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terça-feira, 24 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26953: Notas de leitura (1812): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte II: apresentação de Joaquim Pinto Carvalho



Lourinhã  > Salão Nobre da Câmara Municipal da Lourinhã > 21 de junho der 20256 >  Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1) (*)

Da esquerda para a direita, o Joaquim Pinto Carvalho (que fez o posfácio do livro, e apresentou o livro e o autor), o autor, Jaime Silva, e o Luís Graça (que fez o prefácio do livro, e falou sobre a Lourinhã e a guerra do ultramar / guerra colonial) (*). 

Três amigos... estremenhos, colegas, companheiros e camaradas, cofundadores da "Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo!", em plena pandemia de Covid-19... Localização: Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã...

0 Jaime Silva foi alf mil pqdt, BCP 21 (Angola, 1970/72), cruz de guerra de 3. classe.

Foto: Página do Facebook do Municipio da Lourinhã (com a devida vénia...)


Seleção e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Sobre o Joaquim Pinto Carvalho:


(i) tem mais de 60 referências no nosso blogue,

(ii) é membro nº 633 da Tabanca Grande;

(iii) foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73);

(iv) natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã;

(v) é autor, entre outras obras, de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021.

2. A Tabanca do Atira-te ao Mar, apesar de "secreta", não escapa à "bisbilhotice" do assistente de IA / Gemini /Google, que nos informou o seguinte:


(...) Sim, conheço a "Tabanca do Atira-te Ao Mar". É uma organização localizada no Porto das Barcas, em Lourinhã, Portugal.

De acordo com as informações disponíveis:

  • foi criada por Joaquim Pinto Carvalho e Maria do Céu Pinteus, que são os responsáveis pelo apoio logístico;
  • está associada ao blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné":
  • é também referida como "Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo)", com sede no Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã.

Apesar de não ter conseguido aceder diretamente à página do blogue, obtive estas informações através de uma pesquisa geral.

Pode encontrar mais detalhes nos seguintes links:

Guiné 61/74 - P21328: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (1)

Tabanca do Atira-te ao Mar - Luís Graça & Camaradas da Guiné " (...)



3. Texto da apresentação do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva,  na sessão de lançamento, realizada no passado dia 21, no Salão Nobre da Câmara Municipal d Lourinhã, às 11h00:

AO "BONIFÁCIO"

Estamos aqui três antigos colegas de estudo, três antigos combatentes e, sobretudo, três amigos já com uma alguma antiguidade.

Conheci o Jaime no seminário de Santarém, no ano em que começava a “guerra colonial”! Anos depois, acabaria por conhecer o Luís, mas não de maneira tão próxima e noutro seminário. E foi através do Jaime que, há alguns anos, voltei a reencontrar o Luís. O Jaime apresentou-me o Luís como o criador do blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, blogue que eu já conhecia porque também estivera na Guiné.

O reencontro deu-se, na minha casa, na Atalaia. Recordo que, no meio da conversa, virei-me para o Luís e disse-lhe: "Então tu, o Luís Graça do Blogue, és o mesmo Luís Graça que eu conheci no seminário?"... 

E a partir daí, os três temos mantido um contacto próximo e regular que foi, de forma mais assídua, no período da pandemia Covid 19 e depois! 

Somos três filhos do pós-guerra (da segunda guerra mundial – que a terceira ainda não acabou!) e fomos “camaradas” na “guerra colonial”. Quando começou, no dealbar dos anos 60 – não sei se era também a ideia destes meus amigos! – a “guerra do ultramar” não nos dizia nada nem pouco nos preocupava. 

Eu estava convencido que, quando chegasse o tempo da “tropa”, a guerra já teria terminado. Puro engano! Os três fomos mobilizados: o Jaime, caiu de paraquedas em Angola e nós, os dois, sem paraquedas, batemos com os costados na Guiné! 

Uma coisa é certa: quando nos conhecemos ou quando, mais tarde, estivemos na guerra colonial, estávamos bem longe de pensar estar aqui hoje, os três, nesta vida bem mais airada. Mas hoje aqui estamos, neste ato, com a solenidade merecida, muito por causa dessa guerra, mas muissimo mais por culpa da amizade que nos une. 

Aqui estamos os três, colegas de estudo, camaradas combatentes e amigos e, à nossa frente, temos esta ilustre assembleia que se reuniu por causa de um livro, acabadinho de nascer! De parto difícil, ao que sei! 

O Luís Graça fez o ""prefácio", eu fiz o "posfácio", e o Jaime fez o "bonifácio - “bonifácio”,  do latim “bonum” + "facere” – que significa “fazer o bem”...  

E o Jaime o fez muito bem! Mas este livro não tem três pais, não é, de forma alguma, uma obra comum dos três. Foi concebido e escrito apenas por duas mãos ou a um só teclado, ou, melhor dizendo, foi gerado pelo coração e pela vontade do Jaime Bonifácio Marques da Silva, paternidade autoral que está inscrita logo no topo da capa do livro. Nós dois seremos, digamos assim, os “padrinhos de guerra” deste ser recém-nascido! 

Nota-se bem   – ou será mera impressão minha – que o Jaime, hoje, parece estar mais tranquilo, menos estressado e deve estar satisfeito: ao fim de mais de uma década de pesquisa, de recolha de testemunhos, de compilação e organização de dados, e numa década atravessada pelos riscos da pandemia Covid 19 e pelas vicissitudes da sua vida familiar, o Jaime venceu mais um bom combate. 

O Jaime é assim, combatente e guerreiro, é um veterano, não só da guerra, mas também das armas literárias que defendem a memória da guerra colonial! O Jaime já teve oportunidade de participar num trabalho coletivo, semelhante, quando foi vereador na Câmara Municipal de Fafe e fá-lo agora, imagino eu, com redobrada dedicação e entusiasmo, na terra e no município que o viu nascer e onde nasceram ou de onde partiram os jovens militares que vão recordados nesta obra! 

O Jaime não só deve estar satisfeito como está de parabéns! Parabéns... Porque o livro está pronto e está lindo. Na capa e no conteúdo. E também o livro deve estar feliz e desejoso para seguir o seu destino: chegar às mãos dos leitores, de todos nós e de outros, e ser lido e compreendido. 

O livro aí está. Completo, até no título. E inteiro. Tem corpo. Compõe-se de cabeça, tronco e membros. 

Na cabeça, o primeiro capítulo, mais racional, faz-se o enquadramento factual e sociopolítico da eclosão e desenvolvimento da guerra colonial. 

No segundo capítulo, o tronco, onde se situa o coração, bate o senmento, pulsa o testemunho pessoal do autor e digere-se a sua experiência como paraquedista e combatente. 
Nos membros, terceiro e quarto capítulos do livro, acolhem-se os 20 jovens militares e dá-se a mão ao objetivo da obra e seguem-se os passos que aqueles combatentes deram até à sua morte. Tudo detalhada e profusamente documentado e ilustrado. 

Este é o seu corpo; reserva-se ao leitor o desafio de lhe perscrutar a alma. Quanto a mim, a alma, o intuito do autor vai além desse corpo, das palavras. O autor pretende também preservar a memória desse conflito, ou seja, proclamar que a guerra colonial existuu, foi real, é história documentada, não é uma ficção! 

É certo que foi uma guerra que não se venceu, que acabou com os “restos” do império colonial português. Perdeu-se a guerra e o império, mas, por ela, ganhou-se a liberdade e o direito à cidadania. Só por isso – e apesar disso – valeu a pena existir! Foi na guerra que nasceu o 25 de abril que lhe pôs fim! E se, neste ano, acabámos de celebrar os cinquenta anos da “Revolução dos Capitães e dos Cravos”, já se ouvem vozes, com alguma violência até, a denegrir (sem qualquer conotação racista) e deturpar este facto histórico que trouxe a democracia que nos permite hoje estarmos aqui juntos e expressarmo-nos...

E não tardará que, como aconteceu com o Holocausto da segunda guerra mundial, surjam também teorias negacionistas a tentar branquear esta guerra e as suas sequelas familiares e sociais. 
A guerra colonial é uma página importante, ainda que triste, da história de Portugal e sobretudo desta geração de combatentes que são, por assim dizer, os úl mos heróis  – ou mátires - do império colonial português, mesmo aqueles que não tombaram em combate! 

Daqui a 20 ou 30 anos, não haverá ninguém para contar a história desta guerra e da geração que a suportou! Por isso, é preciso que o David e os netos desta geração não a esqueçam e que a Pátria preste aos combatentes o devido louvor e reconhecimento  – o que nem sempre é feito na justa medida.

Este livro obriga a NÃO ESQUECER esses heróis e, no caso concreto, os jovens lourinhanenses que morreram na e por causa da guerra colonial, em Angola, Guiné e Moçambique e é louvável que a Câmara Municipal da Lourinhã se tenha mobilizado também para esta nobre missão de preservar a memória coletiva e contribuído, com a publicação deste livro, para este bom combate da escrita e da cultura. 

Li há dias no “Blogue do Luís Graça” as seguintes palavras num “post” do Zé Teixeira que tomo a liberdade de citar: 

“Todos ficámos presos ao lamaçal da guerra, apesar de ela ter acabado há muito tempo. Regressámos, mas trouxemo-la connosco. Dorme connosco todas as noites. Não conseguimos desenvencilharmo-nos dela, apesar de ter terminado há muito tempo”. 

É por isso que, para terminar, como posfácio desta minha intervenção, quero deixar um recado amigo ao Jaime. É verdade que não esquecemos... a guerra e outras coisas menos boas da vida, mas apesar das adversidades, a vida continuou ou, recorrendo a uma frase bati da e frequentemente usada até pelos políticos, há mais vida para além da guerra. E é esta que vale a pena viver! 

Por isso, meu caro Jaime, não te esqueças deste recado, em jeito de mensagem: fica em paz com aquilo que deste a este livro e que este livro contém e deixa que o livro, hoje menino, cresça para o mundo dos leitores e dos livros e siga o seu caminho, a sua vida! 

Obrigado, Jaime, pelo teu livro, pelo teu... "bonifácio"! (**)

Joaquim Pinto Carvalho

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça

(**) Último poste da série > 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26950: Notas de leitura (1812): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça



Capa do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã, 2025, 235 pp, il, ISBN: 978-989-95787-9-1) (*)




Nota biográfica di autor



Índice da obra



I. Texto do essencial da apresentação, por Luís Graça, do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos...",  Lourinhã, 21 junho 2025, 11h00 (**)



1. As minhas saudações lourinhanenses ao Jaime,e aos restantes membros da mesa.
A todos os demais antigos combatentes. Aos familiares
dos jovens lourinhanenses mortos na guerra do ultramar / guerra colonial que se voltam a homenagear com este livro. A todos os demais presentes nesta sala que é também, fisica e simbolicamente, a casa do poder autárquico democrático.

Já prefaciei e apresentei cerca de um dezena de livros de memórias, ficção e poesia, escritos por antigos combatentes da Guiné.

Mas este livro do nosso Jaime tem um particular significado para mim. Acompanhei o seu "making of". E fala da nossa terra e e da nossa gente. Foram vinte os nossos conterrâneos, mortos na guerra do ultramar / guerra colonial. Já homenageados na pedra, em monumento inaugurado em 2005.

Hoje este livro traz-nos mais informação, proveniente dos arquivos militares e outras fontes, sobre a vida e a morte destes bravos lourinhanenses. Traz a sua foto, e detalhes sobre a sua vida civil e militar, incluindo as circunstâncias em que morreram, 11 em combate e 9 por acidente ( incluindo com armas de fogo).

Alguns estavam mais próximos de nós, pela idade, o parentesco, a vizinhança, etc.

Por exemplo, o Arsénio Bonifácio Marques da Silva, do Seixal, era primo direito do Jaime. Morreu em Angola em 1972. Numa mina. Ou o José Henriques Mateus,da Areia Branca, seu colega de escola: desapareceu, no decurso de uma operação, no sul da Guiné, em 1966, ao atravessar o rio Tompar. O corpo nunca foi econtrado.

Já o José António Canoa Nogueira, o primeiro lourinhanense a morrer na Guiné, em combate, em 1965, era meu parente. O seu pai e a minha mãe eram primos direitos. As nossas avós eram irmãs. Ele tinha mais cinco anos do que eu. Não éramos íntimos mas o seu funeral, três meses e meio depois, tocou-me profundamente.

Eu tinha 18 anos e na altura, eu era o redactor do nosso jornal "Alvorada"... Fui eu próprio que fiz a notícia do seu funeral. E publiquei uma das últimas cartas que ele escreveu, dirigida ao diretor. Foi-me entregue pelo pai, um homem destroçado. Fazia parte do seu espólio.

Já não chegou a tempo de ser enviada pelo SPM (Serviço Postal Militar). O Nogueira morreria 13 dias depois, em em combate, com um estilhaço de morteiro na cabeça.

Em boa hora o Jaime transcreve no seu livro, na página 119, esta carta singela e comovente. O Nogueira chamou-lhe "Um domingo do mato" (sic).

Escrevi, no jornal, em 23/5/1965, há 60 anos (!) que o texto revelava muito da solidão, da saudade e da sensibilidade dos nossos militares em África.

Os restos mortais do Nogueira, em urna de chumbo, foram transportados, de barco, a expensas não do exército mas dos seus camaradas. Onze contos. 5 mil euros a preços de hoje.

Só a partir de 1968 o Estado chamou assim esse encargo, o de trasladar para a metrópole os restos mortais dos seus soldados.

A cerimónia fúnebre, na qual se incorporou "uma multidão anónima e inumerável" (sic), para além das autoridades civis e militares e os Bombeiros Voluntários, foi das mais emocionantes que eu já vi em vida:

(...) À chegada do autofúnebre militar, com a urna, os clarins dos Soldados da Paz tocaram a silêncio. E o préstito atravessou a Vila, sob uma impressionante atmosfera de recolhimento e dor. (...)

2. Feita esta incursão pelas minhas própias memórias, deixem-me fazer duas perguntas a que os próprios leitores deste livro devem poder responder no final, e a quem o autor não deixa de dar a sua própria resposta:

(i) Qual o sentido destas mortes ?

(ii) Qual a dimensão desta guerra e o preço que tivemos de pagar, nós, lourinhanenses, a nossa terra ?


Permitam-me que vos mace com alguns números que, às s vezes, valem mais do que mil palavras.

Estas mortes não podem ter sido em vão. A nossa participação na guerra também não pode ser vista como totalmente absurda. Afinal “soubemos fazer a guerra e a paz”.

Servimos a Pátria, que está acima dos regimes políticos. Não desertámos. Pagámos o nosso imposto de sangue. Reafirmámos o direito de continuar a ser portugueses e a viver em Portugal.

E mais: como militares, assegurámos as condições que permitiriam ao regime da época encontrar soluções politicas para uma guerra que nunca poderia ter uma solução estritamente militar.

Para além do testemunho pessoal sobre a sua própria vivência da guerra, o Jaime reconstitui as histórias de vida de 20 combatentes da Lourinhã que não sobreviveram para as poder contar.

Ficamos a conhecer melhor pelo menos quem foram os nossos conterrâneos que pagaram com a vida o brutal esforço de guerra (militar, logístico, demográfico, financeiro, económico, social, político, diplomático, etc.) que o país fez entre 1961 e 1975.

Estima-se em c. 25 mil milhões de euros, a preços de hoje, o custo da guerra. São quase 8,8% do nosso PIB nominal

Mas a perda e vida e o sofrimento físico e psíquico não mais difíceis de contabilizar em termos de custos, diretos, indiretos e ocultos.

Reforço o que o Jaime escreveu no capítulo Um: a guerra colonial (1961/75) foi seguramente o acontecimento mais marcante da nossa Pátria no Séc. XX.

Em rigor dever-se-ia falar em guerras coloniais, e que remontam à expansão colonial europeia, na sequência da Conferência de Berlim, em 1884/85.

A última foi mais do que uma sucessão de operações militares: implicou também, paralelamente, uma aposta, se bem que tardia, no desenvolvimento socioeconómico do “ultramar português”.

Cedo se percebeu (até pelo exemplo de outras potências colonizadoras como a Inglaterra, a França e a Holanda) que aquela guerra não podia ser ganha pelas armas.

O seu desfecho levou não só à restauração da democracia em Portugal, com o 25 de Abril de 1974, mas também ao desmantelamento do velho império colonial e ao aparecimento de novas nações lusófonas, mais de cento e cinquenta anos depois da independência do Brasil (em 1822).

Resta saber se fizemos (ou soubemos fazer) o luto de tantas perdas (físicas e simbólicas).

Já no passado, a Lourinhã tinha pago a sua quota-parte do "imposto de sangue de sangue, suor e lágrimas" nas guerras que direta ou indiretamente a tocaram, desde pelo menos as invasões napoleónicas.

Mais próximo de nós, não posso esquecer o caso dos nossos 4,6 mil prisioneiros na Índia (1961/62) (dos quais 13 eram lourinhanenses).

Mas a Lourinhã, desde a batalha do Vimeiro, em 1808, e as guerras civis oitocentistas, não conheceu felizmente a brutalidade da guerra à sua porta.

Estas de que aqui falamos,  passaram-se a milhares de quilómetros de distância: 4 mil na Guiné, 8 mil em Angola, 12 mil / Moçambique, 8,3 mil na India (via Canal Suez) etc.

Quantos militares (e/ou civis) nossos conterrâneos, mesmo os que não tenham morrido nestas guerras e expedições, pagaram o "imposto de sangue, suor e lágrimas" ?

Será bom não esquecê-los, incluindo as famílias dos militares mobilizados, a população civil que "retornou" a Portugal, na sequência da descolonização (mais de meio milhão), etc.

Mas restringindo-nos ao período da guerra do ultramar / guerra colonial, podemos avançar com alguns números:

Estima-se em cerca de 1300 o número de mobilizados, da nossa terra

No total foram mobilizados para Angola, Guiné e Moçambique cerca de 800 mil militares portugueses (número no qual se incluem também cerca de 30% de oriundos do recrutamento local, ou sejam, africanos como os meus soldados).

Em 1970, a população portuguesa era de 8,6 milhões e a da Lourinhã, não chegava aos 20 mil.

Portanto, 65 lourinhanenses em cada mil foram à guerra. E morreram 20 (11 por ferimentos em combate e 9 por acidente e outras causas), o que corresponde a uma taxa de letalidade de 1,56.

No total, morreram (por todas as causas) 10,4 mil militares portugueses, dos três ramos das Forças Armadas (incluindo os do recrutamento local).

E pelo menos 60 dos nossos militares lourinhanenses foram feridos gravemente. No cômputo geral houve 10 feridos (dos quais 3 graves) por cada morto.

O total de feridos da guerra foi de cerca de 117 mil.

Houve cerca de 28 mil feridos evacuados para os hospitais, metade dos quais metade foram classificados como deficientes.

Nestas baixas todas, para além das mortais, há lourinhanenses. Não sabemos quantos nem quem.

Também sabemos que um 1/5 dos mancebos em idade militar, em todo o país, não se apresentaram para cumprir o serviço militar. Estamos a falar de um total de mais 220 mil. Cerca de 500 seriam lourinhanenses.

Os números podem discriminar-se do seguinte modo:  faltosos (c. 202 mil), refratários (c. 
20 mil), desertores (c. 9 mil) (também os houve na nossa terra).

Neste número de faltosos e refratários estão muitos emigrantes. E é bom não esquecer que ao longo deste período (1961/74) a emigração em Portugal ultrapassou o milhão e meio.

Na década de 60, a Lourinhã perdeu cerca de 3,3 mil habitantes (c. 15%).

1300 homens em África foram também 1300 famílias. Fora o meio milhar que escapou a guerra.

Milhares de lourinhanenses (familiares, vizinhos e amigos) viveram a guerra à distância, com os oceanos Atlântico e Índico de permeio.

Dez toneladas de correspondência (aerogramas, cartas, jornais e revistas, encomendas, etc.) circulavam todos os dias através do Serviço Postal Militar, criado em 1961.

Calculamos, por baixo, que 250 milhões de aerogramas escritos, uns de cor amarela (reservados aos militares) e outros de cor azul (reservados às famílias), terão circulado num sentido e no outro. Sem falar das cartas pelo correio normal. Os aerogramas eram distribuídos pelo Movimento Nacional Feminino (mais de 30 milhões de impressos por ano).

À Lourinhã, com uma população a rondar os 20 mil, caberão c. 600 mil aerogramas  durante a guerra, enviados e recebidos pelos militares, famílias e amigos.

3. Passo o desafio à professora Leonor Bravo, a quem sugeri, através do Jaime, que falasse do direito e do dever de memória dos combatentes e da sua comunidade (incluindo a escola, professores, alunos, pais, avós) .

Mais de meio século depois (e quando mais de um terço dos antigos combatentes já terá morrido), não é tarde ainda para que a nossa comunidade (incluindo as escolas e as autarquias) se empenhe na recolha e salvaguarda de todo a documentação dessa época, com destaque para os álbuns fotográficos e a correspondência,

O Jaime dedica o seu livro ao seu neto David e a todos os netos dos antigos combatentes bem como aos cerca de 3,5 mil estudantes do concelho.

Há intencionalmente aqui uma “passagem de testemunho” e uma partilha de memória intergeracional.

4. Uma nota final: a guerra tem sempre um preço muito alto para qualquer combatente ou para quem a sofreu, a população. A guerra, e as suas múltiplas histórias, com h pequeno e com H Grande, as suas sequelas, os seus fantasmas, as suas memórias, as suas perplexidades... nunca acaba, mesmo quando morre o último combatente.

O músico e cantor Diogo Picão, que se orgulha das suas raízes lourinhanenses, diz isso, magistralmente:

“O meu tio (refere-se ao materno) fala muito da guerra. Ainda bem, fico mais tranquilo. Imaginem quem guardou aquelas explosões e aquele mato, aquelas entranhas todas dentro do peito.

" O meu outro tio (refere-se ao paterno) nunca me falou da guerra, mas sei que alguma coisa também morre dentro dele todas as noites”

Caros amigos e conterrâneos, leiam o livro e falem dele aos vossos netos: a palavra é agora do Jaime, que legitimamente reivindica, para ele e todos os demais antigos combatentes, o direito de não ficar na “vala comum do esquecimento”.

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 22 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26947: Agenda cultural (890): Lançamento do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial": Lourinhã, 21 de junho de 2025: fotogaleria

(**) Último poste da série > 20 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26943: Notas de leitura (1810): A presença portuguesa no Gabu, a relação colonial com os Fulas, por José Mendes Moreira (Mário Beja Santos)

domingo, 22 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26947: Agenda cultural (890): Lançamento do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial": Lourinhã, 21 de junho de 2025: fotogaleria

 


Foto nº 1 > Joaquim Pinto de Carvalho, Jaime Bonifácio Marques da Silva e Luís Graça


Foto nº 3 > O autor e o presidente da câmara municipal, engº João Duarte


Foto nº 4 > O presidente da câmara, a irmã, Bia, do  António Manuel Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro Lourinhanense a morrer na Guiné, em combate (em 23 de janeiro de 1965),e o autor.


Foto nº 5 >  Da esquerda para a direita,  a profª Maria João Picão Oliveira (que moderou a sessão), o Joaquim Pinto Carvalho (que fez o posfácio do livro, e  apresentou o livro e o autor), o autor, Jaime Silva, o presidente da câmara, eng. João Duarte, o Luís Graça (que fez o prefácio do livro, e  falou sobre a Lourinhã e a guerra do ultramar / guerra colonial) e a profª Leonor Bravo, do agrupamento de escolas João das Regras ( que falou sobre o dever e o direito de memória)


Fotos: Página do Facebook do Municipio da Lourinhã (com a devida vénia...)

Seleção  e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



1. As primeiras fotos do lançamento do livro do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos  os jovens militares do concelho da  Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp.,  ISBN: 978-989-95787-9-1) (*)


(...) Não esquecemos...é um livro sobre memórias de guerra que lembra e homenageia os 20 jovens militares da Lourinhã mortos na guerra colonial (1961-1975). Recupera e traz  público os seus percursos  e mapas de vida militar, cruzando três dimensões distintas da memória e do estudo desta guerra: o mundo das histórias e memórias privadas e (inter)pessoais  de combatentes, a par do mundo da história e da representação pública e oficial registada (...).

Excerto da contracapa.
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terça-feira, 17 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26929: Agenda cultural (889 : Lourinhã, Salão Nobre da Câmara Municipal, sábado, 21, às 11 horas: sessão de lançamento do livro de Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"



Cartaz de lançamento do livro "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial", da autoria do lourinhanense Jaime Bonifácio Marques da Silva

Cortesia de: Página do facebook de Município da Lourinhã, terça, 17 de junho d2 2025, 13:00

 1. Estão convidados os nossos leitores para assistir à sessão de lançamento do livro, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhá mortos na guerra colonial".

O evento vai realizar-se na Lourinha, no Salão Nobre da Câmara Municipal, dia 21, sábado, às 11h00.

A edição do livro tem a chancela da Câmara Municipal da Lourinhã (2025, c. 230 pp.).  O autor é o nosso grão-tabanqueiro nº 643 (desde 31 de janeiro de 2014), Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72). 

O livro será apresentado pelos nossos tabanqueiros Joaquim Pinto Carvalho e Luís Graça. 

Na mesa terão ainda presentes, além do autor, o presidente da edilidade,engº  João Duarte (tem 3 irmãos antigos combatentes),  a profª Leonor Bravo (professora de história, do Agrupamento de Escolas João das Regras, Lourinhã) e ainda a profª Maria João Picão Oliveira (moderadora).






(i) nasceu em 1946, no Seixal,Lourinhã;

(ii) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72);

(iii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate;

(iv) viveu em Angola até 1974;

(v) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH);

(vi) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ;

(vii) autarca em Fafe, em três mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura;

(viii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, nº  643, desde 31/1/2014;

(x) tem uma centena de referências no nosso blogue.


(Fixação do texto e edição de fotos: LG)
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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26858: (De) Caras (233): Estêvão Alexandre Henriques, ex-fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858, Catió, 1965/67: um bom camarada e um grande colecionador de bússulas e outros equipamentos para traineiras e barcos de pesca do alto, que eu visitei na sua casa, Seixal, Lourinhã (João Crisóstomo, Nova Iorque)

 


Foto nº 1 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 >  
O João Crisóstom o, à esquerda, com o Estêvão Alexandre Henriques...
visivlemente felizes por se reencontrarem


Foto nº 2 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 > Uma casa que é um museu (1): 
a Maria do Rosário e o Estêvão e a sua coleção de réplicas de barcos

 

Foto nº 3 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>
Uma casa que é um museu: réplicas de barcos


Foto nº 4 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>  Fotos da Guiné (1)


Foto nº 5 >  Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Fotos da Guiné (2)



Foto nº 6 > 
Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Bússulas


Foto nº 7 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>Rádios



Fotro nº 8 > Louvor do Comandante do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estêvão Alexandre Henriques (ex-furriel mil mecânico radiomontador, CCS/ BCAÇ 1858, Catió, 1965/67):


(i) nasceu em 2 de setembro de 1942, há 82 anos, em Fonte Lima, freguesia de Santa Bárbara, concelho de Lourinhã, rodeado de mar e de gente ligada à terra e ao mar.heiro / Lourinhã);

(ii) fez o serviço militar em 1964, tendo frequentado em Tavira o CSM - Curso de Sargentos Milicianos;

(iii) nesse mesmo ano fez o curso de Radiomontador, na Escola de Sargentos, localizada em Paço d'Arcos;

(iv)  conheceu, entre outros, em Catió, o João Bacar Jaló, ainda conviveu com os seus conterrâneos:


(v)  regresssou a casa em 1967,  tendo trabalhado como  Radiotécnico na firma Electrónica Naval - com sede em Peniche;

(vi)  estabeleceu-se deppois como empresário em 1970, constituindo firma na Rua 13 de Infantaria, em Peniche;

(vii)  em 1973, transferiu definitivamente  a empresa para a Rua José Estêvão, n.º 102, com oficina de reparação e stand de vendas de equipamentos eletrónicos e eletricidade para traineiras e barcos de pesca do alto;

(vii) durante mais de 40 anos impulsionou, a nível nacional, diversas marcas no setor das pescas: 

  • Sistemas: Loran Morrow / Omega Sergel / Omege Diferencial; 
  • Sondas: MJC /Kelvin & Hughes; 
  • Sonares: Wesmar; 
  • Radares: Anritsu; 
  • Rádio goniómetro: Ben-Tem. 

(ix)   fez centenas de instalações elétricas em traineiras e barcos de pesca do alto, bem como em embarcações de pequeno porte e recreio;

(x)  nos anos 70 equipa o primeiro barco de pesca do alto, o "Trio de Ribamar" , com toda a eletrónica e instalação elétrica a 24V DC e geradores a 380VAC, para alimentação do inovador sistema de frio, sendo este um dos primeiros barcos a pescar fora das águas do território nacional;

(xi) ainda no âmbito da sua atividade profissional, visitou feiras internacionais de inovação marítima, quer na área da pesca, quer na dos equipamentos eletrónicos e negociou em diversos países: 
  • Espanha, 
  • Marrocos, 
  • Senegal, 
  • Mauritânia, 
  • Guiné- Bissau,
  • Angola 
  • e Moçambique;

(xii) é conhecida a sua paixão por bússolas (que vem do tempo em que prestou serviço militar na Guiné, e onde adquiriu uma bússola de bolso, aquela que viria a ser a primeira da sua, atual, vasta e riquíssima coleção);

(xiii) empresário reformado, ainda hoje divide o seu tempo entre a paixão pelas bússolas e a construção de pequenas réplicas de embarcações de pesca e caravelas. 

(xv)  já realizou, em Peniche, diversas exposições temáticas com espécimes das suas coleções;

(xvi) em 2017 foi inaugurado, em Ribamar, Lourinhá.
o espaço museológico "Olhar o Mar" (uma das  exposições permanentes é da sua da autoria: exibe m vasto conjunto de equipamentos desenvolvidos para a comunicação e orientação dos pescadores no mar);

(xvi) vive no Seixal, Lourinhã, e é casado com a Maria Rosário Henriques.

(xvii) tem página do Facebook;

(xviii) é nosso grão -tabanqueiro nº 751, desde 2/9/2017 (mas já frequentava antes a Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã).


2. Mensagem de João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, de visita a Portugal (regressa a Noca Iorque em 3 de junho próximo):


Data - segunda, 26/05/2025, 23:29 

Assiunto - Estêvão Henriques

 
Caro Luís Graça,

Tens razão no que se refere à confusão que levou a que o nosso camarada Estêvão e sua simpática esposa Dona Rosário não nos encontrássemos ontem em Varatojo. Mas "não fiques triste por isso” porque também "há bens que nascem de males”. 

Ontem não teríamos tempo nem ambiente para falarmos com calma como nos foi possível fazer hoje.Reviver e falar dos tempos da Guiné e da sua vida de muitos sucessos, como tu sabes, foi o que fizémos hoje.

Quando me sugeriste que o contactasse, eu fui ver os links dos posts que me enviaste. E logo me lembrei que já o tinha encontrado: contigo, em Ribamar, no dia da inauguração dum “Espaço Museológico" e Exposição “navegar no passado”, em Setembro de 2017. Recordo que altura fiquei impressionado com o que aí vi.

Hoje fiquei de boca aberta logo que entrei na sua casa. Quando puderes arranja tempo e vem ver por ti mesmo que aquela casa é um verdadeiro museu. De dobrado valor porque, ao contrário dos museus onde tudo está manuseado e preparado para turistas, aqui tu vais ver o ambiente e lugar de trabalho, onde as suas muitas e variadas obras-primas têm sido feitas/ construídas desde a sua idéia e concepção até serem realidade.

Embora todos os reconhecimentos que lhe sejam dados agora são sempre pouco para aquilo que ele merece, eu não quero ser redundante , pois no post 17721 nos seus dados biográficos dás uma idéia geral do que ele fez e é. Mas acredita que uma coisa é ler e saber; e outra é experimentar e viver como hoje me foi dado ocasião.

Envio-te pois algumas fotos. Pena tenho que a minha ignorância em coisas digitais leve a que as minhas fotos sejam de fraquíssima qualidade. Quando lá fores terás oportunidade de fazer as fotos como devem ser vistas. Entretanto talvez estas fotos despertem a curiosidade e interesse de quem as vir agora para não perderem melhor ocasião no futuro. Se achares que é melhor esperar por essa ocasião, não sou eu que vou discordar. Mas se achares que estas podem ajudar a fazer uma idéia do que lá se encontra e as quiseres publicar está à vontade. O Estêvão deu-me autorização para fazermos delas o que bem entendermos. Mas sei que ele espera com antecipação uma visita tua quando te for possível.

As fotos nºs 1, 2 e 3  não necessitam explicação: creio que é evidente a satisfação de podermos estar juntos e partilhar as nossas vidas. Mais ainda por termos logo lembrado que demos entrada para a tropa na mesmo ano, 1964, e estivémos na Guiné na mesma altura 1965/ a 1967. 

Nunca nos encontramos lá: Eu estive no Xime , Bambadinca, Missirá e Enxalé,sempre junto de ou perto do Geba. Ele este em Catió e aí conviveu com o nosso Horário Fernandes de Ribamar e um primo meu Germano Estêvão,  da Bombardeira ( o nome é simples coincidência ) que esteve em Tite e Catió. Mas,  como sabes estas simples circunstancias de tempo e conhecimentos de mútuos amigos, são por vezes o suficiente para uma aproximação mais rápida ainda.

As fotos nºs 4 e 5  são a evidência de que os seus muitos sucessos na vida não lhe diminuiram o seu interesse pelo passado na Guiné. As fotos, mapas, diplomas e reconhecimentos que estão em quadros nas paredes por cima de aparelhos de toda a espécie, são apenas uma pequena parte do que está guardado por falta de espaço disponível para exposição.

A foto nº 8 é de especial interesse pois mostra já as suas habilidades que irão fazer dele quase um génio depois va vida civil : entre os vários reconhecimentos recebidos relacionados com a Guiné, destaca-se um pelos seus conhecimentos e perícia em trabalhos de electricidade com que procedeu à reparação e eletrificação do destacamento e Vila de Catió, onde tudo estava às escuras quando chegou.

As fotos nºs 2 e 3  mostram  também alguns dos belíssimos barcos, muitos deles réplicas, que o nosso camarada Estêvão fez e guarda em sua casa. Na minha opinião são um verdadeiro tesouro, embora eu deva avisar e confessar o meu pouco conhecimento e perícia, em tudo isto. Em alguns casos quase posso garantir o seu muito valor; e noutros casos, como me sucede quando vejo uma obra-prima que não compreendo mas me fascina sem saber porquê, limito-me a dar a minha opinião muito subjectiva : Eu gosto dela. E neste caso eu gostei do que vi.

As fotos  nºs 6  mostra parte da sua larga coleção de bússulas, e outros objectos náuticos, algumas delas feitas por ele mesmo, outras ( a maioria) verdadeiras antiguidades de muito valor.

A foto nº 7 mostra dois dos vários rádios feitos por ele. Alguns deles foram inovações que permitiram comunicações impossíveis antes do seu aparecimento.

Não fiz fotos das muitas cartas náuticas, mapas e outros documentos que merecem ser conhecidos e uma visita também.

PS - Teor do louvor que consta na sua caderneta militar (Foto nº 8):

"Louvado pelo Exmo. Comandante do BCAÇ 1858 porque durante o tempo em que serviu nesta Província se mostrou ser um militar correto e disciplinado e tendo boa vontade em bem servir.  Por falta de ténicos neste Batalhão, foi o mesmo destinado para dirigir e colaborar na recontrução elétrica do Quartel e da Vila. Nessas funções mostrou ter bons conhecimentos e esforçou-se por levar a bom termo a tarefa para que foi designado, tornando-se assim um bom colaborador do Comando de Batalhão. É por todas estas qualidades o furriel Henriques digno de ser apontado como exemplo (O. S. nº 100, de 27d e abril de 1967, do BCAÇ 1858).

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26850: (De) Caras (232): Mamadu Baio & Amigos, 16ª edição do "Junta-te Ao Jazz", Palácio Baldaya, Benfica, Lisboa, 25 de maio de 2025... Como disse o Mamadu Baió (viola baixo, voz, compositor): "a música não tem fronteira, nem tem cor, não tem raça"

sábado, 17 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26812: Agenda cultural (884): "Livros a Oeste, Festival do Leitor", 13ª edição: "Chegados Aqui Para Onde Vamos?" - Conversa com os escritores Miguel Szymanski, Júlio de Almeida (o antigo comandante do MPLA, "Juju") e Luís Reis Torgal... Sábado, 17 de maio, às 17:00

 


Última dia, com a última das habituais conversas do programa, 13ª edição de "Livros a Oeste, Festival do Leitor, a decorrer na Lourinhã (13 a 17 de Maio de 2025). Intervenientes :

  • Miguel Szymanski (romancista, mas também jornalista e comentador da RTP para assuntos internacionais), 
  • Júlio de Almeida (angolano, com um passado ligado ao exército, mas também ao Executivo de Angola, autor de dois romances publicados entre nós, à semelhança de vários outros do seu filho, o bem conhecido Ondjaki), que nos traz as suas memórias;
  • Luís Reis Torgal, figura de destaque da Academia portuguesa, com um vasto e rico percurso no âmbito da História, do pensamento e do ensino.

Moderação: o programador cultural João Morales

Os convidados, desta última conversa,  viajam com livro "novo na bagagem. Em jeito de balanço final, a convera designa-se "Chegados Aqui Para onde Vamos ?" (Lourinhã, Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, 17:00, sábado).

O festival encerra com Estilhaços, "espetáculo de Spoken Word", com Adolfo Luxúria Canibal (Lourinhã, Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, 21:30, sábado.

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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26799: Agenda Cultural (883 ): "Livros a Oeste | Festival do Leitor", Lourinhã, 13 a 17 de maio de 2025: a 13ª edição está a decorrer, sob o lema "A História é Uma Encruzilhada"

 



Livros a Oeste 2025 | Festival do Leitor (Vd. programa aqui, na página oficial)

CONVERSAS | PERFORMANCE | MÚSICA | TEATRO DE SOMBRAS E OBJETOS | SESSÕES DE POESIA | OFICINA | FEIRA DO LIVRO | EXPOSIÇÃO




Livros a Oeste | Festival do Leitor está de volta à Lourinhã, com a 13.ª edição agendada entre 13 e 17 de maio, sob um auspício bem adequado aos tempos que vivemos (Texto que já não está disponível hoje, a esta hora, tratava-se de uma "press release" / comunicado de imprensa).


A HISTÓRIA É UMA ENCRUZILHADA


(...) A cada passo tomamos decisões, a cada passo prescindimos de algo, a cada passo assumimos qual será a direção… dos próximos passos. A História, com maiúscula e poderes acrescidos, é uma permanente encruzilhada e cada movimento, à semelhança de um xadrez cósmico, trilha caminho para as suas consequências.

Num tempo de inquestionáveis mudanças, convidámos figuras de diferentes quadrantes e com olhares distintos, para participarem neste encontro multidisciplinar em que, como é ajuizado acautelar, são mais as perguntas que as respostas. A política, a literatura, a historiografia, a tecnologia, a música, a poesia… tantos são os cenários que mudaram, mudam e continuarão a mudar, espelhando o percurso de um país. E do mundo que o rodeia. E a história, a tal em que ficcionamos para termos mão no seu desenlace, também é feita de escolhas e lapsos, urgências e atrasos, realidades e ilusões, certezas e tentativas.

  • «A nossa aposta contínua na divulgação cultural e criação de novos públicos, assenta que nem uma luva num encontro desta natureza, uma oportunidade para juntar projetos e criadores de diferentes áreas, questionando a realidade, divulgando e debatendo, com a preocupação de abranger diferentes tipologias de audiência e registos complementares, que possa chegar a pessoas com diferentes sensibilidades e interesses»; António Alberto Santos; Vereador da Câmara Municipal da Lourinhã com os Pelouros da Educação, Cultura e Cidadania.

  • «Estamos numa época decisiva para definir o que será, não só o período que completa este século, mas as linhas definidoras de uma certa concepção de Humanidade, questionada e desafiada pelas transformações que o próprio ser humano produziu e infligiu em todo o planeta em que vivemos. Criámos problemas que só nós podemos resolver. Porém, cada decisão implica consequências» (João Morales, programador do Livros a Oeste|Festival do Leitor).


A sessão de inauguração é, este ano, conduzida por Maria Caetano Vilalobos, um dos rostos mais recentes do panorama português da palavra dita, da poesia contemporânea, da slam poetry (com diversas presenças já no seu currículo, em eventos, nacionais e internacionais). 

Como habitualmente, será o momento para a divulgação dos vencedores do Concurso de Contos Livros a Oeste (nas suas diversas categorias). E, logo em seguida, visitamos a exposição “São Cravos, Senhor, São Cravos”, do artista Miguel Januário, patente na Galeria Municipal da Lourinhã. 

De referir que a Biblioteca Municipal acolhe ainda a exposição (Re)Constituição, com a exposição de páginas do livro homónimo, obra amplamente premiada, que rasura a Constituição vigente durante a Ditadura (trabalho que ganha maior significado nos 50 anos da data da preparação da 1ª Constituição publicada em Liberdade, o que viria a acontecer em 1976).

As noites têm por destino o auditório do Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira. 

  • Logo na primeira, terça-feira, dia 13, contamos com PURGA, projeto independente dedicado à poesia, criado em 2019, por NERVE (Tiago Gonçalves). Em cada sessão, além de apresentar textos novos, NERVE convida um ou mais autores para lerem poesia original. Nesta edição, o rapper e poeta português convida José Anjos, anfitrião do projeto Poesia na Bota, conhecido poeta e dinamizador de sessões de poesia. Qualquer membro do público pode participar, sem necessidade de inscrição.

As restantes noites são preenchidas por conversas temáticas, com diferentes convidados:


  • quarta-feira à noite teremos Pedro Prostes da Fonseca, Fernando Alvim e Manuel Frias Martins, sob o título Distância e Proximidade na Era da Internet;
  • quinta-feira o palco será entregue a Clara Pinto Correia Alves (de regresso à edição, ela que conta com quase seis centenas de livros publicados), Afonso Cruz e Filipa Fonseca Silva (ambos também com livros novos), porque A Vida Recomeça Continuamente;
  • exta-feira o serão conta com a presença de Bruno Vieira Amaral (que nos traz o seu novo romance, mas também a biografia de José Cardoso Pires, cujo centenário assinalamos em 2025), Patrícia Portela (com livro novo) e Mário Rufino (autor de um dos romances de estreia mais aclamados doa últimos anos).; o encontro dos três foi batizado como O Passado é Um País Sem Fronteiras;
  • no sábado, a tarde começa com Patrícia Reis e Teresa Carvalho, numa sessão dedicada a duas mulheres recentemente falecidas, senhoras de uma poesia e de uma vida francamente distintivas, Maria Teresa Horta e Adília Lopes  – Conferência Conjugada no Feminino,;
  • depois, a última destas habituais conversas junta Miguel Szymanski (romancista, mas também jornalista e comentador da RTP para assuntos internacionais), Júlio de Almeida (angolano, com um passado ligado ao exército, mas também ao Executivo de Angola, autor de dois romances publicados entre nós, à semelhança de vários outros do seu filho, o bem conhecido Ondjaki), que nos traz as suas memórias, e Luís Reis Torgal, figura de destaque da Academia portuguesa, com um vasto e rico percurso no âmbito da História, do pensamento e do ensino (também desta vez, os convidados viajam com livro novo na bagagem); a conversa, em jeito de balanço final, designa-se Chegados Aqui Para onde Vamos ? 
O festival encerra com Estilhaços, o projeto que junta poesia e música, com a mentoria de Adolfo Luxúria Canibal.

Como habitualmente, criámos uma programação multidisciplinar, assentando em conversas com autores, espetáculos para os mais novos, outros, imersivos com a comunidade, spoken word ou exposições. 

 À semelhança de anos anteriores, haverá ainda uma Oficina para Professores e Educadores, Perguntas Fuerreiras, Diálogos Pacíficos, por Joana Rita Sousa.


Aliás, o público em idade escolar sempre foi uma das principais preocupações na planificação e execução deste encontro anual, com as manhãs de todos os dias úteis do festival - que são quatro - completas e sobejamente preenchidas com sessões destinadas aos diferentes ciclos letivos, nos próprios estabelecimentos de ensino, em salutar colaboração com as professoras bibliotecárias destes espaços.

São diversos os autores e os livros que vão ser apresentados ao público infantojuvenil: 

  • Diário do Sushi, o Gato (Ana Rita Sequeira), 
  • Histórias Hilariantes da História de Portugal (Mafalda Cordeiro), Consultório Furioso (Patrícia Portela) 
  • Eu e as Babes (Ana Luísa Pais). 

Além disso, as escolas receberão ainda as sessões Camilo Castelo Branco  – 200 Anos de Um Escritor Profissional e A Poesia Vai à Escola (com Poeta da Cidade e Josefa de Maltezinho). 

 O público infantil conta ainda com o espetáculo Recomeçar – Teatro de Sombras e Objetos, conjugando o trabalho da companhia Sombronautas, Teatro Inefável e do músico Simão Cardoso. Partindo do livro Recomeçar, de Oliver Jeffers, nasceu um espetáculo, novo em folha, com música e muita luz para guiar num novo começo os alunos do pré-escolar e 1.ºciclo da Lourinhã.

A ligação ao território local continua a ser uma das preocupações no horizonte da organização deste evento, apostando na continuação de iniciativas como;

  •  Os Cantos das Palavras   (na via pública, apelando à participação de quem passa);
  • A Poesia É Que nos Salva  (cultivando a palavra dita em voz alta, de forma informal e em tom de convívio, ao final da noite);
  • ou na integração de um espetáculo concebido pelo Clube Idade+ (sob bem conhecida no nosso festival), intitulado Recomeçar, sublinhando que a participação na vida cultural local não tem, nem poderia ter, quaisquer limites etários. 

Maze (André Neves) realizou uma residência com 16 mulheres seniores do Clube Idade+ da Ribeira de Palheiros, inspirada no livro Recomeçar, de Oliver Jeffers. Com reflexões sobre o passado, presente e futuro, as participantes mergulham na ideia de que há sempre espaço para um novo começo.

As sessões de final de tarde, pelas 18h30, são dedicadas à apresentação de obras recentes, abrangendo diferentes géneros, para leitores distintos. Assim:

  •  na terça-feira teremos a presença de Teolinda Gersão e Manuel Alberto Valente, trazendo consigo, respetivamente, Autobiografia de Martha Freud e Poesia – Substantivo Feminino: 25 Poetas Nascidas Depois do 25 de Abril;
  • o dia seguinte, é a vez de Francisco Mota Saraiva (com Morramos ao Menos no Porto, vencedor da mais recente edição do Prémio José Saramago) e Fernando Pinto do Amaral (com o seu mais recente livro, Contos Suicidas);
  • quinta-feira recebemos Pedro Boucherie Mendes (com o seu livro A Década Prodigiosa – Crescer em Portugal nos Anos 80) e Carlos Ramos, editor sitiado em Peniche, (com a antologia Trago-te Estes Lilases da Noite, constituída por poesia de diferentes proveniências geográficas, cuja tradução é responsável);
  • sexta à tarde, a música e a palavra estarão bem representadas: Amélia Muge traz-nos Um Gato é um Gato, onde a ligação entre o mais famoso felino e um conjunto alargado de escritores ganha evidência, e a dupla Rogério Charraz e José Fialho Gouveia apresenta Anónimos de Abril Vol I, obra que fixa para posteridade a história de alguns bravos que enfrentaram e foram alvo da fúria da ditadura salazarista.

Como habitualmente, toda a duração do festival é acompanhada por uma Feira do Livro, da responsabilidade da Associação Juvenil de Peniche, onde, lado a lado com várias obras de cada um dos convidados, será possível encontrar muitas oportunidades e descobrir livros cujo interesse se pode revelar pelo tema, pelo autor, pelo preço, ou por qualquer outro fator de afinidade. 

Da mesma forma, muitos são os motivos para visitar a Lourinhã, de 13 a 17 de Maio, e desfrutar da programação que preparámos, com afinco, para esta 13ª edição do Livros a Oeste | Festival do Leitor. 


(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 7 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26773: Agenda cultural (882): Convite para a inauguração da exposição "Imaginários da Guiné-Bissau: o Espólio de Álvaro de Barros Geraldo": amanhã, dia 8, das 18h00 às 20h00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (As curadoras Catarina de Castro Laranjeiro e Inès Vieira Gomes)