Guiné > s/l > s/d > CART 1689 (1967/69) > O Zé Ferreira da Silva (ao mei0, entre dois camaradas)em cima do "bagabaga" que, na Guiné, tinha quase esta forma fálica
Foto: © José Ferreira da Silva (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
São ou foram dois dos nossos mais talentosos contadores de histórias pícaras ou brejeiras, o "alfero Cabral", mais "softcore", e o Zé Ferreira, mais "hardcore"... Ajuize-se por esta história, a seguir, que andava por aí perdida pelos matos e bolanhas do nosso blogue... (Avise-se os pais que é só para gente crescida, mal educada, de língua de carroceiro, que andou na tropa, esteve na guerra da Guiné e convive com os "bandalhos" do Norte, embora o autor seja do Centro)...
PS - O Cabral era incapaz de dizer uma asneira, uma palavrão, uma indecência, o Zé Ferreira chama(va) os "bois pelos cornos", como nós chamávamos naquele tempo, em que tínhamos testosterona para dar e vender...(enfim, naquela idade ideal para procriar,mas também matar e morrer, a idade da tropa)... Um tempo, enfim, em que a hipocrisia social (a começar no exército) havia feito do sexo um tabu. (Há outros contistas de talento que também cultivam muito bem o humor como o Alberto Branquinho, por exemplo.)
"Penisulfadê", pomada antivenérea (à base de penicilina), do Instituto Luso-Fármaco Lda, um fármaco hoje descontinuado (segundo sabemos). Ainda se vendia nas farmácias nos anos 80: custava 100$00 (a preços de 1985 valeriam hoje, 2,27 euros). Fonte: cortesia de A Primorosa Coleção
Vol. III (Chiado Editora, Lisboa, 2019)
Vol II (Chiado Editora, Lisboa, 2017)
Vol. I (Chiado Editorta, Lisboa, 2016)
1. O Zé Ferreira, ex-fur mil op esp, "ranger", CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), passou pelos melhores "resorts" turísticos da Guiné do seu tempo, e não fugiu ao pagamento, à Pátria, do imposto de sangue, suor e lágrimas.
Integra a nossa Tabanca Grande desde 8/7/2010.
Tem mais de 170 referências no nosso blogue onde é autor de três memoráveis séries, que elevaram o brejeiro, o pícaro, o anedótico, o trivial, o caricato, o ridículo, o trágico-cómico... ao altar da arte de contar histórias (estão também publicadas em livro, "Histórias Boas da Minha Guerra", em 3 volumes, pela Chiado Editora).
José Ferreira da Silva
Ao fim da tarde, estávamos na galhofa a contar as novidades que iam surgindo no contacto diário, quando o básico Guisande se dirige ao Furriel Faria ("Berguinhas#), dizendo-lhe que o Capitão queria falar com ele.
− Dá licença, meu Capitão – pede o Berguinhas, ao mesmo tempo que entra no Gabinete.
− Ouça lá, ó Faria, vejo aqui este pequeno papel trazido pelo cabo Maqueiro, para serem pedidas para Bafatá 300 embalagens de Penicilina e 400 de pomada Penisulfadê !!!
E continuou:
− Estamos aqui há pouco mais de uma semana e você pede uma quantidade destes remédios, que dava para meia dúzia de anos?
− Pois é, meu Capitão − diz o Enfermeiro, que continuou:
− Tem toda a razão, mas não esqueça que metade da nossa Companhia anda com a p*ça esquentada. Deve haver mulheres na tabanca que estão com esquentamento na...
− O quê??? – interrompeu em grito alarmante o Capitão.
− Não me diga que ainda não reparou que a maior parte de malta anda de pernas abertas, que até parecem cow-boys? – perguntou o Faria.
− Estamos tramados! – exclamou o Capitão, que aproveitou para dizer:
− Estamos tramados! – exclamou o Capitão, que aproveitou para dizer:
− Ó Faria, você não sabe utilizar outras palavras como blenorragia, pénis, vagina e …
− Ânus? – interrompeu o Faria, que acrescentou:
− Ó meu Capitão, não vale a pena usar essas modernices. Sabe que a Companhia é toda do norte e, se eu falar assim, chamam-me p*neleiro em pouco tempo. E isso, nem pensar. Tenho uma promessa ao São Gonçalo de Amarante e quero ir lá cumprir com a minha patroa nem que seja no meio do milho. Os nossos soldados percebem bem o que é um esquentamento e p*ça e ca*alho e que c*na é o p*to e que o cu é o cagueiro, a peida, o pacote, o traseiro etc, etc.. Essas outras palavras, não.
− Ó Alferes Clarinho, chegue aqui – berrou o Capitão de forma a ser ouvido para além da divisória.
− Diga, meu Capitão – disse o Alferes, ao chegar.
− Não percebo nada disto. Você foi à tabanca, fez o relatório e não detetou que havia para lá problemas de saúde – disse o Capitão, ao mesmo tempo que apanhava umas folhas agrafadas.
E continuou:
− Diz aqui: ”Sobre aspectos de saúde nada há a salientar. Apenas pequenos problemas de respiração ou de sinusite em algumas mulheres”. Ora, isto não justificava que mandasse os enfermeiros à tabanca. Então o Cipaio não lhe disse mais nada? É que o nosso pessoal está todo contaminado com blenorragia.
O Alferes, calmamente, pareceu fazer um esforço de memória antes de responder:
− O Senhor Mamadú Baldé só me disse que havia “mulheres com problema di catota” ao mesmo tempo que encolhia os ombros e torcia francamente o nariz. Deduzi que tinham problemas nas vias respiratórias, talvez com sinusite e catotas no nariz.
Fonte: Excerto de "Coisas de periquitos". In: José Ferreira da Silva - Memórias Boas da Minha Guerra, vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 64/66.
(Revisão / fixação de texto: LG)
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Último poste da série > 6 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25814: Humor de caserna (71): O "Xelorico" (José Ferreira da Silva, autor de "Memórias Boas da Minha Guerra", vol I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp. 67/69)
3 comentários:
Ó Zé Ferreira, ainda dizem alguns historiadotres académicos que fizemos uma guerra "baratinha" em África... Pudera, até na farmácia se poupava...
O Zé Ferreira, como contador de estórias pícaras é dos melhores e no nosso meio é mesmo o melhor. Esta é mesmo especial, mas ele tem mais. Venham elas.
Não há dúvida. Mesmo na maior provação os homens mantêm o humor. É uma forma de defesa contra a adversidade. Um Ab. António J. P. Costa
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