sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20064: Manuscrito(s) (Luís Graça) (163): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte V - De 41 a 50 de 100 pictogramas)


India > Goa > Volta ao Mundo em 100 dias a bordo do mavio de cruzeiros "Costa Luminosa" > 19 de novembro de 2016 > Cemitério  > Lembrando o 10 de junho, "dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas"... Lembrando ainda os portugueses e seus descendentes que ficaram nos antigos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.  Aqui se dizia, antigamente: "Na Índia os mais vivem de esperança, e o comum morre sem paga"...


Foto: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Cemitério de Paredes de Viadores > 1 de novembro de 2017 > O mais sumptuoso jazigo, da família da "Casa da Igreja", em estilo revivalista, neogótico > Inscrição em latim: "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)....

Até na morte os homens tentam reproduzir as desigualdades sociais que existiam em vida: esta capela, dos "fildalgos" da Casa da Igreja é a única que existe, para além da de outra família, neste pequeno cemitério rural, cuja construção remonta a 1894... Logo nos finais do séc. XIX, os ricos e poderosos procuraram contornar a aplicação lei liberal do enterramentio público (que proibia o enterramento em espaço privado: palácios, conventos, igrejas, ermidas, capelas...) erigindo no espaço do cemitério público uma "jazigo capela", uma espécie de minicasa de Deus, reservada aos seus mortos queridos...

Há algo de patético neste encarniçamento em manter, na morte, a segregação socioespacial que existia em vida...  Mas, na relidade, s cemitérios públicos, que só surgem no séx. XIX, com o liberalismo, são (ou deviam ser) verdadeiros "campos da igualdade", já que metaforicamente falando, a gadanha da morte ceifa tudo e todos, ceifa rente a vida, e não poupa tanto a espiga de trigo como a erva do campo, o rico e o pobre, o herói e o cobarde, o novo e o velho, o são e o doente, o amigo e o inimigo... Afinal, "na morte ninguém finge nem é pobre"...


Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]
Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


(Continuação)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...](*)



41. Havia a assistente social que fazia o inquérito de saúde aos indigentes, porcionistas e pensionistas e só em caso de vida ou de morte é que um pobre de Cristo ia parar ao Real Hospital de São José, lá longe na capital do reino, a três horas de distância da camioneta do João Henriques. Parava na Rua da Palma, mesmo pertinho do hospital do rei. 


E em Lisboa, era para morrer: que em Lisboa nem sangria má, nem purga boa, abanava com a cabeça o enfermeiro do hospital da Misericórdia. 

42. Havia a escola, primária, do tal Conde de Ferreira, e não chegava para tantos bandos de crianças que precisavam de aprender a ler, escrever e contar, e mais tarde ajudar a dilatar a fé e o império e a cobrar o imposto de palhota ou remendar as malhas que o império tecia e rompia.

Havia uma ala para os meninos, e outra para as meninas, com um muro de Berlim ao meio, os sexos apartados desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, e onde não chegavam as carteiras para tanto petiz, de pé descalço e ranho no nariz, enfarinhados de pó de giz e de mãos sujas de tinta azul, as cabeças cobertas de piolhos que se matavam com água a ferver, pentes de osso e DDT 
[1]


43. Ah! a tua escola do senhor Conde de Ferreira, que saudades!, construída no tempo da Regeneração, com o remanescente da herança do maior benemérito do Liberalismo, deitada abaixo, mais tarde, pelo desgraçado do camartelo camarário. 


E em frente o carro de praça do ti’ Ad’lino, talvez um velho Ford preto (, lembras-te lá tu agora da cor e da marca!), que viera substituir o coche dos ricos, passando o cocheiro chofer, a chauffeur de praça. Assim, à francesa, chauffeur, como dizia o teu pai e era mais fino.



44. Saudades ?!... Como é que os pobres, com um rancho de filhos, e tantas bocas para dar de comer, tinham saudades da sua pobreza envergonhada?!

Havia a vida privada, por detrás dos muros dos quintais e das paredes dos casarões dos ricos, que os pobres, esses, não tinham vida, e muito menos privada.


45. Havia a alcova, exposta na via pública, o Poço Novo onde as mulheres iam lavar a roupa e os sete pecados mortais, o Poço Novo, grande melhoramento público do Estado Novo. 

Havia o confessor que tinha mau hálito, havia os segredos de confessionário, mal guardados a sete chaves, uma para cada pecado, coisas que se contavam do bom do ferreiro e segeiro da tua rua, que, coitado, tinha fama de fauno, de lobisomem e de beato, batendo a mão no peito, seco, negro do carvão de pedra, uma figura mística, arrancada às tábuas de El Greco [2]. 


46. Havia a guarda, muito pouco republicana e nacional, que estava em pé de guerra contra a comissão fabriqueira da igreja, por ocupar parte das instalações do antigo convento de santo António, velhas disputas que vinham do tempo do mata-frades 
[3]  e da república façanhuda, jacobina, maçónica e anticlerical. E tu, que mais tarde irás ajudar à missa, tomavas o partido de Deus contra o de César. Não podias deixar de tomar partido: não tinhas escolha.


47. Havia o drama dos soldados que partiam para as Índias, Goa, Damão e Diu (sem os enclaves de Dradrá e Nagar-Aveli que o "Pandita" Nehru já nos tinha usurpado em 1954!), os soldados de caqui e farda amarela e botas de polaina, capacete de aço e espingarda Mauser, e as mães da rua dos Valados, comprida, do cemitério ao largo das Aravessas, que, desgrenhadas, roucas, histéricas, rasgando véus, aventais e saias e arrancando cabelos, gritavam, imploravam, praguejavam e até invetivavam Deus e a santa da sua mãe, para que os dois (, juntos, sempre tinham mais força!),velassem por eles, os seus meninos, e os trouxessem de volta, sãos e salvos, no veleiro de torna-viagem.

E voltavam, os que voltavam, mas já não eram os mesmos. E as mães eram as primeiras a dar conta dessa mudança. E ainda não havia a guerra do ultramar, lá longe, em Angola, Guiné e Moçambique, nas terras dos pretinhos, mas hás de lá chegar quando passarem mais outonos e invernos, primaveras e verões, depois da feira de setembro. 

Havia o ditado, de mau agoiro e de negro presságio: À Índia mais vão do que tornam. Se calhar era lembrança dos tempos em que, à Índia, ir e vir demorava dois anos, de barco à vela.

48. Havia ainda a cadeia da c
omarca no largo do convento: tresandava a merda e a mijo, a vomitado e a maresia, a sangue e a suor, e, por detrás das grossas grades de ferro carcomidas pela maresia, uma mulher corajosa, com um filho nos braços, que matara o homem violento, e noutra cela um facínora das Cesaredas, terra danada, diziam, onde as mulheres eram homens e os homens lobisomens, o papão com que te metiam medo, à noite, ao deitar, debaixo dos lençóis, a faca nos dentes, a sangrar, o papão, o lobo mau, o inferno, a danação eterna, o troar dos canhões das trovoadas, dantescas, que faziam estremecer os vidros das janelas, e as missas que tinhas de ouvir por mor da salvação da tua alma, e as orações que tinhas de rezar para alcançares o céu, direitinho que nem um fuso, logo que a alma se desprendesse do frágil e miserável invólucro do teu corpo, na hora da tua morte, ámen! 



49. Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris, lembra-te, meu menino, que és pó e que em pó te hás de tornar!, ameaçava-te o padre pregador franciscano nos sermões da Quaresma,e esse latinório bastava para ficares a entender, aterrorizado, o conceito da tua reles insignificância na periferia do universo que Deus criara, com pompa e circunstância e orquestra.


50. Ah!, e as feiras da tua infância!, não te esqueças de mencionar as feiras, havia as feiras e os mercados, no Rossio, junto ao rio Grande, a merda dos bois e das vacas no terreiro (, caca, que a tua mãezinha nunca te deixaria dizer merda, e de castigo punha-te pimenta na língua!)

E os pobres dos ciganos sem eira nem beira, escorraçados ao fim de três dias, e de quem tinhas medo que te pelavas, quando por lá passavas, nos acampamentos do Rossio, a caminho da Quinta do Bolardo!

Tinham fama, os desgraçados, de desenterrar os animais, mortos por doença, que a fome era negra, e eram tantas as bocas no acampamento.

(Continua)

_________


[1] DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano) é o primeiro pesticida moderno, tendo sido largamente usado durante e após a Segunda Guerra Mundial.

[2] Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido por El Greco (1541-1614): artista plástico genial, desenvolveu a maior parte da sua carreira em Toledo, Espanha.

[3] Alcunha de Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 1792 – Barreiro, 1882 [,autor da lei de 30 de maio de 1834 (extinção das ordens religiosa refgulares, e nacionalziação dos seus bens)].

___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)

14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

15 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)

7 comentários:

Anónimo disse...

Continua a nossa viagem no tempo permeada de melancolias várias,se bem que intercaladas com as tão nossas violências...”a modos que”...suaves!
Tens conseguido à comparticipação do leitor em situações por muitos,em outros locais e com outras experiências,não vividas.
Espelham toda uma época que acabou por nos marcar as infâncias.
A bem ou mal!

Textos que se estão a tornar em leitura de Verão.
O curtíssimo Verão que,aqui no extremo do extremo Norte da Suécia ,já há muitas semanas...terminou!

Um abraço a todos os “praiantes “ Lusitanos
J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

José, eu tive aqui um presidente da Câmara, na 2ª metade dos anos 50, que era um capitão da GNR, de apelido Belo...Há de aparecer mais à frente num dos próximos pictograms...

Ainda há tempos encontei o mome dele numa placa, num lavadouro público, no Moledo, no planalto das Cesaredas (por onde andaram, clandestinos, o Pedro e a Inêe, em meados do´sec. XIV...). Salvo erro, o ano da inauguração do depósito de água e do lavadouro público do Moledo ea 1958...

Eu sei que Belos há muitos... Mas "belos e bons" são poucos, como tu... Mando-te daqui um cheiriNho a maresia do nosso oceânico Atlântico, daqui da Praia de Vale de Frades, a norte da Praia da Areia Branca, donde, há 150 milhões de anos, se ia a pé a "Nova Iorque"... E, a propósito, a sardinha este ano estã de se comer e chorar por mais!... Já pus a trabalhar o "barbecue" duas ou três vezes... (Chuurasqueira, é mais apropriado dizer-se: é mais saloio mas mas genuino... Porque é que a gente, armada ao "ingarelho", fosta de dzer aos amigos que tem T2 com "barbecue" ?...)...

Em suma, a sardinha está boa e recomenda-se... E para se tirar o cheiro (desagradável) da "sardinha assada", lá fora e na cozinha, junta-se, ao carvão, um pau de louro... Sabias ?



Anónimo disse...

Seguindo a leitura destes manuscritos, li agora algures que as forças do Pandita Nheru era de «43 homens». Mas já não sei onde está isso!
Claro que todos se apercebem do erro dactilográfico, mas para os menos sabedores, e há tanta gente que nada sabe destas coisas, é melhor remendar para os 43.000 - 43 mil, talvez até deviam ser 45 mil ou mais...

Seriam sempre 13 vezes mais pessoal bem armado e nutrido.

Se em tão poucas horas morreu tanto militar, imagine-se se aguentavam mais 24 horas!!!

Como já sabem conheço muito bem, tudo o que respeita ao Estado Português da Índia, ou pelo meu pai, ou pelo meu irmão.

O dia 18 de Dezembro de 1961 nunca será esquecido, tinha eu 18 anos, iria fazer 19 em 29 de Janeiro do ano seguinte.

Para que fique registado, o meu irmão não fez parte dos mortos, mas sim dos prisioneiros.

O seu nome:

Jorge Oscar Machado Teixeira, 2º Sargento do QP - Radio Montador.

Tinha 20 anos no dia em que foi feito prisioneiro.

Mais tarde, ainda foi fazer outra comissão a Angola, de 28 meses.

Está vivo, mas acamado.

É DFA.

Abraço,

Virgilio Teixeira


Hélder Valério disse...

Luís

Continuo a seguir este teu relembrar da infância/juventude e cotejando com as minhas próprias memórias.

Mas, acredita, que só agora dei conta dum "pecado" que cometi, involuntariamente, é certo, mas movido pelo impulso de "comparar" acabei por "cair em tentação" e esqueci o preceito já antigo do Branquinho e que assumi desde logo, de "não falar de mim nem do meu umbigo".

Afinal, ao comentar, acabei por ir dando conta das minhas peripécias, em vez de me referir estritamente ao conteúdo dos "pictogramas".

Que te posso dizer mais para além do que está muito bem apanhado e resumido no que o J. Belo refere?

Sabemos, é muitas vezes citado, que o "homem é ele mesmo e as suas circunstâncias".
Ora acontece que as tuas circunstâncias, em muitos aspectos, não foram muito diferentes da maioria de nós, principalmente os do meio rural. Mas eu, claro, "saltitando" entre as memórias da aldeia e as da Vila, embora encontrando essas várias concordâncias, não podia deixar de me lembrar das diferenças e aí, involuntariamente, elas afluíram e acabei por reflectir nos comentários. Peço desculpa.

Quanto as estes "pictogramas" pois continuam a fazer trazer à memória o "doce/amargo" dos tempos vividos.
Continuemos, pois, a acompanhar e a relembrar (e a cotejar, se não te importas...)

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

..... e havia o Roberto, que descobriu, sem querer, um truque de ilusionismo. Trouxe tinta do tinteiro da carteira da escola, num frasquinho das injecções com um bocado de mata-borrão a servir de rolha e quando chegou a casa a tinta tinha desaparecido.
…… e havia o mesmo Roberto, já mais crescido, que embirrava com o 'Mirones' que adormecia no banco do jardim, com a beata do 'Provisórios' ao canto da boca e que estava mesmo a pedir que se pusesse merda de cão nas mãos para ele ao acordar apagar bruscamente a labareda, quando lhe acendia o cigarro.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Meu caro Amigo Luís

Depois de 40 anos sem saber o que é cheiro de uma(!!!) sardinha assada (mais inesquecíveis as do Baleal do que as da turística Alfama) podes fazer-me o favor de deixar todo o cheiro possível no ambiente!
Por aqui ,bacalhau fresco grelhado ou carapaus incrivelmente saborosos não faltam...mas sardinhas ...nada!
(Recomenda se também bacalhau fresco- fumado com molho frio de coentros e natas).

Quanto aos “Belos” que referes,o Sr.Capitao da GNR não faz parte da minha família.
Os meus Belos tinham quinta familiar na vila do Maxial a cerca-se 10 quilómetros a noroeste de Torres Vedras.
Quanto a placas com o nome Belo,encontras uma na rua principal do Maxial com o nome do meu avô paterno.
Encontra-se outra numa avenida de Torres Vedras e em algumas salas do museu arqueológico local.
Creio mesmo existir um edifício comercial nesta cidade também com o seu nome.
Aurélio Ricardo Belo,político activo no Partido Republicano e vereação de Torres Vedras nos tempos anteriores à ditadura.
Como era médico militar foi também director do Lar Militar de Runa.
Escavações arqueológicas ,entre outras, no Zambujal junto à estrada Torres Vedras-Santa-Cruz .
Tudo isto tão perto da tua Lourinhã meu caro Luís.
Na verdade o mundo é pequeno e a nossaTabanca ....Grande!
Quanto ao Capitão Belo que referes...só há um!
Este ”esquerdalho “ e mais nenhum!

Um abraço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...


José, pois claro: Belo só há um, tu e ais nenhum... Há os Belos, de Rio Maior, o o poeta Ruy e o filósofo Fernando, infelizmente já falecidos... Mas com origens beirães (fundão) e estremenhas (Torres Vedras), é a tua família... Desconhecia, por completo: és muito cioso (e bem) da tua vida pessoal e familiar... Mas o teu avô, Aurélio Ricardo Belo, é uma figura pública, que os meus vizinhos de Torres Vedras, adoptaram (e bem) como seu filho.

Há anos que ando para visitar o museu de Torres Vedras... Tenho agora motivos acrescidos para lá ir um dia destes, ainda este verão...Encontrei aqui um nitável artigo sobre o teu avô:


https://historiasdetorresvedras.wordpress.com/2012/04/17/aurelio-ricardo-belo-e-a-investigacao-arqueologica/