sábado, 7 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25918: Os nossos seres, saberes e lazeres (644): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (169): Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, não há mostruário de azulejo como este (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Aqui se completa a visita à Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, um deslumbramento de um tempo de grande dimensão e com um acervo azulejar fora de série. Tentei preparar-me para esta visita, saber um pouco mais sobre Santo Quintino, foi sede de freguesia porventura de 1385 e até 1836, a partir desta data foi integrada no concelho de Sobral de Monte Agraço. A freguesia era denominada por Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino e há referências em 1529 de que era uso e costume dizer-se "Igreja de Santo Quintino do Monte Agraço". Vem da noite dos séculos a crença piedosa do milagroso patrono da igreja, em especial para a cura de doenças dos ouvidos e dores de cabeça. O seu barretinho de seda vermelha colocada sobre a parte dorida tem aliviado muitos pacientes no decurso dos séculos, escreve Maria Micaela Soares no seu estudo "A Freguesia de Santo Quintino no Século XVIII". Um templo religioso excecional num concelho da região oeste que oferece muito ao visitante.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (169):
Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, não há mostruário de azulejo como este – 2

Mário Beja Santos

Dando sequência à visita deste belíssimo tempo religioso que é a Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, importa recordar que logo o pórtico é uma conjugação feliz entre os estilos manuelino e renascentista, guardando vestígios da igreja do século XIII; aliás, há sucessivas intervenções, já se chamou a atenção que a azulejaria ao fundo da capela-mor data do século XX (cópia do século XVII). No essencial, a igreja foi azulejada no século XVII, pode ver-se na parte superior da parede da entrada azulejos com o padrão de ponta de diamante. Quando se diz que o acervo azulejar se situa entre os séculos XVI e XVIII é para dizer que há sinais de azulejaria do século XVI, caso dos azulejos hispano-mouriscos na capela-mor e o silhar inferior é do século XVIII. Convém ao visitante que se detenha na capela-mor, nos azulejos do século XVIII figuram a Anunciação e a Visitação, sobre o altar encontra-se uma bela escultura de Nossa Senhora da Piedade.
Nas paredes laterais, duas das cinco tábuas quinhentistas estão atribuídas a Gregório Lopes ou ao chamado Mestre de Santo Quintino.
É merecedor de toda a nossa atenção o púlpito, situado do lado esquerdo da nave central, a decoração pictural representa os Evangelistas. No texto anterior falou-se do belo conjunto azulejar em que Cristo entrega as chaves a S. Pedro. Imprescindível é a visita ao batistério, o seu formato é inusual e no interior tem um painel de azulejos do século XVIII.
Circundar este templo religioso permite-nos ver uma porta lateral tardo-gótica e todo o conjunto que inclui a torre sineira e a abside. Vejamos agora alguns pormenores.

Temos aqui um mostruário de diferente azulejaria, o silhar inferior é do século XVIII e avista-se do lado direito o altar lateral
A Virgem e o Menino, uma extrema delicadeza do tardo-gótico
Na capela-mor temos esta entrada com enorme graciosidade
Nossa Senhora da Piedade, belíssima estatuária, mas ainda não chegámos ao Renascimento
O estilo manuelino sem equívocos
O singular púlpito da Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, estão ali representados os quatro evangelistas
Vista da nave central
De novo o belo pórtico e os vestígios da igreja do século XIII
Porta lateral da igreja, não deixa de nos tocar a singeleza
Vista lateral exterior da igreja
Ali perto temos a Quinta da Piedade, há casas recuperadas e muitas outras para recuperar, é o testemunho de que Santo Quintino foi terra de muita gente, ainda no século XVIII.
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Nota do editor

Último post da série de 31 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25898: Os nossos seres, saberes e lazeres (643): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (168): Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, não há mostruário de azulejo como este (1) (Mário Beja Santos)

2 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Quando eu vivia em Lisboa (até ao ano 1999), fui uma vez a Santo (sic) Quintino, nas proximidades de Sobral de Monte Agraço. Tinha lido umas coisas sobre a igreja e decidi ir lá vê-la com os meus próprios olhos. Assim que cheguei, fiquei logo embasbacado com o portal, que ultrapassava tudo o que eu tinha imaginado que pudesse existir numa igreja da Estremadura rural e profunda. Se aquele portal não é obra de Boitaca, que foi um dos arquitetos do Mosteiro dos Jerónimos, parece.

Era fim de tarde e a igreja estava fechada. Preparava-me para vir embora, quando um homem se aproximou de mim e se identificou como sendo o coveiro da freguesia, que regressava a casa no fim de um dia de trabalho no cemitério, ali perto. Depois de um curto diálogo, perguntou-me ele:

- O senhor quer ver a igreja por dentro? A pessoa que tem a chave mora ali - e apontou para a quinta existente ao lado da igreja.

Entrei no átrio da quinta e dirigi-me a uma das casas que lá havia e que ainda eram habitadas. Acertei logo à primeira. Abriu-me a porta uma senhora, que se disponibilizou de imediato a mostrar-me a igreja.

A senhora abriu a porta, entrei na igreja que estava às escuras (começava a anoitecer) e assim que ela acendeu as luzes, fiquei completamente deslumbrado com o que vi. As fotografias do Beja Santos já nos dão uma ideia de como é a igreja. Ao vivo, então, ela ainda é mais bonita. É uma verdadeira preciosidade. Quem não a conhece, não sabe o que perde. Fico muito grato ao Beja Santos por me fazer recordar uma das muitas coisas belas, que a bela Estremadura tem.

Valdemar Silva disse...

Como já escrevi no comentário ao post anterior sobre a Igreja de São Quintino, também visitei a igreja quanto no início dos anos 2000 tinha o hábito de aos sábados visitar as aldeias e vilas afastadas da zona saloia, que não conhecia, almoçando e filmando igrejas*.
A igreja de São Quintino foi uma delas, depois de almoçar no Sobral de Monte Agraço.
O portal da igreja é uma maravilha estilo manuelina, para uma pequena localidade, com medalhões no nicho axial de D. João III e sua esposa D. Catarina. Na base da coluna do lado esquerdo está esculpida a cabeça de homem que dizem ser o mestre Boitaca que teria sido o autor do portal.
A construção da igreja, construída sobre a antiga, inicia-se em 1520 e fica pronta em 1530. O mestre Boitaca morreu em 1527 na sua propriedade próximo da Batalha.
Valdemar Queiroz

* a igreja é normalmente o monumento mais importante de muitas aldeias e vilas.