o Darei, um dos "pilha-galinhas" desta história. em Catió, onde ele ficou. O outro, o Una, faleceu em Gandembel no dia 19 de Abril de 1968 durante a Op Bola de Fogo.
Foto: © José Ferreira da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O José Ferreira da Silva, escritor, retornado de Cabinda, beirão de Santa Maria da Feira, tripeiro e "bandalho" de opção, crestumense de coração, desportista e sobretudo dirigente desportivo de reconmhecido mérito, ex-fur mil op esp / ranger, CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), é sobretudo uma mestre... da arte de contar histórias pícaras.
"Histórias Boas da Minha Guerra", em 3 volumes (publicadas sob a chancela da Chiado Editora), são já de leitura obrigatória para os senhores professores que vão amanhã explicar aos nossos netos e bisnetos o milagre da longevidade de 5 séculos do império português.Afinal, os últimos soldados do império, os que fecharam o "ciclo" da nossa "transumância" transoceânica, não eram propriamente meninos de coro, mas talvez mais prosaicamente "pilha-galinhas"... Com uma guerra tão longe de casa, em três palcos diferentes, a muitos milhares de quilómetros, é natural que houvesse, de tempos a tempos, falhas logísticas, e nomeamente dos comes & bebes da Intendência.
O valente soldado da guerra do ultramar, de África ou colonial (conforme o leitor queira, de acordo com a sua "cartilha" político-ideológica) bateu-se galhardamente, e um em cada cem morreu (em combate, de acidente ou de doença). Mas, graças a Deus, nenhum morreu de fom (de sede terão morrido alguns...).
Há uma herói desconhecido na nossa história bélica mais recente: o "pilha-galinhas". O Silva da CART 1689", o nosso mestre do pícaro, faz-lhe justiça neste microconto que merece ir para a nossa série "Humor de caserna"... LG
De 29 de novembro a 13 de dezembro de 1967, a nossa CART 1689 esteve envolvida na implantação e construção do destacamento de Gubia, na zona de intervenção de Empada. Depois de um desembarque em LDP ao amanhecer, “à maneira da Normandia”, e após a ocupação do local apropriado, iniciaram-se os trabalhos das construções defensivas.
Quando ocupámos aquele local, apanhámos vários cabritos e muitas galinhas, que eram da população, e que fugira ao ouvir o barulho dos motores das lanchas. Desde logo, sempre que determinado pelotão saía, as suas galinhas estavam à mercê dos outros militares que ficavam no acampamento.
Os soldados milícias Darei e Una, que eram do meu pelotão, quase não falavam entre si, pois, sendo de etnias diferentes, sentiam dificuldades em comunicar. Porém, entendiam-se lindamente.
– Ladrões, filhos da puta!... Eu fodo-vos!!! – gritava alguém lá ao fundo.
Ouvia-se também um restolho enorme de quem vinha a corta-mato e em fuga. Surge a uns 70 metros o Una a correr, com uma galinha encostada ao peito, ao mesmo tempo que a depenava a uma velocidade incrível.
Logo de seguida, surge o Flausino, sempre a gritar:
– Filhos da puta, ladrões!... Já vos apanho!!!
Ao passar junto de nós, o Una deixa cair a galhinha para as mãos do Darei que logo lhe enfia o espeto, do cu até ao pescoço, e o coloca imediatamente nas brasas.
- A galinha?... ga..ga..linha?...ga...aali ..li...li....?
Como ficou estarrecido a olhar também para o "assado” que mexia nas brasas, o Darei, imperturbável, respondeu:
– Galinhiiii.. nh’cá tem! ...Ess’é galo!!!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série > 12 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25936: Humor de caserna (74): " O "Biró-lista", atirador de... morteiro (Alberto, Branquinho, "Cambança final", 2013, pp. 105-107)
sábado, 7 de setembro de 2024
Guiné 61/74 - P25917: Humor de caserna (72): Estragos no bananal (José Ferreira da Silva, autor de "Memórias Boas da Minha Guerra", vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 64/66)

− Dá licença, meu Capitão – pede o Berguinhas, ao mesmo tempo que entra no Gabinete.
E continuou:
− Estamos aqui há pouco mais de uma semana e você pede uma quantidade destes remédios, que dava para meia dúzia de anos?
− O quê??? – interrompeu em grito alarmante o Capitão.
− Estamos tramados! – exclamou o Capitão, que aproveitou para dizer:
− Ó Faria, você não sabe utilizar outras palavras como blenorragia, pénis, vagina e …
− Ânus? – interrompeu o Faria, que acrescentou:
− Ó meu Capitão, não vale a pena usar essas modernices. Sabe que a Companhia é toda do norte e, se eu falar assim, chamam-me p*neleiro em pouco tempo. E isso, nem pensar. Tenho uma promessa ao São Gonçalo de Amarante e quero ir lá cumprir com a minha patroa nem que seja no meio do milho. Os nossos soldados percebem bem o que é um esquentamento e p*ça e ca*alho e que c*na é o p*to e que o cu é o cagueiro, a peida, o pacote, o traseiro etc, etc.. Essas outras palavras, não.
− Ó Alferes Clarinho, chegue aqui – berrou o Capitão de forma a ser ouvido para além da divisória.
− Não percebo nada disto. Você foi à tabanca, fez o relatório e não detetou que havia para lá problemas de saúde – disse o Capitão, ao mesmo tempo que apanhava umas folhas agrafadas.
− Diz aqui: ”Sobre aspectos de saúde nada há a salientar. Apenas pequenos problemas de respiração ou de sinusite em algumas mulheres”. Ora, isto não justificava que mandasse os enfermeiros à tabanca. Então o Cipaio não lhe disse mais nada? É que o nosso pessoal está todo contaminado com blenorragia.
O Alferes, calmamente, pareceu fazer um esforço de memória antes de responder:
Último poste da série > 6 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25814: Humor de caserna (71): O "Xelorico" (José Ferreira da Silva, autor de "Memórias Boas da Minha Guerra", vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 67/69)
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
Guiné 61/74 - P25814: Humor de caserna (71): O "Xelorico" (José Ferreira da Silva, autor de "Memórias Boas da Minha Guerra", vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 67/69)
1. O Zé Ferreira, ex-fur mil op esp, "ranger", CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), passou pelos melhores "resorts" turísticos da Guiné do seu tempo, e não regateou à Pátria o pagamento do imposto de sangue, suor e lágrimas.
- Memórias Boas da Minha Guerra
- Outras Memórias da Minha Guerra
- Boas Memórias da Minha Paz
Logo de início ficou marcado pelo nome de Xelorico. Quem o batizou (e martirizava) foi o Silveira, de Matosinhos. O Ribeiro esforçou-se tanto para corrigir o seu falar, que já não aceitava essa “provocação” e passou a gabar-se de falar melhor que os gajos do Porto.
Quando fizemos a Operação Inquietar II, estivemos sob uma emboscada do IN durante mais de três horas. Durante esse tempo foram-se esgotando as munições sem que víssemos saída para a situação. O ambiente era de péssima expetativa e as esperanças de solução iam diminuindo à medida que o tempo passava.
– Ó Ribeiro, desculpa lá por ter gozado com a coisa do Xelorico.
– Se escaparmos desta, nunca mais te vou chatear com isso... Tás a oubir, morcom?
– Afinal, não tens razão nenhuma, porque eu não falo assim.
Uns minutos depois, numa das reações do IN, veio uma granada de LGFog, um “rocket”, embater contra uma árvore grande, que estava perto. Os estilhaços incandescentes espalharam-se em várias direções e um deles rasgou a bochecha do Ribeiro, do lado esquerdo e entrou-lhe na boca
– Flholda-lhe, Slilbeila, flholalam-me cum stilhalho. Estlhou flholhilho.
O Silveira, que ficou bastante preocupado ao ver o ferimento e a sangrar, ia repetindo para o encorajar:
– Tem calma, Xelorico. Tem calma qu’ isso tapa-se. Bais ficar bom. Olha qu’ inda bais ficar a falar à moda de Lisbaua.
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(**) Último poste da série > 22 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25866: Humor de caserna (70): um "tuga"... (de)composto, ou uma estória pícara num almoço fula (Alberto Branquinho, autor de "Cambança final", 2013)
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Guiné 61/74 - P25202: Parabéns a você (2248): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)
Nota do editor
Último post da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25178: Parabéns a você (2247): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24921: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (20): 10 de Junho (Só para Patriotas)

BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 18
10 de Junho
(Só para Patriotas)
Há um grupo de ex-combatentes da Guerra do Ultramar que se vem reunindo mensalmente em alegres convívios, usufruindo de excelentes “provas” de gastronomia, enriquecidos com admiráveis programas de lazer e de cultura. Neles se cimentaram grandes laços de amizade, solidariedade e camaradagem.
Chama-se “O Bando do Café Progresso” e deve a sua formação a um pequeno grupo de jovens que frequentava assiduamente o “Café Progresso” (o mais antigo do Porto), especialmente no período anterior ao seu ingresso no serviço militar e sua consequente mobilização para a Guerra do Ultramar. Por coincidência passaram maioritariamente pelo mesmo percurso (Caldas, Mafra, Vendas Novas, Tavira, Santarém, Espinho e… Guiné).
Muito mais tarde, o Facebook promoveu a reaproximação de uns e a adesão de outros. Quem fomentou mais a afirmação do grupo foi o saudoso Jorge Portojo. Os membros do “Bando” tratam-se por tu, convivem como irmãos, sem distinção militar, social, clubística, profissional e académica. Cada um vai-se integrando ou afastando livremente, conforme a sua disposição para adaptação à camaradagem, amizade, solidariedade e tolerância. Graças a isso, e a mais de uma dúzia de anos de vivências regulares, temos um bom núcleo de base de grande confiança e amizade. Aqui, ninguém impõe nada, nem é obrigado a nada. Apenas tem de se sentir bem sem chatear ninguém.
Portugal não respeita o dia da sua Independência. Deve ser o único país do Mundo que não festeja o dia da sua independência!
Há quem diga que na “corte” da nossa Capital nunca foi nem será aceite que a fundação de Portugal tenha sido antes da conquista de Lisboa aos mouros.
Graças à grandeza do Camões (muito anterior ao Eusébio, Ronaldo, José Sócrates e Pinto da Costa), os portugueses vêm assinalando a data da sua morte como ponto alto da nossa portugalidade.
E chegou mais um 10 de Junho. Nada de novo: uma descentralizaçãozita das cerimónias para o interior do País e para junto das comunidades lusas de emigrantes no estrangeiro, garantindo assim a participação popular, mais pura e mais patriótica. Oportunidade única para se mostrar alguns adereços locais, mais políticos, mais medalhas discutíveis, mais fardas de vários tipos, incluindo algumas orientadas pela anquilosada/estatizada/Salazarenta Liga dos Combatentes. Mesmo assim, temos vindo a assistir a desfiles de figuras do poder, suas selfies e seus discursos vergonhosamente desenquadrados da importância solene que este Dia de Portugal exige.
Nós, “Bandalhos” do “Bando”, que sempre nos honramos da Pátria que defendemos, que além da Guerra, nos preocupámos e lutámos pela dignidade, honra e solidariedade dos nossos Camaradas, infelizmente pouco conseguimos e muito nos desacreditámos.
Prevalece, isso sim, o espírito “Bandalho”, que nos proporciona a boa ambiência, a amizade e a óptima camaradagem. E sempre manteremos o sentido patriótico com orgulho e muito respeito.
10 de Junho de 2023
Sem políticos, sem fardas, sem desfiles e sem medalhas, o “Bando” poisou, mais uma vez (a 10.ª), na lindíssima povoação de Crestuma,
Concentrados no Miradouro deslumbrante do Largo da Igreja, pelas 12h00 fizemos a Romagem ao Cemitério onde foi depositado um lindo ramo de flores. O Romualdo Silva complementou a Homenagem aos ex-Combatentes locais, enaltecendo a sua prestação militar, espirito de sacrifício e dever patriótico, na defesa do seu País e da sua comunidade.
Seguimos para as instalações do Clube Náutico de Crestuma, onde tivemos a oportunidade de conhecer um dos principais clubes da Canoagem Portuguesa.
Na montra de Troféus do C. N. Crestuma, deparamos com o Troféu Olímpico, que é atribuido ao clube desportivo de maior destaque no período dos 4 anos de Ciclo Olímpico
Como Fundador e Primeiro Presidente (e Honorário) desta Colectividade, “deixaram-me” fazer o papel de Guia. O Clube (propriamente dito) estava ausente, a participar em Provas de Canoagem na Catalunha.
Subimos para a Esplanada, onde prosseguiu o nosso 10 de Junho “à nossa maneira”.
Ali, quase debruçados sobre as águas do Rio Douro, envolvidos numa belíssima paisagem e acarinhados pelo aconchego das nossas queridas, resolvemos homenagear (finalmente!) as nossas Madrinhas de Guerra
Ainda entretidos a “decidir opções” perante a excelente mostra das entradas, o Ricardo Figueiredo já aproveitava para citar Camões, a referência ao dia e o expoente máximo da nossa cultura.
“Eternos moradores do Luzente
Estelífero polo e claro acento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento”
E referiu:
“…Ao longo da nossa história, muitos foram os exemplos de dedicação, altruísmo e coragem de militares que, em cumprimento do dever, sublimaram as suas capacidades ao serviço de Portugal. Foram heróis que connosco partilharam o quotidiano das suas vidas. Afinal, homens simples, capazes de feitos extraordinários.
Ao percorrermos a nossa memória, lembramo-nos dos cerca de 10.000 portugueses mortos e de mais de 54.000 feridos em combate e aí revemos os nomes de familiares e amigos.
E recordamos também aqueles que, ao longo de 9 séculos, deram a vida por Portugal.
Fomos Combatentes!
Somos ex-Combatentes!
Fomos soldados de excepção. Fizemos da distância e da saudade um desafio a vencer, aceitámos a falta de recursos como razão para a iniciativa e para a adaptabilidade fizemos da juventude o tempero da camaradagem.
E é desta lembrança de uma camaradagem fortalecida em tempos difíceis de guerra que resultam os nossos sentimentos de saudade.
Lembramos os nossos camaradas que sobreviveram e os que recentemente da lei da morte se passaram para outra dimensão.
Lembramos:
Jorge Portojo,
Carlos Peixoto,
Armando Santos,
Barreto Pires,
José Valente,
António Piteira,
Francisco Alen
Henrique Azevedo
Carneiro de Miranda
Manuel Maia
…”
Após o minuto de silêncio, procedeu-se à distribuição dos Diplomas de Homenagem às Madrinhas de Guerra, entregues pelos seus próprios afilhados. A nossa geração não esquece.
E a pedido, o Ricardo também leu:
Ex.mas Madrinhas de Guerra
Camaradas Combatentes
Desde miúdos, que nos habituámos a respeitar o 10 de Junho, como Dia de Camões, Dia da Raça. Dia de Portugal.
Era neste dia que se enalteciam os maiores feitos dos Portugueses!
Dia consagrado aos nossos heróis!
Vimos jovens, robustos, firmes, inteiros ou estropiados, garbosamente fardados.
Vimos pais, mães e filhos, vestidos de negro.
Vivos ou mortos, os nossos valorosos Combatentes estavam ali, orgulhosamente, para Honra e Glória da nossa Pátria.
Eram respeitados como a expressão máxima do nosso heroísmo.
Os tempos foram mudando, os combatentes foram esquecidos e as Cruzes de Guerra foram substituídas por grandes e abundantes Comendas.
Agora, os heróis são outros. São experts da política, da economia, da vigarice, do marketing e do chico-espertismo.
Curiosa e vergonhosa a situação reinante.
É que muitos deles (nós também), aguardam da verdadeira Justiça, a desejada e demorada condenação!
Volvido meio século da nossa história, nós, a geração que tudo sofreu,
A geração que em tudo acreditou,
A geração que sempre trabalhou,
Sente-se agora algo envergonhada pela situação a que chegamos.
Sem força, física e anímica, resta-nos a razão moral que nos alimenta vida fora.
Muito fizemos!
Mas muito deixamos por fazer!
É por isso, que, volvido tanto tempo, ainda vivemos preocupados com desejados acertos da nossa História.
Hoje, mais uma vez, lembramos o 10 de Junho, através de uma singela Homenagem.
A Homenagem às nossas Madrinhas de Guerra.
Sem elas, a guerra teria sido outra.
Sem elas, não teríamos vivido a Paz e o Amor.
Sem elas, não valeria a pena viver!
Obrigado Madrinhas de Guerra!
Obrigado Madrinhas no Amor!
Vós sois a razão da nossa existência.
VIVAM ÀS NOSSAS MADRINHAS !!!
VIVA PORTUGAL !!!
Uma inédita e muito singela Homenagem que provocou momentos de grande emoção e ainda de …muito amor.
Foram Homenageadas as seguintes Madrinhas de “Bandalhos”:
Gilda Ferreira - de - José Ferreira
Virgínia Teixeira - de - Jorge Teixeira
Carminda Cancela - de - Jose Manuel Cancela
Margarida Peixoto - de - Joaquim Peixoto
Cândida Rainha - de - Ricardo Figueiredo
Almerinda Freire - de - José Freire
Constantina Silva - de - Fernando Silva
Rosário Guimarães - de - Manuel Cibrão Guimarães
Amélia Fonseca - de - Luis Bateira
Maria Inês Sá - de - Manuel David Sá
Isabel Encarnação - de - João Encarnação
Emília Silva - de - Romualdo Silva
Maria Anjos Ramalho - de - Alberto Moura
Júlia Gomes - de - Isolino Gomes
Eulália Oliveira - de - António Pimentel
Maria de Fátima Carvalho - de - Antonio Carvalho
Umbelina Carneiro - de - Joaquim Carneiro
Constança Lopes - de - António Moreira
Fátima Sousa - de - José António Sousa
Maria José Costa - de - José Sousa
Conceição Claro - de - Damião Carneiro
Fátima Anjos - de - Francisco Baptista
Ana Maria Marques - de - António Duque Marques
Quina Carmelita - de - Manuel Carmelita
Assunção Paupério - de - Rogério Paupério
Constança Maria - de - António Gonçalves
Manuela Campos - de - Eduardo Campos
Fernanda Soares - de - Alberto Godinho
Luísa Lopes - de - José Manuel Lopes
Tudo bem regado com bebidas escuras, brancas e outras e bem-humorado, com destaque para a animação da dupla “Ricardo e Carneiro” e para o grupinho das “Tecedeiras de Crestuma”
“Estes guerreiros são bons
C´o copito no punho
Clamam em vários tons
Pureza no 10 de Junho”
Silva Da Cart 1689
José Ferreira da Silva
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21260: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (19): O Sousa da Ponte… de Pedra
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023
Guiné 61/74 - P24090: Parabéns a você (2147): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)
Nota do editor
Último poste da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24073: Parabéns a você (2146): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo e Cantacunda, 1965/67)
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...
Foto nº 1 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Foto de grupo, começando pelo lado esquerda, o Zé Ferreira, o Manuel Resende, o Mário Fitas e o Jorge Teixeira. Do lado direito, outro "bandalho", o José Sousa que veio integrado na "deputação" do Norte, o José Diniz de Sousa Faro, o Domingos Robalo, o António Duque Marques... O camarada, a seguir, de camisa amarela, estou com dificuldade em identificá-lo... Apesar de diversas desistências de última hora, com medo da sexta vaga da Covid, a ala compôs-se e tudo parece ter corrido bem.
Foto nº 2 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Dois dos escritores de O Bando: tão bem dispostos quanto talentosos, o Francisco Baptista e o José Ferreira
Foto nº 3 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > José Ferreira. Eduardo Moutinho Santos e Eduardo Campos (com ar de quem já está meio "covidado": foi um dos que adoeceu, a seguir)...
Foto nº 4 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Outro dos escritores de O Bando, António Carvalho, e o seu "assistente", o Zé Manel Cancela.
Foto nº 5 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O bandalho-mor, o Jorge Teixeira, encantado por vir à terra dos mouros, e o seu assssor jurídico, Ricardo Figueiredo.
Foto nº 6 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Mais dois ilustres "bandalhos", o Fernando Súcio e o José Sousa.
Foto nº 7 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > "Volta, Armando (Pires)... estás perdoado", parece querer dizer o Miguel Rocha, tendo à sua esquerda o Manuel Macias, cujo sorriso, tranquilizador, vale por mil palavras: "Armando, temos saudadrs tuas"-
Foto nº 8 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Faltaram também casais com "new look": o nosso Jorge Ferreira, vinte anos mais novo, e a sua nova companheira...
Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
(*) Útimo poste da série > 19 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...
quinta-feira, 19 de maio de 2022
Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...
Uma foto de família, já antiga, do "Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné", tirada por ocasião dos seus 10 anos de existência... Legenda: "Em 10/11/2017, o Bando em Mogadouro, a caminho de Vila For".
Na altura ainda eram vivos o Jorge Teixeira (Portojo) (o quinto da fila de trás, a contar da direita, se não erro), e o Joaquim Peixoto (o terceiro da primeira fila, a contar da direita).
Mas, já agora, aqui ficam os seus nomes, da esquerda para a direita: 1ª fila: João, Jorge Teixeira, António Tavares, Zé Manel Cancela, Xina, Valdemar, José Ferreira (o que único que usa chapéu... preto), Cibrão, Joaquim Peixoto, António Carvalho e Fernando Súcio; 2ª fila: Jorge Lobo, um elemento não identificado (por detrás do Cancela), Ricardo Figueiredo, Alberto, Eduardo Campos, Freire, Manuel, e António Pimentel...
Grande parte deles são também membros da Tabanca Grande, mas faltam aqui nomes como o Eduardo Moutinho. Não sabemos quem tirou a foto
Foto: página do Facebook do Bando (2017), com a devida vénia
1. Ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que obrigaram a fechar as nossas Tabancas e a impedir os nossos convívios regulares, a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abre as portas de par em par (, do "reservado" do Restaurante Caravela d' Ouro) (*) para receber cerca de 9 dezenas de convivas, os "magníficos" do costume, os "meninos da Linha", mais uma luzidia representação do Porto, a mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista resgistada originalmente sob o nome Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos", agora sem pouso certo (deixaram o Café Progresso e voltaram à vida nómada). O Bando, apesar de tudo, tem um chefe que é o Bandalho-Mor, Jorge Teixeira.
Eis a lista dos "Bandalhos" que ainda vinham há um bocado no comboio da manhã que há de chegar a Santa Apolónia, e que o António Carvalho me confirmou pelo telemóvel. Diga-se, de passagem, que não é uma simples representação dos "Bandalhos", é uma verdadeira "deputação":
- António Carvalho (escritor)
- Eduardo Campos
- Eduardo Moutinho Santos (régulo também da Tabanca de Matosinhos)
- Fernando Súcio
- Francisco Baptista (escritor)
- Jorge Teixeira (Bandalho-mor)
- José António Sousa
- José Ferreira da Silva (escritor)
- José Manuel Cancela
- José Sousa
- Ricardo Figueiredo
Estão 3 limusines em Santa Apolónia à espera dos "Bandalhos" para os levar até magnífica mesa da Tabanca da Linha. É tudo gente que vem por bem, apesar do seu indisfarçável (e às vezes truculento) "humor tripeiro": além de 3 escritores, já consagrados, o grupo incluiu dois juristas, cujos préstimos estão sempre disponíveis para as pequenas e grandes ocasiões, o Eduardo Moutinho Santos e o Ricardo Figueiredo.
Só soube há dias do evento, ao falar ao telefone com o meu vizinho Humberto Reis e depois ontem com o António Carvalho, o Manuel Resende (régulo da Magnífica Tabanca da Linha), o Jorge Ferreira e o Manuel Gonçalves (que vai lá estar com a sua companheira e a minha querida amiga Tucha, e uma neta), e ainda pelo anúncio que o Francisco Baptista aqui fez no blogue:Tal como eu dois outros camaradas (António Carvalho e José Ferreira da Silva) levaremos livros , eu já li os três e gostei muito, experiências diferentes, estilos diferentes, mas todos interessantes." (...).
(...) Tudo começou porque em 10/11 de Abril de 1967, um grupo de ex-camaradas do Porto se encontrou nas Caldas da Rainha no RI5. Seguiram a 24 de Junho para a EPA, em Vendas Novas de onde debandaram a 12 de Setembro.
Quase todos se reencontraram em Paramos/Espinho a 25 de Setembro. Laços de amizade foram-se cimentando. A partir de Fevereiro/Março de 1968 debandaram de novo: Lamego, Gaia, Tomar, Santa Margarida, Torres Novas foram alguns dos destinos.
Até que chegou a Guiné e muitos outros destinos nos separaram. Regressados todos entre Maio e Junho de 1970, alguns de nós víamo-nos por aí, até que o tenaz Fernando Jorge Teixeira, mais conhecido por Presidente JTeix.45, conseguiu ir reunindo um pequeno grupo, que hoje só faz desgraças por onde passa. O Bando não é enorme, mas tem correspondentes e muitos amigos e ex-camaradas com percursos idênticos.
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Notas do editor: