sábado, 17 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20068 Manuscrito(s) (Luís Graça) (164): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte VI - De 51 a 60 de 100 pictogramas)


Lourinhã > 1947 > O "artista quando jovem"... ao colo de sua  mãe, Maria da Graça,, e com o pai, Luís Henriques,  ao lado.

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Fonte: Cortesia de jornal "Alvorada", quinzenário regionalista, Lourinhã, 13 de setembro de 1964.



Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]
Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.

(Continuação)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...](*)



51. Havia a feira grande de setembro, o carrossel e os carrinhos de choque, e, quando o rei fazia anos e dava bodo aos pobres, havia um tostão para as diversões e as farturas e o pirolito, os rebuçados e os cromos, mas o melhor era o pirolito[ 1], porque tinha um berlinde!... 

E quem tinha um berlinde, enorme, de pirolito, era rei, com poder para abafar todos os berlindes mais pequenos. Claro, o "Brutamontes" tinha um saco deles! 


52. Havia as labaredas do inferno, as fogueiras de são João, a queima das alcachofras, os refrões (, um tostãozinho, vizinho, vizinha, para os santos populares, primeiro o Santo António, depois o São João e por fim o São Pedro, para a nossa reinação!),  as bichas de rabear, as bombas de carnaval, o calvário e as suas treze estações…


53. Ah!, havia ainda a banda filarmónica, e talvez já a fanfarra dos bombeiros, que eram soldadinhos de chumbo, havia a sineta, manual, dos carros dos bombeiros, e a sirene do novo quartel dos bombeiros que marcava as doze horas de domingo.

54. E o sino da igreja da tua aldeia que tocava a finados, mesmo no domingo à tarde, quando morria algum cristão, e que te enchia de melancolia, o tão-tão-tão do sino grande da tua aldeia… E o teu padrinho, o ti D’minguinhos, que te ensinava a distinguir os sinos de cada igreja e capela:

- Tim lên…deas, tim lên…deas….
- Mata-as, mata-as!
- Com quê, com quê ???...
- C’um pau, c’um pau!!!…


55. Havia santos, santinhos e santinhas para cada estação, o são João, no verão, no 24 de junho, o dia em que os camponeses da tua aldeia iam à praia molhar os tornozelos, os homens, de ceroulas arregaçadas, as calças de cotim, remendadas, os mais velhos de barrete preto e varapau, e elas, de saias compridas, de flanela, que não podiam mostrar a barriga da perna, peluda, os matulões pegando nos putos a berrar e a espernear e batizando-os na água salgada, do grande oceano, para que as carnes enrijassem, e os meninos medrassem, e pró ano lá voltassem, todos os anos até ao dia das sortes, e fossem grandes homens, fortes e valentes, marinheiros, pescadores, aventureiros, artilheiros, soldados façanhudos ou simples cavadores de enxada, como os seus pais e os seus avós o tinham sido, que os bisavós, trisavós e os tetravós, esses, já ninguém sabia quem eram, nem de onde teriam vindo, nem se chorava por eles, porque na época do trinta e um, poucos moços, velhos nenhum




Lourinhã > Praia da Areia Branca > c. anos 30 do séc. XX > Os camponeses e os seus burros. Foto: origem desconhecida. Cópia pessoal de LG.



56. Ah, os camponeses e os seus burros que ainda não estavam em extinção, nem uns nem outros, iam aos magotes até à praia da Areia Branca, no feriado do são João, entre brincadeiras e dichotes, levavam a trouxa e a merenda, os tremoços e as pevides, as pêras, os pêros, as ameixas e os abrunhos, os melões e as melancias, o pão de trigo do moleiro cozido em forno a lenha, a broa de milho com sardinha, as azeitonas mal curadas, bebiam vinho pelo palhinhas, o garrafão de palha, comiam o arroz de cabidela, de galo ou de coelho, misturado com a areia e o vento e as lágrimas de sal, em cima de mantas grossas, feitas de trapos, berrantes, multicolores.

Faziam cigarros de barbas de milho e usavam canivetes multiusos, de cabo de osso, que tanto serviam para limpar a cera dos ouvidos ou o lixo das unhas, ou os caules dos pés, como para cortar grandes nacos de pão, ou apanhar lapas, percebes e mexilhões nas rochas, sangravam de saúde os camponeses da tua aldeia, muita saúde, pouca vida, que Deus não dava tudo, no tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. (Nunca lhes perguntaste se eram felizes, nem essa era pergunta de se lhes fazer!)


57. Na praia da Areia 
O ti Silvano, do Nadrupe,
Lourinhã, c. 1940
Branca, pelo são João,lembras-te ?, o teu querido ti Silvano, carpinteiro e cavaleiro, utilizando-te como escudo em luta contra as forças de Neptuno.

Foi num 24 de junho (ou terá sido no dia de são Bartolomeu, a 24 de agosto?) de mil novecentos cinquenta e tal, que passaste a ter medo do mar e prometeste a ti mesmo (, vã promessa de menino!) nunca vir a ser marinheiro, que na água de mares, não procures cabelos para te agarrares.

58. Misóginos os provérbios da tua terra que, quando o mar estava manso lhe chamava mar de mulher, para logo a seguir acrescentar que, da mulher e do mar, não há que fiar. Ou então: do mar se tira o sal e da mulher muito mal.


Era outro mistério, as mulheres, e só muito mais tarde é que irás perceber o que o teu pai queria dizer: A mulher só é nossa quando quer!...

59. Havia a festa do sã S'bastião, no inverno, no frio de rachar de janeiro, no tempo em que havia inverno e a água congelava nas bicas e bebedouros, duas ruas abaixo da tua, o pobre de Cristo, coitadinho do soldadinho, do tamanho de um menino de palmo e meio, com ar de quem, como tu, não tinha nenhum jeitinho para santo, nem muito menos para mártir, o corpo trespassado pelas setas dos maus!...


Sabias lá tu quem eram os maus desses tais romanos que nos haviam colonizado, a nós, bárbaros, celtiberos, o mesmo é dizer, que nos haviam dado a língua e o ser!… Ele havia coisas que a tua professora não te queria explicar, ou não sabia. E muito menos a tua catequista, a "Branca de Neve".


60. Havia os carros de pão, as promessas, os leilões, na festa do sã S’bastião, e havia as rezas, os exorcismos, os amuletos, as benzeduras da ti’ Ad’lina, as fisgas contra o mau olhado (, cruzes, canhoto, te arrenego, Satanás!), o sarampo, a varíola, a varicela, a cólera, a raiva, a peste, a lepra, a fome, a guerra, a tuberculose, o tifo, a rubéola, a febre amarela, a tosse convulsa, a difteria, as sezões, e a disenteria, e ainda estava para vir o ébola, a sida, o dengue, o vírus do Nilo e os quatro cavaleiros do apocalipse.

Ah!, o sarampo, e o sarampelho que sete vezes nos chegava ao pêlo, e que nos obrigava a ficar dias e dias na cama, com os vidros das janelas forrados a papel vermelho!

A ti’ Ad’lina, tua vizinha da rua do Clube, mulher anafada, barbada, de língua viperina, guardadora de segredos terapêuticos milenares, que iria depois p’ras Américas, com as filhas e a neta, que era uma pestinha. E por lá morreria, a ti’ Ad’lina… 


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[1] Vd. blog Loba > 21 de maio de 2018 >  Pirolito – a garrafa que marcou uma geração
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Vd. postes anteriores da série > 

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)

14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

15 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)

Guiné 61/74 - P20067: Os nossos seres, saberes e lazeres (348): Tavira, a encruzilhada de civilizações (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Regressar a Tavira dá-me imenso prazer, é cidade de imensos cantos, recantos e encantos, agrada ver a preservação e a renovação, nos museus há sempre boas exposições, sente-se uma vida cultural ativa que não pode deixar nenhum turista indiferente.
Aqui fica a primeira deambulação, o visitante segue agora para uma exposição com obras de Almada Negreiros no Museu da Cidade, ser-vos-á mostrado tão belo acervo desse extraordinário artista plástico, figura de proa do modernismo português.

Um abraço do
Mário


Tavira, a encruzilhada de civilizações (1)

Beja Santos

O destino fadou Tavira com belezas naturais, um património riquíssimo graças à presença fenícia e islâmica, ao seu influente e ativo porto no tempo da presença portuguesa no Norte de África, à Ria Formosa, aos seus palácios e museus. Tavira, graças a estes cadinhos patrimoniais, atrai o turismo, justificadamente se vem à procura de uma cidade cheia de identidade, de tipicidade, de história para visitar.





Começa a visita no Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira, construído no local onde em 1996 foi encontrado o famoso vaso de Tavira e um troço da muralha islâmica. O piso superior está dedicado a exposições temporárias sobre temáticas ligadas ao Islão. A exposição Tavira Islâmica integra materiais dos séculos XI a XIII, provenientes de escavações arqueológicas realizadas no centro da cidade. Aqui se pode observar o troço da muralha do século XII e o impressionante vaso de Tavira, do século XI, a peça mais importante da exposição. Apresenta no bordo onze figuras e nas paredes, linhas, retículas, peixes e outros elementos pintados a branco. De acordo com a informação prestada neste Núcleo Islâmico, o vaso parece representar um rapto nupcial, estando presente a noiva com a face descoberta e o noivo com um turbante, ambos a cavalo; um besteiro e um cavaleiro de escudo e lança; um tocador de tambor e outro de adufe; uma tartaruga e várias pombas; e o dote, constituído por um bovídeo, um caprídeo, um camelo e um ovídeo.

Esta fotografia tem história, em 1950 o BNU comprou o edifício que era uma pensão. Quando o edifício foi demolido encontraram vestígios de uma salga fenícia, é neste espaço que funciona desde 2012 o Núcleo Islâmico. Atenda-se à beleza do telhado.





Sente-se que a cidade é alvo de conservação e restauro. Com tanta riqueza de património arqueológico, etnográfico, artístico e industrial, com clima aprazível para o turismo mas por vezes hostil para os bens patrimoniais, a autarquia é levada a intervir em painéis de azulejo, em estátuas, em edifícios representativos como a estação elevatória que foi convertida em Centro Interpretativo do Abastecimento de Água a Tavira. Convém não esquecer que Tavira é uma cidade com muitas igrejas e conventos, dispõe do Palácio da Galeria (que iremos visitar), dentro de um Museu da Cidade e um Centro de Arte Contemporânea.



Iremos seguidamente para o Palácio da Galeria, mas dá imenso prazer passear por estas ruas onde primam a pedra e as fachadas caiadas, os diferentes momentos da História, sobem-se degraus medievais até chegar a uma igreja barroca ou subitamente entra-se num jardim que associamos à presença árabe, bem forte por sinal. O viandante amesenda, descansa as pernas porque se vai lançar numa boa empreitada, no Museu da Cidade tem à sua espera uma exposição fabulosa, “Mulheres Modernas na Obra de José de Almada Negreiros”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20048: Os nossos seres, saberes e lazeres (347): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (9) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20066: Parabéns a você (1664): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20063: Parabéns a você (1663): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20065: Notas de leitura (1209): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (19) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Prossegue a batalha do Como, é óbvio que o bardo dá prioridade à sua gente mas a operação teve farto envolvimento, foram de primordial importância tanto as forças navais como os meios aéreos. Neste episódio se releva a singularidade do diário de Armor Pires Mota, tem páginas comoventes, importa não esquecer que foram escritas em cima dos acontecimentos, é de questionar a fibra deste homem, as suas orações tocantes, o sofrimento compartilhado, o horror que viu, como aqui descreve.
E volta-se a falar de Alpoim Calvão e das forças navais, há que dar o seu a seu dono, no termo desta operação o Coronel Fernando Cavaleiro percorrerá a pé toda a ilha, era vitória de pouca dura, sina da guerra de guerrilhas, setenta dias de duros combates.
O bardo, como veremos, ainda tem muito a contar sobre a batalha do Como.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (19)

Beja Santos

“Quando a gente cá chegou
junto ao Batalhão lutavam
as tropas desembarcadas.
Bons serviços prestavam.

Muito fogo teve de atirar
a 2.ª Companhia
porque aquela patifaria
custava a recuar.
Depois de a Cauane chegar
a luta continuou.
Debaixo do fogo se trabalhou
para construir os abrigos.
Eram muitos os inimigos,
quando a gente cá chegou.

Algum tempo se passou
e em Catunco tudo normal:
com ordem do Sr. Cap. Cabral
a Ilha se patrulhou.
Um pretinho se apanhou
e para mascote o levavam.
Quando um dia caminhavam
apanhou-se um dos bandoleiros
e em todo o lado os fuzileiros
junto ao Batalhão lutavam.

Em Caiar se encontrava
o Alferes de Artilharia
que com boa pontaria
nos malvados acertava,
de noite ou de dia jogava
uma porção de granadas.
Media bem as coordenadas
não atingindo as Companhias.
E decorreram 70 dias
as tropas desembarcadas.

O pelotão dos paraquedistas
encontraram alguns bandos
junto aos homens dos comandos
que também deram nas vistas.
Mataram muitos terroristas
e alguns vivos apanhavam.
Um dia à praia chegavam
com prisioneiros na mão
e durante toda a operação
bons serviços prestavam.”

********************

É o momento propício para se dar voz a quem sobre esta batalha escreveu em forma de diário. “Tarrafo”, de Armor Pires Mota, é uma das obras incontornáveis da literatura da guerra da Guiné. O livro foi alvo da censura, retirado do mercado livreiro, reeditado mais tarde. É um legado de páginas densas, emocionantes, temos aqui a guerra em direto que o Alferes de Cavalaria enviava em forma de crónicas para o Jornal da Bairrada.
É um testemunho sem paralelo sobre a Batalha do Como:
“Atravessámos o riacho e o tarrafo, de saco às costas, muito a custo, curvados e encobertos pela vegetação, quase impotentes e amachucados porque a viagem fora penosa, difícil. E debaixo de fogo intenso, a rastejarmos, entrámos no objectivo… Sinto-me em baixo. A alma pesa-me como chumbo. E causa-me calafrios a morte daquele dois moços que ao entardecer, foram encontrados nus. Só lhes deixaram as meias enfiadas nos pés, por algum motivo religioso. De resto, levaram-lhes tudo. Tinham o sexo mutilado, o nariz arrancado e os olhos e pelos rasgões, espalhados pelo corpo, tudo leva a crer que lutaram corpo-a-corpo, quando se viram sós e sem munições. Não quero que ninguém fique com a impressão de que este diário é pura ficção nem, tão pouco, que me mascarem de valente. Escreverei para mim e não para a eternidade. E aqui estarei para chegar até ao fim”.

O autor reza o terço quando rebenta a fuzilaria, estão metidos num cerco em ferradura, o ataque é repelido, renasce a atmosfera de silêncio enquanto um vento húmido traz o cheiro horrível da carne a apodrecer algures, entrecortado pelos estrondos da artilharia. É uma batalha como não haverá igual, em tudo o que se passou na Guiné, tomam-se posições, por vezes recua-se, derrubam-se acampamentos, há rompantes desse combate que ganham uma dimensão apocalíptica, vive-se permanentemente à espera de um contra-ataque, como Armor Pires Mota escreve:
“Há quarenta dias que o mundo para nós é a incerteza da hora seguinte a devorar-nos a fronte atormentada. Há refeições em branco, porque não apetece senão a paz, o regresso. Uma grande parte da tropa está já inoperacional. As semanas são uma eternidade. Até parece que nascemos na tropa, na guerra”. 
 E é neste diário emocionante que no dia 1 de março de 1964, Armor Pires Mota faz uma oração como não vi escrita outra igual:
“Só Tu sabes, Senhor, a minha hora.
Mas tenho medo porque sou homem e tenho o destino de mãos vazias.
Que as minhas mãos não façam correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso castigar, matar ou morrer.
Mas tenho medo, Senhor!
Tu bem sabes que eu tenho uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro de mim como uma criança longe dos braços maternos.
Tu sabes que eu tenho sonhos de ouro e espero de olhos azuis no futuro.
Tu sabes que eu tenho um amor na vida de mãos cheias de primavera e cabelo preto, da candidez dos lírios. E Tu bem sabes como dói cair uma rosa no chão só porque não choveu…
E só Tu sabes o segredo da noite: para a vida?, para a morte?
A hora é de luta para vencer ou morrer.
Mas tenho medo sem ser cobarde e tremo todo como cana agitada ao vento.
Espero em Ti.”

A batalha parece interminável, sangrenta, com casas de mato a arder, paraquedistas perdidos, um certo caos nas ordens e contraordens.
O autor escreve nova página do diário:
“Tivemos missa, como antigamente nas manhãs das grandes batalhas. O altar era feito com duas caixas de cerveja e montado por detrás da casa velha a ruir. De tronco nu ou descalços, mas alma cheia de esperança nos desígnios eternos, todos quanto ali estavam confiavam ao Senhor dos Exércitos as suas angústias, as horas más, as vitórias e as derrotas, as saudades da terra e da família, da noiva… Deus desceu à guerra para a paz”.

O diário de Armor Pires Mota não finda aqui, quando saem da Ilha do Como ruma para Jumbembem, de outras coisas falará.

Retornemos a “Alpoim Calvão, Honra e Dever”, e ao mês de fevereiro, as forças do PAIGC continuam a oferecer feroz oposição, o DFE8 não tem descanso e a 27 desse mês este DFE e o DFE7 embarcam com destino a Cachil, trabalhando em conjunto pela primeira vez na Tridente.
Vai prosseguir o relato dos acontecimentos:
“Chegaram à cambança do Brandão pelas duas da manhã, quedando-se aquartelados pouco depois no estacionamento de Cachil. Mas é curto o descanso, pois às 4h30 é dada a alvorada e uma hora mais tarde inicia-se o movimento simultâneo das duas unidades, seguindo o DFE7 pela orla este da mata grande de Cachil e o DFE8 pela orla oeste. Chegados ao limite sul, o DFE7 entra em contacto pelo fogo com o inimigo, enquanto o DFE8 permanece sem ser detectado. O DFE7 manobra então de modo a ocupar um esporão mais a sul, enquanto os F-86 da Força Aérea bombardeiam o tarrafo e a orla da mata de Cassaca onde o inimigo se continua a manifestar com alguma violência.
As secções avançadas entram em contacto com o inimigo que, tento retirado aquando o ataque aéreo, voltara às suas posições e esbarrara com o fogo dos dois destacamentos, responsável pelo abate de alguns guerrilheiros e pela apreensão de material de guerra. Em estreita colaboração, as restantes secções de fuzileiros ocupam a orla norte da mata de Cassaca, enquanto a retaguarda é protegida por um grupo de combate da CCAÇ 557 e uma secção do DFE2. O DFE8 assume depois a vanguarda e progride a oeste da picada, em direção a Cassaca, onde já estão instaladas a CCAV 487 e o grupo de Comandos. Juntas as forças, inicia-se o regresso a Cauane, progredindo na vanguarda o DFE8, seguido pelo DFE7, pelo grupo de Comandos e pela CCAV 487. O inimigo não se torna a manifestar.

Alpoim Calvão não mostra grandes preocupações quanto à sua defesa pessoal. Usualmente armava de G3, mas muitas vezes optava por levar apenas uma pistola-metralhadora UZI, ou até mesmo uma simples pistola, e não costumava carregar com muitas munições. Entendia que a missão de um comandante não era estar deitado a dar tiros, como um simples atirador, mas sim permanecer de pé enquanto o tiroteio chicoteava as copas das árvores ou ceifava o capim e lhe assobiava aos ouvidos. Procurava estar o mais protegido que fosse possível, qualquer tronco de árvore, por mais estreitinho que fosse, servia. Mas de pé, sempre de pé, a única maneira de ver a ação, intervir, poder dirigir a manobra, comandar.

Numa das fases da Operação Tridente seguia como observador o Capitão-Tenente Melo Cristino, Diretor de Instrução da Escola de Fuzileiros, que, nunca tendo participado em qualquer campanha, pretendia sentir ao vivo o comportamento das unidades em combate, razão por que entendera visitar o teatro de operações da Guiné e fizera questão em acompanhar pessoalmente uma acção. Nessa ocasião, quando algumas secções do DFE8 progrediam na retaguarda de um pelotão de paraquedistas, a Unidade caiu debaixo de fogo inimigo, responsável por duas baixas.
Durante o intenso tiroteio travado de seguida e enquanto o Tenente Calvão de pé procurava orientar a manobra dos seus homens, o Comandante Melo Cristino, surpreendido pela violência do fogo e pela chuva de metralha que caía em seu redor, gatinha desorientado pelo chão sem saber muito bem o que fazer. A admiração e o respeito que passou a sentir pela coragem de Alpoim Calvão e dos seus fuzileiros deixou de conhecer limites.

A partir de certa altura, após a passagem dos aviões da Força Aérea, os fuzileiros ouviam fortíssimos rebentamentos na mata e o solo estremecia com a violência de um tremor de terra. Era mais um bombardeamento, mas de invulgar potência. Na sua origem encontrava-se o Comandante da LFG “Dragão”, Primeiro-Tenente Lopes Carvalheira, que via com preocupação a operação arrastar-se durante muito tempo e pensou numa maneira de abreviar o esforço exercido na Ilha do Como. Tinha conhecimento que nos paióis de munições em Bissau estavam estivadas bombas de profundidade para a guerra antissubmarina. Eram cargas poderosíssimas de 350kg de trotil que se encontravam atribuídas às fragatas em serviço na província, mas que, não só por serem desnecessárias naquele teatro de operações como também por representarem um perigo acrescido, eram desembarcadas no início das comissões.
Lopes Carvalheira fez então um teste com as cargas utilizadas para repelir ataques de mergulhadores e confirmou que as espoletas tinham um retardo de 20 segundos. Foi pois fácil ao seu Imediato, Oficial da Reserva Naval, licenciado em Matemática, estabelecer os cálculos da altitude a que deveriam ser largadas de avião para rebentarem a escassos metros do solo. Lopes Carvalheira pede licença para se deslocar a Bissau, embarca num helicóptero Allouette II a bordo da ‘Nuno Tristão’ e expõe a sua ideia, que conta com o apoio inequívoco do Governador da Guiné, Comandante Vasco Rodrigues.”

Ver-se-á a seguir como este dispositivo beneficiou Alpoim Calvão e os seus homens na Batalha do Como.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 9 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20046: Notas de leitura (1207): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (18) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20054: Notas de leitura (1208): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20064: Manuscrito(s) (Luís Graça) (163): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte V - De 41 a 50 de 100 pictogramas)


India > Goa > Volta ao Mundo em 100 dias a bordo do mavio de cruzeiros "Costa Luminosa" > 19 de novembro de 2016 > Cemitério  > Lembrando o 10 de junho, "dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas"... Lembrando ainda os portugueses e seus descendentes que ficaram nos antigos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.  Aqui se dizia, antigamente: "Na Índia os mais vivem de esperança, e o comum morre sem paga"...


Foto: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Cemitério de Paredes de Viadores > 1 de novembro de 2017 > O mais sumptuoso jazigo, da família da "Casa da Igreja", em estilo revivalista, neogótico > Inscrição em latim: "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)....

Até na morte os homens tentam reproduzir as desigualdades sociais que existiam em vida: esta capela, dos "fildalgos" da Casa da Igreja é a única que existe, para além da de outra família, neste pequeno cemitério rural, cuja construção remonta a 1894... Logo nos finais do séc. XIX, os ricos e poderosos procuraram contornar a aplicação lei liberal do enterramentio público (que proibia o enterramento em espaço privado: palácios, conventos, igrejas, ermidas, capelas...) erigindo no espaço do cemitério público uma "jazigo capela", uma espécie de minicasa de Deus, reservada aos seus mortos queridos...

Há algo de patético neste encarniçamento em manter, na morte, a segregação socioespacial que existia em vida...  Mas, na relidade, s cemitérios públicos, que só surgem no séx. XIX, com o liberalismo, são (ou deviam ser) verdadeiros "campos da igualdade", já que metaforicamente falando, a gadanha da morte ceifa tudo e todos, ceifa rente a vida, e não poupa tanto a espiga de trigo como a erva do campo, o rico e o pobre, o herói e o cobarde, o novo e o velho, o são e o doente, o amigo e o inimigo... Afinal, "na morte ninguém finge nem é pobre"...


Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]
Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


(Continuação)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...](*)



41. Havia a assistente social que fazia o inquérito de saúde aos indigentes, porcionistas e pensionistas e só em caso de vida ou de morte é que um pobre de Cristo ia parar ao Real Hospital de São José, lá longe na capital do reino, a três horas de distância da camioneta do João Henriques. Parava na Rua da Palma, mesmo pertinho do hospital do rei. 


E em Lisboa, era para morrer: que em Lisboa nem sangria má, nem purga boa, abanava com a cabeça o enfermeiro do hospital da Misericórdia. 

42. Havia a escola, primária, do tal Conde de Ferreira, e não chegava para tantos bandos de crianças que precisavam de aprender a ler, escrever e contar, e mais tarde ajudar a dilatar a fé e o império e a cobrar o imposto de palhota ou remendar as malhas que o império tecia e rompia.

Havia uma ala para os meninos, e outra para as meninas, com um muro de Berlim ao meio, os sexos apartados desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, e onde não chegavam as carteiras para tanto petiz, de pé descalço e ranho no nariz, enfarinhados de pó de giz e de mãos sujas de tinta azul, as cabeças cobertas de piolhos que se matavam com água a ferver, pentes de osso e DDT 
[1]


43. Ah! a tua escola do senhor Conde de Ferreira, que saudades!, construída no tempo da Regeneração, com o remanescente da herança do maior benemérito do Liberalismo, deitada abaixo, mais tarde, pelo desgraçado do camartelo camarário. 


E em frente o carro de praça do ti’ Ad’lino, talvez um velho Ford preto (, lembras-te lá tu agora da cor e da marca!), que viera substituir o coche dos ricos, passando o cocheiro chofer, a chauffeur de praça. Assim, à francesa, chauffeur, como dizia o teu pai e era mais fino.



44. Saudades ?!... Como é que os pobres, com um rancho de filhos, e tantas bocas para dar de comer, tinham saudades da sua pobreza envergonhada?!

Havia a vida privada, por detrás dos muros dos quintais e das paredes dos casarões dos ricos, que os pobres, esses, não tinham vida, e muito menos privada.


45. Havia a alcova, exposta na via pública, o Poço Novo onde as mulheres iam lavar a roupa e os sete pecados mortais, o Poço Novo, grande melhoramento público do Estado Novo. 

Havia o confessor que tinha mau hálito, havia os segredos de confessionário, mal guardados a sete chaves, uma para cada pecado, coisas que se contavam do bom do ferreiro e segeiro da tua rua, que, coitado, tinha fama de fauno, de lobisomem e de beato, batendo a mão no peito, seco, negro do carvão de pedra, uma figura mística, arrancada às tábuas de El Greco [2]. 


46. Havia a guarda, muito pouco republicana e nacional, que estava em pé de guerra contra a comissão fabriqueira da igreja, por ocupar parte das instalações do antigo convento de santo António, velhas disputas que vinham do tempo do mata-frades 
[3]  e da república façanhuda, jacobina, maçónica e anticlerical. E tu, que mais tarde irás ajudar à missa, tomavas o partido de Deus contra o de César. Não podias deixar de tomar partido: não tinhas escolha.


47. Havia o drama dos soldados que partiam para as Índias, Goa, Damão e Diu (sem os enclaves de Dradrá e Nagar-Aveli que o "Pandita" Nehru já nos tinha usurpado em 1954!), os soldados de caqui e farda amarela e botas de polaina, capacete de aço e espingarda Mauser, e as mães da rua dos Valados, comprida, do cemitério ao largo das Aravessas, que, desgrenhadas, roucas, histéricas, rasgando véus, aventais e saias e arrancando cabelos, gritavam, imploravam, praguejavam e até invetivavam Deus e a santa da sua mãe, para que os dois (, juntos, sempre tinham mais força!),velassem por eles, os seus meninos, e os trouxessem de volta, sãos e salvos, no veleiro de torna-viagem.

E voltavam, os que voltavam, mas já não eram os mesmos. E as mães eram as primeiras a dar conta dessa mudança. E ainda não havia a guerra do ultramar, lá longe, em Angola, Guiné e Moçambique, nas terras dos pretinhos, mas hás de lá chegar quando passarem mais outonos e invernos, primaveras e verões, depois da feira de setembro. 

Havia o ditado, de mau agoiro e de negro presságio: À Índia mais vão do que tornam. Se calhar era lembrança dos tempos em que, à Índia, ir e vir demorava dois anos, de barco à vela.

48. Havia ainda a cadeia da c
omarca no largo do convento: tresandava a merda e a mijo, a vomitado e a maresia, a sangue e a suor, e, por detrás das grossas grades de ferro carcomidas pela maresia, uma mulher corajosa, com um filho nos braços, que matara o homem violento, e noutra cela um facínora das Cesaredas, terra danada, diziam, onde as mulheres eram homens e os homens lobisomens, o papão com que te metiam medo, à noite, ao deitar, debaixo dos lençóis, a faca nos dentes, a sangrar, o papão, o lobo mau, o inferno, a danação eterna, o troar dos canhões das trovoadas, dantescas, que faziam estremecer os vidros das janelas, e as missas que tinhas de ouvir por mor da salvação da tua alma, e as orações que tinhas de rezar para alcançares o céu, direitinho que nem um fuso, logo que a alma se desprendesse do frágil e miserável invólucro do teu corpo, na hora da tua morte, ámen! 



49. Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris, lembra-te, meu menino, que és pó e que em pó te hás de tornar!, ameaçava-te o padre pregador franciscano nos sermões da Quaresma,e esse latinório bastava para ficares a entender, aterrorizado, o conceito da tua reles insignificância na periferia do universo que Deus criara, com pompa e circunstância e orquestra.


50. Ah!, e as feiras da tua infância!, não te esqueças de mencionar as feiras, havia as feiras e os mercados, no Rossio, junto ao rio Grande, a merda dos bois e das vacas no terreiro (, caca, que a tua mãezinha nunca te deixaria dizer merda, e de castigo punha-te pimenta na língua!)

E os pobres dos ciganos sem eira nem beira, escorraçados ao fim de três dias, e de quem tinhas medo que te pelavas, quando por lá passavas, nos acampamentos do Rossio, a caminho da Quinta do Bolardo!

Tinham fama, os desgraçados, de desenterrar os animais, mortos por doença, que a fome era negra, e eram tantas as bocas no acampamento.

(Continua)

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[1] DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano) é o primeiro pesticida moderno, tendo sido largamente usado durante e após a Segunda Guerra Mundial.

[2] Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido por El Greco (1541-1614): artista plástico genial, desenvolveu a maior parte da sua carreira em Toledo, Espanha.

[3] Alcunha de Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 1792 – Barreiro, 1882 [,autor da lei de 30 de maio de 1834 (extinção das ordens religiosa refgulares, e nacionalziação dos seus bens)].

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)

14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

15 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)

Guiné 61/74 - P20063: Parabéns a você (1663): Armando Faria, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20047: Parabéns a você (1662): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63); Américo Russa, ex-Fur Mil Alimentação do BART 3873 (Guiné, 1972/74) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20062: Agenda cultural (697): Convite para a apresentação do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", de Francisco Baptista, a levar a efeito no dia 24 de Agosto de 2019, pelas 15,00 horas, na Biblioteca Municipal Trindade Coelho, Rua dos Bombeiros Voluntários, Mogadouro

C O N V I T E



Contracapa do livro "BRUNHOSO, ERA O TEMPO DAS SEGADAS - NA GUINÉ, O CAPIM ARDIA", com um texto do nosso camarada Fernando Gouveia, também ele um transmontano dos quatro costados e antigo combatente na Guiné.

Sobre o autor:
Francisco Maria Magalhães Baptista nasceu em Brunhoso, concelho de Mogadouro, no dia 19 de Julho de 1947.
Frequentou a Instrução Primária na sua freguesia e o Ensino Secundário em Mogadouro e no Porto.
Em cumprimento do serviço militar, a 19 de Março de 1970 embarca para a Guiné em rendição individual, com o posto de Alferes Miliciano, destinado à CCAÇ 2616, onde permanece até ao regresso desta Companhia à Metrópole em 1971. A fim de completar a sua comissão de serviço é integrado na CART 2732. Embarca para a Metrópole com esta Unidade no dia 19 de Março de 1972.
Funcionário Público Reformado, exerceu funções na Segurança Social e nas Finanças.
Acaba de publicar este seu primeiro livro.

Sobre o livro:
Título: "BRUNHOSO, ERA O TEMPO DAS SEGADAS - NA GUINÉ, O CAPIM ARDIA"
Autor: Francisco Baptista
Editor: Edição de Autor
Capa: Crasto, colina próxima de Brunhoso
Páginas: 388 
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 230X150X20mm
1.º Edição: Maio de 2019
Depósito legal: 455196/19
ISBN: 978-989-691-830-9

O livro pode ser solicitado para este mail: francisco.mbaptista@gmail.com
Custo: 15,00€ mais portes de correio
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Notas do editor

Vd. poste de 18 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19900: Notas de leitura (1188): Uma história antiga, do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", da autoria de Francisco Baptista, com lançamento no próximo dia 24 de Agosto de 2019, pelas 15 horas, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Mogadouro

Último poste da série de 25 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20009: Agenda cultural (696): Apresentação do livro do nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, "Ferrel através dos tempos", 9 de agosto de 2019, 6ª feira, às 17h00, no salão de festas do Jardim Infantil de Ferrel, "a capital da luta contra o nuclear"

Guiné 61/74 - P20061: Memória dos lugares (393): Ainda os memoriais de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 9 de Agosto de 2019:


Ainda os memoriais de Buruntuma

Estando eu navegando no nosso blogue, resolvi pesquisar postes relacionados com Buruntuma, onde permanecemos algum tempo, deparando com o poste P17867 que fala sobre os memoriais daquele aquartelamento.

Começo por dizer que na foto do memorial da CCAÇ 3546 que presta homenagem aos seus mortos, que ainda está na Ponte Caium, e que vai resistindo à erosão dos tempos, se vê à esquerda, os restos de um pedestal onde existia um pequeno oratório, tipo capelinha, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Já lá se encontrava quando a CART 1742 tomou conta do sector que tinha sede em Buruntuma.
Ao tempo, era enviado um grupo de combate para Camajabá, que por sua vez deslocava uma secção para a Ponte Caium a fim de manter a segurança da mesma.

Envio foto minha junto desse oratório. O pedestal não tinha a inscrição que se vê na foto do Patrício Ribeiro. Olhando para semelhança das letras e  dos números inscritos no memorial, dá a ideia de que tenha sido a malta da 3456 a fazer tal inscrição, e muito bem.

Ponte Caium - Memorial da CCAÇ 3546
Foto: Eduardo Campos

Ponte Caiun - Abel Santos junto ao oratório
Foto: Abel Santos

Ponte Caium - Restos do oratório
Foto: Patrício Ribeiro

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Em Camajabá ainda resiste um memorial pertencente à CCAÇ 1418. Envio foto minha e, para comparação, uma foto mais recente do mesmo, tirada pelo camarada Patrício Ribeiro.

Camajabá - Abel Santos junto ao Memorial da CCAÇ 1418
Foto: Abel Santos

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Actualmente
Foto: Patrício Ribeiro


Envio um abraço aos camaradas da CCAÇ 3546 pelo bonito memorial que deixaram em terras da então Guiné Portuguesa, perpetuando assim a sua e nossa passagem por África.
Ao meu amigo Eduardo Campos a minha vénia pelas excelentes fotos, tiradas aquando da sua visita em 2010 à Guiné-Bissau.
Também uma referência ao Patrício Ribeiro que palmilha a Guiné-Bissau de lés-a-lés e que nos vai revelando a arqueologia da passagem das Unidades Militares naquele país.

Um abraço para a Tabanca Grande e camaradas da Guiné.
Abel Santos.
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Notas do editor

Último poste da série de 21 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19811: Memória dos lugares (392): Memoriais da zona de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)


Lourinhã > 6/12/1942 > Nazaré, Maria Adelaide e Ascensão, três vizinhas e amigas do Luís Henriques (1920-2012),  fotografadas na ponte sobre o Rio Grande, na altura à saída da Lourinhã, a norte -  Foto enviada para o amigo e vizinho, expedicionário em Cabo Verde, com "votos de verdadeira e sincera amizade".

A primeira parte da legenda é ilegível. A Maria Adelaide já morreu. Da Ascensão perdeu-se-lhe o rasto. A Nazaré era a tia da Mariete, a família toda emigrou para a América, em meados dos anos 50. E por lá terá casado a Nazaré... Era "ajuntadeira" (costureira de calçado), e trabalhava muito para o Luís Henriques,  sapateiro, que dava trabalho a muita gente na Lourinhã. 

O autor ainda se lembra  bem da ti Ad'lina, mãe da Nazaré, sua vizinha, e que era uma  espécie de curandeira lá do bairro... O poeta , quando jovem, morava na rua dos Valados, ou do Castelo, e elas na rua, paralela, a do Clube, na parte antiga da vila... Quando puto, e quando doente, ela - a ti Ad'lina - aplicava-lhe as suas mezinhas, receitas da medicina popular com séculos de eficácia simbólica e terapêutica... Lembra-se, com ternura e repulsa, das suas "unturas & benzeduras": uma em especial era aplicada na garganta, era feita com merda e gordura de galinha, para tratar da papeira... 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.



Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]


Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.



(Continuação)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...](*)


[...] 31. Jogava-se à bola, domingo à tarde, no campo de futebol, pelado, por detrás da igreja do convento, enquanto um cão uivava na vinha vindimada pelo Senhor, jogavam à bola os graúdos, os solteiros contra os casados, os vivos contra os mortos, os pobres contra os pedintes, os idiotas contra os felizardos, os esperançados da vida contra os da vida já cansados, os novos contra os da velha guarda…

A bola, as disputas entre aldeias vizinhas, o alvoroço do povo, o cabo chefe, o bufo, o louco, o beato, o lobisomem, o analfabeto contra o esperto, o feitor e o caseiro, o porco no estertor da morte, o regedor, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, o rico contra o remediado, o pobre e o indigente, mais o cão que já não guardava a vinha vindimada do Senhor, velho, escanzelado, tinhoso, sarnento, doente, vira-latas.

Vieram depois dizer-te que era o medo que guardava a vinha do Senhor, quando tu e os da tua rua iam apanhar o rabisco!... 


E todos os ricos, que viviam em Lisboa, tinham um feitor ou um caseiro ou um criado tão mau como o "Brutamontes". Afinal, "ao  cabo de um ano tem  o criado as manhas do amo"...

Tinham medos deles,  os meninos da tua rua, quando iam roubar uvas ou pêras. Nem todos: alguns não tinham medo de nada, e já diziam muitas asneiras, como o "Frasco do Veneno", o "Brutamontes"  ou os filhos da "Bruxa" da tua rua.


32. Soletravas à noite, à luz do candeeiro a petróleo, a lição onde terra rimava com chão. T e um E, TE… ERR e um A, CHÃOOOOO!!!… 


E Deus Pai achava-te graça, era paciente, condescendente e até bonacheirão. E falava em verso quando estava com os amigos e conhecidos.

33. Não, ainda não havia televisão, nem a série Bonanza 
[1], havia o hino, na rádio, que era um luxo, havia Deus, a Pátria e a Família, e pouco mais, mas chegava, essa sagrada tríade, onde cabia todo o teu pequeno universo. E não se discutia Deus nem a Pátria nem a Família!...

E quando a série Bonanza aparecer, de quem mais vais gostar será do Hoss e do Joe Pequeno, lá do rancho da Ponderosa!





Tabanca de Candoz > c. 1980 >  Ainda se matava o porco em casa, no Norte do País, como na Lourinhã nos anos 50: "uma cena que Bruxelas quis banir definitivamente dos nossos campos e aldeias em nome de uma concepção fundamentalista da saúde pública e de uma Europa globalizada, normalizada e tecnocrática, matando a etnodiversidade"... 

Foto (e legenda): Blogue A Nossa Quinta de Candoz (com a devida vénia).


34. E no Natal ?!... Lembras-te do Natal, quando ainda o Pai Natal não tinha morto o Menino Jesus, e não havia luzinhas, a não ser as das velas ou do candeeiro a petróleo ?!… 

Ia-se à missa do Galo, à meia noite em ponto, na igreja do Castelo, tumular, tudo escuro como breu, e só depois, a tiritar de frio, de regresso a casa, é que se bebia o cacau quente e se comiam os coscorões, o arroz doce e as filhós de sangue de galinha!...

E só de manhã, cedo, é que te levantavas, em alvoroço, para saber a prenda que o Menino Jesus te deixara, no sapatinho, na chaminé: um lenço, umas peúgas, um chupa-chupa, um brinquedo de chocolate, embrulhado em tosco papel de prata!

Parca prenda para quem fora todo o ano um rapazinho bem comportado, temente a Deus, amigo dos seus pais e manas, diligente, obediente e inteligente! 



35. Havia os funcionários do grémio da lavoura, e os do comércio, das pescas, da indústria e artes correlativas, que recebiam, ao fim do mês, vencimento e chapelada, opa e pálio na procissão, e cartão de eleitor dos deputados e do supremo magistrado da Nação. Mais os da câmara e das finanças, dos correios, do tribunal e das conservatórias, a pequena burguesia engravatada da tua aldeia.


Chamavam-lhes os "mangas de alpaca"… por causa da manga postiça que usavam, desde os punhos até um pouco acima dos cotovelos, e que era apertada nas extremidades com um elástico; assim não estragavam ou sujavam o casaco, quando escreviam à mão, no tempo em que ainda não havia esferográficas e até a tinta das canetas era permanente; tudo era permanente, na tua aldeia, no teu tempo.   E até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja, enquanto um cão uivava  na vinha vindimada do Senhor.

Havia ainda os comerciantes e os proprietários, que animavam o clube 14 de julho, que era o dia, não da tomada da Bastilha, como virás a saber mais tarde, mas do aniversário da Viscondezinha, uma das grandes proprietárias rurais da tua terra, que se casara com alguém importante, que veio de fora, e que, se não fora o príncipe encantado, só poderia ser um bacharel em leis ou em medicina, de Coimbra.

Não, nunca chegaste a conhecer a Viscondezinha, como lhe chamavam, temerosas e  ternurentas, as mulheres da tua aldeia.


36. Na tua aldeia, todas as meninas prendadas eram exogâmicas, casavam com alguém de fora e tinham direito a genuflexório, almofadado, na primeira fila da missa de domingo na igreja matriz. 


Vermelho, não, carmesim, emendava o sacristão que era bimbo, das terras do Demo, falava "atchim", era a favor da "situação", e atravessara meio país até arribar a esta terra que já fora de romanos, visigodos, mouros, judeus, moçárabes e francos.
Já não eram meninas, eram senhoras donas, de peruca, mumificadas, os rostos cobertos de pó de arroz, e tinham casarões com capelas e brasões, comprados em hasta pública, bens de mão morta dos espoliados do Liberalismo. 

37
. Havia um carcereiro e um coveiro, com que te metiam medo quando não querias comer a sopa... Fugia-se do coveiro, como do empestado ou do leproso: ninguém o cumprimentava de mão estendida, nem tinha amigos ou conhecidos... Ninguém queria ser coveiro na tua terra, era sempre alguém que vinha de fora.

O resto era moleiro, sapateiro, cavador de enxada ou criado, com direito a uma garrafão de cinco litros de água-pé podre, cocheiro, almocreve,trolha da construção civil, ferrador, marceneiro, caboqueiro, latoeiro ou funileiro, jornaleiro, pescador, homem do campo ou do mar, trabalhador, cansado, do vinho e da vinha do Senhor, ou então marçano, ou criada de servir nas avenidas novas da Lisboa, menina e moça, dos Antónios (o Santo, o Salazar, o Ferro, que povo, esse, chamava-se Zé!).

38. Não ia à escola a filha da camponesa, ia para a vila ou para a cidade, onde no máximo tirava a 3ª classe em professora particular, e depois aprendia a cultivar as boas maneiras e a fazer rissóis e pastéis de massa tenra e coscorões e arroz doce e a tricotar as teias da pobreza e a fazer as contas do merceeiro em papel de embrulho!... "Ah!, Senhora, como a vida está cara, os ladrões açambarcaram o açúcar, o café e o azeite!"... 


Casavam depois com os rapazes da vila, tinham filhos e filhas, e a estas havia a moda de as batizar com nomes afrancesados: bernardetes, elisabetes, gracietes, marietes, miletes, suzetes... Era mais chique que Francisca, Joana, Joaquina, Maria ou Manela.


39. Da janela do teu quarto, contavas, um a um, os cinquenta homens que em fila, de enxada em riste, cavavam a vinha do Senhor, encosta a cima, até ao alto onde se erguia um moinho de vento.

Do outro lado, encosta abaixo, outros tantos cinquenta homens, de enxada em punho, cavavam outra vinha do Senhor, que tinha muitas vinhas e fazia muitas pipas de vinho!...

Nessa época a riqueza media-se em pipas de vinho e  carros de bois de trigo e jeiras (que era a medida da terra). E não havia ainda motocultivadores e tratores.


40. Havia cães, isso sim, muitos cães, vadios. E tu tinhas fobia aos cães. Fugias dos cães e do "Brutamontes" e do seu bando, como o diabo fugia da cruz. Não, nunca tinhas visto o diabo em figura de gente, mas que ele existia, existia, tal como as bruxas. E seria ainda muito pior que o "Brutamontes".

Havia dois ou três médicos, e chegavam para todo o concelho, que a gente da tua aldeia só os chamava no estertor ou no pavor da morte, a eles e aos padres, às parteiras, às carpideiras, aos testamenteiros e aos gatos-pingados. Mal por mal, antes cadeia que hospital.

Havia duas boticas e chegavam, que o arsenal terapêutico cabia no malote do facultativo municipal. Com malvas e água fria, fazia-se um boticário numa dia.

Havia os cortejos de oferendas (cada um dava o que podia e calhava: uma abóbora, um chouriço, um galo ou um saco de batatas!), para se construir um hospital novo para a velha misericórdia do séc. XVI, onde os catres para os doentes pobres não chegavam, que os ricos e os remediados, esses, morriam em casa, confortados com a extrema unção, que fazia parte do arsenal da arte de bem morrer cedo e quanto mais depressa melhor, porque este mundo era um vale de lágrimas.

(Continua)
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[1] A série começou a ser exibida a RTP em 1961

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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 14 de agosto de 2019  > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

Postes anteriores:

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)